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Manual de Apoio – Formação de ingresso na carreira

de Oficial de Justiça

PROCESSO CIVIL
DGAJ-DF - 2013

Direção-Geral da Administração da Justiça


NOÇÕES GERAIS SOBRE PROCESSO CIVIL

Introdução

A maioria das vezes, o processo identifica-se com o conjunto dos atos que hão-de
praticar-se em juízo na propositura e desenvolvimento da ação.

Numa aceção mais concreta, o processo significa ainda o mesmo que pleito, litígio,
demanda ou causa – a situação concreta resultante da pretensão de tutela jurisdicional
deduzida por determinada pessoa com oposição ou possibilidade dela por parte duma outra.

Num último conceito, assaz vulgarizado na linguagem do foro, o processo identifica-se


com caderno (autos) constituído pelas peças escritas emanadas das partes, pelas decisões do
tribunal e pelo relato, mais ou menos circunstanciado, dos atos e diligências praticados no
desenvolvimento da ação.

Direito Processual Civil é o conjunto de regras e comandos normativos que acompanham a


vida de uma ação em tribunal, desde a sua propositura – art.º 267.º e 467.º do CPC – até ser
proferida a decisão que lhe ponha termo, ou melhor, que transite em julgado – art.ºs 677.º e
685.º do Código de Processo Civil, diploma a que pertencem as disposições adiante
referidas sem menção de origem.

Trata-se de um ramo de direito público, embora regulador de conflitos de interesse


particular, porque tem uma função jurisdicional, na qual o Estado aparece investido de
soberania, impondo uma autêntica subordinação às partes com caráter vinculativo.

Por outro lado, o Direito Processual Civil é também um ramo de direito instrumental na
medida em que se destina à aplicação do Direito Civil, o qual se afigura como um direito
substantivo ou material regulador das relações entre os indivíduos ou entre eles e o Estado
(agora, despido do seu “iure imperii”, ou seja, despido do seu poder de soberania, porque
posicionado num plano de igualdade com os demais cidadãos).

Em suma, é através do Direito Processual Civil que, na prática, se consubstancia a


aplicação daquele direito substantivo e abstrato.

Os direitos e obrigações que regulam as relações entre os indivíduos estão previstos no


Código Civil e cabe ao Direito Processual Civil definir os contornos que materializam tais
direitos.

O Direito Civil prevê, por exemplo, sobre a compropriedade ou propriedade em comum e


a divisão da coisa comum – art.ºs 1403.º a 1413.º do Cód. Civil.

A divisão é feita amigavelmente ou nos termos da lei do processo, ou seja, não sendo
feita amigavelmente, a divisão da coisa comum concretizar-se-á pela via do Direito Processual

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Civil, o mesmo é dizer, por aplicação das normas próprias do Código de Processo Civil – art.ºs
1052.º a 1057.º.

O direito processual civil é de aplicação subsidiária, em muitos aspetos, a outros ramos


do direito processual, ou seja, aplica-se para preencher lacunas e omissões destes ramos de
Direito, à semelhança do que sucede com o Direito Civil em relação a outros ramos do direito
substantivo.

O seu conhecimento é condição essencial da boa aplicação prática do Direito Civil, e,


portanto, da justa composição dos litígios de interesses privados.

O seu imperfeito conhecimento é suscetível de comprometer a efetivação da tutela dos


direitos e o êxito de pretensões justas.

Assim, a ignorância ou a deficiente condução do processo pode ocasionar a perda da


demanda ou da causa, por parte do litigante que teria razão à luz do Direito Substantivo, mas
que devido a essa ignorância ou deficiente condução não conseguiu demonstrá-la em tribunal.
A simples inobservância dos prazos processuais pode deitar por terra, como sabemos, a mais
cuidada e bem delineada estratégia de defesa.

 ALGUNS PRINCÍPIOS QUE ENFORMAM O CPC

Lê-se no preâmbulo do Dec. Lei n.º 329-A/95, de 12 de Dezembro, que “os princípios
gerais estruturantes do processo civil, em qualquer das suas fases, deverão essencialmente
representar um desenvolvimento, concretização e densificação do princípio constitucional do
acesso à justiça”.

No âmbito do processo civil, vigoram, entre outros, os seguintes princípios:

Princípio da legalidade
A todo o direito, exceto quando a lei determine o contrário, corresponde a ação adequada
... – art.º 2.º n.º 2 –, o que pressupõe a existência de base legal que preveja tanto o
direito reivindicado como a respetiva ação.
Este princípio arrasta consigo o da adequação formal segundo o qual, quando a
tramitação processual prevista na lei não se adequar às especificidades da causa, deve o
juiz oficiosamente, ouvidas as partes, determinar a prática dos atos que melhor se
ajustem ao fim do processo, bem como as necessárias adaptações – art.ºs 265.º-A; 31.º,
n.º 3; 274.º, n.º 3 e 470.º.

Princípio do dispositivo

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O tribunal só intervém na resolução do litígio a pedido das partes, que, para o fim em
vista, alegam, no caso do autor, os factos que integram a causa de pedir e o réu os factos
em que suporta a defesa.

Com base nos factos alegados o juiz profere a sua decisão – art.ºs 3.º, n.º 1 e 264.º.

Princípio do contraditório
Segundo este princípio, as decisões dos tribunais devem ser precedidas de audição da
parte contrária, salvos os casos excecionais legalmente previstos – art.ºs 3.º, n.ºs 2 a 4 -
como acontece, por exemplo, nalguns procedimentos cautelares, em que as decisões são
tomadas sem prévia audiência da parte contrária, respeitando-se, no entanto, o princípio
do contraditório a posteriori - art.ºs 385.º, n.º 1; 394.º e 408.º, n.º 1.

Princípio da igualdade das partes


À luz dos art.ºs 13.º e 20.º da Constituição, que consagram, o primeiro, a igualdade de
tratamento dos cidadãos perante a lei, e o segundo, o livre acesso ao direito e aos
tribunais, não podendo ser denegada a justiça por insuficiência de meios económicos, este
princípio traduz-se na igualdade de tratamento de ambas as partes ao longo de todo o
processo, por parte do tribunal, nomeadamente ao nível do exercício de faculdades, no
uso de meios de defesa e na aplicação de cominações ou de sanções processuais – art.ºs
3.º-A, 265.º e 266.º.

Princípio do inquisitório
Como veremos mais adiante, a instância inicia-se com a propositura da ação, ou seja,
com a apresentação da petição, sem prejuízo da data a partir da qual produza os
correlativos efeitos.

Prevê o art.º 265.º o seguinte:

1 - Iniciada a instância, cumpre ao juiz, sem prejuízo do ónus de impulso especialmente imposto pela
lei às partes, providenciar pelo andamento regular e célere do processo, promovendo oficiosamente as
diligências necessárias ao normal prosseguimento da ação e recusando o que for impertinente ou
meramente dilatório.

2 - O juiz providenciará mesmo oficiosamente, pelo suprimento da falta de pressupostos processuais


suscetíveis de sanação, determinando a realização dos atos necessários à regularização da instância
ou, quando estiver em causa alguma modificação subjetiva da instância, convidando as partes a
praticá-los.

3 - Incumbe ao juiz realizar ou ordenar, mesmo oficiosamente, todas as diligências necessárias ao


apuramento da verdade e à justa composição do litígio, quanto aos factos de que lhe é lícito conhecer.

Esta norma permite-nos afirmar que, atualmente, raríssimos são os casos em que o
escrivão poderá oficiosamente (sem despacho do juiz) remeter à conta processos parados
há mais de três meses por inércia das partes.

A este princípio associa-se o já mencionado princípio da adequação formal.

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Princípio da preclusão
Significa que, ultrapassado certo momento ou certa fase processual, esgota-se o
direito facultado às partes destinado à prática de atos processuais – art.º 145.º, n.º 3.

Por exemplo, o decurso do prazo destinado ao oferecimento da contestação extingue


o direito de o réu fazê-lo posteriormente, salvos os casos excecionalmente previstos –
art.ºs 145.º, n.ºs 4 a 7 e 146.º.

Princípio da cooperação, da boa fé e da correção


Poderíamos designá-lo, grosso modo, como o princípio da ética.

Senão vejamos:

Na condução e intervenção no processo, devem os magistrados, os mandatários


judiciais e as próprias partes cooperação entre si, concorrendo para se obter, com
brevidade e eficácia, a justa composição do litígio – art.º 266.º, n.º 1.

As partes devem agir de boa fé e observar os deveres de cooperação resultantes do


preceituado no artigo anterior – art.º 266.º-A.

Todos os intervenientes no processo devem agir em conformidade com um dever de


recíproca correção, pautando-se as relações entre advogados e magistrados por um
especial dever de urbanidade – art.º 266.º-B, n.º 1.

Nenhuma das partes deve usar, nos seus escritos ou alegações orais, as expressões
desnecessárias ou injustificadamente ofensivas da honra ou do bom nome da outra, ou do
respeito devido às instituições - art.º 266.º-B, n.º 2.

Se ocorrerem justificados obstáculos ao início pontual das diligências, deve o juiz


comunicá-los aos advogados e a secretaria às partes e demais intervenientes processuais,
dentro dos trinta minutos subsequentes à hora designada para o seu início. A falta desta
comunicação implica a dispensa automática dos intervenientes processuais
comprovadamente presentes, constando obrigatoriamente da ata tal ocorrência.- art.º
266.º-B, n.ºs 3 e 4.1

1
Na sequência de várias queixas que se basearam na inobservância deste preceito, após recomendação do COJ este Centro de
Formação, hoje Divisão de Formação da DGAJ, publicou na Habilândia, no dia 27 de Fevereiro de 2006, a seguinte informação:

“Uma das funções que faz parte do quotidiano dos Oficiais de Justiça é a assistência aos Senhores Magistrados na
realização de diligências.
Quando estão marcadas várias diligências para o mesmo dia, os atrasos de umas diligências implicam os atrasos das que se
lhes seguirem.
Um dos princípios fundamentais e estruturantes do Código de Processo Civil é o da cooperação, consagrado nos art.ºs 266.º
(princípio da cooperação), 266.º-A (dever de boa fé processual) e 266.º-B (dever de recíproca correção).
Segundo o n.º 3 deste último dispositivo legal, "se ocorrerem justificados obstáculos ao início pontual das diligências, deve
o juiz comunicá-los aos advogados e a secretaria às partes e demais intervenientes processuais, dentro dos trinta minutos
subsequentes à hora designada para o seu início."

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Nas relações com os mandatários judiciais, devem os funcionários agir com especial
correção e urbanidade – art.º 161.º, n.º 3.

Princípio da economia processual


Aqui tem lugar a limitação dos atos processuais à forma que, nos termos mais simples,
melhor correspondam ao fim que visam atingir, sendo proibida a prática de atos inúteis,
aliás, incorrendo em responsabilidade disciplinar os funcionários que os praticarem – art.º
137.º e 138.º, n.º 1.

Por exemplo, a apensação de ações prevista no art.º 275.º, também cabe no âmbito
deste princípio.

Princípio da estabilidade da instância


Acha-se consagrado no art.º 268.º, segundo o qual, citado o réu, a instância deve
manter-se a mesma quanto às pessoas, ao pedido e à causa de pedir, salvas as
possibilidades de modificação consignadas na lei – cfr. art.ºs 268.º e seguintes.

 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

Noção:2 Pressupostos processuais são os elementos de cuja verificação depende o dever


de o juiz proferir decisão sobre o pedido formulado, concedendo ou indeferindo a providência
requerida. Trata-se das condições mínimas consideradas indispensáveis para, à partida,
garantir uma decisão idónea e uma decisão útil da causa.

Não se verificando algum desses requisitos, como a legitimidade das partes, a capacidade
judiciária de uma delas ou de ambas, o juiz terá, em princípio, que abster-se de apreciar a
procedência ou improcedência do pedido, por falta de um pressuposto essencial para o efeito.

Vamos agora estudar brevemente alguns destes pressupostos, nomeadamente aqueles que
requerem a intervenção do oficial de justiça.

***

Aos Oficiais de Justiça compete, entre outras funções, assegurar o expediente, autuação e regular tramitação dos
processos, no que dependem funcionalmente do juiz competente - art.ºs 6.º, n.º 3 do Estatuto dos Funcionários de Justiça e
161.º, n.º 1 do Código de Processo Civil.
Os Senhores Oficiais de Justiça não podem deixar de observar a regra de pontualidade do início dos atos a realizar em
juízo que está implícita no referido normativo, informando oportunamente - na linha das orientações que forem dadas pelos
Senhores Magistrados - os intervenientes processuais e mandatários judiciais afetados pelos atrasos, usando de correção e
urbanidade (cfr. art.º 161.º, n.º 3 do CPC).
A inobservância destes deveres pode trazer consequências de natureza disciplinar.”
2
Antunes Varela, J. Miguel Bezerra, Sampaio e Nora; Manual de Processo Civil, 2.ª edição, pg. 104.

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Personalidade judiciária e capacidade judiciária

A personalidade judiciária consiste na faculdade de ser parte e adquire-se no momento


do nascimento, com vida (art.ºs 5.º do CPC e 66.º do C. Civil).

A capacidade judiciária consiste na suscetibilidade de a parte estar, por si, em juízo,


tendo por base e por medida a capacidade do exercício de direitos – art.º 9.º.

Por exemplo, os menores têm personalidade judiciária, mas, no entanto, não têm
capacidade judiciária.

Os menores sujeitos ao poder paternal dos pais, enquanto réus, são citados nas pessoas
de ambos os pais (art.º 10.º do CPC.).

***

Competência do tribunal

Designa-se por competência do tribunal a medida do respetivo poder jurisdicional.3

A competência fixa-se no momento em que a ação se propõe, sendo irrelevantes as


modificações de facto que ocorram posteriormente, como também são irrelevantes as
modificações de direito, exceto se for suprimido o órgão a que a causa estava afeta ou lhe for
atribuída competência de que inicialmente carecesse para o conhecimento da causa (art.º
21.º da LOFTJ).

Os tribunais portugueses têm competência internacional e competência interna ou


nacional.

***

A Competência internacional

Sem prejuízo do que se ache estabelecido em tratados, convenções, regulamentos


comunitários e leis especiais, a competência internacional dos tribunais portugueses depende
da verificação das circunstâncias mencionadas no art.º 65.º (cfr. art.º 61.º) e têm
competência exclusiva para os processos constantes do art.º 65.º-A.

3
Poder Jurisdicional – Poder de julgar, de proferir uma decisão acerca de um litígio submetido pelas partes à apreciação do
órgão de jurisdição. “Proferida a sentença, fica imediatamente esgotado o poder jurisdicional do juiz quanto à matéria da
causa”, pelo que a partir daí, já só lhe é lícito “retificar erros materiais, suprir nulidades, esclarecer dúvidas existentes na
sentença e reformá-la quanto a custas e multa”, mas não alterar a decisão, ainda que venha a convencer-se de que ela não foi
a mais adequada ou a mais justa. O mesmo princípio se aplica, “até onde seja possível”, aos despachos. - Ana Prata,
Dicionário Jurídico, 3.ª edição, pág. 741.

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A Competência interna (art.º 62.º n.º 2) pode ser atribuída em razão:4

- da matéria

- do valor e da forma de processo aplicável

- da hierarquia

- do território

***

Competência em razão da matéria


São da competência dos tribunais judiciais as causas que não sejam atribuídas a outra
ordem jurisdicional –art.º 66.º do C.P.C. e art.º 18.º n.º 1 da L.O.F.T.J.5

Os Tribunais de competência específica encontram-se designados no art.º 96.º da


L.O.F.T.J. (Lei n.º 3/99, de 13/1).

Os tribunais de competência especializada encontram-se designados no art.º 78.º da


mesma lei (Cfr. por todos art.º 67.º C.P.C. e 18.º, n.º 2 da LOFTJ)

A infração das regras da competência em razão da matéria determina a incompetência


absoluta do tribunal.

A incompetência absoluta é uma exceção dilatória, que pode ser suscitada pelas partes
e deve ser conhecida oficiosamente pelo tribunal em qualquer momento do processo,
enquanto não houver sentença transitada em julgado sobre o mérito da causa (art.ºs 101.º a
107.º, 493.º, 494.º, al. a) e 495.º).

***

Competência em razão do valor e da forma de processo aplicável


Compete ao tribunal singular julgar os processos que não devam ser julgados pelo
tribunal coletivo. Compete ao tribunal coletivo julgar as questões de facto nas ações de valor
superior á alçada dos tribunais da Relação e nos incidentes e execuções que sigam os termos
do processo de declaração e excedam a referida alçada, sem prejuízo dos casos em que a lei
de processo exclua a sua intervenção ( art.ºs 104.º, n.º 2 e 106.º da LOFTJ e 68.º do C.P.C.).

4
Em casos excecionais atende-se também à qualidade do réu. Exemplo de ações em que a competência do tribunal é fixada em
função da qualidade do réu são as previstas no art.º 89.º: ações em que seja parte o juiz, seu cônjuge, descendente ou
ascendente.

5
Aprovada pela Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro (alterada pela Lei n.º 101/99, de 26 de Julho, pelo Decreto-Lei n.º 323/2001, de
17 de Dezembro, pelo Decreto-Lei n.º 38/2003, de 8 de Março, pela Lei n.º 105/2003, de 10 de Dezembro, pelo Decreto-Lei n.º
53/2004, de 18 de Março, e pela Lei n.º 42/2005, de 18 de Março).

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A LOFTJ estabelece quais as causas que, em razão da forma de processo aplicável,
competem aos tribunais de competência específica (art.º 69.º CPC – cfr. art.ºs 96.º a 102.º da
LOFTJ).

A infração das regras de competência do tribunal em razão do valor e da forma de


processo aplicável tem como consequência a incompetência relativa do tribunal e é sempre
de conhecimento oficioso , seja qual for a ação em que se suscite( art.ºs 108 e 110.º, n.º 2).

***

Competência em razão da hierarquia


Os tribunais judiciais encontram-se hierarquizados para efeitos de recurso das suas
decisões – art.º 19.º da LOFTJ.

As normas de competência em razão da hierarquia dizem respeito fundamentalmente a


recursos ordinários, a conflitos de competência e a ações de indemnização propostas contra
magistrados judiciais ou do Ministério Público, em virtude do exercício das suas funções.

De um modo geral, o princípio que norteia tais normas é o de que o recurso ordinário
deve ser interposto para o tribunal imediatamente superior àquele que proferiu a decisão
recorrida, sendo também o tribunal imediatamente superior àquele onde exercem funções o
competente para conhecer das ações de indemnização contra magistrados, e igualmente o
tribunal imediatamente superior ao tribunal ou tribunais em conflito que deve conhecer dos
respetivos conflitos de competência (art.ºs 70.º a 72.º e 116.º).

A infração das regras da competência em razão da hierarquia determina a incompetência


absoluta do tribunal, que pode ser suscitada pelas partes e deve ser conhecida oficiosamente
pelo tribunal em qualquer momento do processo, enquanto não houver sentença transitada
em julgado sobre o mérito da causa (art.ºs 101.º a 107.º, 493.º, 494.º, al. a) e 495.º)

***

Competência em razão do território


O art.º 21.º da LOFTJ dispõe que o Supremo Tribunal de Justiça tem competência em
todo o território, as Relações no respetivo distrito judicial e os tribunais de 1.ª instância
na área das respetivas circunscrições.

Os art.ºs 73.º a 95.º estabelecem quais os tribunais territorialmente competentes para a


propositura de ações, procedimentos cautelares, recursos, execuções e requerimento de
notificações judiciais avulsas.

A regra geral, quando a lei não determina especialmente em contrário, é a de que o


tribunal competente para a ação é o do domicílio do réu, e para a execução é o tribunal do
domicílio do executado, podendo o exequente optar pelo tribunal em que a obrigação deva
ser cumprida quando o executado seja pessoa coletiva ou quando, situando-se o domicílio do

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exequente na área metropolitana de Lisboa ou do Porto, o executado tenha domicílio na
mesma área metropolitana (art.ºs 85.º, n.º 1 e 94.º, n.º 1).6

A infração às regras da competência em razão do território determina a incompetência


relativa do tribunal que pode ser arguida pelo réu no prazo fixado para a contestação,
oposição ou resposta ou, quando a estas não haja lugar, para outro meio de defesa que tenha
a faculdade de deduzir, ou oficiosamente pelo tribunal nos casos previstos no art.º 110.º, n.º
1 (art.º 108.º e 109.º).

Julgada procedente a exceção e transitada a respetiva decisão, o processo é remetido


para o tribunal competente (art.º 111.º, n.º 3).

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PATROCÍNIO JUDICIÁRIO

A constituição de mandatário judicial é obrigatória nos casos previstos nos art.ºs 32.º e
60.º.

Com efeito, o conhecimento destas regras pelos oficiais de justiça assume particular
importância, na medida em que os réus, ao serem citados, deverão ser informados sobre a
obrigatoriedade ou não de patrocínio judiciário na ação respetiva – cfr. art.º 235.º.

Assim, é obrigatória a constituição de mandatário judicial nas seguintes situações:

 Nas causas de competência de tribunais com alçada em que seja admissível


recurso ordinário (v/art.º 24.º da Lei n.º 3/99, de 13-01, e art.º 678.º do CPC.);
 Nas causas em que, independentemente do valor, seja sempre admissível
recurso (por exemplo, na ação de despejo urbano – cfr. art.ºs 678.º, n.º 5 e

6
Cfr. Lei n.º 10/2003, de 13 de Maio.

A Grande Área Metropolitana de LISBOA integra os seguintes municípios: Alcochete, Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa,
Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Sesimbra, Setúbal, Seixal, Sintra e Vila Franca de Xira
(www.aml.pt).

A Grande Área Metropolitana do PORTO integra os seguintes municípios: Arouca, Espinho, Gondomar , Maia, Matosinhos, Porto,
Póvoa de Varzim, Santa Maria da Feira, Santo Tirso, S. João da Madeira, Trofa, Valongo, Vila do Conde e Vila Nova de Gaia
(www.amp.pt).
6
A sede da sociedade é o seu domicílio, sem prejuízo de no contrato se estipular domicílio particular para determinados
negócios – art.º 12.º, n.º 2 do Código das Sociedades Comerciais integralmente republicado com o Dec. Lei n.º 76-A/2006, de
29 de Março.

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692.º, n.º 2, alínea b)) com referência à Lei n.º 6/2006, de 27/2, que aprovou o
Novo Regime do Arrendamento Urbano;
 Nos recursos e nas causas interpostos nos tribunais superiores;
 Nas execuções
de valor superior à alçada da Relação;
de valor inferior mas excedente à alçada do tribunal de 1ª. Instância,
quando seja deduzida oposição à execução ou outro procedimento que
siga a forma declarativa (ou seja, enquanto não for deduzida oposição
não é obrigatória a constituição);
 Nas reclamações de créditos, quando seja reclamado crédito de valor superior
à alçada do tribunal de comarca e apenas para apreciação deste crédito.

Em matéria cível a alçada dos Tribunais da Relação é de € 30 000,00 e a dos tribunais


de 1.ª instância é de € 5000,00 para os processos iniciados a partir de 1 de Janeiro de 2008
(cfr. art.º 24.º - n.º 1 da Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro, na redação que lhe foi dada pelo art.º
5.º do Dec. Lei n.º 303/2007, de 24 de Agosto).

Nos casos de constituição obrigatória, não tendo a parte constituído advogado, deve ser
notificada para o constituir, em prazo a fixar pelo juiz, sob pena de o réu ser absolvido da
instância, de não ter seguimento o recurso ou de ficar sem efeito a defesa. Esta notificação
pode ser requerida pela parte contrária ou oficiosamente ordenada pelo juiz e deve conter
expressamente a cominação supra referida (art.º 33.º do CPC.).

Quando, no processo, seja requerida a renúncia ou a revogação de mandato, a secretaria,


independentemente de despacho, notifica o facto ao mandante (renúncia) ou ao mandatário
(revogação) e em qualquer dos casos, também, à parte contrária, com os efeitos daí
resultantes a produzirem-se somente a partir das notificações.

A renúncia é pessoalmente notificada ao mandante (cfr. art.ºs 39.º, n.º 2 e 256.º) e se


for obrigatória a constituição de mandatário, será aquele advertido de que a não constituição
de novo mandatário no prazo de 20 dias implicará a suspensão da instância, sendo autor, ou
o prosseguimento dos autos, no caso de ser réu, aproveitando-se, embora, os atos
anteriormente praticados pelo mandatário renunciante.

***

 DOS ATOS PROCESSUAIS

Enunciados os princípios fundamentais e tecidas breves considerações sobre os


pressupostos processuais, passemos ao “processo” propriamente dito.

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A palavra processo deriva da expressão latina “pro cedere”, que significa avançar,
progredir.
São conhecidos vários conceitos de processo e o que deles se apreende é que o processo,
além da expressão física que lhe é dada pelo sucessivo arquivamento dos documentos,
encerra em si mesmo todos os atos sucessivamente praticados pelas partes e pelo tribunal
desde a propositura da ação até à decisão judicial que aprecie, com força de caso julgado, a
pretensão regularmente deduzida em juízo (cfr. n.º 1 do art.º 2.º).
O oficial de justiça trabalha nos processos que lhe forem distribuídos (cfr. art.ºs 12.º
a 24.º do Dec. Lei n.º 186-A/99, de 31/05)7 sempre norteado por determinadas regras de
conduta, que deve observar para o bom desempenho e prestígio das suas funções,
nomeadamente:

 As secretarias judiciais asseguram o expediente, autuação e regular


tramitação dos processos pendentes, nos termos estabelecidos na respetiva
Lei Orgânica, em conformidade com a lei de processo e na dependência
funcional do magistrado competente – art.º 161.º, n.º 1.
 Os oficiais de justiça, no exercício das funções através das quais asseguram
o expediente, autuação e regular tramitação dos processos, dependem
funcionalmente do magistrado competente – art.º 6.º, n.º 3 do Estatuto dos
Funcionários de Justiça, aprovado pelo Dec. Lei n.º 343/99, de 26/08.
 Não praticar atos inúteis – para além de ser uma quebra da boa ordem
processual, ofende a economia e celeridade, podendo o oficial de justiça ser
condenado nas respetivas custas (art.ºs 137.º e 448.º, n.º 2 do CPC.);
 Os atos deverão ser redigidos em língua portuguesa e ter a forma que, nos
termos mais simples, melhor corresponda ao fim que visam atingir, devendo
o seu conteúdo ser claro e não deixar dúvidas quanto à sua autenticidade
(art.ºs 138.º e 139.º do CPC.);
 A tramitação eletrónica dos processos cíveis é efetuada nos termos da
Portaria n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro.
 A forma dos atos é determinada pela lei que vigore no momento da sua
prática, ao passo que a lei que vigore à data da propositura da ação
determina a forma do processo (art.º 142.º do CPC.);
 Praticar os atos oficiosos (nomeadamente, art.ºs 229.º, 234.º, 237.º, 239.º,
240.º, 241.º e segs. e 486.º-A, n.ºs 5 e 6 do CPC.);

7
É o diploma regulamentar da LOFTJ.

12
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 Não praticar atos judiciais nos dias em que os tribunais estiverem
encerrados, nem durante as férias judiciais, à exceção das citações,
notificações e daqueles que se destinem a evitar dano irreparável, bem
como os atos urgentes (art.º 143.º do CPC.).

Impedimentos

Por outro lado, o oficial de justiça encontra na própria lei - art.º 122.º, n.º 1, als. a),
b) e i), aplicável por força do n.º 2 do art.º 125.º do CPC. – impedimentos que lhe
vedam o exercício de funções em determinados processos, de modo a garantir a
imparcialidade e isenção na tramitação processual.

Sempre que tais situações se verifiquem o oficial de justiça que esteja investido em
lugar de chefia, deve fazer o processo concluso e declarar as razões do seu
impedimento para que o juiz dele tome conhecimento e, se for caso disso, designe
outro oficial de justiça para tramitar o processo (art.º 125.º, n.º 3 do CPC).

Propositura da ação

Importa agora saber em que momento se considera proposta a ação, atento o regime
regra e as seguintes situações excecionais:

- Pedido de apoio judiciário formulado antes da apresentação em juízo da


petição inicial (art.º 33.º, n.º 4 da Lei n.º 34/2004, de 29/07);
- Apresentação de nova petição inicial, em caso de recusa ou indeferimento
liminar (art.ºs 474.º , 234.º-A e 476.º);
- Precedência de procedimento cautelar relativamente à respetiva ação (art.º
385.º, n.º 7);

- Petição enviada por correio, por telecópia ou por correio eletrónico (art.º
150.º).
Assim, a ação considera-se proposta num dos seguintes momentos:

 Na data da apresentação da petição inicial consoante a modalidade (cfr. art.º


150.º):
o Da entrega pessoal na secretaria;
o Do registo postal, se enviada pelo correio;
o Da expedição por telecópia;

13
Manual de apoio ao ingresso - 2013
o Do envio por transmissão eletrónica de dados;
 No data da apresentação do pedido de nomeação de patrono na Segurança
Social – art.º 33.º, n.º 4 da Lei n.º 34/2004, de 29/07;
 Em caso de recusa e de apresentação de nova petição inicial, releva a data de
apresentação da primeira – art.º 476.º;
 Quanto às ações precedidas de procedimentos cautelares releva, em regra, a
data de apresentação do pedido da providência - cfr. art.º 385.º, n.º 7.

Contudo, tal como já referimos, apesar de iniciada a instância, a propositura da ação só


produz efeitos em relação ao réu a partir do momento da sua citação (art.º 267.º, n.º 2).

SUSPENSÃO DA INSTÂNCIA

Iniciada uma ação, ela poderá ser suspensa nos casos enumerados nos art.ºs 276.º e 279.º,
não podendo, no entanto, a suspensão por acordo das partes ir além de seis meses – art.º
279.º, n.º 4.

Ordenada a suspensão da instância, só podem ser praticados os atos urgentes destinados


a evitar dano irreparável, não obstando, no entanto, que a instância se extinga por
desistência, confissão ou transação, desde que não contrariada a razão da suspensão.

A suspensão da instância implica a suspensão dos prazos em curso, mas, nos casos de
falecimento ou de extinção de alguma das partes e de falecimento ou impossibilidade
absoluta do mandatário judicial, a suspensão inutiliza a parte do prazo já decorrida (art.º
283.º do CPC.).

Exemplo:

Admitamos que em determinada ação sumária e em consequência do falecimento do réu,


foi suspensa a instância quando haviam decorrido dez dias do prazo destinado à contestação.

Depois de julgados habilitados os respetivos sucessores, o prazo para a contestação, que


é de vinte dias, volta a correr de novo e por inteiro, após a notificação da decisão que os
considerou habilitados, não se descontando, pois, os 10 dias que haviam decorrido
anteriormente, em ordem a assegurar às pessoas que passaram a ocupar a posição do falecido
exercerem o direito de defesa que àquele estava reservado.

Prazos processuais

14
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Prazo processual é o período de tempo estipulado para se produzir um determinado
efeito e a sua função consiste em cadenciar e organizar no tempo os atos processuais, ou
seja, em regular a distância entre os diversos atos praticados no âmbito do processo.
Pressupõe-se necessariamente que já está proposta a ação, que já existe um determinado
processo, e destina-se ou a marcar o período dentro do qual há-de praticar-se um
determinado ato processual (prazo perentório), ou a fixar a duração de uma certa pausa ou
duma certa dilação que o processo tem de sofrer (prazo dilatório) (Prof. Alberto dos Reis no
Comentário II, págs. 57).

Esse prazo tanto é marcado por lei como pode ser fixado pelo juiz (art.º 144.º n.º 1).

Em todos os processos é necessário respeitar os prazos fixados por lei ou pelo juiz.

Os prazos processuais são marcados por lei ou fixados pelo juiz e a sua contagem
obedece à conjugação dos art.ºs 279.º e 296.º do Código Civil e 144.º do Código de Processo
Civil, determinando este último que os prazos são contínuos, interrompendo-se, no
entanto, durante as férias judiciais, exceto se forem iguais ou superiores a seis meses.

No mais, como se articulam estas normas?

Em tudo quanto não estiver expressamente previsto no art.º 144.º e no que tange ao
cômputo do termo dos prazos, aplicam-se as regras do art.º 279.º do Código Civil, por via
do art.º 296.º do mesmo Código.

o Modalidades de prazos processuais

Os prazos processuais são perentórios ou dilatórios - art.º 145.º, n.º 1 CPC.

Dilatório é o prazo que difere para certo momento a realização de um ato ou início da
contagem de um outro prazo (dilatório ou perentório).

Exemplo dum prazo dilatório é o vulgarmente designado “prazo dos éditos”, que tantas e
tantas vezes é referido no nosso meio profissional. Afixando-se editais e anúncios para citação
de certa pessoa para contestar uma ação no prazo de 15 dias, este prazo perentório não se
inicia com a publicação dos anúncios.

Se o prazo dilatório (o tal prazo dos éditos) for de 30 dias, este sim, inicia-se a partir da
data da publicação do último anúncio, logo seguido do prazo perentório de 15 dias, contando-
se como um único - art.º 148.º do CPC. Ou seja, o prazo de 15 dias para a parte contestar
(perentório) é “atirado” para momento imediatamente subsequente ao termo do prazo
dilatório de 30 dias.

15
Manual de apoio ao ingresso - 2013
O prazo perentório destina-se efetivamente à prática do ato processual e com a sua
extinção esgota-se o direito de a parte praticar o ato, salvos os casos previstos nos art.º 145.º
e 146.º do CPC.

O art.º 146.º prevê a possibilidade de a parte praticar o ato para além do limite do prazo
pré-fixado se o juiz reconhecer verificado o justo impedimento invocado pela parte.

Se o justo impedimento carece de requerimento da parte a invocá-lo, o mesmo se não


passa na situação prevista no art.º 145.º, em que se afigura como que uma prorrogação
automática do prazo perentório em curso, permitindo-se à parte a prática do ato, validado,
porém, com o pagamento duma multa, como veremos mais adiante.

Quando um prazo perentório é precedido de um dilatório, adicionam-


se ambos e contam-se como um único prazo - art.º 148.º CPC.

Cumulando-se dois ou mais prazos dilatórios na precedência de um


prazo perentório, aplica-se a mesma regra de contagem, ou seja, soma-se
todos os prazos para serem contados como prazo único - cfr. art.º 252.º-A
do Cód. Proc. Civil.

o Prorrogação de prazos

Como vimos, o prazo está delimitado a montante pela data da ocorrência do facto que
lhe dá início e a jusante pela data limite.

De notar que, se o prazo original for prorrogado, seja por acordo das partes nos termos
previstos no art.º 147.º do CPC, seja a pedido de uma das partes (cfr. por exemplo o art.º
486.º, n.º 5), o “prazo da prorrogação” acresce ao inicial e conta-se como um único reportado
ao início do prazo original.

Exemplo:

Se um prazo de 10 dias for


prorrogado por mais 10 dias, o prazo
final é de 20 dias contado a partir do
início do prazo inicial.

16
Manual de apoio ao ingresso - 2013
o Contagem dos prazos

Como já se disse atrás, os “prazos processuais” destinam-se à prática de “atos


processuais”, facto que torna indissociáveis estes dois elementos na perspetiva global da
tramitação processual, pelo que importa atentar nas disposições conjugadas dos art.ºs 143.º a
150.º do Cód. Proc. Civil, sem que, antes, se deva conhecer as regras contidas no art.º 279.º
do Código Civil para o cômputo dos prazos em geral, com aplicação estendida aos tribunais
pelo art.º 296.º do mesmo diploma.

DO CÓDIGO CIVIL

ARTIGO 296.º

(Contagem dos prazos)

As regras constantes do artigo 279.º são aplicáveis, na falta de


disposição especial em contrário, aos prazos e termos fixados por lei, pelos
tribunais ou por qualquer outra autoridade.

ARTIGO 279. º

(Cômputo do termo)

À fixação do termo são aplicáveis, em caso de dúvida, as seguintes


regras:

a)- Se o termo se referir ao princípio, meio ou fim do mês, entende-se


como tal, respetivamente, o primeiro dia, o dia 15 e o último dia do mês; se
for fixado no princípio, meio ou fim do ano, entende-se, respetivamente, o
primeiro dia do ano, o dia 30 de Junho e o dia 31 de Dezembro;

17
Manual de apoio ao ingresso - 2013
b)- Na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia, nem a hora, se o
prazo for de horas, em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa
a correr;

c)- O prazo fixado em semanas, meses ou anos, a contar de certa data,


termina às 24 horas do dia que corresponda, dentro da última semana, mês
ou ano, a essa data; mas, se no último mês não existir dia correspondente, o
prazo finda no último dia desse mês;

PRAZOS FIXADOS EM

SEMANAS MESES ANOS

terminam às 24,00 horas


do dia correspondente
dentro do/a último/a

semana mês ano

d)- É havido, respetivamente, como prazo de uma ou duas semanas o


designado por oito ou quinze dias, sendo havido como prazo de um ou dois
dias o designado por 24 ou 48 horas;

18
Manual de apoio ao ingresso - 2013
e)- O prazo que termine em domingo ou dia feriado transfere-se para o
primeiro dia útil; aos domingos e dias feriados são equiparadas as férias
judiciais, se o ato sujeito a prazo tiver de ser praticado em juízo 8.

***

o A continuidade dos prazos

Estabelece o art.º 144.º do CPC que os prazos processuais são contínuos e suspendem-se
nas férias judiciais9, à exceção dos que tiverem duração igual ou superior a 6 meses e dos que
se destinem à prática de atos em processos que a lei considere urgentes, como é caso das
ações cautelares comuns, a que faremos referência mais adiante.

SIM - Inferior a 6 meses

O prazo processual
suspende-se
nas férias judiciais

- Igual a 6 meses
NÃO - Superior a 6 meses
- Qualquer duração em processos urgentes

8
O disposto nesta alínea está refletido no n.º 2 do art.º 144.º do CPC em conjugação com o art.º 143.º n.ºs 1 e 2
do mesmo diploma.

9
As férias judiciais decorrem de 22 de Dezembro a 3 de Janeiro, do domingo de Ramos à segunda-feira de Páscoa
e de 16 de Julho a 31 de Agosto - art.º 12.º da Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro.

19
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Prazo geral das partes

Quando o prazo destinado à prática de atos processuais pelas partes não estiver
fixado por disposição legal ou por despacho judicial, ele tem-se por fixado em 10 dias
(art.º 153.º, n.º 1 do CPC.).

Expirado o prazo destinado à prática de ato processual, permite-se à parte o exercício


do direito processual em causa em qualquer dos primeiros três dias úteis seguintes, mediante
o pagamento imediato, de uma multa prevista no art.º 145.º, n.º 5.

Terminado o prazo inicialmente destinado à prática do ato, ele é automaticamente


prorrogado, ficando a validade do ato entretanto praticado num dos primeiros três dias úteis
apenas dependente do pagamento da multa devida, sem prejuízo da invocação do justo
impedimento nos termos do art.º 146.º.

Não sendo paga a multa devida, a secretaria toma a iniciativa de liquidá-la, desta feita,
de valor igual a 25% do valor da multa prevista no n.º 5 do art.º 145.º acrescida de 25%
deste valor, e notifica a parte para efetuar o pagamento voluntário da multa no prazo de 10
dias, para o que lhe envia as guias respetivas (n.º 6 do art.º 145.º), desde que se trate de ato
praticado por mandatário.

Se o ato for praticado diretamente pela parte, desde que a ação não seja de
constituição obrigatória de mandatário, tal pagamento só é devido após notificação efetuada
pela secretaria, para, no prazo de 10 dias, proceder ao pagamento da multa (n.º 7 do art.º
145.º).

Só o pagamento desta multa valida o ato assim praticado (de imediato ou em


alternativa no prazo indicado nas guias).

20
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Exemplo10:

LIQUIDAÇÃO

Responsável:
Processo: nº

VALOR (do processo ou parte dele)

TAXA DE JUSTIÇA INICIAL

- IGFEJ -
Multa
Pagamento imediato

Art. 145º, nº 5 CPC


1º 10% da taxa de justiça Máximo = 0,5 UC

IA

25% da taxa de justiça Máximo = 3 UC


D

3º 40% da taxa de justiça Máximo = 7 UC

Pagamento não efectuado

Art. 145º, nº 6 CPC (25% d e penalização so bre o valo r d a mult a)

Observação:

Atente-se o disposto na alínea b) do n.º 1 do art.º 150.º do CPC., no


que concerne às peças processuais que as partes remetem por
correio sob registo, caso em que, o ato é considerado praticado na
data da efetivação do respetivo registo postal.

Por tal motivo, afigura-se-nos que o processo não deve ser


impulsionado nos três dias seguintes ao termo do prazo, hiato
considerado como margem de segurança razoável em ordem a
prevenir a eventual receção na secretaria de qualquer articulado,
requerimento, alegações, etc. porventura tempestivamente
remetido pelas partes através dos serviços postais.

10
Com este exemplo pretende-se apenas ilustrar a liquidação da multa, sendo certo que o impresso tipo consta da aplicação
informática instalada nas secretarias.

21
Manual de apoio ao ingresso - 2013
A observar:

“...por forma a que a data do registo possa ser determinada,


solicita-se aos senhores funcionários que procedam sempre à
junção aos autos dos respetivos envelopes.” – extraído do ofício-
circular n.º 11, de 98/07/01 / GATJ.

Exemplo:

Numa ação sumaríssima com o valor de € 4.000,00, o réu apresentou a contestação no


1.º dia útil seguinte ao termo do prazo, pagando imediatamente a multa devida.

Tal multa, neste caso, teria o valor correspondente a 10% da taxa de justiça devida
pelo ato (10% x € 204,00), ou seja, € 20,40.

Se o réu não solicitasse as guias ou não pagasse a multa até ao 1.º dia útil posterior ao
da prática do ato, a secretaria, independentemente de despacho, notificá-lo-ia para, no
prazo de dez dias (art.º 28º do R.C.P.), pagar a multa acrescida de uma penalização de 25%
do valor da multa, tudo no valor de 25,50 (20,40+5,10), enviando-lhe, para o efeito, as
respetivas guias (Portaria n.º 419-A/2009 de 17 de Abril).

Não se praticam atos processuais nos dias em que os tribunais estiverem encerrados,
nem durante as férias judiciais, excetuados os casos de citação, notificação e atos que se
destinem a evitar dano irreparável – art.º 143.º, n.ºs 1 e 2.

Quando o prazo para a prática do ato processual terminar em dia em que os tribunais
estiverem encerrados, transfere-se o seu termo para o primeiro dia útil seguinte – art.º
144.º, n.º 2.

As secretarias funcionam nos dias úteis e no horário fixado no art.º 122.º da L.OF.T.J. e
mantêm-se encerradas nos sábados, domingos, feriados e tolerâncias de ponto.

Da conjugação dos preceitos atrás indicados resulta claramente que o ato processual
que se pretender praticar em qualquer dos três primeiros dias úteis subsequentes ao termo do
prazo a que se refere o n.º 5 do art.º 145.º, pode sê-lo após o decurso das férias judiciais,
uma vez que, excetuados os casos de urgência, cujos prazos correm também em férias, não
se praticam atos processuais durante as férias judiciais.

22
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Ilustremos com o seguinte caso prático:

O prazo para o réu apresentar a sua contestação termina no dia 13/7/2012 (sexta-
feira-último dia útil antes das férias judicias).

Pode apresentar a contestação nos dias:

 3/9/2012 (2.ª Feira), 1.º dia útil após o termo do prazo (após férias) .
 4/9/2012, (3.ª feira) 2.º dia útil após o termo do prazo.
 5/9/2012 (4.ªfeira), 3.º dia útil após o termo do prazo.
Sempre mediante o pagamento das multas previstas nos n.ºs 5 e 6 do art.º 145.º.

 ATOS EM GERAL

ATOS DAS PARTES

o ENTREGA OU REMESSA A JUÍZO DAS PEÇAS PROCESSUAIS – ART.º 150.º

Com as alterações produzidas nos artigos 150.º e 152.º, pelo Decreto-Lei n.º
303/2007, de 24 de Agosto, a apresentação dos atos processuais podem ser efetuadas em
juízo, por uma das seguintes formas:

Art.º150.º Forma de apresentação Data da prática do ato

A Entrega (direta) na secretaria Da entrega

B Remessa por correio registado Do registo postal (carimbo)

C Telecópia Da expedição

Transmissão eletrónica de
D Da expedição
dados

 ENTREGA NA SECRETARIA

 REMESSA POR CORREIO REGISTADO

23
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Quanto a estas duas formas de entrega das peças processuais, nada há a registar que
possamos considerar como novidade, exceto no que diz respeito à abolição da expressa
referência à exigência da prova da identidade dos apresentantes não conhecidos em tribunal
(cfr. art.º 150.º n.º 1, alínea a)).11
A petição inicial deve ser recusada se, no ato da entrega (diretamente na secretaria ou
através da via postal), não se mostrar acompanhada do comprovativo do prévio pagamento da
taxa de justiça inicial ou da concessão do benefício do apoio judiciário ou ainda do
comprovativo da apresentação do pedido do apoio judiciário (somente nos casos
expressamente consignados no n.º 4 do art.º 467.º) - art.º 474.º, al.ª f).
Se o documento em falta for o comprovativo do pagamento da taxa de justiça inicial, o
autor poderá apresentar o documento em falta no prazo de dez dias a contar da recusa de
recebimento (art.º 476.º) ou, no caso de a falta ser detetada antes da distribuição, da recusa
de distribuição (art.º 213.º, n.º 2) ou ainda, no caso de haver reclamação para o juiz do ato
de recusa, da notificação do despacho judicial que confirmar a recusa de recebimento por
parte da secretaria.
As peças processuais e documentos apresentados pelas partes desta forma são
incorporados no respetivo processo físico.

 TELECÓPIA

De acordo com a versão anterior do n.º 3 do art.º 150.º, as partes que praticassem os atos
processuais por meio de telecópia deveriam enviar ao tribunal, no prazo de cinco dias, o
respetivo original e bem assim os documentos que não tivessem sido enviados, fixando-se, no
entanto, em dez dias o prazo para apresentação do comprovativo do pagamento da taxa de
justiça ou da concessão do apoio judiciário, naturalmente, sem prejuízo das regras próprias
da petição inicial.

Ora, o desaparecimento de especial referência à telecópia nos preceitos do Código de


Processo Civil alterados pelo Decreto-Lei n.º 324/2003 reintroduziu, quase na plenitude, o
regime da telecópia instituído nos tribunais por via do Decreto-Lei n.º 28/92, de 27 de
Fevereiro, cujos artigos 2.º e 4.º, para maior comodidade do leitor, se transcrevem a seguir:

11
Redação anterior ao D.L. n.º 324/2003, de 27/12: “Art.º 150.º, n.º 2, al. a) – “Entregues na secretaria judicial, sendo exigida a
prova da identidade dos apresentantes não conhecidos em tribunal e, a solicitação destes, passado recibo de entrega”.

24
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Artigo 2.º

Recurso à telecópia na prática de atos

das partes ou intervenientes processuais

1. As partes ou intervenientes no processo e respetivos mandatários podem utilizar, para a


prática de quaisquer atos processuais:
a) Serviço público e telecópia;
b) Equipamento de telecópia do advogado ou solicitador, constante da lista a que se
refere o número seguinte.
2. A Ordem dos Advogados e a Câmara dos Solicitadores organizarão listas oficiais dos
advogados que pretendam utilizar, na comunicação e receção das mensagens com os serviços
judiciais, telecópia, donde constarão os respetivos números.
3. A Ordem dos Advogados e a Câmara dos Solicitadores remeterão as listas referidas no
número anterior à Direcção-Geral dos Serviços Judiciários, que as fará circular por todos os
tribunais.
4. A Direcção-Geral dos Serviços Judiciários informará a Ordem dos Advogados e a Câmara
dos Solicitadores da remessa aos tribunais das listas a que se referem os números anteriores.

Artigo 4.º

Força probatória

1. As telecópias dos articulados, alegações, requerimentos e respostas, assinados pelo


advogado ou solicitador, os respetivos duplicados e os demais documentos que os acompanhem,
quando provenientes do aparelho com o número constante da lista oficial, presumem-se
verdadeiros e exatos, salvo prova em contrário.
2. Tratando-se de atos praticados através do serviço público de telecópia, aplica-se o disposto
no artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 54/90, de 13 de Fevereiro.
3. Os originais dos articulados, bem como quaisquer documentos autênticos ou autenticados12
apresentados pela parte, devem ser remetidos ou entregues na secretaria judicial no prazo de
sete dias (atualmente são 10 dias)13 contado do envio por telecópia, incorporando-se nos próprios
autos.

