Você está na página 1de 71

BIOMECÂNICA

MÁRCIO SOARES DA SILVA


ALESSANDRA FERREIRA
2

Sumário

1.0 FUNDAMENTOS DO MOVIMENTO HUMANO.........................................3

2.0 SISTEMA NEUROMUSCULAR.................................................................9

3.0 CINESIOLOGIA E BIOMECÃNICA..........................................................20

4.0 CENTRO DE GRAVIDADE.......................................................................36

5.0 SISTEMA DE ALAVANCAS.....................................................................37

6.0 MÉTODOS DE PESQUISAS EM BIOMECÂNICA NA ATIVIDADE


FÍSICA...............................................................................................................42

7.0 ABORDAGEM BIOMECÂNICA DA POSTURA.......................................45

8.0 BIOMECÃICA APLICADA AOS ESPORTES............................................51

REFERÊNCIAS.................................................................................................70
3

1. FUNDAMENTOS DO MOVIMENTO HUMANO.

O movimento humano é usado para interagir com o meio ambiente, resultando em


experiências fundamentais para o desenvolvimento do indivíduo. Através do
movimento, seja em atividade física ou esporte competitivo, é possível atingir níveis de
condicionamento físico necessário à obtenção e manutenção da saúde.
Na questão do desporto, o movimento é um fenômeno que serve de base para a
atividade desportiva determinando seu conteúdo. Por meio do movimento, poderá ser
atingido o objetivo desportivo para qual é orientado o complexo dos meios de treino no
decorrer da preparação de muitos anos (VERKHOSHANSKI, 2001).
O crescimento do potencial motriz depende, principalmente, dos órgãos e sistemas
que participam especificamente do movimento, assim como o uso desse potencial
através de movimentos eficientes resultará em níveis elevados de performance.
Considerando a Cinesiologia e Biomecânica, o movimento desportivo é o
resultado da interação do indivíduo com os objetos do meio ambiente, considerando as
forças envolvidas e objetivando um melhor desempenho, específico às distintas
atividades praticadas.
O movimento humano é objeto de estudo da Cinesilogia e Biomecânica. Existem
diferentes abordagens para estudar o movimento, como a simples observação usando
somente o olho humano ou a coleta de dados sobre parâmetros de movimentos,
utilizando equipamentos de laboratório.
Para melhor entendimento da Cinesiologia e Biomecânica aplicada ao movimento
e ao esporte, convém considerar os principais sistemas corporais relacionados a essas
disciplinas, a fim de uma melhor compreensão na contextualização do movimento e sua
relação com funcionamento do organismo humano.

Considerações esqueléticas sobre o movimento.

O sistema locomotor é composto pelos ossos (articulações), músculos, tendões e


ligamentos. Possibilita movimento e locomoção dos seres vivos.
O esqueleto tem como finalidade primária, sustentar o organismo. Além disso, o
sistema esquelético protege os órgãos internos, armazena minerais e íons e produz
células sanguíneas.
Um osso pode ligar-se a outro osso ou a outros ossos através das articulações.
Variam no tamanho e na forma: longos (com o comprimento maior que a largura e a
espessura, como o úmero e o fêmur), planos ou chatos (finos e achatados, como grande
parte dos ossos do crânio e as costelas), curtos (com as três dimensões
aproximadamente iguais, como os do carpo e os do tarso) e irregulares (como as
vértebras).
4

Figura 1:Tipos de ossos quanto ao tamanho e forma


Fonte: Hall, 2005

Tecido ósseo

- Tecido dinâmico, sendo modelado e remodelado continuamente pelas forças que


atuam sobre ele

Funções:

- Proporciona um arcabouço esquelético rígido, que sustenta e protege outros tecidos


corporais.

- Forma um sistema de alavancas rígidas, que podem ser movimentadas

Composição:

- A composição e a estrutura do osso dão origem a um material resistente e leve

- Componentes Materiais

- Cálcio, fosfato de cálcio (60 a 70%), proporcionam rigidez e resistência compressiva.

- Colágeno, proporciona flexibilidade, contribuindo para a resistência tensiva.

- Água, (25 a 30% do peso total), HALL (2005).

- Organização Estrutural

- Osso poroso, contendo poros ou cavidades, possui menor proporção de fosfato de


cálcio e de carbonato de cálcio e maior proporção de elementos não mineralizados.

- O tecido ósseo divide-se em duas categorias, segundo o grau de porosidade:


5

- Osso cortical apresenta porosidade baixa, com 5 a 30% do volume ósseo, composto
por tecido não mineralizado.

- Osso trabecular, esponjoso ou reticular; possui porosidade relativamente alta, com 30


a 90% do volume ósseo composto por tecido não mineralizado (HALL, 2005).

A porosidade do osso é importante, pois afeta diretamente as características


mecânicas do tecido. Com seu conteúdo mineral mais alto, o osso cortical é mais rígido,
o que lhe permite suportar maior estresse, porém menos sobrecarga ou deformação
relativa do que o osso trabecular. Por ser mais esponjoso que o osso cortical, consegue
suportar mais sobrecarga antes de sofrer fratura.

Tipos de cargas impostas aos ossos

Sem carga Tensão Compressão Flexão Cisalhamento Torção Combinada


(torção/flexão)
Figura 2: Tipos de cargas impostas aos ossos. (Fonte: Hall, 2005).

Lesões por stress

· sobrecarga traumática: aplicação de uma força simples de magnitude suficiente para


causar lesão ao tecido biológico (fratura traumática)

· sobrecarga repetitiva: aplicação repetida de uma carga não traumática (baixa


magnitude). (fratura de fadiga, fratura de stress)

Remodelação óssea

O esqueleto é constituído por mais de 200 ossos, que dão rigidez, forma e
sustentação ao corpo e protegem o cérebro, coração, pulmões e outros órgãos vitais. O
esqueleto acumula massa óssea até a faixa dos 30 anos, sendo que esta é maior no
homem do que na mulher. A partir daí, perde-se 0,3% ao ano. Na mulher, a perda é
maior nos 10 primeiros anos pós-menopausa e, mais ainda, na mulher sedentária.
No processo normal de envelhecimento, os ossos se modificam ao longo da vida,
e o organismo está constantemente fazendo e desfazendo ossos (atividade osteoblástica
e osteoclástica, respectivamente). Esse processo depende de vários fatores, tais como a
genética, boa nutrição, manutenção de bons níveis de hormônios e prática regular de
exercícios físicos. Os osteócitos são as células responsáveis pela formação do colágeno
que dá sustentação ao osso.
Os canais que interligam os osteócitos permitem que o cálcio, essencial para a
formação óssea, saia do sangue e ajude a formar o osso. Quando a destruição do osso é
maior do que a sua reparação, ou seja, quando a atividade osteoclástica predomina sobre
a osteoblástica, o equilíbrio se desfaz enfraquecendo a resistência mecânica dos ossos e
tornando-os vulneráveis aos pequenos traumas.
6

A quantidade de massa óssea presente no esqueleto é o resultado da formação e


da reabsorção. Este turnover está diretamente relacionado à necessidade corporal de
manter uma concentração fisiológica de cálcio ionizado nos fluidos orgânicos e,
especialmente, à necessidade de manter a integridade estrutural do esqueleto.
No processo fisiológico normal, a reabsorção e a formação ósseas estão
intimamente relacionadas em tempo, grau e espaço, tanto que a formação óssea só é
ativada depois que estiver estabelecida uma área de absorção. O metabolismo ósseo é
influenciado por vários fatores hormonais, locais, comportamentais e ambientais, além
de forças mecânicas, elétricas, químicas e magnéticas. Esse mecanismo é relativamente
rápido no osso trabecular e mais lento no osso cortical.
Como esse processo ocorre entre a remoção do osso e sua subseqüente
substituição, ele é chamado de fase de reversão. Por um sinal desconhecido, os
osteoblastos - células que sintetizam a nova matriz - aderem-se à superfície da cavidade.
Essas células sintetizam colágeno e outras proteínas não colagenosas, que são secretadas
dentro da cavidade para formar o osteóide, uma matriz não mineralizada, que o será
mais tarde, formando osso novo. Essa fase de formação pode levar vários meses para se
estabelecer. Sob condições normais, a quantidade de osso novo sintetizado em cada sítio
de remodelação é exatamente igual àquela que foi removida pelos osteoclastos. Calcula-
se que os adultos remodelem de 10 a 30% da sua massa óssea a cada ano.

Osteopenia

O termo osteopenia é usado para descrever qualquer condição que envolva uma
redução fisiológica (em relação à idade) da quantidade total de osso mineralizado. A
osteopenia consiste na diminuição da densidade mineral dos ossos, sendo precusora da
osteoporose. Classifica-se como osteopenia quando a massa óssea é de 10 a 25% menor
que a considerada normal, quando ultrapassa esse valor é considerada osteoporose.

Osteoporose

A osteoporose ocorre quando a quantidade de massa óssea diminui


substancialmente e há deterioração da microarquitetura do osso, desenvolvendo-se ossos
ocos, finos e de extrema sensibilidade, mais sujeitos a fraturas. Com a osteoporose, o
colágeno e os depósitos minerais são desfeitos muito rapidamente e a formação do osso
torna-se mais lenta; com menos colágeno, surgem espaços vazios que enfraquecem os
ossos.
No processo da osteoporose, a densidade mineral (de cálcio) é reduzida de 65%
para 35% quando a doença se instala. O canal medular central do osso torna-se mais
largo e com a progressão da osteoporose, os ossos podem ficar esburacados e
quebradiços. Como dito anteriormente, os ossos são compostos de duas camadas: a mais
externa e mais dura é chamada de osso cortical e a interna, mais esponjosa, é chamada
de osso trabecular. Esse último é mais susceptível à osteoporose.
Na osteoporose, o osso cortical se afina gradualmente e os buracos do osso
trabecular tornam-se cada vez maiores e irregulares. Quando a estrutura interna do osso
estiver comprometida, o traumatismo de uma pequena queda ou mesmo o peso corporal
podem causar traumas.
7

Osso normal

Osso com osteoporose


Figura 3: Osso normal e osso com osteoporose
Fonte:www.sbotologia.com.br/.../indicacoes.html

O maior problema dos portadores de osteoporose é, sem dúvida, o risco de


fraturas, que ocorrem tipicamente com quedas de menor grau. O principal impacto
ocorre preferencialmente na qualidade de vida do paciente e não na sua duração (tempo
de vida).
Segundo Bockman (1997) apud Hall, (2005), a osteoporose não é uma doença de
início agudo, e seu desenvolvimento está relacionado a hábitos nocivos à saúde óssea
durante o decorrer da vida, desde a infância até a velhice. Alguns estudos sugerem que o
mais importante para prevenir ou retardar o início da osteoporose é a otimização da
massa óssea máxima durante a infância e a adolescência.
A doença progride lentamente e raramente apresenta sintomas. É devido a essa
característica silenciosa que, usualmente, a osteoporose não é diagnosticada até que
ocorram as fraturas. De acordo com critérios da Organização Mundial de Saúde, 1/3 das
mulheres brancas acima dos 65 anos são portadoras de osteoporose e, estima-se que
cerca de 50% das mulheres com mais de 75 anos venham a sofrer alguma fratura
osteoporótica, em sua vida.

