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CONTABILIDADE RURAL

CONTABILIDADE RURAL

SUMÁRIO

1- AGRICULTURA: FORMAS DE EXPLORAÇÃO 3

2- ADMINISTRAÇÃO RURAL MODERNA 10

3- CONTROLE GERENCIAL 18

4- IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE RURAL 25

5- GASTOS PRÉ-OPERACIONAIS: TRATAMENTO CONTÁBIL

NA EXPLORAÇÃO AGROPECUÁRIA 32

6- DEPRECIAÇÃO, EXAUSTÃO E AMORTIZAÇÃO NA AGROPECUÁRIA 41

7- CÁLCULO DO CUSTO DE PRODUÇÃO NA EMPRESA RURAL 47

REFERÊNCIAS

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1- AGRICULTURA: FORMAS DE EXPLORAÇÃO

O que acabamos de dizer a respeito de explorações capitalistas importantes e


intensivas, desenvolvidas em terrenos de pequena extensão, invoca a seguinte
questão: existem fundamentos para se pensar que a intensificação da agricultura
deva conduzir a uma redução de superfície da exploração? Em outros termos,
existem condições vinculadas à própria técnica da agricultura moderna, que exijam'
uma redução da superfície da exploração para que a agricultura se torne mais
intensiva?

Nem as considerações teóricas abstratas, nem os exemplos, podem fornecer


uma resposta a esta questão. Trata-se do nível concreto da técnica em
determinadas condições da agricultura, e do valor concreto do capital necessário a
um determinado sistema de exploração. Em teoria, é possível conceber qualquer
investimento de capital, de qualquer ordem de grandeza, em qualquer quantidade de
terra; mas o certo é que "isto depende" das condições económicas, técnicas,
culturais, etc., existentes, e toda a questão consiste precisamente em saber quais
são as condições existentes em um determinado momento em um país determinado.
Os exemplos não são convenientes, pois, num domínio de tendências tão
complexas, diversas, confusas e contraditórias, como o da economia da agricultura
moderna, á sempre possível encontrar exemplos que confirmem opiniões opostas. E
necessário aqui, antes de tudo e mais que em qualquer outra parte, um panorama
do processo no seu conjunto, considerando todas as tendências, e resumi-las na
forma de uma resultante, O terceiro sistema de agrupamento utilizado pelos
estatísticos americanos, em 1900, permite responder a questão levantada. Trata-se
do agrupamento segundo a principal fonte de renda. A partir deste indicador todas
as farms são repartidas entre as seguintes categorias: 1 . feno e cereais como
principais fontes de renda; 2. mistas; 3. pecuária; 4. algodão; 5. legumes; 6, frutas 7,
laticínios; 8. tabaco; 9. arroz; 10. açúcar; 11 . flores 12. produtos de estufa; 13.
colocásia(1*); 14. café. Em conjunto as sete últimas categorias (8-14), representam
apenas 2,2% do número total das propriedades, ou seja, uma fração da ínfima que
não nos deteremos aí mais pormenorizadamente. Por seu caráter e importância
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económica estas categorias inteiramente semelhantes às três precedentes (5-7), e


com alas um único e mesmo tipo. Eis os dedos que caracterizam estas diferentes
propriedades:

Média em dólares por acre de superfície


Grupos total
de farms Porcentage Quantidad
segundo m e Gastos Valor

a do número média de Superfíci com Despesa Valor dos do

principal total de terra e mão de s instrumento conjunt

fonte de farms p/ farm total obra com s o

riqueza cultivada assalariad adubos e máquinas do


a gado

Feno e
23,0 159,3 111,1 0,47 0,04 1,04 3,17
cereais

Mistas 18,5 106,8 46,5 0,35 0,08 0,94 2,73

Pecuária 27,3 226,9 86,1 0,29 0,02 0,66 4,45

Algodão 18,7 83,6 42,5 0,30 0,14 0,53 2,11

Legumes 2,7 65,1 33,8 1,62 0,59 2,12 3,74

Frutas 1,4 74,8 41,6 2,46 0,30 2,34 3,35

Prod.
6,2 121,9 63,2 0,86 0,09 1,66 5,58
Leiteiros

Conjunto
das farm 100,0 146,6 72,3 043 0,07 0,90 3,66
s

Verificamos que as duas primeiras categorias (feno e cereais; mistas), podem


ser classificadas como médias, tanto pelo grau de desenvolvimento do caráter
capitalista da exploração (os gastos com mão-de-obra assalariada são os mais
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próximos da média: 0,35-0,45, enquanto a média é de 0,43 para o conjunto dos


Estados Unidos), quanto pela intensidade da agricultura. Todos os indicadores da
intensidade da exploração (despesas com adubos, valor das máquinas e do gado
por acre de terra) são os mais próximos da média geral para o conjunto dos Estados
Unidos. Não há dúvida de que estes dois grupos sejam particularmente típicos da
maioria das explorações agrícolas em geral. O feno e os cereais, seguidos do
conjunto dos diversos produtos agrícolas (as fontes "mistas" de renda), são os
principais tipos de explorações agrícolas em todos os países. Seria bastante
interessante possuir dados mais detalhados sobre estes grupos para, por exemplo,
subdividi-los em grupos mais ou menos mercantis, etc. Contudo, como vimos, as
estatísticas americanas, após terem dado um passo nesta direção, não mais
avançaram, mas recuaram. As duas categorias seguintes — pecuária e algodão —
fornecem o exemplo das farms menos capitalistas (gastos com mão-de-obra
assalariada: 0,29-0,30, para urna média de 0,43), e cuja agricultura menos intensiva.
O valor global dos instrumentos e máquinas é nitidamente inferior à média (0,66 e
0,53 contra 0,90), E óbvio que a quantidade média de gado por acre nas farms cujo
rendimento essencial é fornecido pela pecuária, é maior do que a média para os
Estados Unidos (4,43 contra 3,66); mas trata-se, evidentemente, de uma pecuária
extensiva: as despesas com adubos reduzem-se à taxa mínima, a dimensão média
das farms é a maior (226,9 acres), a proporção de terra cultivada é a menor (86,1
acres sobre 226,9), O consumo de adubos nas explorações algodoeiras é superior à
média, mas os outros índices de intensidade da agricultura (valor do gado e das
máquinas por acre de terra), são os mais baixos.

Enfim, nas três últimas categorias (legumes, frutas e produtos leiteiros),


as farms são, em primeiro lugar, as mais reduzidas (33-63 acres de terra cultivada
contra 42-8 e 46-111 nas outras categorias); em segundo lugar, as mais capitalistas:
os gastos com mão-de-obra assalariada são os mais elevados, de 2 a 6 vezes
superiores à média; em terceiro lugar, as mais intensivas. Quase todos os índices de
intensidade da agricultura são aqui superiores à média: as despesas com adubos, o
valor das máquinas, o valor do gado (unia pequena exceção é constituída
pelas farms frutíferas que, neste aspecto, estão abaixo da média, permanecendo
superiores às farms que retiram sua renda, sobretudo do feno e dos cereais).
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Passemos agora a estudar o lugar exato ocupado por estas farms altamente
capitalistas no conjunto da economia do país. Mas antes devemos nos deter um
pouco mais em seu caráter intensivo. Consideremos as farms que retiram seu
principal rendimento dos legumes. Sabe-se que em todos os países capitalistas o
desenvolvimento das cidades, fábricas, cidades industriais, terminais ferroviários,
portos, etc., provoca uma demanda crescente de produtos deste gênero, faz subir
seus preços, aumenta o número de empresas agrícolas que os produzem para a
venda. A exploração "hortigranjeira" média possui uma superfície cultivada três
vezes menor que a da farm "comum", que retira sua renda, sobretudo do feno e dos
cereais: a primeira é de 33,8 acres, a de 111, 1. O que significa que uma
determinada técnica para um determinado tipo de acumulação de capital na
agricultura, requer dimensões menores, quando se trata de uma farm hortigranjeira;
em outros termos, para investir um agricultura e obter um lucro que não seja inferior
à media, é necessário, no atual estágio técnico, uma superfície para urna exploração
que produza legumes do que para que produza feno e cereais.

Mais ainda. O desenvolvimento do capitalismo na agricultura consiste, acima de


tudo, na passagem da agricultura natural à agricultura mercantil. Isto é sempre
esquecido, e é preciso que se insista continuamente neste ponto. Quanto ao
desenvolvimento da agricultura mercantil, ele não segue, de forma alguma, a via
"simples" imaginada ou suposta pelos economistas burgueses, e que consistiria no
crescimento da produção dos mesmos produtos. Não, O desenvolvimento da
agricultura mercantil consiste, com maior frequência, na passagem de uma
determinada produção à outra, A passagem da produção do feno e dos cereais à
dos legumes insere-se precisamente nestas transformações em curso. Mas o que
significa uma tal passagem cai relação à questão que nos interessa, a da superfície
da exploração e do desenvolvimento do capitalismo na agricultura? Ela significa o
desmembramento da "grande" farm de 111,1 acres, em mais de três
"pequenas" farms de 33,8 acres, A produção da antiga farm era de 760 dólares
(valor médio dos produtos, deduzidos os que servem para alimentar o gado) numa
farrn cuja renda principal é obtida do feno e cereais, A produção de cada
nova farm é de 665 dólares, O que perfaz um total de 665 x 3 = 1.995 dólares, ou
seja, mais do dobro.
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A eliminação da pequena produção pela grande faz-se acompanhar de uma


redução da superfície da exploração.

A média de gastos com mão-de-obra, que era de 76 dólares na antiga farm,


eleva-se a 106 dólares na nova, ou seja, um aumento próximo da metade, enquanto
a superfície se reduz em mais de três vezes. As despesas com adubos passam de
0,04 dólares por acre a 0,59 dólares, aumentando de quase 15 vezes; o valor dos
instrumentos e máquinas dobrou, passando de 1,04 a 2,12 dólares. Alguém
objetará, como se faz habitualmente, que o número destas farms tipicamente
capitalistas, que praticam culturas especiais, "mercantis", é insignificante em relação
ao número total de explorações. Ma nós responderemos, em primeiro lugar, que o
número e o papel de tais jarras, seu papel económico, 6 infinitamente superior ao
que geralmente se supõe; em segundo lugar, e aí está o essencial, que são
precisamente estas culturas que crescem com maior rapidez nos países capitalistas.
Por isto, a redução da superfície da exploração, acompanhada de um processo de
intensificação da agricultura significa, com muita frequência, um aumento, e não
uma redução do volume económico da produção; um acréscimo, e não uma redução
da exploração do trabalho assalariado.