12
Artigo 363.º do Código Civil - Modalidades dos documentos escritos - 1 ... 2 - Autênticos são os documentos exarados, com as
formalidades legais, pelas autoridades públicas nos limites da sua competência ou, dentro do círculo de atividades que lhe é
atribuído, pelo notário ou outro oficial público provido de fé pública; todos os outros documentos são particulares. 3 - Os
documentos particulares são havidos por autenticados, quando confirmados pelas partes, perante notário, nos termos
prescritos nas leis notariais. Cfr. tb. art.º 35.º do Código do Notariado - "Espécies de documentos".
13
Determina o artigo 6.º do Dec. Lei n.º 329-A/95, de 12 de Dezembro, na redação dada pelo art.º 4.º do Dec. Lei n.º 180/96, de
25 de Setembro, que os prazos de natureza processual estabelecidos em quaisquer diplomas a que seja subsidiariamente
aplicável o disposto no art.º 144.º do Código de Processo Civil consideram-se adaptados à regra da continuidade, pelo que, em
tais circunstâncias, o prazo de sete dias fixado nesta disposição passou a ser de 10 dias.

Este regime estendeu-se ao processo penal a partir de 01/01/1999, data em que entrou em vigor a Lei n.º 59/98, de
25/08, cujo art.º 8.º al. a) revogou o n.º 3 do art.º 6.º do citado DL 329-A/95.

25
Manual de apoio ao ingresso - 2013
4. Incumbe às partes conservarem até ao trânsito em julgado da decisão os originais de
quaisquer outras peças processuais ou documentos remetidos por telecópia, podendo o juiz, a
todo o tempo, determinar a respetiva apresentação.
5. Não aproveita à parte o ato praticado através de telecópia quando aquela, apesar de
notificada para exibir os originais, o não fizer, inviabilizando culposamente a incorporação nos
autos ou o confronto a que alude o artigo 385.º do código Civil.
6. A data que figura na telecópia recebida no tribunal fixa, até prova em contrário, o dia e
hora14 em que a mensagem foi efetivamente recebida na secretaria judicial.

Por conseguinte, quando as partes praticarem atos processuais por meio de telecópia,
devem apresentar no tribunal, no prazo de 10 dias a contar do envio da telecópia, apenas os
originais das peças que sejam “articulados” (petição inicial, contestação, resposta ou réplica,
tréplica, articulado superveniente) e bem assim dos “documentos autênticos ou
autenticados” (cfr. art.ºs 363.º e seguintes do Código Civil), incorporando-se nos autos.

Quanto às demais peças processuais e documentos particulares que as devam acompanhar


(ex. alegações, requerimentos), incumbe às partes conservarem em seu poder os respetivos

O mesmo aconteceu com os processos regulados pelo CPEREF, visto que o n.º 2 do seu art.º 14.º foi alterado pelo Dec. Lei n.º
315/98, de 20 de Outubro.
14
Artigo 143.º, n.º 4 do Código de Processo Civil – “As partes podem praticar os atos processuais através de telecópia ou por
correio eletrónico, em qualquer dia e independentemente da hora da abertura e do encerramento dos tribunais.”

Artigo 122.º da Lei n.º 3/99, de 13/01 (LEI DA ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS TRIBUNAIS) - Horário de
funcionamento - 1- As secretarias funcionam, nos dias úteis, das 9 às 12 horas e 30 minutos e das 13 horas e 30 minutos às 17
horas. 2- O disposto no número anterior não prejudica a instituição, por despacho do ministro da Justiça, de horário contínuo.
3- As secretarias encerram ao público uma hora antes do termo do horário diário. 4- As secretarias funcionam igualmente aos
sábados e feriados que não recaiam em domingo, quando seja necessário assegurar serviço urgente, em especial o previsto no
Código de Processo Penal e na Organização Tutelar de Menores.

Artigo 125.º da mesma Lei - Registo de peças processuais e processos - 1 - As peças processuais e os processos
apresentados nas secretarias são registados em livros próprios. - 2 - O diretor-geral dos Serviços Judiciários pode determinar a
substituição dos diversos livros por suportes informáticos. - 3 - Depois de registados, as peças processuais e os processos só
podem sair da secretaria nos casos expressamente previstos na lei e mediante as formalidades por ela estabelecidas,
cobrando-se recibo e averbando-se a saída. - 4 - Será incentivado o uso de meios eletrónicos para transmissão e tratamento
de documentos judiciais, e para a sua divulgação, nos termos da lei, junto dos cidadãos.

Artigo 28.º do Dec. Lei n.º 186-A/99, de 31 de Maio (diploma regulamentar da Lei n.º 3/99) - Registo de entradas - O
registo de entrada de qualquer documento fixa a data da sua entrada nos serviços. Sempre que os interessados o solicitarem, é
passado recibo no duplicado do papel apresentado, e, no caso de denúncia, certificado do registo, nos termos da lei de
processo. Diariamente, à hora de encerramento dos serviços, o livro de registo de entrada é encerrado pelo funcionário que
chefiar a secretaria, com um traço e rubricado no fim do último registo. No caso de utilização de aplicação informática, esta
deve impedir qualquer registo depois de efetuado o seu encerramento; aplicam-se às listagens informáticas os procedimentos
previstos no número anterior.

26
Manual de apoio ao ingresso - 2013
originais até ao trânsito em julgado da decisão final, podendo o juiz, a todo o tempo,
determinar a respetiva apresentação (cfr. n.ºs 3 a 5 do citado art.º 4.º do Dec. Lei n.º 28/92).

Tratando-se de petição inicial enviada por telecópia, importa, antes de mais, verificar
se ela passa no crivo do art.º 474.º (recusa de recebimento) e se tal acontecer, isto é, se não
houver motivo de recusa, afigura-se-nos que a ausência dos originais não obsta à distribuição
da petição inicial recebida, independentemente do original, tendo em conta a presunção da
fidedignidade das telecópias reconhecida pelo n.º 1 do art.º 4.º do Dec. Lei n.º 28/92.

 TRANSMISSÃO ELETRÓNICA DE DADOS

O Decreto-Lei 303/2007, de 24 de Agosto, e a Portaria n.º 114/2208, de 6 de Fevereiro,


trouxeram um conjunto de medidas de enquadramento legal para o uso corrente dos meios
eletrónicos nos tribunais, tendo no horizonte próximo a completa desmaterialização do
processo.
Assim, permite-se às partes representadas por advogados e solicitadores que apresentem
as peças processuais e documentos por transmissão de dados, através do sistema Citius e a
partir do endereço eletrónico http://citius.tribunaisnet.mj.pt (cfr. art.º 4.º da Portaria),
ficando as partes dispensadas da entrega das mesmas em suporte de papel. Esta forma de
envio por transmissão eletrónica de dados, veio substituir, definitivamente, o correio
eletrónico como meio de entrega de peças processuais.

A apresentação faz-se através do preenchimento de formulários eletrónicos e que


permite a anexação de ficheiros (cfr. art.º 4.º da Portaria), nomeadamente, documentos em
formato “pdf”, dispensando-se a posterior remessa dos originais ao tribunal, tudo isto, sem
prejuízo de o juiz solicitar a exibição das peças processuais em suporte de papel e dos
originais dos documentos juntos pelas partes que previamente procederam ao envio através
de transmissão eletrónica de dados (cfr. art.º 3.º, n.º 2 da Portaria).

Em obediência ao disposto no n.º 4 do art.º 467.º CPC e no n.º 2 do art.º 8.º da


Portaria, a parte que enviar a petição inicial por transmissão eletrónica de dados, deverá
proceder da mesma forma à apresentação do comprovativo do prévio pagamento da taxa de
justiça ou da concessão do benefício do apoio judiciário ou somente do pedido deste
benefício nos casos previstos no n.º 5 do art.º 467.º.

o Documentos

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Manual de apoio ao ingresso - 2013
Não procedendo a parte à entrega de articulados através de transmissão eletrónica de
dados, deve a mesma apresentar os documentos acompanhados dos duplicados e cópias
exigidas pelo n.º 2 do art.º 152.º. Se o não fizer, é oficiosamente notificada pela secretaria
para apresentá-los no prazo de dois dias e pagar a multa fixada na primeira parte do n.º 5 do
artigo 145.º, multa esta que não pode exceder 1 UC. Se a parte notificada não cumprir, é
oficiosamente extraída certidão dos elementos em falta, recaindo sobre a parte o ónus de
pagar, além do respetivo custo, a multa mais elevada prevista no n.º 5 do artigo 145.º, tal
como determina o n.º 3 do art.º 152.º.

o Dispensa de duplicados e cópias

A parte que proceder à apresentação da peça processual (articulados, alegações,


requerimentos, respostas) através de transmissão eletrónica de dados fica dispensada de
oferecer os duplicados e cópias destinados às partes contrárias e ao tribunal, bem como as
cópias dos documentos, incumbindo à secretaria extrair os exemplares que se mostrarem
necessários, designadamente para as citações e notificações a efetuar, exceto nos casos em
que estas se possam efetuar por meios eletrónicos.

Petição inicial

Sendo a petição inicial entregue diretamente na secretaria judicial, remetida via postal
sob registo ou enviada através de telecópia, a falta do comprovativo do pagamento prévio da
taxa de justiça inicial ou da concessão do pedido de apoio judiciário ou ainda, nos casos
previstos no n.º 4 do art.º 467.º, do pedido de apoio judiciário, constitui fundamento de
recusa nos termos da al.ª f) do art.º 474.º.

Sendo a petição enviada através de transmissão eletrónica de dados, a falta do


documento comprovativo do pagamento prévio da taxa de justiça não constitui fundamento
de recusa e não obsta a que se submeta à distribuição, aguardando-se por cinco dias a
apresentação em suporte físico nos termos do n.º 4 do art.º 10.º da Portaria, após o que, caso
se mantenha a falta, os autos seguirão conclusos para ser ordenado o desentranhamento do
articulado.

Se o documento em falta for o da concessão do apoio judiciário ou, nos casos previstos no
n.º 4 do art.º 467.º, do pedido de concessão de apoio judiciário, o procedimento será
idêntico.

Tratando-se de outro articulado que não a petição, não há lugar a desentranhamento mas
sim às sanções previstas nos artigos 486.º-A, 512.º-B e 685.º-D do CPC.

28
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Resumo:

Consequências da falta de pagamento da taxa de justiça inicial pelo autor

Entrega direta
Recusa da petição inicial – art.º 474.º al.ª f).
Via postal registada

Recebimento;

distribuição (desde que o comprovativo da taxa tenha


sido transmitido por Telecópia - artigo 4.º, n.º 1 do
Telecópia Decreto-Lei n.º 28/92, de 27 de Fevereiro);

Aguarda 10 dias (a contar da emissão da telecópia)


pelos originais (artigo 4.º, n.º 3 do Decreto-Lei n.º
28/92).

Transmissão Recebimento e distribuição automática*.


eletrónica de dados

* Se a petição der início a processo que deva correr por apenso, não há lugar a
distribuição.
Como atrás se referiu, ressalvam-se os casos em que não há distribuição, tais como
processos ou incidentes instaurados por apenso, procedimentos cautelares ou ainda a
citação urgente prevista no art.º 478.º.15

15
Nos casos em que não há lugar à distribuição, os papéis são averbados nos termos constantes do Estatuto Judiciário (Dec. Lei
n.º 44.278, de 14/04/1962) que, apesar de revogado, ainda se mantém como única fonte justificadora, como acontece com as
normas a seguir descritas.

“Art.º 311.º, 1. O averbamento dos papéis é feito logo após a sua apresentação e registo, e por escala, de modo que cada
escrivão e oficial de diligências recebam um só papel da mesma espécie, até que todos estejam preenchidos.

2. São averbados aos oficiais de diligências as citações e notificações avulsas ou por deprecada, outras comunicações
equivalentes e quaisquer atos da sua competência. Os demais papéis não sujeitos a distribuição serão averbados aos escrivães.

29
Manual de apoio ao ingresso - 2013
o OMISSÃO DE DUPLICADOS E CÓPIAS - art.º 152.º do CPC

Por cada articulado, requerimento, alegação ou documento apresentado deve a parte


apresentar tantos duplicados e/ou cópias (dos documentos)16 quantos os interessados
oponentes que vivam em economia separada, salvo se forem representados pelo mesmo
mandatário, e ainda uma cópia para o tribunal quando se trate de articulados (conceito
definido no art.º 151.º).

Sendo notada a falta de algum duplicado ou cópia, a secretaria notifica oficiosamente a


parte respetiva para, no prazo de dois dias, suprir a falta e pagar (imediatamente) a multa
fixada na alínea a) do n.º 5 do art.º 145.º (10% da taxa de justiça correspondente ao processo
ou ato, certo que limitada ao máximo de 1/2 UC).

Esta multa é paga imediatamente, no momento da apresentação dos elementos em falta,


muito embora a apresentação possa ter lugar por telecópia, através do correio ou ainda por
transmissão eletrónica de dados.

Acautelando a possibilidade do envio ser feito pelo correio e para evitar a prática de atos
inúteis, sugere-se que se aguarde por cinco dias a contar do terceiro dia útil após a
notificação postal (art.º 254.º, n.º 3) a receção do expediente eventualmente enviado pela
parte, por via postal, com base no seguinte raciocínio:

* 2 dias - prazo fixado - art.º 152.º, n.º 3;

* 3 dias - razoável margem de segurança que previne a receção de expediente


eventual e tempestivamente remetido através do correio.

Se os elementos em falta forem apresentados para além do prazo estipulado no n.º 3 do


art.º 152.º, não se aplica a regra prevista no art.º 145.º, visto que a segunda parte do citado
n.º 3 prevê sanção diversa para o caso de incumprimento, qual seja a de a parte respetiva
suportar os custos inerentes à certidão a extrair como veremos em seguida.

Praticado o ato em qualquer dos dois dias úteis, se, no momento da receção, não forem
solicitadas guias para pagamento imediato da multa, a secção liquida-a e notifica a parte

3. Efetuadas as diligências respeitantes aos papéis que lhes hajam sido averbados, os oficiais de diligências entregá-los-ão ao
chefe da secretaria para serem devolvidos ou restituídos depois de pagas as custas, quando devidas. A devolução ou restituição
é comunicada, nas comarcas de Lisboa e Porto, ao secretário-geral, a fim de ser anotada.

Art.º 312.º Os apensos dos processos judiciais têm sempre o número de entrada do processo principal na respetiva secção, mas
serão diferenciados por letras.”
16
Note-se que não estão sujeitas à apresentação de duplicados as peças apresentadas através de correio eletrónico ou outro
meio de transmissão eletrónica de dados, nos termos do n.º. 7 do art.º 152.º, casos em que a secretaria imprimirá os exemplares
necessários.

30
Manual de apoio ao ingresso - 2013
para proceder ao pagamento respetivo no prazo de 10 dias, enviando-lhe as respetivas guias
(art.º 28º do R.C.P. e Portaria n.º 419-A/2009, de 17/04).

ATOS DOS MAGISTRADOS

A manutenção da ordem nos atos judiciais é da competência do magistrado que a ele


presida- art.º 154.º.

A lei fundamental, enunciando o princípio da tutela jurisdicional efetiva, prevê que todos
os cidadãos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objeto de decisão em
prazo razoável e mediante processo equitativo – art.º 20.º, n.º 4 do C.R.P..

A lei estabelece, também, o princípio fundamental do dever de administração da justiça


por parte dos juízes – cfr. art.ºs 8.º do Código Civil e 156.º, n.º 1 do CPC. Estes não podem
recusar-se a cumprir essa função a pretexto de falta ou obscuridade da lei, sua injustiça ou
imoralidade, ou ainda a pretexto de dúvida insanável sobre os factos em litígio.

O não cumprimento deste dever implica a chamada denegação de justiça que pode dar
lugar a responsabilidade criminal e civil e, ainda, a responsabilidade disciplinar.

Os atos dos juízes podem ser classificados como:

 DESPACHOS: de mero expediente, discricionários e vinculados.


 SENTENÇAS: juiz singular.
 ACÓRDÃOS: tribunal coletivo.

DESPACHOS:

Despachos de mero expediente são os que o juiz profere para prover ao andamento
regular do processo sem interferirem no conflito de interesses entre as partes, tal como o
despacho que marca dia e hora para a audiência de julgamento – art.º 156.º, n.º4.17

Não envolvem decisões sobre direitos ou poderes processuais, não carecem de


fundamentação, devem ser proferidos no prazo máximo de 2 dias (art.º 160.º, n.º 2) e são
irrecorríveis (art.º 679.º).

17
Exemplo: despacho que designa dia para a conferência de interessados – Ac. STJ de 25/11/1975 in BMJ 251-252.

31
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Despachos proferidos no uso legal do poder discricionário são os proferidos pelo juiz,
no uso legal do seu prudente arbítrio (art.º 156.º, n.º 4).18

Devem ser proferidos no prazo de dois dias e são irrecorríveis (art.ºs 160.º, n.º 2 e 679.º).

Despachos vinculados são proferidos em obediência a um comando legal, dentro dos


limites impostos pela lei, pelo que devem ser fundamentados, com base na lei a que estão
vinculados.

Devem ser proferidos no prazo de 10 dias, na falta de disposição especial e podem ser ou
não passíveis de recurso consoante a matéria que versem e o valor da ação, incidente ou
recurso em que se enquadrem – art.º 160.º, n.º 1

SENTENÇAS E ACÓRDÃOS

As sentenças e acórdãos distinguem-se, entre si, porque a sentença é proferida pelo juiz
singular e o acórdão é proveniente de um tribunal coletivo.

As sentenças são os atos processuais pelos quais o juiz decide a causa principal ou um
incidente do processo que apresente a estrutura de uma causa regulada pelo direito
substantivo, conforme dispõe o art.º 156.º, n.º 2.

Todas as decisões que conheçam do mérito da causa são sentenças, quer o juiz o conheça
no despacho saneador (art.º 510.º, n.º 1, al. b)) ou na sentença final (art.º 660.º n.º 2).

São igualmente sentenças as decisões em que, mesmo não decidindo sobre o mérito da
causa, o juiz absolve o réu da instância (art.º 660.º n.º 1), bem como as que homologuem
desistências, confissões ou transações (art.º 300.º, n.º 3), e julguem incidentes com estrutura
de ação.

As decisões judiciais são datadas e assinadas pelo juiz, sendo as sentenças e acórdãos
registados em livro especial – art.º 157.º, n.ºs 1 e 4.

Os atos processuais presididos pelo juiz são documentados em ata, sendo aí


reproduzidos os despachos e sentenças proferidos oralmente, incumbindo a sua redação ao
funcionário judicial, sob direção do magistrado – art.ºs 157.º, n.º3 e 159.º, n.ºs 1 e 2.

18
Exemplos: despacho que ordena a notificação das partes para suprirem irregularidades dos seus articulados as
insuficiências ou imprecisões na exposição ou concretização da matéria de facto alegada (art.º 508.º, n.ºs 2 e 3)
ou o despacho do relator a convidar as partes a aperfeiçoar as conclusões das respetivas alegações (art.º 700.º,
n.º 1-b).

32
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Os atos do Magistrado do Ministério Público designam-se por promoções, que são
submetidas a despacho do juiz - art.º 160.º.

Nos termos do disposto no art.º 155.º o juiz deve providenciar pela marcação das datas
de diligências mediante prévio acordo com os mandatários judiciais que devam comparecer,
para o que pode encarregar a secretaria de realizar de forma expedita os contactos prévios
necessários (via telefónica, fax, correio eletrónico, etc.).
Quando a marcação não possa ser feita com o prévio acordo dos mandatários judiciais,
devem estes, se impedidos noutro serviço judicial já marcado, comunicar o facto ao tribunal,
no prazo de 5 dias, propondo datas alternativas, datas estas que deverão ser sugeridas após
contacto com os restantes mandatários interessados.
Uma vez que o juiz pode alterar a data inicialmente fixada, o despacho que designa dia
para a diligência é necessariamente cumprido a dois tempos, apenas se procedendo à
notificação dos demais intervenientes após o decurso do prazo de 5 dias atrás referido, ou
seja, depois de definitivamente fixada a data.
Apenas podem ver adiada a audiência de julgamento os advogados que faltarem no dia e
hora designados, quando o juiz não tiver providenciado pela marcação mediante acordo
prévio nos termos do art.º 155.º, n.º1, ou quando os advogados tenham comunicado ao
tribunal a impossibilidade de comparência nos termos do n.º 5 do mesmo normativo – art.º
651.º, n.º 1, al. c) e d).

***

ATOS DA SECRETARIA

As secretarias judiciais asseguram o expediente, autuação e regular tramitação dos


processos pendentes, em conformidade com as leis de processo e na dependência funcional
do magistrado competente - art.ºs 119.º da Lei n.º 3/99, de 13/01; 6.º, n.º 3 do EFJ (aprovado
pelo DL 343/99, na redação dada pelo art.º 1.º do Dec. Lei n.º 96/2002, de 12/04) e 161.º, n.º
1 do CPC.
Incumbe-lhe, pois, realizar oficiosamente as diligências necessárias para que o fim
dos despachos possa ser prontamente alcançado (art.º 161.º, n.ºs. 1 e 2).

33
Manual de apoio ao ingresso - 2013
É proibida a prática de atos inúteis – para além de quebrar a boa ordem processual,
ofendem os princípios da economia e da celeridade processual, podendo implicar a
responsabilização do oficial de justiça no pagamento de custas (art.ºs 137.º e 448.º, n.º 2);
Os atos processuais devem ser redigidos em língua portuguesa e ter a forma que,
nos termos mais simples, melhor correspondam ao fim que visam atingir, devendo o seu
conteúdo ser claro e não deixar dúvidas quanto à sua autenticidade (art.ºs 139.º e 138.º);
A forma dos atos é determinada pela lei que vigore no momento da sua prática
(art.º 142.º);
A forma do processo é determinada pela lei que vigorar à data da propositura da
ação (art.º 142.º);
Há atos que são praticados oficiosamente, ou seja, independentemente de
despacho a ordená-los (ex. cfr. art.º 229.º do CPC);
Não se praticam atos judiciais nos dias em que os tribunais estiverem encerrados,
nem durante as férias judiciais, à exceção das citações, notificações e daqueles que se
destinem a evitar dano irreparável, bem como os atos urgentes (art.º 143.º do CPC.);
Nas relações com os mandatários judiciais os oficiais de justiça agirão com especial
correção e urbanidade (art.º 161.º, n.º 3), prestando às partes interessadas, seus
representantes ou mandatários judiciais ou aos funcionários destes, devidamente
credenciados, informações precisas acerca dos processos pendentes (art.º 167.º, n.º 3).
Os autos e termos são, em regra, lavrados na secretaria e deles constarão a data e
o lugar da prática do ato e dos demais elementos essenciais (art.º 163.º, n.º 1).
Os espaços em branco devem ser inutilizados e as emendas, rasuras ou
entrelinhas devem ser devidamente ressalvadas, sendo que a ressalva de números rasurados
é acompanhada da escrita por extenso (art.ºs 138.º, n.º 4 e 163.º, n.º 2).
Os atos processuais da secretaria são, por via de regra, praticados no sistema de
gestão processual – art.º 138.º-A CPC e Portaria n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro.

Nota:
Dos atos dos funcionários da secretaria judicial é sempre
admissível reclamação para o juiz de que aquela depende
funcionalmente – art.º 161.º, n.ºs 1 e 5;
Os erros e omissões praticados pela secretaria judicial não
podem, em qualquer caso, prejudicar as partes – art.º 161.º,
n.º 6.

34
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Os oficiais de justiça devem assinar os autos e termos que elaborem, juntamente com as
demais pessoas referidas no art.º 164.º, exceção a esta norma, ocorre sempre que os atos
sejam praticados por meios eletrónicos e estes atos abranjam uma comunicação interna, a
remessa do processo ao Juiz, ao Ministério Público, outra secretaria ou secção do mesmo
tribunal (art.º 19.º, n.º 1 da Portaria).

Para além disso, devem rubricar as folhas que não contenham a sua assinatura, salvo
os atos praticados por meios eletrónicos (art.º 165.º).

As partes e seus mandatários têm o direito de rubricar quaisquer folhas do processo físico
(art.º 165.º, n.º 2).

o Prazos para o expediente – art.º 166.º

No prazo de 5 dias são praticados os atos respeitantes a conclusões, vistas, exames,


notificações, cumprimento de despachos e sentenças, etc., ressalvados os casos urgentes, os
quais devem ser praticados imediatamente.

No próprio dia, sendo possível, a secretaria deve submeter a despacho, avulsamente,

Os requerimentos que não respeitem ao andamento de processos pendentes;


Juntar os requerimentos, respostas, articulados e alegações aos processos a
que se destinam; ou
Submeter a despacho do juiz os “papéis” extemporaneamente apresentados ou
cuja junção suscite dúvidas.



o Publicidade do processo

A natureza pública do processo civil traduz-se no direito de exame e consulta dos autos
na secretaria e de obtenção de cópias ou certidões de quaisquer peças nele incorporadas,
pelas partes ou seus representantes, por qualquer advogado ou solicitador, mesmo que não
esteja constituído mandatário das partes, ou por quem revele interesse “atendível” – art.º
167.º, n.º 3 – e em caso de dúvida, sobre este direito de acesso ao processo, a secretaria
submetê-la-á, por escrito, à apreciação do juiz – art.º 172.º, n.º 1.

Com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 303/2007, de 24/8, e da Portaria n.º


114/2008, de 6/2, o exame e consulta de processos passa também a ser possível através do

35
Manual de apoio ao ingresso - 2013
sistema informático Citius. Trata-se duma possibilidade de consulta aberta aos advogados,
advogados estagiários e solicitadores registados no sistema (art.º 22.º).

O processo civil é público, salvas as restrições previstas na lei, pelo que o acesso é
limitado nos casos em que a divulgação do seu conteúdo possa causar dano à dignidade das
pessoas, à intimidade da vida privada ou familiar ou à moral pública, ou pôr em causa a
eficácia da decisão a proferir, de que são exemplos, não só os processos constantes das
alíneas a) e b) do n.º 2 do art.º 168.º, a que apenas podem ter acesso as partes e os seus
mandatários, bem como noutros previstos em legislação externa ao Código de Processo Civil
(ex. Regulação do Poder Paternal, suas alterações ou incidentes, e processos de Adoção).

Sobre a confiança de processos, ver os art.ºs 169.º a 173.º do CPC, n.º 3 do art.º 125.º da
Lei n.º 3/99.

Assim, apenas podem solicitar, verbalmente ou por escrito, a confiança de processos


pendentes, os mandatários judiciais constituídos pelas partes, os magistrados do Ministério
Público e os que exerçam o patrocínio por nomeação oficiosa –art.º 169.º, n.º 1.

Tratando-se de processos findos, a possibilidade de confiança dos processos alarga-se a


qualquer pessoa capaz de exercer o mandato judicial (advogados, advogados estagiários e
solicitadores) – art.º 169.º, n.º2.

A secretaria confia o processo pelo prazo de cinco dias, que pode ser reduzido se causar
embaraço grave ao andamento da causa, exceto quando, por lei ou por despacho do juiz, o
mandatário tenha prazo para exame, casos em que lhe será facultado o processo pelo prazo
marcado (exemplos: alegações por escrito dos art.ºs 484.º, n.º 2, 657.º e 698.º, n.º 2) – art.º
169.º, n.º 3 e 171.º.

Esta recusa é fundamentada e comunicada por escrito ao interessado, que dela pode
reclamar para o juiz nos termos do art.º 172.º.

A entrega e restituição do processo é registada em livro especial conforme o


preceituado no art.º 173.º.

Sobre a passagem de certidões convém ter presente o que dispõem os art.ºs 174.º e
175.º do CPC e 24.º da Portaria n.º 114/2008.

Tratando-se de processos a que alude o art.º 168.º (ações de divórcio, separação de


pessoas e bens, etc.) as certidões apenas serão passadas após despacho de deferimento
proferido sobre o requerimento escrito que justifique a sua necessidade, sendo aí fixados os
limites da certidão – art.º 174.º, n.º 2.

Nos restantes casos, é dever da secretaria passar as certidões que lhe forem
solicitadas, verbalmente ou por escrito, sem necessidade de despacho, pelas partes no

36
Manual de apoio ao ingresso - 2013
processo, por quem possa exercer o mandato judicial ou ainda por quem revele interesse
atendível em as obter – art.º 174.º, n.º 1.

Quando estas certidões tenham por fim a sua junção a processo judicial pendente, são as
mesmas efetuadas eletronicamente, devendo a secretaria enviá-las, sempre que possível
através do sistema informático, para o tribunal onde corre o referido processo, devendo
conter a indicação do processo a que destina e de quem requereu a mesma (art.º 24.º da
Portaria n.º 114/2008).

São passadas no prazo de cinco dias, salvo nos casos de urgência ou de manifesta
impossibilidade, caso em que se consignará o dia em que devem ser levantadas – art.º 175.º,
n.º 1. 19

Quanto à recusa ou atraso na passagem de certidões é de observar o disposto nos n.ºs 2


e 3 do art.º 175.º.

COMUNICAÇÃO DOS ATOS

Como vimos atrás, a competência territorial dum tribunal judicial de 1ª instância,


circunscreve-se, em regra, à área da comarca onde ele está sediado, podendo os funcionários
do Supremo Tribunal de Justiça, das Relações e dos Tribunais cuja área de jurisdição abranja
o distrito ou o círculo judicial, praticar os atos diretamente em toda a área de jurisdição do
respetivo Tribunal (art.º 162.º do CPC. e art.ºs 21.º e 22.º da Lei n.º 3/99, de 13.01).

Porém, os atos que devam ser praticados fora da comarca são solicitados ao tribunal ou
autoridade que exerça a sua competência nessa área ou, em certos casos, comunicados
diretamente pelo correio aos destinatários (art.ºs 176.º, n.º 3, 252.º-A, n.º 1, al. b) e 245.º,
n.º 2, todos do CPC.).

A transmissão de quaisquer mensagens entre serviços judiciais e a expedição ou


devolução de cartas precatórias deve ser efetuada, sempre que possível, através do sistema
informático, sem prejuízo do disposto no n.º 5 do artigo 176.º do Código de Processo Civil
quanto aos atos urgentes (art.º 24.º da Portaria).

Contudo, não sendo possível a comunicação nos moldes supra referidos e num âmbito
mais alargado, ou seja, a necessidade de comunicação dos atos judiciais fora do território
nacional, há que distinguir as comunicações dos atos judiciais da seguinte forma:

19
Nos casos de manifesta impossibilidade, tais como a escassez de funcionários e a consequente acumulação de serviço, que
inviabilizam o cumprimento dos processos nos prazos legalmente fixados, a secretaria deve indicar o dia, atendendo à sua
capacidade de resposta, em que o requerente se deve apresentar a levantá-la. Não são aqui de admitir respostas como a de
“vá passando ou telefonando a saber se a certidão está passada”, por um lado, porque a parte final do n.º 1 do art.º 175.º o
não permite, e por outro porque, assim não se procedendo, são evitados constrangimentos e até possíveis procedimentos de
natureza disciplinar em consequência do disposto nos n.ºs 2 e 3 do mesmo normativo.

37
Manual de apoio ao ingresso - 2013
a)- Dentro da área da comarca; e

b)- Fora da área da comarca;

b1)- território nacional;

b2)- estrangeiro (UE);

b3)- estrangeiro (fora UE).

a) Dentro da área da comarca

Se é necessário comunicar determinados atos dentro da área da comarca, que não


possam ou não devam ser efetuados pelo correio ou através do sistema informático (por
exemplo, quando se mostrar mais célere a citação por contacto pessoal – art.º 239.º, n.º 1),
utiliza-se o “mandado”, nos termos do art.º 176.º, n.º 2.

Trata-se de um documento elaborado pelo funcionário da secretaria competente, que o


assina, embora passado em nome do juiz ou relator (art.º 189.º). Dele apenas constam, além
da ordem do juiz, as indicações indispensáveis ao seu cumprimento (art.º 191.º).

b) Fora da área da comarca

Com exceção das citações e notificações pelo correio, que são enviadas diretamente ao
citando, se o ato dever ser praticado fora da comarca, solicitar-se-á a sua realização à
entidade competente com jurisdição na área respetiva, através de:

Carta precatória - quando solicitado a um tribunal ou cônsul português- é assinada


pelo juiz e deve ser cumprida no prazo máximo de 2 meses (art.º 176.º-n.º 1, 178.º e
181.º-n.º 1);

Carta rogatória - quando solicitado a autoridade estrangeira - é assinada pelo juiz, e


deve ser cumprida no prazo máximo de 3 meses (art.ºs 176.º, n.º 1, 178.º e 181.º, n.º
2);

Ofício - quando se solicite, apenas, informações, envio de documentos, a realização


de atos que não exijam intervenção dos serviços judiciários ou a sustação do
cumprimento de uma carta precatória expedida;

Outros meios - na transmissão de quaisquer mensagens e na expedição ou devolução


de cartas precatórias, além das vias postal, telefónica, rádio, telecópia e os meios
telemáticos (correio eletrónico e outras formas de transmissão eletrónica de dados).

Nota:

38
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Na transmissão de quaisquer mensagens e na expedição ou evolução de
cartas precatórias podem os serviços judiciais utilizar, além da via postal, a
telecópia 20 e os meios telemáticos.

Tratando-se de atos urgentes, pode ainda ser utilizado o telegrama, a


comunicação telefónica ou outro meio análogo de telecomunicações, mas a
comunicação “não escrita” fica sempre documentada nos autos por meio de
“cota” e em seguida confirmada por qualquer meio escrito, dirigido à pessoa
ou entidade contatada.

Relativamente aos sujeitos processuais, a comunicação telefónica está expressamente


prevista não só como forma de convocação ou desconvocação para atos processuais, mas,
também, para imediata notificação do despacho que aprecia o pedido de prorrogação do
prazo para oferecimento da contestação ou de qualquer dos articulados subsequentes –
art.ºs 176.º, n.ºs 5 e 6, 486.º, n.º 6 e 504.º.



ATOS ESPECIAIS

o DISTRIBUIÇÃO

A distribuição visa repartir com igualdade o serviço do tribunal. É através dela e das
operações de classificação, numeração e sorteio dos papéis sujeitos a distribuição, que se
designa a secção e a vara ou juízo em que o processo vai correr termos ou o juiz que vai
exercer as funções de relator – art.ºs 209.º, 215.º e 216.º.

Hoje em dia todos os tribunais dispõem de aplicações informáticas que procedem à


distribuição automática dos papéis a coberto do disposto no art.º 209.º-A.

Estão sujeitos à distribuição na 1.ª instância todos atos processuais que importem
começo de causa, salvo se forem dependência de outras já distribuídas às quais serão
apensadas (ex. : execuções fundadas em sentença e execuções por custas e multas que devam
correr por apenso – art.º 90.º, n.º 3, 92.º e 211.º).

20
O Decreto-Lei n.º 28/92, de 27/02, disciplina o regime do uso da telecópia na transmissão de documentos
entre tribunais e outros serviços e para a prática de atos processuais, sem prejuízo do disposto no art.º 150.º do
CPC relativamente à data dos atos praticados por esta via.

39
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Não dependem de distribuição as notificações avulsas, as arrecadações, os atos
preparatórios, os procedimentos cautelares e quaisquer diligências urgentes feitas antes de
começar a causa ou antes da citação do réu (ex.: Produção antecipada de Prova – at.º 520.º e
521.º) – art.º 212.º.

A distribuição dos atos processuais realiza-se bidiariamente, às 9 e às 13 horas, de


forma automática e sem qualquer intervenção humana (art.º 15.º da Portaria n.º 114/2008,
de 6 de Fevereiro).

O resultado da distribuição diária é divulgada por meio de pauta publicada no portal do


Ministério da Justiça – http://www.citius.mj.pt/; - art.º 219.º.

Para efeito de distribuição, os papéis são classificados em função das espécies


estabelecidas no art.º 222.º, para os tribunais de 1.ª instância, acrescidas da espécie 11.ª
criada pelo n.º 2 do art.º 4.º do Decreto-Lei n.º 108/2006, de 8 de Junho. As espécies de
distribuição nos Tribunais de Relação estão previstas no art.º 224.º e as do Supremo Tribunal
de Justiça estão previstas no art.º 225.º.

Havendo erro na distribuição procede-se nos termos previstos no art.º 220.º, norma esta
que se aplica, com as necessárias adaptações, à retificação da distribuição, nos termos do
art.º 221.º.

o CITAÇÃO E NOTIFICAÇÃO

DISPOSIÇÕES COMUNS

O tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a ação pressupõe sem que a
resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja devidamente chamada a deduzir
oposição – art.º 3.º, n.º 1.

Este chamamento é feito por meio de citação, ato através do qual se dá conhecimento ao
réu (aqui referido no sentido lato do termo) de ter sido contra si proposta a ação, sendo
admitido exercer o direito de defesa no próprio processo.

É também pela via da citação que se chama ao processo, pela primeira vez, qualquer
outra pessoa interessada na causa – art.º 228.º, n.º 1.

A citação do réu produz os seguintes efeitos:

Interrompe a prescrição – art.º 323.º do Cód. Civil;

40
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Determina a produção dos efeitos da ação proposta em relação ao réu, a partir da
citação – at.º 267.º, n.º 2 CPC;
Faz cessar a boa fé do possuidor – art.º 481.º, al. a) do CPC;
Torna estáveis os elementos essenciais da causa - art.ºs 268.º e 481.º, al. b);
Inibe o réu de propor contra o autor ação destinada à apreciação da mesma questão
jurídica - art.º 481.º, al. c) do CPC;
Constitui o devedor em mora – art.º 805.º C. Civil;
Determina o início da contagem dos prazos para a defesa.

Quando, após a citação, se revele necessário chamar alguém a juízo ou dar-lhe


conhecimento dum facto, utiliza-se a notificação.

Podemos afirmar, em síntese, que, em cada processo, a mesma pessoa é citada uma só
vez e notificada tantas vezes, quantas as que se revelarem necessárias.

A notificação é também a forma de comunicação legal que serve para chamar a juízo
qualquer pessoa não interessada na causa, para nela intervir acidentalmente, como é o caso,
por exemplo, de testemunhas e de peritos (art.º 228.º, n.º 2 ).

Cumpre à secretaria notificar oficiosamente as partes quando, por virtude da


disposição legal, possam responder a requerimentos, oferecer provas ou, de um modo
geral, exercer algum direito processual que não dependa de prazo a fixar pelo juiz nem
de prévia citação – n.º 2 do art.º 229.º.

Exemplos: art.ºs 145.º, n.ºs 5 e 6; 146.º, n.º 2; 152.º, n.ºs 2 e 3; 181.º, n.º 1; 188.º; 242.º,
n.º 1; 258.º.

Tanto a citação, quanto a notificação, podem ser efetuadas no lugar em que o


destinatário se encontrar, não podendo, porém, efetuar-se dentro dos templos ou enquanto o
destinatário estiver ocupado em ato de serviço público que não deva ser interrompido (art.º
232.º).

Não há qualquer restrição à realização de citações e notificações, mesmo durante as


férias judiciais ou em dias em que os tribunais se encontrem encerrados (art.º 143.º, n.º 2).

Os incapazes, os incertos, as pessoas coletivas, as sociedades, os patrimónios autónomos


e o condomínio são citados ou notificados na pessoa dos seus legais representantes ou na
pessoa de qualquer empregado; não se encontrando nenhum deles, o representante será
citado em qualquer lugar onde se encontre (art.ºs 231.º e 237.º).

41
Manual de apoio ao ingresso - 2013
No entanto, e como exceção a esta regra, o réu que seja menor (art.ºs 9.º do CPC e 67.º,
122.º, 123.º e 124.º do Cód. Civil) e sujeito ao poder paternal dos pais, deve ser citado nas
pessoas de ambos os progenitores (art.º 10.º, n.º 3).

 DA CITAÇÃO

A citação é pessoal ou edital.

A citação pessoal pode ser efetuada por via postal mediante entrega ao citando de
carta registada com aviso de receção, seu depósito ou certificação de recusa de
recebimento nos termos do art.º 237.º-A ou por contacto pessoal do agente de execução
ou do funcionário judicial com o citando.

A citação pode ser efetuada na pessoa de terceiro, encarregue de a transmitir ao


citando, ou na de mandatário munido de procuração com poderes especiais para a receber,
passada há menos de quatro anos (art.º 233.º).

É ainda possível a citação promovida por mandatário judicial, nos termos dos artigos
245.º e 246.º.

A citação tem-se por efetuada na própria pessoa do citando, mesmo que feita por via
postal, e ou recebida por terceiro (art.º 238.º do CPC.).

Para a citação por via postal registada utilizam-se os modelos de sobrescrito e de


aviso de receção aprovados pela Portaria n.º 953/2003, de 9 de Setembro, publicados a
páginas 5890 do D.R. 208 (rosto e verso 1) e 5891 (aviso de receção).

42
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Rosto do modelo para a citação via postal nos processos iniciados
a partir de 15/Set/2003 – art.ºs 236.º e 237.º-A, n.º 1 do CPC.

Verso do modelo para a citação via postal nos processos iniciados


a partir de 15/Set/2003 – art.ºs 236.º e 237.º-A, n.º 1 do CPC.

43
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Quando a citação diga respeito a duas ou mais pessoas ou entidade com a mesma
residência ou sede, devem ser expedidos tantos sobrescritos e AR’s quantos os
destinatários (ofício-circular n.º 5/97, de 16 de Janeiro, da DGSJ).

Na citação efetuada por depósito da carta nos termos do art.º 237.º-A, n.º 5 ter-se-á
em atenção aos procedimentos definidos na Portaria n.º 953/2003, de 9 de Setembro, assim
como à declaração lavrada pelo distribuidor do serviço postal em local próprio do
sobrescrito.

Incumbe à secretaria promover oficiosamente as diligências destinadas à citação, sem


necessidade de despacho prévio (art.º 234.º, n.º 1).

44
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Casos em que a citação é precedida de despacho - art.º 234.º n.º 4 CPC

Ação popular – art.º 15.º, n.º 1 da Lei n.º 83/95, de 31/07;


Ação de indemnização contra magistrados – art.º 1083, n.º 1;
Aceitação de herança jacente – art.º 1467.º, n.º 2;
Ação de alimentos a filhos maiores ou emancipados – art.º 1412.º, n.º 2;
Ação executiva – art.º 812-E,n.º 5 e 812-F, n.º 2;
Atribuição da casa de morada de família – art.º 1413.º, n.º 2;
Citação urgente – art.º 478.º, n.º 2;
Convocação de assembleias de sócios – art.º 1486.º;
Divórcio litigioso – art.º 1407.º, n.º 1;
Embargos de terceiro – art.º 354.º;
Expurgação de hipotecas e extinção de privilégios – art.º 999.º;
Insolvência – art.º 27.º do CIRE (Dec. Lei n.º 53/2004, de 18/03);
Habilitação (incidente) – art.º 372.º e seguintes;
Incidentes de intervenção de terceiros – art.º 320.º e seguintes;
Interdição e Inabilitação – art.º 945.º;
Inventário – art.ºs 1339.º e 1342.º, n.º 2;
Liquidação judicial de sociedades – art.º 1122.º;
Procedimentos cautelares – art.º 385.º, n.º 2;
Reforma de títulos, autos e livros (documentos ou processos) – art.º 1069.º,
n.º 2.

Elementos a transmitir ao citando – art.º 235.º CPC

No ato de citação pessoal (seja ela por via postal ou por contacto pessoal) deve ser
remetido ou entregue ao citando o duplicado da petição inicial e cópia dos documentos com
ela juntos, acompanhados de nota de citação de que conste obrigatoriamente (art.º 235.º):

 Número do processo, secção, juízo ou vara e tribunal onde corre termos;


 O prazo dentro do qual pode exercer a defesa, com menção ao modo como este
prazo deve ser contado;

45
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 A obrigatoriedade de constituir mandatário (processos em que seja admissível
recurso ordinário – art.ºs 32.º, 60.º e 678.º do CPC. e 24.º da Lei n.º 3/99, de
13/01);
 A cominação legalmente prevista para a ausência de contestação.



Citação por contacto pessoal

A “via postal” está na primeira linha da citação (art.º 236.º) e só em caso de frustração é
que entra a modalidade “contacto pessoal” através do agente de execução e residualmente
através do funcionário judicial (art.º 239.º).

Por funcionário de justiça

A citação por funcionário judicial apenas tem lugar quando:

 o autor declare, na petição inicial, que assim o pretende, pagando para o efeito a
taxa fixada no art.º 9.º RCP, ou quando;
 não haja agente de execução inscrito em comarca do círculo judicial a que o
tribunal pertence ( art.º 239.º, n.º 8).

Se o citando se recusar a assinar a certidão de citação ou a receber o duplicado, o


funcionário que procede à citação dá-lhe conhecimento que o duplicado fica na secretaria à
sua disposição, e de tudo lavra certidão, enviando seguidamente carta registada ao citando
com a indicação de que o duplicado se encontra à sua disposição (art.º 239.º, n.ºs 4, 5 e 8).

Se o citando não for encontrado na residência ou no local de trabalho, o funcionário de


justiça deixa nota entregue a pessoa que a transmita ao citando, ou afixa aviso, indicando o
dia e a hora em que lá voltará. Nesse dia fará a citação na pessoa do citando caso seja
encontrado, ou na pessoa capaz a quem deixou a nota, ou ainda mediante afixação da nota
de citação em local visível na presença de duas testemunhas (art.º 240.º).

A citação feita em pessoa diversa do réu obriga ao envio posterior de carta registada,
pela secretaria, no prazo de 2 dias úteis, comunicando-se-lhe o modo e a data como a
citação foi realizada, assim como os elementos necessários à sua defesa e as cominações
aplicáveis (art.ºs 241.º e 235.º).

46
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Art.º 241.º

Quando o “réu” (expressão aqui referida no sentido mais lato do termo) seja citado em
terceira pessoa - por via postal registada (art.º 236.º, n.º 2) ou por contacto pessoal (art.º
240.º, n.º 2 – hora certa) ou ainda por meio de nota afixada nos termos previstos no n.º 3 do
art.º 240.º, a secção de processos notifica o “citado” (note-se que, neste momento, o réu já
se encontra citado), no prazo de 2 dias úteis, comunicando-lhe:

A data e o modo como se considera citado;


O prazo do oferecimento da defesa, contado a partir da data da citação;
As cominações aplicáveis em caso de revelia;
O destino dado ao duplicado da petição inicial e cópias dos documentos que a
acompanhem;
A identidade da pessoa em quem a citação tiver sido realizada, enviando-se-
lhe, para o efeito, fotocópia do aviso de receção, no caso do art.º 236.º, n.º
2, ou da certidão respetiva, na hipótese prevista no art.º 240.º, n.º 2.

Com esta notificação deve seguir fotocópia do aviso de receção por forma a
transmitir ao réu todos os elementos relacionados com a sua citação.

Porque o réu já se encontra citado, a notificação a que se refere o art.º 241.º integra-se
no grupo de “notificações às partes que não constituam mandatário” prevista no art.º 255.º
do Cód. Proc. Civil, norma esta que determina a notificação das partes segundo as mesma
regras estabelecidas nos art.º 254.º para as notificações dos mandatários. Daí que, sendo
devolvida a carta “corretamente” enviada ao réu (já citado, repete-se), é junto ao processo
o respetivo sobrescrito, presumindo-se a notificação feita no 3.º dia posterior ao do registo,
tudo isto nos termos do n.º 4 do art.º 254.º.

Vindo o AR assinado, mas não datado, o réu tem-se por citado na data do carimbo da estação
postal reexpedidora, se for visível, ou na data da entrada do AR na secretaria judicial.

Do agente de execução:

47
Manual de apoio ao ingresso - 2013
As regras acabadas de enunciar para a citação por contacto pessoal do funcionário
judicial são aplicáveis “mutatis mutandis” ao agente de execução e ao mandatário judicial.

O agente de execução é, por definição do Estatuto da Câmara dos Solicitadores (art.º


116.º do D.L. n.º 88/2003, de 26 de Abril), o agente de execução que , sob fiscalização da
Comissão para a Eficácia das Execuções, exerce as competências específicas de agente de
execução e as demais funções que lhe forem atribuídas e que podem ser exercidas nos
termos daquele estatuto e da lei.

São seus deveres, entre outros, a prática diligente dos atos processuais de que seja
incumbido, a observância escrupulosa dos prazos legais ou judicialmente fixados, prestar ao
tribunal os esclarecimentos que lhe forem solicitados sobre o andamento das diligências,
bem como sujeitar a decisão do juiz aqueles atos que dependam de despacho ou autorização
judicial e cumpri-los nos precisos termos fixados (art.º 123.º do D.L. 88/2003, de 26/4).

