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ESCOLA POLITÉCNICA DA USP

PQI 3302 OPERAÇÕES UNITÁRIAS DA INDÚSTRIA QUÍMICA I


CICLONES

1. MOVIMENTO DE UMA PARTÍCULA EM MEIO FLUIDO


O movimento de uma partícula sólida inserida num meio fluido (contínuo), submetida a
um campo g, é descrita por:
! ! !
ma = mg + FP (1)
! !
Onde: a é a aceleração da partícula, m sua massa e FP a força associada à interação
partícula-fluido que pode ser decomposta em uma força de empuxo ( E= ρFgVP ) e uma
resistiva ou de arraste (“drag force”).
! ! !
FP = E + FD (2)
!
A força de arraste FD pode ser descrita pelo coeficiente de arraste:
1
FD = C D r F AP u 2
2 (3)

Onde: u é a velocidade relativa entre o fluido e a partícula, AP a área projetada da partícula


na direção do escoamento e CD o coeficiente de arrasto, função do número de Reynolds e
do tipo de partícula.

A Figura 1 mostra o coeficiente CD para o caso de uma esfera. Geralmente são definidos
três regimes de escoamento: Stokes ( Re < 10), intermediário ( 10 < Re < 500), Newton
(500 < Re < 2x105) e turbulento ( Re > 2x105).

Figura 1 - Coeficiente de arrasto em função do número de Reynolds para uma esfera


A tabela que segue apresenta expressões que permitem o cálculo do coeficiente de arrasto
em função do Re para esferas.

CD Re

24/Re Stokes: Re < 10

18,5 / Re0,6 Intermediário: 10 < Re < 500

0,44 Newton: 500 < Re < 2x105

0,20 Turbulento: Re > 2x105

Na situação de aceleração nula, o escoamento da partícula em meio “livre” ou “infinito”,


isto é, sem interferência de outras partículas, a velocidade terminal, vt , é calculada a partir
das equações (1), (2) e (3), resultando na eq. (4):
2(r P - r F )g VP
vt =
CD r F AP

4 ( ρ P − ρ F ) gDP
Particularmente no caso de esferas, tem-se eq. (5): v t =
3CD ρ F

O cálculo da velocidade terminal não é direto, pois o coeficiente de arrasto é função da


própria velocidade. No regime de Stokes obtém-se a equação (6):

gDP2 ( ρ P − ρ F )
vt =
18µ

2. CICLONES
Ciclones são equipamentos relativamente simples, sem partes móveis, empregados para
remover partículas, tipicamente maiores que 5 µm, de uma corrente de gás. No caso de
separação partícula-líquido, denomina-se hidro-ciclone. São utilizados em diferentes
segmentos industriais, tais como: alimentício, farmacêutico, químico, metalúrgico,
mineração etc.
O ciclone é basicamente uma câmara de sedimentação na qual a força da gravidade é
associada pela força centrífuga de 5 a 2500 g. A corrente de gás contendo particulado
entra tangencialmente na câmara do ciclone a alta velocidade (6-20 m/s), e devido à
configuração tem-se o estabelecimento de um movimento centrífugo que proporciona a
separação gás-partícula. As partículas percorrem trajetórias helicoidais na direção radial
e são capturadas quando atingem a parede da região cilíndrica ou cônica e deslizam até
fundo do trecho cônico, onde são descarregadas. As partículas muito finas são arrastadas
pela corrente de gás e saem pelo topo.

2
Figura 2 – Ciclones e dispositicos de descrga de sólidos.

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Extensive work has been done to determine in what manner dimensions of cyclones affect
quate to meet stringent air pollution
performance. In someregulations,
classic workbut thatthey
is still used today, Shepherd and Lapple (1939,
cost and their maintenance-free operation make them
1940) determined “optimal” dimensions for cyclones. Subsequent investigators reported
e final control devices such as baghouses or
similar apresentam
Os ciclones work, and the so-called
algumas “standard”
importantes cyclones were born.
r pollution control, cyclones are used extensively in vantagens como baixo custo de instalação,
d for recoveringoperação possível acertain
and recycling altas temperaturas
catalysts devido
in à sua construção com placas metálicas e
d coffee in foodpouca manutenção,
processing por and
plants, não ter
for partes móveis.
capturing sawComo desvantagens apresenta baixa
All dimensions are related to the body diameter of the cyclone so that the results can be
eficiência de coleta de partículas pequenas e custo de operação elevado devido à perda de
applied generally.
carga no equipamento. O custo de operação também aumenta com a eficiência por
ciency collectors. However,
precisar efficiency
de pressões de admissão varies
mais greatly
altas. with
esign work has greatly improved cyclone performance.
EstesThe
es that have efficiencies table on the
greater
equipamentos next
than
tem noslide
98% summarizes
entantoforpapel
particles the dimensions
relevante of standard
no pré-tratamento cyclonesgás-
de sistemas of the three
achieve efficiencies types
of mentioned
90% for in the
particlesprevious
larger figure.
than The
15
sólido por seu baixo custo de capital e pouca manutenção. side
– figure illustrates the various dimensions
used in the table.

