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TERRITORIALIDADE, IDENTIDADE E CONFLITOS

SOCIOAMBIENTAIS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: PARQUE


NACIONAL DA SERRA DO CIPÓ, MINAS GERAIS

IZABEL BEATRIZ RODRIGUES DE MOURA1


JOÃO CLEPS JUNIOR2

Resumo: A corrente preservacionista é amparada pela ideia de não interferência da


ação humana nas áreas naturais, sendo assim têm os parques como principal objeto
de proteção da natureza. Tendo em vista a peculiaridade desses conceitos o
objetivo da pesquisa é discutir a dinâmica territorial ocorrida no processo de
implantação do PARNA Serra do Cipó, distrito da Serra do Cipó, e o conflito
socioambiental instaurado em meio a diferentes interesses, disputas e percepções
acerca da UC. A metodologia está fundamenta em entrevistas semiestruturadas,
como também análise de documentos, além de uma revisão bibliográfica. Consagra-
se, por esta via, que a criação da unidade de conservação na região foi originada a
partir da ação de pesquisadores, e não da comunidade que ali se encontrava.

Palavras-chave: Palavras-Chave: Conflito Socioambiental - Parque Nacional da


Serra do Cipó -Território

Abstract: Human action in the natural areas, and thus parks are the main object of
nature protection. Considering the peculiarity of these concepts, the objective of the
research is to discuss the territorial dynamics that occurred in the implementation
process of the Serra do Cipó PARNA, Serra do Cipó district, and the socio-
environmental conflict established among different interests, disputes and
perceptions about the UC . The methodology is based on semi-structured interviews,
as well as document analysis, as well as a bibliographic review. It is thus consecrated
that the creation of the conservation unit in the region originated from the action of
researchers, not from the community that was there.

Key - words: Socio-environmental conflict - Serra do Cipó National Park - Territoryr

1- Introdução

A ideia de área natural protegida surgiu com a criação do primeiro Parque


Nacional do mundo, o Yellowstone, em 1872, nos Estados Unidos. E, no Brasil, não

1 - Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail


de contato: izabelrodrigues2012@gmail.com
2 Docente do programa de pós-graduação da Universidade Federal de Uberlândia. Professor Orientador

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foi díspar. Os Parques com características preservacionistas acometeram o
“encurralamento” não ponderando a existência e o modo de vida dos moradores que
até então desconheciam à implementação de tal política ambiental.
Diante deste quadro, é importante investigar as teorias conexas aos conflitos
socioambientais discutindo a temática sociedade-natureza. Isso porque a
compreensão dos processos de lutas que permeiam o modelo de apropriação e uso
dos recursos naturais resulta da configuração territorial.
Configura-se como objeto de estudo o Parque Nacional da Serra do Cipó,
localizado na região central do Estado de Minas Gerais. A ideia central é entender
como a criação dessas áreas que se tornaram integralmente protegidas, no caso do
PARNA Serra do Cipó, contribui para as diversas transformações na região.
Nesse contexto, é importante ressaltar os fatores posição geográfica e
exuberância natural na região da Serra do Cipó como palco das transformações em
curso, por meio da ação de diversos agentes modeladores do espaço. Tendo em
vista a peculiaridade desses conceitos o objetivo da pesquisa é discutir a dinâmica
territorial ocorrida no processo de implantação da Unidade de Conservação -
PARNA Serra do Cipó, distrito da Serra do Cipó, e o conflito socioambiental
instaurado em meio a diferentes interesses, disputas e percepções acerca da UC.
Busca-se, compreender também a relação da população cipoense com as Unidades
de Conservação; os fatores que influenciam os conflitos ambientais, as
transformações ocasionadas na região em estudo e sua incidência sobre o modo de
vida e forma de apropriação simbólica e material da população local.
A formação do território deriva da ação mútua onde tem-se a espacialização
influenciada pelas desigualdades e injustiças sociais que culminam a expropriação
de diversos grupos sociais ou uma reconfiguração espacial, como também a ação de
forças sociais que se territorializam a partir de interesses coletivos. É, na dinâmica
desses conflitos que a seguinte pesquisa permeia. Discutindo a corrente
preservacionista junto aos conflitos socioambientais e a justiça ambiental. Tendo em
vista que o momento no qual o parque foi criado coincide com o período de
fortalecimento do movimento ambientalista no mundo e no Brasil, período em que
houve também a articulação dos “povos da floresta” e a repercussão da morte de