E a lei atribui ao agente de execução a possibilidade, no âmbito da ação declarativa, de


proceder a citações, na frustração da via postal ou quando o autor declare na petição inicial
que pretende que a citação se faça por agente de execução. Perante a redação do n.º 1 do
art.º 239.º, afigura-se-nos vedada ao agente de execução a citação por via postal nos casos
em que ela se tiver frustrado pelo oficial de justiça.

O agente de execução designado pode promover, sob responsabilidade sua, a citação


por outro agente de execução ou por um empregado seu (credenciado pela Câmara dos
Solicitadores, nos termos do art.º 161.º 21), ficando porém a validade da citação
dependente não apenas da assinatura do citado, mas também da assinatura do agente
designado feita a posteriori ( art.º 239.º, n.º 6).

Se, decorridos 30 dias o réu ainda não estiver citado, incumbe ao agente de execução
informar o autor das diligências efetuadas, nos termos do n.º 2 do art.º 234.º, por força do
disposto no n.º 10 do art.º 239.º.

Se, decorridos outros trinta dias (sessenta, no total) sem que o réu se mostre citado,
deve o agente de execução informar imediatamente o juiz do processo nos termos do n.º 3
do art.º 234.º. No entanto, se, uma vez terminado o prazo de 60 dias sem que o réu se
mostre citado e o agente de execução não apresentar a informação, a secretaria não pode
deixar de fazer o processo concluso com as indicações que conhecer.

Quando a petição seja enviada através de transmissão eletrónica e nos formulários o


autor designe agente de execução para efetuar a citação, este é notificado por via eletrónica,

21
ARTIGO 161.º, Função e deveres das secretarias judiciais
....................................................................................................

4. As pessoas que prestem serviços forenses junto das secretarias, no interesse e por conta dos mandatários
judiciais, devem ser identificadas por cartão de modelo emitido pela Ordem dos Advogados ou pela Câmara
dos Solicitadores, com expressa identificação do advogado ou solicitador, número e cédula profissional,
devendo a assinatura deste ser reconhecida pela Ordem dos Advogados ou pela Câmara dos Solicitadores.

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Manual de apoio ao ingresso - 2013
nos termos do Decreto –Lei n.º 202/2003, de 10 de Setembro. Nesta situação, não deve ser
junta ao processo a reprodução em papel do conteúdo da comunicação prevista no n.º 3 do
artigo 3.º do referido diploma, bastando a sua incorporação no sistema informático – cfr. art.º
11.º da Portaria 114/2008.

Verificada a impossibilidade de citação pelo correio de pessoa coletiva ou sociedade,


deve dar-se cumprimento ao disposto no art.º 237.º, procedendo-se à citação do
representante, mediante carta registada com aviso de receção, nos termos do art.º 236.º,
remetida para a sua residência ou local de trabalho.

Apesar de introduzidas duas novas modalidades de citação pessoal (depósito da carta nos
termos do n.º 5 do art.º 237.º-A e certificação da recusa de recebimento, nos termos do n.º
3 do mesmo artigo), prevalece, como regra, a citação via postal registada (art.º 236.º).

Esta citação (que é efetuada mediante a remessa ao citando de carta registada com aviso
de receção contendo os elementos já mencionados – art.º 235.º) considera-se feita no dia em
que se mostrar assinado o aviso de receção, mesmo que por terceira pessoa. E a partir desse
dia, contam-se como um único prazo, a dilação que houver e o prazo fixado para a defesa –
art.º 148.º.

DOMICÍLIO CONVENCIONADO (ART.º 237-A C.P.C.)

O D.L. 38/2003, de 8/3, introduziu a reforma da ação executiva e inovou no que se refere
à citação no caso de domicílio convencionado.

Para que se observe a disciplina do art.º 237.º-A, a ação declarativa (independentemente


do valor e da forma comum que tiver) tem que reunir os seguintes pressupostos:

Destinar-se ao cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de


contrato;
O contrato tem que se mostrar reduzido a escrito;
Terem as partes convencionado, no contrato, o local do seu domicílio para
efeito da citação em caso de litígio.

O domicílio pode ser o voluntário geral, ou seja, o do lugar da residência habitual, o


profissional ou o eletivo que o art.º 84.º do C. Civil define como o domicílio particular que é

49
Manual de apoio ao ingresso - 2013
permitido estipular para determinados negócios, desde que essa estipulação seja reduzida a
escrito.

Reunidos que estejam aqueles pressupostos, o réu é oficiosamente citado por via postal
(art.ºs 235.º a 237.º), através de carta registada com aviso de receção expedida para o
domicílio convencionado, contanto que o valor da ação não exceda a alçada do tribunal da
relação ou, se a exceder, a obrigação respeite a fornecimento continuado de bens ou
serviços (art.º 237.º-A, n.º 1).

Recusando-se o citando (destinatário da carta) a assinar o aviso de receção ou a receber


a carta, a citação considera-se efetuada em face da certificação da ocorrência escrita pelo
distribuidor postal em local próprio do sobrescrito, antes de proceder à devolução da carta ao
tribunal (n.º 3 do art.º 237.-A e 233-n.º 2, al. a) in fine).

Por outro lado, se a carta registada com aviso de receção enviada ao citando for
devolvida por o mesmo não a ter levantado no estabelecimento postal, ou por ter sido
recusada a assinatura do AR ou o recebimento da carta por pessoa diversa do citando, na
situação prevista no art.º 236.º, n.º 2, repete-se a citação, enviando-se nova carta (ver
modelo a seguir), que é deixada e depositada na caixa de correio do citando, contendo
cópia de todos os elementos do art.º 235.º, bem como a advertência de que a citação se
considera efetuada na data certificada pelo distribuidor postal ou, no caso de ser deixado
aviso, no 8.º dia posterior a essa data.

O distribuidor postal certifica a data e o local exato em que depositou o expediente e


remete de imediato a certidão ao tribunal. Caso não seja possível o depósito na caixa do
correio do citando, o distribuidor deixa um aviso nos termos do n.º 5 do art.º 236.º.

Esta citação considera-se efetuada independentemente de a carta ser ou não recebida –


art.º 238.º, n.º 2.

50
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Rosto do modelo para a citação via postal nos processos iniciados
a partir de 15/Set/2003 – art.º 237.º-A, n.º 5 do CPC.

Verso do modelo para a citação via postal nos processos iniciados


a partir de 15/Set/2003 – art.º 237.º-A, n.º 5 do CPC.

Rosto do modelo de aviso de receção para a citação via postal


com depósito da carta nos processos iniciados a partir de
15/Set/2003 – art.º 237.º-A, n.º 5 do CPC.

51
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Verso do modelo de aviso de receção para citação via postal com
depósito da carta nos processos iniciados a partir de 15/Set/2003 –
art.º 237.º-A, n.º 5 do CPC.

***

CITAÇÃO POR MANDATÁRIO JUDICIAL

A citação promovida pelo mandatário judicial segue o regime da citação pessoal por
agente de execução ou funcionário judicial, com as necessárias adaptações.

O propósito de promover a citação por mandatário judicial deve ser por ele
manifestada, na petição inicial, indicando se a pretende fazer por si, por outro mandatário
judicial, por agente de execução ou por pessoa ao seu serviço, podendo tal diligência ser
requerida a todo o tempo, desde que se verifique a frustração da citação tentada por
qualquer outra forma legalmente prevista – art.º 245.º.

A pessoa indicada é identificada pelo mandatário, na petição ou no requerimento, com


menção expressa de que foi advertida dos seus deveres.

Caso a citação não seja efetuada no prazo de 30 dias, contados da solicitação (petição
ou requerimento), o mandatário comunica tal facto ao tribunal, procedendo à citação nos
termos gerais, a começar pela citação postal encetada pela secretaria – art.º 246.º.

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CITAÇÃO DE RÉU RESIDENTE NO ESTRANGEIRO

52
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Se o réu residir no estrangeiro observa-se o que estiver estipulado nos tratados e
convenções internacionais – art.º 247.º, n.º 1.22

Não havendo tratado ou convenção, realiza-se a citação pela via postal, por carta
registada com aviso de receção, observando-se o regulamento local dos serviços postais.

Na impossibilidade ou frustração da via postal, o réu português é citado por meio de


carta precatória dirigida ao consulado da sua área.

No caso de o réu ser estrangeiro e também no caso de ser inviável a citação de réu
português através de consulado, é ordenada, depois de ouvido o autor, a expedição de carta
rogatória dirigida às autoridades competentes (art.º 247.º, n.ºs 2 e 3).



CITAÇÃO EDITAL
Inviabilizada a citação do réu porque

- Das diligências concluiu-se pela sua ausência em parte incerta ou


- Porque o autor, na petição inicial, indicou-o em tal situação,
a secretaria diligencia oficiosamente pela obtenção de informação sobre o último
paradeiro ou residência conhecida, junto de quaisquer entidades ou serviços, tentando obter
aquelas informações, mediante prévio despacho judicial, nas bases de dados dos serviços de
identificação civil, da segurança social, da Direcção-Geral dos Impostos, da Direcção-Geral de
Viação, bem como junto das autoridades policiais ou de quaisquer outras – art.º 244.º.

Concluídas as diligências e mantendo-se desconhecido o paradeiro do citando, o processo


é concluso para o juiz ordenar a citação edital, com as formalidades constantes dos art.ºs
248.º a 250.º.



Regime especial (DL 108/2006)

Nos tribunais onde vigora o Regime Processual Civil Experimental, aprovado pelo Decreto-
Lei n.º 108/2006, de 8 de Junho, e da Portaria n.º 955/2006, de 13 de Setembro, a citação

22
Aconselha-se a consulta da legislação, informações, manuais e formulários dos Serviços de Cooperação
Judiciária Internacional da DGAJ disponíveis para download no seguinte endereço: http://www.cji-
dgaj.mj.pt/Paginas/default.aspx.

53
Manual de apoio ao ingresso - 2013
edital consiste unicamente na publicação de um só anúncio no sítio www.tribunaisnet.mj.pt,
não havendo lugar à publicação de anúncios em jornais nem à afixação de editais.

Com efeito, naqueles Tribunais, a citação edital em qualquer processo iniciado a partir de
16 de Outubro de 2006 e sujeito às regras do processo civil, resume-se à publicação eletrónica
de um anúncio no referido endereço (cfr. art.º 5.º do DL 108/2006 e Portaria n.º 1097/2006,
de 13/Outubro), havendo, porém, lugar à afixação de um edital nos seguintes casos:

- citação edital de pessoa na qualidade de herdeira ou representante de pessoa falecida.

Nestes casos, além da publicação eletrónica do anúncio é afixado um edital na porta da


casa da última residência conhecida do falecido no País.



Retomando a regra geral, é de notar que a citação edital é sempre precedida de


despacho (cfr. parte final do n.º 1 do art.º 244.º).

A citação edital:

- Consiste na afixação de três editais (última residência conhecida, junta de freguesia e


porta do tribunal onde corre o processo) e publicação de anúncio em dois números seguidos
de um dos jornais mais lidos da localidade, incumbindo esta publicação à parte (art.º 248.º);

- Considera-se feita na data da publicação do último anúncio ou, não havendo lugar a
anúncio (art.º 248.º, n.º 4 – inventários com herança deferida a incapazes, ausentes ou
pessoas coletivas, processo sumaríssimo e quando o juiz dispensar a publicação), da afixação
dos editais, contando-se desta a dilação e, de seguida, o prazo para a defesa (art.º 250.º).

Se a citação edital for determinada pela incerteza das pessoas a citação será feita
também nos termos do disposto nos art.ºs 248.º a 250.º, afixando-se apenas um edital na
porta do tribunal, exceto se os incertos forem citados como herdeiros ou representantes de
pessoa falecida, sendo neste caso afixados editais na porta da casa da última residência do
falecido e na porta da sede da respetiva junta de freguesia, se forem conhecidas e no país; os
anúncios são publicados num dos jornais, de âmbito regional ou nacional, mais lidos na sede
da comarca – art.º 251.º.

‫٭‬

Nas ações sujeitas ao regime processual civil experimental instituído pelo Decreto-Lei
n.º 108/2006, de 8 de Junho, a citação edital é feita unicamente através da publicação de
anúncio em página informática de acesso público (www.tribunaisnet.mj.pt).

54
Manual de apoio ao ingresso - 2013
DILAÇÃO

Art.º 252.º-A CPC

5 dias 5 dias 15 dias 30 dias

(n.º 1-a) (n.º 1-b) (n.º 2)

citação em pessoa citação do réu citação do réu fora citação do réu


diversa do réu fora da área da da comarca: no estrangeiro
(por via postal ou comarca:
por contacto - quando o citação edital
pessoal). - no continente e processo corra no
n.º 5 do art.º
o processo corra continente e o réu
no continente; seja citado numa 237-A
das ilhas ou vice-
- numa ilha e o versa;
processo corra na
mesma ilha. - ou o processo
corre numa ilha e
o réu citado noutra
ilha.

10 dias 20 dias 35 dias

(n.º 4) (n.º 4) (n.º 4)

Nas hipóteses acima descritas, quando Quando o réu, na


o réu seja citado em terceira pessoa. primeira hipótese
acima indicada,
seja citado em
terceira pessoa.

Nota: nos termos do art.º 4.º do Decreto-Lei n.º 269/98, de 1 de Setembro, não há
dilação nas ações especiais previstas nos art.ºs 1.º a 5.º do anexo ao referido
diploma.

 DA NOTIFICAÇÃO

As notificações, salvo disposição legal em contrário, são feitas pelo correio, sob registo
postal (art.ºs 254.º, 255.º, n.º 1 e 253.º).

55
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Haverá que distinguir entre as notificações às pessoas que são parte no processo e
àquelas que nele apenas intervêm acidentalmente.

1 - Notificações às partes

a) – Com mandatário judicial constituído

Tratando de processo pendente, a parte que tiver constituído mandatário é notificada


por carta registada enviada para o escritório do mandatário constituído (art.º 253.º, n.º 1),
salvo se estiver simultaneamente representada por advogado e solicitador, caso em que a
carta é sempre dirigida ao solicitador (art.º 253.º, n.º 3).

Encontrando-se presentes no edifício do tribunal, os mandatários podem aí ser


pessoalmente notificados pelo oficial de justiça, nos termos da parte final do n.º 1 do art.º
254.º.

Se o mandatário inicialmente constituído tiver substabelecido noutro “sem reserva”, a


notificação é dirigida ao substabelecido (cfr. n.ºs 2 e 3 do art.º 36.º).

No caso de a notificação destinar-se a chamar a parte ao tribunal para a prática de ato


pessoal, além da notificação ao mandatário é também notificada a própria parte, por aviso
registado (art.º 253.º, n.º 2).

Prevê o n.º 2 do art.º 254.º que os mandatários que pratiquem os atos processuais através
de transmissão eletrónica de dados, de acordo com o disposto n.º 1 do art.º 150.º do CPC ,
são notificados pela secretaria pela mesma via, presumindo-se a notificação efetuada na data
da expedição.

b) - Sem mandatário judicial constituído

Seja qual for a comarca onde residam, a notificação ser-lhes-á feita nos termos
estabelecidos para a notificação aos mandatários - carta registada (art.º 255.º).

Porém, se a parte tiver de ser notificada pessoalmente, bem como nos casos
especialmente previstos na lei, aplicar-se-ão as disposições relativas à citação (art.º 256.º),
ou seja, por carta registada com aviso de receção “de citação”.

2 - Notificações aos intervenientes acidentais

As notificações que tenham por fim “chamar ao tribunal” intervenientes acidentais, tais
como, testemunhas, peritos, intérpretes e outras pessoas com intervenção acidental são

56
Manual de apoio ao ingresso - 2013
feitas por meio de “aviso” expedido pelo correio, sob registo23, indicando-se a data, o local e
o fim da comparência – cfr. n.º 1 do art.º 257.º.
Os avisos relativos às pessoas que a parte se comprometer a apresentar, são-lhe
entregues, sempre que a parte o solicitar, ainda que verbalmente (art.º 257.º, n.º 2).

Tem-se por efetuada a notificação cuja carta seja devolvida com indicação de ter sido
recusada pelo destinatário (art.º 257.º, n.º 3).

O Código não contém norma específica que regule a notificação dos intervenientes
acidentais com outra finalidade que não se destina à “comparência em tribunal”, o que leva a
perguntar, por exemplo, em que termos se processa a notificação dum perito para justificar
as razões pelas quais não apresentou o relatório no prazo que lhe foi fixado pelo juiz?

Esta lacuna da lei preenche-se com o recurso aos casos análogos, nos termos do art.º
10.º do Código Civil, aplicando-se o regime de notificações estabelecido para as partes
sem mandatário judicial constituído.

3) Agente Administrativo ou Funcionário Público

Não necessita de autorização para comparecer a tribunal, mas deve informar


imediatamente o seu superior hierárquico e apresentar posteriormente a justificação (art.º
257.º, n.º 4).

4) Notificação entre mandatários

Sempre que ambas as partes tenham constituído mandatário judicial, após a notificação
ao autor, por parte da secretaria, da apresentação da contestação, incumbe aos mandatários
das partes notificarem-se reciprocamente dos atos processuais que devam ser praticados
por escrito e apresentados em juízo (cfr. art.ºs 229.º-A e 260.º-A), devendo juntar ao
processo, no prazo de dez dias (art.º 153.º), documento comprovativo da data da
notificação à contraparte (n.º 4 do art.º 260.º-A), documento este que a parte fica isenta
de apresentar se efetuar a notificação por transmissão eletrónica de dados.

Às notificações entre mandatários são aplicáveis todos os meios legalmente admissíveis


para a prática de atos processuais, ou seja, a carta registada, a telecópia ou transmissão
eletrónica de dados– cfr. art.º 150.º. Porém, há um aspeto que importa destacar, que se
prende com o início dos prazos processuais.

O n.º 4 do art.º 260.º-A (que corresponde ao n.º 3 da redação anterior às alterações


produzidas pelo Dec. Lei n.º 324/2003, de 27 de Dez) encerra duas situações, que a Divisão de

23
Não é o mesmo que bilhete-postal – cfr. art.º 13.º do Dec. Lei n.º 176/88, de 18 de Maio, que aprovou o
Regulamento do Serviço Público de Correios.

57
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Formação da DGAJ, à luz dos incentivos à utilização das novas tecnologias que o preceito
transporta, interpreta da seguinte maneira:

1 - Se a notificação ocorrer no dia anterior24

 a feriado,
 a sábado,
 a domingo
o prazo para a resposta inicia-se no primeiro dia útil seguinte;

2 – Se a notificação ocorrer no dia anterior

 a férias judiciais
o prazo para a resposta inicia-se no primeiro dia posterior ao termo das férias judiciais –
art.º 260.º-A, n.º 4 (redação do Dec. Lei n.º 324/2003, de 27 de Dez).

Além das decisões finais, são sempre oficiosamente notificadas ao Ministério Público
quaisquer decisões, ainda que interlocutórias, que possam suscitar a interposição de recursos
por força da lei – art.º 258.º.

24
O problema mais sentido nas secretarias judiciais advém de duas diferentes leituras e a questão está em saber
qual delas se aproxima das boas intenções do legislador?

- Se a notificação for efetuada pelo mandatário judicial, por qualquer meio, em dia anterior a feriado, (no)
sábado, (no) domingo ou (em) férias judiciais, o prazo ... inicia-se ...

ou

- Se a notificação for efetuada ...em dia anterior a feriado, (a) sábado, (a) domingo ou (a) férias judiciais, o
prazo ... inicia-se ...

No quadro dos incentivos que surgem em cascata na esteira da crescente relevância atribuída à utilização das
novas tecnologias de informação, afigura-se-nos mais razoável a segunda leitura.

Com efeito, incentiva-se o recurso aos meios informáticos com o estabelecimento de um compasso entre o
momento da notificação e o início do prazo por ela desencadeado, criando-se uma variante ao regime-regra da
contagem dos prazos plasmada no art.º 279.º do Código Civil ex vi do art.º 296.º do mesmo diploma,
transferindo-se para o primeiro dia útil seguinte o início dos prazos desencadeados pelas notificações inter-
mandatários efetuadas na vésperas de qualquer dia que seja sábado, domingo ou feriado (considerando que as
notificações podem ser efetuadas a todo o tempo – cfr. art.º 143.º, n.ºs 1 e 2 CPC) ou nos dias 21 de Dezembro
(dia anterior ao início de férias judiciais); 31 de Julho (dia anterior ao início de férias judiciais) ou ainda no sábado
precedente ao domingo de Ramos (1.º dia de férias judiciais).

58
Manual de apoio ao ingresso - 2013
A notificação de decisão judicial é acompanhada de cópia ou fotocópia legível da
própria decisão – art.º 259.º.

Desde que documentadas no respetivo auto ou ata, são tidas como notificações as
convocatórias e comunicações efetuadas aos interessados presentes em ato processual, por
determinação da entidade que preside ao ato judicial – art.º 260.º.

NOTIFICAÇÕES ELETRÓNICAS25

A Portaria n.º 1538/2008, de 30 de Dezembro, introduziu várias alterações à Portaria n.º


114/2008, de 6 de Fevereiro, dando um novo impulso no sentido da desmaterialização do
processo judicial, nomeadamente, através da previsão de notificações exclusivamente
eletrónicas, com total ausência de papel, entre mandatários (advogados e solicitadores) e
entre as secretarias judiciais e os mandatários das partes, uma vez verificadas determinadas
condições.

1. Notificações entre mandatários


Requisitos
É necessário que ambos os mandatários (advogados ou solicitadores):
- Estejam registados no CITIUS (art.ºs 4.º e 21.º-A, n.º 6);
- Se manifestem, no CITIUS, no sentido de serem notificados eletronicamente (art.ºs 21.º-A,
n.ºs 3-a) e 6, e 21.º-B); ou
- Tenham enviado para o processo qualquer peça processual ou documento, através do CITIUS
(art.ºs 21.º-A, n.º 3-b, e 21.º-B).

2. Notificações dos mandatários pelas secretarias


Requisitos
É necessário que o mandatário (advogado ou solicitador):
- Esteja registado no CITIUS (art.ºs 4.º e 21.º-A, n.º 6);
- Se manifeste, no CITIUS, no sentido de ser notificado eletronicamente, pedido este que
pode ser global, envolvendo qualquer processo em que intervenha (art.ºs 21.º-A, n.ºs 4-a) e
6); ou
- Tenha enviado para o processo qualquer peça processual ou documento, através do CITIUS
(art.ºs 21.º-A, n.º 4-b).

3. Detalhes e automatismos
O envio de qualquer peça processual ou documento através do CITIUS provoca a
inserção de um detalhe “Recebe Notificações Eletrónicas” ao nível do mandatário remetente.
A partir desse momento, todas as notificações que lhe forem enviadas ser-lhe-ão
disponibilizadas, automaticamente, por via eletrónica, na sua área reservada do CITIUS, não
sendo necessário expedir a notificação paralela em suporte de papel (a menos que a
notificação deva ser acompanhada por cópias de peças ou documentos que apenas constem
do suporte físico do processo (art.ºs 21.º-A, n.º 7)).
O oficial de justiça não necessita de efetuar nada mais do que fazia antes com as
notificações em papel, exceto anexar os documentos a notificar (ver ponto 6).

25
São da Portaria n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro, as referências legislativas sem menção de fonte, referentes às notificações
eletrónicas.
Cfr. Oficio-circular n.º 47, de 26/6/2009, da DGAJ-CFFJ.

59
Manual de apoio ao ingresso - 2013
4. Datas de elaboração e de expedição da notificação eletrónica
A data de elaboração refere-se ao momento da colocação da notificação em “versão
final”.
A data da elaboração é distinta da data de expedição. Esta é presumida e corresponde
ao terceiro dia posterior ao da data de elaboração ou ao primeiro dia útil seguinte a esse,
quando o não seja.
Este prazo específico dá cobertura a eventuais percalços entre o envio da notificação
através do sistema informático e a posterior visualização pelo mandatário destinatário.
Exemplo:
Uma notificação elaborada, ou seja, colocada em “versão final” no dia 24, considera-
se expedida no dia 27. Mas, se este dia fosse sábado, a notificação considerava-se expedida
no dia 29.

5. Data da notificação eletrónica


A notificação eletrónica presume-se efetuada na data de expedição, a qual pode ser posta
em causa pelo respetivo destinatário, por meio de requerimento dirigido ao magistrado titular
do processo – art.º 254.º, n.ºs 5 e 6 do Código de Processo Civil.

6. Anexação de documentos às notificações eletrónicas


Exemplo:
Como notificar um despacho a um mandatário?
Antes de mais, importa recordar que só é possível anexar ficheiros do histórico que se
encontrem em versão final (pdf).
No “Gerador de Atos Processuais”:
- Selecionar o mandatário destinatário da notificação;
- Selecionar, na árvore dos atos processuais, a notificação a efetuar;
- Por fim, clicar em “executar” (as opções “versão trabalho” e “processador texto” ativam-se
automaticamente);

60
Manual de apoio ao ingresso - 2013
- Depois de abertos automaticamente o processador de texto e o documento da
notificação, clicar no botão “versão final”;

- Na janela que entretanto se abrir, estão listados os documentos do histórico em


versão final.

Para anexar o despacho:


- Marcar a opção “agregar anexos no documento principal” (na parte superior da janela);
- Marcar o despacho a notificar;
- E finalmente clicar em “validar”.

Note-se que, por defeito, só é visível o documento principal, ou seja, a notificação gerada.

61
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Para se visualizar(em) o(s) anexo(s) que acompanham a notificação (e que têm a
marca “cópia” na parte superior), vai-se ao histórico, clica-se em cima do ícone do ficheiro e
responde-se afirmativamente à pergunta se o utilizador pretende visualizar os anexos.

No histórico do processo a notificação eletrónica é identificada por este símbolo e ao


sobrepor-se o rato surge um rótulo vermelho.

Na linha do histórico serão visíveis as datas da elaboração do documento, da inserção


da notificação no CITIUS do mandatário e da leitura pelo mandatário destinatário, sendo a
data da elaboração a relevante para a presunção da data de expedição, na qual se considera
feita a notificação.
***

Notificação judicial avulsa


A notificação judicial avulsa é requerida (em duplicado) no tribunal em cuja área resida a
pessoa a notificar (art.º 84.º). Contudo, quando o requerimento e documentos são
apresentados por transmissão eletrónica de dados, o requerente fica dispensado de entregar
os respetivos duplicados - cfr. 261.º CPC.

Apresentada na secretaria do tribunal competente, é sempre submetida a despacho do


juiz competente.

Sendo ordenada a notificação judicial avulsa, ela caracteriza-se pelo contacto pessoal do
agente de execução, designado pelo requerente ou pela secretaria, ou por oficial de
justiça, nos termos do art.º 239.º, n.º 9, com a própria pessoa a notificar, a quem será
entregue uma nota de notificação acompanhada do duplicado do requerimento e dos
documentos apresentados.

62
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Do ato de notificação é lavrada certidão, que, depois de assinada pelo notificado e pelo
oficial de justiça, é por este entregue na secretaria, juntamente com o requerimento, para
ser elaborada a conta do ato avulso – art.º 9 do R.C.P.

Só depois de o requerente efetuar o pagamento da quantia contada é que a secretaria


lhe entrega a “notificação judicial avulsa” – art.º 9 do R.C.P.

A abertura da possibilidade de proceder à notificação judicial avulsa por intermédio do


agente de execução, levou à necessidade de a mesma ser averbada aos juízos (secções de
processos) dado que só no seu âmbito é possível proceder à designação eletrónica do agente
de execução encarregue do seu cumprimento, a quem se entrega o original e o respetivo
duplicado (requerimento e documentos), devendo, no entanto, permanecer na secretaria uma
fotocópia que serve de processo físico.

Uma vez que o requerente paga o “ato” diretamente ao agente de execução e que este,
uma vez realizada a diligência, entrega diretamente ao requerente a notificação com a
respetiva certidão, propendemos, salvo orientação contrária do Magistrado competente, que
o “processo” pode ser logo submetido aos vistos de fiscalização e correição, para posterior
arquivamento (art.º 126.º, n.º 2 da LOFTJ). 26

 INCIDENTES DE INSTÂNCIA

Noção de incidente processual

26
Embora já revogado, apenas nos resta hoje, como fonte, o Estatuto Judiciário aprovado pelo Dec. Lei n.º 44278,
de 14 de Abril de 1962, para definir o “Visto em Correição” aposto pelo juiz antes do arquivamento dos papéis,
livros e processos, previsto nas Leis de Organização n.ºs 3/99 e 52/2008:

Das correições

Art.º 437.º, 1. Todos os papéis, livros e processos, que estejam findos serão sujeitos a correição do juiz da
comarca antes de serem arquivados, com vista a apurar se há neles faltas ou irregularidades e a providenciar no
sentido de serem supridas as que forem notadas. Antes da apresentação ao juiz é dada vista ao Ministério
Público.

2. Os processos, livros e papéis dos tribunais municipais são apresentados ao juiz da comarca, para os fins da
correição, no mês seguinte àquele em que hajam findado.

Art.º 438.º, 1. Se não notar qualquer falta ou irregularidade, o juiz lança na folha onde esteja exarado o
último termo ou ato a nota de «Visto em correição», que pode ser feita por chancela, devendo, porém, a data e
rubrica ser manuscritas.

63
Manual de apoio ao ingresso - 2013
No passado, a figura em análise era designada por artigos, qualificados de incidentes e
emergentes, os primeiros deduzidos antes da contestação, e os segundos depois dela.
Os artigos não constituíam uma figura processual própria; eram tratados a propósito
das sentenças interlocutórias que os decidiam.
Com o tempo, alargou-se o âmbito da abrangência do conceito de incidente, passando
a significar a questão incidental, ou seja, a surgida no decurso do processo, distinta da
questão principal que dele era objeto, mas com ela relacionada.
Os incidentes mais frequentes nas causas pendentes e que implicavam a sua suspensão
eram designados por atentados. 27
A doutrina de vários países tem criticado o proliferar dos incidentes, advertindo que
constituem a zona minada do processo civil e o sector que pode fazer estalar no ar as
melhores intenções de qualquer reforma legislativa. 28
O incidente processual é a ocorrência extraordinária, acidental, estranha, surgida no
desenvolvimento normal da relação jurídica processual, que origine um processado próprio,
isto é, com um mínimo de autonomia. 29
Incidente da instância é, pois, a ocorrência estranha ao desenrolar normal de um
processo, que dê lugar a processado próprio e tenha fins específicos, embora limitados, a
alcançar. 30

Nesta ótica, não é incidente a atividade processual prevista como normal em relação
ao processo da ação ou do recurso, pelo que não pode ser considerado incidente o que se
inclua na tramitação normal do processo, como é o caso, por exemplo, da reclamação da base
instrutória ou da decisão da matéria de facto.
A lei tipifica e nomina vários incidentes, como é o caso daqueles que designa como
incidentes da instância, mas outros há que não são nominados e tipificados como tal.
São exemplos de incidentes desta segunda espécie a incompetência a que se reportam
os artigos 108.º a 114.º, o conflito de competência ou de jurisdição a que aludem os artigos
115.º a 121.º, a suspeição do juiz ou dos oficiais de justiça a que se reportam os artigos
126.º a 136.º.
Estes últimos incidentes só não foram incluídos no grupo dos incidentes da instância
porque, estando diretamente relacionados com a competência, foi entendido deverem ser
inseridos na parte do Código que tratava dessa matéria.

27
Manuel Almeida e Sousa de Lobão, “Tratado Prático Compendiário de Todas as Ações Summárias, Sua Índole e
Natureza em Geral e em Especial; Das Summárias, Sumaríssimas, Preparatórias, Provisionais, Incidentes,
Preceitos Cominatórios”, Lisboa, 1886, págs. 214 a 230.

28
Pablo Saavedra Gallo, “Reflexiones Sobre Los Incidentes En El Proceso Declarativo Civil”, Boletín de La Facultad
de Derecho, Universidad Nacional de Educación a Distancia, Madrid, Otoño 1992, pág. 173.
29
Manuel Augusto Gama Prazeres, “Os Incidentes da Instância no Actual Código de Processo Civil”, Braga, 1963,
pág. 13; e Ac. S.T.J., de 16.4.98, BMJ, n.º 476, pág. 305.
30
Ana Prata, Dicionário Jurídico, Almedina, Coimbra, 1997, pág. 529.

64
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Face às características da panóplia de incidentes suscitáveis nos processos, são
suscetíveis de ser classificados, além do mais, segundo os critérios do momento em que se
processem, dos respetivos efeitos, da denominação e da matéria.
Nessa perspetiva haverá incidentes anteriores ou posteriores à sentença final,
incidentes que suspendem e que não suspendem a marcha do processo principal, incidentes
nominados ou inominados, e incidentes civis, laborais e penais.
A determinação do conceito de incidente assume particular relevo para efeitos da
decisão da sua sujeição ou não sujeição a custas, como decorre, além do mais, do disposto no
artigo 7.º- Tabela II do R.C.P.

1. Generalidades
Estabelece o art.º 268.º, que se reporta ao princípio da estabilidade da instância que,
citado o réu, a instância deve manter-se quanto às pessoas, ao pedido e à causa de pedir,
salvas as possibilidades de modificação consignadas na lei.

Aquele normativo é conforme com o disposto no artigo 481.º, segundo o qual a citação
torna estáveis os elementos essenciais da causa, nos termos do art.º 268.º.

O princípio da estabilidade da instância é suscetível de ser afetado por virtude da


modificação subjetiva, seja pela intervenção de novas partes, seja em razão da substituição
de alguma das partes primitivas, seja por virtude da intervenção de terceiros.

De que forma é que tal modificação se opera, quais as soluções legislativas que se
nos deparam, e de que maneira deve o oficial de justiça lidar com ela é o que vamos
estudar de seguida.

DISPOSIÇÕES GERAIS

1. Regra geral

À regra geral sobre os incidentes reporta-se o art.º 302.º, segundo o qual em quaisquer
incidentes inseridos na tramitação de uma causa observar-se-á, na falta de regulamentação
especial, o que vai disposto nesta secção.
O próprio conceito de incidente processual pressupõe, como já se referiu e resulta
deste artigo, a existência de uma causa.
Por força deste normativo, se regulamentação especial não houver para o efeito, as
regras gerais a que se reportam os artigos 303.º a 304.º, ou seja, as relativas ao oferecimento
das provas e à respetiva oposição, ao limite do número de testemunhas e ao registo de
depoimentos, são aplicáveis a qualquer tipo de incidente. Estas normas são, nos termos do
art.º 384.º- n.º 3, subsidiariamente aplicáveis aos procedimentos cautelares.

65
Manual de apoio ao ingresso - 2013
2. Enumeração

O Código de Processo Civil considera incidentes da instância:

a) A VERIFICAÇÃO DO VALOR DA CAUSA


b) A INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
c) A HABILITAÇÃO
d) A LIQUIDAÇÃO
e) OUTROS A QUE A LEI ATRIBUI ESSA QUALIDADE, TAIS COMO:
A incompetência relativa
A falsidade
A suspeição
A remoção do cabeça de casal e outros incidentes do inventário

2. Processamento

NOS PRÓPRIOS AUTOS:

A maioria dos incidentes de intervenção de terceiros – artigos 320.º a 350.º


O incidente de verificação do valor da causa – artigos 305.º a 319.º
A incompetência relativa – art.º 108.º e seguintes
O incidente de habilitação documental – art.º 373.º, n.º 1
O incidente de falsidade – art.º 546.º e seguintes
O incidente de liquidação – art.º 378.º e seguintes
Os incidentes do inventário – art.º 1334.º

POR APENSO:

O incidente de suspeição – art.º 129.º, n.º 1


O incidente de embargos de terceiro – art.º 353.º, n.º 1
O incidente de habilitação, quando não documental – art.º 372.º, n.º 2

66
Manual de apoio ao ingresso - 2013
São estes os incidentes de intervenção de terceiros previstos no Código de Processo Civil:

Tramitação

O incidente é desencadeado através de requerimento que deve obedecer, com as


necessárias adaptações, ao formalismo estabelecido no art.º 467.º, n.º 1, para a petição
inicial, bem como ao estatuído nos art.ºs 150.º e 150.º-A e à Portaria n.º 114/2008, de 6 de
Fevereiro, no que se refere à entrega ou remessa a juízo das peças processuais e ao
comprovativo do pagamento de taxa de justiça.

Por via de regra, os incidentes comportam apenas dois articulados - o requerimento e


a oposição.
No requerimento em que for suscitado o incidente e na oposição que lhe for deduzida,
devem as partes oferecer logo os róis de testemunhas e requerer outros meios de prova – art.º
303.º, n.º 1.

Sem prejuízo de normativo que disponha em contrário, os factos que integram a causa
de pedir do incidente, ou seja, os inseridos no requerimento inicial e no instrumento de
oposição, devem ser articulados (artigo 151.º- n.º 2).

67
Manual de apoio ao ingresso - 2013
A oposição ao incidente é deduzida no prazo de 10 dias, naturalmente contado da
notificação da apresentação do requerimento inicial – art.º 303 – n.º 2.

O n.º 3 daquele artigo prevê sobre a omissão de oposição à matéria do incidente e


estatui sobre a respetiva consequência jurídica.

Assim, tendo em conta o que prescrevem os artigos 463.º, n.º 1, 464.º, 783.º a 792.º,
793.º a 796.º e 800.º, seja qual for a forma do processo seguida pela causa principal,
considerar-se-ão confessados os factos articulados pelo requerente do incidente, em
conformidade com o disposto nos artigos 484.º, n.º 1, e 485.º.

O número de testemunhas, por cada parte não poderá ser superior a oito
e, sobre cada facto, a parte não poderá produzir mais de três testemunhas
– art.º 304 – n.º 1 – considerando-se não escritos os nomes das testemunhas
que ultrapassem os limites (art.º 632.º, n.ºs 1 e 3).
Os depoimentos prestados antecipadamente ou por carta são gravados ou registados
nos termos do artigo 522.º- A – art.º 304.º, n.º 2.

Quando sejam prestados no tribunal da causa, os depoimentos produzidos em


incidentes que não devam ser instruídos e julgados conjuntamente com a matéria daquela são
gravados se, comportando a decisão a proferir no incidente recurso ordinário, alguma das
partes tiver requerido a gravação – art.º 304.º, n.º 3.

O requerimento (gravação) a que atrás se faz referência deverá ser apresentado


conjuntamente com o requerimento em que se suscita o incidente e com a oposição ao
mesmo – art.º 304.º, n.º 4.

Sem prejuízo de outro entendido por parte dos Senhores Magistrados, afigura-se-nos
que os requerimentos e oposições dos incidentes devem ser notificados entre os mandatários
judiciais constituídos - “...as notificações que o mandatário judicial deve fazer ao seu colega
de tudo o que houver de lhe ser notificado, e que tenha proveniência do seu escritório,
cabendo à secretaria notificar o que houver de ser notificado, que tenha proveniência do
tribunal...” – Ac. T. Rel. Porto JTRP00034381, de 18/04/2002.

TAXA DE JUSTIÇA

Nos termos do disposto nos art.ºs 7.º, n.º 3, 13.º e 14.º do R.C.P. em conjugação com os
art.º 150.º-A, 447.º-A ambos do C.P.C. e art.ºs 11.º e 12.º da Portaria 419-A/2009.

68
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Nos casos previstos no art.º 7.º -Tabela II do RCP, apenas é devida a taxa que vier a ser
fixada a final pelo juiz, sem prejuízo de este, fundamentadamente, poder dispensar o
pagamento.

Assim, vejamos a seguinte tabela prática:

TAXA DE Taxa de
INCIDENTE JUSTIÇA justiça OBS.

(final) inicial

Verificação do valor da a fixar a final pelo art.º 7.º RCP


não tem
causa juiz Tabela II

Intervenção principal;

Intervenção acessória; art.º 7.º RCP art.ºs 7º, 13º e

Assistência; Tabela II 14º

Oposição

.art.º7.º RCP art.ºs 7º, 13º e


Embargos de terceiro Tabela II
14º

a fixar a final pelo art.º 7.º RCP


Habilitação não tem
juiz Tabela II

a fixar a final pelo art.º 7.º RCP


Liquidação não tem
juiz Tabela II

***

 PROCEDIMENTOS CAUTELARES

1. Introdução

69
Manual de apoio ao ingresso - 2013
À luz do direito fundamental consagrado no artigo 20.º da Constituição da República
Portuguesa, o art.º 2.º do Código de Processo Civil garante o direito de ação judicial através
do qual é dado início ao processo como plataforma do exercício da função jurisdicional.

Por vezes, a demora natural da ação põe em perigo a reparação do direito violado, por
entretanto se poder alterar a situação de facto que permitiria a reparação.

Com o fim de evitar esse periculum in mora, o n.º 2 do mesmo art.º 2.º prevê a
existência de “procedimentos necessários para acautelar o efeito útil da ação”. O preceito
refere-se aos procedimentos cautelares, que afinal consubstanciam os meios instrumentais
destinados a obter provisoriamente a tutela jurisdicional para o direito ameaçado,
assegurando o efeito útil das ações de que sempre dependem (art.º 381.º, n.º 1).31

Para António Santos Abrantes Geraldes, “a principal função da tutela cautelar


consiste, pois, em neutralizar os prejuízos a suportar pelo interessado que tem razão,
derivados da duração do processo declarativo ou executivo e que não sejam absorvidos por
outros institutos de direito substantivo ou processual com semelhante finalidade”.32

Compreende-se, pois, que a lei rotule os procedimentos cautelares como meios


processuais urgentes (art.º 382.º, n.º 1) e que esta característica justifique o seu afastamento
das regras gerais da distribuição (art.º 212.º).

Os procedimentos cautelares são instaurados previamente à ação ou na pendência


dela. Diz-se preliminar quando instaurado antes da ação principal e incidental quando
instaurado já na pendência desta – cfr. art.º 383.º n.º 1.

1.1 - Características dos procedimentos cautelares

Os procedimentos cautelares têm as seguintes características:

Carácter urgente

De acordo com o disposto no art.º 382.º, os procedimentos cautelares têm carácter


urgente devendo, por essa razão, os seus atos precederem qualquer outro serviço não
urgente.

As marcas de urgência do processo atingem igualmente a oposição e o recurso.33

31
“O processo cautelar não visa a correção de situações, mas tão-somente prevenir lesão que venha a ser grave e
dificilmente reparável” – Ac. TRPorto n.º JTRP00037273, de 21/10/2004, in www.dgsi.pt.
32
Temas da Reforma de Processo Civil – III volume, pág. 41.

33
“Tanta proteção merece a posição do requerente que, com invocação e prova sumária dos requisitos legais,
obtém uma providência com efeitos imediatos, como o requerido que, discordando dos fundamentos de facto e

70
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Desta forma, quaisquer atos praticados em procedimentos cautelares podem (e
devem) ser praticados mesmo em férias judiciais (art.º 143.º, n.ºs 1 e 2), não se suspendendo
nestes períodos os prazos processuais – cfr. art.º 144.º, n.º 1.34

A urgência das medidas traduz-se ainda na obtenção duma decisão em primeira


instância no prazo máximo de 15 dias, nos casos em que não haja lugar ao contraditório
prévio, ou no prazo de dois meses quando o requerido seja ouvido previamente à decisão –
art.º 382.º, n.º 2.

A celeridade e a urgência do procedimento cautelar exige uma tramitação simplificada


e nesse sentido a estrutura do processo limita-se a dois articulados apenas (petição e
oposição ou contestação) e não admite a citação edital do requerido – cfr. art.º 385.º.

Ainda no mesmo sentido, os elementos de prova são oferecidos com os próprios


articulados

Natureza preventiva

Como já foi referido, uma das finalidades dos procedimentos cautelares é,


precisamente, evitar a lesão de um direito ou interesse protegido, independentemente de os
receios que lhe subjazem precederem a própria ação ou surgirem durante a pendência desta.
Natureza provisória
Outra característica que reveste o procedimento cautelar é a sua natureza provisória,
ou seja, termina com uma decisão de carácter provisório que prevalece até à decisão
definitiva da ação principal, garantindo assim o efeito útil dessa mesma ação no pressuposto
de que ela foi proposta ou venha a sê-lo, pois caso tal não aconteça a providência caduca –
cfr. art.º 389.º, al.ªs a) e c).
Falta de autonomia
Os procedimentos cautelares distinguem-se das ações uma vez que não têm as
características próprias destas, embora se destinem a garantir o efeito útil da ação da qual
são sempre dependentes – art.º 383.º, n.º 1.
Sigilo processual

de direito em que se baseou a anterior decisão, procura afastar os prejuízos que a execução imediata causa na
sua esfera de interesses” – António Santos Abrantes Geraldes, Temas da Reforma do Processo Civil, III volume, 5-
Procedimento Cautelar Comum, edição 1998, pág. 117.
34
“Os procedimentos cautelares têm natureza urgente ao longo de todo o seu processado, não se suspendendo
durante as férias, daí que o prazo para apresentar alegações de recurso, da decisão que ordenara o
levantamento da providência, não se suspenda nas férias de Verão” – Ac. TRPorto n.º JTRP00031420, de
01/03/2001 in www.dgsi.pt.

71
Manual de apoio ao ingresso - 2013
O art.º 167.º consagra o princípio da publicidade do processo civil, que, em termos
genéricos, traduz-se no direito de acesso ao processo para efeito de exame, consulta,
obtenção de cópias ou certidões das peças que o integrem, e ainda no direito à obtenção de
informações prestadas pela secretaria sobre o processo.
No entanto, o art.º 168.º estabelece algumas restrições a este princípio,
nomeadamente quando o seu conhecimento possa comprometer a eficácia da decisão a
proferir no processo, como é o caso dos procedimentos cautelares, aos quais só o requerente
e o seu mandatário têm acesso irrestrito.
O requerido e o seu mandatário só têm acesso ao procedimento cautelar após a
citação ou notificação para o contraditório.

1.2 - Procedimentos cautelares comuns e procedimentos cautelares


especificados

A lei prevê diversos procedimentos cautelares especificados. Mas, perante a


impossibilidade de cobrir todas as situações que possam estar na sua origem, a lei prevê ainda
o procedimento cautelar comum, com a particularidade de que este instrumento só pode ser
usado quando para a providência requerida inexista o adequado procedimento cautelar
especificado – art.º 381.º, n.º 3.

Os artigos 381.º a 391.º ditam as regras gerais aplicáveis ao procedimento cautelar


comum.

Para além daquele, a lei prevê alguns procedimentos cautelares especificados, cuja
tramitação é regulada pelas disposições próprias constantes dos art.ºs 393.º e seguintes,
aplicando-se-lhes subsidiariamente as disposições relativas ao procedimento cautelar
comum nos termos previstos do n.º 1 do art.º 392.º.

Assim, como se referiu, os procedimentos cautelares comuns aplicam-se em todas as


situações em que os interesses que as pessoas pretendem acautelar não estão previstos nos
procedimentos cautelares especificados na lei.

Procedimento cautelar comum – art.ºs 381.º a 392.º.

72
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Restituição provisória de posse – art.º
393.º

Suspensão de deliberações sociais – art.º


396.º

Procedimentos Alimentos provisórios – art.º 399.º


Cautelares
Arbitramento de reparação provisória –
Especificados art.º403.º
do CPC
Embargo de obra nova – art.º 412.º

Arresto – art.º 406.º

Arrolamento – art.º 421.º

Apreensão de veículo automóvel – art.ºs 15.º


e seguintes do Decreto-Lei n.º 54/75, de 24 de
Fevereiro;

Entrega judicial e cancelamento do registo


de bens objeto de locação financeira – art.º
Procedimentos 21.º do Decreto-Lei 149/95, de 24 de Junho
Cautelares (alterado pelo Decreto-Lei n.º 265/97 de
2.10).
Inominados

(os mais frequentes)


Arresto e outras providências sobre navios e
outras embarcações – art.ºs 12.º a 15.º da Lei
n.º 35/86, de 4 de Setembro.

1.3 Patrocínio judiciário

Os procedimentos cautelares não estão sujeitos a qualquer regime especial, pelo que a
obrigatoriedade do patrocínio judiciário obedece ao regime regra do art.º 32.º (em razão do

73
Manual de apoio ao ingresso - 2013
valor processual – cfr. também art.º 313.º, n.º 3),35 significando isto que as partes não estão
obrigadas à constituição de mandatário judicial nos procedimentos de valor não superior à
alçada do tribunal de 1.ª instância.

2. O procedimento cautelar comum

2.1 Início do procedimento


O procedimento cautelar comum inicia-se com a petição inicial, à qual são aplicáveis
as disposições dos art.ºs 150.º, 150.º-A, 467.º e 474.º, todos do CPC e da Portaria n.º
114/2008, de 6 de Fevereiro.

