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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

DISCIPLINA: Operações Unitárias com Sistemas Sólido-Fluido (DEQ0515)


DOCENTE: Katherine Carrilho de Oliveira Deus

HIDROCICLONES

INTRODUÇÃO

Os hidrociclones, assim como as centrífugas, são equipamentos de separação sólido-


líquido ou líquido-líquido no qual a alimentação ocorre tangencialmente a uma câmara
cilíndrica originando um movimento rotacional que favorece a separação das fases devido a
diferença de densidade.

PRINCÍPIOS BÁSICOS

De forma semelhante aos ciclones, os hidrociclones consistem em um cilindro vertical


com a base cônica, uma entrada tangencial para a alimentação da suspensão, uma saída no topo
para o líquido com baixa concentração de sólidos e uma saída na base para a coleta de uma
solução com alta concentração de sólidos.
Os hidrociclones também são caracterizados por dimensões geométricas que dão origem
à uma família de hidrociclones com base em proporções definidas entre as dimensões
principais. Na Figura 1 tem-se um desenho esquemático de um hidrociclone com a
especificação das dimensões principais e na Tabela 1 tem-se as proporções especificadas para
as famílias de hidrociclones Rietema e Bradley.
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Figura 1. Desenho esquemático de um hidrociclone.

Fonte: Cremasco, M. A., 2012.

Tabela 1. Dimensões características das famílias de hidrociclones Rietema e Bradley.

Dimensões Rietema Bradley

Do/D 0,28 1/7

De/D 0,34 1/5

h/D - 1/2

H/D 5,00 -

S/D 0,40 1/3

B/D 0,10 – 0,30 0,07 – 0,15

θ 10° - 20° 9°

Fonte: Cremasco, M. A., 2012.

Nos hidrociclones, diferentemente dos ciclones, o underflow é composto pelas


partículas sólidas e por uma parte do líquido da corrente de alimentação. Com isso tem-se que
nas três correntes dos hidrociclones (alimentação, underflow e overflow) tem-se partículas
sólidas e líquido.
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A coleta das partículas se dá por dois mecanismos, o primeiro é a sedimentação no


campo centrífugo e o segundo é o arraste das partículas pela corrente líquida apenas devido a
separação do fluxo da corrente de alimentação. Esse segundo mecanismo tem eficiência de
coleta de sólidos igual a eficiência de coleta de líquido.
A eficiência de coleta de líquido é quantificada através de um adimensional chamado
de razão de líquido que é definido como sendo a razão entre a vazão volumétrica de líquido no
underflow e a vazão volumétrica de líquido na alimentação (Equação 1).
QLU
RL = (1)
QLA

Na avaliação da eficiência dos hidrociclones pode-se utilizar o termo eficiência global


de coleta reduzida para especificar que esse valor se refere a eficiência de remoção das
partículas devido a ação do campo centrífugo (descontando a parcela que é removida apenas
pelo arraste). De forma simplificada pode-se calcular a partir da Equação 2.
̅−R
η
η̅′ = 1−RL (2)
L

No qual o subscrito “ ′ ” identifica a eficiência reduzida e o termo η̅ é a eficiência global de


coleta incluindo os dois mecanismos de separação.
Também é possível avaliar a eficiência dos hidrociclones a partir da eficiência
individual de coleta reduzida (𝜂′ ) que é a razão entre a vazão mássica de sólidos na corrente
underflow com dado diâmetro de partícula e que são coletadas pelo efeito da força centrífuga e
a vazão mássica de sólidos na corrente de alimentação com o mesmo tamanho de partícula.
Com isso, pode-se relacionar a eficiência individual de coleta reduzida com a eficiência
individual de coleta considerando os dois mecanismos de acordo com a Equação 3.
η−R
𝜂′ = 1−RL (3)
L

A partir de dados experimentais, Lynch, Rao e Prisbrey (1974) chegaram em uma


equação que relaciona a eficiência individual de coleta reduzida com o diâmetro da partícula e
o diâmetro de corte reduzido (Equação 4).
𝑑𝑝
𝑒𝑥𝑝(𝛼 ∗′ )−1
𝑑 𝑝
𝜂′ = 𝑑𝑝
(4)
𝑒𝑥𝑝(𝛼 ∗′ )+exp(𝛼)−2
𝑑𝑝

Em que 𝛼 é um parâmetro empírico adimensional que depende do material sólido (2 ≤ 𝛼 ≤ 5).