Osso e Piezoeletricidade

A palavra piezoeletricidade literalmente significa "eletricidade de pressão": o


prefixo piezo é derivado da palavra grega piezin, que significa pressão.
Piezoeletricidade é uma polarização elétrica produzida por certos materiais, como
algumas moléculas e cristais, quando submetidos a uma deformação mecânica. A
estrutura do colágeno ósseo preenche as características de material piezoelétrico, que
sob deformação mecânica (como a produzida por tração, compressão ou torção), pode
sofrer modificações espaciais, produzindo uma polarização elétrica.
O objetivo da remodelação óssea é a manutenção da integridade do tecido ósseo.
A Lei de Wolff afirma que os elementos ósseos são dispostos ou substituídos na direção
das forças funcionais, aumentando ou diminuindo sua massa de acordo com o gradiente
dessas mesmas forças funcionais. Essa remodelação óssea deve-se ao efeito
piezoelétrico, que altera as cargas nos diferentes locais do osso (MARCHETTI, 2007).
8

Figura 4: Piezoeletricidade no osso


Fonte: Hall, 2005.

Ossos do corpo humano

Figura 5: Ossos do corpo humano. A. Parte anterior B. Parte posterior


Fonte: Thompson, Floyd, 2005.
9

2. SISTEMA NEUROMUSCULAR

Toda atividade fisiológica do corpo humano pode ser influenciada pelo sistema
nervoso. Os nervos provêem dos circuitos através dos quais os impulsos elétricos são
recebidos e enviados a praticamente, todas as partes do corpo. O encéfalo atua como um
computador, integrando todas as informações, selecionando uma resposta adequada e,
em seguida, instruindo as partes do corpo envolvidas a realizarem a ação apropriada.
Portanto, o sistema nervoso forma uma ligação vital, permitindo a comunicação e a
coordenação da interação entre os vários tecidos do organismo, assim como o mundo
exterior.

A divisão sensorial

A divisão sensorial do sistema nervoso periférico transmite informações


sensoriais ao sistema nervoso central. Neurônios sensoriais (aferentes) originam-se em
áreas como:

• Vasos sanguíneos e linfáticos

• Órgãos dos sentidos especiais (paladar, tato, olfato, audição, visão)

• Pele

• Músculos e tendões

Os neurônios (células nervosas) sensoriais do sistema nervoso periférico


terminam na medula espinhal ou no encéfalo e transmitem continuamente informações
ao Sistema Nervoso Central (SNC), sobre as alterações constantes que ocorrem no
organismo. Pela retransmissão dessas informações, esses neurônios permitem que o
encéfalo detecte o que está ocorrendo em todas as partes do corpo e do ambiente que o
cerca. Neurônios sensoriais localizados no SNC transmitem o estímulo sensorial às
áreas adequadas, onde a informação pode ser processada e integrada a outras
informações que chegam. A divisão sensorial recebe informações de cinco principais
receptores:

1. Mecanorreceptores, que respondem às forças mecânicas como pressão, o torque,


as vibrações ou os estiramentos.

2. Termorreceptores, que respondem às alterações da temperatura.

3. Nociceptores, que respondem aos estímulos dolorosos.

Terminações nervosas especiais localizadas nos músculos e nas articulações


são de tipos variados e possuem funções diversas. Cada tipo é sensível a um estímulo
específico. Dentre estas terminações podemos citar:

• Os receptores articulares cinestésicos, localizados nas cápsulas articulares, são


sensíveis aos ângulos articulares e às taxas de alteração desses ângulos. Portanto, eles
detectam a posição e qualquer movimento articular.
• O Fuso Neuromuscular (FNM) ou fuso muscular detecta a magnitude do estiramento
muscular.
10

• O Órgão Tendinoso de Golgi (OTG) detecta a tensão aplicada por um músculo sobre
seu tendão, fornecendo informações sobre a força da contração muscular.

Figura 6 :Órgão Tendinoso de Golgi e Fuso Neuromuscular


Fonte:http://treino.desnivel.pt/flexi.htm

A divisão motora

O SNC transmite informações para várias partes do corpo por meio da divisão
motora, ou eferente, do sistema nervoso periférico. Após o SNC processar a informação
que recebe da divisão sensorial, ele decide como o corpo deve responder ao estímulo.
Do encéfalo e da medula espinhal, redes de neurônios vão a todas as partes do corpo,
fornecendo instruções ás áreas alvos – no caso, os músculos.

Considerações musculares sobre o movimento

Os músculos e a gravidade são os principais produtores do movimento humano.


Os músculos são usados para manter a posição, levantar ou abaixar uma parte do corpo,
desacelerar um movimento rápido e para gerar grande velocidade no corpo ou em um
objeto que está sendo jogado ao ar. Os músculos são capazes de contração rápida e
vigorosa, mas cansam-se rapidamente e requerem um repouso após períodos de
atividade mesmo breve.
A tensão desenvolvida pelos músculos aplica compressão nas articulações
aumentando sua estabilidade. Contudo, em algumas posições articulares, a tensão
gerada pelos músculos pode agir tracionando os segmentos de forma a separá-los,
criando instabilidade.
É importante o entendimento da estrutura e função musculares relacionados ao
movimento humano. Os músculos são responsáveis pela locomoção, pelos movimentos
dos membros, postura e estabilidade articular, sendo necessária uma boa compreensão
das características e limitações da ação muscular.
O corpo humano contém mais de quatrocentos músculos esqueléticos, os quais
representam 40-50% do peso corporal (FOX, 1993). A função mais óbvia do músculo
esquelético é a capacidade de movimentação do indivíduo. Os músculos esqueléticos se
fixam aos ossos por tecidos conjuntivos resistentes denominados tendões. Uma
extremidade do músculo se une a um osso que não se move (origem), enquanto a
extremidade oposta está fixada a um osso (inserção) que se move durante a contração
muscular.
11

O tecido muscular possui quatro propriedades comportamentais:


extensibilidade, elasticidade, irritabilidade e a capacidade de desenvolver tensão (Hall,
2005). Essas capacidades são comuns a todos os tipos de músculos, inclusive o
cardíaco, o liso e o esquelético. A extensibilidade é a capacidade de ser estirado
(alongado) ou de aumentar de comprimento e elasticidade, é a capacidade de retornar ao
comprimento normal de repouso após o alongamento.
O comportamento elástico dos músculos possui dois componentes principais: o
componente elástico em paralelo (CEP), proporcionado pelas membranas e o
componente elástico em série (CES), que estão localizados nos tendões, atuando como
uma mola que armazena energia elástica quando um músculo sob tensão é estirado
(alongado). Os componentes elásticos são assim chamados pelo fato de as membranas e
os tendões estarem dispostos, respectivamente, em paralelo e em série às fibras
musculares (componentes contráteis). A elasticidade do músculo recebe maior
influência do CSE.
A irritabilidade é a capacidade que o músculo possui de produzir uma resposta
a um estímulo, isso ocorre mediante a interação o sistema nervoso e sistema muscular.
A tensão muscular está relacionada à contração, permitindo o movimento do
indivíduo nos diversos esportes. Contratilidade é a capacidade que o músculo possui de
diminuir de comprimento.
Vários movimentos diferentes são possíveis, dependendo do tipo de articulação
e dos músculos envolvidos. Os músculos que diminuem os ângulos articulares são
denominados flexores e aqueles que os aumentam são denominados extensores. Em
relação a aplicação da força muscular através dos músculos, ocorre a participação dos
músculos agonistas, antagonistas e sinergistas (COSTILL, 2013).

- agonistas, também chamados de motores primários, são os principais músculos


responsáveis pelo movimento

- antagonistas são os músculos que se opõem aos motores primários

- sinergistas são os músculos que auxiliam os motores primários

Figura 7: Ação integrada dos músculos agonistas, antagonistas e sinergistas na contração muscular.
Fonte: Costill, 2013

Estrutura do Músculo Esquelético


12

O músculo esquelético é composto por vários tipos de tecido. Entre eles, estão
células musculares, o tecido nervoso, o sangue e vários tipos de tecidos conjuntivos. Os
músculos individuais são separados entre si e mantidos no lugar por um tecido
conjuntivo denominado fáscia. Existem três camadas separadas de tecido conjuntivo no
músculo esquelético. A camada mais extensa que envolve todo o músculo é denominada
epimísio. À medida que observamos mais para o interior do epimísio, um tecido
conjuntivo denominado perimísio envolve feixes individuais de fibras musculares.
Esses feixes individuais de fibras musculares são denominados fascículos. Cada fibra
muscular de um fascículo é revestida por um tecido conjuntivo denominado endomísio.

Apesar de sua forma única, as células musculares apresentam muitas das


organelas presentes em outras células. Entretanto, ao contrário da maioria das outras
células do corpo, as células musculares são multinucleadas, isto é, têm muitos núcleos.

Figura 8: Arquitetura do músculo esquelético


Fonte: www.sabereletronica.com.br/secoes/leitura/556

Fibras musculares.

Cada músculo contém uma combinação de diferentes tipos de fibras,


classificadas como fibras de contração rápida ou lenta. Os tipos de fibras são
importantes na área do metabolismo muscular e consumo de energia, e as fibras
musculares são minuciosamente estudadas na fisiologia do exercício. Existem
diferenças mecânicas na resposta das fibras musculares de contração lenta e rápida que
justificam o nome de cada tipo.

Fibras de contração lenta – As fibras musculares oxidativas de contração lenta ou Tipo I


são encontradas em maiores quantidades nos músculos posturais do corpo, como os
músculos da parte superior das costas. As fibras são vermelhas devido ao alto conteúdo
de mioglobina no músculo. Essas fibras são adequadas para trabalhos prolongados de
baixa intensidade.
13

Fibras de contração rápida e intermediária- As fibras de contração rápida ou Tipo II


são subdivididas em Tipo IIa, oxidativas-glicolíticas, e Tipo IIx, glicolíticas. O Tipo IIa
é um músculo vermelho conhecido como fibra de contração rápida intermediária porque
pode sustentar atividade por longos períodos ou pode contrair-se com um disparo de
força e fadigar-se. A fibra branca, Tipo IIx, proporciona rápida produção de força e
fadiga-se rapidamente.

Os corredores de velocidade e saltadores geralmente têm maiores concentração


de fibras de contração rápida. A maioria dos músculos, se não todos, contém os dois
tipos de fibras. Um exemplo é o vasto lateral, que possui tipicamente metade de suas
fibras rápidas, e metade lenta (KOMI, 1984, apud POWERS, HOWLEY, 2005). O tipo
de fibra influi em como o músculo será treinado e desenvolvido, assim como quais
técnicas serão adequadas para indivíduos com tipos de fibras específicos.
14

Figura 9: Músculos do corpo humano, vista anterior


Fonte: Floyd, Thompson, 2016.
15

Figura 10: Músculos do corpo humano, vista posterior


Fonte: Floyd, Thompson, 2016.
16

Junção Neuromuscular

Cada célula muscular esquelética está conectada ao ramo de uma fibra nervosa
originária de uma célula nervosa. Essas células nervosas são denominadas
motorneurônios e se estendem para fora a partir da medula espinhal. O motoneurônio e
todas as fibras musculares que ele inerva formam uma unidade motora. A estimulação
de motoneurônios inicia o processo de contração. O local onde o motoneurônio e a
célula muscular se encontram é denominado junção neuromuscular. Nessa junção, o
sarcolema forma uma bolsa denominada placa motora.
A extremidade do motoneurônio não entra em contato com a fibra muscular,
sendo separada por um pequeno espaço denominado fenda neuromuscular. Quando um
impulso nervoso atinge a extremidade do nervo motor, o neurotransmissor acetilcolina
é liberado e se difunde através da fenda sináptica para se ligar aos sítios receptores da
placa motora. Isso provoca o aumento da permeabilidade ao sódio, resultando numa
despolarização denominada potencial da placa motora (PPM). O PPM sempre é forte
o suficiente para ultrapassar o limiar e é o sinal para que o processo contrátil comece.