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Chico Mendes, na década de 80, com isso outras referências de sustentabilidade
emergiram, representando um importante marco histórico e simbólico para as lutas
ambientais.
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com atores sociais locais
envolvendo no processo de implantação do PARNA Serra do Cipó, como também
análise de documentos, além de uma revisão bibliográfica de pesquisas já realizadas
sobre a área de estudo.
A pesquisa bibliográfica, por meio de livros, monografias, teses,
dissertações, artigos, revistas, dentre outros, proporcionou a sistematização para a
construção do referencial teórico necessário à análise pretendida. Os métodos
propostos são essenciais para a reconstrução do momento histórico da
institucionalização do Parque Nacional da Serra do Cipó, buscando identificar os
principais atores envolvidos, as políticas envolvidas e o discurso presente naquele
momento.
Esse estudo se justifica devido à necessidade de compreender as
transformações socioambientais na região da Serra do Cipó, o processo de criação
das unidades de conservação em meados das décadas de 1970 e 1980 e seus
efeitos espaciais e socioeconômicos. Ademais, tal estudo é relevante para a análise
da transformação da paisagem da área de estudo não somente do ponto de vista
geográfico, mas como ambiente construído socialmente.

2 - Desenvolvimento

Atualmente, frente aos intensos processos de expropriação provocados por


grandes obras e/ou empreendimentos, urge pensar os espaços e os territórios. A
compreensão desse processo é fundamental para a investigação desses conflitos,
com também para a efetivação da luta dos atores sociais por sua existência em seus
territórios. Isso porque, a institucionalização de Unidades de Conservação implica o
advento de diversos conflitos socioambientais, isso se explica, por um lado, pelas
práticas agrícolas das comunidades consideradas agente de degradação ambiental,
a fim de protegê-la da ação antrópica degradadora e, por outro, os projetos

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desenvolvidos sem a observação dos contextos ambientais e sociais em que se
inserem.
No entanto, Ricardo (2010,p.29) pontua que “as Unidades de Conservação
surgem como alternativas para a preservação do que ainda resta de ambientes
naturais. São ambientes de proteção integral ou de uso sustentável”.
Entende-se por Unidades de Conservação (UC’s) os espaços territoriais e
seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características
naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se
aplicam garantias adequadas de proteção. (Lei 9985/00).
Já Souza (2007) destaca que as Unidades de Conservação (UC’s) são
espaços territoriais delimitados legalmente pelo poder público para a proteção da
biodiversidade e conservação de áreas de rara beleza cênica e paisagística. São
terras que pelo valor de seus recursos existentes, devem ser mantidas na forma
silvestre ou sob um regime de manejo diferenciado.
Costa (2000, citado por Souza 2007) versa que a criação das UC’s é vista
como uma das melhores estratégias de conservação da biodiversidade,
principalmente quando monitoradas a partir de informações de um plano de manejo
bem elaborado.
Nesse sentido, Souza (2007) adverte que o plano de manejo é o principal
documento das UC’s, tem como objetivo orientar o desenvolvimento de uma unidade
de conservação assegurando a manutenção dos recursos naturais em seu estado
original para o correto usufruto das gerações atuais e futuras, sendo periodicamente
reformulado para atender as eventuais mudanças.
Diegues (2000, p. 13) salienta que essa idéia de criar áreas protegidas
"provém primeiramente no século XIX tendo sido criadas primeiramente nos
Estados Unidos, a fim de proteger a vida selvagem (wilderness) ameaçada, segundo
seus criadores, pela civilização urbano-industrial, destruidora da natureza".
Em função disso, Ferreira (2010, p.59) discorre que "a primeira unidade de
conservação criada no Brasil foi o Parque Nacional de Itatiaia, em 1937, e