Caso o valor de 𝛼 não seja conhecido pode-se aproximar para 3,5.
A eficiência de coleta global reduzida também pode ser calculada a partir da integração
da eficiência individual de coleta para vários valores de frações acumuladas de passante.
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Utilizando a distribuição contínua de Rosin-Rammler-Bennett (RRB) tem-se que a eficiência


global de coleta para hidrociclones Rietema e Bradley pode ser descrita pela Equação 5.
1,13n
D63,2
𝜂̅ ′ = 0,138+n
D63,2 × (5)
1,44−0,279n+( ) dpc ′
dpc ′

No projeto e avaliação de hidrociclones utilizam-se inúmeras metodologias baseadas na


correlação de dados e observações experimentais. A seguir serão apresentadas duas
metodologias, uma apresentada por Massarani (1997) e a outra apresentada por Medronho e
Svarovsky (1984).

A primeira metodologia que foi proposta por Massarani (1997) e apresentada por
Cremasco (2012) é bem semelhante a metodologia para avaliação de ciclones acrescentando
dois termos de correção, um relativo ao arraste das partículas sem a ação do campo centrífugo
e outro ao efeito da concentração volumétrica de sólidos na corrente de alimentação. Com isso
tem-se que:
1⁄
dpc μD 2
= K [Q (ρ
] α(R L ). β(CVA ) (6)
D LA s −ρ)

α(R L ) = 1 + φR L (7)
B ψ
R L = ξ (D) (8)
1
β(CV ) = 1 (9)
[4,8(1−CVA )2 −3,8(1−CVA )] ⁄2
QSA
CV = Q (10)
SA +QLA

As constantes K, φ, ξ e ψ dependem da família do hidrociclone cujos valores encontram-


se apresentados na Tabela 2.
Tabela 2. Constantes K, φ, ξ e ψ para as famílias de hidrociclones Rietema e Bradley.
Família K φ ξ ψ
Rietema 0,039 1,73 145 4,75
Bradley 0,016 1,73 55,3 2,63
Fonte: Cremasco, M. A., 2012.

A segunda metodologia proposta por Medronho e Svarovsky (1987) e apresentada por


Peçanha (2014) parte da obtenção de números adimensionais a partir das variáveis de processo,
projeto e operação e sua correlação com dados experimentais. Foram definidas como variáveis
de processo a densidade do líquido (ρ), a viscosidade do líquido (μ) e a diferença de densidade
entre o sólido e o líquido (ρS – ρ). A variável de projeto foi definida como sendo o diâmetro da
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parte cilíndrica (D) e como variáveis de operação tem-se a vazão de alimentação (QA), a queda
de pressão (ΔP) e o diâmetro de corte reduzido (dpc’). Com essas sete variáveis e tendo-se três
dimensões base (MLT) resultam quatro adimensionais. Para o presente estudo apenas três
adimensionais apresentaram interesse prático sendo eles:
ρQA 4ρQA Dρvc
Π1 = = = = Re (11)
μD πμD μ