Ilustração de uma Unidade Motora

Figura 11: Unidade motora


Fonte: http://faculty.unlv.edu/young/Sensory Nervous System

Contração Muscular

A contração muscular é um processo complexo que envolve diversas proteínas


celulares e sistema de produção de energia. O resultado é o deslizamento da actina sobre
a miosina, fazendo com que o músculo encurte e, consequentemente, desenvolva tensão.
Embora os detalhes completos da contração muscular, em nível molecular continue a
ser discutido, seu processo básico está bem definido. O processo da contração muscular
é explicado pelo modelo do filamento deslizante da contração ou teoria do
deslizamento de filamentos, envolvendo as proteínas contráteis actina e miosina.
17

Tipos de Contração Muscular:

O músculo é composto de elementos elásticos e contráteis. Dependendo da contração


muscular, pode-se contrair ou estirar os elementos envolvidos.

Os tipos de contração muscular são divididos em:

Contração Isométrica (Estática) - há contração dos elementos contráteis, mas os


elásticos são estirados. Ainda que exteriormente seja possível constatar um
encurtamento do músculo (WEINECK 2005).

A tensão isométrica é caracterizada por um aumento da tensão da musculatura sem


alteração do comprimento do músculo, onde a resistência é igual à força aplicada.

Contração Isotônica (Dinâmica) - Os elementos contráteis do músculo são


contraídos, mas os elásticos não modificam seu comprimento. Produzindo um
encurtamento dos músculos.

- Isotônica ou dinâmica - A tensão isotônica é caracterizada pela alteração do


comprimento muscular, onde a força excede a resistência provocando um
movimento.

As contrações isotônicas são divididas em:

 Contração isotônica positiva

concêntrica - caracterizada pelo encurtamento do sarcômero (Fase positiva do


movimento);

 Contração isotônica negativa

(excêntrica) - caracterizada pelo aumento do comprimento do sarcômero (Fase


negativa do movimento).

Contração Muscular Autotônica - combinação das solicitações isométricas com a


isotônica. É a forma mais frequente no domínio esportivo.

Contração Muscular Isocinética - Contração isocinética: a tensão desenvolvida pelo


músculo ao encurtar-se com velocidade (cinética) constante (iso) é máxima em todos os
ângulos articulares durante toda a amplitude de movimento.Teoricamente, o
treinamento tipo isocinético torna possível ativar o maior número de unidades motoras e
sobrecarregar sistematicamente os músculos com suas capacidades de produção de força
durante o movimento, até mesmo nos ângulos articulares relativamente "mais fracos". É
necessário a utilização de aparelhos especiais para esse tipo de trabalho.
18

Figura 12: Tipos de contração muscular


Fonte: Carr, 1998

Tipos de trabalho muscular:

Concêntrico (Impulsor ou Positivo) - permite, através de um encurtamento


muscular, mover o peso do próprio corpo ou pesos exteriores, ou superar resistências.
Está presente na maioria dos desenvolvimentos motores esportivos. A força muscular é
maior que a resistência.

Excêntrico (Frenador ou Negativo) - é caracterizado por um aumento longitudinal


do músculo, que produz um efeito ativo contrário. Intervém no amortecimento de saltos
e na preparação de movimentos. Possui maior ativação muscular, podendo causar
lesões.

Isométrico (Estático) - é caracterizado por uma contração muscular, que exclui o


encurtamento. Serve para a fixação de posições determinadas do corpo ou das
extremidades.

Isocinético (Acomodativo) - Resistência diretamente proporcional ao


desenvolvimento da força por espaço de tempo. Resistência adaptada a força muscular
utilizada.

Pliométrico (Reativo) - Passagem do trabalho muscular excêntrico para o


concêntrico. Estimula o reflexo miotático. Pode ser aplicado, mas possui maior risco de
lesões.

Bases fisiológicas da pliometria

O Movimento Pliométrico é baseado no reflexo de contrações das fibras


musculares resultante de um estimulo rápido (e então alongamento dessas mesmas
fibras). Fisiologicamente, quando o alongamento excessivo e violento torna-se uma
possibilidade, os receptores de alongamento criam impulsos nervosos, propceptivos
19

para serem enviados à medula espinhal e, por meio de uma ação reflexa, eles são
recebidos novamente nos receptores. Através dessa ação reflexa, ocorre um efeito de
freio aplicado, evitando o alongamento das fibras musculares e, o mais importante de
termo de pliometria, uma contração muscular com muita potência é liberada. O receptor
sensorial primário, responsável por detectar o alongamento rápido das fibras
musculares, é o fuso muscular, que é capaz de responder a magnitude e o índice de
mudança no comprimento das fibras musculares. O órgão tendinoso de golgi está
localizado nos tendões e responde à tensão excessiva resultante de contrações fortes e
do alongamento do músculo. Esse dois receptores sensoriais funcionam em nível
reflexo e transmitem uma grande quantidade de informações ao cérebro através da
medula espinhal. Um exemplo clássico de trabalho pliométrico são os saltos, mas pode
se destinar aos membros superiores..

- Órgão Tendinoso de Golgi (OTG) e Fuso Muscular

- OTG (Órgão Tendinoso de Golgi) – evita contração excessiva

- FUSO MUSCULAR - evita relaxamento excessivo

Figura 13: Relação Órgão Tendinoso de Golgi e Sistema nervoso


Fonte: Costill,2013.

Figura 14: Exercícios pliométricos (Fonte: Bompa, 2004)


20

3. CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA

A cinesiologia é a ciência que tem como enfoque a análise dos movimentos do


corpo humano. O nome Cinesiologia vem do grego kínesis = movimento + logos =
tratado, estudo. Ciência dos movimentos do corpo humano.

Figura 15: As subdisciplinas da cinesiologia


Fonte: Hall, 2015,

Biomecânica

Bio – Vida

Mecânica – Efeito da força sobre o organismo

Conceitos:

“Aplicação de princípios mecânicos no estudo dos organismos vivos”.

“Estuda os sistemas biológicos de uma perspectiva mecânica”.


( HALL, 2016).

“Avalia o movimento de um organismo vivo e o efeito da força sobre este organismo”.


(HAMILL, 2016).

No contexto da atividade física, Atwater (1980), apud Hoffman, Harris (2000),


afirma que:

“Biomecânica da atividade física é o estudo dos movimentos, estrutura e função dos


seres humanos usando os princípios e métodos da mecânica da física e engenharia”.
21

Áreas de atuação em relação à força


Está relacionada a Força interna (contração muscular) e Força externa (gravidade,
vento, água etc...)

Algumas aplicações da Biomecânica

• Prevenção de injúrias e melhoria na reabilitação

• Melhoria da performance

• Ergonomia

- análise da técnica
- desenho de equipamentos
- melhoria da performance

Áreas de estudo

- Antropometria – mede as dimensões e pesos dos segmentos corporais,


distribuição da massa, braços de alavancas, posições articulares, etc., definindo
um parâmetro antropométrico com parâmetros necessários para a construção de
um modelo biomecânico da estrutura analisada.

- Cinemetria – é o registro de parâmetro cinemático do movimento, isto é, a partir


da obtenção da imagem durante a execução do movimento, realiza-se o cálculo
das variáveis dependentes, como posição, velocidade e aceleração do corpo ou
de seus segmentos.

- Dinamometria – engloba todos os tipos de medida de força. Através da


dinamometria, podemos interpretar as respostas de comportamentos dinâmicos
do movimento humano. De particular interesse são as Forças de Reação de Solo
(FRS), típica da fase de apoio, como no andar, correr ou saltar. O instrumento
básico mais usado em dinamometria é a plataforma de força, que mede
fundamentalmente a FRS e o ponto de aplicação desta força. Assim, a
dinamometria permite medir a ação deformadora das forças externas sobre o
aparelho locomotor.
22

Figura 16:Exemplo de cinemetria (imagem) e dinamometria (plataforma de força)


Fonte: http://w3.ufsm.br/coperves/not.php?id_noticia=693

- Eletromiografia – é o registro da atividade elétrica de um músculo durante a


contração muscular Possui aplicação na medicina como diagnóstico de doenças
neuromusculares; na reabilitação e na atividade física, identificando os músculos
mais ativos durante a execução de movimentos específicos. É realizada através
de eletrodos de superfície ou de agulhas, que adentram na musculatura de modo
mais profundo, coletando dados relativos à atividade elétrica muscular. Estes
sinais são processados e convertidos em uma curva eletromiográfica.

Figura 17:Conversão dos dados coletados em gráfico na eletromiografia.


Fonte: Amadio, 1998
.
23

Análise do movimento humano

Figura 18: Tipos de análise do movimento


Fonte: Floyd, , 2016
24

Figura 19: Termos direcionais na Cinesiologia


Fonte: Floyd, Thompson, 2002
25

CINEMÁTICA – estuda o movimento sem se preocupar com as suas causas


(descreve o movimento).

Osteocinemática

Planos de movimento

Ao estudar as várias articulações do corpo e analisar os seus movimentos, é útil


caracterizá-los de acordo com planos específicos de movimentação.
Existem três planos específicos de movimentos nos quais os vários movimentos
articulares podem ser classificados. Embora cada movimento articular específico possa
ser classificado como sendo em um dos três planos de movimentação, os nossos
movimentos em geral não são totalmente em um plano específico, mas ocorrem a partir
de uma combinação de movimentos em mais de um plano, sendo chamados de
movimentos combinados.

Plano sagital (1) – também chamado de ântero-posterior, divide o corpo verticalmente


em metades direita e esquerda.

Plano frontal (2) – também chamado de plano lateral ou coronal, divide o corpo
verticalmente em partes anterior e posterior.

Plano transverso ou horizontal (3) -- divide o corpo horizontalmente em metades


superior e inferior.

Figura 20: Planos e eixos (Fonte: Aaberg, 2002)

1- PLANO SAGITAL OU ÂNTERO-POSTERIOR

2- PLANO FRONTAL OU CORONAL

3- PLANO TRANSVERSO OU HORIZONTAL


26

Eixos

Os eixos são linhas reais ou imaginárias, ao redor das quais se efetua o


movimento. Todo eixo é perpendicular ao plano. Existem três eixos básicos de
referência para a descrição do movimento.

Eixo transverso, latero-lateral ou latero-medial - linha imaginária em torno da qual


ocorre a rotação no plano sagital.

Eixo ântero -posterior – linha imaginária em torno da qual ocorre a rotação no plano
frontal.

Eixo longitudinal ou craniocaudal – linha imaginária em torno da qual ocorre a rotação


no plano transverso.

PLANO EIXO MOVIMENTOS ARTICULARES

FLEXÃO
LATERO – LATERAL
SAGITAL EXTENSÃO
(TRANSVERSO)
HIPEREXTENSÃO

FRONTAL ÂNTERO-POSTERIOR ABDUÇÃO

ADUÇÃO

ROTAÇÃO PARA A DIREITA

TRANSVERSO LONGITUDINAL ROTAÇÃO PARA A ESQUERDA

ABDUÇÃO E ADUÇÃO NA
HORIZONTAL

Tabela 1: Relação entre plano, eixo e movimento


Fonte: Miranda,2000).