1. Quando requerido antes de proposta a ação principal e não havendo motivo de


recusa da petição (cfr. art.º 474.º, recusa da petição pela secretaria), o
requerimento não é distribuído mas sim imediatamente averbado como
procedimento cautelar comum a uma secção de processos – cfr. art.º 212.º;
2. Quando requerido no decurso da ação principal, o requerimento é autuado por
apenso à ação da qual depende (vem mencionada no próprio requerimento), ainda
que ela tenha subido em recurso, sendo que, nesta hipótese, a apensação física só
se efetua logo que a ação baixe à primeira instância.
3. Como já foi referido, o procedimento pode ser instaurado antes ou após ser
proposta a ação relativamente à qual se estabelece uma relação de dependência
sistemática e quando a preceda, deve ser imediatamente apensado à ação logo que
esta seja proposta, mesmo que se encontrem em tribunais diferentes – cfr. art.ºs
83.º, n.º 2 e 383.º, n.ºs 1 e 2.
Sendo requerido na pendência da ação principal, o procedimento cautelar é logo
autuado por apenso àquela – art.º 383.º, n.º 3.

A decisão proferida no procedimento cautelar não tem qualquer influência na


decisão da causa principal – art.º 383.º, n.º 4.

Aos procedimentos cautelares aplicam-se subsidiariamente as normas referentes aos


incidentes da instância – cfr. art.ºs 384.º, n.º 3 e 302.º a 304.º.

35
Em matéria cível, a alçada dos Tribunais da Relação é de € 30.000,00 e a dos Tribunais de 1.ª instância é de €
5.000,00 – cfr. art.º 24.º, n.º 1 da Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro (LOFTJ).

74
Manual de apoio ao ingresso - 2013
2.2 Tramitação

2.2.1 Citação do requerido


antes de decretada a providência

Imediatamente após a autuação (por apenso, quando haja ação pendente),


o procedimento cautelar é concluso ao juiz para que este profira despacho
liminar.
Muitas vezes, a urgência da providência requerida não se
compadece com os hiatos legalmente previstos para a comprovação do
pagamento da taxa de justiça inicial ou, em alternativa, da formulação do
pedido de concessão de apoio judiciário.

Considerando a especial natureza urgente do procedimento


cautelar, afigura-se-nos que o processo deve ser imediatamente
concluso ao juiz após a apresentação da petição em juízo (naturalmente
depois de distribuído e autuado), para ser proferido o despacho liminar ou
ser determinado o que houver por conveniente, mesmo nos casos em que o
interessado não comprove, aquando da apresentação da petição, o prévio
pagamento da taxa de justiça ou o pedido de apoio judiciário, documentos
estes que podem ser posteriormente juntos aos autos (cfr. art.ºs 150.º, n.º
4, 150.º-A – chama-se a atenção para o seu n.º 2 - e 467.º, n.ºs 4 e 5),
contanto que se informe o juiz da falta do documento em causa na própria
conclusão.

O despacho liminar poderá ser de:


Indeferimento liminar – deste despacho cabe recurso para o Tribunal da Relação –
cfr. art.º 234.º-A;
Aperfeiçoamento - cfr. art.º 265.º;
Dispensa de audição do requerido – cfr. art.º 385.º, n.º 1;
Despacho de citação versus notificação - quando o juiz entenda observar o
contraditório, ouvindo o requerido – cfr. art.º 385.º, n.º 1.
Na última hipótese, o requerido é citado para, no prazo de 10 dias (cfr. art.º 384.º, n.º
2, conjugado com o art.º 303.º, n.º 2), acrescido da dilação a que houver lugar nos termos do
art.º 252.º-A, mas nunca superior a 10 dias (cfr. 385.º, n.º 3 com a redação dada pelo

75
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Decreto-Lei n.º 38/2003, de 8 de Março)36, deduzir, querendo, oposição à providência,
devendo, com a oposição, oferecer logo os meios de prova (cfr. art.º 386.º).

No caso de o requerido já ter sido citado para os termos da ação principal, a citação
anteriormente referida no parágrafo anterior dá lugar a uma notificação não pessoal, nos
termos dos art.ºs 253.º ou 255.º, consoante tenha ou não mandatário judicial constituído –
cfr. art.º 385.º, n.º 2.

No ato de citação ou notificação, o requerido deve ser advertido de que a falta de


contestação importa a confissão dos factos articulados pelo requerente.

A citação do requerido é pessoal (cfr. art.º 233.º, n.ºs 1 a 5) e em regra efetua-se


através de carta registada com aviso de receção (cfr. art.ºs 236.º e a Portaria n.º 953/2003,
de 9 de Setembro, que aprovou o modelo do aviso de receção); frustrando-se a via postal, a
citação é efetuada mediante contacto pessoal do agente de execução com o citando, salvo se
o requerente solicitar a citação por oficial de justiça – cfr. art.ºs 236.º e 239.º, n.ºs 1, 7 e 8.

Se se frustrar a citação pessoal, o processo deve ir concluso ao juiz, uma vez que, de
acordo com o estipulado no n.º 4 do art.º 385.º, nos procedimentos cautelares não há lugar
à citação edital, havendo, assim, lugar a despacho que dispense a citação do requerido, se
assim for entendido pelo juiz.

2.2.1.1 Oposição

(na sequência da citação inicial do requerido)

O prazo para deduzir oposição é, como já vimos, de 10 dias, acrescido da dilação, se a


ela houver lugar nos termos do art.º 252.º-A, mas nunca superior a 10 dias conforme
também já referido.

A oposição nos procedimentos cautelares obedece às mesmas regras da contestação


do processo comum declarativo, ou seja, deve ser acompanhada do documento comprovativo
do pré-pagamento da taxa de justiça inicial ou, em alternativa, do documento comprovativo
da apresentação do pedido de concessão do benefício de apoio judiciário – cfr. art.ºs 150.º-A,
n.º 2 e 486.º-A do CPC, art.ºs 7.º, 13.º, 14.º e Tabela II do RCP.

Perante a não comprovação do pagamento da taxa de justiça inicial, a secretaria, após


o termo do prazo ou logo que se aperceba da sua falta, notifica oficiosamente o requerido
para efetuar o seu pagamento, acrescido duma multa de igual montante mas nunca inferior a
1 UC (€ 102,00), nem superior a 5 UC (€ 510,00) – art.º 486.º-A, n.ºs 3 e 4.

36
O limite máximo estabelecido para os prazos dilatórios não afeta os que tenham duração inferior.

Se, em determinado caso, a dilação aplicável for de cinco dias, este prazo não é afetado. Contudo, se, por
hipótese, o processo correr no continente e o requerido residir na Região Autónoma da Madeira, a dilação
prevista de 15 dias (art.º 252.º-A, n.º 2) é reduzida para os 10 dias fixados pelo n.º 3 do art.º 387.º como limite
máximo.

76
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Se, findos os articulados, o requerido persistir na falta do pagamento, será notificado,
novamente, para no prazo de 10 dias efetuar o pagamento da taxa de justiça e da multa
omitida, acrescida de outra multa de montante igual ao da taxa de justiça mas não inferior a
5 UC nem superior a 15 UC.

Nesta última hipótese, a secretaria avisará o requerido de que o não pagamento das
sobreditas quantias implica o desentranhamento da oposição que tiver sido apresentada e que
não sendo efetuado o pagamento omitido não é devida qualquer multa (n.ºs 5 a 7 do art.º
486.º-A).
A oposição é oficiosamente notificada ao requerente, não havendo lugar a mais
articulados.

2.2.1.2 Audiência final

De acordo com o n.º 1 do art.º 386.º, findo o prazo de oposição, quando o requerido
haja sido ouvido (citado), o processo é concluso ao juiz para decisão final, eventualmente
precedida da realização de diligências probatórias em sede de audiência de julgamento, por
sua própria iniciativa ou a requerimento das partes, audiência esta que só pode ser adiada
uma vez e com base na falta do mandatário judicial de qualquer das partes, caso em que
deve realizar-se num dos cinco dias seguintes – art.º 386.º, n.º 2.
Nos casos em que o requerido não seja ouvido (citado ou notificado) previamente ao
decretamento da providência, os depoimentos prestados em audiência são sempre registados
em gravação (som ou imagem e som) – art.º 386.º, n.º 4.
Sendo designada data para realização da audiência, a secretaria, após observar o que
vem disposto no art.º 155.º (“marcação e adiamento de diligências”), notifica o despacho aos
mandatários judiciais e convoca as testemunhas arroladas, à exceção daquelas que as partes
se tenham comprometido a apresentar e das que residam fora da área do círculo judicial
(art.ºs 623.º, n.º 1 e 628.º, n.º 2).
É oportuno referir que as notificações podem ser feitas por qualquer um dos meios
de comunicação referidos no n.º 5 do art.º 176.º, carecendo de imediata confirmação
escrita as que se realizem por via não escrita.
A decisão é oficiosamente notificada às partes (art.ºs 253.º a 255.º), devendo a
notificação ser acompanhada de cópia legível da decisão proferida (art.ºs 228.º n.º 3 e 259.º).
É de 30 dias o prazo para propositura, contado a partir da data em que tiver sido
notificada a decisão da providência ao requerente – art.º 389.º, n.º 1-a).

77
Manual de apoio ao ingresso - 2013
PROCEDIMENTO CAUTELAR COMUM
[contraditório prévio]

REQUERIMENTO INICIAL

Citação pessoal
do requerido
Conclusão (ou notificação)

NÃO
Findo o prazo
Indeferimento da oposição
Aperfeiçoamento

SIM
Audiência
e/ou
Notificação decisão
Notificação
do requerente
do requerente

Notificações
requerente
Aperfeiçoa Há recurso? e requerido
ou findo o prazo (requerente)
NÃO
NÃO
Providência
decretada
Conta
SIM
SIM

Realização
NÃO da providência
Fim

Há recurso?
(requerido)

CONCLUSÃO SIM

RECURSO
Admite recurso SIM DE
DEAPELAÇÃO
AGRAVO

NÃO


reclamação SIM RECLAMAÇÃO
art.º 688.º

78
Manual de apoio ao ingresso - 2013
2.2.2 Notificação do requerido após o decretamento da providência
(quando o contraditório não preceda o decretamento da providência)

Se for entendido pelo juiz que a audição prévia do requerido põe em risco sério o fim
ou a eficácia desta, só após a realização da providência decretada é que tem lugar a
notificação do requerido segundo as regras da citação pessoal – art.º 385.º, n.º 6.

Nessa altura, o requerido é notificado para, querendo, no prazo de 10 dias (cfr.


384.º n.º 3 e 303.º n.º 2), acrescido da dilação, se a ela houver lugar:

- deduzir oposição à providência, devendo com a oposição oferecer logo os meios de


prova (cfr. 386.º);

ou, em alternativa,

- interpor recurso do despacho que houver decretado a providência – art.º 388.º.

Notificado o requerido nos termos acabados de referir, é o requerente disso


oficiosamente notificado, correndo a partir daqui o prazo de 10 dias para propositura da
ação nos termos do n.º 2 do art.º 389.º.

2.2.2.1 Oposição
(na sequência do decretamento da providência)

A oposição deve ser apresentada no prazo de 10 dias a partir da notificação do


requerido, podendo este, em alternativa, interpor recurso da decisão que deferiu a
providência – cfr. art.ºs 388.º n.º 1 e 303.º n.º 2.
A oposição nos procedimentos cautelares obedece às mesmas regras da contestação do
processo comum declarativo, ou seja, deve ser acompanhada do documento comprovativo do
pré-pagamento da taxa de justiça inicial ou, em alternativa, do documento comprovativo da
apresentação do pedido de concessão do benefício de apoio judiciário – cfr. art.ºs 150.º-A, n.º
2 e 486.º-A do CPC, art.ºs 7.º, 13.º, 14.º e Tabela II do RCP.

Perante a não comprovação do pagamento da taxa de justiça inicial, a secretaria, após


o termo do prazo ou logo que se aperceba da sua falta, notifica oficiosamente o requerido
para efetuar o seu pagamento, acrescido duma multa de igual montante mas nunca inferior a
1 UC (€ 102,00), nem superior a 5 UC (€ 510,00) – art.º 486.º-A, n.ºs 3 e 4.
Se, findos os articulados, o requerido persistir na falta do pagamento, será notificado,
novamente, para no prazo de 10 dias efetuar o pagamento da taxa de justiça e da multa

79
Manual de apoio ao ingresso - 2013
omitida, acrescida de outra multa de montante igual ao da taxa de justiça mas não inferior a
5 UC nem superior a 15 UC.

Nesta última hipótese, a secretaria avisa o requerido de que o não pagamento das
sobreditas quantias implica o desentranhamento da oposição que tiver sido apresentada e,
bem assim, que não sendo efetuado o pagamento omitido não é devida qualquer multa (n.ºs 5
a 7 do art.º 486.º-A).
A oposição é oficiosamente notificada ao requerente, não havendo lugar a mais
articulados.

2.2.2.2 Audiência final

Em seguida, o processo é concluso e aqui o juiz decide o procedimento ou designa dia


para a audiência final para produção de provas – cfr. art.º 388 n.º 1, al.ª b) conjugado com o
art.º 386.º.
Se designar dia para audiência de provas37, além de se notificar o despacho às partes,
convocam-se, em princípio, apenas as testemunhas arroladas pelo requerido na oposição, dado
que as do requerente já terão sido ouvidas anteriormente.
Produzidas as provas, o juiz profere a decisão final, decretando a providência,
reduzindo-a ou mesmo recusando-a - cfr. art.º 387.º.
A providência decretada pode ser substituída por caução, que, a ter lugar, correrá por
apenso – cfr. art.ºs 387.º, n.º 3 e 990.º.
A decisão final é notificada às partes, sendo o requerido informado sobre a
possibilidade de interposição de recurso ordinário no prazo de 10 dias (art.º 685.º, n.º 1) e que
incorre na pena do crime de desobediência qualificada, p. p. no artigo 348.º, n.º 2 do Código
Penal, no caso de infringir a providência cautelar decretada.
Se o requerido não tiver sido citado previamente à tomada da decisão, ele será
notificado, segundo as regras da citação, para no prazo de 10 dias usar, em alternativa, um dos
seguintes meios de defesa:
Interpor recurso da decisão, nos termos gerais – art.º 388.º, n.º 1-a);

37
“Nos procedimentos cautelares, vigora o princípio da oralidade pura no que concerne aos depoimentos
testemunhais e restantes depoimentos ou declarações inseridas na fase da instrução, salvo se, admitindo o
processo recurso ordinário, tiver sido requerida a gravação da prova por qualquer das partes no momento
próprio (art.º 304.º, n.ºs 3 e 4 ex vi do art.º 384.º, n.º 3 do C.P.C.) e no caso do registo obrigatório quando se
esteja perante procedimento cautelar sem audiência contraditória (art.º 386.º, n.º 4 do C.P.C.) – Ac. TRÉvora
de 16/12/2003 – proc.º 2748/03-3 in www.dgsi.pt.

80
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Deduzir oposição – art.º 388.º, n.º 1-b).
Independentemente da atitude que tome, o requerido pode, no mesmo prazo,
requerer a substituição da providência decretada pela prestação duma caução
– art.º 387.º, n.º 4.

O incidente de prestação espontânea de caução

A urgência que caracteriza a providência envolve necessariamente este


incidente de prestação espontânea de caução, cujos trâmites estão
traçados pelo art.º 988.º ex vi do n.º 1 do art.º 990.º, não havendo lugar
ao pagamento de taxa de justiça inicial já que este incidente se
enquadra no art.º 7.º e Tabela II do RCP.
No requerimento, o interessado indica o motivo pelo qual oferece a
caução, o valor a caucionar e o modo de a prestar, além de oferecer as
provas necessárias.
Autuado por apenso, o incidente é concluso ao juiz, o qual, se não
indeferir o pedido, ordena a notificação da parte contrária para se
pronunciar no prazo de 15 dias, com a advertência de que a caução será
julgada idónea caso não conteste – art.º 988.º, n.º 2.
Com a oposição, são também indicados os meios de prova necessários
(art.º 303.º).
Não havendo contestação, o incidente é concluso para decidir o pedido.
Havendo contestação, o processo vai igualmente ao juiz para ordenar a
realização de quaisquer diligências probatórias necessárias e por fim
decidir a procedência ou improcedência do pedido e na primeira
hipótese fixar o valor da caução e o modo de a prestar – art.º 983.º.
A produção das provas rege-se pelo disposto no art.º 304.º.

Uma vez notificado o requerido, é o requerente imediatamente notificado do facto,


contando-se a partir daqui o prazo para a propositura da ação – art.º 389.º, n.º 2.

Não sendo deduzida oposição à providência cautelar, as custas ficam a cargo do


requerente e serão atendidas na conta da ação principal – cfr. art.ºs 453.º do CPC.

81
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Havendo oposição, a responsabilidade pelas custas é fixada na sentença de acordo com as
regras gerais estabelecidas no art.º 446.º e a elas não se atende na conta da ação principal.

Em suma, transitada a decisão que decretar a providência, elabora-se a conta, após o


que se seguem os demais trâmites conducentes ao pagamento das custas.

82
Manual de apoio ao ingresso - 2013
PROCEDIMENTO CAUTELAR COMUM
[sem contraditório prévio]

REQUERIMENTO INICIAL

Audiência
e
Conclusão decisão

NÃO
Providência
Indeferimento decretada
Aperfeiçoamento
NÃO SIM
SIM

Notificação Realização da
Notificação providência
do requerente
do requerente e notificações
de requerido
e requerente
Aperfeiçoa Há recurso
ou findo o prazo (requerente) OU
Há recurso Há oposição
NÃO
(requerido) (requerido)
NÃO
SIM
SIM
Conta NÃO

Conclusão

Fim
Audiência
e
SIM
decisão

CONCLUSÃO SIM
Notificações
do requerente
e requerido
RECURSO
Admite recurso SIM
DE APELAÇÃO

NÃO
Há recurso


NÃO reclamação SIM RECLAMAÇÃO NÃO
art.º 688.º

83
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Caducidade da providência cautelar

Como depende da ação cujo efeito útil visa acautelar, o procedimento cautelar caduca
não só com a improcedência da ação como nos demais casos enunciados no art.º 389.º, onde se
estabelece também o prazo de propositura da ação para os casos em que o procedimento
cautelar a preceda, prazo esse que, como vimos anteriormente, pode ser de 10 ou 30 dias,
consoante a providência seja decretada com dispensa de audição prévia do requerido ou não.
Assim:
a) Quando o requerido é citado antes de decretada a providência:
O prazo de propositura da ação é de 30 dias a contar da data em que o requerente se
considerar notificado da decisão que tenha ordenado a providência – cfr. art.º 389.º,
n.º 1 al.ª a);
b) Quando o requerido é notificado após a realização da providência:
O prazo de propositura da ação é de 10 dias a contar da notificação ao requerente da
efetivação da notificação do requerido nos termos n.º 6 do art.º 385.º, cfr. art.º
389.º, n.º 2.
Com efeito, logo que se mostre notificado o requerido da realização da providência, o
requerente é desse facto oficiosamente notificado pela secretaria, contando-se a partir daqui o
prazo de 10 dias para a propositura da ação.
Se estes prazos não forem observados, a providência cautelar caduca.
Note-se que, mesmo, depois de proposta tempestivamente a ação, a providência pode
caducar se:
- a ação estiver parada durante mais de 30 dias por negligência sua – art.º 389.º, n.º 1-b);
- Se o réu for absolvido da instância e o requerente não propuser nova ação em tempo de
aproveitar os efeitos da propositura anteriormente efetuada;
- Se o direito que o requerente pretende acautelar se tiver extinguido.
Em qualquer circunstância, determina o n.º 4 do mesmo artigo 389.º que “A extinção do
procedimento e o levantamento da providência são determinados pelo juiz, com prévia audiência
do requerente, logo que se mostre nos autos a ocorrência do facto extintivo”.
Situações há que escapam ao conhecimento oficioso da secretaria. No entanto,
verificando a secretaria a ocorrência de qualquer circunstância que possa conduzir à caducidade
da providência, como seja, por exemplo, a paragem da ação por um prazo superior a trinta dias
por negligência do autor, deve apresentar a ação conclusa ao juiz com essa indicação.

84
Manual de apoio ao ingresso - 2013
O juiz, antes de declarar a caducidade e a consequente extinção da providência, bem
como o seu levantamento, ordena a notificação do requerente para dizer o que tenha por
conveniente – cfr. art.º 389.º, n.º 4.

 AÇÃO DECLARATIVA

Nas ações (causas) cíveis:

ou alguém pede ao tribunal que “declare” a existência ou inexistência de um direito ou


de um facto, que “declare” que uma determinada pessoa violou um determinado direito
e a condene a repará-lo ou que “autorize” uma mudança na ordem jurídica - e chamar-
se-á, então, ação declarativa (art.º 4.º, n.ºs 1 e 2 do CPC.);

ou, por outro lado, se alguém já possui um título reconhecido por lei que lhe dá o
direito de exigir de determinada pessoa o pagamento de uma certa quantia, a prestação
de um certo facto ou a entrega de uma certa coisa, mas não consegue obter o
cumprimento desse título por meios voluntários, vem pedir ao tribunal que “execute” o
devedor, obrigando-o a cumprir - chamar-se-á ação executiva (art.º 4.º, n.ºs 1 e 3 do
CPC.).

Espécies de Ações consoante o seu fim (art.º 4.º C.P.C.)

85
Manual de apoio ao ingresso - 2013
- de simples apreciação 38

DECLARATIVAS - de condenação

- constitutivas

A
Ç
Õ
E
Pagamento quantia
S
certa
Fim Entrega coisa certa
Prestação facto
EXECUTIVAS
Comum
Forma
Especial

(V/ ainda os art.ºs 2.º, 45.º e 46.º do CPC)

FORMAS DE PROCESSO

Nas ações de natureza civil existem diferenças de característica e de valor que implicam
que os procedimentos a adotar no desenrolar do processo sejam, necessariamente, diferentes.
Por isso, a lei criou também várias formas de processo. Assim, nos termos dos art.ºs 460.º a
462.º a forma de processo, nas ações declarativas, pode ser:

38
As ações declarativas de simples apreciação (positiva ou negativa) destinam-se a por termo a situações de
incerteza jurídica através da declaração de existência (positiva) ou inexistência (negativa) de um direito ou de
um facto – cfr. art.º 4.º, n.º 2-a) CPC.

86
Manual de apoio ao ingresso - 2013
ORDINÁRIO:

Se o valor da causa excede a alçada


do Tribunal da Relação;

SUMÁRIO:

De valor acima da alçada do tribunal de


comarca mas igual ou inferior à da
Relação; de valor igual ou inferior à
alçada do tribunal de comarca e se
destinar a fins diferentes dos previstos
para o processo sumaríssimo;
PROCESSO COMUM

SUMARÍSSIMO:

De valor igual ou inferior à alçada do


tribunal de comarca e, não havendo
procedimento especial, se destinar ao

cumprimento de obrigações pecuniárias,

à indemnização por dano ou à entrega de

coisas móveis.

ESPECIAL - Nos casos expressamente designados na lei.

ALÇADA (em matéria cível) - art.º 24.º da Lei n.º 3/99, de 13/01, alterado pelo Dec. Lei n.º
303/2007, de 24 de Agosto:

1. Relação: 30.000,00€
2. Tribunais de 1.ª Instância: 5.000,00€

87
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Na tramitação das diferentes formas de processo ter-se-ão sempre presentes regras de
aplicação do direito subsidiário vertidas nos art.ºs 462.º a 464.º e 466.º do CPC.

NOÇÕES ELEMENTARES SOBRE A MARCHA DO PROCESSO E


RESPETIVOS PRAZOS
Requisitos da petição inicial - a secção central terá que verificar se estão observados
os seguintes requisitos (art.º 467.º do CPC.):

 Designação do tribunal onde a ação é proposta;

 Identificação das partes, através dos seus nomes ou designações, domicílios ou


sedes e, sempre que possível, profissões e local de trabalho;

 Indicação do domicílio profissional do mandatário judicial;

 Indicação da forma do processo;

 Exposição dos factos e das razões de direito que servem de fundamento à ação;

 Formulação do pedido;

 Declaração do valor da causa (requisito aplicável ao pedido reconvencional – n.º


2 do art.º 501.º do CPC);

 Domicílio do mandatário;

 Assinatura autógrafa do mandatário judicial constituído ou assinatura eletrónica


avançada quando a petição seja enviada por correio eletrónico ou outro meio
legalmente reconhecido como transmissão eletrónica de dados.
Há lugar a recusa de recebimento da petição quando (art.º 474.º do CPC.) :
O endereço do tribunal seja omitido ou a p.i. esteja endereçada a outro
tribunal;
Se omita a identificação das partes conforme requisitos indicados;
Não se indique o domicílio profissional do mandatário judicial;
Não se indique a forma do processo;

88
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Não se indique o valor da causa;
Não tenha sido junto o documento comprovativo do prévio pagamento da
taxa de justiça inicial ou da concessão de apoio judiciário, à exceção do
previsto no n.º 4 do art.º 467.º;39
Falte a assinatura do mandatário40;
Não esteja redigida em língua portuguesa;
O papel utilizado não obedeça aos requisitos regulamentares (art.º 24.º do
DL. n.º 135/99, de 22/04).41

O motivo da recusa é fundamentado, por escrito, porque:


do ato de recusa de recebimento cabe reclamação para o juiz, podendo ser
interposto recurso de apelação do despacho que confirmar ou não o recebimento
(art.º 475.º do CPC.);
o autor pode apresentar outra petição ou juntar o documento a que se refere a
primeira parte do disposto na alínea f) do artigo 474.º, num dos 10 dias
subsequentes à recusa de recebimento ou de distribuição da petição, ou à
notificação da decisão judicial que a haja confirmado, considerando-se a ação
proposta na data em que a primeira petição foi apresentada em juízo.
Apesar de não ser motivo de recusa, a secretaria deve anotar na petição:
Se a petição inicial não vem acompanhada dos duplicados e cópias legais,
excetuados os casos de envio através de correio eletrónico ou outro meio de
transmissão eletrónica de dados (art.º 152.º);
Se os documentos juntos não correspondem aos referidos na petição,
prevenindo a possibilidade da sua falta, bem como a posterior responsabilização
do funcionário que recebeu a petição;
Da não exibição do cartão de contribuinte ou de pessoa coletiva;

39
Cfr. o que ficou dito a propósito desta matéria aquando do estudo dos atos das partes (art.ºs 150.º a 150.º-A)
40
Nas ações em que o patrocínio de mandatário judicial não seja obrigatório, o requisito da assinatura é de exigir
à própria parte nos casos em que não constitua mandatário. Vindo a petição para propositura duma ação
ordinária assinada pela própria parte, em vez de sê-lo por mandatário judicial, em que o patrocínio é
obrigatório, a petição vier assinada pela própria.

89
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Do incumprimento de obrigações fiscais (v/ Art.º 280.º do CPC., e art.ºs
105.º do I.R.C., 127.º do I.R.S., 124.º do C.I.M.I. e 52.º do C.I.M.T.).

Nota:
Deve-se dar entrada à petição inicial fazendo-se menção da recusa. No caso de
ser apresentada nova petição (no prazo de 10 dias), a instância considera-se
iniciada na data da apresentação da primeira p.i. - art.º 476.º do CPC.

Posto que tudo esteja em ordem, é passado recibo ao apresentante, se este lho exigir
- art.º 28.º, n.º 2 do DL. n.º186-A/99, de 31de Maio.

AÇÃO ORDINÁRIA

Emprega-se o processo ordinário se o valor da causa exceder a alçada da Relação, ou


seja, se o valor for igual ou superior a €30.000,01 (art.º 462.º do CPC).

É obrigatória a constituição de advogado – cfr. art.º 32.º, n.º 1-a) e 678.º, n.º 1 do
CPC.

A petição inicial é distribuída na 1.ª Espécie - art.º 222.º do CPC..

O pagamento da taxa de justiça deve ser efetuado até ao momento da prática do ato a
ela sujeito.

O prévio pagamento é comprovado:


Quando o articulado for apresentado por transmissão eletrónica de dados, via
CITIUS, o comprovativo do pagamento é feito pela mesma via, nos termos do
art. 8.º da Portaria n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro;
Quando o articulado ou requerimento for entregue em mão na secretaria,
remetido pelo correio, sob registo ou através de telecópia, o comprovativo do
pagamento é materialmente junto com a peça processual respetiva.

OMISSÃO DO PAGAMENTO DA TAXA DE JUSTIÇA – art.ºs 150.º-A, do C.P.Civil

Como já vimos, a taxa de justiça deve ser paga até ao momento da prática do ato
processual a ela sujeito, sendo o comprovativo junto com a peça processual respetiva.

90
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Com a petição inicial deve ser junto o documento comprovativo do prévio pagamento
da taxa de justiça ou da concessão do apoio judiciário na modalidade de dispensa de taxa de
justiça e demais encargos ou ainda da demonstração de apresentação do pedido nos casos
previstos no n.º 5 do art.º 467.º do CPC.

Sendo a petição apresentada por transmissão eletrónica de dados, o documento


comprovativo do prévio pagamento da taxa de justiça deverá acompanhar a peça
processual, ficando a parte dispensada da junção do suporte em papel ao processo, nos
termos do n.º 3 do art.º 150.º do CPC.

Não sendo junto ou anexado o documento comprovativo e uma vez que a distribuição é
automática, logo que autuada a petição, deverá ser aberta conclusão ao juiz para determinar
o que tiver por conveniente, nomeadamente o desentranhamento da petição inicial.42

A junção de documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça de valor


inferior43 ao devido nos termos do Regulamento, equivale à falta de junção, devendo o
documento ser devolvido ao apresentante, ficando sujeito às cominações legais44.

As diligências para a citação só têm início depois de junto aos autos o comprovativo
do pagamento da taxa de justiça inicial – art.º 150.º-A, n.º 4 do CPC.

Autuada a petição inicial, sempre que, nos termos do respetivo Estatuto, o Ministério
Público deva intervir acessoriamente na causa, ser-lhe-á notificada oficiosamente a
pendência da ação, logo que a instância se considere iniciada, sob pena de nulidade - art.ºs
334.º, n.º 1 e 200.º do CPC, e 5.º, n.º 4 e 6.º do Estatuto do Ministério Público aprovado pela
Lei n.º 47/86, de 15 de Outubro, alterada (e republicada) pela Lei n.º 60/98, de 28 de Agosto.

Sendo caso disso (falta de demonstração de cumprimento de obrigações tributárias),


deverá comunicar-se oficiosamente à administração fiscal, a pendência e o objeto da causa -
art.º 280.º do CPC..

O réu é citado, oficiosamente (art.º 234.º), para contestar no prazo de 30 dias, sendo
advertido de que a falta de contestação importa a confissão dos factos articulados pelo
autor (art.ºs 480.º, 484.º e 486.º do CPC.).

Há ações declarativas com processo ordinário em que a falta de contestação “não


importa a confissão...” – art.º 485.º do CPC (exemplos: ação de investigação de paternidade,
ação de divórcio litigioso, etc.).

42
Art.º 467.º e 474.º do CPC, com a redação do D.L. nº 34/2008 e art.º 8.º da Portaria n.º 114/2008.

43
Sem prejuízo do pagamento em 24 horas do remanescente conforme dispõe o art.º 23.º da Portaria nº 419-
A/2009.

44
Art.º 150.º-A, n.º 2 do CPC, com a redação do D.L. nº 34/2008.

91
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Todas as diligências destinadas à citação são oficiosamente realizadas, tendo-se em
atenção o prazo de 30 dias estabelecido nos n.ºs 2 e 3 do art.º 234.º do CPC que significa o
seguinte:
 Passados 30 dias, sem que o Réu se mostre citado, é o autor informado das
diligências efetuadas e dos motivos da não realização do ato (com esta diligência,
além de se manter a parte informada do andamento do processo, poderemos ter
acesso a novos elementos de que a parte disponha, que nos facilitem o acesso ao
citando);
 decorridos mais 30 dias, sem que a citação se mostre efetuada, é o processo
imediatamente “concluso” ao juiz, com a informação das diligências efetuadas e das
razões da não realização atempada do ato.

O RÉU NÃO CONTESTA A AÇÃO

Se o Réu não contestar, o processo vai “concluso” ao juiz que, não se verificando
qualquer das hipóteses a que alude o art.º 485.º do CPC., ordena a notificação dos advogados
das partes para, no prazo de 10 dias, alegarem por escrito, nos termos do disposto no art.º
484.º do CPC.

Nesta notificação ter-se-á em conta que, apesar de não contestar, o réu pode ter
constituído mandatário, e se assim tiver acontecido, o mandatário é igualmente notificado
para alegar, contando-se primeiro o prazo do autor e depois o do réu, um após o outro.
Findo esse prazo, o processo é “concluso” para ser proferida sentença.

o O RÉU CONTESTA A AÇÃO

A contestação é o segundo articulado e através dela o réu exerce o seu direito de


defesa, opondo-se à pretensão ou pedido do autor.
Contudo o réu na sua contestação pode formular um pedido distinto, autónomo em
relação ao autor.
É a Contestação – reconvenção: este articulado pode inclusivamente servir para o réu
nele formular um pedido autónomo contra o autor (reconvenção), verdadeiro contra-ataque
processual.
É o caso de o réu, na ação de despejo, vir requerer na contestação a condenação do
autor no pagamento da indemnização devida pelas benfeitorias que ele introduziu no imóvel.

Dentro do prazo para apresentação da contestação, o réu pode requerer, sem prévia
audição da parte contrária, a prorrogação do prazo da contestação, até ao limite máximo de
30 dias (art.º 486.º, n.º 5 do CPC.).

92
Manual de apoio ao ingresso - 2013
A apresentação deste requerimento não suspende o prazo em curso, razão por que
o juiz decide no prazo máximo de 24 horas, por despacho insuscetível de recurso, que a
secretaria notifica imediatamente ao réu, nos termos estabelecidos no n.º 5 , 2.ª parte e no
n.º 6 do art.º 176.º, n.º 6 do art.º 486.º, todos do CPC..
Concedida a prorrogação por 10 dias, o prazo de contestação de 30 dias (art.º
486.º, n.º 1 do CPC.) conta-se como se fosse de 40 dias, ou seja, se o prazo para
apresentação de contestação terminava em 18 de Setembro de 2012, passaria a
terminar a 28 do mesmo mês.

Concedida a prorrogação, os benefícios dela não se estendem aos outros réus que a
não hajam requerido, donde, para eles, o prazo limite para apresentação da contestação é
determinado nos termos do n.º 2 do art.º 486.º, em função do último prazo que se tiver
iniciado sem qualquer prorrogação.

O prazo para apresentação dos restantes articulados pode ser igualmente prorrogado
a requerimento das partes, nos termos do disposto no art.º 504.º do CPC, aplicando-se as
regras estipuladas nos n.ºs 5 e 6 do referido art.º 486.º, à exceção do limite máximo
prorrogável que não pode ir além do prazo estabelecido para apresentação do articulado
respetivo.

O oficial de justiça quando recebe qualquer requerimento a solicitar a prorrogação


dum prazo deve encarar o ato como urgente, já que o pedido não suspende o prazo em
curso.

o Taxa de justiça inicial devida pelo réu

Com a contestação e sem prejuízo das disposições relativas à p.i., a falta de junção do
documento comprovativo, não implica a recusa da peça processual, devendo a parte
proceder à sua junção nos 10 dias subsequentes à prática do ato sob pena de sujeitar às
cominações dos art.ºs 486.º-A 45, ou em alternativa o documento que comprove a concessão
do benefício do apoio judiciário, a menos que esteja a aguardar a decisão dos serviços da
segurança social, caso em que juntará somente o comprovativo do pedido formulado (cfr.
art.ºs 25.º - n.º 3, a) e 26.º - n.º 4 da Lei n.º 34/2004, de 29/07).

O indeferimento do pedido de apoio judiciário implica para o réu a obrigação de


comprovar nos autos o pagamento prévio da taxa de justiça inicial, no prazo de 10 dias a
contar da notificação da segurança social a que se reporta o n.º 1 do art.º 26.º da Lei n.º
34/2004, de 29/07.
Perante a não comprovação do pagamento da taxa de justiça inicial do réu, a
secretaria, após o termo do prazo ou logo que se aperceba da sua falta, notifica

45
Art.º 150.º-A, n.º 3 do CPC.

93
Manual de apoio ao ingresso - 2013
oficiosamente o réu para efetuar o seu pagamento, acrescido duma multa de igual
montante mas nunca inferior a 1 UC (€ 102,00), nem superior a 5 UC (€ 510,00) – art.º
486.º-A, n.ºs 3 e 4.
Se, findos os articulados, o réu persistir na falta do pagamento, será notificado,
novamente, para no prazo de 10 dias efetuar o pagamento da taxa de justiça e da multa
omitida, acrescida de outra multa de montante igual ao da taxa de justiça mas não
inferior a 5 UC nem superior a 15 UC.

Nesta última hipótese, a secretaria avisa o réu de que o não pagamento daquelas
quantias implica o desentranhamento da contestação e da tréplica que tiver sido apresentada
(nas ações ordinárias) e que da omissão do pagamento as multas não ficarão em dívida (n.ºs 5
a 7 do art.º 486.º-A).

Caso o réu, na contestação, deduza pedido reconvencional (art.º 501.º do CPC.) distinto
do pedido do autor (art.º 308.º, n.º 2 do CPC.), o valor da ação passa a ser o resultante da soma
dos pedidos (valor = pedido inicial + pedido reconvencional) e se daqui resultar a incompetência
do tribunal singular, deverá o juiz remeter oficiosamente o processo para o tribunal competente,
nos termos do art.º 98.º, n.º 2.
Se o réu reconvinte não indicar o valor da reconvenção, o processo vai logo “concluso” ao
juiz para o convidar a fazê-lo (art.º 501.º, n.º 2 do CPC.).
A apresentação da contestação é oficiosamente notificada ao autor (art.º 492.º do CPC.),
pela secretaria.

Tendo sido citados vários réus, a notificação ao autor só se efetua depois de


apresentada a última contestação ou depois de decorrido o prazo para o seu oferecimento
(art.º 492.º, n.º 2 do CPC.), tendo-se em particular atenção que qualquer um dos réus
beneficia do prazo que tiver começado a correr em último lugar nos termos do n.º 2 do art.º
486.º.

o A RÉPLICA

À contestação pode o autor responder na réplica (art.º 502.º, n.º 1 do CPC.) para:

responder às exceções dilatórias (cfr. art.ºs 493.º e 494.º) ou perentórias


(cfr. art.ºs 493.º a 496.º) que o réu tiver aduzido na sua contestação;
defender-se do pedido reconvencional deduzido pelo réu;

94
Manual de apoio ao ingresso - 2013
em ação de simples apreciação negativa para demonstrar os fundamentos do
pedido (as causas e razões do seu direito) e negar, antecipadamente, as
declarações contrárias do réu.
A réplica é oferecida no prazo de 15 dias, salvo se o réu tiver deduzido
pedido reconvencional ou a ação seja de simples apreciação negativa, casos
em que o prazo para a réplica é de 30 dias (art.º 502.º, n.º 3).

O prazo para apresentação deste articulado pode ser prorrogável em termos análogos ao
da contestação – cfr. art.ºs 504.º e 486.º, n.ºs 4, 5 e 6 do CPC.

Apresentada réplica, deverá o mandatário do autor notificar o mandatário do réu do


articulado apresentado, fazendo prova dessa notificação nos autos (art.ºs 229.º-A e 260.º-A do
CPC), ficando, porém, dispensado desta última parte se fizer a notificação por transmissão
eletrónica e simultaneamente enviá-la pela mesma via para o tribunal nos termos do n.º.3 do
art.º 260.º-A.

o A TRÉPLICA

A tréplica é o quarto e último articulado normal da ação declarativa com processo


comum ordinário.
Através da tréplica pode o réu, no prazo de 15 dias a contar da notificação da réplica,
responder às alterações à causa de pedir e/ou ao pedido feito pelo autor na réplica, ou às
exceções que este houver deduzido contra o pedido reconvencional, nos termos do n.º 1 do
art.º 503.º.
O prazo para apresentação deste articulado pode ser prorrogável em termos análogos
ao da contestação – cfr. art.ºs 504.º e 486.º, n.ºs 4, 5 e 6 do CPC.

AUDIÊNCIA PRELIMINAR E DESPACHO SANEADOR

Findos os articulados, ou decorrido o prazo para a sua apresentação, o processo entra


na fase do saneamento que se destina ao suprimento de irregularidades com vista à
regularização da instância, pelo que o processo é concluso para o juiz (art.º 508.º do CPC.):

95
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Convocar uma audiência preliminar (art.º 508.º-A do CPC.); ou
Proferir despacho saneador (art.º 510.º, n.º 1 do CPC.).

Caso convoque audiência preliminar


A audiência preliminar é destinada a algum ou alguns dos fins referidos art.º 508.º-A do
CPC., designadamente:
tentativa de conciliação (art.º 509.º do CPC.);
discussão das exceções dilatórias e eventualmente para suprimento de
irregularidades verificadas e ainda da possibilidade do conhecimento de mérito
da causa nos termos das al.ªs b) e c) do art.º 508.º-A do CPC.;
proferir despacho saneador;
selecionar a matéria de facto que se considera assente e a que constitui a base
instrutória, decidindo as reclamações deduzidas pelas partes (art.º 508.º-A, n.º
1 al. e) do CPC.);
indicação dos meios de prova e decisão quanto às diligências probatórias;
designação da data para realização da audiência final; e
requerer a gravação da audiência final ou a intervenção do coletivo.
O despacho que designar data para realização da audiência preliminar, indica o seu
objeto e finalidade e é notificado aos mandatários das partes, mediante prévio acordo
quanto à designação da data, nos termos do disposto no art.º 155.º do CPC., podendo a
secretaria ser encarregada, nos termos do n.º 1 do referido normativo, de proceder aos
necessários contactos dos mandatários das partes.

Se a audiência preliminar também se destinar à realização de uma tentativa de


conciliação (art.º 508.º-A, n.º 1-a), são igualmente notificadas as próprias partes (cujos
mandatários não estejam munidos de poderes especiais) para comparecerem pessoalmente
ou fazerem-se representar por mandatário judicial com poderes especiais, quando
residam na área do círculo judicial, ou na respetiva ilha (tratando-se de Regiões
Autónomas), ou quando, aí não residindo, a comparência não represente sacrifício
considerável, atenta a natureza e o valor da causa e a distância da deslocação (art.º 509.º,
n.º 2 do CPC.).
A falta das partes ou dos seus mandatários não é motivo de adiamento da audiência
preliminar, mas, se algum destes não comparecer, poderá, no prazo de cinco dias a contar

96
Manual de apoio ao ingresso - 2013
da data da realização da audiência preliminar, apresentar o requerimento probatório e
requerer a gravação da audiência final ou a intervenção do coletivo (art.º 508.º-A, n.º 4).

Caso seja proferido despacho saneador (sem audiência preliminar):


Nos termos do disposto no art.º 508.º-B do CPC, o juiz não marca audiência preliminar e
profere despacho saneador (art.º 510.º, n.º 1):

As partes são notificadas deste despacho (art.º 253.º) e ainda para, em 15 dias,
apresentarem o rol de testemunhas,
requererem outras provas ou alterarem os requerimentos probatórios que hajam feito nos
articulados, e
requererem a gravação da audiência final ou a intervenção do coletivo (art.º 512.º).

Do despacho saneador, proferido sem audiência preliminar, podem as partes


apresentar as suas reclamações, que, após contraditório, são logo decididas (art.º 508.º-B,
n.º 2-última parte) por despacho que só pode ser impugnado no recurso interposto da
decisão final (art.º 511.º, n.º 3)

97
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Esquematizando:

1) -Tentativa de conciliação;
2) -Discussão de facto e direito;
a) - O juiz convoca
3)- Discussão de posição das
au d iên cia p relimin ar
partes;
destinada a algum ou
4)- Proferir despacho saneador;
alguns dos fins
5)-Seleccionar a matéria de facto
indicados no n.º 1, do
assente e a que constitui a base
art.º 508º-A
instrutória, e decidir as
reclamações deduzidas.

1)- Indicar os meios de prova e


decidir quanto às diligências
probatórias.
E, complementarmente, 2)- Designar, sempre que possível,
aos indicados no n.º 2 a data para a realização da
Findos os do art.º 508.º-A) audiência final.
articulados 3)- Requerer a gravação da
(art.º 508.º ) audiência final ou a intervenção do
colectivo.

- Notificam-se as partes do
despacho saneador e para, em 15
dias, apresentarem o rol de
testemunhas, requererem outras
provas ou alterarem os
requerimentos probatórios, e
requererem a intervenção do
colectivo ou a gravação da
Profere despacho audiência final (art.º 512.º)
saneador - art.º 510.º
Do despacho saneador podem as
partes apresentar as suas
reclamações, que, após
contraditório, são logo decididas
(art.º 508.º-B, n.º 2), e o despacho
sobre elas proferido apenas pode
ser impugnado no recurso
interposto da decisão.

98
Manual de apoio ao ingresso - 2013
INSTRUÇÃO

Esta fase do processo - a instrução - destina-se a carrear para os autos os meios de


prova que neles vão ser utilizados, para livre apreciação pelo tribunal (art.º 655.º),
procurando demonstrar a realidade dos factos descritos nos articulados.

Meios de prova

Definição legal (art.º 341.º do Cód. Civil): “As provas têm por função a demonstração
da realidade dos factos”.

Indicação das provas


Salvo nos casos previstos no art.º 508.º-A, n.ºs 2-a) e 4, as provas são indicadas no
decurso da audiência preliminar. Quando esta diligência não tenha lugar, no prazo de 15
dias a contar da notificação dos despacho saneador nos termos do art.º 512.º

Apresentadas as provas ou decorridos os prazos para o efeito, o processo é concluso


para despacho de admissão das diligências probatórias requeridas.
Os meios de prova podem ser classificados:

Meios de prova Previsão legal

Art.ºs 362.º a 387.º do Cód. Civil e 523.º a


Documental 551.º-A do Cód. Proc. Civil.

Art.ºs 352.º a 361.º do Cód. Civil e 552.º a


Por confissão
567.º do Cód. Proc. Civil.

Art.ºs 388.º a 389.º do Cód. Civil e 568.º a


Pericial
591.º do Cód. Proc. Civil.

Art.ºs 390.º e 391.º do Cód. Civil e 612.º a


Inspeção judicial
615.º Cód. Proc. Civil.

Art.ºs 390.º a 391.º do Cód. Civil e 616.º a


Testemunhal
645.º do Cód. Proc. Civil.

99
Manual de apoio ao ingresso - 2013
a) - Prova por documentos (conceito – art.º 362.º do CC)
Diz-se prova documental a demonstração da realidade de um ou mais factos através de
documentos.
Para efeitos de prova documental são especialmente relevantes os documentos escritos.
O regime processual da prova por documentos consta dos artigos 523.º e seguintes do
CPC., devendo ter-se especial atenção que deverá ser sempre notificada a junção aos autos
de documentos, quer juntos por iniciativa da parte, quer requisitados pelo tribunal (art.ºs
526.º e 539.º do CPC.).

b) - Prova por confissão:


A confissão é uma declaração de ciência pela qual uma pessoa reconhece a realidade
de um facto que lhe é desfavorável e favorece a parte contrária (art.º 352.º do CC.).
A confissão pode ser judicial ou extrajudicial.

A confissão judicial é feita em juízo e só vale no processo em que seja produzida, a


menos que se trate de procedimento preliminar (ex. providências cautelares) ou incidental
(ex. embargos de terceiro), casos em que a confissão vale para a ação principal – art.º 355.º
n.ºs 1 a 3 Cód. Civil.

Quando escrita, a confissão tem força probatória plena contra o confitente – art.º 358.º
n.º 1 Cód. Civil.

A confissão extrajudicial é a feita por qualquer modo diferente da confissão judicial –


art.º 355.º, n.º 4 Cód. Civil.

c) - Prova pericial
A prova pericial é um tipo de prova obtido através de exames ou apreciação de factos
por pessoas com capacidades específicas em determinadas matérias- os peritos. Este tipo de
prova pode ser oficiosamente ordenada pelo juiz (art.º 579.º) ou por requerimento das
partes (art.º 577.º).

No despacho que ordenar a perícia, o juiz fixa o seu objeto, nomeia os peritos (um ou
três – art.º 568.º, n.º 1 e 569.º) e designa local e data para a sua realização – art.ºs 580.º.

As partes são oficiosamente notificadas do despacho que ordena a realização da


perícia, que nomeia os peritos e designa a data e o local do começo da diligência (art.º 580.º
do CPC), sendo simultaneamente notificados para em 10 dias efetuarem o pagamento

100
Manual de apoio ao ingresso - 2013
antecipado dos encargos nos termos do art.º 20.º do RCP, devendo ser remetido o respetivo
DUC-Guia nos termos dos n.ºs 1 e 3 do art.º 21.º da Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de Abril.

