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Abordagem Familiar
Abordagem Familiar
INTRODUÇÃO:
Para descobrir como uma pessoa resolve seus problemas e ajudá-la a alcançar suas
expectativas de bem-estar, é necessário conhecer e compreender a constituição da sua família
e o papel que essa pessoa exerce dentro dela, qual sua ocupação, seu nível de educação
formal, as expectativas da família em relação ao indivíduo e as conexões afetivas que construiu
com suas vivências ao longo do tempo. A família adquire importância fundamental, visto que
pode se constituir em fonte geradora de problemas e de sua solução.
Pensando-se na família como primeiro sistema, havendo mudança em uma parte deste, haverá
impacto nas outras partes que o compõem. A família adquire importância fundamental, visto
que pode se constituir em fonte geradora de problemas e de sua solução.
Além da doença, as pessoas possuem problemas complexos que, inúmeras vezes, expressam-
se por meio de sintomas vagos e indefinidos, que não conseguem ser explicados pela ciência
médica porque sua origem está nas dificuldades que existem no seu entorno, em que a família
possui um papel central.
FAMÍLIA
Comunicação A comunicação é todo tipo de troca dos seres vivos entre si e destes com o meio
ambiente (gestos, posturas, silêncios, capacidade de ouvir, equívocos e outros). As pessoas
comunicam-se de forma digital (verbal) e analógica (não verbal, corporal, facial). Falam de
forma literal (mediante os significados das palavras) ou de forma figurativa (por meio da
simbologia, da representação das palavras)
Papéis Os papéis orientam a estrutura das relações familiares. O papel está relacionado com a
imagem da representação que cada pessoa desempenha na família. Cada pessoa da família
possui uma variedade de papéis que se integram à estrutura da família e que se referem às
expectativas e às normas que esta tem com respeito à posição e à conduta de cada um de seus
membros
Ciclo de Vida da Família O ciclo de vida da família é o processo evolutivo que a família cumpre
no curso dos anos através da passagem de uma fase a outra da vida.
As distintas etapas do ciclo de vida familiar são marcadas por eventos particularmente
significativos, como nascimentos e mortes, separações, uniões, inclusões e exclusões de
membros da família. Esses eventos, portanto, se referem às mudanças estruturais da família.
A cada fase do ciclo de vida, a família deve enfrentar uma situação nova (associada a um
evento), que põe em cheque as antigas modalidades de funcionamento, que já não são as
ideais, fazendo com que ocorram mudanças adaptativas, o que implica uma nova ordem
familiar
Ciclo de vida da família de classe popular A família de classe popular é descrita como uma
família extensa, que vive em um espaço pequeno, compartilhado por vários membros, que
estabelecem relações fluidas, não bem delimitadas e com uma relação de tempo segmentada
ao longo da vida
O genograma ajuda o médico e a família a ver um “quadro maior”, do ponto de vista histórico,
como também do atual. A informação sobre uma família que aparece no genograma pode ser
interpretada na forma:
horizontal e focal, mediante a identificação da situação-problema por meio do contexto
familiar, em que esse eixo descreve a família durante o seu momento ao longo do tempo,
enfrentando as mudanças e as transições do seu ciclo de vida familiar; vertical, por meio das
gerações, tentando desvendar padrões que propiciem o aparecimento do problema repetido
em outras gerações da família.
As famílias repetem a si mesmas. O que acontece em uma geração, com freqüência, repete- se
na seguinte – ou seja, as mesmas questões tendem a ser encenadas de geração para geração,
embora o comportamento possa assumir uma variedade de formas. Bowen deu a isso o nome
de transmissão multigeracional dos padrões familiares
Selecionaram-se algumas dicas que são fundamentais para a execução de um bom genograma:
planejar quanto tempo o MFC pode despender – é possível construir um genograma em 10
minutos; lembrar-se de que as pessoas normalmente voltam. Não é necessário ter pressa. É
sempre possível continuar na próxima vez; como muitas famílias são um tanto complicadas,
com parceiros múltiplos e vários irmãos e irmãs, fazer algumas perguntas gerais sobre a família
para que não falte espaço no papel pode ser válido; começar com a informação médica; no
contexto de atenção primária, as pessoas normalmente acham esse tipo de assunto menos
ameaçador; investigar um tema, de preferência, um que despertou alguma emoção na pessoa;
estimular a pessoa a falar sobre os relacionamentos entre os indivíduos representados no
genograma; tentar fazer uma investigação conjunta, o que retira a pressão do MFC para
“resolver” o quebra-cabeças e estimula a pessoa a ser mais ativa.
onde moram seus pais? com que frequência você os vê, escreve ou telefona para eles? sobre o
que você e sua mãe conversam quando estão sozinhos? você sempre sai para almoçar apenas
com seu pai? Outros tipos de informações que ajudam a explicar a vida familiar incluem: as
filiações culturais, étnicas e religiosas; os níveis educacionais e econômicos; os
relacionamentos com a comunidade e com as redes sociais; a natureza do trabalho que os
membros da família exercem.