Graus de liberdade

O grau de liberdade de uma determinada articulação é relativo ao número de


planos nos quais os seguimentos se movem, determinando o tipo e quantidade de
movimentos permitidos estruturalmente pelas articulações anatômicas.
27

Relação entre grau de liberdade, plano, eixo e movimento.

1 PLANO

UNIAXIAL – 1 GRAU DE LIBERDADE 2 MOVIMENTOS

1 EIXO

2 PLANOS

BIAXIAL – 2 GRAUS DE LIBERDADE 4 MOVIMENTOS

2 EIXOS

3 PLANOS

TRIAXIAL – 3 GRAUS DE LIBERDADE 6 MOVIMENTOS

3 EIXOS

ARTICULAÇÃO GRAUS DE LIBERDADE

OMBRO 3

COTOVELO 1

PUNHO 2

QUADRIL (COXOFEMORAL) 3

JOELHO 1

TORNOZELO 1

Tabela 2: As articulações e graus de liberdade


Fonte: Miranda, 2000
28

Classificação das articulações

Uma articulação é o ponto de união de dois ou mais ossos. As articulações são


agrupadas em três classes, com base na quantidade de movimento possível. Pode ser
deslizante, uniaxial, biaxial e poliaxial ou multiaxial. As articulações estão divididas em
três grupos:

Sinartrose articulações imóveis (fibrosas)

Anfiartrose Articulações semimóveis (cartilaginosa)

Diartrose Articulações de grandes movimentos (sinoviais)

Tabela 3: Classificação das articulações quanto a capacidade de movimento.


Fonte: Miranda, 2000.

(1) Articulações sinartrodiais (imóveis) – as superfícies articulares (opostos) dos ossos


estão unidas por tecido fibroso, encontradas nas suturas dos ossos cranianos e alvéolos
dos dentes e ação tibiofibular distal.

a) Articulações sinartrodiais

(2) Articulações anfiartrodiais (ligeiramente móveis) – as superfícies articulares


(opostos) do osso estão unidas por tecido cartilaginoso, encontradas na articulação
tibiofibular inferior (mínimo de movimento entre os ossos), sífise púbica e articulação
costela/esterno e vértebra.

.
(b) Articulações anfiartrodiais

Figura 21: Articulações anfiartrodiais (Fonte: Floyd, Thompson, 2002)


29

(3) Articulação diartrodiais (livremente móveis) – articulações nas quais as superfícies


articulares não estão unidas, mas são mantidas em contato por uma manga de tecido
fibroso sustentado por ligamentos, sendo referidas como articulações sinoviais,
caracterizada pela presença de cápsula sinovial.

Figura 22: Articulação diartrodial (Fonte: Floyd, Thompson, 2016).

A maioria das articulações do corpo é do tipo sinovial. Apresenta, em sua


constituição, os seguintes elementos principais:

 cartilagem articular – é uma cartilagem hialina, constituída de células cartilaginosas,


(condrócitos). Essa cartilagem não tem nervos ou vasos sanguíneos; ela é nutrida pelo
líquido sinovial.

 cápsula articular – envolve a articulação, promovendo maior fixação, segurança e


proteção das extremidades ósseas . É formada por uma camada interna, lisa; produz o
líquido sinovial, cuja função consiste em lubrificar e nutrir a articulação. A camada
externa conta de tecido conjuntivo colágeno.

 membrana sinovial – a membrana sinovial contém células especializadas que secretam


o fluido sinovial para dentro da cavidade articular. O fluido sinovial tem função
mecânica (lubrificação das superfícies articulares, prevenindo o desgaste excessivo) e
função fisiológica na nutrição das células cartilaginosas.
 líquido sinovial – trata-se de um líquido viscoso, semelhante à “clara de um ovo”.

 ligamentos – fazem a trajetória de um osso ao outro, tendo como função reforçar todo
o conjunto articular.
30

Estruturalmente este tipo de articulação pode ser dividido em seis grupos:

(A) Artrodial (articulação deslizante não axial) – também conhecida como plana,
caracteriza-se por duas superfícies planas ou chatas que se encontram, permitindo
limitado movimento de deslizamento. O movimento nesse tipo de articulação não
ocorre em um eixo e é denominado não axial. Exemplos são os ossos cárpicos do
punho e as articulações tarso metatarsianas no pé.

Figura 23: Articulação artrodial (Fonte: Floyd, Thompson, 2002)

(B) Condiloidal (articulação de esfera e soquete biaxial) – tipo de articulação na


qual os ossos permitem movimentos em dois planos com pouca ou sem rotação. São
exemplos o punho entre o rádio e a fileira proximal dos ossos do
carpo.

Figura 24: Articulação condiloidal (Fonte: Floyd, Thompson, 2002)

(C ) Enartrodial (articulação de bola e soquete multiaxial) – tipo de articulação que


permite movimentos em todos os planos . Exemplos são as articulações do ombro e
do quadril.
31

Figura 25: Articulações enartrodial (Fonte: Floyd, Thompson, 2002)

(D) Gínglimo (articulação em dobradiça) - tipo de articulação que permite uma larga
amplitude de movimentos em apenas um plano. Exemplos são as articulações do
cotovelo, tornozelo e joelho.

Figura 26: Articulação gínglimo (Fonte: Floyd, Thompson, 2002)

(E) Selar (articulação em sela) - este tipo de articulação é encontrado apenas no


polegar, na sua articulação carpometacarpiana, e permite movimento de bola e
soquete com exceção de rotação.

Figura 27: Articulação tipo selar (Fonte: Floyd, Thompson, 2002)

(F) Trocoidal (artculação do pivô) - tipo de articulação em movimento rotacional


em torno de um eixo longitudinal. Um exemplo é a rotação do rádio na articulação
rádioulnar.

Figura 28: Articulação trocoidal (Fonte: Floyd, Thompson, 2002)


32

Movimentos de translação e rotação.

Movimento de rotação, movimento angular ou rotação – ocorrem em torno de um


eixo ou ponto pivô. São chamados rotatórios porque cada ponto em um segmento
adjacente à articulação segue um arco de círculo cujo centro está no centro da
articulação. Assim, na articulação do cotovelo, os ossos do antebraço rotam em torno do
eixo da articulação do cotovelo.

Movimento de translação – Em mecânica, o termo movimento de translação é


usado para descrever o movimento de um corpo no qual todas as suas partes movem-se
na mesma direção com igual velocidade. Há poucos exemplos de movimentos
translatórios verdadeiros no corpo humano: estes usualmente envolvem o transporte
passivo do corpo em um veículo, tal como cadeira de rodas, maca ou carro. O andar não
é considerado um movimento de translação verdadeiro, mas sim relativo.

CINÉTICA

Estudo das forças associadas ao movimento humano, estuda os movimentos e suas


causas, explica os movimentos.

A busca pelas causas do movimento humano vem desde a antiguidade, mas as


respostas para algumas dessas questões foram sugeridas por alguns estudiosos
como Aristóteles e Galileu. O ponto alto desses estudos foi dado pelo grande
cientista Isaac Newton. De fato, as Leis do Movimento, descrita por Newton em seu
famoso livro Principia Mathematica (1687) foram o fundamento da mecânica do
movimento humano.
O corpo humano gera forças e resiste a essas forças durante a realização das
atividades diárias. As forças de gravidade e de atrito, por exemplo, permitem
caminhar, correr e a manipulação de objetos de maneiras previsíveis quando forças
internas são produzidas pelos músculos.

Figura 29: exemplo da ação de forças internas e externas no movimento humano


Fonte; Hamill, 2016.
33

Força

Definição:

Qualquer interação, de impulso ou tração, entre dois objetos, que faça com que um
objeto acelere positiva ou negativamente (HAMILL, 2016).

Segundo Hall (2016), “Uma força pode ser considerada como um impulso ou uma
tração agindo sobre um corpo”.

As forças são vetores, que possuem suas características peculiares; magnitude


(quantidade) e direção. A magnitude representa a quantidade de força que está sendo
aplicada. É necessário declarar a direção da força porque esta tem um efeito diferente,
dependendo, por exemplo, se a força está empurrando em certa direção em vez de puxar
em outra. Os vetores são geralmente representados por setas, com o comprimento da
seta indicando a magnitude da força e a cabeça apontando na direção para onde a força
está sendo aplicada. No sistema internacional (SI) de medidas a unidade para força é
Newton (N).
Considerando-se que inúmeras forças atuam simultaneamente na maioria das
situações, a construção de um diagrama de corpo livre constitui habitualmente a
primeira etapa ao se analisar os efeitos da força sobre um corpo ou um sistema de
interesse.Um corpo livre é qualquer objeto, corpo ou parte corporal que está sendo
focalizado para análise. Um diagrama de corpo livre consiste em um esboço do sistema
que está sendo analisado e das representações vetoriais das forças atuantes.

Figura 30: Diagrama de corpo livre (Fonte: Hall, 2005).


34

Conceitos básicos relacionados à cinética.

A massa é uma das coisas que determina a força.


A aceleração dada ao corpo também determina a força. Portanto: F = m . a (N = Kg .
m/s2). (diretamente proporcional)

Massa: é a quantidade de matéria de um corpo (Kg).

Inércia: é a tendência de um corpo em manter seu estado de movimento, resistência de


um corpo a aceleração.
A massa de um corpo é que determina sua inércia.
Quanto maior a massa maior a inércia.

Peso: é a força gravitacional exercida sobre um corpo.

Força de atração : Quanto maior o corpo maior a força de atração.


Quanto mais próximo maior a força de atração.
Obs: Quando uma pessoa vai medir sua massa corporal em uma balança, o indicador
primeiramente ultrapassa o seu peso, para depois marcar o valor devido à aceleração.

Pressão: é a força aplicada sobre uma determinada área.


Quanto maior a área menor a pressão.
Quanto menor a área maior a pressão.
Portanto: P = F (P = N/ m2) (inversamente proporcional)
A
Exemplo: Caneta pressionada sobre a pele. A força de um osso sobre o osso. Quanto
maior a área de encaixe ósseo menor a pressão.

Volume: é a quantidade de espaço que um corpo ocupa (cm3 ou m3). 1L = 1000 cm3
Portanto: volume = altura, comprimento e largura.

Densidade: é a relação entre a massa e o volume de um corpo.


Portanto: D = m (inversamente proporcional)
V
Dois corpos de mesma massa, o que tem maior volume é menos denso.
Dois corpos de mesmo volume, o que tem maior massa é mais denso.
+ gordura = - denso
O que determina se um corpo flutua é a densidade.
Quanto maior a densidade flutua menos.
Quanto menor a densidade flutua mais.

Atrito: é a força que atua na interface das superfícies em contato na direção oposta ao
movimento.

Impulso: é a força multiplicada pelo seu tempo


Portanto: I = F . T (diretamente proporcional)
Quanto maior o tempo maior o impulso.

Momento: é a quantidade de movimento de um corpo.

Momento de inércia: é a tendência de um corpo em manter seu estado de movimento.


35

Força musculoesquelética.

O movimento esquelético é criado à medida que as ações musculares geram


tensão, que é transferida para o osso. Os movimentos resultantes são necessários para
locomoção e outras manipulações segmentares.

Figura 31: Ação muscular e geração de tensão (Fonte: Hall, 2005).