Além de ser notificado às partes, o despacho é também notificado aos peritos (por via
postal registada – cfr. art.º 257.º do CPC), com a informação de que um eventual pedido de
escusa deve ser apresentado no prazo de 5 dias a contar da notificação, que se presume
efetuada no 3.º dia posterior ao do registo postal da carta.

d)- Prova por inspeção (inspeção judicial)


Este meio de prova consiste na inspeção de coisas ou de pessoas realizada pelo tribunal
singular ou coletivo (art.º 612.º do CPC.), sendo os seus resultados livremente apreciados
(art.ºs 391.º CC e 655.º, n.º 1 CPC), podendo o juiz ordenar a sua realização, em qualquer
altura, oficiosamente ou a requerimento as partes (art.º 612.º do CPC).
O despacho que designar dia e hora e local de realização da inspeção judicial é
notificado aos mandatários judiciais e às próprias partes (art.º 253.º, n.ºs 1 e 2, 613.º).
Da realização da diligência é lavrado auto – art.º 615.º.

e)- Prova testemunhal


A prova testemunhal consiste, no depoimento prestado por terceira pessoa - que não é
parte na ação -, em que revele o conhecimento que tem sobre os factos controvertidos em
apreciação.
Lugar da inquirição: O tribunal da causa (art.º 623.º do CPC.) à exceção das situações
previstas nos art.ºs 557.º, 624.º e 627.º do CPC.

Para prova dos fundamentos da ação, cada parte não pode oferecer mais do que 5
testemunhas por cada facto, contudo sem exceder o máximo de 20 testemunhas,
considerando-se não escritos os nomes das testemunhas que estiverem para além daqueles
limites (art.ºs 632.º e 633.º).

Para prova do pedido reconvencional e respetiva defesa, pode cada uma das partes
oferecer o mesmo número de testemunhas (art.º 632.º, n.º 2).

Quando se realiza a inquirição: Normalmente na audiência de discussão e julgamento,


presencialmente ou por teleconferência (no caso de processos pendentes em tribunais sediados
nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, não há lugar a teleconferência para audição de
testemunhas residentes nas referidas áreas).
As testemunhas podem ser inquiridas antecipadamente, mesmo antes de proposta a ação,
nos termos dos art.ºs 520.º e 521.º.

101
Manual de apoio ao ingresso - 2013
As testemunhas são convocadas para comparecer no tribunal ou no lugar que for
determinado por aviso registado nos termos do art.º 257.º.

Alteração ou aditamento do rol de testemunhas


O rol de testemunhas pode ser alterado ou aditado, nos termos do disposto no art.º 512.º-
A do CPC, até 20 dias antes da data em que se realize a audiência de julgamento, podendo a
contraparte usar da mesma faculdade no prazo de cinco dias contados da notificação do pedido
de alteração ou aditamento. Incumbirá às partes a apresentação das testemunhas indicadas
nessa alteração ou adicionamento.
O registo da prova está previsto nos art.ºs 522.º-A a 522.º-C do CPC. e encontra-se
regulamentado pelo DL. n.º 39/95, de 15/2.

Em regra, o registo é efetuado por gravação sonora, sem embargo do recurso a outros
processos técnicos de que o tribunal possa dispor (art.º 522.º-C do CPC.).

Audiência de discussão e julgamento

Juntas as provas ou terminado o prazo para a sua apresentação a secretaria faz o processo
“concluso”.

Marcação de diligências (art.º155.º do CPC)

1. O juiz deve providenciar pela marcação das datas das diligências mediante prévio
acordo com os mandatários judiciais que devam comparecer, para o que pode encarregar a
secretaria de realizar de forma expedita os contactos prévios necessários (via telefónica,
fax, etc.).

2. Quando a marcação não possa ser feita com o prévio acordo dos mandatários
judiciais, devem estes, se impedidos noutro serviço judicial já marcado, comunicar o facto
ao tribunal, no prazo de cinco dias, propondo datas alternativas, após contacto com os
restantes mandatários interessados.

3. O juiz pode alterar a data inicialmente fixada, pelo que apenas se procede à
notificação dos demais intervenientes após o decurso do prazo de cinco dias, atrás
referido.

102
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Assim, decorrido o prazo do n.º 2 do art.º 155.º, deve ser paga a 2.ª prestação da taxa
de justiça, devendo o interessado comprovar o pagamento no prazo de 10 dias,
contados da notificação para a audiência final (n.º 2 do art.º 14.º do RCP).

Caso o documento comprovativo do pagamento ou da concessão de benefício de apoio


judiciário não tiver sido junto ao processo, estabelece o n.º 3 do art.º 14º do RCP, que
a secretaria deve oficiosamente notificar o interessado para, no prazo de 10 dias,
efetuar o pagamento da segunda prestação da taxa de justiça, acrescido de multa de
igual montante, mas não inferior a 1 UC nem superior a 10 UC.

Verificando-se a continuação da omissão do pagamento46, no dia da audiência final ou


da realização de qualquer outra diligência probatória, a secretaria continuará o
processo com conclusão para que o tribunal, caso assim o entenda, determine a
impossibilidade de realização das diligências de prova que tenham sido ou venham a
ser requeridas pela parte em falta. É este o sentido da nova redação do nº 4 do art.º
14º do RCP.

Já quando se verifiquem as circunstâncias de não haver lugar a audiência final e não for
dispensado o pagamento da segunda prestação nos termos do n.º 5 do art.º 14º da RCP,
é o montante em questão incluído na conta de custas.

O julgamento é feito pelo tribunal coletivo, se ambas as partes o tiverem


requerido, salvo nos casos previstos no art.º 646.º, n.º 2 do CPC., em que não é
admissível a intervenção do tribunal coletivo.
Com efeito, nas ações
não contestadas que tenham prosseguido em obediência ao disposto nas alíneas
b), c) e d) do art.º 485.º do CPC,
nas ações em que todas as provas produzidas antes do início da audiência final
hajam sido reduzidas a escrito e
naquelas em que uma das partes haja requerido a gravação da audiência final,
segue-se o regime previsto no n.º 1 do art.º 791.º do CPC para as ações
sumárias, ou seja, em que o julgamento é feito perante o juiz singular.

46
Não tiver sido junto ao processo o documento comprovativo do pagamento da segunda prestação da
taxa de justiça, ou esta e da multa ou ainda da concessão de benefício de apoio judiciário.

103
Manual de apoio ao ingresso - 2013
As testemunhas residentes na área do círculo ou nas áreas metropolitanas de
Lisboa e Porto, para as causas pendentes em tribunais aqui sediados, são notificadas
mediante a expedição de aviso registado (art.º 257.º), para comparecerem sob pena
de serem condenadas em multa no caso de faltarem injustificadamente (art.º 27, n.º
1 do RCP) e de ser ordenada a sua comparência sob custódia nos termos do n.º 4 do art.º
629.º.
Se a notificação de alguma testemunha, ou parte, não tiver sido possível, é
notificada, oficiosamente, a parte que a indicou, dos motivos da falta de notificação,
para requerer o que tiver por conveniente.
As causas de adiamento da audiência encontram-se previstas no art.º 651.º
CPC.

Assim, haverá adiamento se:


a) não for possível constituir o tribunal coletivo, e nenhuma das partes prescindir
do julgamento pelo mesmo;
b) se for apresentado documento que não possa ser examinado no próprio ato e o
tribunal entender que há grave inconveniente no prosseguimento da audiência
sem resposta do documento apresentado;
c) faltar algum dos advogados e, na marcação da audiência, não tiver sido
observado o disposto no art.º 155.º do CPC.;
d) se faltar algum dos advogados que tenha comunicado a impossibilidade da sua
comparência, nos termos do n.º 5 do 155.º do CPC.

Quando, por impossibilidade de constituição do tribunal coletivo, alguma das partes tenha
prescindido do mesmo, pode qualquer das partes requerer, no início da audiência, a gravação da
mesma.
Procede-se, ainda, à gravação dos depoimentos das testemunhas presentes quando falte
algum dos advogados, fora dos casos acima indicados, podendo o faltoso, após audição do registo
do depoimento, requerer nova inquirição.
Sempre que constatar a falta de algum interveniente, após a realização da chamada, o
oficial de justiça deve verificar, através da consulta do processo, se a pessoa foi devidamente
notificada e informar o facto ao juiz.

104
Manual de apoio ao ingresso - 2013
o Formalidades da audiência (instrução e discussão da causa):

Previamente convirá referir que deixou de ser possível o adiamento por acordo das partes
(art.º 651.º do CPC.) não podendo adiar-se a audiência mais de uma vez, salvo no caso de
impossibilidade de constituição do tribunal coletivo, sem que nenhuma das partes dele prescinda.
A discussão e julgamento da causa desenrolam-se com observância do disposto nos art.ºs
652.º a 657.º do CPC.
Não havendo razões para adiamento, realizar-se-á a discussão da causa (art.º 652.º do
CPC.):

a)- Tentativa de conciliação das partes (art.º 652.º, n.º 2 do CPC.), a qual só deve ser
efetuada:
- se a causa estiver no âmbito do poder de disposição das partes;
- se as partes estiverem presentes ou se se tiverem feito representar por procurador
com poderes especiais para transigir;

b)- Parte instrutória da audiência - destina-se à produção das provas, que são, em regra,
o depoimento de parte e a prova testemunhal (art.º 652.º, n.º 3 do CPC.);

c)- Debates – altura em que os advogados procurarão fixar os factos que consideram
provados e que se processa oralmente;

d)- Realização de novas diligências probatórias (art.º 653.º, n.º 1 do CPC.);

e)- Audiência do técnico (art.º 652.º, n.º 6 do CPC.).

Encerrada a discussão, o tribunal recolhe à sala das conferências para decidir por meio
de acórdão (ou despacho se o julgamento não se realizar com a intervenção do tribunal
coletivo), nos termos dos n.ºs 1, 2 e 3 do art.º 653.º do CPC.
Este acórdão é lido pelo presidente na sala de audiências, após decisão do coletivo,
podendo os advogados reclamar contra este, nos termos previstos nos n.ºs. 4 e 5 do mesmo
artigo.

Alegações dos advogados

105
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Julgada a matéria de facto, as partes podem acordar na discussão oral do aspeto
jurídico da causa, que então se fará perante o juiz incumbido de lavrar a sentença final (art.º
653.º, n.º 5 do CPC.).
Se as partes não prescindirem da discussão, por escrito, do aspeto jurídico da causa, o
processo é facultado para exame ao advogado do A. e depois ao do R., pelo prazo de 10
dias, a cada um deles (prazos que se contam seguidos), a fim de alegarem por escrito (art.º
657.º do CPC).

1. Da audiência de julgamento é lavrada ata (art.º 159.º, n.º 1 do CPC.).


Concluída a discussão do aspeto jurídico da causa, ou decorrido o prazo previsto no art.º
657.º do CPC., o processo vai concluso ao juiz para ser proferida a sentença no prazo de
30 dias (art.º 658.º do CPC.).

Sentença:

A forma e o conteúdo da sentença estão previstos nos art.ºs 659.º a 665.º do CPC.
Proferida esta, procede-se a:

-Notificação do M.ºP.º (art.º 258.º do CPC., notificação que deve ser sempre
efetuada, mesmo que não seja parte, para os fins do disposto no art.º 3.º, n.º 1 als. f),
e o) do Estatuto do Ministério Público alterado e republicado com a Lei n.º 60/98, de
28/08), e das partes na sua pessoa ou na pessoa dos seus mandatários, caso tenham
constituído mandatário (art.ºs 253.º, 255.º e 259.º do CPC.);
- Notação estatística no “Habilus”47; e
- Registo em livro especial (n.º 4 do art.º 157.º do CPC).

Aguarda-se pelo prazo de 30 dias (art.º 685.º, n.º 1 do CPC.) que a decisão transite
em julgado (art.º 677.º do CPC.), sem prejuízo do disposto no art.º 145.º do CPC.

Quando as decisões já não sejam suscetíveis de recurso ou de reclamação, nos termos


dos art.ºs 668.º e 669.º do CPC., consideram-se transitadas em julgado (art.º 677.º do CPC.).
O recurso interpõe-se por meio de requerimento, dirigido ao tribunal onde foi
proferida a decisão e de acordo com as alterações introduzidas pelo Dec. Lei 303/2007, de 24
de Agosto, o requerimento de interposição de recurso é acompanhado das alegações.
47
Cfr. Oficio Circular n.º 30, de 1 de Setembro de 2006, da DGAJ.

106
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Em prazo idêntico (30 dias) ao da interposição, pode o recorrido responder à alegação
do recorrente. Se o recurso tiver por objeto a reapreciação da prova gravada, ao prazo de
interposição e de reposta acrescem 10 dias (art.º 685.º - n.ºs 5 e 7).

Findos os prazos para alegações e resposta, o juiz emite despacho sobre o requerimento
e, exceto nos casos dos n.ºs 2 e 3 do art.º 685.º-C, ordena a subida dos autos ao tribunal
superior.

Findo este prazo, sem que nada seja requerido, elabora-se a conta. Esta é
notificada, remetendo-se as guias, sendo caso disso, e, pagas as custas, fazem-se os vistos
“fiscal” e “correição” (art.º 126.º, n.º 2, da Lei n.º 3/99, de 13/01).
Não sendo pagas as custas, colhidas as informações sobre bens suscetíveis de penhora do
devedor, informa-se o Ministério Público, para requerer ou não a execução por custas (art.º
35.º do RCP).

 Súmula da Ação Ordinária

Prazos gerais para os atos processuais:

Juiz – 2 dias para despachos de mero expediente – art.ºs 156.º/4 e 160.º/2

10 dias outros despachos

Ministério Público – 2 dias para promoções de mero expediente – art.º 160.º, n.º 2

10 dias outras promoções – art.º 160.º, n.º 1.

Secretaria – 5 dias – art.º 166.º, n.º 1

Partes – prazo geral = 10 dias (art.º 153.º)

Receção e verificação da petição 467.º


inicial
Secretaria Imediato
Recusa de recebimento 474.º

Apresenta nova p. i. 476.º 10 dias


Autor
Reclamação para o juiz 475.º + 10 dias
153.º

107
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Distribuição da reclamação na 214.º+222 Bi-diária
espécie 10.ª .º+
Secretaria Portaria
114/2008

Conclusão
Reclamação

Juiz Despacho – confirma recusa da p.i.

Secretaria Notifica despacho ao autor

Autor Conforma-se ou interpõe recurso 475.º 15 dias


691.ºn.º2
n)

Juiz Despacho de admissão/rejeição do 687.º


recurso –

Secretaria Distribuição (secção central) 214.º+222 Bi-diária


.º+
Portaria
114/2008

Secção de Processos 480.º

Citação (oficiosa e por via postal)


do réu para contestar em 30 dias
2 meses (art.º
(este prazo é prorrogável até ao
234.º, n.ºs 2 e
máximo de 30 dias – 486.º)
3)
Em caso de frustração da via postal, 239.º, n.ºs
citação por agente de execução ou 7 ou 8
por oficial de justiça

O réu é citado mas não contesta

Secretaria Findo o prazo da contestação (com 483.º + 30 dias +


a dilação aplicável), o processo é 484.º dilação
concluso

Juiz Ordena notificação das partes nos 484.º/2 2 dias


termos do n.º 2 do art.º 484.º

Secretaria Notificações das partes para exame 484.º/2 10 dias


e alegações escritas

Autor/Réu Apresentação de alegações escritas 10 + 10 dias


(também pelo réu que junte

108
Manual de apoio ao ingresso - 2013
procuração a favor de mandatário
judicial)

Secretaria Conclusão 5 dias

Juiz Sentença 484.º, n.º 30 dias


2 + 658.º

Notifica Ministério Público e as 253.º,


partes, regista a sentença; Notação 255.º,
estatística 258.º,
259.º e
157.º n.º 4

Secretaria Aguarda trânsito em julgado 685.º 30 dias


(mínimo)

Após trânsito, elaboração da conta 50.º e 55.º


(10 dias) e demais atos CCJ
(notificações (5 dias) e pagamentos
(até 40 dias)

Juiz Correição

FIM

O réu é citado e apresenta


contestação

Réu Apresenta a contestação (e 486.º e 30 dias (sem


eventualmente reconvenção) 150.º dilação)

Secretaria Notifica a contestação ao autor 492.º 5 dias


ARTICULADOS

Autor Oferece réplica em 15 dias (30 dias 502.º e 15 ou 30 dias


se houver reconvenção ou em ação 504.º
de simples apreciação negativa),
notifica-a ao réu e comprova a
notificação nos autos nos termos
dos art.ºs 229.º-A e 260.º-A, n.º 2.

O prazo é prorrogável, no máximo,


por igual período (até 15 ou 30 dias,
consoante o caso) – art.º 504.º.

109
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Réu Oferece tréplica em 15 dias, 503.º e 15 dias
notifica-a ao autor e comprova a 504.º
notificação nos autos nos termos
dos art.ºs 229-.º-A e 260.º-A, n.º 2.

Partes Articulados supervenientes – as 506.º e


partes podem apresentá-los até ao 507.º
encerramento da discussão
prevendo-se o prazo de 10 dias para
o contraditório

Secretaria Findos os articulados, o processo é 508.º, n.º


concluso 1

Juiz Despacho para suprimento de 508.º


exceções dilatórias ou para
aperfeiçoamento dos articulados

Secretaria Notifica a(s) parte(s) em 229.º 10 dias


conformidade com o despacho
anterior (prazo das partes 10 dias)

Notifica a(s) partes contrárias a 508.º 5 dias


apresentação da(s) peça(s)
processual(is)
SANEAMENTO

Parte(s) Pronuncia(m)-se sobre a(s) peça(s) 508.º 10 dias


contrária(s) apresentada(s) em 10 dias (art.º
153.º

Secretaria Findo o prazo, o processo é 5 dias


concluso

Juiz Designa audiência preliminar para 508.º


um dos 30 dias seguintes (ou
dispensa-a e profere despacho
saneador – 510.º/1)

Secretaria Notifica as partes para a audiência 155.º,


preliminar 253.º e
509.º

110
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Juiz + Realização da audiência preliminar 508.º-A e
Partes + (despacho saneador ditado para a 509.º
Secretaria ata – art.º 510.º, n.º 2)

- Há a possibilidade de o processo
terminar por conciliação das partes
(509.º)

Juiz Se tiver dispensado a audiência 510.º/1


preliminar (508.º-B, n.º 1), profere
despacho saneador em 20 dias

Secretaria Notifica as partes do despacho 512.º 5 dias


saneador e para indicação das
provas

Partes Indicam as provas 512.º 15 dias

- É admissível a alteração do rol de


testemunhas até 20 dias antes da
audiência de julgamento, podendo,
em tal caso, a contraparte exercer
idêntico direito no prazo de 5 dias
após a notificação – art.º 512.º-A

Secretaria Abre conclusão

Juiz Designa data para a audiência final, 512.º/2 +


INSTRUÇÃO

tendo em atenção a duração 155.º


provável das diligências de prova
que devam realizar-se antes dela

Eventual realização de diligências -


de prova

O prazo de cumprimento das


deprecadas está fixado em 2 meses
(3 meses no caso de diligências a
realizar no estrangeiro) – art.º 181.º

Estes prazos podem ser encurtados


ou alargados – n.º 3

111
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Secretaria Notifica as partes e convoca as 253.º +
pessoas que devam intervir na 257.º
audiência (testemunhas, peritos,
etc.)

Vista aos juízes-adjuntos se houver 646.º, n.º


intervenção do tribunal coletivo 1 e 648.º

Juiz(es) + Audiência de discussão e 634.º,


Partes + julgamento 652.º
Secretaria
e segs.

Juiz(es) Prolação do acórdão/despacho 653.º


sobre a matéria de facto
AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO

Partes Exame do acórdão e eventuais 653.º, n.º


reclamações 4

Juiz(es) Decisão sobre as reclamações 653.º, n.º


5

Partes Produzem alegações se acordarem 653.º, n.º


na discussão do aspeto jurídico da 6
causa

Secretaria Lavra ata e faz o processo concluso 658.º 30 dias


para em 30 dias ser proferida a
sentença (658.º)

Partes Não havendo acordo entre as partes 657.º 20 dias


sobre a discussão do aspeto jurídico
da causa, as partes têm 10 dias (1.º
para todos os autores e depois para
todos os réus) para examinarem os
autos e alegarem por escrito.

Secretaria Abre conclusão para em 30 dias ser 658.º 5 dias


proferida a sentença (658.º)

Juiz Profere sentença 658.º 30 dias


SENTENÇA

112
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Secretaria Notifica Ministério Público e as 255.º, 5 dias
partes 258.º e
259.º; 157
Registo da sentença e notação – n.º 4
estatística

Após o trânsito em julgado da 30 dias


sentença, elaboração da conta e
cobrança das custas contadas

Min. Visto fiscal


CORREIÇÃO

Público

Juiz Correição

 AÇÃO SUMÁRIA

O processo sumário rege-se pelas disposições que lhe são próprias (art.º 463.º, n.º 1)
e subsidiariamente:
1. Pelas disposições gerais e comuns;
2. Pelo estabelecido para o processo ordinário.

A petição é distribuída na 2.ª Espécie - art.º 222.º do CPC.

O prazo para a contestação é de 20 dias e com a advertência de que a falta de


contestação importa a confissão dos factos articulados pelo autor (art.ºs 784.º, 480.º e
484.º do CPC.);
Não havendo contestação, vai o processo “concluso” ao juiz que pode limitar-se a
condenar no pedido por adesão aos factos alegados na petição inicial (art.º 784.º do CPC.);
Apresentada a contestação é a mesma notificada pela secretaria ao autor- cfr. 463.º n.º
1 e 492.º do C.P.C.
Não há réplica, nem tréplica, mas haverá lugar a “resposta à contestação” se nesta
for deduzida alguma exceção e apenas quanto a essa matéria. O prazo para a apresentação da
resposta é de 10 dias, a partir da data da notificação da contestação (art.º 785.º do CPC.);

113
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Se o réu tiver deduzido pedido reconvencional ou a ação for de simples apreciação
negativa, também há lugar a resposta, podendo, neste caso, ser oferecida no prazo de 20
dias (art.º 786.º do CPC.);
A resposta é notificada pelo advogado do autor ao advogado do réu – cfr. art.ºs 229.º-A
e 260.º-A do C.P.C – com envio do comprovativo para os autos.

Findos os articulados, o processo é concluso, podendo o juiz:

1. Designar audiência preliminar:


Se for designada audiência preliminar a secretaria procede à notificação das partes- cfr.
art.ºs 155.º e 509.º do C.P.C.
2. Não designar audiência preliminar e proferir despacho saneador;
Se o juiz tiver dispensado a audiência preliminar, profere despacho saneador - cfr. art.º
510.º n.º 1 do CPC.
A secretaria notifica as partes do despacho saneador e ainda para os efeitos do disposto
no art.º 512.º do CPC.;
2. Dispensar a fase de saneamento e condensação, ordenando a notificação das
partes nos termos do n.º 1 do art.º 512.º do CPC.- cfr. n.º 3 do art.º 787.º do CPC.

Cada parte não pode arrolar mais de 3 testemunhas por cada facto, nem ultrapassar o
limite máximo de 10 testemunhas (art.º 789.º do CPC), considerando-se não escritas as
testemunhas arroladas para além destes limites (cfr. n.º 3 do at.º 632.º ex vi do n.º 1 do art.º
463.º);
Findo o prazo, a secretaria abre conclusão para marcação da audiência final, sendo o
julgamento efetuado por juiz singular (art.º 791.º do CPC.).
Na audiência de julgamento pode haver reclamação da matéria de facto – cfr. art.º 508.º-B, n.º 2
do CPC.
A discussão sobre o aspeto jurídico da causa é sempre oral (art.º 790.º, n.º 1 do CPC).

 Súmula da Ação Sumária

Prazos gerais para os atos processuais:


Juiz – 2 dias para despachos de mero expediente – art.º 160.º, n.º 2 (cfr. art.º 156.º/4)

10 dias outros despachos

114
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Ministério Público – 2 dias para promoções de mero expediente – art.º 160.º, n.º 2

10 dias outras promoções – art.º 160.º, n.º 1

Secretaria – 5 dias – art.º 166.º, n.º 1

Partes – 10 dias – art.º 153.º

Receção e verificação da petição 463.º, n.º 1 +


inicial 467.º
Secretaria Imediato
Recusa de recebimento 463.º, n.º 1 +
474.º

Apresenta nova p. i. 463.º, n.º 1 +


10 dias
476.º
Autor
Reclamação para o juiz 463.º, n.º 1 + 10 dias
475.º + 153.º

Distribuição da reclamação na 214.º+222.º+ Bi-diária


espécie 10.ª Portaria
Secretaria 114/2008

Conclusão
RECLAMAÇÃO

Juiz Despacho – confirma recusa da p.i.

Secretaria Notifica despacho ao autor

Autor Conforma-se ou interpõe recurso 463.º, n.º 1 + 15 dias


475.º +691.º
n.º2 n)

Juiz Despacho de admissão/rejeição do 687.º


recurso

Secretaria Distribuição 214.º + Bi-diária


222.º+
Portaria
114/2008

Secretaria Citação (oficiosa e por via postal) do 783.º 2 meses


réu para contestar em 20 dias (este (art.º
prazo é prorrogável até ao máximo 234.º, n.ºs
de 30 dias – 486.º) 2 e 3)

115
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Secretaria Em caso de frustração da via postal, 239.º, n.ºs 7
citação por agente de execução ou ou 8
por oficial de justiça

O réu é citado mas não contesta

Secretaria Findo o prazo da contestação (com a 463.º, n.º 1 + 20 dias +


dilação aplicável), o processo é 483.º + 484.º dilação
concluso

Juiz Sendo a revelia operante e se os 463.º, n.º 1 + 2 dias


factos reconhecidos determinarem a 484.º/2
procedência da ação, é proferida
sentença condenatória
_____________________ 784.º
Caso contrário, o juiz ordena a
notificação das partes nos termos do
n.º 2 do art.º 484.º.

Secretaria Notificações das partes para exame 463.º, n.º 1 + 5 dias


e alegações escritas. 484.º/2

Autor/Réu Apresentação de alegações escritas 10 + 10


(também pelo réu que junte
procuração a favor de mandatário
judicial)

Secretaria Conclusão 5 dias

Juiz Sentença 463.º, n.º 1 + 30 dias


484.º, n.º 2

+ 658.º

Notifica Ministério Público e as 253.º, 255.º,


partes, regista a sentença; Notação 258.º, 259.º
estatística e 157.º n.º 4

Aguarda trânsito em julgado 685.º 30 dias


Secretaria
(mínimo)

Após trânsito, elaboração da conta 29.º RCP


(10 dias) e demais atos (notificações
(5 dias) e pagamentos (até 40 dias)

116
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Juiz Correição

FIM

O réu é citado e contesta

Réu Apresenta a contestação (e 463.º, n.º 1 + 20 dias


eventualmente reconvenção) 486.º e 150.º (sem
dilação)

Secretaria Notifica a contestação ao autor 463.º, n.º 1 + 5 dias


492.º

Autor Responde à contestação em 10 dias 463.º, n.º 1 + 15 ou 30


se tiver sido deduzida alguma 785.º e 786.º 10 ou 20
exceção (20 dias se houver dias
reconvenção ou em ação de simples
apreciação negativa), notifica-a ao
ARTICULADOS

réu e comprova a notificação nos


autos nos termos dos art.ºs 229.º-A e
260.º-A, n.º 2.

O prazo é prorrogável, no máximo,


por igual período (até 10 ou 20 dias,
consoante o caso) – art.ºs 463.º, n.º
1 e 504.º.

Partes Articulados supervenientes – as 506.º e 507.º


partes podem apresentá-los até ao
encerramento da discussão
prevendo-se o prazo de 10 dias para
o contraditório

Secretaria Findos os articulados, o processo é 787.º, n.º 1


concluso

Juiz Despacho para suprimento de 508.º


SANEAMENTO

exceções dilatórias ou para


aperfeiçoamento dos articulados

117
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Secretaria Notifica a(s) parte(s) em 229.º 10 dias
conformidade com o despacho
anterior (prazo das partes 10 dias)

Notifica a(s) partes contrárias a 508.º 5 dias


apresentação da(s) peça(s)
processual(is)

Parte(s) Pronuncia(m)-se sobre a(s) peça(s) 508.º 10 dias


contrária( apresentada(s) em 10 dias (art.º
s) 153.º

Secretaria Findo o prazo, o processo é concluso 5 dias

Juiz Uma de três hipóteses pode 787.º


verificar-se:

- Designa audiência preliminar;

- Não designa audiência preliminar,


mas profere despacho saneador;

- Dispensa a fase de saneamento e


condensação e ordena a notificação
das partes nos termos do n.º 1 do
art.º 512.º - 787.º, n.º 3

Secretaria Sendo designada audiência 155.º, 253.º


preliminar: e 509.º

Notifica as partes para a audiência


preliminar

Juiz + Realização da audiência preliminar 508.º-A e


Partes + (despacho saneador ditado para a 509.º
Secretaria ata – art.º 510.º, n.º 2)

- Há a possibilidade de o processo
terminar por conciliação das partes
(509.º)

Juiz Se tiver dispensado a audiência 510.º/1


preliminar (508.º-B, n.º 1), profere
despacho saneador em 20 dias

118
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Secretaria Notifica as partes do despacho 512.º 5 dias
saneador e para indicação das
provas

Esta notificação pode ocorrer sem


precedência do despacho saneador –
787.º, n.º 3.

Partes Indicam as provas 512.º 15 dias

- É admissível a alteração do rol de


testemunhas até 20 dias antes da
audiência de julgamento, podendo,
em tal caso, a contraparte exercer
idêntico direito no prazo de 5 dias
após a notificação – art.º 512.º-A

Secretaria Abre conclusão

Juiz Designa um dos 30 dias seguintes 512.º/2 +


para audiência final, tendo em 155.º + 791.º
atenção a duração provável das
INSTRUÇÃO

diligências de prova que devam


realizar-se antes dela

Eventual realização de diligências 788.º


de prova.

O prazo de cumprimento das cartas


é único e reduzido para 30 dias, sem
prejuízo da possibilidade de
encurtamento ou prorrogação
previstas nos n.ºs 3 e 4 do art.º
181.º

Secretaria Notifica as partes e convoca as 253.º + 257.º


pessoas que devam intervir na
audiência (testemunhas, peritos,
etc.)

Juiz + Audiência de discussão e julgamento 634.º, 652.º


JULGAMENT
AUDIÊNCIA

Partes +
Secretaria (Em caso de adiamento, a audiência e segs.
DE

deve realizar-se dentro de 30 dias –


art.º 790.º)

119
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Juiz Prolação do despacho sobre a 653.º
matéria de facto

Partes Exame do acórdão e eventuais 653.º, n.º 4


reclamações

Juiz Decide as reclamações 653.º, n.º 5

Partes Produzem alegações orais 653.º, n.º 6

Secretaria Lavra ata e faz o processo concluso 658.º


para em 30 dias ser proferida a
sentença (658.º)

Juiz Profere sentença 658.º 30

Secretaria Notifica Ministério Público e as 255.º, 258.º


partes e 259.º;
157.º - n.º 4
Registo da sentença e notação
estatística

Após o trânsito em julgado da


sentença, elaboração da conta e
cobrança das custas contadas

Min. Visto fiscal


Correição

Público

Juiz Correição

 AÇÃO SUMARÍSSIMA

O Processo Sumaríssimo rege-se pelas disposições que lhe dizem respeito (art.º
464.º) e
1. Pelas disposições gerais e comuns;
2. Pelo estabelecido para o processo sumário;
3. Pelo estabelecido para o processo ordinário.

A petição é distribuída na 3.ª Espécie - art.º 222.º do CPC.

120
Manual de apoio ao ingresso - 2013
O prazo para a contestação é de 15 dias com a advertência de que a falta de
contestação importa a confissão dos factos articulados pelo autor (art.ºs 794.º, 480.º e
484.º do CPC.);
Não havendo contestação, vai o processo “concluso” ao juiz que pode decidir do
mérito da causa (art.º 795.º, n.º 1 do CPC.);
Se a ação tiver que prosseguir, é logo marcado dia para a audiência final, a efetuar no
prazo de 30 dias, não sendo aplicável o disposto nos n.ºs 1 a 3 do art.º 155.º (art.º 795.º, n.º 2
do CPC.);
O rol de testemunhas é oferecido logo nos articulados (art.ºs 793.º e 794.º do CPC.),
que é notificado ao réu aquando da citação;
Não há despacho saneador, seguindo-se à notificação da contestação, se for caso disso,
a “conclusão” ao juiz ;
As testemunhas, até 6, não são notificadas para julgamento exceto se a parte
interessada o tiver requerido (art.º 796.º, n.º 4 do CPC.).
A sentença é sucintamente fundamentada e logo ditada para a ata – art.º 796.º, n.º 7.

 Súmula da Ação Sumaríssima

Prazos gerais para os atos processuais:

Juiz – 2 dias para despachos de mero expediente – art.º 160.º, n.º 2 (cfr. art.º 156.º/4)

10 dias outros despachos

Ministério Público – 2 dias para promoções de mero expediente – art.º 160.º, n.º 2

10 dias outras promoções – art.º 160.º, n.º 1

Secretaria – 5 dias – art.º 166.º, n.º 1

Partes – 10 dias – art.º 153.º

Receção e verificação da petição 464.º +


inicial 467.º
Secretaria Imediato
Recusa de recebimento 464.º +
474.º

121
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Apresenta nova p. i. 464.º +
10 dias
476.º
Autor
Reclamação para o juiz 464.º + 10 dias
475.º +
153.º

Distribuição da reclamação na espécie 214.º+222 Bi-diária


10.ª .º+
Secretaria Portaria
114/2008

Conclusão

Juiz Despacho – confirma recusa da p.i.


Reclamação

Secretaria Notifica despacho ao autor

Autor Conforma-se ou interpõe recurso 464.º + 15dias


475.º +
691.ºn.º 2
n)

Juiz Despacho de admissão/rejeição do 687.º


recurso

Secretaria Distribuição 214.º+222 Bi-diária


.º+
Portaria
114/2008

Secretaria Citação (oficiosa e por via postal) do 794.º n.º


réu para contestar em 15 dias (este 1
prazo é prorrogável até ao máximo de 2 meses (art.º
30 dias – 486.º) 234.º, n.ºs 2 e
Secretaria Em caso de frustração da via postal, 239.º, 3)
citação por agente de execução ou n.ºs 7 ou
por oficial de justiça 8

O réu é citado mas não contesta

Secretaria Findo o prazo da contestação (com a 464.º + 15 dias +


dilação aplicável), o processo é 483.º + dilação
concluso 484.º

Juiz Sendo a revelia operante e se os 464.º + 2 dias

122
Manual de apoio ao ingresso - 2013
factos reconhecidos determinarem a 484.º/2
procedência da ação, é proferida
sentença condenatória

Caso contrário, o juiz ordena a 784.º


notificação das partes nos termos do
n.º 2 do art.º 484.º.

Secretaria Notificações das partes para exame e 464.º + 5 dias


alegações escritas. 484.º/2

Autor/Réu Apresentação de alegações escritas 10 + 10


(também pelo réu que junte
procuração a favor de mandatário
judicial)

Secretaria Conclusão 5 dias

Juiz Sentença 464.º + 30 dias


484.º, n.º
2

+ 658.º

Secretaria Notifica Ministério Público e as 253.º,


partes, regista a sentença; Notação 255.º,
estatística 258.º,
259.º e
157.º n.º
4

Aguarda trânsito em julgado 685.º 30 dias

(mínimo)

Após trânsito, elaboração da conta 29.º RCP


(10 dias) e demais atos (notificações
(5 dias) e pagamentos (até 40 dias)

Juiz Correição

FIM

O réu é citado e
contesta

Secretaria Notifica a contestação ao autor 794.º - n.º 5 dias

123
Manual de apoio ao ingresso - 2013
2

Partes Articulados supervenientes – as partes 506.º e


podem apresentá-los até ao 507.º
encerramento da discussão prevendo-
se o prazo de 10 dias para o
contraditório

Secretaria Findos os articulados, o processo é 795.º, n.º 5 dias


concluso 1

Juiz Pode o juiz julgar logo procedente 795.º 10 dias


alguma exceção dilatória ou nulidade,
ou decidir do mérito da causa, sem
prejuízo da possibilidade de o autor
SANEAMENTO

se pronunciar sobre exceções


deduzidas na contestação, o que fará
no início da audiência final.

Se a ação prosseguir é marcada


audiência de julgamento que deve
efetuar-se dentro de 30 dias. Não é
aplicável o art.º 155.º

Secretaria Notifica a(s) parte(s) em 253.º + 5 dias


conformidade com o despacho 257.º
anterior. Convoca as pessoas que
devam intervir na audiência
(testemunhas, peritos, etc.)

Juiz + Partes Audiência de discussão e julgamento 634.º, 30 dias (máx.)


+ Secretaria 652.º
A falta das partes ou mandatários não
é motivo de adiamento. e segs., e
AUDIÊNCIA DE
JULGAMENTO

796.º
A audiência pode ser suspensa para
realização de diligências probatórias,
devendo concluir-se dentro de 30
dias. A prova pericial é realizada por
um único perito.

Partes Produzem breves alegações orais 796.º n.º


6

124
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Juiz + Juiz profere sentença logo ditada para 796.º - n.º
SENTENÇA

Secretaria a ata. 7

Secretaria Notifica Ministério Público e as partes 253.º, 5 dias


255.º,
Registo da sentença e notação 258.º,
estatística 259.º e
260.º;
157.ºn.º 4

Após o trânsito em julgado da


sentença, elaboração da conta e
cobrança das custas contadas

Min. Público Visto fiscal


Correição

Juiz Correição

 Ação Executiva

 INTRODUÇÃO

A reforma da ação executiva implementada pelo Decreto-Lei n.º 38/2003, de 8 de


Março, teve por finalidade retirar parte da atividade processual aos tribunais, deixando para
estes a sua verdadeira função de dirimir litígios.

Aquele diploma, sem romper a sua ligação aos tribunais, atribui ao agente de execução
a iniciativa e a prática dos atos necessários à realização da função executiva, a fim de

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Manual de apoio ao ingresso - 2013
libertar o juiz das tarefas processuais que não envolvem uma função jurisdicional e os
funcionários judiciais de tarefas a praticar fora dos tribunais.

A ação executiva será conduzida nas secretarias de execução, as quais têm


competência para efetuar todas as diligências necessárias à normal tramitação da execução
que não sejam da competência do agente de execução, através dos oficiais de justiça.

Com o novo regime da ação executiva instituído pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de
Novembro, foram introduzidas medidas de simplificação processual e medidas de carácter
preventivo.

Como medidas de simplificação processual destacam-se a reserva de intervenção do juiz


de execução para situações de efetivo conflito ou em que a relevância da questão o
determine, e o reforço do papel do agente de execução traduzido na transferência, para si,
de tarefas anteriormente confiadas ao juiz de execução e à secretaria.

Estas duas medidas levam inevitavelmente à simplificação e diminuição dos atos da


secretaria e dos oficiais de justiça nas execuções em que estes protagonizem funções de
agentes de execução.

Reforçou-se ainda o papel do exequente no controlo e eficácia da ação executiva,


nomeadamente através do efetivo controlo da atividade do agente de execução que lhe
permite proceder à sua livre substituição, e do acrescido dever que impende sobre o agente
de execução de informar o exequente da sua atividade processual.

As medidas preventivas implementadas pelo novo regime da ação executiva


manifestam-se ao nível do registo informático de execuções e da lista pública de execuções.

Ao registo informático de execuções passa a aceder diretamente o agente de execução,


procedendo às consultas, inscrição e atualização diária.

A lista pública de execuções visa a disponibilização, através da internet, do rol de


execuções extintas pelo pagamento parcial da quantia exequenda ou por não terem sido
encontrados bens penhoráveis.

O executado pode ver suspensa a sua inclusão na referida lista se pagar ao exequente ou
aderir a um plano de pagamentos elaborado com o auxílio de uma entidade reconhecida pelo
Ministério da Justiça e cumpri-lo na íntegra.

O pagamento da quantia em divida ou o decurso do prazo de cinco anos, após a inclusão


na referida lista, conduzem à exclusão do devedor da lista pública de execuções.

Com o presente diploma o oficial de justiça “perde” a designação de agente de


execução, onde passam a caber apenas o solicitador de execução e o advogado.

Contudo, a competência do oficial de justiça definida no anterior art.º 808.º n.º 3 do


CPC, encontra no regime atual uma maior amplitude, na medida em que praticará os atos tal
e qual o agente de execução não apenas nas execuções por custas, multas e outras quantias

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Manual de apoio ao ingresso - 2013
contadas ou liquidadas, como também em todas as execuções em que o Estado seja
exequente, naquelas em que o exequente beneficiar de apoio judiciário na modalidade de
atribuição de agente de execução (art.ºs 16.º, n.º 1-g) e 35.º-A da Lei 34/2004, de 34/2004,
de 29 de Julho, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 47/2007, de 28 de Agosto), para
além, obviamente, dos casos em que não houver agente de execução na comarca nos termos
previsto no artigo 808.º CPC, estando igualmente prevista a possibilidade de escolha de oficial
de justiça, em alternativa ao agente de execução, sempre que pessoas singulares intentem
ações executivas para cobrança de créditos que não derivem da sua atividade profissional
(art.º 19.º do DL 226/2008, de 20/11).

Para além das situações anteriormente referidas, com a transferência de


competências para o agente de execução, o oficial de justiça, como parte integrante da
secretaria, fica mais liberto de algumas tarefas, conforme melhor veremos a seguir.

O juiz de execução

A intervenção do juiz de execução fica agora reservada às situações em que exista


efetivamente um conflito ou em que a relevância da questão o determine, pelo que, sem
prejuízo de outras intervenções estabelecidas na lei, compete-lhe, nomeadamente (cfr. art.º
809.º):

- Proferir o despacho liminar, quando deva ter lugar, nomeadamente, nos termos do
art.º 812.º-D, o qual poderá ser de:

a) Aperfeiçoamento (art.º 812.º-E, n.º 3);


b) Indeferimento liminar (art.º 812.º-E, n.º 1);
c) Rejeição do título executivo (art.º 812.º-E, n.º2);
d) Citação (cfr. art.º 812.º-E, n.º 5).
- Julgar a oposição à execução (art.ºs 813.º a 816.º) e/ou à penhora (art.º s 863.º–A e
863.º-B);

- Verificar e graduar os créditos reclamados (cfr. art.ºs 865.º a 869.º);

- Julgar reclamações de atos e impugnações de decisões do agente de execução;

- Decidir outras questões levantadas pelas partes, pelo agente de execução ou mesmo
por terceiros intervenientes.

 O n.º 2 do art.º 809.º prevê a aplicação de uma multa à parte que


apresentar requerimento considerado injustificado, a fixar entre 0,5 e
5 UC, sendo cobrável nos termos dos art.ºs 27.º e 28.º do Regulamento
das Custas Processuais, após o trânsito em julgado da decisão que a
tiver aplicado.

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 O n.º 3 do mesmo artigo prevê a aplicação de uma multa ao agente de
execução que apresentar requerimento considerado injustificado, a
fixa entre 0,5 e 5 UC, sendo cobrável nos termos dos art.ºs 27.º e 28.º
do Regulamento das Custas Processuais, após o trânsito em julgado da
decisão que a tiver aplicado, a qual será, pela secretaria, notificada ao
órgão com competências em matéria disciplinar dos agentes de
execução que é a Comissão para a Eficácia das Execuções - cfr. art.ºs
69.º-C e 131.º-A do Decreto-Lei n.º 88/2003, de 10/9, aditados pelo
art.º 4.º do Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro.

Síntese de atos do juiz de execução:

Art.ºs Atividade Obs.

804.º, n.º Apreciação da prova não documental da


3 obrigação condicional ou da prestação
alternativa.

805.º, n.º6 Liquidação por árbitros. Art.º 12.º da Lei n.º


31/86, de 29/8

807.º, n.º Consulta direta do registo informático de


4-a) execuções

808.º, n.º Deferimento de requerimento do exequente


4 para que o oficial de justiça realize as
diligências de execução quando não haja agente
de execução inscrito ou registado na comarca
onde pende o processo.

809.º Competências genéricas do juiz de execução.

811.º, n.º Decisão da reclamação da recusa do


2 requerimento executivo pelo agente de
execução.

812.º-E Despacho liminar quando haja lugar. Art.º 809.º, n.º 1-


a).

Aplica-se também
às execuções para

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Manual de apoio ao ingresso - 2013
entrega de coisa
certa (art.ºs
928.º/931.º) e para
prestação de facto
(art.ºs 933.º a
942.º) por força do
art.º 466.º, n.º 2.

812.º-F Decisão dos pedidos de dispensa de citação


n.ºs 3 e 4 prévia.

817.º a Julgamento da oposição à execução. Art.º 809.º, n.º 1-b)


819.º

820.º Conhecimento oficioso das questões a que


aludem os n.ºs 1 (indeferimento liminar do
requerimento executivo) e 3 do art.º 812.º-E
(convite do exequente para suprir
irregularidades, bem como sanar a falta de
pressupostos do requerimento executivo), bem
como a alínea g) do art.º 812.º D (dúvida de que
o litigio pudesse ter sido cometido à decisão por
árbitros, na execução de sentença arbitral) até
ao primeiro ato de transmissão de bens
penhorados. Se daqui resultar o decretamento
da extinção da instância executiva, o juiz
ordena o levantamento das penhoras efetuadas
(n.º 2 do art.º 820.º).
824.º, n.ºs Alteração dos limites mínimos da penhora
6a9 estabelecidos neste artigo.
833.º, A, Autorização do agente de execução, e a
n.º 7 pedido deste, a consultar informação protegida
pelo sigilo fiscal.
838.º, n.º Decisão sobre a eventual suspensão da
4 instância executiva até que se demonstre o
registo definitivo da penhora de imóvel, nos
casos em que esta questão lhe seja suscitada.

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Manual de apoio ao ingresso - 2013
840.º, n.º Ordem de requisição de força pública para Semelhante ao
3 entrega efetiva de imóvel penhorado ao art.º 848.º, n.º 3

depositário (a pedido do agente de execução).


843.º, n.º Decisão sobre o modo de exploração dos Pode ter aplicação
2 bens penhorados, quando não haja acordo entre subsidiária e
complementar ao
o exequente e o executado.
art.º 862.º-A, n.º 3.

848.º, n.º Decisão do incidente suscitado sobre a


2 pertença de bens de terceiro depois de
penhorados ao executado.
848.º, n.º Ordem de requisição de força pública para Semelhante ao
3 forçar a entrada no domicílio do executado ou art.º 840.º, n.º 2
de terceira pessoa (a pedido do agente de
execução).
852.º e Decisão do pedido de autorização de navio
853.º penhorado a navegar.
854.º Decretamento do arresto de bens do depositário
infiel e do levantamento do mesmo arresto após
o pagamento do valor do depósito, das custas e
acréscimos.

861.º-A, Autorização da penhora de depósitos bancários.


n.º 1

863.º-A Instrução e julgamento do incidente de oposição Art.º 809.º, n.º 1-b)


e à penhora.
863.º-B

865.º a Verificação e graduação dos créditos Art.º 809.º, n.º 1-b)


869.º reclamados.

876.º, n.º Presidência da abertura de propostas em carta Cfr. art.ºs 901.º-A


3 fechada para venda de imóvel e de e 893.º, n.º 1
estabelecimento comercial.

880.º, n.º Decisão em caso de desacordo entre o


4 executado e o consignatário de bem locado.

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886.º-A, Decisão em caso de desacordo manifestado por
n.º 7 exequente, executado e credores reclamantes
relativamente à modalidade da venda
escolhida pelo agente de execução (mediante
requerimento).

886.º-C, Autorização da venda antecipada de bens, em


n.º 3 caso de urgência (mediante requerimento do
exequente, do executado ou do depositário dos
bens a vender).

889.º, n.º Decisão no sentido de a venda ser efetuada no


3 tribunal da localização dos bens, invertendo a
regra geral da venda no tribunal onde corre a
execução.

898.º, n.ºs Decretamento do arresto, a requerimento do


1, al. c e agente de execução, quando o proponente ou o
n.º 2
preferente não depositem o preço.

E levantamento do arresto após o pagamento


dos valores em dívida.

901.º-A Decisão, a requerimento do agente de Cfr. art.º 876.º, n.º


execução, do exequente, do executado ou de 3
qualquer credor com garantia real, da realização
da venda por propostas em carta fechada de
estabelecimento comercial de valor superior a
500 UC.
Neste caso, decide se preside à abertura das
propostas.
904.º, al.ª Decisão da venda por negociação particular
c) com fundamento na sua urgência.
905.º, n.º Perante manifestação de desacordo entre os
2 credores ou do executado, pode encarregar o
agente de execução da venda por negociação
particular.