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reproduzia exatamente o modelo de parque nacional americano, uma grande "ilha"
isolada, capaz de preservar os recursos naturais e excluir o homem de seus limites".
O autor ressalta que com o passar dos anos, estabelecida uma maior
discussão sobre a relação homem e natureza, outras unidades de conservação com
características diferentes dos parques nacionais foram criadas no Brasil e no mundo,
de acordo com os critérios da União Internacional de Proteção à Natureza (IUCN).
Essa variação de unidades buscava diversificá-las de acordo com os interesses
nacionais e internacionais, no que diz respeito à conservação dos recursos naturais.

3. O Parque Nacional da Serra do Cipó

O PARNA Serra do Cipó, localiza-se na região central do estado de Minas


Gerais, situado sob os “domínios” da Serra do Espinhaço. Ferreira (2010) caracteriza
a região como um importante divisor de águas do estado. Em sua porção oeste, os
cursos d’água compõem a bacia do rio São Francisco. Na porção leste, os cursos
d’água compõem a micro bacia do rio Santo Antônio, um importante afluente do rio
Doce.
A região da Serra do Cipó é extremamente importante no que diz respeito à
conservação dos recursos naturais e à proteção da biodiversidade. Divide os biomas
do Cerrado (oeste) e da Mata Atlântica (leste), com destaque para os campos
rupestres, ecossistema peculiar. (FERREIRA, 2010).
O PARNA possui uma área de 31.617,8 ha, dos quais 20.764 ha
encontram-se no Município de Jaboticatubas, seguido pelo Município de Santana do
Riacho com 2.615 ha, Morro do Pilar, 5.934 ha, e o restante, 2.304 ha, estão
localizados no Município de Itambé do Mato Dentro. A Unidade de Conservação,
PARNA Serra do Cipó foi primeiramente instituída como: Parque Estadual da Serra
do Cipó – estabelecido de acordo com a Lei Estadual n.º 6.605, de 14 de julho de
1975, sendo administrado pelo Instituto Estadual de Florestas-IEF. A implantação
dessa unidade teve influências, principalmente, de cientistas e pesquisadores
preocupados com a conservação da biodiversidade da Serra do Cipó. (MOURA,
2016).

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Localização do PARNA Serra do Cipó

Fonte: BRAGA, S.S. 2011

Segundo o documento de criação, os objetivos da UC são “proteger a


fauna e a flora, devido ao alto grau de endemismo de suas espécies, a proteção da
bacia de captação do rio Cipó, importante pelas cachoeiras e águas límpidas e a
preservação das belezas cênicas da região”, cabendo ao Instituto Brasileiro de

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Desenvolvimento Sustentável (IBDF) e, mais tarde ao Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente (IBAMA) adotarem medidas necessárias à sua efetiva proteção e
implantação, como também o processo de desapropriação dos proprietários e suas
benfeitorias existentes nos limites da UC.(MOURA, 2016).

4-Conflitos socioambientais territoriais

No Brasil, do ponto de vista teórico-analítico, prevalece hegemonicamente a


corrente preservacionista denominada por Diegues (2001) como “natureza intocada”.
Caracteriza-se pela “reverência à natureza no sentido da apreciação estética e
espiritual da vida selvagem”, tratando das relações simbólicas e do imaginário entre
o homem e natureza, tendo como objetivo a proteção dos bens naturais contra o
desenvolvimento moderno, industrial e urbano, ou seja, o mito do ecologismo
preservacionista, onde as áreas naturais protegidas devem ser conservadas virgens
e intocadas, um espaço desabitado.
Assim, a natureza e a sociedade são compreendidas de um modo
dicotômico. Desta maneira, defende a incompatibilidade entre a presença dessas
populações e a proteção da biodiversidade.
Diante deste quadro, Zhouri e Laschefski (2010) discorrem que os conflitos
ambientais surgem das distintas práticas de apropriação técnica, social e cultural do
mundo material e que a base cognitiva para os discursos e as ações dos sujeitos
neles envolvidos configura-se de acordo com suas visões sobre a utilização do
espaço. Os autores fazem um histórico das lutas ambientais, ponderando que a
década de 1980 representou um importante marco histórico e simbólico para as lutas
ambientais.
Nesse processo, Chico Mendes e seus companheiros seringueiros tornaram-
se emblemáticos no sentido de uma nova concepção de atuação sócioambientalista,
passando a expressar uma defesa da natureza diferente da visão preservacionista
clássica, que valorizava a natureza presumivelmente “intocada”. E o assassinato de
Chico Mendes, em 1988, marca o auge dos conflitos entre visões ambientalistas e
desenvolvimentistas. A luta dos seringueiros representava a ideia de que a natureza