Leis de Newton aplicadas ao movimento humano

1ª Lei de Newton (lei da inércia) – Afirma que um corpo se mantém em estado de


repouso ou de movimento uniforme, ou seja, estado de equilíbrio, a não ser que alguma
força externa atue sobre ele.

2ª Lei de Newton (lei da aceleração) – Descreve a relação existente entre a força


aplicada, a massa e a aceleração. Ela afirma que a aceleração de um corpo é
proporcional à magnitude das forças resultantes sobre ele, e inversamente proporcionais
a sua massa.

3ª Lei de Newton (lei da ação e reação) – Afirma que as forças não agem isoladamente,
mas sim com um par interativo, que sempre que um corpo atua sobre o outro, o segundo
exerce uma reação igual e oposta ao movimento inicial.

reação

ação

Figura 32: Ação e reação em uma largada de uma corrida de sprint. O atleta aplica força contra o bloco.
A terra (via bloco) aplica uma força igual e oposta contra o atleta. (Fonte: Carr, 1998).
36

4. CENTRO DE GRAVIDADE

Carr (1998), afirma que “A atração gravitacional da Terra sobre um atleta


encontra-se em seu centro de gravidade”.Independente da posição de um indivíduo, a
atração gravitacional da terra estará sempre no seu centro de gravidade.
O centro de gravidade do humano adulto na posição anatômica foi determinado
como sendo localizado próximo à segunda vértebra sacra (BRAUNE e FISCHER, 1984,
apud SMITH, 1997), ou na posição anatômica, aproximadamente cerca de 2,5 cm acima
do umbigo, sendo que em mulheres o centro de gravidade localiza-se ligeiramente
abaixo, em função da maior massa corporal nos ombros (homens) e nos quadris
(mulheres).
O centro de gravidade de um atleta raramente permanece no mesmo lugar devido
à mudança na posição do corpo no espaço. Se um atleta está em pé, parado e, então
movimenta uma perna ou um braço à frente, seu centro de gravidade se desloca na
mesma direção, devido ao deslocamento da massa desses membros, influenciando, desta
maneira, a massa corporal. Os membros inferiores, por exemplo, possuem mais massa
do que os membros superiores, provocando, portanto, uma maior mudança no centro de
gravidade. Quanto maior a massa deslocada, maior a mudança no centro de gravidade.

Figura 33: Mudança no centro de gravidade em função do deslocamento da massa corporal.


(Fonte: Carr, 1998).

Figura 34: Relação entre centro de gravidade e sistema de alavancas aplicado a luta. (Fonte:
Carr, 1998).
37

5. SISTEMA DE ALAVANCAS

Uma alavanca é uma barra rígida que gira em torno de um ponto fixo quando uma
força é aplicada para vencer a resistência.
Uma quantidade maior de força ou um braço de alavanca mais longo aumentam o
movimento de força.
Há três classes de alavancas, cada uma com uma função e uma vantagem mecânica
diferente.
Diferentes tipos de alavancas também podem ser encontradas no corpo humano. No
corpo humano, a força que faz com que a alavanca se mova, na maioria das vezes e
muscular. A resistência que deve ser vencida para que o movimento ocorra, inclui o
peso da parte a ser movida, a gravidade ou peso externo. A disposição do eixo em
relação à força e a resistência vão determinar o topo de alavanca.

CLASSE DAS ALAVANCAS


Alavanca de Primeira Classe (interfixas)

O eixo (E) está localizado entre a força (F) e a resistência ( R).

BR = BF

Figura 35 : Representação esquemática de alavanca de primeira classe.


Fonte: Carr, 1998.
38

Alavanca de Segunda Classe ( interresistente)

O eixo (E) em uma das extremidades, a resistência ( R) no meio e a força (F) na


outra extremidade.

BF  BR

BF
BR

Figura 36: Representação esquemática de alavancas de segunda classe (Fonte: Carr,1998).


39

Figura 37: Representação esquemática de alavancas de segunda classe (Fonte: Hamill, 2016).

Alavanca de Terceira Classe (interpotente)

Tem o eixo numa das extremidades, a força no meio, a resistência na extremidade


oposta.

BR  BF

BF

BR

A alavanca de 3ª classe é a mais comum das alavancas do corpo. Sua vantagem é a


extensão do movimento.
40

Exemplo de alavanca de terceira classe

R
BR

BF

Figura 38: Representação esquemática de alavancas de terceira classe (Fonte: Carr,1998).


.

DISTÂNCIA DO FULCRO ATÉ RESISTÊNCIA – BRAÇO DE RESISTÊNCIA (BR)

DISTÂNCIA DO FULCRO ATÉ FORÇA – BRAÇO DE FORÇA (BF)

VANTAGEM MECÂNICA (VM) - BRAÇO DE FORÇA >BRAÇO DE


RESISTÊNCIA.

NO CORPO HUMANO:

 OSSO ATUA COMO BARRA RÍGIDA;


 ARTICULAÇÃO É O EIXO;
 MÚSCULOS APLICAM FORÇA.
 MAIORIA DAS ALAVANCAS É DE 3ª CLASSE – VELOCIDADE E ARCO
DE MOVIMENTO MAIOR, FORÇA MUSCULAR GERADA >
RESISTÊNCIA PARA QUE (w) SEJA POSITIVO.
41

Torque

Se for exercida uma força sobre um corpo que possa girar em torno de um ponto
central, diz-se que a força gera um torque. Como o corpo humano se move por uma
série de rotações de seus segmentos, a quantidade de torque que um músculo
desenvolve é uma medida muito proveitosa de seu efeito.
Para empregar o valioso conceito de torque, devem-se compreender os fatores
relacionados à sua magnitude e as técnicas para seu cálculo. A magnitude de um torque
está claramente relacionada à magnitude da força que o está gerando, mas um fator
adicional é a direção da força em relação à posição do ponto central. A distância
perpendicular do pivô à linha de ação da força é conhecida como braço de alavanca da
força. Um método para calcular o torque é multiplicar a força (F) que gerou pelo braço
de alavanca (d). O torque é o produto da força vezes a distância (T= F x D).

FIGURA 39: Efeito do torque em função da força e distância. (Fonte: Hall, 2005).
42

6. MÉTODOS DE PESQUISAS EM BIOMECÂNICA NA ATIVIDADE FÍSICA.

As pesquisas em Biomecânica têm sido beneficiadas em grande parte pelos


avanços tecnológicos. Na década de 1990, por exemplo, havia a necessidade de algumas
horas para a obtenção de fotografias e filmes com o objetivo de analisar os movimentos
de um indivíduo. Atualmente, é possível a utilização de câmeras sofisticadas, capazes
de registrar os movimentos do atleta, de forma seqüencial, em pouco tempo. Além
disso, a digitalização da imagem permite obter parâmetros para uma melhor avaliação
dos movimentos do indivíduo.
O objetivo da pesquisa na atividade física, fundamentalmente na Cinesiologia e
Biomecânica, é o aprimoramento dos movimentos executados no sentido da eficiência
mecânica do movimento.
Nesse contexto, abordaremos o modelo proposto por HARRIS e HOFFMAN
(2000), para a análise do movimento utilizado por professores e treinadores.
43

1 Estabelecer metas de desempenho do movimento e atleta

Morfológic
o
2 Considerar fatores de influência e suas interações Biomecânic
o
Ambienta
l

3 Entendendo os movimentos e os mecanismos do movimento

4 Determinar princípios biomecânicos relevantes e técnicas


relacionadas ao movimento

Observar / Medir
5

Qualitativa Quantitativa
(observar) (medir)

Avaliação
6

Fornecer feedback ao atleta


7

Figura 40: modelo para análise do movimento. (Fonte: Harris, Hoffman, 2000).
44

Apesar da importância de todos os passos para a análise desse modelo, faremos


uma abordagem mais profunda na questão de observar/medir (item 5) o movimento, que
envolve os aspectos qualitativos e quantitativos do movimento.

Análise qualitativa

A análise qualitativa e quantitativa do movimento está relacionada à cinemática,


parte da mecânica que lida com a descrição de componentes de movimentos espaciais e
temporais.
Quando a análise de um movimento tem como base a observação direta sem
considerar a descrição numérica (quantidade) é considerada uma análise qualitativa.
Pode variar desde uma simples observação de desempenho (bom ou mal) até uma
análise mais minuciosa sobre as ações musculares. A análise qualitativa da mecânica do
movimento humano é geralmente realizada através da observação visual, por
professores e treinadores, entretanto, trata-se de uma análise subjetiva. Porém, a análise
qualitativa, não pode ser executada aleatoriamente, mas deve ser planejada com extremo
cuidado, sendo necessário um conhecimento prévio da Biomecânica. Sem este
conhecimento, os analistas poderão ter dificuldades na identificação dos fatores, que
ajudam ou prejudicam o desempenho, e poderão interpretar erroneamente as
observações feitas. Com frequência, o processo de análise qualitativa é cíclico
(movimento que se realiza ou se repete em uma ordem), com as observações dando
origem a um aprimoramento da questão original (HALL, 2016).

Análise quantitativa

Uma análise cinemática quantitativa implica em resultados numéricos. O


movimento é analisado numericamente com base em medidas obtidas a partir de dados
coletados durante o desempenho do movimento. As análises quantitativas necessitam de
equipamentos específicos, como câmeras e vídeos ligados a um computador, tornando
possível a digitalização da imagem (que identifica as coordenadas de posições), o
cálculo e a quantificação de resultados quanto a velocidade, aceleração e posição
corporal. É geralmente realizada por pesquisadores, em ambientes específicos, e
raramente por treinadores e professores. Na corrida, por exemplo, através da análise
quantitativa, é possível mensurar o comprimento, freqüência e tempo de permanência
do pé no solo, durante um ciclo de passada. Alguns instrumentos utilizados em um
centro de pesquisa para monitoramento quantitativo são: câmeras, eletrodos para
eletromiografia, marcadores reflexivos, coletores de dados e acelerômetro.

Figura 41: Exemplo de laboratório cinemático para análise quantitativa.


Fonte: Harris, Hoffman, 2000).
45

7. ABORDAGEM BIOMECÂNICA DA POSTURA.

Postura pode ser definida como a posição e orientação espacial globais do corpo e
seus membros relativamente uns aos outros (KENDEL, et. al. 1991, apud AMADIO
1998). Normalmente está relacionada à posição ereta, fundamentada em uma
estabilidade, proveniente de um sistema de orientação do corpo em função de fatores
externos. O movimento está associado a postura, uma vez que este funciona como um
gerador de ações que desloca os segmentos corporais (uns em relação aos outros ou o
corpo todo em relação ao espaço). O movimento surge a partir da desestabilização,
sendo assim, uma determinada postura será fundamental para a execução bem sucedida
de um determinado movimento. Postura não é um conceito estático, visto que está
relacionada aos momentos gerados por oscilações do centro de gravidade.
O equilíbrio das forças atuantes durante posturas diversas está intimamente
relacionada a coluna vertebral, mediada através de suas curvaturas funcionais e suas
propriedades elásticas.
A coluna vertebral, apesar de apresentar certa flexibilidade, é composta de
elementos rígidos conectados por ligamentos e músculos. Devido a sua importância no
contexto da Educação Física, é importante uma abordagem mais ampla no aspecto
biomecânico.