131
Manual de apoio ao ingresso - 2013
907.º Decisão sobre reclamações contra a venda.

908.º Decisão sobre a anulação da venda e a


indemnização do comprador.
939.º, n.º Fixação do prazo para prestação de facto a
1 pedido do exequente formulado no
requerimento executivo. Isto sucede quando o
título executivo não designa o prazo dentro do
940.º, n.º
1 qual o facto deva ser prestado.
Neste caso, o processo é concluso ao juiz
logo após a autuação do requerimento
executivo.
942.º Decisão sobre a demolição da obra à custa
do executado e a indemnização do exequente,
ou fixação apenas do montante desta quando
não haja lugar à demolição – isto quando
reconheça a falta de cumprimento da obrigação
negativa, ou seja, de não praticar algum facto.

O agente de execução

O agente de execução é a figura, criada pela reforma de 2003, a quem, de uma forma
geral, compete, no âmbito do novo regime instituído pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de
Novembro, assegurar o andamento normal do processo executivo até à sua extinção,
praticando a generalidade dos atos processuais, tais como citações, notificações, afixação
de editais, publicações de anúncios, apreensões, penhoras e vendas, e simultaneamente
alguns atos subtraídos à esfera das competências formais do juiz, tais como a escolha dos
bens a penhorar independentemente da indicação feita pelo exequente (sem prejuízo,
naturalmente, do regime de preferência obrigatória instituído pelo art.º 835.º e da ordem
pela qual deve efetuar a penhora dos bens, conforme dispõe o art.º 834.º-n.º1, al. a)); a
escolha do depositário dos bens; a determinação da modalidade da venda (art.º 886.º-A) e a
presidência da mesma (à exceção da venda de bem imóvel ou de estabelecimento, sendo que
neste último caso cabe-lhe presidir se o juiz o não fizer), o reconhecimento da extinção da
instância executiva nos termos do art.º 919.º.

No âmbito das suas competências, cabem ao agente de execução, além do dever geral
de prestar ao Tribunal os esclarecimentos que lhe forem solicitados sobre o andamento das

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Manual de apoio ao ingresso - 2013
diligências de que seja incumbido, nos termos do art.º 123.º, n.º 1-d) do Estatuto da Câmara
dos Solicitadores, efetuar a inscrição, atualização, retificação e eliminação dos dados
constantes do registo informático de execuções (cfr. art.ºs 3.º a 5.º do Decreto-Lei n.º
201/2003, de 10/09, na redação que lhe foi dada pelo art.º 7.º do Decreto-Lei n.º 226/2008,
de 20 de Novembro), estando-lhe acometidas, igualmente, as tarefas de inclusão na lista
pública de execuções das que, entretanto, forem extintas com pagamento parcial ou por não
terem sido encontrados bens penhoráveis – art.º 16.º-A do Decreto-Lei n.º 201/2003, de 10 de
Setembro, e art.º 4.º da Portaria n.º 313/2009, de 30 de Março.48

Compete-lhe, ainda, proceder à consulta direta49, sem necessidade de autorização


judicial, às bases de dados da administração tributária, da segurança social, das
conservatórias do registo predial, registo comercial e de outros registos ou arquivos
semelhantes, de todas as informações sobre a identificação do executado junto desses
serviços e sobre a identificação e a localização dos seus bens penhoráveis (art.ºs 833.º-A, n.ºs
3 a 5 do CPC e 2.º n.º 1 da Portaria n.º 331-A/2009, de 30 de Março).

De harmonia com o disposto no n.º 12 do art.º 808.º, na falta de disposição especial, o


agente de execução passa a ter 5 dias para efetuar as notificações da sua competência,
assim como para iniciar as diligências de penhora (art.º 832.º CPC) e 10 dias para os
demais atos.

O juiz de execução passa a ter um papel tendencialmente menos interventivo no


andamento do processo executivo, contudo, sem prejuízo do poder geral de controlo nos
termos do art.º 265.º CPC. Veja-se, a título de exemplo, que a destituição do agente de
execução, que, no regime cessante, lhe estava reservada pelo n.º 4 do art.º 808.º e que
passou para a exclusividade do exequente, nos termos definidos no atual n.º 6 do art.º 808.º.

De acordo com o disposto no n.º 3 do art.º 808.º, em regra, as funções de agente de


execução são desempenhadas por solicitador ou advogado que, sob fiscalização da
Comissão para a Eficácia das Execuções50, exerce as competências específicas de agente de
execução e as demais funções atribuídas por lei – cfr. art.º 116.º e 117.º do Estatuto da
Câmara dos Solicitadores, aprovado pelo Dec. Lei n.º 88/2003, de 26/04, na redação que foi
dada pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro.

Só assim não será nas seguintes situações:

48
É curioso que a atualização e retificação de registos na lista pública de execuções é da competência secretaria, quando a
responsabilidade dos dados dela constantes é do agente de execução, a maioria das vezes, solicitador de execução ou advogado.
Acresce que este ato é urgente e deve ser efetuado no prazo máximo de dois dias, sob pena de, não havendo decisão, este
facto ser comunicado ao Conselho Superior da Magistratura e ao Conselho dos Oficiais de Justiça (cfr. art.º 16.º-B, n.ºs 2, 3 e
5 do Decreto-Lei n.º 201/2003, de 10/9 e art.ºs 4.º e 10.º da Portaria n.º 313/2009, de 30 de Março).
49
Esta consulta direta é feita eletronicamente a partir do sistema de gestão processual da Câmara dos Solicitadores - GPESE
(art.º 2.º, n.º 1 da Portaria n.º 331-A/2009, de 30 de Março).
50
Cfr. Art.ºs 69.º-B e seguintes do Estatuto da Câmara dos Solicitadores.

133
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 Nas execuções em que o Estado51 seja exequente, as funções de agente de
execução são sempre realizadas por oficial de justiça. Afigura-se-nos que esta
competência não se estende aos exequentes isentos de custas, como é o caso, por
exemplo, do Fundo de Garantia Automóvel que, formalmente integrado no Instituto
de Seguros de Portugal, é materialmente um instituto público. Não se vislumbra
qualquer possibilidade de interpretar, quer literal quer juridicamente, a norma em
análise - art.º 808.º, n.º 5, no sentido de associar ao Estado a isenção de custas de
que, aliás, não beneficia.52
Repare-se que, agora, o oficial de justiça não é mais designado de agente de
execução, apenas exercendo funções como tal, não lhe sendo aplicável o estatuto
de agente de execução (cfr. n.ºs 5 e 13 do art.º 808.º).53

 Quando as pessoas singulares intentem ações executivas para cobrança de


créditos não resultantes da sua atividade profissional, podem requerer a escolha
de oficial de justiça para a realização das funções de agente de execução, segundo
as regras da distribuição. Esta possibilidade ficou sujeita a avaliação e revisão
necessária após dois anos de vigência deste novo regime, o que não aconteceu até
ao momento (cfr. Art.º 19.º do Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro).

 Quando o exequente beneficie de apoio judiciário na modalidade de atribuição


de agente de execução54, as funções de agente de execução serão desempenhadas
pelo oficial de justiça.

 E nas demais execuções, quando não haja agente de execução inscrito na


comarca55 onde correr o processo ou quando ocorra qualquer causa impediente

51
Representado pelo Ministério Público nos termos das competências previstas no seu estatuto (art.º 3.º da Lei n.º
60/98, de 28/08).
52
Se o legislador assim o entendesse, teria acrescentado os isentos de custas aos exequentes que veriam as suas execuções
tramitadas pelo oficial de justiça, nas vestes de agente de execução, como, aliás, fez o legislador de custas ao isentar o
Ministério Público de custas nos termos do art.º 4.º, n.º 1, al. a) do Regulamento das Custas Processuais.
53
Às diligências de execução promovidas por oficial de justiça, aplicam-se as disposições da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de
Março, com as devidas adaptações (art.º 47.º, n.º 1 daquela Portaria).
54
“Quando seja concedido apoio judiciário na modalidade de atribuição de agente de execução, este é sempre um oficial de
justiça, determinado segundo as regras da distribuição.”- Art.º 35.º-A da Lei n.º 34/2004, de 29/7.

55
O novo conceito de comarca instituído pela Lei n.º 52/2008, de 28 de Agosto (LOTF), tem maior amplitude que no passado,
sendo que em cada uma das três novas comarcas piloto do Alentejo Litoral, Baixo Vouga e Grande Lisboa Noroeste, são

134
Manual de apoio ao ingresso - 2013
de intervenção do agente inscrito de entre as previstas nos artigos 120.º a 122.º, e
129.º do Estatuto da Câmara dos Solicitadores56 (incompatibilidade, impedimento,
escusa, substituição, destituição) - cfr. art.º 808.º, n.ºs 4, 6 e 7, e art.ºs 5.º, 7.º, 8.º
e 9.º da Portaria n.º 331-B/2009, de 30/3.

A título de exemplo, podemos referir os seguintes casos:


- O único agente de execução inscrito na comarca viu atendido o seu pedido de
suspensão de aceitar novos processos, nos termos do art.º 122.º do Estatuto;
- O agente de execução pediu escusa por ser mandatário judicial de uma das partes (cfr.
art.ºs 120.º, n.º 1-a) e 122.º, n.º 3-d) do Estatuto);
- O agente de execução pediu escusa por ser cunhado de uma das partes (art.ºs 121.º,
n.º 1 do Estatuto e 122.º, n.º 1-b) do Código de Processo Civil por força do art.º 125.º, n.º 2
do mesmo Código).
Vem a propósito lembrar a eventualidade de uma execução ser iniciada com um agente
de execução designado, o qual, por motivos que o impeçam de continuar a exercer a sua
atividade, tem de ser substituído por oficial de justiça, devido, por exemplo, à inexistência
de outro agente de execução inscrito ou registado na comarca.
Alertado para a ocorrência efetiva desta hipótese, o legislador do Regulamento das
Custas Processuais acabou por contemplá-la, na Tabela II anexa àquele regulamento,
prevendo uma taxa de justiça mais elevada para os casos em que o oficial de justiça
protagoniza as funções de agente de execução (cfr. n.º 3 do art.º 7.º do R.C.P.).
É isto que se verifica se – indevidamente, na nossa perspetiva – se fizer prosseguir por
oficial de justiça uma execução comum de agente de execução para cobrança coerciva de
custas que fiquem em dívida por falta de pagamento voluntário do executado.
E as razões são simples de sustentar. A ação executiva tem o seu ponto de partida no
art.º 810.º (apresentação em juízo do requerimento executivo) e o seu ponto de chegada no
art.º 919.º (extinção em face do pagamento do crédito exequendo e das custas). Ou seja, a

abrangidos todos os municípios integrados em cada uma delas. Com efeito, na Comarca da Grande Lisboa Noroeste encontram
assento todos os tribunais que, na vigência da Lei n.º 3/99, de 13/1, compunham as comarcas de Mafra, Amadora e Sintra. A do
Baixo Vouga integra os municípios de Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Murtosa, Oliveira do Bairro,
Ovar, Sever do Vouga e Vagos. E a do Alentejo Litoral integra os municípios de Alcácer do Sal, Grândola, Odemira, Santiago do
Cacém e Sines – mapa II anexo à Lei n.º 52/2008.- De notar, ainda, que este novo conceito tem influência na aplicação das regras
da dilação previstas no art.º 252.º-A do C.P.Civil, na medida em que, por exemplo, o executado residente em Ílhavo (município
integrado na Comarca do Baixo Vouga) não beneficia de dilação pelo facto de o processo correr no juízo de execução de Ovar,
município diferente da mesma Comarca (cfr. art.º 252.º-A, n.º1, al.b), à contrário).

56
Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 88/2003, de 26 de Abril.

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Manual de apoio ao ingresso - 2013
instância executiva extingue-se com os pagamentos do crédito exequendo e das custas. É pelo
alcance deste objetivo que o agente de execução desenvolve a sua atividade.
Não se compreende, pois, que, a meio da instância e só pelo simples facto de estarem
em dívida as custas da execução, se opere a substituição contra legis do agente de execução
pelo oficial de justiça.

Se as diligências a efetuar implicarem deslocação para fora da área da comarca onde


pende a execução ou suas limítrofes, ou da área metropolitana de Lisboa ou do Porto no caso
de comarca nela integrada, podem estas ser efetuadas, mediante solicitação do agente de
execução designado e sob sua responsabilidade, por agente de execução dessa área ou, na
sua falta, por oficial de justiça. A solicitação feita ao oficial de justiça apenas tem lugar, na
falta de agente de execução nas condições acima referidas, e é dirigida à secretaria do
tribunal da comarca da área da diligência, por meio eletrónico (cfr. art.º 808.º, n.ºs 8 e 9).57

o Competências

O n.º 1 do art.º 808.º atribui ao agente de execução competência para efetuar todas as
diligências do processo executivo (até à sua extinção), tais como citações, notificações,
publicações, penhoras, vendas, salvo quando a lei determine o contrário, nos termos
definidos na Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março.

Compete, ainda, ao agente de execução liquidar os créditos dos credores e efetuar


imediatamente todos os pagamentos nos termos do Regulamento das Custas Processuais (cfr.
n.º 2 do art.º 808.º).

Tem sido suscitada a dúvida sobre se as notificações a realizar pelo agente de execução
abrangeriam igualmente as dos apensos declarativos, tais como a oposição (à execução e à
57
Quanto às solicitações destinadas a uma das novas comarcas piloto instaladas a partir de 14 de Abril de 2009
(cfr. Lei n.º 52/2008, de 28 de Agosto, e Dec. Lei n.ºs 25 e 28/2009, de 26 e 28 de Janeiro, respetivamente) tenha-
se em atenção o seguinte:
Alentejo Litoral – as solicitações devem ser dirigidas à secretaria do Juízo de Média e Pequena Instância Cível de
Alcácer do Sal ou de Grândola, consoante o município em que os atos executivos devam ser praticados; à
secretaria do Juízo de Média e Pequena Instância Cível de Santiago do Cacém, com competência territorial nos
municípios de Santiago do Cacém e de Sines; ou, ainda, à secretaria do Juízo de Competência Genérica de
Odemira, se o ato dever ser praticado no domínio territorial do município com o mesmo nome.
Baixo Vouga – à secretaria do Juízo de Execução de Águeda, se os atos executivos deverem ser praticados nos
municípios de Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Ílhavo, Oliveira do Bairro, Sever do Vouga e Vagos, ou à
secretaria do Juízo de Execução de Ovar, se os atos solicitados deverem ser praticados nos municípios de Aveiro,
Estarreja, Murtosa e Ovar.
Grande Lisboa-Noroeste – à secretaria do Juízo de Execução sedeado em Sintra, com competência territorial
alargada aos municípios de Amadora, Mafra e Sintra.

136
Manual de apoio ao ingresso - 2013
penhora) ou a reclamação de créditos, habilitação de sucessores, embargos de terceiro ou
outros procedimentos incidentais de natureza declarativa, e bem assim as diligências
subsequentes ao despacho que ordenar a realização de diligências probatórias para
apreciação do pedido de dispensa de citação prévia nos termos do artigo 812.º-F, n.º 3.
Em face do que dispõe o n.º 1 do artigo 808.º, os atos específicos do agente de execução
circunscrevem aos atos da própria execução, tais como a citação do executado, a penhora, as
citações do cônjuge e dos credores ou mesmo a venda, em que ele goza de relativa
autonomia.
Neste sentido, afigura-se-nos que a tramitação dos apensos e dos procedimentos
incidentais de natureza declarativa, bem como dos recursos, são da competência da
secretaria.
Por exemplo:
A apreciação, pelo juiz, do pedido de dispensa de citação prévia formalizado
pelo exequente no requerimento executivo, implica despacho inicial e a
realização de diligências probatórias, após o que é decidido (cfr. art.ºs 810.º, n.º
1-j) e 812.º-F, n.º 3 e o anexo C5 do modelo aprovado pela Portaria n.º 321-
B/2009, de 30/03).
Cabe, assim, à secretaria dar integral cumprimento não só aos despachos do juiz,
preparar e intervir em todas as diligências que tenham lugar e cumprir a decisão
final do incidente, designadamente notificá-la aos sujeitos processuais e ao
agente de execução.

 Designação do agente de execução

As competências específicas de agente de execução e as demais funções que lhe forem


atribuídas podem ser exercidas por solicitadores e advogados, nos termos do Estatuto da
Câmara dos Solicitadores e da lei e sob fiscalização da Comissão para a Eficácia das
Execuções – art.º 116.º e seguintes do Decreto-Lei n.º 88/2003, de 26 de Abril.58

O agente de execução é designado pelo exequente no requerimento inicial (cfr. art.º


810.º n.º 1, al. c)), ficando a designação sem efeito se o agente, no prazo de cinco dias a
contar da apresentação do requerimento, declarar (por via eletrónica) que a não aceita, nos

58
De notar que o agente de execução não está mais na dependência funcional do juiz, como se encontrava o
solicitador de execução nos termos definidos no art.º 116.º do Estatuto da Câmara dos Solicitadores na redação
anterior ao Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20/11.
Nem tão pouco se acha agora submetido ao controlo do juiz, conforme prescrevia a anterior redação do n.º 1 do
art.º 808.º com referência ao n.º 1 do art.º 809.º.

137
Manual de apoio ao ingresso - 2013
termos do art.º 5.º, n.º 1 da Portaria n.º 331-B/2009, de 30/03. Na falta de designação, no
prazo de 5 dias, pelo exequente, ou ficando a designação sem efeito, é a mesma efetuada
pela secretaria, segundo a escala constante da lista informática fornecida pela Câmara dos
Solicitadores (cfr. art.ºs 810.º, n.º 12, 811.º-A, n.º 1, do CPC, e 5.º, n.º 5 da Portaria n.º 331-
B/2009, ato este que se opera através das comunicações recíprocas estabelecidas entre o
Habilus (aplicação informática dos tribunais) e o GPESE (aplicação informática da Câmara dos
Solicitadores) e que se resolve instantaneamente.

Idêntico procedimento será adotado, pela secretaria, se o exequente omitir no


requerimento a indicação ou designação de agente de execução, realçando-se que esta
omissão, face ao disposto no art.º 811.º-A, jamais constitui motivo de recusa do requerimento
executivo como adiante se verá.

Com a alteração do n.º 2 do art.º 808.º operada pela Lei n.º 14/2006, de 26 de Abril,
alargou-se a todo o território nacional a possibilidade de escolha do agente de execução
por parte do exequente, medida com a qual se procurou superar a carência de solicitadores
de execução em determinadas parcelas do território nacional e fomentar a estreita
colaboração entre o solicitador de execução e o exequente e o seu mandatário.
Tal opção mantém-se com o novo regime, alargando-se, agora, tal possibilidade, além
de solicitadores inscritos ou registados em qualquer comarca, também a advogados, que
fazem parte duma lista de agentes de execução59 disponibilizada pela Câmara dos
Solicitadores (cfr. art.º 808.º, n.º 3, na redação dada pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de
20/11, e art.º 26.º da Portaria n.º 331-B/2009, de 30/03).
Não sendo aquela designação feita pelo exequente, mantêm-se os critérios de
designação do agente de execução pela secretaria, nos termos do art.º 811.º-A, de entre os
agentes de execução inscritos ou registados na comarca ou, na sua falta, entre os inscritos ou
registados nas comarcas limítrofes.
Na falta de agente de execução inscrito ou registado na comarca, pode o exequente
requerer que essas funções sejam desempenhadas por oficial e justiça determinado segundo
as regras da distribuição (art.º 808.º-n.º 4).
O n.º 8 do art.º 808.º (com a redação dada pelo DL n.º 226/2008) concede ao agente de
execução competência para praticar os atos executivos em qualquer ponto do território
nacional, sem prejuízo de poder solicitar a outro agente de execução a realização de
diligências fora dos limites da comarca de execução, o qual agirá sob a responsabilidade do
solicitante.

59
http://www.solicitador.org/publico/solicitadores/listagem/ListaSolComarca_InputForm

138
Manual de apoio ao ingresso - 2013
O agente de execução, quando houver de praticar atos executivos fora da área
territorial do tribunal em que foi designado, ou, no caso de Lisboa e Porto fora dos limites das
respetivas áreas metropolitanas60, pode solicitar a realização, sob sua responsabilidade, a
agente de execução da respetiva área comarcã – art.º 808.º, n.º 8.
Pode, igualmente, ser pedida a realização de diligências que impliquem deslocação para
fora da área da comarca de execução, na falta de agente de execução nessa área, ao oficial
de justiça, mediante solicitação dirigida à secretaria do tribunal da comarca da área da
diligência, por meio eletrónico (cfr. n.ºs 8 e 9 do art.º 808.º).

Se as funções de agente de execução forem exercidas por oficial de justiça, nos termos do
n.º 5 do art.º 808.º, o pedido de realização de diligências que devam realizar-se fora da
comarca é feito por transmissão eletrónica, através do sistema informático, ou pela via que
se revelar mais eficaz para casos urgentes, nos termos do n.º 5 do art.º 176.º (telecópia, via
eletrónica ou outro meio telemático) e dirigido à secretaria judicial do tribunal da comarca
da área da diligência a realizar – art.º 808.º, n.º 9, 801, n.º 2 e 25.º da Portaria n.º 114/2008,
de 6/2. 61

o Substituição e destituição do agente de execução

Substituição do agente de execução pelo exequente

(art.º 810.º, n.º 6 CPC e art.º 7.º da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março)

Com este novo regime da ação executiva, o controlo do processo passa a estar na
disponibilidade do exequente.

60
A Grande Área Metropolitana de LISBOA integra os seguintes municípios: Alcochete, Almada, Amadora,
Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Sesimbra, Setúbal, Seixal,
Sintra e Vila Franca de Xira. E da Grande Área Metropolitana do PORTO fazem parte os seguintes municípios:
Arouca, Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Santa Maria da Feira, Santo Tirso, S. João
da Madeira, Trofa, Valongo, Vila do Conde e Vila Nova de Gaia (Cfr. Lei n.º 10/2003, de 13 de Maio).

61
Considerando que a Grande Área Metropolitana de Lisboa engloba os três municípios que integram a nova
comarca da Grande Lisboa-Noroeste (Amadora, Mafra e Sintra), as solicitações serão enviadas ao respetivo Juízo
de Execução sediado em Sintra (cfr. art.º 30.º do Decreto-Lei n.º 25/2009, de 26 de Janeiro).

139
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Nesse sentido, permite-se que o exequente possa substituir livremente o agente de
execução (solicitador ou advogado). É uma medida que tem a sua contrapartida no acrescido
dever de informação do agente de execução ao exequente (já não ao Tribunal como até aqui
– cfr. art.º 837.º) e com o reforço do controlo disciplinar dos agentes de execução, através da
criação de um órgão de composição plural, apto a exercer uma efetiva fiscalização da sua
atuação, que é a Comissão para a Eficácia das Execuções (cfr. competências - art.º 69.º-C do
Estatuto da Câmara dos Solicitadores).

O exequente não necessita de qualquer fundamentação para proceder à substituição,


bastando-lhe, por exemplo, o simples descontentamento no que se refere à atividade
desenvolvida pelo agente de execução no âmbito do respetivo processo.

O agente de execução substituído é notificado da substituição através do sistema


informático de suporte à atividade dos agentes de execução e é logo indicado, pelo
exequente, o seu substituto – cfr. art.º 7.º, n.ºs 2 e 3 da Portaria n.º 331-B/2009, de 30/03.

Caso o agente de execução substituto não aceite a designação, no prazo de 5 dias, a


secretaria designa imediatamente novo agente de execução substituto nos termos previstos
no art.º 811.º-A do C.P.Civil.

Substituição do agente de execução por outras razões

(art.º 810.º-n.º 6 CPC e art.º 8.º da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março)

Tem também lugar a substituição por morte, incapacidade definitiva, cessação de


funções do agente de execução, bem como por motivos de natureza disciplinar, quando
lhe for aplicada pena expulsão ou de suspensão por período superior a 10 dias.

Se o exequente não efetuar a designação do agente de execução substituto no prazo de 20


dias a contar da receção, pelo Tribunal, da notificação da decisão recebida da Comissão para
a Eficácia das Execuções nos termos do parágrafo anterior, a secretaria designa agente de
execução substituto nos termos do art.º 811.º-A do C.P.Civil.

A secretaria deverá proceder de forma idêntica quando o exequente designar agente


de execução substituto e este declarar que não aceita.

Destituição do agente de execução

(art.º 810.º-n.º 6 CPC e art.º 9.º da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março)

140
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Fundamentam a destituição do agente de execução a atuação processual dolosa ou
negligente ou em violação grave de dever que lhe seja imposto.

Se o exequente não efetuar a designação do agente de execução substituto, no prazo de


20 dias, a contar da receção, pelo tribunal, da notificação da decisão recebida da Comissão
para a Eficácia das Execuções nos termos do parágrafo anterior, a secretaria designa agente
de execução substituto nos termos do art.º 811.º-A do C.P. Civil.

A secretaria deverá proceder de forma idêntica quando o exequente designar agente de


execução substituto e este declarar que não aceita.

No Habilus, os atos dos agentes de execução (advogados e solicitadores de execução)


têm recetáculos próprios na área das “Pastas”.

Os atos que aparecerem na pasta “para a


Secretaria” requerem intervenção da secção de
processos, e os que aparecerem na pasta “para
conclusão” requerem intervenção do Magistrado.

Os atos dos agentes de execução que não


carecerem de qualquer intervenção do tribunal entram
diretamente para o histórico do processo eletrónico, sem que a entrada seja registada em
qualquer das pastas de receção de papéis.

O direito processual subsidiário:

— A ação executiva rege-se, em primeira linha, pelas normas próprias (art.ºs 45.º a 60.º,
90.º a 95.º e 801.º a 943.º), sendo que os art.ºs 801.º a 809.º se revestem de carácter
geral;
— Em segundo lugar, a ação executiva com processo comum rege-se, a título subsidiário,
pelas disposições gerais e comuns do Código de Processo Civil ( art.ºs 1.º a 466.º);
— Por último, têm aplicação subsidiária as normas próprias da ação declarativa comum
(art.º 466.º, n.º 1).

A ação executiva – caracterização

141
Manual de apoio ao ingresso - 2013
A ação executiva não visa a definição do direito violado, mas a sua reparação efetiva a
partir do pedido formulado pelo titular do direito (exequente) através do requerimento
executivo – cfr. art.ºs 2.º e 4.º, n.º 3.

A causa de pedir na ação executiva, como seu fundamento substantivo, é a obrigação


exequenda, sendo o título executivo o instrumento documental privilegiado da sua
demonstração – Ac. STJ n.º JSTJ000 in www.dgsi.pt.
Conforme consta do art.º 2.º, n.º 2 CPC, a realização coerciva do direito violado
significa a realização coerciva pela via judicial para reparar esse mesmo direito.

Para tanto, é imprescindível que o direito que se pretende fazer valer na ação
executiva conste dum título executivo.

A ação executiva é o meio próprio para a realização da prestação não cumprida, para a
reparação do direito que esteja definido no título que serve de base a essa mesma execução.

A execução tem por finalidade efetivar coercivamente a realização do direito definido


no título executivo ou, caso essa efetivação não seja possível, a substituição da prestação
devida por um benefício equivalente, à custa do património do devedor (art.ºs 821.º, n.º 1 e
817.º do C.C.).

No fundo, trata-se de providenciar pela reparação material coativa do direito do


exequente.

Classificação consoante o fim da execução:

A lei distingue três tipos de ações executivas, consoante o fim a que as mesmas se
destinam ou de acordo com a forma de processo aplicável.

Assim, a ação executiva pode ter por finalidade (art.º 45.º, n.º 2):

a) Pagamento da quantia certa - o exequente pretende obter o cumprimento de


uma obrigação pecuniária através da penhora de bens do executado, os quais
posteriormente são vendidos, revertendo o produto da venda a favor do exequente
até ao montante do seu crédito – cfr. art.ºs 810.º a 923.º.
b) Entrega de coisa certa - o exequente se assume como titular de um direito à
prestação de uma coisa determinada e requer ao tribunal que apreenda essa coisa
ao devedor e seguidamente lha entregue (art.º 827.º do C.C.). A lei permite que se
a coisa a entregar não for encontrada, o exequente efetue uma liquidação do seu
valor e do prejuízo resultante da falta da entrega, procedendo-se de seguida à

142
Manual de apoio ao ingresso - 2013
penhora nos bens do executado suficientes para pagamento da importância
apurada (cfr. art.ºs 928.º a 931.º).
c) Prestação de facto (positivo ou negativo)62 é a que se funda em título que impõe
ao devedor uma obrigação de prestar ou não prestar um facto, fungível ou
infungível63 - cfr. art.ºs 933.º a 942.º do CPC e 828.º a 829.º-A do Cód. Civil.

Sendo a prestação de facto fungível, o exequente pode requerer que ela seja prestada
por outrem à custa do património do devedor (art.º 828.º do C.C.), sendo, neste caso,
penhorados e vendidos os bens do executado necessários ao pagamento da obrigação
equivalente à que consta do título executivo.

Caso a prestação de facto seja infungível (quando não se pode obter de terceiro a
prestação) e não tendo a prestação sido cumprida voluntariamente pelo devedor, a obrigação
extingue-se, uma vez que o credor não pode obter a sua execução forçada.

Assim, o exequente só poderá pretender a apreensão e venda dos bens do devedor,


suficientes para indemnizá-lo do dano sofrido com o incumprimento e requerer que o
devedor seja condenado ao pagamento de uma quantia por cada dia de atraso no
cumprimento (cfr. art.º 829.º-A do Código Civil).

O facto que o devedor estiver obrigado a prestar pode ser positivo ou negativo, assim a
obrigação se traduza em “fazer” ou “não fazer”.

Exemplos:

 Se o devedor estiver obrigado a demolir um muro, está em causa a


prestação dum facto positivo.

62
“A condenação dos réus a não impedirem a realização de obra nova ou de reparação implica uma obrigação de
prestação de facto negativo, na modalidade de obrigação de tolerância ou de deixar fazer (obrigação de pati).

O processo próprio para executar este tipo de obrigação é o de execução para prestação de facto negativo, nos
termos previstos nos arts. 941.º e 942.º do Código de Processo Civil.”

Sumário do Ac. TRGuimarães de 19/11/2003, proc.º 1897/03-1 – www.dgsi.pt.

63
A prestação diz-se fungível quando pode ser realizada por pessoa diversa do devedor com satisfação do
interesse do credor, sendo-lhe indiferente que ela seja realizada pelo devedor ou por outra pessoa qualquer – cfr.
art.º 828.º do C.Civil.
De modo inverso, prestação infungível é aquela que tem de ser efetuada pelo devedor para satisfação do
interesse do credor.

143
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 Se o devedor estiver obrigado a “não” demolir um muro, está em causa a
prestação dum facto negativo.

Forma de processo

Quanto à forma de processo a lei distingue (cfr. art.º 460.º):

a) Processo especial - nos casos especialmente previstos no Código ou em leis


extravagantes. Como exemplos desta forma de processos temos:
- Execução por alimentos (cfr. art.ºs 1118.º e segs.);
- Execução por custas (cfr. art.º 35.º do Regulamento das Custas Processuais
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro);
- Execução para venda de navio abandonado (cfr. art.ºs 17.º e 18.º do Dec. Lei
n.º 202/98, de 10 de Julho).
- Investidura em cargo social (cfr. art.ºs 1500.º e 1501.º).

As execuções especiais regem-se pelas disposições que lhes são próprias e


subsidiariamente pelas que regem a execução com processo comum – art.º 466.º, n.ºs 1 e
3, 463.º, n.º 1 e 801.º.

b) Processo comum é a única forma aplicável à execução a que não corresponda


forma especial (cfr. art.º 465.º).

Pressupostos processuais

Pressupostos processuais são os requisitos necessários ao regular desenvolvimento da


instância executiva.

A ausência de um ou mais pressupostos processuais da ação declarativa impossibilita o


juiz de se pronunciar sobre o mérito da causa.

Na ação executiva, o tribunal deve verificar se estão reunidos os pressupostos


processuais mínimos e indispensáveis para que a mesma possa prosseguir (cfr. art.ºs 265.º,
812.º-E, n.º 1, n.ºs 1 e 2 e 820.º).

144
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Assim, a ação executiva está sujeita, tal como a ação declarativa, a pressupostos
gerais, tais como:

 capacidade e personalidade judiciária;


 legitimidade das partes;
 patrocínio judiciário; e
 competência do tribunal.

Mas, a ação executiva, além de estar sujeita àqueles pressupostos, está ainda sujeita a
outros, que lhe são específicos, tais como: o título executivo, a certeza, a exigibilidade da
prestação e a liquidez da obrigação exequenda.

Pressupostos específicos da ação executiva

o Título executivo

Título executivo64 é um documento escrito no qual consta a existência de um direito


subjetivo nele incorporado, contendo os sujeitos dessa relação, da prestação e do fim e
limites dessa prestação. Determina o fim e os limites da ação executiva. Indica a espécie de
prestação, o tipo e a forma de processo da execução, o quantum da obrigação e fixa a
legitimidade (ativa e passiva) para a execução. É a causa de pedir na ação executiva e traduz
um requisito de natureza formal (cfr. art.º 45.º, n.º 1).

O título é pois condição necessária e suficiente ao desenvolvimento da ação


executiva:

64
O título constitui o pressuposto formal da ação executiva destinado a conferir à pretensão substantiva um grau
de certeza suficiente para consentir a subsequente agressão patrimonial aos bens do vendedor - J. Lebre de
Freitas e outros, C.P.C. Anotado, I/87).

O título é o instrumento documental da demonstração da obrigação exequenda, fundamento substantivo da


execução - Acs. STJ, de 15/05/03 e 18/01/2000, proc.ºs 02B3251 e 99A1037, em www.dgsi.pt.

145
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Condição necessária, porque sem título não pode haver execução (cfr. art.º 45.º, n.º
1). É imperioso que o título acompanhe o requerimento inicial (cfr. art.º 810.º, n.º 6, al. a))65.

Condição suficiente, porque a existência do título dispensa qualquer averiguação


prévia sobre a existência efetiva do direito que ele titula.

Espécies de títulos executivos

O art.º 46.º enumera as espécies de título executivo e consagra o princípio da


tipicidade, ou seja, só existem estes títulos e não outros.

Sentenças condenatórias66

Em regra, a sentença constitui título executivo uma vez transitada em julgado, salvo se
dela for interposto recurso com efeito meramente devolutivo, caso em que a exequibilidade
da sentença se opera transitoriamente até à sua consolidação por via do trânsito em julgado
(cfr. art.º 47.º).

Entre outras decisões judiciais, aqui se incluem, por exemplo:


- Sentenças homologatórias das transações ou das confissões de pedido
(cfr. art.ºs 300.º, n.ºs 3 e 4 do CPC);
- Sentenças homologatórias de partilhas (art.º 1382.º do CPC);
- Decisões dos julgados de paz (cfr. art.ºs 56.º, n.º 1, 60.º e 61.º da Lei n.º
78/2001, de 13 de Julho);
- Despacho saneador que conheça do mérito da causa – art.º 510.º, n.ºs 1-a)
e 3;
- Autos de conciliação em processo do trabalho homologados pelo juiz (cfr.
art.ºs 51.º a 53.º e 88.º do Código de Processo do Trabalho).

Assim, significa que ainda que atingida por recurso ordinário, a sentença pode titular
uma ação executiva, conquanto o recurso tenha efeito meramente devolutivo. A execução
assim iniciada pode sofrer modificação em função do resultado do recurso, modificação essa

65
O requerimento executivo deve ser acompanhado da cópia do título executivo, quando entregue por via
eletrónica, ou do original, quando entregue em papel, sob pena de recusa pelo agente de execução – art.º 811.º,
n.º 1-b).
66
Sentença é o ato pelo qual o juiz decide a causa principal ou algum incidente que apresente a estrutura duma
causa. As decisões dos tribunais colegiais denominam-se acórdãos – art.º 156.º, n.ºs 2 e 3 do CPC.
São equiparados às sentenças os despachos e quaisquer decisões ou atos da autoridade judicial que condenem no
cumprimento duma obrigação – art.º 48.º do CPC.

146
Manual de apoio ao ingresso - 2013
que até pode passar pela extinção da instância executiva se o tribunal superior revogar a
sentença condenatória da 1.ª instância (cfr. art.º 47.º, n.º 2).67

Confirmada a decisão da primeira instância, a execução prossegue os seus trâmites.

Uma outra hipótese a considerar, é a suspensão, a pedido do executado, da ação


executiva proposta na pendência do recurso, mediante a prestação de caução (cfr. n.º 4 do
art.º 47.º). Não se verificando a suspensão nestes termos, a execução prossegue normalmente
não se efetuando, porém, os pagamentos ao exequente e demais credores, senão depois de
transitada em julgado ou, enquanto isto não se verificar, depois de o interessado (exequente
ou credor reclamante) prestar caução suficiente e própria (cfr. art.ºs 47.º, n.º 3 do CPC e
623.º a 626.º do Código Civil).

A caução é um incidente da ação executiva e corre por apenso, iniciando-se com o


requerimento do interessado (exequente, executado ou credor, consoante o caso) e rege-se
pelos art.ºs 981.º e seguintes, com as necessárias adaptações – cfr. n.º 1 do art.º 990.º.

Sentenças estrangeiras

A exequibilidade das sentenças proferidas por tribunais estrangeiros está dependente


de revisão e confirmação pelos nossos tribunais de Relação, nos termos dos art.ºs 49.º e
1095.º, salvo tratado ou convenção em contrário.

As sentenças proferidas nos Estados-Membros da União Europeia são exequíveis em


Portugal bastando que obedeçam aos requisitos e demais formalismos previstos nos artigos
38.º, 39.º, 53.º e 54.º do Regulamento (CE) n.º 44/2001 do Conselho, de 22 de Dezembro de
200068.

Título executivo europeu

O Regulamento (RE) n.º 805/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Abril


de 2004, criou o título executivo europeu para os créditos não contestados, entendendo-se
como tais, para o efeito, todas as situações em que o credor, estabelecida a não contestação
pelo devedor quanto à natureza ou dimensão de um crédito pecuniário, tenha obtido uma
decisão judicial ou título executivo contra o devedor que implique a confissão da dívida por
67
Deve ser junta à execução uma certidão da decisão do tribunal superior com nota do trânsito em julgado – cfr.
art.º 47.º, n.º 2.
68
Última alteração introduzida nos anexos pelo Regulamento (CE) n.º 280/2009, da Comissão, de 06 de Abril de
2009.

147
Manual de apoio ao ingresso - 2013
parte deste, quer se trate de transação homologada pelo tribunal, quer de um instrumento
autêntico.

Este Regulamento é aplicável às decisões judiciais, títulos ou instrumentos autênticos


relativos a créditos não contestados e a decisões pronunciadas na sequência de impugnação
de decisões, transações judiciais ou instrumentos autênticos.

O título executivo europeu duma decisão judicial deve constar de certidão emitida na
língua e pelo tribunal que a tiver proferido utilizando-se o formulário constante do anexo I ao
referido Regulamento.69

o A execução imediata da sentença:

Sobre o início imediato e automático da execução de sentença condenatória em


pagamento de quantia certa dispõe o art.º 675.º-A do CPC, nos termos do qual, logo após o
respetivo trânsito em julgado da sentença, caso o autor tenha declarado tal intenção na
petição inicial ou em qualquer momento do processo declarativo, a execução inicia-se, por
apenso, de forma eletrónica e automática, sem necessidade de apresentação de
requerimento executivo autónomo.

No requerimento apresentado poderá o autor indicar (cfr. art.ºs 675.º-A, n.º 1 e 48.º,
n.º 2 da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março):

a) Designar agente de execução;


b) Indicar bens à penhora, nos termos dos n.ºs 5 a 7 do art.º 810.º
c) Declarar que pretende que a execução da sentença que venha a condenar o réu ao
pagamento de quantia certa se inicie apenas 20 dias após o trânsito em julgado da
sentença.

A secretaria inicia eletronicamente o processo executivo, imediatamente após o


trânsito em julgado ou decorridos 20 dias após o mesmo, consoante a existência ou não da
declaração atrás referida, desde que:

a) A sentença, transitada em julgado, tenha condenado o réu no pagamento de uma


quantia certa;
b) Se mostre comprovado nos autos o pagamento por autoliquidação da taxa de justiça
devida em função da quantia pecuniária líquida em que o réu foi condenado na
69
O Regulamento está disponível para download na página da DGAJ http://www.dgaj.mj.pt >>> Serviços Jurídicos
e Cooperação Judiciária Internacional.

148
Manual de apoio ao ingresso - 2013
sentença (cfr. art.ºs 7.º, n.º 3, 11.º, 13.º, n.º 3 e 15.º do RCP), podendo o autor
enviar o respetivo comprovativo através do sistema informático CITIUS.

Verificados os requisitos atrás mencionados, a secretaria envia, eletronicamente, para


o agente de execução designado cópias dos requerimentos do autor acima referidos e da
sentença, com indicação da data do trânsito em julgado.

Se o executado cumprir a obrigação, deverá o exequente, nos cinco dias imediatos,


informar o tribunal, com vista a evitar-se o início da execução, ou o agente de execução, se
já houver execução, para extinção da ação – sustação, custas e extinção (cfr. art.ºs 30.º do
Regulamento das Custas Processuais e 7.º da Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de Abril, 675.º-A,
n.º 4 e 919.º do CPC).

 Documentos elaborados ou autenticados por notário ou por


outras entidades ou profissionais com competência para tal

Entende-se por documentos autênticos70 os que são elaborados ou exarados pelo


notário (testamento público, escritura pública) e por documentos autenticados71 aqueles que
não sendo elaborados pelo notário, são por eles certificados após verificarem a conformidade
dos conteúdos com as vontades dos sujeitos intervenientes.

O art.º 38.º do Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de Março atribuiu competência às


câmaras de comércio e indústria, reconhecidas pelo Decreto-Lei n.º 244/92, de 29/10, aos
conservadores, aos oficiais de registo, aos advogados e aos solicitadores, para os
reconhecimentos de assinaturas, autenticação e tradução de documentos e conferência
de cópias72

Os documentos elaborados ou autenticados por notário ou por outras entidades ou


profissionais com competência para tal constituem títulos extrajudiciais, exigindo-se para
esse efeito que provenham da existência de uma obrigação.

A exequibilidade destes documentos está prevista no art.º 50.º.

Assim, existem dois tipos de situações:

- convenções de prestações futuras – são os contratos de execução continuada em


que as partes se vinculam. São deste tipo, por exemplo, os contratos de

70
Cfr. art.ºs 369.º a 372.º do Código Civil.
71
Cfr. art.ºs 377.º do Código Civil.
72
Esta norma encontra-se regulamentada pela Portaria n.º 657-B/2006, de 29 de Junho.

149
Manual de apoio ao ingresso - 2013
fornecimento de determinados bens e de execução continuada - obrigações futuras
– estão sujeitas a uma condição suspensiva. Para valer como título carece de outro
documento probatório da verificação da condição e do incumprimento do devedor.

Os documentos autênticos ou autenticados no estrangeiro não carecem de revisão ou


confirmação para terem força executiva – art.º 49.º, n.º 2. No entanto, carecem de
legalização.

Documentos particulares73 (cfr. art.º 46.º al. c)

Para que os documentos particulares valham como títulos executivos devem:

- Conter assinatura do devedor; e

- Prever a constituição ou reconhecimento duma obrigação pecuniária (cujo


montante seja determinado ou determinável por simples cálculo aritmético de
acordo com as cláusulas dele constantes), ou duma obrigação de entrega de
coisa certa ou de prestação de facto.

Os documentos particulares com assinatura a rogo carecem de reconhecimento notarial


- art.ºs 51.º do CPC e 154.º e 155.º do Código do Notariado.

Exemplos: escritos particulares que obedeçam aos requisitos legais (alínea c) do art.º
46.º) e títulos de crédito, tais como extratos de fatura, letras, livranças e cheques prescritos.

 Títulos executivos especiais (cfr. art.º 46.º al. d))


Os títulos executivos especiais são os reconhecidos por disposição legal própria. É o que
se verifica nos requerimentos de injunção em que tenha sido aposta a fórmula executória,
atas de condomínio, etc.

Exemplos:

- Requerimento de injunção em que tenha sido aposta a fórmula executória pelo


secretário de justiça – art.ºs 13.º-c) e 14.º do anexo ao Decreto-Lei n.º 269/98, de 1 de
Setembro.

73
Cfr. art.ºs 373.º e seguintes do Código Civil.

150
Manual de apoio ao ingresso - 2013
- Ata de reunião de assembleia de condóminos – art.º 6.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º
268/84, de 25 de Outubro;

- Certidão da liquidação da conta de custas e da sentença transitada em julgado,


acompanhada da notificação judicial do devedor ou a certidão destes elementos processuais,
em que se declare a data do termo do prazo de pagamento voluntário – cfr. n.ºs 1 e 2 do art.º
35.º, do Regulamento das Custas Processuais.

- Prestação de contas – art.º 1016.º, n.º 4.

- Decisões definitivas das autoridades administrativas que apliquem coimas(art.ºs


88.º-n.º1, e 89.º-n.º1 do Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de Outubro).

Juros de mora (cfr. n.º 2 do art.º 46.º) – consideram-se abrangidos pelo título
executivo os juros de mora, à taxa legal, da obrigação dele constante. Podem surgir duas
situações:

- Se o título executivo depender de uma obrigação com prazo certo,


terminado esse prazo sem que o devedor cumpra a obrigação, são devidos
juros de mora à taxa legal, a partir da data do incumprimento. Assim, estes
juros consideram-se abrangidos pelo título executivo, sem prejuízo da
necessidade de liquidação por parte do exequente no requerimento executivo
(cfr. art.º 805.º-1).

- Se a obrigação não tiver prazo certo de cumprimento (obrigações puras), a


mora só se verifica após a interpelação (cfr. art.º 777.º, n.º 1 do Código Civil).
Esta interpelação pode ser efetuada extrajudicialmente, ou seja, antes de ser
intentada a ação executiva ou judicialmente através da citação (cfr. art.º
662.º, n.º 2 al. b) ex vi do art.º 466.º, n.º 1).

Consequência da falta de apresentação do título

Ao requerimento executivo deve o exequente juntar o título executivo (cfr. 810.º, n.º
6, a)).

Caso o título provenha de uma sentença, a execução corre por apenso ao processo e no
tribunal em que a causa foi julgada, ou com base no traslado extraído da respetiva ação
declarativa, nos casos de comarcas com competência executiva específica (juízos de
execução), a não ser que o juiz da execução entenda por conveniente apensar à execução o
processo em que a decisão haja sido proferida – art.º 90.º.

Sem título não há execução (cfr. art.ºs 45.º, n.º 1 e 802.º).

151
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Falta ou insuficiência do título executivo

Com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20/11, a apreciação do


requerimento executivo, quer ele seja enviado nos termos da Portaria n.º 114/2008, de 6/2,
ou pelos restantes meios previstos no art.º 150.º do Código de Processo Civil, efetua-se
sempre após a distribuição, pelo que a sua recusa apenas tem lugar após aquele
momento. Esse ónus impende, agora, sobre o agente de execução (solicitador ou advogado)
ou sobre o oficial de justiça, quando investido naquelas funções.

Assim, o agente de execução deve recusar o requerimento executivo sempre que a


cópia ou título executivo não seja junto ao requerimento executivo ou seja manifesta a
insuficiência da cópia ou do título apresentado (cfr. art.º 811.º, n.º 1, al. b). A recusa deve
ser notificada ao exequente, o qual poderá reagir por meio de reclamação para o juiz, para
decisão, irrecorrível, salvo quando se funde na insuficiência do título ou na falta de exposição
dos factos (cfr. art.ºs 811.º, n.º 2).

Nos dez dias posteriores à notificação da recusa, o exequente pode apresentar novo
requerimento executivo ou os documentos em falta, nomeadamente o documento
comprovativo do prévio pagamento da taxa de justiça ou da concessão do benefício de apoio
judiciário, consoante o caso, reportando-se os efeitos do início da instância à data da
primitiva apresentação (cfr. art.ºs 150.º, 267.º, 466.º, 476.º, e 811.º, n.3).

Afigurando-se dúvidas quanto à suficiência do título executivo, deverá o agente de


execução submetê-las à apreciação do juiz – cfr. art.ºs 234.º-A, n.º 5, 812.º- D, alínea e),
809.º, n.º 1.