Eis a este respeito dados precisos fornecidos pelos estatísticos americanos,


abrangendo o conjunto do país. Consideremos todas as culturas especiais ou
"mercantis", enumeradas acima sob as rubricas 5 a 14: legumes, frutas, laticínios,
tabaco, arroz, açúcar, flores, produtos de estufa, colocásia e café. Em 1900, nos
Estados Unidos, o número de farms nas quais estes produtos constituíam a principal
fonte de renda elevava-se a 12,5% do número total. Trata-se, portanto, de uma
pequena minoria correspondente à oitava parte. A superfície
destas farms representava 8,6% da superfície total, ou seja, apenas 1/12. Mas
prossigamos. Consideremos o valor global dos produtos de toda a agricultura
americana, com exceção daqueles que servem para alimentar o gado. Sobre este
valor, a participação das farms acima já é de 16%, ou seja, uma proporção quase
duas vezes superior à da terra.

O que significa dizer que, nestas farms, a produtividade do trabalho e da terra é


quase duas vezes superior à média.
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Consideremos o montante global dos gastos com mão de obra assalariada na


agricultura americana. A parcela das farras mencionadas acima é aqui de 26,6%, ou
seja, mais de 1/4 do total; ela supera em mais de três vezes a percentagem de terra
e é mais de três vezes superior à média. O que equivale a dizer que o caráter
capitalista destas farms é claramente superior à média. Sua participação no valor
global dos instrumentos e máquinas é de 20,1%, e de 31,7% no somatório global
das despesas com adubos, ou seja, um pouco menos que 1/3 da soma global, cerca
de quatro vezes maior que à média.

Consequentemente, chegamos ao fato incontestável, válido para todo o país no


seu conjunto, de que as farras particularmente intensivas têm uma superfície
particularmente pequena, um emprego particularmente grande de trabalho
assalariado, uma produtividade do trabalho particularmente elevada; e que o papel
económico destas jarras no conjunto da agricultura do país considerado supera em
duas, três ou mais vezes sua participação percentual no número total de jarras, para
não falar de sua participação na superfície total.

O papel destas culturas e farms altamente capitalistas e intensivas diminui ou


aumenta com o tempo, em relação às outras propriedades e culturas?

A comparação dos dois últimos recenseamentos fornece, seguramente, uma


resposta afirmativa no sentido de um crescimento deste papel. Consideremos a
superfície ocupada pelas diferentes culturas. De 1900 a 1910 a superfície cultivada
com cereais de todas as espécies só aumentou em 3,5% nos Estados Unidos; a
ocupada pelas favas, ervilhas, etc., em 26,6%; a ocupada com feno e plantas
forrageiras, em 17,2%; pelo algodão, em 32,0%; pelos legumes, em 25,5%; pela
beterraba açucareira, a cana-de-açúcar, etc, em 62,6%.

Consideremos os dados sobre a produção agrícola. De 1900 a 1910, a colheita


global de cereais aumentou em apenas 1,7%; a de favas, em 122,2%; a de feno e
plantas forrageiras, em 23,0%; a de beterraba açucareira, em 395,7%; a de cana-de-
açúcar, em 48,5%; a de batatas, em 42,4%; a de uvas, em 97,6%; se em 1910, a
colheita de bagas(2*), maçãs, etc., foi ruim, a de laranjas e limões triplicou, etc.

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Assim, fica demonstrado para o conjunto da agricultura americana este fato


paradoxal e, contudo incontestável de que, de uma maneira geral, não apenas se
processa uma eliminação da pequena produção pela grande, mas que esta
eliminação reveste-se da seguinte forma: A eliminação da pequena produção pela
grande consiste na eliminação das farms "maiores" quanto à superfície, mas menos
produtivas, menos intensivas e menos capitalistas, pelas farms "menores" quanto à
superfície, mas mais produtivas, mais intensivas e mais capitalistas.

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2- ADMINISTRAÇÃO RURAL MODERNA

Conceito de Administração Rural e aplicações

A administração rural surgiu no começo do século XX junto às universidades de


ciências agrárias, na Inglaterra e Estados Unidos.

Essa prática surge com a preocupação de sobretudo, analisar, a credibilidade


econômica e técnicas agrícolas.

(Fonte: Senar)

Toda propriedade rural, por mais simples que seja, envolve uma complexidade de
atividades, custos, problemas, etc. Ou seja, é um negócio.

E como todo negócio, para ter sucesso e prosperar, precisa ser bem gerenciado.

Uma propriedade bem administrada precisa ter uma força de equipe de trabalho
qualificada, bem treinada, desenvolvida e satisfeita com aquilo que faz.

Caso contrário, ela terá dificuldades em atingir o sucesso financeiro, com eficácia e
eficiência.

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Existem várias formas de definir administração rural, confira algumas delas:

1- ―É um ramo da Ciência Administrativa que estuda os processos racionais das


decisões e ações administrativas em organizações rurais‖ (Fonte)

2- ―É o ramo da Ciência Administrativa que se preocupa com a análise dos aspectos


inerentes a empresa rural e suas inter-relações com o meio ambiente‖ (Fonte)

3- ―É o ramo da economia rural que estuda a organização e administração de uma


empresa agrícola, visando o uso mais eficiente dos recursos para obter
resultados compensadores e contínuos‖ (Fonte)

4- ―É o conjunto de atividades que facilitam as tomadas de decisões ao nível de


sua empresa agrícola, com o fim de obter melhor resultado econômico, mantendo a
produtividade da terra‖ (Fonte)

5- ―É um conjunto de atividades envolvidas que se relacionam ao controle e


gerenciamento dentro de um setor agrícola‖ (Fonte)

Mas diante de tantas definições…

Afinal, o que é administração rural?

Podemos afirmar que quando administramos bem, tomamos decisões com maior
clareza e segurança.

A administração é feita por uma visão ampla da fazenda, especialmente nas áreas
financeira e de pessoas. Saber como administrar a sua empresa rural é essencial
para atingir melhores resultados.

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(Foto: Senar Goiás)

A gestão agrícola também é essencial, e atua mais na parte operacional e por setor
da propriedade rural.

Uma propriedade rural bem administrada e bem gerenciada, precisa ter uma força
de equipe de trabalho qualificada, bem treinada, desenvolvida e satisfeita com aquilo
que faz.

No fim das contas, todo o manejo da lavoura é feito por pessoas. Por isso, tenha
maior atenção com quem trabalha com você.

Além disso, embora muitos produtores tenham a noção da importância da aplicação


da administração no meio rural, ela ainda não requer as devidas atenções.

Agora que já falamos sobre o conceito de administração rural, veja agora qual a
importância dela na sua fazenda:

Conceito de administração rural: importância na agricultura

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(Fonte: Lúcia Ramos em Administração Rural)

A administração rural realizada de forma bem feita propicia ao agricultor uma


lucratividade exponencial, porque se conhece todos os investimentos, custos
e gastos na propriedade.

Uma regra básica da administração rural, para que o gestor não se perca diante de
tantos fatores que permeiam a função, é guiar-se por um planejamento.

Esse planejamento pode seguir o ciclo de produção por safras, e começar com
passos simples:

o Objetivos ou o que fazer: são as metas específicas a serem alcançadas ao longo


do período que, no conjunto, vão responder pelos resultados da organização;

o Estratégias ou como fazer: são as formas escolhidas pelo empreendimento para


concretizar seus objetivos e, em consequência, sua grande meta do período;

o Cronograma ou quando fazer: aqui devem constar as atividades a serem


executadas e o tempo previsto que cada uma delas seja realizada.

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O cronograma permite identificar o tempo necessário para a execução, estimar o


prazo em função dos recursos disponíveis, analisar a possibilidade de sobrepor
atividades ou realizá-las em paralelo.

o Responsáveis ou quem irá fazer: nesta parte do planejamento, são nomeados os


responsáveis ou o responsável pelas atividades;

o Recursos disponíveis ou com o que faremos: aqui são identificados os recursos


globais para a execução do planejamento

Administração de fazendas

Existe um novo paradigma para o administrador de fazendas:

“Não mais buscar a máxima produção a qualquer custo, mas sim buscar a MÁXIMA
RELAÇÃO CUSTO X BENEFÍCIO nas atividades desenvolvidas”.

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É por isso que hoje, para você se adequar às necessidades de sua lavoura, bem
como conhecer o mercado e processos de produção, é fundamental usar a
tecnologia como facilitadora de tempo e administração de custos.

Formação básica do Administrador Rural Moderno:

Ele precisa entender de:

o Custo de produção: para realizar a avaliação econômica da sua atividade;

o Análise de Resultado: para definir as atitudes a serem tomadas;

o Preocupar-se com agroqualidade: menos desperdício e maior eficiência;

o Conhecer informática: necessária para processar um grande volume de


informações;

o Contemporaneidade: conhecer o mundo que nos cerca e o reflexo disso em nós e


no nosso negócio;

o Políticas governamentais: para saber em qual cenário ele vai produzir;

o Meio ambiente: premissas básicas e reflexos na atividade.

Porém, tudo tem seu preço não é mesmo? quais são os custos de produção de uma
empresa rural?

Custos de produção para realização de administração rural

Têm por finalidade mensurar os gastos da empresa, com o objetivo de analisar seu
resultado econômico financeiro e também planejar suas atividades.

Por meio desses custos que podemos tomar decisões mais seguras quanto a
investimentos, tecnologias a serem empregadas e, em especial: por quanto vender
seu produto agrícola.

Como reduzir riscos e incertezas com a administração rural?

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A administração envolve processos que minimizam riscos e incertezas, como:

(Fonte: Leonéia Arruda em Administração Rural)

Sendo eles:

o Planejamento: estudo e avaliação da situação atual, prever acontecimentos, definir


objetivos e metas, como atingi-los, e definir programas: quem vai fazer, o quê, como,
quando e onde;

o Organização: é o processo que estabelece o trabalho a ser executado, bem como


as responsabilidades pela sua realização;

o Controle: assegurar a realização dos objetivos, identificar a eventual necessidade


de modificá-los e, ainda, executar as medidas corretivas que se fizerem necessárias;

o Direção/Gerenciamento: submeter o processo a todas as etapas anteriores,


mobilizar o pessoal e, ainda, acionar os recursos globais, tendo em conta que todos
têm o mesmo peso para a obtenção do sucesso em relação aos objetivos
perseguidos pelo administrador.