Coluna vertebral

A coluna vertebral é composta por 33 vértebras e pode ser dividida em quatro


áreas. Sete vértebras cervicais, doze dorsais (ou torácicas), cinco lombares, cinco
vértebras unidas que formam o sacro e quatro vértebras unidas que formam o coccix.

Figura 42: Coluna vertebral, vista anterior, perfil e vista posterior, respectivamente.
Fonte: Netter, 2000.
46

As vértebras são ligadas por articulações que são os discos intervertebrais,


ligamentos longitudinais anterior e posterior. Cada vértebra possui basicamente um
corpo, um grande forame (forame vertebral) e um processo espinhoso, um
prolongamento delgado da vértebra. Cada par de duas vértebras é separado por uma
abertura, o forame intervertebral, de onde saem veias e nervos espinhais Como as
vértebras sobrepõe-se umas as outras, seus forames vertebrais formam o canal vertebral.
O canal vertebral segue as diferentes curvaturas da coluna; ele é largo e triangular nas
partes em que a coluna possui mais liberdade de movimento, como nas regiões lombar e
cervical; e é pequeno e arredondado na região torácica, onde os movimentos são mais
limitados. Neste canal fica abrigada a nossa medula espinhal e por esse motivo ela está
protegida.
Entre cada vértebra há uma espécie de "amortecedor" chamado disco
intervertebral.
Esses discos são constituídos de material fibroso e gelatinoso que desempenham a
função de amortecedores e dão mobilidade para nos locomover, correr ou mesmo
quando saltamos. São formados por um ânulo fibroso e um núcleo pulposo.
O ânulo fibroso ou “parede” do disco, é uma malha fibroelástica entrelaçada, que
envolve a matriz do disco(núcleo pulposo).
O Núcleo pulposo é um material gelatinoso, tranparente, composto por um
elevado conteúdo de água (80 a 90%) e aproximadamente 15 a 20% de colágeno:

- no interior, não contém vasos nem nervos;

- recebe, aproximadamente, 75 % da carga compressiva, distribuindo os demais 25%


para o ânulo fibroso

- ocupa cerca de 50 a 60 % do volume total do disco.

Figura 43: Complexo vertebral e seus componentes.


(Fonte:http://www.jornallivre.com.br/104775/o-que-e-cartilagem.html)

1- Medula espinhal, 2- raiz nervosa espinhal dorsal, 3- gânglio da raiz dorsal, 4- raiz
ventral, 5- nervo espinhal, 6 e 7- disco intervertebral (aqui com exemplo de hérnia de
disco: a parte vermelha central está herniada póstero-lateralmente sobre raiz nervosa,
"4", provocando compressão dessa), 6- Anulus fibrosus, 7- Nucleus pulposus, 8- Corpus
vertebrae
47

As principais funções dos discos intervertebrais são:

- Amortecer choques e igualar tensões

Os discos funcionam como um amortecedor elástico, que é comprimido e


deformado pelas forças exercidas sobre a coluna , voltando à forma original,quando as
pressões deixam de existir.

- Função de mobilidade

Promovem o deslocamento de uma vértebra sobre a outra, em várias direções no


espaço.

- Função de união e alinhamento

O disco invertebral é a peça que liga dois corpos vertebrais adjacentes, além de
amortecer os impactos que atingirem o eixo vertebral e de promover a mobilidade.

Figura 44: Força compressiva e tensão na coluna


(Fonte: Hamill, 2016)

Os discos funcionam como um amortecedor elástico, que é comprimido e


deformado pelas forças exercidas sobre a coluna , voltando à forma anterior.
Quando a coluna vertebral é observada lateralmente, vê-se pequenas aberturas
laterais, estas são os forames intervertebrais. Eles são importantes para permitir que os
nervos (sistema nervoso periférico) se comuniquem com a medula espinhal (que faz
parte do sistema nervoso central).
No centro da coluna vertebral está o canal vertebral, onde se localiza a medula
espinhal. Impulsos nervosos responsáveis por sensação e movimentos passam através
desta "rede" de tecido nervoso, que comunica o cérebro a todas as partes do corpo. Uma
das funções da coluna vertebral é proteger a medula espinhal.
A coluna vertebral ainda é envolta por músculos, ligamentos e tecido adiposo
(gordura), que são então cobertos pela pele.
Quando é vista de frente a coluna vertebral é reta, e quando vista de lado forma
quatro curvaturas, duas delas com a concavidade virada para trás (lordoses) e duas delas
com a concavidade virada para a frente (cifoses). Temos assim a lordose cervical
48

(localizada no pescoço), a cifose toráxica (ao nível das costelas), a lordose lombardi (ao
nível do abdómen) e por fim a cifose sacrococcígea, ao nível do sacro e do cóccix.
As cifoses são curvaturas primárias e são desenvolvidas durante o período
embrionário, as lordoses são chamadas de curvaturas secundárias pois são
desenvolvidas conforme se assume a postura ereta.
O aumento dessas curvaturas representam quadros patológicos. Sendo:
Hiperlordose, cervical ou lombar; hipercifose torácica.

Figura 45: Curvaturas funcionais da coluna vertebral.


(Fonte : www.totalesporte.com.br/artigo.asp?id_artigo=103)

A região cervical é constituída por sete vértebras localizadas no pescoço. A


primeira vértebra se chama Atlas e se articula com o crânio possibilitando flexão e
extensão da cabeça sobre a coluna vertebral cervical, bem como suportando seu peso. O
Axis é a segunda vértebra cervical e apresenta uma apófise (saliência)na sua região
anterior que se projeta para cima, penetrando o plano horizontal do canal vertebral da
primeira vértebra, articulando-se com a parte posterior de seu anel anterior. O Atlas não
tem um corpo vertebral como a maioria das demais vértebras.A região torácica é
constituída de doze vértebras que também servem para a inserção das costelas.
A região lombar é constituída por cinco vértebras maiores e é esta região que
suporta todo o peso do tronco, dos membros superiores, do pescoço e da cabeça quando
estamos na posição sentada ou em pé. Na região da coluna vertebral lombar na altura
entre a primeira e a segunda vértebra ( L1 e L2 ) termina a medula nervosa espinhal
dentro do canal vertebral em uma formação conhecida como cone medular. A partir do
cone parte um aglomerado de raízes nervosas conhecido como cauda equina.

Hérnia de Disco

- Intercaladas entre as vértebras existem pequenas almofadas d etecido fibroelático, que


se deslocam , acompanhando os movimentos da coluna.

- Os discos intervertebrais são constituídos por um anel externo de tecido fibroso e


consistente e uma parte central mais elática, “mole” denominada núcleo pulposo.

- Se o anel fibroso não tiver mais a resistência , devido à idade, traumas repetidos ou
doenças traumáticas e congênitas, o anel fibroso poderá abrir passagem entre as lâminas
49

fibrosas do anel, extravasando-se pela parte posterior ou lateralmente. Surge assim a


lesão conhecida como hérnia de disco.

Figura 46: Disco herniado


(Fonte:www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/corpo-hum...)

As técnicas corretas na execução de atividades cotidianas como varrer ou levantar um


objeto do solo, bem como as técnicas para executar um determinado movimento no
treinamento resistido, devem ser aplicadas para a diminuição do risco de lesões à coluna
vertebral.

Figura 47: Movimento de rotaçào do tronco, expondo a coluna à forças de tensão e cisalhamento.(Fonte:
Hamill,2016).
50

Figura 48: Técnica correta ao levantar um objeto do solo.(Fonte: Hamill, 1999).


51

8. BIOMECÂNICA APLICADA AOS ESPORTES.

A prática esportiva e fundamentalmente o desempenho esportivo é o resultado da


interação interdisciplinar, envolvendo fisiologia,neurofisiologia, psicologia, medicina
esportiva, fisioterapia, nutrição e treinamento desportivo entre outros. Na Biomecânica
é fundamental a eficiência do movimento, isto é, realizar o movimento de forma que o
resultado seja a melhoria da técnica e um menor dispêndio de energia em relação à força
empregada. Dentro desse contexto, é importante a análise primária de alguns esportes e
atividades físicas, enfocando principalmente o tecido ósseo, as articulações, ações
musculares e a importância da técnica correta para um melhor desempenho e a
diminuiçào do risco de lesões músculoesqueléticas.

Biomecânica da marcha e corrida

Marcha

A deambulação pode ser definida em um sentido amplo como um tipo de


locomoção. Nos humanos, um padrão bípede de deambulação é adquirido nos primeiros
anos de vida. Apesar de características distintas entre andar e correr, a análise mais
aprofundada não seria possível sem a Biomecânica. A cinética e a cinemática
constituíram-se de fundamental importância.
A marcha é definida como a maneira ou o estilo de andar (SMITH et. al, 1997).
Uma descrição de um padrão de marcha de um indivíduo inclui a velocidade de
locomoção (metros por segundo) e o número de passos complementados por unidade de
tempo (passos por minuto/cadência), bem como outras características do padrão de
marcha (LARSSON, 1980, apud SMITH et. al, 1997).
Durante um ciclo de marcha, um pé está em contato com o solo (fase de apoio) ou
no ar (fase de balanço). A duração do ciclo da marcha de qualquer dos membros ocorre
do momento em que o calcanhar faz contato com o solo, até o momento em que o
mesmo calcanhar faz novamente contato com o solo.
Assim como em todos os movimentos que envolvem uma fase de contato, o andar
pode ser retratado quanto a Força de reação no Solo (FRS), em três componentes
espaciais: uma força vertical, e duas horizontais (ântero-posterior e médio-lateral).
Dentre estes três componentes, em virtude de sua magnitude, figurando como uma das
principais influenciadoras da sobrecarga do aparelho locomotor (AMADIO, 1989)
A entrada do calcanhar no solo, no início da fase de apoio no solo, determina o
primeiro aumento na magnitude da força vertical. Antes da resposta do aparelho
locomotor a este estímulo por parte da musculatura esquelética, existe um período de
latência (WINTER, 1991, apud AMADIO, 1998). Este é o tempo necessário entre o
estímulo (força imposta pela entrada do calcanhar) e a resposta do sistema nervoso.
52

Figura 49: Força de Reação de Solo durante a marcha.(Fonte: Amadio, 1998).

Corrida

O correr é, de certa maneira, uma variação do andar. Entre as diferenças mais


marcantes entre as duas habilidades destacam-se a velocidade, significativamente maior
no correr, e uma fase de duplo apoio, característico do andar, sendo a principal
característica na diferenciação entre andar e correr.
A corrida, assim como o andar, é uma atividade natural, estando presente na
história do ser humano, desde os remotos tempos das cavernas, quando era utilizada
para caçadas, até os dias atuais, quando é utilizada principalmente nos gestos esportivos.
A velocidade, característica da corrida, resulta em uma resposta de força bastante
diferenciada quando comparada ao andar. Segundo NIGG (1987), apud Amadio ( 1989),
a magnitude da força vertical pode atingir de duas a quatro vezes o peso corporal do
corredor, para corridas mais lentas (jogging) e de velocidade respectivamente. Desta
forma, a carga mecânica imposta ao aparelho locomotor é maior durante a corrida que a
força gerada no andar.

Considerações musculoesqueléticas do andar e correr aplicadas ao exercício.

O tecido ósseo está em constante estado de remodelação (HALL, 2016).