O agente de execução não deteta a insuficiência ou falta do título

Havendo despacho liminar e citação prévia (art.º 812.º-D)

a) O exequente no requerimento executivo faz uma exposição sucinta dos factos que
fundamentam o pedido e invoca que junta o título sem o ter junto.
Nesta situação, o juiz profere despacho de aperfeiçoamento convidando o
exequente a juntar o título em falta, dentro do prazo que fixar ou, na sua falta, no
prazo previsto no art.º 153.º, sob pena de indeferimento liminar do requerimento
inicial (cfr. art.º 812.º-E, n.º 3 e 4)

152
Manual de apoio ao ingresso - 2013
b) Se no requerimento executivo o exequente não junta o título nem lhe faz menção.
Nesta situação, o juiz profere despacho de indeferimento liminar por falta deste
pressuposto específico da execução, o qual é de conhecimento oficioso (cfr. art.º
812.º-E, n.º 1, al. a).

Se a ação executiva começar sem despacho liminar e o agente de execução não tiver
detetado a falta ou insuficiência do título executivo, o executado pode sempre deduzir
oposição à execução com tais fundamentos (cfr. art.ºs 813.º, n.º 1, 814.º al. a) e 816.º).
Se o executado, mesmo nesta situação, não recorrer aos meios de defesa atrás
expostos, pode o juiz, em qualquer momento, até ao primeiro ato de transmissão de bens
penhorados, ordenar a notificação do exequente para suprir a falta ou julgar extinta a
execução (cfr. art.º 820.º).

Se o exequente fizer um pedido que vá além do que consta no título e o agente de


execução não recusar o requerimento executivo por insuficiência do título, quando o processo
for concluso ao juiz, este profere despacho de indeferimento parcial (cfr. art.º 812-E, n.º 2)
relativamente ao excesso do título, devendo a ação executiva prosseguir os demais trâmites
quanto à parte do pedido que não tiver sido objeto de indeferimento.

 Certeza (art.º 802.º)

É outro pressuposto específico da ação executiva. Consiste em identificar, com rigor, o


objeto em que consiste a obrigação.

A incerteza pode consistir:


- quanto ao objeto, por exemplo, em obrigações alternativas;
- quanto ao género, em obrigações genéricas.

As obrigações alternativas (cfr. art.º 543.º do C.C.), compreendem duas ou mais


prestações, dependendo a escolha daquele que a vai realizar.

Se a escolha pertencer ao credor, este indica na petição por qual opta, tornando-se
assim certa a obrigação74.

74
Quando se tratar de uma prestação alternativa e a escolha pertencer ao credor, se o mesmo não a fizer no
requerimento executivo, é motivo de recusa por parte do agente de execução, nos termos dos art.ºs 811.º, n.º
1, al. a) e 810, n.º 1 al. h) parte final.

153
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Se a escolha pertence ao devedor, este é citado pelo agente de execução para se
opor à execução e notificado para, no mesmo prazo da oposição, declarar por qual
das prestações opta, caso não haja outro prazo convencionado pelas partes (cfr.
803.º, n.º 1 e 548.º do C.C.) .

Se a escolha cabe a terceiro, este é notificado para efetuá-la. Se o devedor ou o


terceiro não efetuarem a escolha da prestação, bem como quando haja vários
devedores e não seja possível formar maioria quanto à escolha, será esta feita pelo
credor (cfr. art.º 803.º, n.ºs 2 e 3).

 Exigibilidade

Outro dos pressupostos específicos do processo executivo é a exigibilidade da prestação


em face do título (cfr. art.º 802.º).

A prestação é exigível quando a obrigação se encontra vencida ou o seu vencimento


dependa de acordo com estipulação expressa das partes ou com a simples interpelação do
devedor (cfr. art.º 777.º, n.º 1 do C.C.)

Quando a obrigação está dependente de condição suspensiva ou de uma prestação por


parte do credor ou de terceiro, incumbe ao credor provar por documento, perante o agente
de execução, que se verificou a condição ou que se efetuou a prestação (cfr. art.º 804.º, n.º
1).

Se o credor não puder efetuar a prova por documento, ao requerer a execução, oferece
de imediato as respetivas demais provas, promovendo o agente de execução a intervenção
do juiz, que apreciará sumariamente a prova produzida, exceto se considerar necessário ouvir
o devedor (cfr. n.ºs 2 e 3 do art.º 804.º).

No caso de o juiz entender ouvir o devedor, este será citado com a advertência que
com a falta de contestação se considerará verificada a condição ou efetuada ou oferecida a
prestação, nos termos do requerimento executivo, salvo o previsto no art.º 485.º, exceção à
revelia. A contestação só pode ter lugar em oposição à execução, art.ºs 813.º e 817.º (cfr.
art.º 804.º, n.ºs 4 e 5).

154
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Se a obrigação tiver prazo certo, a execução não pode ser proposta antes da data do
seu vencimento.

Se a obrigação não tiver prazo (obrigações puras) o credor tem o direito de exigir, a
todo o tempo, o cumprimento da obrigação. Se a interpelação for extrajudicial (carta
registada com aviso de receção ou notificação judicial avulsa, art.º 261.º) serve como prova
que o devedor foi interpelado. O credor junta documento ao requerimento executivo. Se não
houver interpelação extrajudicial, a citação do executado para a ação executiva vale como
interpelação.

NOTA:

Se a inexigibilidade e incerteza forem manifestas em face do título


executivo, o juiz indeferirá liminarmente a ação executiva (cfr. art.º 812.º-E,
n.º1 al. c), nos casos em que o processo lhe seja remetido para despacho
liminar.

Se a ação executiva não comportar despacho liminar, pode o agente de


execução recusar o recebimento do requerimento inicial, caso o vício seja
manifesto perante o título executivo (cfr. art.ºs 811.º, n.º 1 al. a) e 810.º, n.º
1).

De uma forma geral, o agente de execução deve submeter as suas


dúvidas à apreciação do juiz, ainda que se trate de processo para o qual a lei
não preveja o despacho liminar – art.º 234.º-A, n.º 5.

Relativamente às ações executivas, determina o art.º 812.º-D que o


agente de execução deve remeter o processo para despacho liminar
quando, além das situações previstas nas alíneas a) a d):

Duvide da suficiência do título ou da interpelação ou notificação


do devedor;
Suspeite que se verifica uma das situações previstas nas al.ªs b) e
c) do n.º 1 do art.º 812.º-E;
Sendo pedida a execução de sentença arbitral, duvide de que o
litígio pudesse ser cometido à decisão por árbitros, quer por estar submetido,
por lei especial, exclusivamente a tribunal judicial ou a arbitragem
necessária, quer por o direito litigioso não ser disponível pelo seu titular.

155
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 Liquidez
O quantitativo da obrigação tem de estar liquidado. Assim, quando a obrigação
constante do título é ilíquida, é necessário efetuar um certo número de operações no sentido
de tornar essa obrigação líquida.

Existem três tipos de liquidação:


 A que depende de simples cálculo aritmético;
 A efetuada pelo juiz ; e
 A efetuada pelos árbitros.

Simples cálculo aritmético (art.º 805.º, n.º s 2 e 3)

O exequente deve fixar o seu quantitativo no requerimento executivo, bem como


identificar todas as operações efetuadas para chegar ao valor do pedido exequendo.

Os juros que continuem a vencer-se são liquidados a final, pelo agente de execução,
calculados desde a data da apresentação em juízo do requerimento executivo até ao
pagamento integral, bem como a sanção pecuniária compulsória que seja devida (cfr. art.º
829.º-A do Código Civil).

Esta liquidação não carece de prova.

Liquidação - art.º 805.º, n.º s 4 e 5)


Nesta situação tem de haver alegação e prova dos factos em que o exequente
fundamenta o seu pedido. Assim, a liquidação depende da averiguação de certos factos.

Quando o título seja uma sentença, os montantes vão ser apurados posteriormente
(cfr. art.º 661, n.º 2) no incidente de liquidação iniciado por requerimento a juntar à ação
declarativa em que a sentença tiver sido proferida, renovando-se a instância para o efeito
(cfr. art.º 378.º, n.º 2).

Uma vez que a liquidação tem lugar na ação declarativa, quando a execução é proposta
já a obrigação se encontra liquidada (cfr. art.º 47.º, n.º 5), razão pela qual o executado só
pode deduzir oposição à execução e já não à liquidação.

156
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Quando o título não provenha de sentença, o incidente de liquidação faz parte da
instância executiva (cfr. art.º 805.º, n.º s 1 a 5). Os títulos provenientes de documentos
particulares só constituem verdadeiros títulos quando essa liquidação dependa de simples
cálculo aritmético (cfr. art.º 46.º, alínea c).

Nesta situação, o executado é logo citado, pelo agente de execução, para contestar
a liquidação, em sede de oposição à execução (cfr. art.ºs 813.º a 817.º), sob pena de a
obrigação se considerar fixada nos termos do requerimento inicial.

Neste caso, a falta de contestação à liquidação importa a confissão dos factos


articulados pelo exequente (cfr. art.º 484.º), salvo se a revelia se considerar inoperante (cfr.
art.ºs 484.º e 485.º), após o que o incidente segue a forma de processo declarativo sumário
com produção de prova pericial.

Nota:

Quando o executado pretenda proceder ao pagamento voluntário do


capital e juros em dívida em processo de execução com agente de
execução (solicitador ou advogado), compete a este (e não à
secretaria) efetuar os cálculos necessários ao apuro do valor em dívida
com vista ao depósito.

Liquidação efetuada por árbitros (art.º 805.º, n.º 6)


A liquidação é efetuada por árbitros nos casos em que a lei expressamente o determine
ou em resultado de convenção entre as partes (cfr. art.º 380.º-A, n.º 1). E se fundada noutro
título que não a sentença, a liquidação precede a apresentação do requerimento executivo.

Os árbitros são nomeados segundo as regras inscritas nos art.ºs 568.º e segs, sendo a
decisão arbitral definitiva, limitando-se o juiz a homologá-la.

Quando a iliquidez resulte de uma universalidade, a liquidação só tem lugar em


momento posterior à sua apreensão, antes de ser entregue ao exequente (cfr. n.º 7 do art.º
805.º).

O patrocínio judiciário (art.º 60.º)

157
Manual de apoio ao ingresso - 2013
O patrocínio judiciário consiste na assistência técnica prestada às partes pelos
profissionais do foro – advogados e ou solicitadores.
75
Nas ações executivas com valor superior a € 30.000,00 (alçada da Relação) é
sempre obrigatória a intervenção de advogado (cfr. 1.ª parte do n.º 1 do art.º 60.º).

Nas ações executivas de valores compreendidos entre € 30.000 e € 5.000,01, só é


obrigatória a constituição de advogado quando tiver sido deduzida oposição à execução ou
quando houver lugar a qualquer outro procedimento que siga os termos do processo
declarativo.

Nas ações executivas com valor não superior a 5.000 €, não é obrigatória a
constituição de mandatário, mesmo que haja oposição à execução, podendo as próprias
partes intervir no processo.

No apenso de reclamação de créditos, o patrocínio de advogado só é necessário


quando seja reclamado algum crédito de valor superior à alçada do tribunal de 1.ª instância
(€ 5.000+ 0,01) e apenas para apreciação deste.

À falta de constituição de mandatário, quando obrigatória, aplica-se o previsto para


as ações em geral, devendo o agente de execução, uma vez detetada a falta, submeter o
processo ao juiz nos termos e para os efeitos do disposto no art.º 33.º.

CONSTITUIÇÃO OBRIGATÓRIA DE MANDATÁRIO JUDICIAL NA ACÇÃO EXECUTIVA


art.º 60.º

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A D V O G A D O

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€ 30.000,01 - superior à alçada da Relação itos
re clam
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s)
€ 30.000,00 - alçada da Relação

Apenas Também

ADVOGADO - ADVOGADO ESTAGIÁRIO


- SOLICITADOR (não agente de execução)
Se houver procedimento declarativo
(ex. oposição à execução e ou à Se não houver procedimento declarativo.
penhora).

€ 5.000,01 - superior à alçada 1ª instância

€ 5.000,00 - alçada 1ª instância


Não é obrigatória
a constituição de
mandatário judicial

75
“Em matéria cível a alçada dos tribunais da Relação é de € 30.000 e a dos tribunais de 1ª instância é de €
5.000” – n.º 1 do art.º 24.º da Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro, alterado pelo art.º 5.º do Dec. Lei n.º 303/2007, de
24/08)

158
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Da competência territorial

A Lei n.º 14/2006, de 26 de Abril, alterou as regras de competência territorial 76.

Com efeito, de acordo com o n.º 1 do art.º 94.º CPC (com a redação dada pela referida
Lei), o tribunal territorialmente competente para a execução é o do domicílio do
executado.

No entanto, o credor que

- tenha domicílio77 na área metropolitana de Lisboa ou do Porto e o demandado


tenha domicílio na mesma área; ou que
- seja pessoa coletiva;
pode optar pela propositura da execução no tribunal do lugar do cumprimento da
obrigação (cfr. designadamente os art.ºs 772.º a 776.º, 885.º e 2270.º do Código Civil e os
art.ºs 99.º a 110.º do Código de Processo Civil).

Da alteração igualmente produzida pela referida Lei à al.ª a) do n.º 1 do art.º 110.º, em
articulação com o disposto no art.º 110.º, resulta que:

- as regras de competência territorial não podem ser afastadas por


convenção das partes e que

- a incompetência territorial passa a ser de conhecimento oficioso do


tribunal.

76
Entrada em vigor da Lei (cfr. art.º 2.º da Lei n.º 74/98, de 11 de Novembro, na versão republicada com a Lei n.º
2/2005, de 24 de Janeiro):

- Continente – 01 de Maio de 2006;


- Regiões Autónomas – 11 de Maio de 2006.

159
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Verificada a incompetência territorial deve o agente de execução, antes de encetar
quaisquer atos e/ou diligências normais da ação executiva e sem prejuízo do n.º 3 do art.º
150.º-A, remeter o processo eletronicamente ao juiz para despacho liminar - cfr. art.ºs
812.º - D, n.º 1, f) do CPC.

 Execução baseada em sentença

Da alteração introduzida ao n.º 3 do art.º 90.º pela Lei n.º 14/2006 resultou o regresso à
figura da “execução de sentença por apenso” à ação em que a sentença tiver sido proferida.

No entanto, nas comarcas em que houver juízo de execução, a ação executiva fundada
em sentença proferida em juízo de pequena instância cível, juízo cível, vara cível, vara com
competência mista cível e criminal, ou em tribunal com competência genérica da mesma
comarca, corre no juízo de execução com base no traslado (não gratuito) da sentença.
Corre igualmente com base em traslado (não gratuito), a execução fundada em
sentença afetada por recurso que haja subido ao tribunal superior.

Em qualquer das situações, o juiz pode ordenar a apensação à execução do processo, já


findo, em que a sentença tiver sido proferida.

 Execuções por custas, multas e outras quantias contadas ou


liquidadas

Tendo em atenção a remissão que no art.º 92.º é feita para o n.º 3 do art.º 90.º do CPC,
as execuções por custas, multas ou outras quantias cobradas (cfr. art.º 35.º n.º 1 do
Regulamento das Custas Processuais aprovado pelo Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de
Fevereiro) correm por apenso às ações em que as contas ou liquidações tiverem sido
elaboradas, regime este que não se aplica às execuções provenientes dos tribunais superiores
por força do art.º 93.º do CPC. Será de realçar que, agora, correm também por apenso as
execuções provenientes da falta de pagamento de multas por intervenientes acidentais.
Excluídas desta regra ficam as custas relativas a atos avulsos que têm força executiva
própria (cfr. art.º 35.º, n.º 3 do RCP).
O Ministério Público apenas instaura a execução quando forem conhecidos bens ao
devedor que se afigurem suficientes para o pagamento da execução, abstendo-se de o fazer

160
Manual de apoio ao ingresso - 2013
quando a dívida for de montante inferior aos custos da atividade e às despesas prováveis da
execução (cfr. n.º 4 do art.º 35.º do RCP).
Para que o Ministério Público fique na posse dos elementos que lhe permitam aferir da
possibilidade de instauração da execução, deve a secretaria, à semelhança do que fazia
anteriormente nos termos do art.º 115.º do Código das Custas Judiciais, recolher informações
sobre os bens penhoráveis do devedor e disponibilizá-la, através dos autos, ao Ministério
Público.
No entanto, havendo na comarca juízo de execução, correm ali, autonomamente, as
referidas execuções com base em traslados das contas ou liquidações elaboradas nas ações
tramitadas nos juízos de pequena instância cível, juízos cíveis, varas cíveis, varas com
competência mista cível e criminal, ou nos tribunais com competência genérica da mesma
comarca.

TRAMITAÇÃO DA EXECUÇÃO

PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA

A ação executiva destinada ao pagamento de quantia certa passa pelas seguintes fases
processuais:
Inicial ou introdutória;
Oposição à execução;
Oposição à penhora;
Convocação de credores
Venda executiva;
Pagamento aos credores;
Extinção da execução.

Fase inicial ou introdutória

161
Manual de apoio ao ingresso - 2013
A execução inicia-se com a apresentação do requerimento executivo na secretaria do
tribunal de execução (cfr. art.ºs 150.º e 810.º, n.º 7), sob pena de recusa nos termos do art.º
811.º, n.º 1-a).

O modelo do requerimento executivo, em suporte de papel, foi aprovado pelo art.º 2.º
da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março, sob o comando do n.º 6 do art.º 810.º.

Apresentação do requerimento executivo

O requerimento executivo pode ser apresentado na secretaria em suporte de papel ou


para ela enviado por transmissão eletrónica de dados em formulário digital através do
endereço https://citius.tribunaisnet.mj.pt.

O exequente não patrocinado por mandatário judicial pode apresentar o


requerimento executivo em suporte de papel, entregando-o diretamente na secretaria ou
enviando-o por via postal registada.

O modelo do requerimento executivo foi aprovado pelo art.º 2.º da Portaria n.º 331-
B/2009, de 30 de Março, e é de uso obrigatório quando apresentado em suporte de papel
(art.º 811.º, n.º 1-a)).

O exequente patrocinado por mandatário judicial deve apresentar o requerimento


executivo por transmissão eletrónica de dados através do preenchimento e submissão do
formulário eletrónico constante do sítio https://citius.tribunaisnet.mj.pt, através da
aplicação CITIUS, ali disponibilizada a advogados, advogados estagiários, solicitadores e
magistrados do Ministério Público que estejam registados no sistema como utilizadores, junto
da entidade responsável pela gestão dos acessos ao sistema informático, conforme impõe o
art.º 4.º da Portaria n.º 114/2008, de 6/2, na redação que lhe foi dada pela Portaria n.º
1538/2008, de 30/12, valendo como data da prática do ato processual a da respetiva
expedição (cfr. art.º 2.º, al. a) da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março; 810.º, n.º10).

A apresentação do requerimento executivo por transmissão eletrónica de dados


dispensa a remessa dos originais, duplicados e cópias, sem prejuízo de o juiz o determinar nos
termos previstos no n.º 2 do art.º 3.º da Portaria n.º 114/2008, de 6/2.

Além do formulário eletrónico78, o exequente com mandatário judicial constituído 79


dispõe também das tradicionais modalidades de entrega em suporte de papel, por entrega
direta ou por via postal registada, mediante o pagamento imediato de uma multa de valor
correspondente a 1/2 UC, salvo se, no próprio requerimento, alegar justo impedimento e
78
Cfr. art.º 5.º da Portaria n.º 114/2008, de 6/2.
79
Cfr. art.º 3.º da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março.

162
Manual de apoio ao ingresso - 2013
oferecer a respetiva prova, nos termos previstos no artigo 146.º do Código de Processo Civil
(cfr. art.º 810.º, n.º 11).

A lei não cuida de forma específica sobre as consequências da omissão de pagamento


desta multa. Por isso, não será de excluir a hipótese de rejeição do requerimento executivo
(o que só pode acontecer por decisão do juiz), ou quando assim não seja entendido, e uma
vez que a obrigação de pagamento se esgota no próprio momento de apresentação do
requerimento, a respetiva quantia transita, com acréscimo de 50%, para a conta de custas,
devendo ser paga a final, independentemente dos benefícios concedidos pela isenção de
custas ou pelo apoio judiciário ou do vencimento da causa (cfr. art.º 28, n.ºs 3 e 4 do
80
Regulamento das Custas Processuais).

Quando o Ministério Público seja exequente, a apresentação do requerimento


executivo, é efetuada por transmissão eletrónica de dados, a título experimental81 (até
data a fixar por despacho do membro do Governo responsável pela área da justiça) de acordo
82
com o disposto no art.º 3.º, n.º 3 da Portaria n.º 114/2008, de 6/2, com dispensa de
remessa dos originais, duplicados e cópias, sem prejuízo de o juiz o determinar nos termos
previstos nos n.ºs 1 e 2 daquele normativo.

Apresentação do requerimento em formulário eletrónico

Como vimos, as partes com mandatário judicial constituído devem enviar o


requerimento executivo através de formulário eletrónico “via CITIUS” de acordo com as
instruções técnicas descritas naquele sítio.

Após a distribuição automática que o sistema informático assegura duas vezes por dia,
às 9 e às 13 horas, deve o exequente juntar, no prazo de cinco dias83, os documentos que
não possam ser enviados conjuntamente com o requerimento executivo, incluindo o
documento comprovativo do pré-pagamento da taxa de justiça ou da concessão (não do
80
Esta multa é autoliquidada e o documento comprovativo do pagamento deve acompanhar o requerimento
executivo em papel (art.º 25.º, n.º 1 da Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de Abril).
A falta de pagamento da multa, tal como no regime anterior, não implica a recusa de recebimento do
requerimento executivo.
81
Cfr. art.º 6.º da Portaria n.º 1538/2008, de 30 de Dezembro, na redação que lhe foi dada pelo art.º 1.º da
Portaria n.º 65-A/2010, de 29 de Janeiro.
82
Alterações: Portaria n.º 457/2008, de 20 de Junho; Portaria n.º 1538/2008, de 30 de Dezembro; Portaria n.º 458-
B/2009, de 4 de Maio, e Portaria n.º 975/2009, de 01 de Setembro.

83
A este prazo aplica-se o regime previsto nos n.ºs 5 a 7 do art.º 145.º do CPC.

163
Manual de apoio ao ingresso - 2013
pedido) do apoio judiciário, consoante for o caso (cfr. art.ºs 15.º, 8.º e 10.º da Portaria n.º
114/2008, de 6/2; art.ºs 150.º-n.º1, 150.º-A-n.ºs 1 e 4, e 467.º-n.º 3 do C.P.Civil).

Não sendo junto tempestivamente o documento comprovativo do pré-pagamento da taxa


de justiça, o agente de execução deverá recusar o requerimento executivo nos termos do
art.º 811.º, n.º1, al. c). Caso o documento em falta não seja apresentado, no prazo de 10 dias
subsequentes à recusa, o agente de execução extingue a execução, notificando apenas o
exequente (cfr. art.º 811, n.ºs 3 e 4).

De harmonia como disposto no art.º 150-A, n.º 284 a junção do documento comprovativo
do pagamento da taxa de justiça de valor inferior ao devido nos termos do Regulamento das
Custas Processuais, equivale à falta de junção, devendo o mesmo ser devolvido ao
apresentante, pelo que tem as consequências processuais previstas para omissão do
pagamento da taxa (cfr. 811.º- n.º 1, al. c) e 474.º, al. f) do CPC).85

Tratando-se de execução em que haja lugar a citação prévia não precedida de despacho
liminar (cfr. art.º 812.º-F, n.º 2), não se realiza qualquer diligência tendente à citação
enquanto não forem juntos aos autos o documento comprovativo do pré-pagamento da taxa
de justiça devida (cfr. n.º 6 do art.º 150.º-A) e os documentos que deverem acompanhar o
requerimento executivo, designadamente, o título executivo (cfr. art.ºs 152.º e 235.º).

Autuação do requerimento executivo

Dispõe o n.º 7 do art.º 810.º que “o requerimento executivo e os documentos que o


acompanhem são apresentados ao tribunal preferencialmente por via eletrónica e enviados
pelo mesmo meio ao agente de execução designado, nos termos do art.º 138.º-A, não
havendo lugar à autuação da execução”

As secretarias judiciais asseguram o expediente, autuação e regular tramitação dos


processos pendentes nos termos do art.º 161.º-n.º 1.

84
Na redação do Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26/2.
85
Caso o exequente junte o mesmo comprovativo de pagamento da taxa de justiça em dois ou mais processos,
deve a secretaria informar o agente de execução de tal situação, no sentido de este proceder à recusa do
requerimento executivo.
“Os pagamentos feitos por forma eletrónica consideram-se realizados quando for efetuada comprovação, no
processo, que ateste a transferência de valor igual ou superior ao valor em dívida” – art.º 32.º, n.º 2 RCP.

164
Manual de apoio ao ingresso - 2013
A autuação do processo é feita de modo a facilitar a inclusão das peças que nele são
sucessivamente incorporadas e a impedir o seu extravio (cfr. art.º 163.º, n.º 3 CPC).

Atendendo à noção legal de autuação do processo que nos é dada pela antecedente
norma, somos levados a concluir que a mesma se aplica apenas ao processo físico, ou seja,
materializado em papel.

Ora, como o n.º 7 do art.º 810.º se reporta ao requerimento executivo remetido por via
eletrónica, desmaterializado, não haverá, neste caso, autuação, ressalvados os casos em que
houver despacho liminar. Nestes casos, de acordo com o que dispõe o art.º 23.º da Portaria
n.º 114/2008, de 6/2, deverá ser autuado (impresso) o requerimento executivo e respetivos
documentos, de forma a possibilitar ao juiz proferir a decisão que ao caso couber.

Embora não haja lugar à materialização da autuação, a secretaria deve, logo após a
distribuição, elaborar no “Habilus” o termo de autuação/capa, a fim de possibilitar, em
qualquer momento em que seja solicitada a intervenção do juiz, a materialização desse ato
processual.86

Quando o requerimento executivo for apresentado em suporte de papel o processo deverá


ser autuado nos termos habituais, pelo menos enquanto não se mostrar regulamentada a
digitalização prevista no art.º 150.º, n.º 9.

Requisitos do requerimento executivo

O requerimento executivo deve obedecer aos seguintes requisitos:

Quando apresentado em suporte de papel, deve constar do modelo aprovado pelo art.º
2.º, alínea b) da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março – art.º 810.º, n.ºs 6 e 9.

- Deve mostrar-se dirigido ao tribunal competente para a execução – art.º 810.º, n.º 1.
- Quando apresentado em suporte de papel, deve mostrar-se assinado pelo mandatário
judicial constituído ou pelo próprio exequente se o não tiver e não seja obrigatório o
patrocínio judiciário no quadro dos art.ºs 60.º e 811.º, n.º 1, alínea c).
- Deve constar o fim da execução (pagamento de quantia certa, entrega de coisa certa ou
prestação facto - cfr. art.ºs 45.º, n.º 2) e art.º 810.º, n.º 1-d).

86
De notar que a aplicação informática não permite a prática de atos com data anterior ao último que se mostre
realizado.

165
Manual de apoio ao ingresso - 2013
- Deve conter a identificação das partes, indicando os seus nomes, domicílios ou sedes e,
sempre que possível, profissões e locais de trabalho, filiação e ainda, os números de
identificação de pessoa coletiva, de identificação civil e de identificação fiscal, sendo que a
falta de pelo menos um destes últimos elementos obstaculiza a inscrição no registo
informático de execuções, em obediência ao princípio da exatidão dos dados pessoais (cfr.
art.ºs 806.º, n.º 1-c) e 810.º do CPC e 2.º, n.º 1-c) do Decreto-Lei n.º 201/2003, de 10 de
Setembro);

Os elementos de identificação das partes constam dos anexos C1 (exequente) e C3


(executado) do modelo aprovado para suporte em papel.
- Designação do agente de execução87 – (anexo C2) – art.º 810.º, n.º 1-c);
- Indicação do mandatário judicial constituído, designadamente, o seu domicílio
profissional (anexo C2) – art.º 810.º, n.º 1, al. b) e 467.º, n.º 1-b);
- Exposição sucinta dos factos que fundamentam o pedido, quando não constem do título
executivo (anexo C4 do modelo) - art.º 810.º, n.º 1-e);
- Liquidação da obrigação, nos termos do n.º 1 do artigo 805.º, e escolha da prestação,
quando ela caiba ao credor (anexo C4 do modelo) - art.º 810.º, n.º 1-h);
- Pedido de citação prévia ou a dispensa da citação prévia do executado nos casos em que
é admissível (anexo C5) – art.º 810.º, n.º 1-j);
- Formular o pedido – art.º 810.º, n.º 1, f);
- Declarar o valor da causa – art.º 810, n.º1, g);

- O requerimento deve mostrar-se acompanhado dos seguintes documentos (art.º 810.º,


n.º 6):
Cópia ou original do título executivo quando o requerimento é apresentado por via
eletrónica ou em papel, respetivamente - sem o qual, aliás, falece o fundamento da ação
executiva (art.º 810.º, n.º 6, al. a))-;
-Comprovativo do pré-pagamento da taxa de justiça inicial ou da concessão do benefício
do apoio judiciário (art.º 467.º, n.º 3 e 810, n.º 6, al. d));
-Código de acesso a certidões disponibilizadas eletronicamente relativamente aos bens
penhoráveis indicados, designadamente relativas ao registo predial, registo comercial e

87
O agente de execução designado pode, no prazo de 5 dias após a notificação, declarar que não aceita a
designação, nos termos do artigo 810.º, n.º12 (cfr. art.º 5.º da Portaria n.º 331-B/2009, de 30/3).

166
Manual de apoio ao ingresso - 2013
registo automóvel, ou, na falta destas, cópia ou originais dos documentos ou títulos que tenha
sido possível obter – art.º 810.º, n.º 6, b)e c).

- Sempre que lhe seja possível, o exequente deve indicar:


O empregador do executado (anexo C3 do modelo) – art.ºs 810.º, n.º 1-i) e 861.º;
-As contas bancárias de que o executado seja titular (anexo P9 do modelo) – art.ºs 810.º,
n.º 1-i) e 861.º-A;
-Os bens do executado, bem como dos ónus e encargos que sobre estes incidam (restantes
anexos P), procurando juntar documentos respeitantes a esses bens – art.º 810.º, n.ºs 1-i) e 5.

Ao indicar os bens a penhorar ao executado, o exequente deve indicar os seguintes


elementos (art.º 810.º, n.º 5):
- Relativamente aos prédios: a sua denominação ou número de polícia, se os tiverem, ou a
sua situação e confrontações, o artigo matricial e o número da descrição na conservatória do
registo predial, freguesia e concelho, se estiverem descritos (anexo P1) – art.ºs 838.º do CPC e
82.º do Código do Registo Predial;
- Relativamente aos bens móveis (sujeitos ou não a registo): o lugar onde se encontrem e
fazer a sua especificação, descrevendo as principais características, nomeadamente, marca,
modelo, n.º de série ou de fabrico, matrícula (anexos P2, P3 e P4);
- Quanto aos créditos, declarar a identidade do devedor, o montante, a natureza e a
origem da dívida, o título de que constam, as garantias existentes e a data do vencimento
(anexo P5) cfr. art.ºs 856.º e 857.º;
- Quanto aos direitos a bens indivisos, indicar o administrador e os comproprietários, bem
como a quota-parte que neles pertence ao executado (anexo P6) – cfr. art.º 862.º, n.º 1.

o Recusa de recebimento do requerimento executivo

Pelo agente de execução:

De notar que, com o novo regime da ação executiva determinado pelo Decreto-Lei n.º
226/2008, de 20 de Novembro, esta recusa tem lugar após a distribuição e dela está
incumbido o agente de execução.

167
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Assim sendo, está agora vedada à secretaria essa possibilidade, mesmo nas execuções
em que o oficial de justiça exerce as funções de agente de execução e o requerimento tenha
sido apresentado em suporte de papel.
Após a receção no tribunal do requerimento executivo, o sistema informático assegura, de
forma automática e oficiosa, a criação de um número único de processo de execução bem
como a sua distribuição; assegura ainda o envio eletrónico e imediato do requerimento e
demais documentos ao agente de execução (advogado ou solicitador) designado pelo
exequente ou pela secretaria, com a indicação do respetivo número de processo – cfr. art.º
810.º, n.º 8 e 811-A, n.º 1.
Desta forma, não há qualquer intervenção da secretaria nesta fase do processo, exceto se
o requerimento for apresentado em papel, caso em que a secção de processos deve autuar a
execução e notificar o agente de execução para que possa dar início às diligências executivas.

A falta de alguns dos requisitos atrás enunciados implica a recusa de recebimento do


requerimento executivo por parte do agente de execução, nos termos do n.º 1 do art.º 811.º,
cuja redação se mantém excessivamente generalizada, requerendo uma interpretação
corretiva no sentido de afastar dos fundamentos de recusa a falta de certos requisitos
constantes do n.º 1 do art.º 810.º.

Comecemos por expurgar os requisitos do citado n.º 1, cuja falta não implica a recusa de
recebimento pelo agente de execução:
Exposição dos factos – art.º 810.º, n.º 1-e) – por não competir ao agente de execução
emitir qualquer juízo sobre a imprescindibilidade do enunciado;
Indicação, sempre que possível, do empregador do executado, das contas e dos bens
deste, bem como o ónus e encargos que sobre estes incidam – art.º 810.º, n.º 1-i) – devido à
flexibilidade proporcionada pela expressão “sempre que possível”;
Designação do agente de execução – art.º 810.º, n.º 1-c) -, simplesmente porque a falta
deste requisito é oficiosamente preenchida pela secretaria nos termos do n.º 1 do art.º 811.º-
A;
Requerimento de citação prévia ou de dispensa de citação prévia – art.º 810.º, n.º 1-j) –
porque o exequente não está obrigado a formulá-lo como resulta claramente dos n.ºs 1 e 3 do
art.º 812.º-F, respetivamente.

168
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Vejamos, agora, os requisitos cuja falta implica a recusa do requerimento, nos termos
do n.º 1 do art.º 811.º:88
- Quando, apresentado em suporte de papel, não seja apresentado no modelo aprovado –
art.º 811.º, n.º 1, a);
- Quando não contenha o domicílio profissional do mandatário judicial constituído – art.ºs
810.º, n.º 1, b);
- Não contenha a formulação do pedido - art.ºs 810.º, n.º 1, f);
- Não contenha a declaração do valor da causa - art.ºs 810.º, n.º 1, g);
- Não contenha a identificação das partes, indicando os seus nomes, domicílios ou sedes e,
sempre que possível, profissões, locais de trabalho, filiação e números de identificação civil e
de identificação fiscal – art.º 810.º, n.º 1, a);
- Não contenha a indicação do fim da execução – art.º 810.º, n.º 1, d);
- Não contenha a liquidação da obrigação nos termos do n.º 1 do art.º 805.º e ou a escolha
da prestação, quando ela caiba ao credor – art.º 810.º, n.º 1, h).
- Não seja apresentada a cópia ou o título executivo ou seja manifesta a insuficiência da
cópia ou do título apresentado – art.º 811, n.º1, b).
- Não tenha sido comprovado o prévio pagamento da taxa de justiça ou a concessão do
apoio judiciário; o requerimento não esteja assinado; e não esteja redigido em língua
portuguesa – art.º 811.º, n.º1, c).

Mas, não podemos cingir-nos apenas ao art.º 811.º. Se assim fosse, como procederíamos,
por exemplo, perante um requerimento dirigido a um tribunal diferente daquele em que fosse
apresentado?
A resposta passaria, invariavelmente, pela aplicação subsidiária do art.º 474.º ex vi do
art.º 466.º.

Assim, há também lugar à recusa de recebimento do requerimento executivo quando:

-Não contenha endereço do tribunal de execução ou venha endereçado a um tribunal


diferente daquele em que é apresentado – art.ºs 810.º, n.º 1 e 474.º, al.ª a);
- O papel utilizado (quando apresentado em suporte de papel) não obedeça aos requisitos
definidos pelo art.º 24.º do Decreto-Lei n.º 135/99, de 2 de Abril (folhas de papel
normalizadas, brancas ou de cores pálidas, de formato tipo A4 ou A5) - art.º 474.º, al.ª i);
88
Deixa de ser motivo de recusa a falta de indicação da forma do processo, uma vez que desapareceu a referência à al. c) do n.º
1 do art.º 467.º como elemento de menção obrigatória.

169
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Nota:

O agente de execução deve suscitar a intervenção do juiz,


remetendo-lhe o processo para despacho liminar (cfr. art.ºs
234.º-A, n.º 5 e 812.º, D), quando:

Duvide da suficiência do título ou da interpelação ou


notificação do devedor;
Suspeite que se verifica uma das situações previstas nas
alíneas b) e c) do n.º 1 do art.º 812.º-E, ou seja, exceções dilatórias,
inexistência de factos constitutivos, impeditivos ou extintivos da
obrigação exequenda ou irregularidades do requerimento executivo;
ou
A execução tenha por base um título de sentença arbitral e
duvide que os factos que compõem aquele litígio pudessem ser
decididos por decisão arbitral.

Reclamação da recusa de recebimento do requerimento executivo

Prevê o n.º 2 do art.º 811.º que do ato de recusa cabe reclamação para o juiz, cuja
decisão é insuscetível de recurso, salvo quando esteja em causa a insuficiência do título ou
a falta de exposição dos factos.

Perante a recusa de recebimento do requerimento executivo, o exequente pode


apresentar um novo requerimento ou, se for o caso, o documento cuja falta haja
determinado a recusa, no prazo de 10 dias posteriores à recusa ou à notificação do despacho
que, em caso de reclamação, confirmar a recusa (com ou sem recurso), considerando-se a
apresentação do requerimento reportada à data da primeira apresentação (art.ºs 811.º, n.º
3).

Não havendo motivo de recusa, o requerimento executivo é analisado pelo agente


de execução89, procedendo à sua apreciação preliminar no sentido de:

- iniciar as diligências prévias à penhora (art.º 812.º-C);

89
Não é demais realçar que, contrariamente ao regime pretérito em que era à secretaria que competia a análise do
requerimento executivo com vista às diligências iniciais, incumbe agora ao agente de execução (solicitador, advogado ou oficial
de justiça no exercício das funções de agente de execução) a sua apreciação preliminar.

170
Manual de apoio ao ingresso - 2013
- remeter o processo para despacho liminar (art.º 812.º-D);

- ou proceder à citação prévia sem despacho liminar (art.º 812.º-F).

Diligências iniciais (art.º 812.º-c)

Não há despacho liminar:

Nas execuções baseadas em sentença judicial ou em decisões arbitrais;

Nas baseadas em requerimento de injunção no qual tenha sido aposta a fórmula


executória;

Nas fundadas em documentos exarados ou autenticados por notário ou por outras


entidades ou profissionais com competência para tal, ou nas que tenham por base
um documento particular com o reconhecimento presencial da assinatura do
devedor, desde que se verifiquem cumulativamente os seguintes requisitos:
a) Não exceda o valor da alçada do tribunal da Relação (€ 30.000,00) e
seja apresentado documento comprovativo da interpelação do devedor no sentido
de reclamar o cumprimento da obrigação, quando necessário (cfr. art.ºs 777.º, n.º
1 e 805.º do C.C.);
ou

b) Exceda o valor da alçada do tribunal da Relação (€ 30.000,01) e seja


apresentada notificação judicial avulsa como meio de interpelação do devedor a
exigir-lhe o cumprimento da obrigação (cfr. também o art.º 261.º);

E nas execuções baseadas em qualquer título de obrigação pecuniária (ex. cheque,


letra, conta de custas90, liquidação de custas criminais, etc.) em que se verifiquem
cumulativamente os seguintes pressupostos (art.º 812.º-C, d)):

a) A obrigação pecuniária esteja vencida;

90
Numa execução destinada à cobrança coerciva de custas contadas, o título executivo não é a sentença, mas sim
a própria conta acompanhada da sentença transitada em julgado (se houver) e a notificação do responsável para
pagamento. Se assim não se entender, pergunta-se: qual é o título executivo quando as custas em dívida sejam
contadas nos termos do n.º 3-a) do art.º 29.º do RCP?

171
Manual de apoio ao ingresso - 2013
b) O valor do pedido não exceda a alçada do tribunal da Relação (€
30.000,00);
c) E no requerimento executivo não esteja indicado para penhora qualquer
estabelecimento comercial91, ou direito real menor92 que incida sobre bens
daquela espécie, ou quinhão em património que os inclua.
Nota:

A al.ª d) do art.º 812.º-C não prescinde do despacho liminar não só


quando sejam indicados, para penhora, bens estabelecimentos
comerciais, ou direitos reais que os onerem, ou ainda quinhão em
património que inclua estabelecimentos comerciais, como também
quando sejam penhorados alguns destes bens.

Neste sentido, ainda que o exequente os não tenha indicado em requerimento que
inaugure uma ação executiva dispensada de despacho liminar, se o agente de execução
decidir, no quadro das exigências do n.º 1 do art.º 834.º, um estabelecimento comercial ou
os direitos sobre ele, deve informar previamente o juiz da sua intenção em ordem a obter
o despacho liminar, no qual poderá ser ordenada a citação do executado antes da realização
da penhora

Caso não se verifiquem os requisitos constantes das alíneas c) e d) do art.º 812.º-C, terá
o agente de execução de apresentar o processo ao juiz para despacho liminar.

Nota:

Antes de apresentar o processo para despacho liminar, o agente de


execução deve obedecer ao comando da alínea d) do n.º 2 do art.º 812.º-F,
no sentido de verificar da possibilidade de proceder oficiosamente, sem
necessidade de despacho, à citação do executado.

Para tanto, incumbe ao agente de execução proceder à consulta do registo


informático de execuções. Se dessa consulta, obrigatória nestas
condições93, resultar a menção de frustração total ou parcial, de anterior
ação executiva movida contra o mesmo executado, o agente de execução
procede à citação do executado sem necessidade de despacho do juiz.

Não havendo lugar a despacho liminar, o agente de execução que receber o


processo deve analisá-lo e iniciar, no prazo máximo de cinco dias, as
91
Com a revogação do art.º 812.º-A, a indicação à penhora de bens imóveis não consubstancia, agora, na égide do
art.º 812.º-C, a obrigatoriedade de apresentação do processo ao juiz para despacho liminar.
92
São direitos reais menores, entre outros: o usufruto – art.ºs 1439.º e seguintes do Cód. Civil; o direito de
superfície – art.ºs 1524.º e 1525.º do CC; o direito real de habitação periódica – Dec. Lei n.º 275/93, de 5/8
93
Ao agente de execução são agora impostos dois momentos de consulta obrigatória do registo informático: nas
condições acabadas de referir, para aferir da necessidade de despacho liminar; e imediatamente antes de
proceder às diligências prévias de penhora nos termos do disposto no art.º 832.º, n.º 2.

172
Manual de apoio ao ingresso - 2013
consultas e as diligências prévias nos termos dos art.ºs 832.º e 833.º-A,
procedendo de seguida à penhora.

Remessa do processo para despacho liminar (art.º 812.º-D) Há


sempre despacho liminar

- Nas execuções movidas só contra o devedor subsidiário, como é o caso do fiador,


que é o garante da obrigação (cfr. art.ºs 627.º, n.º 1 e 634.º, ambos do Código Civil), quando
o credor tenha receio da perda da garantia patrimonial. Neste caso, requer a penhora, sem
prévia citação do executado94, mas o exequente oferece as provas justificativas desse receio
(cfr. art.º 812.º-F, n.º 3).

- Quando a obrigação exequenda esteja dependente da verificação de condição


suspensiva ou de prestação por parte do credor ou de terceiro, e o devedor deva ser
ouvido (cfr. art.ºs 812.º-E, n.º 5 e 804.º, n.º 3). Nesta situação pode acontecer:

a) Quando a prova não possa ser feita por documento, o exequente indica as provas
logo no requerimento executivo, dando azo a despacho liminar – cfr. art.ºs 804.º,
n.º 2 e 3 e 812.º-E, n.º 5.

b) Havendo prova documental, não há, em princípio, despacho liminar, prevendo-se,


então, que o exequente demonstre ao agente de execução ter-se verificado a
condição ou de a prestação ter sido efetuada ou prestada, o que deverá ser
traduzido no requerimento executivo – art.º 810.º, n.º 1, e) e h);

- Nas execuções cujo título seja uma ata de reunião de assembleia de condóminos,
nos termos definidos no Dec. Lei n.º 268/94, de 25 de Outubro;

Nas execuções fundadas num dos títulos executivos previstos na Nova Lei do
Arrendamento Urbano (Lei n.º 6/2006, de 27 de Fevereiro);

94
Por confronto com a al. a) do n.º 2 do art.º 812.º-F se conclui que esta norma se refere às execuções movidas
apenas contra o devedor subsidiário em que o exequente tenha pedido a dispensa de citação prévia

173
Manual de apoio ao ingresso - 2013
- Quando o agente de execução, perante o título, tiver dúvidas quanto à sua
suficiência; à interpelação do devedor pelo credor ou à notificação judicial avulsa do
devedor nos casos a que alude a al.ª c) do art.º 812.º-C;

- Quando o agente de execução, face ao requerimento executivo, suspeite que se


verifica uma das situações previstas nas alíneas b) e c)do n.º 1 do art.º 812.º-E: ocorram
exceções dilatórias, não supríveis de conhecimento oficioso; ou fundando-se a execução em
título negocial, seja manifesto, face aos elementos constantes dos autos, a inexistência de
factos constitutivos ou a existência de factos impeditivos ou extintivos da obrigação
exequenda que ao juiz seja lícito conhecer (alfas b) e c)do n.º 1 do art.º 812.º-E);

- No caso de ser pedida a execução de sentença arbitral, o agente de execução


duvidar que o litígio pudesse ser cometido à decisão por árbitros, quer porque esteja
submetido, por lei especial, exclusivamente a tribunal judicial ou a arbitragem necessária,
quer por que o direito litigioso não seja disponível ao seu titular.

- Nas demais situações não abrangidas pelo art.º 812.º-C.

Nos casos dos títulos referidos nas alíneas c) e d) do art.º 812.º-D, à semelhança do
que dissemos para as alíneas c) e d) do art.º 812.º-C), o agente de execução, antes de
apresentar o processo para despacho liminar, deve obedecer ao comando da alínea d) do n.º
2 do art.º 812.º-F, no sentido de verificar da possibilidade de proceder oficiosamente,
sem necessidade de despacho, à citação do executado.

Para tanto, incumbe ao agente de execução proceder à consulta do registo informático


de execuções.

Se dessa consulta resultar a menção de frustração total ou parcial, de anterior ação


executiva movida contra o mesmo executado, o agente de execução procede à citação do
executado sem necessidade de despacho do juiz.

174
Manual de apoio ao ingresso - 2013
1. Para que o devedor subsidiário95 possa ser demandado é necessário
que o mesmo tenha renunciado ao benefício de excussão prévia (cfr.
art.º 638.º do C.C.), que consiste na sua recusa em cumprir a obrigação
enquanto não forem excutidos todos os bens do devedor principal sem
plena satisfação do crédito.

2. Têm-se como pressupostos gerais da ação executiva a competência


do tribunal, internacional ou interna, a legitimidade processual e o
patrocínio judiciário. Constituem exceções dilatórias, entre outras,
como tal designadas no art.º 494.º, aplicável ao processo executivo por
força do disposto no art.º 466.º, n.º 1.

Estas exceções obstam ao conhecimento do mérito da causa e dão


lugar à absolvição da instância ou à remessa do processo para outro
tribunal (cfr. art.º 493.º-n.º1).

Da conjugação do disposto nos art.ºs 495.º e 110.º-n.º 1, resulta que,


de uma forma geral, as exceções dilatórias são de conhecimento
oficioso, exceto a incompetência relativa, que apenas tem lugar nos
seguintes casos: violação da regra da competência para a execução
fundada em sentença (art.º 90.º-n.º 1); violação da regra geral de
competência em matéria de execuções (cfr. primeira parte do n.º 1 e
n.º 2 do art.º 94.º).

“Desde que seja manifesta a inexistência de factos constitutivos ou a


existência de factos impeditivos ou extintivos da obrigação que ao juiz
seja lícito conhecer, deve este indeferir liminarmente o requerimento
executivo. Pense-se nos negócios jurídicos nulos por o seu objeto ser
física ou legalmente impossível ou indeterminável ou por não se
revestir da forma legalmente prescrita (art.ºs 280.º, 220.º e 286.º do
CC), atente-se nas causas extintivas do direito (pagamento, caducidade,
dação em pagamento, novação, etc.)”96

Sempre que o agente de execução suspeite que se verifica qualquer


das situações referidas deve remeter eletronicamente o processo ao
juiz para despacho liminar (cfr. art.º 812-D).