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poderia ser valorizada com a inclusão dos grupos sociais que nela vivem. (ZHOURI
e LASCHEFSKI, 2010).
Diegues (2001) destaca que as comunidades locais ao serem afetadas pela
criação de unidades de conservação precisam ser tratadas como aliadas e não
como adversárias da conservação, e que seu alijamento do processo decisório pode
transformá-las, no final, em sérias adversárias de uma preservação da natureza mal
concebida e mal desenvolvida.
Também está envolvido neste processo de conflito a violência simbólica,
conceito bourdieuniano que descreve situação de poder no campo e habitus, ou
seja, a classe que domina economicamente inflige sua cultura aos dominados.
Isso porque, a introdução de uma Unidade de Conservação de tanta
relevância, um Parque Nacional, bem como sua extensão ocasiona resistência e
conflitos entre os atores envolvidos, como também problemas em função das
sanções impostas para o uso e ocupação do solo. Diretamente relacionada a esta
afirmação está outra, os inúmeros estudos das ciências naturais que contribuem
para a omissão no processo expropriatório existente e do reforço da ideia deste
espaço social enquanto um espaço puramente natural dissociado da cultura e das
dinâmicas sociais existentes.
Na UC em comento, as dinâmicas sócioespaciais levaram o poder público a
construir instrumentos legais que se sobrepõem como forma de preservar e proteger
a região. Interferindo na ação dos atores sociais na produção do espaço geográfico,
tendo em vista que tal unidade de conservação possui leis ambientais estaduais e
federias que atrelam os usos da terra às regras de preservação.
Em sintonia com o supracitado, vislumbra-se, de tal modo, o entendimento
para as questões socioambientais num contexto onde se tem, de um lado, uma área
de proteção integral e, de outro, um grupo de atores sociais atingidos em função da
criação, “ao mito da natureza intocada”, o ideal preservacionista baseado na
compreensão de uma natureza bruta, sem a interferência do homem. (DIEGUES,
2001).
Nessa perspectiva, cabe pontuar que as transformações do espaço ocorrem
pelas relações sociais no processo de produção do espaço. Os objetos naturais ou

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elementos naturais também demudam o espaço, mas são as relações sociais que
impactam o espaço com maior intensidade. Os sistemas de ações e os sistemas de
objetos são indissociáveis, todavia é possível considerar as distintas intensidades de
seus movimentos. A técnica e a tecnologia dinamizaram os sistemas de ações,
impactando a natureza com maior intensidade. A formação de territórios é sempre
um processo de fragmentação do espaço. (FERNANDES, 2008).
Não há como deixar de considerar as contribuições de Raffestin (1993) que
traz aspectos relevantes para a discussão acerca do território, enquanto formação
conceitual a partir do conhecimento de espaço. Esta compreensão é fundamental
para a avaliação das transformações sócio espaciais na Serra do Cipó. Raffestin
(1993) destaca que o território é uma construção conceitual a partir da noção de
espaço. Assim, esse autor realiza uma distinção entre algo já “dado”, o espaço – na
condição de matéria prima natural e um produto resultante da moldagem pela ação
social dessa base e o território um construto, passível de ”uma formalização e/ou
quantificação”. Dessa forma, a produção de um espaço, o território nacional, espaço
físico, balizado, alterado, demudado pelas redes, circuitos e fluxos que aí se
abrigam: rodovias, canais, estradas de ferro, circuitos comerciais, etc.
Com isso, nota-se que o estudo das unidades de conservação abrange a
discussão territorial sob diferentes abordagens, como também o problema da
desterritorialização, conforme destaca Haesbaert (2006) tão importante no contexto
histórico e contemporâneo.
Assim sendo, Oliveira (2011) versa que não se pode considerar como uma
unidade de conservação um área apenas por suas belezas cênicas ou pela sua
importância aos habitantes do mundo urbano-industrial, excluindo toda história e
conhecimento tradicional ali presente é, no mínimo, ir contra os direitos humanos
daquelas sociedades tradicionais. Nessa ordem de ideias, Haesbaert (2006) pontua
que o processo de desterritorialização para criação dessas unidades tinha como
objetivo a conservação desses recursos naturais, baseado em um ideal
preservacionista, separando o homem da natureza, ou seja, a implantação das UC’s
significou uma grande mudança nos hábitos, costumes e no modo de vida dos
habitantes da região, segundo Santos e Dapieve (1998):