Considerando o princípio da adaptação, a formação e arquitetura e conformação externa
são influenciadas por fatores mecânicos (AMADIO, 1998). Esse processo ficou
conhecido como a Lei de Wolff, que vincula o aumento ou diminuição da massa óssea
às forças funcionais aplicadas. Por exemplo, no tênis, geralmente, um membro superior
(aquele mais utilizado), possui maior diâmetro e densidade óssea que o outro. Nesse
contexto, em virtude das constantes cargas mecânicas durante o andar e a corrida, essas
atividades podem contribuir para a melhoria da densidade óssea do indivíduo. Contudo,
se as cargas forem aplicadas sem considerar a individualidade biológica do praticante, a
frequência, duração e intensidade do exercício, assim como o rítmo de progressão do
treinamento, a possibilidade do surgimento de lesões musculoesqueléticas será maior
(ACSM, 2014).
Kish & O Connor (1991), apud Harris, Hoffman (2000), observaram sinais de
degeneração articular e outros problemas em conseqüência de impactos de força de
excessiva magnitude e um rápido aumento da carga de trabalho, criando aumento na
53

força compressiva em níveis elevados, apesar da relação entre força de impacto e lesões
não estar totalmente esclarecida.
Segundo Amadio (2000) “os músculos alteram a distribuição do estresse no osso,
diminuindo ou eliminando o estresse tênsil por produzir estresse compressivo que o
neutralizam parcial ou totalmente”. Portanto, o fortalecimento muscular dos membros
inferiores é um importante aliado na diminuição do risco de lesões. Ë importante o
fortalecimento não só dos músculos primários, mas os músculos antagonistas,
sinergistas e estabilizadores.
Os trabalhos musculares no andar e correr, em relação ao tipo de contração
muscular são o concêntrico e o excêntrico. O trabalho excêntrico, como por exemplo,
descer uma ladeira, exerce maior sobrecarga sobre a musculatura esquelética, em
relação ao trabalho concêntrico.

Figura 50: Fases concêntrica e excêntrica no andar e correr. (Fonte: Carr, 1998).

As atividades dos músculos utilizados na andar e no correr diferenciam-se pela


participação efetiva desses músculos nas diferentes fases dos movimentos do andar e
correr.
54

Figura 51e 52: Atividade muscular durante a marcha e a corrida. (Fonte: Carr, 1998).
55

Figura 53: Atividade muscular durante a marcha e a corrida. (Fonte: Hamill, 2016).

Lesão e regeneração musculares

Há vários tipos de lesões que podem acometer o músculo esquelético durante a


realização de atividade física, sendo distinguíveis as formas traumáticas (forças externas
envolvidas), processos lesivos, provocados por sofrimento muscular prolongado (fadiga
crônica) e devido a exercícios intensivos, forças de tração ou de tensão exageradas.
As lesões podem possuir diferentes etiologias, podendo ser causadas por
mecanismos diretos e indiretos.
A lesão por sobrecarga (mecanismo direto) é o tipo mais comum de lesão
atlética e compreende mais de 67% das lesões.
A musculatura esquelética tem a capacidade de se regenerar após grande
variedade de lesões, graças à existência das células satélite. As células satélites são
células mononucleadas, indiferenciadas, livres de miofibrilas citoplasmáticas e situadas
entre a membrana basal e o sarcolema da fibra muscular madura. Elas são ativadas para
recuperação e regeneração das fibras musculares após lesão e durante a hipertrofia.
56

A regeneração muscular pode ser classicamente dividida em dois tipos: contínua


e descontínua. Na regeneração descontínua, a fibra muscular é completamente destruída,
e a nova fibra se formará a partir das células satélites, que se transformarão em
mioblastos, e estes formarão miotúbulos, até que se atinja a estrutura completa de uma
nova fibra muscular esquelética. A regeneração contínua se processa à partir da
extremidade da fibra original lesada.

Aspectos e características biomecânicas de calçados e pisos esportivos

As atividades de andar e correr são partes integrantes da prescrição do exercício


com o objetivo de melhorar os sistemas cardiorrespiratório, muscular e ósseo,
proporcionando ao indivíduo uma melhor condição física. Porém, se essas atividades,
(principalmente a corrida) forem executadas sem considerar o princípio da adaptação,
poderá resultar em lesões. Assim como a hipertrofia de um osso adulto normal pode
ocorrer em respostas ao exercício (JONES et. al, 1997, apud AMADIO, 2000), a
sobrecarga excessiva pode resultar danos ao tecido ósseo. Em Biomecânica, os
principais objetivos da investigação a respeito de calçados e pisos estão centrados em
duas grandes áreas: otimização do rendimento e prevenção de lesões e controle de
sobrecarga ao aparelho locomotor.
Considerando o a existência da força de impacto no andar e particularmente no
correr, questiona-se uma maneira de preservar a integridade do praticante, seja pela
utilização do calçado e/ou pisos corretos na prática do exercício. Sendo o andar e o
correr atividades básicas do ser humano, evolvendo um grande número de pessoas,
surgiu a preocupação com o desenvolvimento de calçados e pisos esportivos na
tentativa de proporcionar o aumento do desempenho e diminuição do risco de lesões
esportivas.
Principalmente na corrida, durante a fase de desaceleração (contato do pé com o
solo). A perna, em especial a porção tibial e o pé, flexiona para absorver essa grande
quantidade de força e manter a estabilidade. Além disso, esses segmentos corporais são
expostos a rotações em várias direções, e, enquanto o pé está no solo, tem que ser capaz
de suportar essas rotações ao mesmo tempo em que permanece fixo no solo. Desta
maneira, o calçado esportivo não deverá somente proteger o sistema músculo-
esquelético de forças de impacto, mas também prover estabilidade para que o pé não
gire excessivamente interna ou externamente e que a articulação do joelho não gire
excessivamente (HARRIS, HOFFMAN, 2000).
Na seleção de calçados esportivos é importante considerar aspectos como
anatomia do pé, ortopedia e exigências funcionais. Fatores como pronação, supinação,
pé plano, pé cavo, tíbia vara, genu valgo, genu varo, discrepância nos membros
inferiores, fraqueza muscular, flexibilidade reduzida, composição e tamanho corporal e
gênero são essenciais na seleção do calçado apropriado.
A maioria dos autores concorda no fato do tipo de piso ser mais importante que o
calçado esportivo na prevenção de lesões. Apesar disso, o piso esportivo deve ser
adequado à prática da atividade, visando a integridade do indivíduo não só no aspecto
biomecânico, mas, na possibilidade de quedas e escoriações.
A relação entre calçado, piso e lesões inerentes ao esporte no aspecto
biomecânico envolve basicamente a tentativa da diminuição da carga imposta ao
sistema locomotor seja pela escolha do tipo de calçado ou do tipo de piso esportivo.
Contudo, apesar da influência desses dois componentes, a quantificação da carga,
através da prescrição do exercício, parece ser o fator primordial na relação entre
exercício físico, promoção da saúde e risco de lesões.
57

Biomecânica do treinamento resistido

A prática do treinamento resistido, conhecido popularmente como “musculação”


era, inicialmente, restrita à fisiculturistas e halterofilistas e, em menor escala, atletas de
outros esportes. A massificação do treinamento resistido, inicialmente, ocorreu em
pequenas proporções, devido a concepções errôneas e infundadas, disseminadas de
maneira empírica.
Como resultado de muitas pesquisas e o consequente aumento do número de
publicações especializadas no assunto na última década, o treinamento resistido recebeu
o devido reconhecimento como instrumento capaz de contribuir para a aquisição e
manutenção da saúde e qualidade de vida.
O treinamento resistido possui um campo de atuação extenso, passando pela
busca da estética, condicionamento físico, desempenho esportivo e reabilitação, sendo
praticado por diversas faixas etárias. No idoso, por exemplo, o treinamento resistido é
fundamental (principalmente pelo recrutamento de fibras de contração rápida e
fortalecimento ósseo), contribuindo para a melhoria de fatores importantes como:
equilíbrio, postura, locomoção (marcha), redução no risco de quedas, enfim, condições
essenciais para a independência do idoso.
Apesar da aplicabilidade do treinamento resistido a um grande número de
indivíduos, sua execução requer uma técnica correta, de acordo com os princípios da
biomecânica, objetivando a melhoria do sistema musculoesquelético e redução do risco
de lesões.
Diferente de ações como andar e correr (atividades consideradas naturais), os
movimentos executados durante o treinamento resistido devem ser executados
corretamente. Durante sua execução, não ocorre o deslocamento corporal, mas apenas o
deslocamento de segmentos corporais. Talvez por essa razão, o treinamento resistido
seja uma das melhores práticas para a análise conjunta da biomecânica e fisiologia do
exercício, na tentativa de esclarecer como ocorrem as mudanças morfofuncionais,
principalmente a níveis musculares e metabólicos. Aspectos como força interna e
externa; plano e eixo de movimento; articulações; aumento da densidade óssea;
hipertrofia muscular; músculos agonistas e antagonistas; flexores e extensores;
contração isotônica (concêntrica e excêntrica); padrão de recrutamento das fibras
musculares e sistema nervoso; sistema de alavancas, torque e coluna vertebral podem
ser objetos de uma análise integrada, proporcionando um conhecimento mais amplo
sobre o treinamento resistido.
Além da necessidade da correta execução dos movimentos, a prescrição de
exercícios resistidos deve considerar a freqüência, intensidade, duração e rítmo de
progressão do exercício (ACSM, 2013). A periodização do treinamento resistido não
pode ser desconsiderada. A quantificação da carga de trabalho deverá estar
fundamentada no Princípio da Adaptação, considerando os objetivos e a individualidade
biológica do praticante.

No contexto da análise cinesiológica, abordaremos a participação muscular em


alguns exercícios resistidos básicos, com destaque para os músculos primários.
58

FLEXÃO DO COTOVELO

Figura 54: Fonte: Delavier, 2000.

Nesse exemplo, o exercício também conhecido como rosca direta é realizado


com peso livre, resultando em maior participação dos músculos estabilizadores. É
uniarticular, sendo executado no plano sagital, em um trabalho isotônico e com um
sistema de alavanca de terceira classe, apresentando desvantagem mecânica.
59

Figura 55: Fonte: Delavier, 2000

O exercício elevação frontal com haltere é uniarticular, no caso uma articulação


enartrodial, isotônico e visa principalmente músculo deltoide, em especial a porção
frontal, Todos os esportes nos quais ocorre a flexão, extensão, abdução e rotação do
ombro (voleibol, handebol, natação, basquete e remo entre outros) necessitam dessa
musculatura, em maior ou menor escala, dependendo da especificidade do esporte. O
idoso, por outro lado, faz uso dessa musculatura para suas atividades básicas, por
exemplo, colocar um objeto em uma prateleira, disposta em uma altura mais elevada
que o ombro. Apesar de sua eficiência, nesse exercício a sobrecarga à coluna vertebral é
muito grande. Por isso, foram desenvolvidas máquinas específicas para ativar essa
musculatura com menor sobrecarga para a coluna vertebral.
60

Figura 56: Fonte: Delavier, 2000

Esse exercício se destina à musculatura extensora da articulação do cotovelo


(gínglimo), sendo antagonista ao exercício para o bíceps. É pouco utilizado no cotidiano
na maior amplitude, no sentido de estender o cotovelo. Em razão disso, seu
desenvolvimento é importante para a estabilidade articular. Em alguns esportes,
contudo, a extensão da articulação do cotovelo é fundamental. Por exemplo, na natação,
a finalização da braçada, para ser mais efetiva, deve ser por meio da extensão do
cotovelo, fato que aumentará a propulsão e o maior deslocamento do nadador. Em
esportes de luta onde ocorre o uso do judogi (kimono), pode-se fazer o uso do judogi
atrelado a barra, de forma que a ¨pegada,¨ no implemento para a realização do
movimento, simule as condições de um combate real. Na execução do exercício, a fase
excêntrica também é importante.
61

Figura 57: Fonte: Delavier, 2000.