A seguir, são detalhados os respectivos símbolos utilizados para a construção dos genogramas:
cada membro é representado por um quadrado ou um círculo, conforme seja um homem ou
uma mulher, respectivamente; uma pessoa falecida é representada por um “x” dentro do
quadrado ou do círculo com a data ou idade do falecimento; o “paciente identificado (PI)”, ou
seja, aquele que é percebido como “o problema”, vem representado com uma linha dupla no
quadrado ou no círculo; as relações biológicas e legais entre os membros das famílias são
representadas por linhas que conectam esses membros; o casal que vive junto, mas não é
casado no civil, é representado por uma linha pontilhada; uma interrupção do matrimônio é
representada por barras inclinadas cortando a linha de relação, sendo uma barra para a
separação e duas barras para o divórcio; o casamento rompido é representado pelo corte da
linha da união com a data e os casamentos subsequentes, que podem ser posicionados com
linhas paralelas, datas importantes e indicação dos filhos por ordem cronológica; as gestações,
abortos e partos de um feto morto são indicados pelos seguintes símbolos: gestação com
morte – triângulo referindo o desfecho; aborto espontâneo – círculo de pequeno tamanho;
aborto provocado – círculo de pequeno tamanho preenchido por dentro; os filhos são
representados, cronologicamente, da esquerda para a direita; um filho adotivo é conectado à
linha dos pais por uma linha pontilhada; os gêmeos idênticos são representados por linhas
convergentes à linha dos pais, que, por sua vez, estão conectadas por uma barra. Caso não
sejam idênticos, omite-se a barra;
Configurações familiares não usuais Às vezes, certas configurações estruturais saltam aos
olhos, sugerindo temas ou problemas críticos para a família. Como exemplo, podemse
observar: multiplicidade de separações e/ou divórcios; adoções e abandonos; preponderância
de mulheres profissionalmente bem sucedidas; reiteração na escolha de um tipo de profissão –
maestros, médicos, comerciantes, etc.
Adaptação ao ciclo de vida A adaptação ao ciclo de vida implica a compreensão das transições
do ciclo de vida às quais a família está se adaptando. O ajuste de idades e datas no genograma
permite ver se os fatos do ciclo de vida se dão dentro das expectativas adequadas à fase a que
se referem.
Repetição de normas através das gerações Já que as normas familiares podem transmitir-se
através das gerações, o MFC deve estudar os genogramas para descobri-las e enriquecer o
plano de acompanhamento da pessoa ou família.
ENTREVISTA DE FAMÍLIA:
CONSIDERAÇÕES GERAIS Faz parte do cotidiano do MFC detectar problemas de saúde com
repercussão ou influência familiar; porém, essa situação, quando se apresenta, não chega ao
médico como um pedido de ajuda. Logo, é esse profissional que deverá sugerir uma nova
abordagem, como a possibilidade de atendimento com toda a família, para encaminhar uma
resolução da situação-problema.
Sintoma como uma mensagem O sintoma do paciente identificado – aquele que a família
aponta como doente – tem uma função, que é ser a expressão, a comunicação da situação-
problema, trazendo, em si, uma mensagem, quase sempre secreta, que precisa ser
decodificada para ser compreendida, visto ser a resultante da interação dos diversos
segmentos em causa. Nessa perspectiva, ninguém é vítima ou culpado, certo ou errado, mas
parte de uma resultante circular.
Intervenção familiar A boa forma de intervenção familiar deve prever, logo no início, sua
duração e seus objetivos. É preciso negociar claramente com a família a proposta do ponto de
chegada e encontrar o foco a ser tratado. A abordagem intervém de forma pontual, o que faz
com que famílias tradicionalmente descritas como “difíceis”’ possam aderir ao tratamento. O
MFC trabalhará com aquilo que a família apontou como problema no momento, não sendo,
portanto, algo indefinido e vago. A família aprende a enfrentar novas situações. A proposta
tem essa dimensão. Em média, são necessários 10 atendimentos, embora com 6 ou 7 já seja
possível obter resultados, e podem-se reservar os outros para seguimento posterior
Presença dos familiares às consultas Vir a tratamento revela uma grande mobilização
emocional para a família, o que somente ocorre em situações extremas, de crise e de muito
incômodo. Tanto é assim que, à medida que o problema é minimizado, a ansiedade diminui, e
há um decréscimo da frequência familiar às consultas. Porém, deve-se reforçar a necessidade
da presença desses membros, lastimando as ausências ao tratamento. O ideal é que estejam
presentes em todas as consultas todos os membros da família que foram identificados no
início. No entanto, a prática tem indicado que parece um exagero condicionar a continuidade
do tratamento à presença de todos ao encontro
A procura pela solução para o problema O MFC não deve apresentar (as suas) soluções para os
problemas de família, pois as soluções têm que partir da própria família. Além de tudo, essa
seria uma atitude intervencionista e potencialmente ineficaz. A família, mesmo que não
explicite, procura manter a situação ou o equilíbrio, embora precário. Ademais, ela sempre
percebe o problema como sintoma, mas nem sempre reconhece a necessidade da intervenção
ou de passar por mudanças mais profundas e arriscadas.