Em geral temos três tipos de ciclone


:
ency - alta eficiência
re), and
h - convencionais
- alta vazão
of

Standard cyclone dimensions

Cyclone Type
High Efficiency Conventional High Throughput
(1) (2) (3) (4) (5) (6)
Body Diameter,
D/D
1.0 1.0 1.0 1.0 1.0 1.0 6
Height of Inlet, 0.5 0.44 0.5 0.5 0.75 0.8
H/D
Width of Inlet, 0.2 0.21 0.25 0.25 0.375 0.35
W/D
Diameter of Gas Exit, 0.5 0.4 0.5 0.5 0.75 0.75
De /D
Length of Vortex Finder, 0.5 0.5 0.625 0.6 0.875 0.85
S /D
Length of Body, 1.5 1.4 2.0 1.75 1.5 1.7
Lb /D
Length of Cone, 2.5 2.5 2.0 2.0 2.5 2.0
Lc /D
Diameter of Dust Outlet, 0.375 0.4 0.25 0.4 0.375 0.4
Dd /D

SOURCES:
Columns (1) and (5) = Stairmand, 1951; columns (2), (4) and (6) = Swift, 1969; column (3) and sketch = Lapple, 1951.

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Eficiência de coleta
A previsão do campo de velocidades do fluido e da partícula resulta da solução de um
conjunto de equações de grande complexidade. O desenvolvimento de sistemas de CFD
– Computational Fluid Dynamics - tem permitido a substituição de relações empíricas por
equações fenomenológicas de transporte. A figura 2 apresenta um corte superior do
ciclone na altura da entrada do mesmo. A linha tracejada representa uma trajetória do gás
e a cheia da partícula, ambas inciadas no mesmo ponto da alimentação.


Figura 2 – Trajetória do fluido e da partícula no interior do ciclone.
Um modelo muito simples descrito a seguir permite determinar os efeitos da geometria
do ciclone e as condições de operação na eficiência de coleta. Neste modelo, o gás gira
um número N de revoluções no vortex externo. N pode ser pode ser aproximado como a
soma das revoluções dentro do corpo cilíndico e da parte cônica do ciclone.
N = (Lb + Lc/2) / H
N = voltas dentro do equipamento
Lb = comprimento da parte cilíndrica (barril)
Lc = comprimento da parte cônica
H = altura do duto de entrada

Para serem coletadas as partículas devem atingir a parede no intervalo de tempo em que
o gás se desloca no vórtice. Tempo de residência do gás no vórtice é
Δt = trajetória/ velocidade = π D  N / Vi (7)

D = diâmetro da parte cilíndrica do ciclone


Vi = velocidade do gás na entrada = Q / (W.H)
Q = vazão volumétrica de gás
W = largura do duto de entrada

A máxima distância radial percorrida por qualquer partícula é igual à largura do duto de
entrada W. A força centrífuga rapidamente acelera a partícula até sua velocidade terminal
na direção radial, com a força de arraste se opondo e igualando a força centrífuga. A

5
velocidade terminal Vt que permite que uma partícula à distância W da parede seja
coletada enquanto o gás está no equipamento é
Vt = W / Δt (8)

Vt = velocidade de deslizamento da partícula na direção radial


Vt é função do diâmetro da partícula. Assumindo escoamento de Stokes (força de arraste
= 3  π   µ dp Vt ), de partículas esféricas sujeitas a uma força centrífuga mv2/r , com m =
massa “aparente”, v = Vi da vazão de entrada e r = D/2 obtemos

Vi 2 dP2 ( ρ P − ρ F )
Vt =
9µ D (9)

Substituindo as equação (7) e (9) em (8) e rearranjando para dp obtemos

9  µ  W
dP =
π N  Vi   ( ρ P − ρ F )