Adicionalmente, existem alguns princípios para uma boa administração rural:

Princípios para uma boa administração rural

o Saber utilizar princípios, técnicas e ferramentas administrativas;


o Utilizar alguma tecnologia facilitadora dos processos;
o Saber decidir e solucionar problemas;
o Saber lidar com pessoas: comunicar eficientemente, negociar, conduzir mudanças,
obter cooperação e solucionar conflitos;
o Ter uma visão sistêmica e global da estrutura da organização;
o Ser proativo, ousado e criativo;
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o Ser um bom líder;


o Gerir com responsabilidade e profissionalismo e;
o Ter visão de futuro.

Conclusão

Atingir altas produtividades em lavouras vai muito além do que conduzir todo o
passo a passo da ―receita de bolo‖.

É necessário saber administrar, conhecer as particularidades da sua fazenda, tudo o


que foi gasto, e quais são os lucros.

Quando administramos bem, tomamos decisões com maior clareza.

E aqui você viu o conceito de administração rural, como fazer isso e toda sua
importância!

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3- CONTROLE GERENCIAL

Segundo a definição de Horngren, Sundem e Stratton (2004, p. 300) o ―Sistema de


controle gerencial é uma integração lógica das técnicas para reunir e usar as
informações a fim de tomar decisões de planejamento e controle, motivar o
comportamento de empregados e avaliar o desempenho‖.

Para a American Accouting Association citada pelo professor Peixe (2002, p. 52) ―o
sistema de planejamento e controle gerencial consiste de políticas, procedimentos,
métodos e práticas usadas pelo administrador de uma organização para atingir os
objetivos organizacionais‖.

Portanto, podemos inferir da definição dos autores os objetivos fundamentais da


utilização de um sistema de controle gerencial, quais sejam:

 Coletar informações relevantes para a tomada de decisões;


 Assegurar que os objetivos organizacionais sejam atingidos através do
controle;
 Comunicar os resultados das ações a toda a organização, motivando os
colaboradores;
 Avaliar o desempenho da organização.

2.1 METAS ORGANIZACIONAIS

O primeiro e mais básico componente de um sistema de controle gerencial são as


metas da organização. Ao estabelecer as metas, a alta direção da organização está
estabelecendo a direção a ser seguida, estruturando como a organização se
posicionará no mercado. Estabelecidas as metas da organização, o próximo passo
será a definição dos processos críticos necessários para alcançá-las,
desenvolvimento das medidas de desempenho e o monitoramento, para que os
gestores possam mensurar os resultados.

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Nas entidades com fins econômicos as metas visam a maximização do lucro, pois é
através do lucro que os proprietários têm um retorno sobre o investimento total
aplicado na atividade que desenvolvem. Já nas entidades sem fins lucrativos, quais
seriam os objetivos das metas? Na definição de Anthony e Herzlinger, citados pelo
professor Peixe (2002, p. 70) ―(…), o sucesso de uma organização sem fins
lucrativos deveria ser mensurado pelo quanto ela contribui para o bem-estar
público‖. Embora seja de difícil mensuração, o desempenho da organização
governamental no sentido da contribuição à população, pode ser medido
parcialmente pela evolução dos indicadores sociais, tais como: escolaridade,
mortalidade infantil, diminuição do déficit habitacional, etc.

Estabelecidas as metas, os gestores devem definir as Medidas de Desempenho,


que nem sempre são expressas em termos financeiros, tais como orçamentos de
operações, alvos de lucro ou retorno exigido sobre o investimento. Um sistema de
controle gerencial bem projetado desenvolve e relata as medidas de desempenho
financeiras e não-financeiras. Aliás, tais medidas não-financeiras podem ser mais
oportunas e mais proximamente afetadas por empregados nos níveis mais baixos da
organização, onde o produto é fabricado ou o serviço é prestado.

As boas medidas de desempenho deverão: relatar as metas organizacionais;


equilibrar os interesses de curto e longo prazos; ser afetadas por ações dos gestores
e dos empregados; ser facilmente entendidas pelos empregados; ser utilizadas na
avaliação e recompensa de gestores e empregados e ser razoavelmente objetivas e
fáceis de mensurar.

2.2 IDENTIFICANDO CENTROS (ÁREAS) DE RESPONSABILIDADES

Para projetar um sistema de controle gerencial que satisfaça as necessidades da


organização, os gestores precisam identificar os centros (áreas) de
responsabilidade, desenvolver medidas de desempenho, estabelecer uma estrutura
de monitoramento e relatório, ponderar custos e benefícios e fornecer motivação
para alcançar a congruência de metas e o esforço gerencial.

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Um centro (área) de responsabilidade envolve um conjunto de atividades e recursos


designados ao gestor, a um grupo de gestores ou a outros colaboradores. Um
conjunto de máquinas e atividades de obras, por exemplo, pode ser um cento de
responsabilidade para um gestor de uma secretaria de obras públicas. E em sentido
mais amplo, a entidade pública pode ser um cento de responsabilidade para o
administrador público.

Um sistema de controle gerencial dá a cada gestor a responsabilidade por um grupo


de atividades e ações; assim, monitora e relata os resultados das atividades e a
influência do gestor naqueles resultados. Tal sistema exerce atração inata para a
maioria dos gestores de alto nível, porque os ajuda a delegar a tomada de decisão
que herdam. Assim, os projetistas de sistema aplicam a contabilidade por
responsabilidade para identificar quais partes da organização têm responsabilidade
primária para cada ação, bem como desenvolvem medidas de desempenho e alvos
e projetam relatórios dessas medidas por centro de responsabilidade. Os centros de
responsabilidades geralmente têm metas múltiplas e ações que o sistema de
controle de gestão monitora. Os centos de responsabilidade, via de regra, são
classificados de acordo com suas responsabilidades financeiras, como centos de
custos, centros de resultados (lucro) ou centros de investimentos.

Em entidades públicas, como já foi exemplificado acima, os órgãos, secretarias ou


ainda departamentos podem ser considerados centros de responsabilidades.

2.3 MOTIVANDO OS COLABORADORES DA ORGANIZAÇÃO

Para Horngren, Sundem e Stratton (2004, p. 307) ―Para alcançar o máximo benefício
a um mínimo custo, um sistema de controle gerencial deve promover a congruência
de metas e o esforço gerencial‖. A congruência de metas depende
fundamentalmente da participação dos colaboradores, são eles que, assimilando os
objetivos da organização e tornando-os seus também, tomam decisões que ajudam
a satisfazer as metas gerais da organização. O esforço gerencial é definido como o
grau da ação em direção ao atingimento das metas estabelecidas. Para os autores
supra citados (2004, p. 307) ―O esforço, aqui, significa não apenas trabalhar mais
rápido, mas também trabalhar melhor‖.
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A congruência de metas e o esforço para alcançá-las em relação aos colaboradores


deve estar ligada a um sistema de recompensa. A escolha de recompensas
pertence claramente a um sistema geral de controle gerencial, podendo ser
monetárias e não-monetárias. Os exemplos incluem aumento de salário, bônus,
promoção, elogios, autossatisfação, etc.

A motivação enfoca diversas variáveis que energizam o comportamento humano.


Dentro deste contexto, as várias teorias discutidas por diversos autores tratam o que
efetivamente motiva as pessoas.

Bowditch e Buono citados pelo professor Peixe (2002, p. 55) citam David McClellan
que identificara três necessidades básicas que as pessoas desenvolvem:
―necessidades por realização, poder e afiliação‖. Podemos inferir que alguns
indivíduos serão mais motivados pela necessidade de afiliação (necessidades
sociais), enquanto outros serão motivados pela necessidade de atingir diversas
metas ou conquistar certo grau de poder ou influencia sobre outras pessoas.
Podem-se desenvolver de programas de treinamentos para aumentar a motivação
por realização, em gerentes e subordinados, por exemplo.

Bowditch e Buono citados pelo professor Peixe (2002, p. 59) apresentam um modelo
básico do processo de motivação, a chamada teoria das expectativas, ou VIE:

―O modelo de motivação é uma função de três componentes: (1) uma expectativa de


esforço-desempenho, no sentido de que um esforço maior trará um bom
desempenho (expectativa); (2) uma percepção de desempenho-resultados, no
sentido de que um bom desempenho trará certos resultado ou recompensa
(instrumentalidade); e (3) o valor ou atração de uma certa recompensa ou resultado
para a pessoa (valência)‖.

Pode-se concluir que o indivíduo, para se motivar, precisa dar valor ao resultado ou
recompensa, precisa ainda acreditar no esforço adicional, que levará a um melhor
desempenho, melhores resultados ou recompensas maiores. Por exemplo, se o
funcionário estiver preparando um relatório e não tiver certeza quanto ao tipo de
relatório que a administração quer, ou perceber que tal relatório não tem a

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importância devida, pode classificar seu trabalho como perda de tempo. Visto que o
relatório poderá tomar mais uma hora de trabalho, podendo interferir com as
obrigações familiares as expectativas de uma discordância conjugal poderiam
sobrepujar a recompensa potencial, principalmente se a definição de um relatório
―útil‖ não estiver clara. Embora, o individuo tivesse que trabalhar duro produzindo um
relatório de alta qualidade, esse relatório ainda poderia não ser útil para a
administração (instrumentalidade baixa).

Considerando-se que o nível do funcionário está baixo, cada um do três


componentes do modelo poderia ser analisado, numa tentativa de se identificar o(s)
fator(es) causador(es).

Percebe-se que as pessoas serão motivadas a produzir quando percebem que seus
esforços a levarão a um desempenho bem-sucedido e à obtenção das recompensas
almejadas. Os esforços da gerência ou administrador de pessoas de um setor, no
sentido de motivar seus colaboradores, devem se concentrar em esclarecer o
―caminho‖ de um subordinado para uma meta ou objetivo desejado.

3. A CONTROLADORIA NAS ENTIDADES PÚBLICAS

O Sistema de controle interno das entidades públicas deve ficar a cargo de um


órgão independente e autônomo, com seus titulares se reportando diretamente ao
gestor público. Esse órgão é a Controladoria. É necessário esclarecer que a criação
de uma Controladoria no setor público não difere da empresa privada, ambas
mantém os princípios fundamentais do controle e geração de informações para
tomada de decisões.