∆PD4 π2 ∆PD4 ∆P
Π2 = = =1 = Eu (12)
ρQ2A 8ρQ2A ρv2c
2

Dpc ′(ρs −ρ)QA 2Dpc ′(ρs −ρ)QA Dpc ′2 (ρs −ρ)vc


Π3 = = = = Stk c ′ (13)
μD3 9πμD3 18μD

dpc ′2 (ρs −ρ)∆PDπ


Stk c ′Eu = (14)
36μρQA
4QA
vc = (15)
πD2
Em que Re é o número de Reynolds, Eu é o número de Euler e Stkc’ é o número de Stokes, de
corte, reduzido.
A partir de dados experimentais obtidos para o hidrociclone Rietema, foram obtidas as
seguintes correlações:
1 0,742
Stk c ′Eu = 0,0474 [ln (R )] exp (8,96CVA ) (16)
L

Eu = 371,5Re0,116 exp(−2,12CVA ) , CVA < 0,1 (17)


B 4,75
R L = 1218 (D) Eu−0,30 (18)

1 0,371 μρQA 0,5


d′pc = 0,737 [ln (R )] [(ρ ] exp(4,48CVA ) (19)
L S −ρ)ΔPD

Q0,514 ρ0,271
D = 4,03 ΔPA0,243 μ0,0282 exp (−0,515CVA ) (20)

ΔP 0,3 0,211
B = 0,227 [D5,95 R L (ρQ2 ) ] (21)
A

Com as Equações 19, 20 e 21 torna-se possível a avaliação e o projeto de hidrociclones


Rietema.
A queda de pressão associada aos hidrociclones, se apresenta de forma semelhante aos
ciclones, porém com efeito mais acentuado. Utiliza-se também, de forma simplificada, a
linearidade entre a razão entre a queda de pressão e a densidade do fluido e a velocidade
característica ao quadrado dividido por 2. A velocidade característica é calculada pela Equação
13 e a queda de pressão é avaliada pela Equação 22.
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ΔP 𝑣c 2
= kf (22)
ρ 2

A constante kf que depende da família do hidrociclone é igual a 1200 para hidrociclones


Rietema e 7500 para hidrociclones Bradley.
A potência da bomba pode ser calculada como a razão entre o produto da queda de
pressão (ΔP) com a vazão (Q) pelo rendimento do motor (Equação 23).
QΔP
Ẇ = (23)
η

Os hidrociclones também podem operar em série ou em paralelo sendo que, na operação


em série, a vazão dos equipamentos individuais é a mesma, porém a queda de pressão é a soma
das quedas de pressão individuais e na operação em paralelo a queda de pressão é a mesma,
porém a vazão total é a soma das vazões individuais.

PROJETO DE HIDROCICLONES

Para o projeto de hidrociclones podem ser especificadas as propriedades do fluido


(densidade e viscosidade), do sólido (densidade e distribuição de tamanhos de partícula), da
mistura (concentração volumétrica) e as variáveis de operação (vazão, queda de pressão, razão
de líquido e eficiência global de coleta). Para o caso de a razão de líquido não ser conhecida,
adotar o valor de 0,1 para o hidrociclone Rietema.
Um procedimento comum para o projeto é apresentado abaixo:
1. Calcular D (Equação 20) conhecendo a vazão. Caso o diâmetro seja muito grande, usar
hidrociclones em paralelo e repetir o cálculo de D usando QA/n, em que n é o número
de hidrociclones em paralelo.
2. Calcular o diâmetro da partícula de corte reduzido (d′pc ) pela Equação 19.
3. Obter o valor para a eficiência individual de coleta (𝜂′ ) e, em seguida, calcular a
eficiência global de coleta (η
̅ ).
4. Comparar o valor calculado com o valor especificado, se η
̅ calculado for maior ou igual
ao especificado pode-se calcular B e as demais dimensões a partir da Tabela 1. Se o
valor calculado for menor, voltar ao passo 1 e alterar o número de hidrociclones em
paralelo.
5. Calcular a perda de carga e a potência.
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REFERÊNCIAS:

Cremasco, M. A. Operações unitárias em sistemas particulados e fluidomecânicos. 2. ed.


São Paulo: Blucher, 2014.

Peçanha, R. P. Sistemas Particulados: Operações unitárias envolvendo partículas e


fluidos. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

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