Este é o diâmetro da menor partícula que é coletada caso sua trajetória começar junto da
parede do duto de entrada.
Esta equação mostra que em teoria o menor diâmetro de partículas coletadas com 100%
de eficiência está diretamente relacionado com a viscosidade do gás e a largura do duto
de entrada, e inversamente relacionado com o número de voltas no equipamento, a
velocidade no duto de entrada, e a diferença de densidade entre a partícula e o gás.
Na prática a eficiência de coleta de fato depende destes parâmetros. Entretanto o modelo
falha ao prever que todas as partículas maiores que dp serão também coletadas com 100%
de eficiência. Esta discrepância deriva de todas as aproximações. Lapple (1951)
desenvolveu um modelo semi-empírico para calcular o diâmetro de corte dpc que é o
diâmetro da partícula que é coletada com eficiência de 50%.

9  µ  W
dPC =
2  π N  Vi   ( ρ P − ρ F )

6
Gráfico 1: Eficiência de coleta de ciclone industrial tipo Lapple (1951)
Lapple desenvolveu então uma curva geral que pode ser vista no gráfico acima, para
ciclones convencionais (indicado no retângulo amarelo) da tabela com as dimensões dos
ciclones. Com a curva geral podemos prever a eficiência de coleta de uma partícula de
um diâmetro qualquer. Se a distribuição granulométrica das partículas for conhecida, a
eficiência de coleta global pode ser calculada utilizando o gráfico.
Theodore e DePaola (1980) aproximaram a curva do gráfico 1 pela equação abaixo o que
facilita sua utilização e aplicação em cálculos de engenharia. A eficiência de coleta de
uma partícula P de diâmetro na faixa j dPj, em um ciclone industrial convencional, poder
ser estimada em função do diâmetro de corte pela equação abaixo, também expressa no
gráfico acima:

1
ηj = 2
1+ ( dPC / dPj )

A eficiência de coleta global, também chamada de performance, de um ciclone é a média


ponderada das eficiências de coleta para cada faixa de diâmetro de partícula.

Perda de carga em um ciclone


A queda de pressão entre a alimentação e a saída de ar pode ser calculada pela equação:
ρ FVi 2
ΔP = N
2
Quanto maior a vazão de gás maior a eficiência de coleta e maior a perda de carga. O
compromisso do custo operacional da potência para insuflar o gás e a eficiência adequada
é importante na definição do tamanho do ciclone.

7
Análise de Desempenho de ciclone
Com o ciclone conhecido, verifica-se se atende os requisitos de desempenho
estabelecidos.

Projeto de ciclone
Conhecidos os critérios de projeto (performance, vazão, distribuição de partículas,
máxima perda de carga admissível), especificar o tipo e dimensões do equipamento.
Múltiplas interações.

3. EXERCÍCIOS
1. Adquiriu-se uma bateria de ciclones de ciclones do tipo Lapple com diâmetro de 0,5
m. O objetivo é coletar partículas de densidade 1000 kg/m3 presentes em uma corrente de
ar a 90 ºC e 1 atm. Segundo o fornecedor do equipamento, partículas maiores que 20 µm
são coletadas com eficiência superior a 95 % para uma velocidade de ar na secção de
entrada é 15 m/s. Verifique a validade das informações do fornecedor.
2. Uma fábrica dispõe de um conjunto de 3 ciclones em paralelo na configuração Lapple.
O diâmetro dos ciclones é 20 pol. Estimar: a) A capacidade do conjunto para uma
velocidade de ar na secção de entrada de 15 m/s; b) O diâmetro da partícula que é coletada
com eficiência de 95%; c) A potência do soprador a ser usado na operação. Considerar
que o gás tenha as propriedades do ar a 200ºC e 1 atm e que as partículas sólidas tenham
densidade 3.000 kg/m3.

3. Deseja-se estudar o desempenho de uma bateria constituída por dois ciclones Lapple
em série com respectivamente 63,6 cm e 45 cm de diâmetro no tratamento de 27,7 m3
/min de gás. Propriedades do gás: densidade 1,1 kg/m3 e viscosidade 0,017 cP.
Propriedades do material particulado: densidade da partícula 25.00 kg/m3 e distribuição
granulométrica dada por:

Dp (µm) 5 10 15 20 25 30

X – fração do material 0,14 0,36 0,55 0,71 0,82 0,90


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