Na implantação da Controladoria não pode deixar de ter, entre outras, as seguintes


atribuições:

 A prestação de contas ao Poder Legislativo, por meio do Tribunal de Contas;


 Servir, por meio de documentos e relatórios, de instrumento de auxilio no
processo decisório;

22
CONTABILIDADE RURAL

Produzir avanços no uso dos sistemas tradicionais de controle orçamentário,


financeiro e patrimonial, estabelecendo um elenco de indicadores financeiros,
econômicos e sociais que permitam a melhoria do processo decisório;

 Abandonar gradativamente a preocupação com o montante gasto para


enfatizar os resultados alcançados pelos gestores nos aspectos da
economicidade, eficiência e eficácia.

Tendo estas e muitas outras atribuições, a Controladoria estará efetivamente


melhorando os controles gerenciais para que o Gestor Público atenda plenamente
aos programas propostos na aprovação do orçamento.

Como responsáveis pelo Sistema de Controle Gerencial os Controllers devem ter


autonomia e independência, verificando o grau de adesão dos agentes públicos às
políticas determinadas, mediante análise do desempenho da gestão administrativa e
dos controles existentes.

4. ATENDIMENTO AOS PRINCÍPIOS DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

A Lei de Responsabilidade Fiscal está apoiada em quatro eixos: o planejamento, a


transparência, o controle e a responsabilização, que, em seu conjunto, são
orientadores para a implantação do modelo de informações gerenciais, pois o
planejamento e o controle são instrumentos fundamentais para a geração de
informações úteis não só para o atendimento da Lei, como também para auxiliar o
processo decisório e consequentemente melhorar os demais eixos: a transparência
e a responsabilização.

Transparência essa que, segundo Silva (2002, p. 217), será ―… concretizada com a
divulgação ampla, inclusive via Internet, (…), permitindo identificar as receitas e
despesas e a responsabilização no caso de descumprimento das regras e princípios
estabelecidos‖.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

23
CONTABILIDADE RURAL

A muito se fala em uma gestão mais profissional da coisa pública, mais responsável,
mais transparente, enfim. A mal versação dos recursos públicos tem levado a
sociedade, por meio de seus representantes, a buscar meios de controle sobre a
administração pública, e, a criação da Lei de Responsabilidade Fiscal veio para
responder esse anseio, punindo o Gestor que se ―descuidar‖ do equilíbrio financeiro
da entidade pública.

Em paralelo à imposição legal, os gestores públicos vêm percebendo a importância


das ferramentas administrativas das organizações privadas, que, com as devidas
adaptações, podem ser implantadas com êxito nas organizações públicas. E uma
delas é a substituição dos tradicionais sistemas de controle das entidades públicas,
que serviam apenas para cumprir obrigações legais, pelos sistemas de controle
gerencial, que torna-se uma ferramenta poderosa no controle dos gastos e geração
de informações úteis para tomada de decisões.

Podemos afirmar que a medida que os gestores públicos tomem conhecimento da


importância de um sistema de controle gerencial para garantir o cumprimento de
metas, otimização no uso dos recursos, transparência nos gastos, etc, sua
implantação será mais ampla, melhorando muito a eficiência da administração
pública.

24
CONTABILIDADE RURAL

4- IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE RURAL

A contabilidade rural está voltada ao atendimento de empresários


dos setores agrícola, zootécnico, agropecuário e agroindustrial. O mercado
dessa área possui características próprias, distinguindo-se
significativamente de outros ramos empresariais. E, em razão de tal unicidade,
tornou-se necessário desenvolver um atendimento contábil personalizado, que
atendesse às necessidades do segmento.

O agronegócio se caracteriza principalmente pela instabilidade e pelos riscos. Isso


porque a produção de bens depende de fatores climáticos, do mercado e da
variação de preços de produtos e insumos.

A contabilidade rural, por sua vez, atua auxiliando no gerenciamento e na adoção


de estratégias que permitam melhorar os resultados. Assim, é possível aumentar
a produtividade e o lucro desses modelos de negócio.

Conceitos vinculados à contabilidade rural

A contabilidade rural é o ramo que atua com foco no patrimônio rural. Ela se dedica
ao estudo dos ativos, tais como caixa, terra, equipamentos, fertilizantes e
sementes; dos passivos, como os empréstimos bancários; e do patrimônio líquido da
empresa rural.

Para entender melhor do que se trata a contabilidade rural e em quais casos ela é
aplicável, é necessário compreender alguns conceitos importantes vinculados ao
assunto. Confira:

 contabilidade rural: ramo contábil direcionado ao estudo e à aplicação de


técnicas da área nas empresas rurais;

25
CONTABILIDADE RURAL

 empresas rurais: empreendimentos públicos ou privados, de origem física ou


jurídica, que exploram economicamente a atividade rural, de acordo com os
padrões determinados pela legislação;
 atividade agrícola: prática que explora o solo para o plantio e a produção
vegetal;
 atividade zootécnica: criação de animais para fins industriais e comerciais;
 atividade agroindustrial: beneficiamento e transformação do produto
agrícola e modificação da matéria de origem de atividade zootécnica.
Dessa forma, integram as atividades rurais:

 a agricultura;
 a pecuária;
 a extração e a exploração vegetal e animal;
 atividades zootécnicas;
 a venda de rebanhos;
 o cultivo de florestas;
 a transformação de produtos oriundos de atividade rural.
Compreender os pontos acima é importante para que o profissional da
área perceba em quais setores do segmento é possível aplicar os conhecimentos
trazidos pela contabilidade rural.

Princípios fundamentais e legislação aplicável

Após apreender os termos básicos vinculados à contabilidade rural, é necessário


assimilar os princípios técnicos aplicáveis a este mercado. De forma geral, são
utilizados os princípios fundamentais da contabilidade e das normas brasileiras, as
interpretações e os comunicados técnicos editados pelo Conselho Federal de
Contabilidade.

No que tange à legislação, o Código Civil Brasileiro regula parte das normas
vinculadas à atividade rural. Além dele, há o Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/1964), a
Lei da Política Agrícola (Lei n. 8.171/1991) e outros preceitos que tratam de

26
CONTABILIDADE RURAL

questões relacionadas à constituição, à tributação e à prestação de contas para


empresas dessa modalidade.

A legislação aplicável às organizações depende das características de constituição


de cada uma delas. Por isso, a regra geral envolve as leis acima citadas, mas cada
caso deve ser avaliado individualmente, de forma a aplicar a legislação de acordo
com o tipo de negócio.

Registros contábeis

Quando se fala em contabilidade rural, uma das questões técnicas que precisa ser
abordada é a dos registros contábeis. Mas, afinal, que tipo de informação deve ser
considerado no registro contábil de uma empresa rural?

Os registros têm a obrigação de respeitar os princípios fundamentais da


contabilidade, ou seja, devem abordar as contas de receita, os custos e as
despesas. Além disso, o recomendado é que algumas informações específicas
sejam observadas. Descubra quais são elas:

Atividades de criação de animais

Em tais práticas, o ideal é que os componentes patrimoniais sejam analisados da


seguinte forma:

 estoque de animais: devem ser avaliados de acordo com a idade e com a


qualidade;
 nascimentos de animais: são calculados a partir da divisão dos
custos acumulados pela quantidade de animais nascidos;
 custos de animais: encontram-se atrelados ao valor original, uma vez que
são recorrentes e variam de acordo com a fase de desenvolvimento do
animal.
No que diz respeito aos animais originários de cria, recria ou engorda, eles devem
ser avaliados de acordo com seus respectivos valores originais, levando-se em

27
CONTABILIDADE RURAL

consideração todos os custos gerados durante a operação — direta e


indiretamente. As contas de estoque, no ativo circulante, precisam incluir todos os
animais utilizados para reprodução ou produção de derivados quando tais produtos
deixam de ser utilizados para este fim.

As perdas de animais oriundas de morte são lançadas no registro


contábil como despesa operacional decorrente do risco da atividade. A receita
operacional deve incluir todos os ganhos oriundos da avaliação dos estoques do
produto pelo valor de mercado, a cada exercício social.

Outras práticas rurais

Em outras atividades rurais, que não envolvem animais diretamente, os registros


contábeis devem considerar informações como:

 avaliação dos bens: os rendimentos oriundos de culturas permanentes ou


temporárias são avaliados pelo seu valor original, incluindo todos os custos
relacionados ao ciclo operacional (direta ou indiretamente);
 custos indiretos: em casos de culturas temporárias e permanentes, eles
devem ser vinculados a cada produto, de forma individual;
 estoque de produtos agrícolas: os custos específicos de uma colheita são
contabilizados, bem como seu respectivo beneficiamento, seu
acondicionamento e sua armazenagem;
 despesas pré-operacionais: devem ser amortizadas já na primeira colheita;
 imobilizados: podem ser incluídos os custos que aumentam a vida útil de
uma cultura permanente;
 despesa operacional: perdas decorrentes de atraso ou perca da safra
agrícola;
 receita operacional: ganhos relacionados à avaliação dos estoques dos
produtos pelo valor de mercado;
 ativos da empresa rural: devem incluir custos necessários para a produção,
de acordo com a expectativa de concretização;

28
CONTABILIDADE RURAL

 ativo circulante: contém informações sobre as despesas com estoque de


produtos agrícolas e todos os custos necessários para concretizar a safra no
próximo exercício;
 ativo permanente imobilizado: trata-se de custos que trarão benefícios em
longo prazo, ou seja, em mais de um exercício.
As regras para o registro de informações de ativos e passivos são individualizadas.
Elas precisam respeitar o tipo de atividade, a existência de animais,
o processamento de produtos e outras características próprias da empresa rural.

Os registros contábeis são produzidos sempre de acordo com essas questões


particulares. Por isso, os dados trazidos a esse título são meramente
exemplificativos e ilustrativos. Vale destacar que eles devem considerar as
individualidades do negócio.

A escrituração contábil das atividades rurais é obrigatória — e o indicado é que seja


realizada por um profissional da área da contabilidade com conhecimento no
mercado agrário. Isso porque, como vimos, as características desse tipo de negócio
ensejam a necessidade de estar familiarizado especificamente com os ciclos
operacionais e o tratamento de ganhos e perdas.