O MFC deve manter-se atento às interações verbais e não verbais que se instalam diante de si,
pois essas demonstrarão as zonas de força e fragilidade do sistema.
Como primeira etapa do procedimento terapêutico, o MFC segue as regras culturais de relação
social, demonstrando a preocupação com todos para que se acomodem confortavelmente.
Apresenta-se e solicita que cada um se apresente. Nesse momento, é essencial a atenção e a
observação de todos os aspectos, como o lugar de escolha dos membros ao acomodarem-se,
as atitudes, as facilidades de expressão ou não, etc. Tudo o que é possível observar compõe os
elementos para avaliação do funcionamento familiar.
Na segunda etapa, o MFC pode utilizar os primeiros minutos para falar informalmente, depois
de repetir, brevemente, o motivo do encontro, caso saiba, e, então, solicitar a opinião de cada
membro da família. Nesse ponto, o objetivo é ouvir uma pessoa de cada vez, cabendo ao
entrevistador: bloquear, polidamente, mas com firmeza, as possíveis interrupções; reunir e
organizar as informações; estabelecer um relacionamento harmonioso.
Na terceira etapa, o MFC explora a estrutura da família, favorecendo a interação entre os
membros. É conveniente propiciar que conversem sobre o problema, pois, dessa maneira,
explicitarão a forma como entendem e vivenciam essa situação. A principal preocupação,
nesse momento, deve ser a de compreender o modo como funcionam, como atuam e
desenvolver hipóteses.
Na quarta etapa, o MFC deve concentrar-se nos problemas específicos e nas soluções
tentadas, bem como examinar o grau de autonomia e diferenciação dos membros da família,
avaliando o traçado dos limites, das flexibilidades e das disfunções. Deve explorar pontos de
estresse, tendo clareza quanto aos níveis de tolerância que os pacientes podem suportar.
Deve, ainda, considerar o possível envolvimento dos membros da família, dos amigos ou das
pessoas que lhes prestam ajuda, localizando redes de apoio.
Na quinta etapa, o novo sistema, composto por família e MFC, elege os objetivos e as possíveis
mudanças a serem alcançados no tratamento. Uma das razões para se especificar claramente
o problema é que, assim, posteriormente, é possível saber se os objetivos foram alcançados.
Dramatização A dramatização é a técnica na qual o médico pede aos membros da família para
mostrar, na sua presença, como atuam, por meio da encenação de uma situação já vivenciada
Focalização Observando a família, o médico é inundado pelos dados que obtém dela. Focar é
selecionar o problema e organizar os fatos que tenham relevância para construir o plano
terapêutico.
MODELO FIRO O modelo Orientações Fundamentais nas Relações Interpessoais (FIRO)
MODELO PRACTICE O modelo PRACTICE foi elaborado com o objetivo de auxiliar os clínicos na
estruturação do seu atendimento às famílias. Esse modelo facilita a coleta de informações; o
entendimento do problema de maneira focada; a elaboração de uma avaliação com
construção de intervenção para o problema, seja ele de ordem clínica, de comportamento ou
relacional. O acrônimo “PRACTICE” tem o seguinte significado: P (presenting problem) –
problema apresentado; R (roles and structure) – papéis e estrutura; A (affect) – afeto; C
(communication) – comunicação; T (time in life cycle) – fase do ciclo de vida da família; I
(illness in family) – doenças na família, ontem e hoje; C (coping with stress) – enfrentamento
do estresse; E (ecology) – meio ambiente, rede de apoio.
ECOMAPA O ecomapa é outro instrumento de avaliação familiar. A representação gráfica pode
ser mostrada por meio de um desenho circular e central, contendo um genograma, as pessoas
de uma família ou um indivíduo. Ao redor dessa imagem, são postos os sistemas que estão
envolvidos e relacionados com a família ou o indivíduo, mostrando as ligações com o seu
contexto, a rede social e de apoio da família. O ecomapa identifica as relações da família com
pessoas, trabalho, escola, serviço de saúde, animais de estimação, que podem ser
consideradas no momento da construção do plano de seguimento da família
• Relações Triangulares
• Fusionadas e conflituosas – três linhas paralelas que, em seu interior, contêm uma
linha em zigue-zague