O supino ou bench press é um exercício multiarticular, envolvendo


principalmente as articulações do ombro e cotovelo, recebendo força compressiva nos
ossos. É um dos exercícios mais populares do treinamento resistido, podendo ser
realizado em máquinas ou com pesos livres, este último necessitando mais de
coordenação neuromuscular e maior participação de músculos estabilizadores. Nesse
contexto, na escolha entre máquinas e pesos livres, é necessário considerar os aspectos
como segurança, objetivos, nível de treinamento e idade do praticante. Para um idoso,
por exemplo, pode ser mais adequado o uso de máquinas, na posição vertical. No jiu
jitsu, ao contrário, um lutador na tentativa de uma raspagem, estará em constante
movimento, sendo importante a participação dos músculos estabilizadores.
62

Figura 58: Fonte: Delavier, 2000.

Este exercício multiarticular pode ser utilizado através da resistência do próprio


corpo ou com a utilização de carga extra. Na verdade, é um excelente exercício em
substituição ao supino ou bench press, quando não houver a disponibilidade deste
implemento. Assim como no supino, a distância entre as mãos na execução do
movimento pode variar, fato que sobrecarregará mais um determinado grupo muscular.
63

Figura 59: Fonte: Delavier, 2000

Exercendo força tensional sobre o aparelho locomotor, outro exercício básico


bastante conhecido é a puxada ou remada alta na polia. Exercício multiarticular com um
sistema de alavancas interpotente, sua aplicação específica não é comum no cotidiano.
No esporte, todavia, pode ser exemplificado nas escaladas e ascensão vertical. Para este
fim, contudo, o exercício em barra fixa replica com maior especificidade, podendo ser
incorporado ao treinamento. Outro exemplo é a natação, durante a fase submersa da
braçada, com exceção da finalização (que é realizada pelo tríceps na articulação do
cotovelo). Existem outras variações deste exercício em relação aos tipos de pegada,
posição do corpo, distância entre as mãos na execução, tipos de barra (implementos)
etc... É comum o descaso na fase excêntrica do movimento.
64

Figura 60: Fonte: Delavier, 2000

O fortalecimento da musculatura abdominal é fundamental para a manutenção da


postura e diminuição do risco de lombalgias. A atividade do músculo reto abdominal
gera uma flexão de tronco, que deve ser contrabalanceada com uma contração dos
extensores da coluna (ZATISIORSKY e KRAEMER, 2008). A musculatura abdominal
torna-se importante na estabilização dos movimentos, fundamental no desempenho
esportivo e essencial nos gestos esportivos onde ocorre a flexão e/ou rotação de tronco.
Esportes como ginástica, remo, tênis de quadra e voleibol são exemplos da necessidade
do fortalecimento abdominal. Os exercícios abdominais podem ser executados no solo,
com uso de implementos; em máquinas, ou implementos específicos com a bola suíça.
Como outros grupos musculares, seu fortalecimento e capacidade de hipertrofia
ocorrem em decorrência da aplicação de sobrecarga e não somente com um número
elevado de repetições.
65

Figura 61: Fonte: Delavier, 2000

É um dos exercícios mais importantes e negligenciados para a manutenção de


uma boa postura, redução de lombalgias e, ainda que de forma indireta, na redução do
risco de surgimento de hérnia de disco. A musculatura do bíceps e do quadríceps, por
exemplo, são frequentemente expostas à força de contração, resultado da flexão e
extensão dos segmentos corporais. É mais comum nos movimentos do cotidiano a
permanência em posições de flexão do tronco (contração dos músculos abdominais) que
na extensão do tronco.

Na execução do exercício deve ser observada a amplitude do movimento,


principalmente na fase de elevação do tronco (extensão) quando poderá ocorrer hiper
extensão, sobrecarregando a coluna vertebral. Porém, em alguns esportes, como
handebol (arremesso), voleibol (salto e preparação para a cortada) e tênis (saque), a
hiper extensão vai estar presente e o treinamento resistido deve considerar este aspecto,
permitindo amplitudes maiores durante os movimentos.
66

Figura 62: Fonte: Delavier, 2000

O agachamento é um exercício clássico do treinamento resistido. Visa


fundamentalmente o fortalecimento dos membros inferiores, tendo uma extensa a
participação no esporte.Os músculos mais solicitados são o quadríceps e os
ísquiotibiais. A carga, número de repetições, amplitude e velocidade de execução do
movimento serão selecionados de acordo com o objetivo do indivíduo, podendo ser
voltado para a estética ou para o desempenho esportivo. Em um nível elevado de
treinamento pode ser aplicado o treinamento pliométrico. Muitas variações são
utilizadas a partir do agachamento, como o meio agachamento e o afundo no “Smith
machine”. A execução do agachamento em aparelhos proporciona maior segurança.
67

Figura 63: Fonte: Delavier, 2000

A extensão da articulação do joelho exige maior solicitação do quadríceps. Se


comparado ao agachamento, diferencia-se pelo fato de ser um exercício de cadeia aberta
(o agachamento é de cadeia fechada). Apesar de objetivar principalmente o quadríceps
(como no agachamento), diferencia-se do agachamento pela especificidade na aplicação
de diversos esportes. Por exemplo, apesar de realizar a extensão da articulação do
joelho, não reproduz a ação do ciclista, no momento em que se faz o movimento de
empurrar o pedal para baixo (extensão da articulação do joelho).
É um dos exercícios mais importantes para o idoso, pois essa musculatura é
fundamental para ações como levantar de uma cadeira.
A sobrecarga imposta ao músculo deve ser suficiente para ativar as fibras de
contração rápida. Apesar da perda funcional na capacidade de recrutamento das fibras
rápidas (Tipo I), a falta de uso dessas fibras interfere na incapacidade dos idosos
(COSTILL, 2013).
O exercício na cadeira extensora pode ser feito de forma unilateral, assegurando o
mesmo esforço para cada um dos membros inferiores.
68

Figura 64: Fonte: Delavier, 2000

O fortalecimento da musculatura posterior da coxa (isquiotibiais) é


frequentemente negligenciada, em detrimento do fortalecimento do quadríceps. Isso
pode ser a causa de lesões musculares, devido a fraqueza muscular dessa região. O
exemplo mostra a execução unilateral, estando o indivíduo na posição de pé. Pode ser
realizado na posição deitada, com os membros inferiores simultaneamente. As cargas
impostas no treinamento resistido devem ser selecionadas e aumentadas com cuidado,
especialmente em máquinas nas quais o processo de aumento de carga ocorre por meio
de barras. È realizado no plano sagital e utiliza uma alavanca de terceira classe.
69

Figura 65: Fonte: Delavier, 2000

A extensão da articulação do tornozelo (gínglimo), também conhecida como


flexão plantar, é fundamental para a maioria das provas de atletismo e outros esportes.
Utiliza-se de um sistema de alavanca de segunda classe, onde o braço de força é maior
que o braço de resistência, indicando uma vantagem mecânica e menor solicitação
muscular. Além disso, na composição de fibras musculares em termos de velocidade e
contração, o músculo gastrocnêmio contém aproximadamente 50% de fibras de
contração lenta, enquanto no músculo sóleo, esse valor pode chegar entre 75 a 90%
(SALTIN E COLS, 1997). Considerando esses fatores, além da contribuição genética, o
desenvolvimento dessa musculatura é, na maioria das vezes, de difícil obtenção. Pode
ser realizado em pé, como no exemplo, ou sentado. Possui variações na execução como
o posicionamento dos pés durante o exercício.
70

Referências

AABERG, E. Conceitos e técnicas para o treinamento resistido. São Paulo: Manole,


2002.

ACSM. Diretrizes do ACSM para os Testes de esforço e sua prescrição. 6a ed. Rio de Ja
neiro: Guanabara Koogan S. A. 9a ed. 2014.

AMADIO, Alberto C. A biodinâmica do movimento humano e suas relações


interdisciplinares. São Paulo: Estação Liberdade: Escola de Educação Física e Esporte
da Universidade de São Paulo, 2000.

AMADIO, Alberto C. Fundamentos biomecânicos para a análise do movimento


humano. São Paulo: Laboratório da biomecânica – EEFUSP, 1998.

BOMPA, Tudor O Treinamento de potência para o esporte: pliometria para o


desenvolvimento máximo de potência. São Paulo: Phorte, 2004.

CARR, Gerry. Biomecânica dos esportes, um guia prático. São Paulo: Manole, 1998.

COSTILL, David L., WILMORE, Jack H. Fisiologia do esporte e do exercício. 5a ed.


São Paulo: Manole, 2013.

DELAVIER, Friederic. Guia dos movimentos de musculação. 2a ed. São Paulo: Manole,
2000.

FOSS, Merle L., KETEYIAN, Steven J. Fox. Bases fisiológicas do exercício e do


esporte. 6a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.S.A. 2000.

GARRET Jr, Willian, KIRKENDALL, Donald E. A Ciência do exercício e do esporte.


Porto Alegre: Artmed, 2003.

HALL, Susan J. Biomecânica básica. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

HALL, Susan J. Biomecânica básica. 19a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.

HAMILL, Joseph, KNUTZEN, Kathleen M. Bases biomecânicas do movimento


humano. São Paulo: Manole, 1a ed. 1999.

HAMILL, Joseph, KNUTZEN, Kathleen M. Bases biomecânicas do movimento


humano. São Paulo: Manole, 4a ed. 2016.

HARRIS, Janet C. HOFFMAN, Shirl J. Introduction to kinesiology: studyng physical


activity. Champaign, IL: Human Kinetics, 2000.

MARCHETTI, Paulo, CALHEIROS, Ruy, CHARRO, Mário. Biomecânica aplicada:


uma abordagem para o treinamento de força. São Paulo: Phorte, 2007.

MIRANDA, Edalton. Bases de anatomia e cinesiologia. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.


71

NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
Universidade de São Paulo, 2000.

POWERS, Scott K., Edward T. HOWLEY. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação


ao condicionamento e ao desempenho. 5a ed. São Paulo: Manole, 2005.

SMITH, Laura K. , WEISS, Elizabeth L. , LEHMKUHL, L. D. Cinesiologia clínica de


brunnstrom. São Paulo: Manole, . 6a d. 2014.

THOMPSON, Clem. W. , FLOYD, R. T. Manual de cinesiologia estrutural. São Paulo:


Manole, . 14a ed. 2002.

THOMPSON, Clem. W. , FLOYD, R. T. Manual de cinesiologia estrutural. São Paulo:


Manole, . 19a ed. 2016.

VERKHOSHANSKI, Yuri V. Treinamento desportivo: teoria e metodologia. Porto


alegre: Artmed, 2001.

WEINECK, Jurgen. Biologia do esporte. São Paulo: Manole, 2005.

ZATIORSKY, Vladimir M., KRAEMER, Willian J. Ciência e prática do treinamento


de força. São Paulo, Phorte, 2a ed. 2006.

Internet

www.sbotologia.com.br

www.http://treino.desnivel.pt/

www.colegiosaofrancisco.com.br

www. http://w3.ufsm.br

Você também pode gostar