Plano de contas rural

O plano de contas rural, também conhecido como Elenco de Contas, é um grupo


estabelecido previamente e que orienta o trabalho de registro e organização contábil
do negócio. Além disso, ele serve como parâmetro para a elaboração das
demonstrações contábeis.

O preparo desse planejamento é personalizado de acordo com as características do


empreendimento. O empresário rural tem condições de conhecer as informações
necessárias para a administração do negócio, compreendendo quais normas legais
são aplicáveis àquele modelo e como adaptar-se à legislação, principalmente no que
tange questões contábeis, fiscais e tributárias.

29
CONTABILIDADE RURAL

De forma geral, um plano de contas rural deve conter dados sobre ativos, passivos,
receitas, custos e despesas. Dentro de cada um deles, precisam ser esmiuçadas
todas as informações relativas ao respectivo item. Nos ativos, por exemplo, o
recomendado é incluir notas sobre:

 rebanhos;
 culturas temporárias e permanentes;
 estoques de sementes;
 imóveis da fazenda;
 imóveis de residência de funcionários, entre outras.

Benefícios

A contabilidade rural é altamente indicada para empresas desse segmento, pois o


foco vai para as necessidades e características próprias da rotina e da realidade do
modelo de negócio. Além de permitir conhecer a realidade econômica do
empreendimento, com a organização de informações relacionadas aos ativos e
passivos, ela auxilia o agricultor a visualizar quais são os pontos positivos e
negativos do negócio.

Dessa forma, é possível planejar e adotar estratégias que visem à melhora dos
resultados da empresa. Isso permite que o empresário adote um planejamento
econômico e estratégico baseado nas informações geradas pelo próprio negócio e
organizadas por um profissional qualificado para esse tipo de trabalho.

Entender as ramificações de conhecimento e as áreas de especialização da


contabilidade é imprescindível para qualquer profissional do setor. O
aprofundamento técnico está atrelado às necessidades profissionais de cada
contador, mas o conhecimento básico e o entendimento sobre o que trata cada área
são importantes para agregar valor ao trabalho desenvolvido.

Para quem pensa em investir em uma capacitação na área contábil, a


contabilidade rural é um segmento em crescimento, principalmente em razão da
30
CONTABILIDADE RURAL

ampliação e da força do agronegócio no Brasil. Atualmente, o setor contábil se


encontra em constante expansão, buscando justamente se adaptar a essas novas
perspectivas e realidades do mercado. Por isso, vale a pena aprofundar o
conhecimento sobre o assunto.

31
CONTABILIDADE RURAL

5- GASTOS PRÉ-OPERACIONAIS: TRATAMENTO CONTÁBIL NA


EXPLORAÇÃO AGROPECUÁRIA

Consideram-se como atividade rural a exploração das atividades agrícolas,


pecuárias, a extração e a exploração vegetal e animal, a exploração da apicultura,
avicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura (pesca artesanal de captura do
pescado in natura) e outras de pequenos animais; a transformação de produtos
agrícolas ou pecuários, sem que sejam alteradas a composição e as características
do produto in natura, realizada pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos
e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando-se
exclusivamente matéria-prima produzida na área explorada, tais como: descasque
de arroz, conserva de frutas, moagem de trigo e milho, pasteurização e o
acondicionamento do leite, assim como o mel e o suco de laranja, acondicionados
em embalagem de apresentação, produção de carvão vegetal, produção de
embriões de rebanho em geral (independentemente de sua destinação: comercial ou
reprodução).

Também é considerada atividade rural o cultivo de florestas que se destinem ao


corte para comercialização, consumo ou industrialização (Lei nº 9.430/96, art. 59).

Entidades rurais são aquelas que exploram a capacidade produtiva do solo ou da


água, mediante extração vegetal, o cultivo da terra ou da água (hidroponia) e a
criação de animais.

1. ATIVIDADES AGRÍCOLAS

As culturas agrícolas dividem-se em:

a) temporárias: a que se extinguem pela colheita, sendo seguidas de um novo


plantio; e

32
CONTABILIDADE RURAL

b) permanentes: aquela de duração superior a um ano ou que proporcionam mais de


uma colheita, sem a necessidade de novo plantio, recebendo somente tratos
culturais no intervalo entre as colheitas.

Cultura Temporária

São aquelas sujeitas ao replantio após a colheita, possuindo período de vida muito
curto entre o plantio e a colheita, como por exemplo os cultivos de feijão, legumes,
arroz, trigo, etc. Durante o ciclo produtivo, os custos pagos ou incorridos, nesta
cultura, serão acumulados em conta específica que pode ser intitulada como
―Cultura Temporária em Formação‖ – Estoques – Ativo Circulante.

Após a colheita, esta conta deverá ser baixada pelo seu valor de custo e transferida
para uma nova conta, que poderá ser denominada ―Produtos Agrícolas‖ – Estoques
– Ativo Circulante, especificando-se o tipo de produto.

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Cultura Permanente

São aquelas não sujeitas ao replantio após a colheita, uma vez que propiciam mais
de uma colheita ou produção, bem como apresentam prazo de vida útil superior a
um ano, como por exemplo: laranjeira, macieiras, plantações de café, etc.

Durante a formação dessa cultura, os gastos são acumulados na conta ―Cultura


Permanente em Formação‖ – Imobilizado.

Quando atingir a sua maturidade e estiver em condições de produzir, o saldo da


conta da cultura em formação será transferido para a conta ―Cultura Permanente
Formada‖ – Imobilizado, especificando-se o tipo de cultura.

Esta conta está sujeita á contabilização de exaustão, a partir do mês em que


começar a produzir.

33
CONTABILIDADE RURAL

Produção da Cultura Permanente

Durante o período de formação do produto a ser colhido (maçã, uva, laranja, etc.) os
custos pagos ou incorridos serão acumulados em conta específica, que poderá ser
denominada de ―Colheita em Andamento‖ – Estoques – Ativo Circulante, devendo-se
especificar o tipo de produto que vai ser colhido.

Após a colheita, esta conta deverá ser baixada pelo seu valor de custo e transferida
para uma nova conta denominada ―Produtos Agrícolas‖ – Estoques, especificando-
se o tipo de produto colhido.

Registros Contábeis

Os registros contábeis devem evidenciar as contas de receitas, custos e despesas,


com obediência aos Princípios Fundamentais de Contabilidade, observando-se o
seguinte:

1 – os bens originários de culturas temporárias e permanentes devem ser avaliados


pelo seu valor original, por todos os custos integrantes do ciclo operacional, na
medida de sua formação, incluindo os custos imputáveis, direta ou indiretamente, ao
produto, tais como sementes, irrigações, adubos, fungicidas, herbicidas, inseticidas,
mão-de-obra e encargos sociais, combustíveis, energia elétrica, secagens,
depreciações de prédios, máquinas e equipamentos utilizados na produção,
arrendamentos de máquinas, equipamentos e terras, seguros, serviços de terceiros,
fretes e outros;

2 – os custos indiretos das culturas, temporárias ou permanentes devem ser


apropriados aos respectivos produtos;

3 – os custos específicos de colheita, bem como de beneficiamento,


acondicionamento, armazenagem e outros necessários para que o produto resulte
em condições de comercialização, devem ser contabilizados em conta de Estoque
de Produtos Agrícolas;

34
CONTABILIDADE RURAL

4 – as despesas pré-operacionais devem ser amortizadas a partir da primeira


colheita. O mesmo tratamento contábil também deve ser dado às despesas pré-
operacionais, relativas as novas culturas, em entidade agrícola já em atividade;

5 – os custos com desmatamento, destocamento, corretivos de solo e outras


melhorias para propiciar o desenvolvimento das culturas agrícolas que beneficiarão
mais de uma safra devem ser contabilizados pelo seu valor original, no Ativo
Diferido, como encargo das culturas agrícolas desenvolvidas na área, deduzidas as
receitas líquidas obtidas com a venda dos produtos oriundos do desmatamento ou
destocamento;

6 – a exaustão dos componentes do Ativo Imobilizado relativos às culturas


permanentes, formado por todos os custos ocorridos até o período imediatamente
anterior ao início da primeira colheita, tais como preparação da terra, mudas ou
sementes, mão-de-obra, etc., deve ser calculada com base na expectativa de
colheitas, de sua produtividade ou de sua vida útil, a partir da primeira colheita;

7 – os custos incorridos que aumentem a vida útil da cultura permanente devem ser
adicionados aos valores imobilizados;

8 – as perdas correspondentes à frustração ou ao retardamento da safra agrícola


devem ser contabilizadas como despesa operacional;

9 – os ganhos decorrentes da avaliação de estoques do produto pelo valor de


mercado devem ser contabilizados como receita operacional, em cada exercício
social;

10 – os custos necessários para a produção agrícola devem ser classificados no


Ativo da entidade, segundo a expectativa de realização:

a) no Ativo Circulante, os custos com os estoques de produtos agrícolas e os custos


com tratos culturais ou de safra necessários para a colheita no exercício seguinte; e
b) no Ativo Permanente Imobilizado, os custos que beneficiarão mais de um
exercício.

35
CONTABILIDADE RURAL

2. ATIVIDADES PECUÁRIAS

As atividades das Entidades Pecuárias alcançam desde a inseminação, ou


nascimento, ou compra, até a comercialização, dividindo-se em:

a) cria e recria de animais para comercialização de matrizes;


b) cria, recria ou compra de animais para engorda e comercialização; e
c) cria, recria ou compra de animais para comercialização de seus produtos
derivados, tais como: leites, ovos, mel, sêmen, etc.

Na contabilidade da empresa com exploração de atividade pecuária, o rebanho


existente deverá ser classificado de acordo com o tipo de criação e finalidade:

1 – No Imobilizado – Ativo Permanente:

a) Gado Reprodutor: representado por bovinos, suínos, ovinos, eqüinos e outros


destinados à reprodução, ainda que por inseminação artificial;
b) Rebanho de Renda: representado por bovinos, suínos, ovinos, eqüinos e outros
que a empresa explora para produção de bens que constituem objeto de suas
atividades;
c) Animais de Trabalho: representados por eqüinos, bovinos, muares, asininos
destinados a trabalhos agrícolas, sela e transporte.

Em decorrência dessa classificação no Ativo Permanente, esses bens ficam sujeitos


à depreciação a partir do momento em que estiver em condições de produzir ou
posto em funcionamento ou uso.