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Muitas famílias não tinham acesso à escola, luz elétrica, médico, etc.,
por residirem em locais de difícil acesso. Já para aqueles que apenas
cultivavam lavouras na área, houve prejuízo, pois, foram proibidos de
plantar. Faltou, também, uma sensibilização da população local para
a implantação do parque, o que gerou certa “antipatia” e
incompreensão do povo da região. (SANTOS e DAPIEVE, 1998, p.
6).

A população cipoense encontra-se em uma área de conflito, do ponto de


vista socioambiental, visto que a região tem vivenciado um processo de redefinição
de uso, onde o uso agrário deu lugar ao residencial, ainda que sob a forma de
segunda residência ou casa/sitio para fins de semana.
Contudo, nesse contexto de conflitos socioambientais, resta saber até que
ponto a população afetada na implementação de UC’s-, está realmente envolvida.
Quando se envolve, que peso efetivo esse envolvimento tem na criação de políticas
públicas ou no beneficiamento deles em áreas protegidas. No entanto, tanto na
Geografia quanto na História, é necessário considerar as condicionantes: espaço e
tempo.

Considerações Finais

Neste estudo ainda em curso, com as pesquisas pudemos identificar os


conflitos decorrentes da criação do Parque Nacional da Serra do Cipó, em 1975,
enquanto Parque Estadual, e sua recategorização, em 1984, como Parque Nacional,
como também a expropriação de diversos grupos familiares tradicionais, sua
incidência sobre o modo de vida e forma de apropriação simbólica e material,
todavia é importante ressaltar que alguns objetivos da implantação da Unidade de
Conservação foram alcançados.
O conflito ambiental territorial emergiu, de um lado moradores, na busca de
seus direitos étnicos de permanência em seus territórios e a continuidade das
atividades específicas e o manejo da terra. Por outro lado, ambientalistas que
defendem a ideia de uma natureza intocada. Essas imbricadas relações envolvendo
o processo de conflitos socioambientais consagra-se também em violência
simbólica, conceito bourdieuniano que descreve situação de poder no campo e

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habitus, onde a classe que domina economicamente inflige sua cultura aos
dominados.
Pode-se avaliar que é imprescindível pensar em meios de gestão que
possam acordar ações de conservação dos bens naturais com precisão para a
manutenção da qualidade de vida das populações do entorno.
Considerando esta dicotomia no processo de criação e gestão do PARNA
Serra do Cipó, concluiu-se que há um modelo perverso quando se pensa a ideia de
natureza intocada, sobretudo em relação a criação de unidades de conservação de
proteção integral.
É importante pensar em sistemas de gestão que salvaguardem a
conservação dessas áreas consideradas essenciais, no entanto, deve-se considerar
os habitantes do lugar, não reassentando as populações que residiam nessas áreas,
promovendo seu bem-estar e introduzindo categorias de preservação, ou seja,
harmonizar a presença desses atores e a preservação ambiental.

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