2 – Estoque – Ativo Circulante:

Classificam-se no Ativo Circulante as disponibilidades, os direitos realizáveis no


curso do exercício social subseqüente e as aplicações de recursos em despesas do
exercício seguinte.

36
CONTABILIDADE RURAL

Portanto, os rebanhos que se destinam à venda ou a consumo serão registrados


nessa conta e ficarão sujeitos à avaliação de estoque, pelo preço de mercado, custo
médio ou inventário físico (PN CST nº 6/79).

3 – Crias novas:

É recomendável que a cria recém-nascida seja classificada primeiramente no


Estoque – Ativo Circulante até que atinja uma idade em que possa ser analisada a
sua habilidade para o trabalho, procriação ou engorda, quando então será definida a
sua permanência no Ativo Circulante ou a sua reclassificação para o Imobilizado –
Ativo Permanente.

O valor do custo das crias nascidas poderá ser apurado pelo preço real de custo ou
pelo preço corrente de mercado, gerando nesse último caso uma receita de
―superveniência ativa‖.

O desaparecimento ou morte de animais terá seus valores registrados em conta de


resultado como ―insubsistências ativas‖.

Registros Contábeis

Os registros contábeis devem evidenciar as contas de receitas, custos e despesas,


com obediência aos Princípios Fundamentais de Contabilidade, observando-se o
seguinte:

1 – os animais originários da cria ou da compra para recria ou engorda são


avaliados pelo seu valor original, na medida de sua formação, incluindo todos os
custos gerados no ciclo operacional, imputáveis, direta ou indiretamente, tais como:
rações, medicamentos, inseticidas, mão-de-obra e encargos sociais, combustíveis,
energia elétrica, depreciações de prédios, máquinas e equipamentos utilizados na
produção, arrendamentos de máquinas, equipamentos ou terras, seguros, serviços
de terceiros, fretes e outros;

37
CONTABILIDADE RURAL

2 – as despesas pré-operacionais devem ser amortizadas à medida que o ciclo


operacional avança em relação à criação dos animais ou à produção de seus
derivados;

3 – nas atividades de criação de animais, os componentes patrimoniais devem ser


avaliados como segue:
a) o nascimento de animais, conforme o custo acumulado do período, dividido pelo
número de animais nascidos;
b) os custos com os animais devem ser agregados ao valor original à medida que
são incorridos, de acordo com as diversas fases de crescimento; e
c) os estoques de animais devem ser avaliados segundo a idade e a qualidade dos
mesmos;

4 – os animais destinados à reprodução ou à produção de derivados, quando


deixarem de ser utilizados para tais finalidades, devem ter seus valores transferidos
para as Contas de Estoque, no Ativo Circulante, pelo seu valor contábil unitário;

5 – as perdas por morte natural devem ser contabilizadas como despesa


operacional, por decorrentes de risco inerente à atividade;

6 – os ganhos decorrentes da avaliação de estoques do produto pelo valor de


mercado devem ser contabilizados como receita operacional, em cada exercício
social.

DEPRECIAÇÃO
Contabilização

O registro contábil da quota de depreciação de semoventes será a débito de conta


de custo ou despesa, e a crédito da conta de depreciação acumulada.

3. RECEITAS DA ATIVIDADE RURAL

As receitas operacionais da atividade rural são aquelas provenientes do giro normal


da empresa, em decorrência da exploração das respectivas atividades rurais.

38
CONTABILIDADE RURAL

A empresa rural tem como atividades principais a produção e venda dos produtos
agropecuários por ela produzidos, e como atividades acessórias as receitas e
despesas decorrentes de aplicações financeiras; as variações monetárias ativas e
passivas não vinculadas a atividade rural; o aluguel ou arrendamento; os dividendos
de investimentos avaliados pelo custo de aquisição; a compra e venda de
mercadorias, a prestação de serviços, etc.
Desse modo, não são alcançadas pelo conceito de atividade rural as receitas
provenientes de: atividades mercantis (compra e venda, ainda que de produtos
agropastoris); a transformação de produtos e subprodutos que impliquem a
transformação e a alteração da composição e características do produto in natura,
com utilização de maquinários ou instrumentos sofisticados diferentes dos que
usualmente são empregados nas atividades rurais (não artesanais e que configurem
industrialização), como também, por meio da utilização de matéria-prima que não
seja produzida na área rural explorada; receitas provenientes de aluguel ou
arrendamento, receitas de aplicações financeiras e todas aquelas que não possam
ser enquadradas no conceito de atividade rural consoante o disposto na legislação
fiscal (RIR/94, art. 352, e PN CST nº 07/82).

4. DESPESAS DE CUSTEIO

Consideram-se despesas de custeio, dedutíveis na apuração do resultado da


atividade rural, aquelas necessárias à percepção dos rendimentos e à manutenção
da fonte produtora e estejam relacionadas com a natureza da atividade exercida,
apropriando-as em função do regime de competência.

Exemplos: gastos com salários e encargos de trabalhadores rurais, custos de


depreciação de máquinas e equipamentos, exaustão das culturas, etc.

As perdas, parciais ou totais, decorrentes de ventos, geada, inundação, praga,


granizo, seca, tempestade e outros eventos naturais, bem como de incêndio, devem
ser registradas como despesa não-operacional do exercício.

5. AVALIAÇÃO DE ESTOQUE

39
CONTABILIDADE RURAL

O estoque final de produtos agrícolas, animais e extrativos, existente no


encerramento do período, deverá ser avaliado com base num dos seguintes critérios
de avaliação:

a) custo médio;
b) custo de aquisições mais recentes (Peps);
c) inventário físico (contagem física) avaliado aos preços unitários praticados mais
recentemente nas compras; e
d) preços correntes no mercado.

Observe-se que a avaliação do estoque a preços de mercado, embora de apuração


mais prática, implica no reconhecimento da valorização como receita tributável no
período.

Fundamento Legal:
Resolução CFC 909, de 08.08.2001, que aprovou a NBC T-10, Atividades
Agropecuárias.

40
CONTABILIDADE RURAL

6- DEPRECIAÇÃO, EXAUSTÃO E AMORTIZAÇÃO NA AGROPECUÁRIA

A Contabilidade Agropecuária é uma ferramenta que apresenta informações claras


e objetivas, capazes de auxiliar o produtor rural nas tomadas de decisões, além de
contribuir para melhorar os aspectos organizacionais, econômicos e financeiros das
propriedades rurais, capacitando-as para acompanhar a crescente evolução do
setor.

Assim, atualmente, mais empresários do agronegócio passam a enxergar a


contabilidade como decisiva para melhor administrar as atividades e os resultados.
Essa mudança no cenário é muito boa, pois nem todos têm a compreensão de como
a contabilidade pode contribuir para o desenvolvimento das atividades rurais,
seja uma grande propriedade ou um minifúndio.

A Contabilidade Agropecuária possui características próprias, pouco ou nada


conhecidas pela maioria dos profissionais da contabilidade. Para entender o seu
funcionamento e suas peculiaridades, acompanhe o artigo.

O empresário e a atividade rural


O Novo Código Civil (NCC), instituído pela Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002,
em seu artigo 966 define o conceito de empresário nos seguintes termos: “quem
exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços”.

Dessa forma, o empresário rural é a pessoa física ou jurídica que realiza a


atividade de exploração da capacidade produtiva da terra ou da água. Seus
objetivos podem estar ligados à produção vegetal, à criação de animais e
à industrialização de produtos obtidos de ambos, ou seja, produtos
agroindustriais.

Podemos perceber, então, que as atividades rurais são divididas em três grupos
distintos:

1. produção vegetal — atividade agrícola;


2. criação animal — atividade zootécnica;
41
CONTABILIDADE RURAL

3. indústrias rurais — atividade agroindustrial.


De acordo com o artigo 249 da Instrução Normativa (IN RFB) n.º 1700 de 14 de
março de 2017, são consideradas atividades rurais:

I. agricultura;
II. pecuária;
III. extração e exploração vegetal e animal;
IV. exploração de atividades zootécnicas, tais como apicultura, avicultura,
cunicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura e outras culturas animais;
V. cultivo de florestas que se destinem ao corte para comercialização, consumo ou
industrialização;
VI. venda de rebanho de renda, reprodutores ou matrizes;
VII. transformação de produtos decorrentes da atividade rural, sem que sejam
alteradas a composição e as características do produto in natura, feita pelo próprio
agricultor ou criador. A atividade deve ser feita com equipamentos e utensílios
usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matéria-
prima produzida na área rural explorada.

A IN 1700 também determina as atividades que não são consideradas rurais embora
sejam desenvolvidas no meio rural, como é o caso do arroz beneficiado em
máquinas industriais e da fabricação de bebidas alcoólicas em geral.

A Contabilidade Agropecuária
Toda e qualquer atividade rural, por menor que seja, precisa de um controle eficiente
para um bom gerenciamento do agronegócio. Isso é possível por meio das
informações contábeis, assim como acontece com os outros setores da economia.

O grande problema que acontece na maioria das propriedades rurais é que essas
informações, mesmo que sejam importantes ferramentas de gestão, não são
analisadas e utilizadas por seus proprietários ou administradores.

Ao contrário, grande parte dos empresários rurais está acostumada a práticas


nada saudáveis para seu negócio, tais como:

 não registrar informações extremamente importantes, guardando-as apenas em sua


memória e deixando de usá-las no momento da comercialização dos produtos;

42
CONTABILIDADE RURAL

 não ter organização financeira, misturando as despesas particulares com as da


atividade profissional;
 não apurar o lucro adequadamente, uma vez que não conseguem avaliar de
maneira correta os custos e as receitas.
Dessa forma, empresário e administradores não conseguem mensurar os resultados
obtidos com seus cultivos, analisar os custos envolvidos em cada plantio, perceber
onde poderiam reduzir os custos de produção etc.

Essa situação piora quando há mais de uma atividade rural na propriedade: eles não
são capazes de distinguir o dinheiro recebido com a venda do arroz do capital obtido
com a venda do leite, por exemplo. Logo, o controle de caixa fica desordenado,
impossibilitando a contabilização exata dos resultados.

A Contabilidade e o Agronegócio

A contabilidade, por sua vez, pode comprovar toda a evolução do agronegócio. Por
isso, é fundamental que, também na atividade rural, a contabilização dos fatos e sua
estruturação sejam realizadas com o devido conhecimento técnico e operacional,
sempre respeitando as especificidades da atividade.

Com o objetivo de mudar esse cenário, o profissional contábil precisa realizar um


trabalho preciso e dinâmico, de maneira clara e objetiva, para haver aceitação e,
sobretudo, entendimento da importância da contabilidade por parte do produtor
rural, permitindo que ele perceba as melhorias disponibilizadas por esse recurso.

Contudo, o aumento da tributação da renda rural e a extinção de subsídios


e incentivos fiscais, entre outros fatores, têm aumentado a procura por
profissionais da contabilidade rural.

Especialmente nesse cenário, a Contabilidade Agropecuária, quando devidamente


aplicada, tem o poder de identificar, registrar, mensurar e possibilitar a análise dos
fatos ocorridos no agronegócio, proporcionando informações para as tomadas de
decisões que aumentarão a lucratividade.

A prática da contabilidade no agronegócio


Como já visto, a Contabilidade Agropecuária dispõe de algumas particularidades que
devem ser observadas na sua prática, por isso, precisa ser aprofundada e
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CONTABILIDADE RURAL

compreendida pelos profissionais contábeis. Afinal, essa é uma área muito


importante para o país e sua economia.

Exercício Social

Diferentemente da contabilidade geral, na qual o exercício social equivale a um ano


de 1º de janeiro até 31 de dezembro, na contabilidade rural o exercício social
corresponde ao ano agrícola, que é o período abrangido pelos processos
de plantação, colheita e comercialização da safra.

Isso porque sua produção é sazonal. Se uma propriedade tiver mais de uma
atividade rural, o exercício social corresponderá ao ano agrícola da atividade com
maior representatividade econômica.

Culturas temporárias e permanentes

Na Contabilidade Agropecuária, a contabilização de cada cultura varia de acordo


com o tipo: temporária ou permanente.

Culturas temporárias
Temporárias são culturas sujeitas ao replantio após a colheita, ou seja, são
arrancadas da terra para que seja feito um novo plantio, como é o caso do milho, do
feijão, do arroz etc.

Na cultura temporária, todos os custos com a formação do plantio — como


sementes, mudas, fertilizantes, inseticida, mão de obra, demarcações, depreciação
de tratores, entre outros — são contabilizados no Ativo Circulante na conta “Cultura
Temporária” e em uma subconta com nome “Cultura em Formação”, classificada
como ―Estoque‖. Quando a colheita terminar, essa conta será baixada para a conta
―Produtos Agrícolas‖.

Culturas permanentes
Permanentes são aquelas que estão vinculadas ao solo, duram mais de um ano e
dão mais de uma colheita, como a citricultura (laranja, limão etc), as árvores
frutíferas (cajueiro, jaqueira, mangueira, goiabeira etc), cana-de-açúcar, cafeicultura
e outros.

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CONTABILIDADE RURAL

Na cultura permanente, todos os custos necessários para a formação do plantio,


como sementes, adubação, formicidas, herbicidas, produtos químicos, seguro de
safra, entre outros, serão lançados no Ativo Não Circulante — Imobilizado, sub-
conta “Cultura Permanente em Formação”.

Depois da formação da cultura — etapa que pode levar até alguns anos — transfere-
se o valor da conta “Cultura Permanente em Formação” para a conta “Cultura
Permanente Formada”. A partir daí, a conta não pode mais receber custos e, após a
colheita ou a partir da primeira produção, os custos adicionais são lançados no Ativo
Circulante — Estoque, na conta ―Colheita em Andamento”.

Essa cultura deverá ser corrigida monetariamente por ser parte do Imobilizado
desde o início da formação. A partir da primeira produção, deve ser reconhecida a
sua depreciação.

Assim que a colheita for concluída, o total acumulado é transferido da conta


―Colheita em Andamento” para a conta “Produtos Agrícolas”. Caso ainda haja mais
custos como acondicionamento, beneficiamento ou qualquer processo semelhante
aplicado aos produtos, eles também são lançados nessa conta.

Quando ocorrerem as vendas, transfere-se os valores desses custos da


conta “Produtos Agrícolas” para a conta ―Custo de Produtos Vendidos‖.

Depreciação, amortização e exaustão

Na atividade rural, a depreciação é a apropriação ao resultado, da perda de efeito


ou capacidade de produção dos bens tangíveis, elementos do Ativo Permanente que
servem a vários ciclos de produção e não são destinados à venda.

Ou seja, no agronegócio, a depreciação incide sobre as culturas permanentes —


uma vez que os frutos são colhidos, mas as árvores mantidas —, gados
reprodutores, animais de trabalho, máquinas e equipamentos, tratores etc.

A atual legislação tributária não determina taxas de depreciação para bens rurais,
deixando a estipulação do prazo a critério do empresário, mas é preciso
fundamentar como ocorreu essa estipulação.

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CONTABILIDADE RURAL

A amortização na atividade rural é aplicada na aquisição de direitos sobre trabalhos


em propriedades de terceiros com tempo limitado, como são os casos em que um
produtor adquire — por três ou mais anos — o direito de extrair madeira em
propriedade de terceiros.

Já a exaustão ocorre quando a árvore é cortada ou extraída da terra, como


acontece no caso da cana-de-açúcar ou de pastagens e espécies vegetais enviadas
à industrialização ou corte, por exemplo.

O papel da contabilidade para o desenvolvimento do


agronegócio
Com o avanço da tecnologia e a concorrência acirrada, surge a necessidade de uma
contabilidade diferenciada para o agronegócio, capaz de desenvolver informações
concretas, com as quais proprietários e administradores consigam discernir o
verdadeiro desempenho de seu negócio.

A atualização dos mecanismos de gestão nas propriedades rurais é, hoje, uma


necessidade fundamental para alavancar a produção, aumentar a produtividade e,
consequentemente, alcançar os resultados esperados.

Assim, a Contabilidade Agropecuária, quando feita por profissionais qualificados e


dedicados a essa área, podem contribuir para que as empresas rurais obtenham
rendimentos adicionais, diluam custos, economizem insumos, aumentem os lucros,
gerem maior renda e mais empregos.

Perspectivas nacionais

O agronegócio tem grandes perspectivas de crescimento no Brasil. Por isso,


sua profissionalização é extremamente importante para o aumento da
competitividade dos produtos nacionais, sobretudo para o desenvolvimento da
economia do país.

Logo, os profissionais da Contabilidade Agropecuária que desejam aperfeiçoar seus


conhecimentos devem buscar cursos de especialização, além de terem atenção a
todas as mudanças na legislação para, assim, poderem orientar e direcionar os
proprietários rurais.
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CONTABILIDADE RURAL

7- CÁLCULO DO CUSTO DE PRODUÇÃO NA EMPRESA RURAL

Como calcular o custo de produção agrícola e mantê-los sob controle

Saber como calcular o custo da produção agrícola é muito mais que uma simples
conta de soma ou subtração. Para entender realmente o quanto é necessário
investir a fim de gerar resultados no campo, é preciso levar em conta diversas
variáveis, além do simples gasto com sementes, defensivos, adubo e mão de obra.

Seja para planejar o crescimento da produção, seja para avaliar a possibilidade de


obtenção do crédito rural, entender qual é o custo de produção agrícola é muito
importante para a gestão no campo. Apenas com números claros é possível ter um
controle real sobre as finanças e desenvolver a operação.

Neste artigo, vamos explicar um pouco mais sobre a importância de calcular o custo
de produção agrícola e como chegar a esses números. Continue lendo para saber
mais!

Por que é importante saber como calcular o custo da produção agrícola?

Uma visão completa e correta das finanças é importante na gestão de qualquer tipo
de negócio. Apenas com dados claros e verdadeiros é possível tomar decisões
acertadas para os rumos de uma empresa — sem informações confiáveis, as
escolhas da gestão acabam se tornando imprecisas.

No campo, isso não é diferente. Para entender se a atividade rural está sendo
sustentável do ponto de vista financeiro, é necessário saber não só quanto entra de
dinheiro no negócio, mas também o quanto é investido para que isso seja possível.
Portanto, saber como calcular o custo da produção agrícola é essencial para
entender a viabilidade do negócio.

Identificação de desperdícios na lavoura

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CONTABILIDADE RURAL

Saber o custo da produção agrícola também ajuda a identificar focos de desperdício


na lavoura. Com uma análise detalhada do que é gasto, o gestor consegue entender
quais são as despesas mais pesadas e importantes para a operação.

Com isso, é capaz de encontrar desperdícios, como a compra excessiva de


defensivos agrícolas ou o alto custo de manutenção de um equipamento importado,
que podem ser sanados para aumentar a eficácia financeira do negócio.

Comparação do custo orçado com o custo real

Outra vantagem de um cálculo preciso dos custos de produção é a possibilidade de


comparar o que foi orçado e qual foi o verdadeiro investimento na lavoura. Nem
sempre o planejamento bate com o real e, quando existem diferenças bem
significativas entre os dois, a surpresa pode ser ruim para a saúde financeira da
empresa.

Mas, ao comparar números exatos do custo real com o que foi orçado, é possível
encontrar os erros e imprecisões que causaram essa dissonância e, com isso, lidar
melhor com eles da próxima vez.

Como calcular o custo da produção agrícola?

Todo produtor tem uma ideia de quanto gasta e quanto ganha com o seu trabalho,
mas não é incomum encontrar gestores de propriedades de todos os portes que não
sabem exatamente o custo por safra e por talhão da sua lavoura.

Isso porque o cálculo exige muito mais do que o simples gasto durante o período,
mas sim a soma de despesas fixas e variáveis em diversos quesitos. Dependendo
do tipo de lavoura e do porte da empresa, esses elementos podem ser diferentes,
mas elencamos alguns dos principais números que não devem faltar nessa conta.
Confira!

Some os insumos para a produção

Calcular os gastos com insumos para a produção talvez seja a parte mais simples
da equação, mas certamente não é tão fácil quanto parece. Além de somar tudo que

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CONTABILIDADE RURAL

foi investido em sementes, fertilizantes, defensivos e outros, é preciso entender o


que foi, de fato, empregado na lavoura.

Portanto, mesmo que um produtor tenha orçado um gasto de R$40.000 em


fertilizantes, o custo verdadeiro de produção leva em conta apenas aquilo que foi
realmente utilizado no campo. Se houve sobras de 50% do produto, o certo é
considerar que o custo de produção foi de apenas R$20.000, ainda que o planejado
tenha sido maior.

Calcule a folha de pagamento

Um dos principais gastos no campo é com a mão de obra contratada para realizar o
trabalho nas lavouras. E, dependendo da época, os gastos podem variar
significativamente: na colheita, por exemplo, é comum contratar reforços temporários
para potencializar os resultados.

Assim como o cálculo feito sobre os insumos de produção, é importante levar em


conta o que foi projetado na folha de pagamento e o que foi realmente executado.
Se um trabalhador ficou ocioso em algum momento do seu contrato, isso entra como
custo orçado, mas apenas as horas trabalhadas são somadas ao custo de produção
real.

Leve em conta investimentos em máquinas

No cálculo do investimento em equipamentos agrícolas, é importante entender que o


custo real é diluído por toda vida útil da máquina, e não apenas enquanto ela é
paga. Na prática, mesmo que um produtor parcele o pagamento de um pulverizador
em 120 parcelas, se ele opera por 240 meses o correto é considerar o seu
pagamento ao longo de toda sua vida útil, ou seja, 20 anos.

Esse tipo de cálculo ajuda a entender a depreciação do equipamento e a sua


contribuição verdadeira à geração de valor do negócio. E é importante somar a esse
custo os demais gastos, como manutenção preventiva e corretiva das máquinas,
além de eventuais despesas com atualizações e melhorias.

Acrescente outros custos fixos e variáveis

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CONTABILIDADE RURAL

É importante ainda acrescentar aos números já listados outras despesas fixas e


variáveis que fazem parte da produção, como o custo com energia, frete, despesas
de escritório e até combustível gasto pelos profissionais que rodam pela
propriedade.

As demais despesas fixas e variáveis podem variar de acordo com o tipo de lavoura,
o porte do negócio e outros detalhes particulares de cada propriedade.

Considere o valor da terra

Por fim, é interessante também levar em conta o valor da terra, mesmo que o
produtor não esteja em um espaço arrendado. O terreno em que a lavoura está
instalada significa um investimento no negócio.

Nem sempre é interessante somar esse valor diluído aos custos de produção, já que
ele pode levar a uma distorção do cálculo real, mas é importante que os gestores
tenham uma boa noção do valor da terra para entender que o que é investido na
propriedade se justifica. Ou seja, que é mais inteligente continuar no campo do que,
por exemplo, vender o terreno e guardar tudo na poupança.

Quais métodos usar para calcular os custos de produção agrícola?

Em primeiro lugar, é preciso levar em conta que, antes de pensar no modelo de


custo de produção agrícola, é preciso decidir qual será o recorte ou medida utilizada.
No geral, o custo de produção é representado por R$/ha (reais por hectare) e
R$/saco. Esses valores podem ser convertidos para dólares para fins comparativos.

Da mesma maneira, também há a representação de sacos por hectare. Para isso,


normalmente levantam-se informações da propriedade completa para depois dividir
pela quantidade de hectares. No entanto, dessa forma, o resultado pode não ser tão
preciso, uma vez que áreas mais produtivas compensarão outras, tendo por base
uma média por hectare da inteira propriedade.

É verdade que o cálculo feito por talhão vai exigir mais trabalho na coleta dos dados
e no gerenciamento das informações em si. Porém, os resultados serão mais
precisos. Então, se você está iniciando na tarefa de realizar cálculos do custo da

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CONTABILIDADE RURAL

produção, recomendamos que leve em conta uma média da propriedade rural


inteira. Depois que dominar essa etapa, poderá dividir o cálculo para cada talhão.

Antes de analisarmos de forma prática os métodos de custeio, podemos detalhar os


custos de produção. Você pode tomar por base informações divulgadas
pela Conab para encontrar os custos variáveis e fixos do seu negócio.

Custos variáveis

Custeio

 Operações;
 Insumos;
 Funcionários a cada safra;
 Pós-colheita;
 Assistência técnica;
 Comercialização e beneficiamento;
 Transporte dos produtos;
 Armazenamento e estoque;
 Impostos.

Financeiro

 Juros de financiamentos para custeio;


 Seguros.

Custos fixos

CARP (Custo Anual de Recuperação do Patrimônio)

 Juros de financiamentos de construções e máquinas;


 Manutenções de máquinas e de infraestrutura;
 Depreciação de máquinas e infraestrutura.

Administrativo

 Almoxarifado;

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CONTABILIDADE RURAL

 Cantina;
 Funcionários da entressafra;
 Escritório;
 Pró-labore (salário dos proprietários);
 Demais despesas administrativas.

Com base nesses custos, podemos utilizar os métodos a seguir.

Custo Operacional Efetivo (COE)

O Custo Operacional Efetivo é composto por todos os custos variáveis investidos


nas etapas de produção agrícola. Eles são variáveis porque seu volume se altera
conforme a quantidade de trabalho nas operações, e só existem se houver
produção.

Por exemplo, na lista apresentada anteriormente, incluem-se os insumos nos custos


variáveis, como defensivos, fertilizantes, óleo mineral, diesel, entre outros. Também
podemos listar tudo que tenha a ver com as despesas da lavoura, como manutenção
de máquinas, mão de obra e serviços feitos por terceirizados.

Custo Operacional Total (COT)

Para obtermos o Custo Operacional Total, precisamos somar o COE com alguns
custos fixos — aqueles que não sofrem alteração dependendo do volume de
produção. Por exemplo, o custo de um barracão para abrigar o maquinário vai ser o
mesmo, independentemente se o produtor cultivar 5 ou 15 hectares.

Esses custos são muitas vezes invisíveis e difíceis de calcular. É o caso do custo de
depreciação, que se refere à perda de valor devido ao desgaste de um equipamento.
Uma forma de calcular a depreciação de uma máquina é tomar o valor do bem novo
e subtrair pelo valor residual (que seria o preço de sucata no fim da sua vida útil).

Por exemplo, se a vida útil de um implemento é de 8 anos (ou 12 mil horas de


trabalho), e seu valor residual é de 20%, subtraímos o valor do bem novo pelo valor
residual. Pegamos o resultado e multiplicamos pela quantidade de horas
trabalhadas. Considere um caso prático:

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CONTABILIDADE RURAL

 valor do trator: R$40.000;


 durabilidade: 10 anos, 15 mil horas trabalhadas;
 valor residual: 20%;
 subtraindo os R$40.000 pelo valor residual, chegamos a R$32.000. Assim, o
valor da hora trabalhada fica em torno de R$2,13;
 se, naquela safra, o trator trabalhou 40 horas, seu valor de depreciação será
de R$766,80.

Para um cálculo mais acertado, é preciso levar em conta o tempo de troca


recomendado do trator ou implemento. Quando o produtor inclui essas despesas
invisíveis, como é o caso do custo anual de recuperação do patrimônio, ele evita
prejuízos para o negócio.

Custeio por Absorção

Alguns custos podem ser compartilhados por diferentes atividades dentro da


propriedade, e muitas vezes não são restritos a uma operação, safra ou lavoura. Por
exemplo, um depósito de insumos ou um barracão servirão para várias operações.
Dentro do ano agrícola, talvez seja utilizada por uma safra no verão e outra na
safrinha.

Dessa forma, o cálculo não seria correto se o custo fosse direcionado a apenas um
produto ou atividade. As despesas relacionadas precisam ser rateadas, e o
percentual que compete a cada atividade fica a critério do proprietário.

Custeio ABC (Activity Based Costing, ou Custeio Baseado em Atividades)

No Custeio ABC, os custos são atribuídos às diferentes atividades relacionadas à


produção, antes de distribuir os custos na precificação dos produtos. Parte-se da
premissa de que os produtos não consomem recursos, mas sim as operações.

Custo Total (CT)

O Custo Total da produção agrícola representa a soma do Custo Operacional Total


(COT) e os custos financeiros, que consiste basicamente no Custo de Oportunidade
do Capital e o Custo de Oportunidade de Terra.

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CONTABILIDADE RURAL

Mas o que seria esse custo de oportunidade? Sempre que um produtor faz uma
escolha, ele ganha as vantagens de ter tomado um caminho, mas perde os
benefícios que viriam de outras alternativas. Por exemplo, todo o dinheiro investido
no negócio agrícola e as terras cultivadas poderiam render de outra forma, em uma
aplicação financeira ou em arrendamentos, por exemplo.

Quando o agricultor decidiu cultivar a terra, ele deixou de ganhar por meio de outros
investimentos. Mas a decisão de trabalhar na lavoura precisa ser mais rentável que
as às demais opções, certo? Ele poderá buscar isso somente se tiver conhecimento
de quanto renderiam as outras alternativas.

Normalmente, o Custo de Oportunidade do Capital é obtido por aplicar os juros da


poupança em cima do dinheiro aplicado na lavoura. Já o Custo de Oportunidade da
Terra é feito com base no valor estimado da terra, considerando quanto renderia se
estivesse aplicado na caderneta de poupança.

Como visto, saber como calcular o custo da produção agrícola é muito importante
para manter a sustentabilidade financeira do negócio. Além disso, é preciso levar em
consideração todas as variáveis que fazem parte do processo para entender a real
situação e ter uma boa gestão no campo. Saiba que é praticamente impossível se
manter competitivo no mercado, com preços que sustentem o negócio, sem saber
fazer esses cálculos. Assim, comece do mais básico, e com o tempo vá aprimorando
sua gestão de custos.

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CONTABILIDADE RURAL

REFERÊNCIAS

https://www.marxists.org/portugues/lenin/1915/agricultura/cap12.htm>acesso em
10/06/2020

https://blog.aegro.com.br/conceito-de-administracao-rural/>acesso em 10/06/2020

https://www.coladaweb.com/contabilidade/sistemas-de-controle-
gerencial#:~:text=Segundo%20a%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20Horngren,
empregados%20e%20avaliar%20o%20desempenho%E2%80%9D>acesso em
10/06/2020

https://www.blbbrasil.com.br/blog/o-que-e-contabilidade-rural/>acesso em
10/06/2020

https://www.jornalcontabil.com.br/serie-estudos-contabilidade-nas-operacoes-
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https://www.blbbrasil.com.br/blog/contabilidade-agropecuaria/>acesso em
10/06/2020

https://blog.jacto.com.br/custo-de-producao-agricola/>acesso em 10/06/2020

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