95
São devedores subsidiários: o fiador – art.ºs 627.º e seguintes do Cód. Civil, salvo as exceções do art.º 604.º, n.º
2 (na fiança comercial, o fiador é solidário com o respetivo afiançado – cfr. art.º 101.º do Cód. Comercial); sócios
da sociedade comercial em nome coletivo – art.º 175.º, n.º 1 do Cód. das Sociedades Comerciais; sócios
comanditados da sociedade comercial em comandita – art.º 465.º, n.º 1 do Cód. das Sociedades Comerciais; sócios
da sociedade civil – art.º 997.º, n.º 2 do Cód. Civil.
Nas letras e livranças o avalista é considerado responsável como primeiro pagador – art.ºs 37.º e 77.º da LULL.
96
Fernando Amâncio Ferreira, Curso de Processo de Execução, 11.ª Edição, pag. 169.

175
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Citação prévia e dispensa de citação prévia (art.º 812.º-F)

O n.º 1 do art.º 812.º-F) prevê que a penhora seja efetuada sem citação prévia do
executado nos casos previstos no art.º 812.º-C, com exceção dos casos em que o exequente
tenha requerido a citação prévia do executado pelo agente de execução

No n.º 2 da mesma norma encontram-se vertidos os casos em que a citação é sempre


prévia à penhora, sem necessidade de despacho do juiz.97

Citação prévia do executado, não precedida de despacho

- Ação executiva movida apenas contra o devedor subsidiário e o exequente não tenha
requerido a dispensa de citação prévia;

- Quando o título seja diverso de sentença, a quantia seja ilíquida e a liquidação não
dependa de simples cálculo aritmético (cfr. art.º 805.º, n.º 4), caso em que o executado é
logo citado.

- Quando a execução se baseie em título extrajudicial de empréstimo contraído para


aquisição de habitação própria hipotecada com garantia.

- Sempre que, no registo informático de execuções, constar a menção de frustração


total ou parcial, de anterior execução contra o executado.
Nota:

O agente execução consulta previamente o registo informático de


execuções, sempre que se verificar a necessidade de remeter os processos
ao juiz para despacho liminar:

- Do art.º 812.º-C, alíneas c) e d), à contrário.

97
O texto desta norma é, permita-se-nos, incoerente. Por um lado diz-se que os processos são remetidos para
despacho liminar e por outro que, nesses casos, há sempre citação prévia, sem necessidade de despacho do juiz. O
agente de execução envia o processo ao juiz a ao mesmo tempo cita previamente? Para que serve o despacho
liminar nestas circunstâncias se a citação já foi realizada? Não nos parece fazer qualquer sentido. Assim, melhor
será que se leia apenas a parte final da norma que diz: “…há sempre citação prévia, sem necessidade de
despacho do juiz:”.

176
Manual de apoio ao ingresso - 2013
- Do art.º 812.º-D, alíneas c) e d).

NÃO HÁ DESPACHO LIMINAR

Na execução fundada em:

- Decisão judicial – art.º 812.º-C), al.ª a)

Não há citação prévia – Diligências de penhora - Art.º 812.º-C


- Decisão arbitral – art.º 812.º-C), al.ª a)

- Requerimento de injunção com fórmula executória – art.º 812.º-


C), al.ª b)

- Documento exarado ou autenticado por notário, ou documento


particular com reconhecimento presencial da assinatura do devedor,
desde que:
O montante da dívida não exceda a alçada do tribunal da relação
(até € 30.000,00) e seja apresentado documento comprovativo da
interpelação do devedor, quando tal fosse necessário ao vencimento
da obrigação – art.º 812.º-C-c) 1.ª parte.

- Documento exarado ou autenticado por notário, ou documento


particular com reconhecimento presencial da assinatura do devedor,
desde que:
– excedendo o montante da dívida a alçada do tribunal da
relação (superior a € 30.000,00), o exequente mostre ter exigido o
cumprimento por notificação judicial avulsa – art.º 812.º-C-c) 2.ª
parte.

- Qualquer título de obrigação pecuniária vencida de montante


não superior à alçada do tribunal da relação (€ 30.000,00), desde
que a penhora não recaia sobre estabelecimento comercial, direito
real menor que sobre ele incida ou quinhão em património que os
inclua (estabelecimento comercial ou direito real menor que sobre
eles incida) – art.º 812.º-C-d).

NÃO HÁ DESPACHO LIMINAR

177
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Quando, em execução movida apenas contra o devedor

Há citação prévia Art.º 812.º-F, n.º


subsidiário, o exequente não tenha pedido a dispensa da citação
prévia – art.º 812.º- F, n.º 2-a).
Execução fundada em título diverso da sentença e a obrigação
exequenda não seja liquidável por simples cálculo aritmético – art.ºs

2
812.º-F, n.º 2-b) e 805.º, n.º 4.
Nesta hipótese, o executado há-de ser citado para, querendo,
deduzir oposição à execução, onde se cumulará a eventual
contestação à liquidação, nos termos do art.º 805.º, n.º 4.
Nas execuções fundadas em título extrajudicial de empréstimo
contraído para aquisição de habitação própria hipotecada em
garantia – art.º 812.º, F, n.º 2-c).
Quando, no registo informático de execuções, conste a menção
da frustração, total ou parcial, de anterior ação executiva movida
contra o executado – art.º 812-F, n.º 2-d).

HÁ DESPACHO LIMINAR

Nas execuções movidas contra devedor subsidiário (apenas ou


também contra o devedor principal) em que o exequente requeira
dispensa de citação prévia – art.ºs 812.º-D-a) e 828.º.
Nesta hipótese, não há citação prévia se o juiz atender
favoravelmente ao pedido do exequente.
Há citação prévia
(em regra)

Quando o cumprimento da obrigação exequenda dependa de


condição suspensiva ou de prestação por parte do credor ou de
terceiro e a prova não possa ser feita por documentos, nos termos
do n.º 3 do art.º 804.º, art.ºs 812.º-E, n.º 5.
Nas execuções fundadas em ata de reunião de assembleia de
condóminos nos termos do Decreto-Lei n.º 268/94, de 25 de
Outubro. – art.º 812.º-D-c).*
Nas execuções fundadas em título executivo, nos termos da Lei
n.º 6/2006, de 27 de Fevereiro – art.º 812.º-D-d).*

178
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Se o agente de execução duvidar da suficiência do título ou da
interpelação ou notificação do devedor – art.º 812-D-e)
Se o agente de execução suspeitar que se verifica uma das
situações previstas nas alíneas b) e c) do n.º 1 do art.º 812.º-E –
art.º 812-D-f)
No caso de ser pedida a execução de sentença arbitral, o
agente de execução duvidar que o litígio pudesse ser cometido à
decisão por árbitros, quer porque esteja submetido, por lei
especial, exclusivamente a tribunal judicial ou a arbitragem
necessária, quer por que o direito litigioso não seja disponível ao
seu titular - art.º 812-D-g).
* Haverá citação prévia, sem necessidade de despacho, se da
prévia consulta ao registo informático resultar a menção de
execução finda sem pagamento integral – cfr. art.º 812.º-F, n.º 2-
al.ª d).

 CASOS PRÁTICOS

I
Título: Decisão Judicial
Valor da execução: € 15.000,00
Bens indicados à penhora: bens móveis; um veículo automóvel e um estabelecimento
comercial.

Não há a lugar a despacho liminar.


Após a distribuição o agente de execução inicia imediatamente as consultas e
diligências prévias à penhora (art.ºs 812-C, 832.º e 833.º-A).

II
Título: Decisão Judicial
Valor de execução: € 15.000,00
Bens indicados à penhora: Saldos bancários.

179
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Porque se trata de “saldo bancário”, embora a lei não preveja despacho liminar
para esta execução (cfr. art.º 812.º-C, a), o agente de execução deverá remeter o
processo ao juiz para ser proferido despacho de autorização da penhora (cfr. art.º
861.º, A n.º 1 do C.P.C).
No caso de deferimento da penhora dos saldos bancários o agente de execução
procede à penhora sem necessidade de diligências prévias (cfr. art.ºs 833-A, n.º 1 e
834.º, n.º 1).

III
Título: Documento exarado (escritura) ou autenticado por notário
Valor de execução: € 15.000,00
Bens indicados à penhora: bens móveis; um veículo automóvel

Neste caso, há que ter em atenção dois fatores, que são o valor e a interpelação do
devedor.
Como se trata de uma execução cujo valor não excede a alçada do Tribunal da
Relação (€ 30.000,00), a lei apenas exige que seja apresentado documento
comprovativo da interpelação do devedor, quando necessário ao vencimento da
obrigação, sendo de admitir a interpelação efetuada mediante mera carta registada ou
carta registada com aviso de receção.
Se o exequente, com o requerimento executivo, juntar o documento comprovativo
da interpelação, encontram-se reunidos os dois fatores essenciais para que a execução
comece pelas diligências tendentes à penhora (art.ºs. 812-C, c), i), 832.º e 833.º-A).
Caso contrário, o agente de execução deve remeter o processo ao juiz (cfr. art.º 812.º-
C, n.º 1-c), a contrário.
Se a execução comportar despacho liminar porque, cumulativamente, não estão
reunidas as condições para que se comece pela fase da penhora, deve o agente de
execução observar o disposto na alínea d) do n.º 2 do art.º 812-F.
Assim se da consulta do registo informático de execuções constar a menção da
frustração total ou parcial de execução anterior contra o executado, deve o agente de
execução proceder à citação oficiosa (cfr. 812.º F n.º 2 d)).
Contudo, se da consulta do registo informático nada constar em relação ao
executado ou se constar a menção de execução com pagamento integral deve o agente

180
Manual de apoio ao ingresso - 2013
de execução remeter o processo para despacho liminar (cfr. art.ºs 812-F, n.º 2, d) e
812.º-C, d), i), a contrario.

IV
Título: Documento exarado (escritura) ou autenticado por notário
Valor de execução: € 55.000,00
Bens indicados à penhora: bens móveis; um veículo automóvel

Aqui como no exemplo anterior, há que ter em atenção dois fatores, que são o
valor e a interpelação do devedor.
Como se trata de uma execução cujo valor excede a alçada do Tribunal da Relação
(€ 30.000,00), a lei exige que o devedor seja interpelado por notificação judicial
avulsa.
Se o exequente, com o requerimento executivo, juntar a notificação judicial avulsa,
então, encontram-se reunidos os dois fatores essenciais para que a execução comece
pelas diligências tendentes à penhora (art.ºs. 812-C, c), ii), 832.º e 833.º-A)..
Caso contrário, ou se comprovar a interpelação efetuada através de qualquer outro
meio (ex: carta registada), o agente de execução deve remeter o processo ao juiz (cfr.
art.º 812.º-C, c), a contrario.
Se a execução comportar despacho liminar porque, cumulativamente, não estão
reunidas as condições para que se comece pela fase da penhora, deve o agente de
execução observar o disposto na alínea d) do n.º 2 do art.º 812-F.
Assim se da consulta do registo informático de execuções constar a menção da
frustração total ou parcial de execução anterior contra o executado, deve o agente de
execução proceder à citação oficiosa (cfr. 812.º F n.º 2 d)).
Contudo, e se inversamente da consulta do registo informático nada constar em
relação ao executado ou se constar a menção de execução com pagamento integral
deve o agente de execução remeter o processo para despacho liminar (cfr. art.ºs 812-
F, n.º 2-d) e 812.º-C, al.ª c)-ii), a contrario

V
Título: Letra/ Livrança/ Cheque
Valor de execução: € 5.000,00
Bens indicados à penhora: bens móveis e um veículo automóvel

181
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Também aqui há dois fatores a considerar cumulativamente: o valor e o bem
indicado à penhora.
Neste exemplo, como o valor da execução (que é o valor do pedido) não excede a alçada
do Tribunal da Relação e os bens indicados à penhora não incluem o estabelecimento
comercial, nem direito real menor ou quinhão em património que sobre eles incida, não
há lugar a despacho liminar, pelo que a execução começa pelas diligências tendentes à
penhora (cfr. art.ºs 812.º-C, al.ª d), 832.º e 833.º-A).

VI
Título: Letra/ Livrança/ Cheque
Valor de execução: € 45.000,00
Bens indicados à penhora: bens móveis e um veículo automóvel.

Aqui, a tramitação difere do exemplo anterior porque o valor da execução excede


a alçada da Relação. Basta que não se verifiquem simultaneamente os dois requisitos
(valor não superior à alçada da Relação e entre os bens a penhorar não haja
estabelecimentos comerciais, direitos reais menores ou quinhão em património que os
inclua) para que a ação executiva não possa ter início pela penhora.
Assim, há lugar a despacho liminar (art.º 812.º-C, n.º 1-d), a contrário).
Uma vez que há despacho liminar porque, cumulativamente, não estão reunidas as
condições para que se comece pela fase da penhora, deve o agente de execução observar
o disposto na alínea d) do n.º 2 do art.º 812-F.
Assim se da consulta do registo informático de execuções constar a menção da
frustração total ou parcial de execução anterior contra o executado, deve o agente de
execução proceder à citação oficiosa (cfr. 812.º F n.º 2 d)).
Contudo, e se inversamente da consulta do registo informático nada constar em
relação ao executado ou se constar a menção de execução com pagamento integral deve o
agente de execução remeter o processo para despacho liminar (cfr. art.ºs 812-F, n.º 2, d)
e 812.º-C, d), a contrario.

VII
Título: Letra/ Livrança/ Cheque
Valor de execução: € 25.000,00
Bens indicados à penhora: Imóvel.

182
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Aqui, a tramitação difere do exemplo anterior porque o valor da execução não
excede a alçada da Relação e o bem indicado à penhora (o imóvel) não se enquadra nos
referidos na norma. Basta que se cumulem os dois pressupostos (valor não superior à
alçada da Relação e entre os bens a penhorar não haja estabelecimentos comerciais,
direitos reais menores ou quinhão em património que os inclua) para que a ação
executiva se inicie pela penhora.
Assim, neste exemplo a execução deverá iniciar pela penhora (art.º 812.º-C, n.º 1-
d), 832.º e 833.º-A).

VIII
Título: Hipoteca para habitação própria
Valor de execução: € 50.000,00
Bens indicados à penhora: Imóvel

Estamos perante uma das situações enunciadas no n.º 2 al. c) do art.º 812.º-F,
donde resulta a citação do executado previamente à penhora.
Igual tratamento tem uma execução:
- em que só é executado o devedor subsidiário (fiador, avalista) e não seja pedida a
penhora sem citação liminar do mesmo;
- em que o título não seja uma sentença e o pedido de liquidação da obrigação não
dependa de simples cálculo aritmético, nos termos do art.º 805 n.º 4 do C.P.C.
- desde que no registo informático de execuções conste a menção de frustração total ou
parcial de anterior execução movida contra o executado.

Execução por Custas, Multas, Coimas e outras quantias contadas


ou liquidadas

Sem prejuízo de entendimento diverso dos Senhores Magistrados, afigura-se-nos


que a execução proveniente da falta de pagamento de custas, multas ou outras quantias
contadas ou liquidadas, enquadra-se na al.ª d) do art.º 812.º-C, porque o título executivo

183
Manual de apoio ao ingresso - 2013
não é a decisão judicial mas sim a conta ou liquidação – cfr. art.º 35.º do Regulamento das
Custas Processuais.
Aliás, nem sempre a conta ou liquidação é precedida de decisão judicial, como é o
caso, por exemplo, da conta intermédia elaborada nos termos do art.º 29.º, n.º 3-a) do
R.C.P., em consequência da paragem do processo por inércia das partes.

O mesmo se passa relativamente às coimas aplicadas por entidades administrativas


em processo de contraordenação, em que é a liquidação dele constante juntamente com a
notificação efetuada pela entidade administrativa que titula a execução, como resulta do
art.º 35.º do RCP em articulação com as demais disposições apropriadas daquele
regulamento subsidiariamente aplicáveis por via dos art.ºs 92.º, n.º 1 do RGCO (Regime
Geral das Contra - Ordenações aprovado pelo Decreto-Lei n.º 433/82, de 27/10) e 510.º e
seguintes do Código de Processo Penal.

 Oposição à execução

Com a estrutura duma verdadeira ação declarativa, a oposição corre por apenso à ação
executiva (cfr. art.º 817.º, n.º s 1 e 2) e o leque de fundamentos diverge consoante o título
em que se baseia a execução.

Neste sentido, a oposição considera-se restrita ou ampla, consoante o título executivo


consista numa decisão judicial ou de natureza diversa.

Tratando-se de decisão judicial, o leque de fundamentos da oposição é restrito aos


enunciados no art.º 814.º, até porque o executado já teve oportunidade de discutir boa parte
das questões na ação declarativa que deu origem ao título executivo (a sentença).

Relativamente à execução fundada em título extrajudicial, a oposição diz-se ampla,


visto poderem ser alegados mais fundamentos de defesa de modo análogo à ação declarativa
(cfr. art.º 816.º).

184
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Prazo para dedução da oposição à execução
A oposição à execução é apresentada no prazo de 20 dias (acrescido da dilação
aplicável nos termos do art.º 252.º-A)98 a contar da citação (cfr. art.º 813.º, n.º 1).

Assim, pode acontecer uma das seguintes situações:

- Se a citação for efetuada antes da penhora (citação prévia), o executado tem


o prazo de 20 dias para deduzir oposição à execução e ao incidente previsto nos
n.ºs 2 e 3 do art.º 804.º, quando seja o caso (cfr. art.ºs 812.º, n.º 6 e 813.º, n.º 1).
É de notar que, neste quadro, aquando da penhora ou após esta, o executado já
só é notificado para se opor à penhora no prazo de 10 dias (cfr. art.ºs 863.º-B, n.º
1-b)).

- Nos casos em que a penhora preceda a citação, o executado é citado (no


próprio ato da penhora ou num dos cinco dias seguintes) para deduzir oposição à
execução e à penhora no prazo de 20 dias (cfr. art.ºs 813.º, n.º 1, 863.º-B, n.º 1-a)
e 864.º, n.ºs 1 e 2).
- Se a matéria da oposição resultar de facto superveniente, o prazo para a sua
dedução conta-se a partir da data da ocorrência do facto ou em que dele o
oponente tiver tomado conhecimento (cfr. art.º 813.º, n. 3). A superveniência
pode ser objetiva ou subjetiva. É objetiva quando os factos ocorram
posteriormente ao termo do prazo para a oposição (20 dias). É subjetiva quando
os factos são anteriores, mas o executado só tem conhecimento deles após o
decurso do prazo da oposição.

O prazo para a oposição à execução é individual não se lhe aplicando o regime


previsto n.º 2 do art.º 486.º para a contestação em processo declarativo, por a tal se opor
taxativamente o n.º 4 do art.º 813.º. Ou seja, sendo dois ou mais executados, cada um tem o
seu próprio prazo para deduzir oposição, a contar da respetiva citação, sem prejuízo, no

98
Não é demais relembrar que o conceito de comarca instituído pela Lei n.º 52/2008, de 28 de Agosto (LOTF),
abrange hoje, nas comarcas piloto do Baixo Vouga, Alentejo Litoral e Grande Lisboa Noroeste, todo os municípios
nela integrados (por exemplo, na Comarca da Grande Lisboa Noroeste encontram assento todos os tribunais que,
na vigência da Lei 3/99, de 13/1, compunham as comarcas de Mafra, Amadora e Sintra).
De notar ainda que esta nova visão tem influência na aplicação das regras da dilação prevista no art.º 252.º-A do
C.P.Civil, na medida em que, no exemplo dado, o executado residente em qualquer dos municípios integrados na
Comarca da Grande Lisboa Noroeste, não beneficia de dilação pelo facto de o processo correr noutro juízo de
município diferente, pertencente à mesma Comarca ( cfr. art.º 252.º-A, n.º1, al.b), a contrário).

185
Manual de apoio ao ingresso - 2013
entanto, da possibilidade de cada um, dentro do prazo respetivo, poder requerer a
prorrogação nos termos do n.º 5 do art.º 486.º, aqui aplicável por via do n.º 1 do art.º 466.º

 Tramitação da oposição à execução

Com a oposição deve ser junto o documento comprovativo do pré-pagamento da taxa de


justiça (art.º 150.º-A, n.º 1 do CPC).

Porém, a falta deste documento não implica a recusa da peça processual em causa, já
que a parte que o não tenha junto no momento da apresentação em juízo pode fazê-lo nos 10
dias seguintes.

Se, decorrido este prazo, não for junto o documento em causa, a secretaria
oficiosamente procede de modo idêntico à falta de pagamento da taxa de justiça da
contestação em processo declarativo, o mesmo é dizer-se que observa o disposto no art.º
486.º-A, em face do n.º 3 do art.º 150.º-A.

Dispõe agora o n.º 2 do art.º 150.º-A que a junção de documento comprovativo do


pagamento de taxa de justiça de valor inferior ao devido nos termos do Regulamento das
Custas Processuais, equivale à falta de junção, devendo o mesmo ser devolvido ao
apresentante.

Tal como já foi referido, a oposição à execução corre por apenso à execução (cfr.
art.º 817.º, n.º 1) e está sujeita a despacho liminar - não vigorando aqui o princípio da
oficiosidade (cfr. art.ºs 234.º, n.º 4 alínea a) e 817.º, n.º 1) -, despacho que pode ser de
aperfeiçoamento, indeferimento ou deferimento.

Nas duas primeiras situações, a secretaria notifica o despacho ao opoente e aguarda dez
dias (acrescido naturalmente do suplemento do art.º 145.º), findos os quais, se o despacho
tiver sido de aperfeiçoamento, apresenta o processo concluso.

Do despacho de indeferimento cabe recurso ordinário para a Relação,


independentemente do valor processual – cfr. art.ºs 234.º-A e 466.º, n.º e 922.º-B.

Sendo recebida a oposição (por despacho do juiz), o exequente é notificado (por carta
registada simples) para contestar no prazo de 20 dias, após o que se seguirão, sem mais
articulados, os termos do processo sumário declarativo (cfr. art.º 817.º , n.º 2).

A falta de contestação à oposição importa a confissão dos factos articulados pelo


opoente (cfr. art.ºs 484.º, n.º 1 e 485.º) à exceção dos que estiverem em oposição aos
expressamente alegados no requerimento executivo (cfr. art.º 817.º, n.º 3).

186
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Se a oposição for julgada procedente, a execução extingue-se ou modifica-se, consoante
a procedência seja total ou parcial (cfr. art.º 817.º, n.º 4).

 Efeitos do recebimento da oposição (cfr. art.º 818.º)

Quando o executado haja sido citado previamente à penhora, o recebimento da


oposição suspende a execução após a prestação de caução, conquanto o opoente a tenha
requerido (art.º 818.º, n.º 2).

O incidente de caução (designado incidente de prestação espontânea de caução – cfr.


art.º 988.º) tem carácter urgente e corre por apenso (não se integra no processado da
oposição) – cfr. art.º 990.º.

Sendo impugnada a assinatura aposta em documento particular, o juiz, depois de ouvido


o exequente, decide pela suspensão ou prosseguimento da ação executiva, nos termos do n.º
1 do art.º 818.º.

Se não tiver havido citação prévia do executado, o recebimento da oposição suspende


a execução, mesmo sem caução, embora o juiz possa ordenar o reforço ou a substituição da
penhora.

A suspensão cessa se a oposição parar durante mais de 30 dias por negligência do


executado.

Prosseguindo a execução simultaneamente com a oposição, nem o exequente, nem


qualquer outro credor podem ser pagos, na pendência da oposição, sem prestarem caução –
art.º 818.º, n.º 4

Responsabilidade do exequente (art.º 819.º)

Quando o executado deduza oposição, se esta oposição for julgada procedente sem
ter havido citação prévia e se considere que o exequente não tenha agido com a prudência
normal, será este responsabilizado pelo pagamento ao executado de uma indemnização pelos
danos que, culposamente, lhe tiver causado e pelo pagamento de uma multa correspondente
a 10% do valor da execução ou da parte dela que for objeto de oposição, mas não inferior a
10 UC, nem superior ao dobro do máximo da taxa de justiça, multa esta que reverte a favor

187
Manual de apoio ao ingresso - 2013
do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça, I.P. de acordo com o disposto
no art.º 36.º, n.º 1-d) da Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de Abril.99

A decisão final da oposição à execução é notificada ao Ministério Público, aos sujeitos


processuais e ao agente de execução.

 Fase da penhora

Não sendo a obrigação voluntariamente cumprida, tem o credor o


direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar o
património do devedor, nos termos declarados neste código e nas leis
de processo – art.º 817.º do Código Civil.

Como vimos antes, a indicação dos bens tem lugar no próprio requerimento executivo –
art.º 810.º, n.º 5.
A materialização da penhora, alcançada através da efetiva apreensão dos bens, priva o
executado de exercer livremente os direitos que sobre eles detém, ao mesmo tempo que o
credor/exequente adquire um direito real de garantia – art.º 822.º do Código Civil.

Independentemente dos bens que possam ser indicados pelo exequente, o n.º 3 do art.
821.º estabelece um princípio da proporcionalidade da penhora estabelecido entre o valor
dos bens a penhorar e o da obrigação exequenda acrescido das despesas da execução em que
se incluem, naturalmente, as custas processuais.

As diligências tendentes à penhora iniciam-se em momentos distintos, consoante haja


ou não despacho liminar e tenha lugar ou não a citação prévia do executado, não carecendo
de despacho judicial a ordená-las, à exceção da penhora de saldos bancários (cfr. art.ºs
832.º, n.º 1 e 861.º-A, n.º 1).

99
Este diploma regula o modo de elaboração, contabilização, liquidação, pagamento, processamento e destino das
custas processuais, multas e outras penalidades no domínio do Regulamento das Custas Processuais aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro.

188
Manual de apoio ao ingresso - 2013
As diligências para a penhora têm início (art.º 832.º):

No prazo máximo de 5 dias, contados:

 Da apresentação do requerimento executivo com dispensa do despacho liminar e da


citação prévia do executado;
 Do termo do prazo da oposição à execução, sem que esta tenha sido deduzida, na
sequência da citação prévia;
 Nos demais casos, através da notificação da secretaria ao agente de execução,
- depois de proferido despacho que dispense a citação prévia ou
- do despacho de admissão da oposição à execução que não suspenda a execução
nos termos do art.º 818.º; ou
- da decisão que julgar improcedente a oposição à execução (suspensa);
do despacho de indeferimento do pedido de suspensão da execução fundado na falta de
genuinidade do documento particular (art.º 818.º, n.º 1).

Incumbe ao agente de execução proceder às diligências prévias à penhora, não sem


antes consultar o registo informático de execuções, observando, de seguida, o comando dos
n.ºs 3 e 4 do art.º 832.º.

A penhorabilidade dos bens

I - Os limites da penhora (princípio da proporcionalidade)

Sem prejuízo de, em momento posterior, se vir a constatar da insuficiência da penhora


e de, por isso, haver necessidade de penhorar outros bens (reforço – art.º 834.º, n.º 3), o
valor da penhora está limitado aos bens necessários ao pagamento da dívida exequenda,
acrescido das despesas previsíveis calculadas na proporção inversa dos valores das alçadas
como se demonstra no quadro seguinte, sem prejuízo da exceção prevista no n.º 2 do art.º
834.º, o qual permite a penhora, por excesso, de imóvel ou de estabelecimento comercial
quando seja previsível que a penhora de outros bens não permita a satisfação integral do
crédito exequendo no prazo de 6 meses.

Aproveita-se a oportunidade para chamar a atenção para este prazo de seis meses que
o legislador, discretamente, padroniza para a conclusão da ação executiva, o que de certa

189
Manual de apoio ao ingresso - 2013
forma nos faz recordar o prazo de um ano previsto no art.º 169.º do CIRE para o
encerramento do processo de insolvência.

Entre A partir de
Até
Dívida € 5.000,01

exequenda e 120.000,01
€ 5.000,00
€ 120.000,00 (inclusive)

Despesas prováveis 20% * 10% * 5% *

* - Estas percentagens são calculadas sobre o “valor processual” da execução – cfr.


art.ºs 821.º, n.º 3 e 305.º e seguintes

Neste contexto, o valor da execução destinada a pagamento de quantia certa é o que


resultar do crédito exequendo liquidado pelo exequente (cfr. art.ºs 810.º, n.º 1-h)), acrescido
dos juros vincendos, se for o caso, desde a apresentação do requerimento executivo até ao
momento da efetivação da penhora100.

Mas, será possível ou admissível a penhora de todos e quaisquer bens?

Não! Na verdade, nem todos os bens podem ser penhorados.


Com efeito, os artigos 822.º, 823.º e 824.º do CPC protegem da penhora alguns bens,
uns com proteção absoluta, outros relativa ou parcialmente protegidos, uma vez observados
determinados condicionalismos.

Vejamos, então, quais são os bens impenhoráveis:


 As coisas ou direitos inalienáveis – art.º 822.º, al.ª a)101;

100
Considerem-se, também, para o mesmo efeito, as figuras da cumulação de execução (inicial ou sucessiva) e de
coligação de exequentes – cfr. art.ºs 53.º, 54.º, 58.º, 832.º, n.ºs 4 e 5.
101
Alguns exemplos: crédito de alimentos –art.º 2008.º, n.º 1 do Cód. Civil; direito de uso e habitação – art.º
1488.º do Cód. Civil; direito de servidão separadamente do imóvel a que estiver ligada – art.º 1545.º do Cód. Civil;
o direito à sucessão de pessoa viva – art.º 2028.º do Cód. Civil; a posição do arrendatário de prédio destinado a
habitação, salvo em caso de divórcio – art.ºs 83, 84.º e 85.º do Regime do Arrendamento Urbano, aprovado pelo
Dec. Lei n.º 321-B/90, de 15/10; a raiz dos bens sujeitos a fideicomisso – art.º 2292.º do Cód. Civil; a propriedade
do nome ou da insígnia do estabelecimento separadamente deste – arts.º 297.º e 31.º do Cód. Propriedade
Industrial, aprovado pelo Dec. Lei n.º 36/2003, de 5 de Março; subsídio de Natal e de férias dos funcionários e
agentes da Administração Pública – art.º 17.º do Dec. Lei n.º 496/80, de 20/10; as prestações dos regimes da
segurança social são parcialmente penhoráveis – art.º 73.º, n.º 2 da Lei n.º 32/2002, de 20/12;

190
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 Os bens do domínio público do Estado102 e das restantes pessoas coletivas
públicas103 – art.º 822.º, al.ª b);
 Os objetos cuja apreensão seja ofensiva dos bons costumes ou careça de
justificação económica, pelo seu diminuto valor venal – art.º 822.º, al.ª c);
104
 Os objetos especialmente destinados ao exercício de culto público – art.º
822.º, al.ª d); Os túmulos – art.º 822.º, al.ª e);
 Os bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica que se encontrem na
residência permanente do executado, salvo se se tratar de execução destinada
ao pagamento do preço da respetiva aquisição ou do custo da sua reparação105 –
art.º 822.º, al.ª f);
 Os instrumentos indispensáveis aos deficientes e os objetos destinados ao
tratamento de doentes – art.º 822.º, al.ª f);
 Os bens do Estado e das restantes pessoas coletivas públicas, de entidades
concessionárias de obras ou serviços públicos ou de pessoas coletivas de
utilidade pública, que se encontrem especialmente afetados à realização de fins
de utilidade pública, salvo tratando-se de execução para pagamento de dívida
com garantia real – art.º 823.º, n.º 1;
 Os instrumentos de trabalho e os objetos indispensáveis ao exercício da
atividade ou formação profissional do executado, salvo se:
 O executado os indicar para penhora;
 A execução se destinar ao pagamento do preço da sua aquisição ou do
custo da sua reparação;
 Forem penhorados como elementos corpóreos de um estabelecimento
comercial – art.º 823.º, n.º 2, al.ªs a) a c).

 São também impenhoráveis dois terços


 dos vencimentos,
 salários ou

102
Sobre bens do domínio do Estado cfr. art.ºs 84.º da Constituição da República Portuguesa e 4.º a 7.º do Dec. Lei
n.º 477/80, de 15/10.
103
São pessoas coletivas de utilidade pública as associações ou fundações que prossigam fins de interesse geral, ou
da comunidade nacional ou de qualquer região ou circunscrição, cooperando com a Administração Central ou a
administração local, em termos de merecerem da parte desta administração a declaração de «utilidade pública» -
art.º 1.º, n.º 1 do Dec. Lei n.º 460/77, de 7/11. A declaração de utilidade pública é da competência do governo e é
publicada no Diário da República – art.ºs 3.º e 6.º do mesmo diploma.
104
Em princípio, são penhoráveis as capelas particulares e seus adornos.
105
Cfr. Ac. TRL de 85/07/09 in BMJ n.º 356, pg. 438; Ac. TRE de 89/04/04 in Col. Jur. de 1989, Tomo II, pg. 283.

191
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 prestações de natureza semelhante106, auferidos pelo executado – art.º 824.º,
n.º 1-a);
 das prestações periódicas pagas a título de
aposentação ou de
outra qualquer regalia social, seguro, indemnização por acidente ou renda
vitalícia,
ou de quaisquer outras pensões de natureza semelhante - art.º 824.º, n.º 1-b).

A impenhorabilidade de 2/3 prevista nas situações atrás descritas, decorre dos n.ºs 1 e 2
do art.º 824.º C.P.C.

Vejamos:

Se a fração de 2/3 for superior ao triplo do salário mínimo nacional em vigor à data da
penhora, a diferença pode ser penhorada – art.º 824.º, n.º 2.

Não auferindo o executado qualquer outro rendimento e caso o crédito não seja de
alimentos, se o valor correspondente a 2/3 do salário do executado ficar aquém do salário
mínimo nacional, a parte impenhorável corresponde ao valor do salário mínimo nacional, o
que significa que a fração penhorável é inferior a 1/3 - art.º 824.º, n.º 2 segunda parte.

Exemplo (art.º 824.º, n.º 2 - 1.ª parte):

O executado aufere o salário de € 2.400,00.

Dois terços deste valor são € 1.600,00.

Considerando que o salário mínimo nacional está fixado em € 485,00107, o triplo


do seu valor são € 1.455,00 (valor impenhorável).

Obtendo a diferença entre € 1.600,00 e € 1.455,00 encontramos o valor


penhorável: € 145,00.

Em suma, a este executado poder-se-ia penhorar:

106
Incluem-se as prestações periodicamente pagas pela Segurança Social.
107
O valor do salário mínimo nacional para o ano de 2010 foi fixado em € 485,00 pelo Dec. Lei n.º 143/2010, de 31
de Dezembro.

192
Manual de apoio ao ingresso - 2013
1 Salário do executado € 2.400,00

2 1/3 do salário € 800,00

3 2/3 do salário € 1.600,00

4 Triplo do salário mínimo nacional € 1.455,00

5 A diferença entre 2/3 do salário e o


triplo do salário mínimo nacional [3-4]
€ 145,00

6 Máximo penhorável em cada € 945,00


apreensão [2+5]

Exemplo (art.º 824.º, n.º 2 - 2.ª parte):

O executado aufere um salário de € 500,00.

A aplicação genérica da norma ditaria que a penhora poderia alcançar os 2/3 = €


333,33, deixando livre da penhora a fração de 1/3 = € 166,67.

No entanto, como o valor correspondente aos 2/3 (€ 333,33) é inferior ao salário


mínimo nacional, passa este último a fixar o teto da impenhorabilidade (€
485,00), tal como se demonstra no quadro seguinte:

1 Salário do executado € 500,00

2 1/3 do salário € 166,67

3 2/3 do salário € 333,33

4 Salário mínimo nacional € 485,00

5 Valor impenhorável € 485,00

6 Valor penhorável em cada apreensão € 15,00


[1-4]

Resumindo:
- Em princípio, é penhorável 1/3 do salário do executado.

193
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Exceção: Só assim não será se os restantes 2/3 tiverem um valor inferior ao salário
mínimo nacional caso em que este se mantém intato, incidindo a penhora sobre a diferença
entre o salário global e o "valor intocável".

Retomando o último exemplo:


€ 500,00 - € 485,00= € 15,00

 Se os 2/3 forem inferiores ao triplo do salário mínimo nacional, o


valor correspondente àquela fração permanece protegida, pelo que a
penhora não pode ir além de 1/3.

 Caso os 2/3 ultrapassem o triplo do salário mínimo nacional, serão


suscetíveis de penhora não só a fração de 1/3, mas também a
diferença entre o valor correspondente aos 2/3 e o triplo do salário
mínimo nacional.

Na penhora de dinheiro ( art.ºs 824.º-A; 839.º, n.º 3; 848.º, n.º 4; 865.º, n.º 4-b) e
874.º) ou de saldo bancário (art.ºs 824.º-A; 861.º-A; 865.º, n.º 4-b) e 874.º) é impenhorável
o valor global correspondente a um salário mínimo nacional, assim se permitindo ao
executado a satisfação das suas mais elementares necessidades de vida – art.º 824.º, n.º 3.

Para além da impenhorabilidade acabada de referir, o art.º 824.º prescreve ainda


situações de redução e isenção das penhoras de vencimentos, salários, prestações periódicas,
como, por exemplo, pensões, regalias sociais, seguros, indemnizações por acidente ou rendas
vitalícias. Contudo, os critérios de decisão encontram-se disciplinados pelo valor do Indexante
de Apoios Sociais.54

A apreciação dos pedidos de isenção e redução da penhora dos rendimentos do


executado que no regime cessante eram da competência do juiz, passam a ser decididos pelo
agente de execução no atual regime.

Quanto à “Isenção da penhora”:

54
Valor fixado por portaria e atualizado anualmente, com efeitos a partir do dia 1 de Janeiro de cada ano –cfr. a
Lei 66-B/2012,de 31 de Dezembro. O valor para o ano de 2013 é de € 419,22 - cfr. art.º 2.º da Portaria 432-
A/2012, de 31 de Dezembro.

194
Manual de apoio ao ingresso - 2013
A requerimento do executado, o agente de execução, após ouvir o exequente, isenta de
penhora os rendimentos daquele, pelo prazo de 6 meses, se o agregado familiar do
executado tiver um rendimento relevante para efeitos de proteção jurídica igual ou inferior
a ¾ do valor do IAS (Indexante de Apoios Sociais).

Exemplificando:

Se, durante o ano de 2012, o agregado familiar do executado tiver um rendimento igual
ou inferior a € 314,42 (3/4 de € 419,22), verificam-se os parâmetros estipulados para que ele
possa requerer e beneficiar da isenção de penhora pelo prazo de 6 meses.

A decisão do agente de execução deverá ser fundamentada.

Quanto à “Redução da penhora”:

A requerimento do executado, o agente de execução, após ouvir o exequente, reduz


para 1/2 a parte penhorável dos rendimentos daquele, pelo prazo de 6 meses, se o agregado
familiar do executado tiver um rendimento relevante para efeitos de proteção jurídica
superior a 3/4 e igual ou inferior a 2,5 do valor do IAS (Indexante de Apoios Sociais).

Exemplificando:

Se, durante o ano de 2012, o agregado familiar do executado tiver um rendimento


superior a € 314,42 (3/4 de € 419,22) e igual ou inferior a € 1.048,05 ( 2,5 x € 419,22)
verificam-se os requisitos para que ele possa requerer e beneficiar da redução para metade
da parte penhorável dos seus rendimentos.

A decisão do agente de execução deverá ser fundamentada.

Embora a iniciativa da penhora parta do agente de execução sem precedência de


despacho judicial, o juiz, mediante requerimento do executado, pode ser chamado a
intervir no processo em ordem a fixar outros limites à penhora, que não os previstos nos n.ºs
4 e 5 do artigo 824.º, reduzindo a parcela penhorável, para além do período de seis meses.-
cfr. art.º 824.º, n.º 6. Este normativo prevê a possibilidade de uma decisão favorável de
redução da parte penhorável por um período superior a 6 meses, para situações de
dificuldade financeira do agregado familiar, conquanto o executado o requeira, o exequente
seja ouvido e o agente de execução o proponha ao juiz.

Inversamente, o n.º 7 do art.º 824.º, permite ao agente de execução, após ponderação


do montante e natureza do crédito e estilo de vida e necessidades do executado, que a

195
Manual de apoio ao ingresso - 2013
requerimento do exequente e ouvido o executado, proponha ao juiz o afastamento da
impenhorabilidade e limites correspondentes ao salário mínimo nacional - cfr. 824.º n.ºs 2 e
3.

As propostas do agente de execução enviadas ao juiz nos termos acabados de referir,


deverão conter um projeto de decisão fundamentada.

II - A penhora de bens comuns do casal – art.º 825.º

O artigo 601.º do Código Civil estabelece, como princípio genérico, a responsabilidade


de todos os bens do devedor pelo cumprimento das suas obrigações, salvo casos
especialmente previstos que estabeleçam de forma diferente, como acontece quando o
devedor é casado Sendo o devedor casado no regime da separação de bens, a penhora não
levanta grandes problemas, visto cada um dos cônjuges conservar o domínio e fruição de
todos os seus bens – cfr. art.º 1735.º C.C. –, salvo a possibilidade de presunção de
compropriedade dos bens móveis fundada na dúvida sobre a propriedade desses bens – cfr.
art.º 1736, n.º 2 CC.

Ou seja, ressalvada a exceção, pelas dívidas de cada um dos cônjuges respondem os


bens próprios de cada um deles – cfr. art.º 1695.º, n.ºs 1 e 2 do CC.

Porém, o mesmo não se verifica quando entre os cônjuges vigorar o regime da


comunhão de adquiridos (regime supletivo - cfr. art.ºs 1721.º e seguintes do CC) ou geral
(art.ºs 1732.º e seguintes do CC), em que, por via de regra, existem bens próprios e comuns.

Assim, quanto à dívida da responsabilidade de um dos cônjuges, respondem, em


primeiro lugar, os bens próprios e na falta ou insuficiência destes a sua meação nos bens
comuns – art.º 1696.º do CC.

Sobre as dívidas da responsabilidade de um dos cônjuges preveem os art.ºs 1692.º,


1693.º, n.º 1 e 1694.º, n.º 2 do Cód. Civil.

Relativamente às dívidas de ambos os cônjuges, há que distinguir entre as dívidas


comuns - derivadas de facto praticado por ambos - e as dívidas comunicáveis, como são, entre
outras, as dívidas assumidas por um dos cônjuges com o consentimento do outro ou, na
comunhão geral, as dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges, antes do casamento, em
proveito comum o casal – cfr. art.º 1691.º do Cód. Civil.

196
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Conjugando o art.º 825.º com o art.º 864.º, n.º 3-a) conclui-se que, em execução
movida apenas contra um dos cônjuges, deve ser citado o outro cônjuge quando:
 Em execução movida contra um dos cônjuges, sejam penhorados bens
comuns do casal – art.º 825.º, n.º 1; O exequente, munido de título executivo que
não a sentença108, invoque a comunicabilidade da dívida – art.º 825.º, n.º 2.
 Tenha sido penhorado bem imóvel ou estabelecimento comercial que o
executado não possa alienar livremente (próprios ou comuns – cfr. art.º 1682.º-A do
CC) – art.º 864.º, n.º 3-a);

Pela via da citação, o cônjuge do executado adquire o estatuto especial consagrado


no art.º 864.º-A, estatuto esse que lhe permite exercer os mesmos direitos processuais
conferidos ao executado, podendo nomeadamente:
 Deduzir oposição à execução;
 Deduzir oposição à penhora;
 Requerer a separação dos bens quando a penhora recaia em bens
comuns;
 Exercer na reclamação de créditos, assim na fase de pagamentos, os
direitos reconhecidos ao próprio executado.

Desta forma, após a penhora e em qualquer dos casos acima descritos, o agente de
execução procede oficiosamente à citação, além do próprio executado (ou notificação no
caso de ele ter sido previamente citado), também do seu cônjuge, sendo-o este para, no
prazo de 10 dias, mas nunca além do termo do prazo concedido ao executado, deduzir
oposição à execução e ou à penhora109, podendo, no mesmo prazo, requerer a separação de
bens ou juntar à execução uma certidão comprovativa da pendência ação com tal finalidade.

Quanto à comunicabilidade da dívida, pode verificar-se uma de duas situações,


consoante o exequente haja invocado ou não a comunicabilidade da dívida, isto, em execução
fundada em título diverso de sentença.

Na hipótese afirmativa, o cônjuge do executado é ainda citado para, em alternativa,


declarar se aceita a comunicabilidade da dívida, sob o efeito cominatório de a dívida ser

108
Presume-se que a sentença como título executivo terá sido posta à margem deste problema por se entender
que a oportunidade da discussão sobre a comunicabilidade da dívida se esgota na ação declarativa.
109
Note-se que em caso de penhoras múltiplas espaçadas no tempo, o cônjuge, depois de citado, já só é notificado
para deduzir oposição à penhora no prazo de 10 dias, aplicando-se as regras do artigo 235.º do CPC – cfr. art.º
863.º-B, n.º 1-B).

197
Manual de apoio ao ingresso - 2013
considerada comum se nada disser, ainda que deduza oposição à execução, a qual prossegue
quanto aos bens comuns.

Se o cônjuge aceitar a dívida ou se nada disser, a execução prossegue também contra


si (o cônjuge passa a executado), abrindo-se a possibilidade de lhe serem penhorados os seus
próprios bens – n.º 3 do art.º 825.º.

De igual modo, prosseguirá a execução contra o cônjuge do executado que recusar a


comunicabilidade da dívida, mas não requerer a separação de bens – n.º 4.

Qualquer das situações atrás descritas, aliás, em paralelo com a previsão do artigo
869.º, arrasta o cônjuge do executado para a obrigação constante do título executivo,
prosseguindo a execução também contra ele.

E pode ainda dar-se a formação de um “título executivo especial” quando se verificar


a situação prevista no n.º 6 do art.º 825.º, em consequência de o próprio executado alegar
fundamentadamente a comunhão da dívida no prazo da oposição, na sequência da sua
citação, quer ela tenha sido prévia ou não.

Caso contrário, ou seja, se o exequente não invocar a comunicabilidade da dívida, tanto


o executado como o seu cônjuge podem, nos prazos respetivos para a oposição (recorde-se
que aqui não funciona o aproveitamento dos prazos da ação declarativa – art.º 813.º, n.º 4),
requerer a separação de bens ou juntar certidão comprovativa da pendência da ação com
essa finalidade, o que, a acontecer, implicará a suspensão da execução até que se finalize a
partilha dos bens.

Se o não fizerem, a execução prossegue somente contra o executado - já não contra o


cônjuge -, mas sobre os bens que estiverem penhorados, mesmo que sejam comuns.

Autuado o requerimento da separação por apenso à execução - como processo de


“inventário” – cfr. art.º 1406.º do CPC –, é nele aberta conclusão ao juiz da execução para
ordenar os termos do inventário e decretar a suspensão da ação executiva.

O cargo de cabeça de casal é exercido pelo cônjuge mais velho e o exequente, como
qualquer credor do executado, podem promover o andamento do inventário, permitindo-se ao
cônjuge do executado a possibilidade de escolher os bens que hão-de preencher a sua
meação, escolha essa que pode ser alvo de reclamação dos credores.

198
Manual de apoio ao ingresso - 2013
A sentença homologatória da partilha, além de notificada ao Ministério Público (é
sempre notificado de todas as decisões finais – art.º 258.º), aos interessados e credores, deve
ser igualmente notificada ao agente de execução.

Não sendo adjudicados ao executado os bens penhorados, a penhora sobre eles mantém-
se até que o agente de execução penhore novos bens (cfr. art.ºs 821.º, n.º 3 e 834.º, n.º 1) e
só nessa altura é que se opera a substituição da penhora – cfr. art.º 825.º, n.ºs 3 e 7.

III – Penhora em caso de comunhão ou compropriedade – art.º 826.º

Nos casos de comunhão ou de compropriedade de bens previstos no art.º 826.º, a


penhora segue o regime do artigo 862.º.

Nas previsões do artigo 826.º cabem duas situações distintas:


 Execução movida contra algum ou alguns contitulares de património comum (ex.
herança; património do casal);
 Execução movida contra algum ou alguns comproprietários de bem indiviso.

Em qualquer das situações atrás descritas, a penhora incide na quota-parte do


executado (ou executados) no património autónomo ou no bem indiviso e não sobre os
próprios bens ou parte específica deles.

A penhora do quinhão do executado na herança aberta por morte de certa pessoa não
incide nos próprios bens (ou parte deles) que constituem o acervo hereditário. Do mesmo
modo, a penhora do direito do executado à terça-parte indivisa de certo imóvel não implica a
penhora de qualquer parte específica do próprio imóvel. Está em causa a penhora de direitos.

Se, em execuções distintas110, forem penhorados todos os quinhões de um mesmo


património autónomo ou todos os direitos sobre o mesmo bem indiviso, é realizada uma
venda única, no processo em que tiver sido efetuada a primeira penhora.

110
Note-se que nos vários processos poderão ser diferentes os sujeitos processuais.

199
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Neste particular, havendo mais execuções pendentes, afigura-se-nos que o agente de
execução deve promover a apensação das demais execuções àquela em que tiver sido
efetuada a primeira penhora, nos termos do art.º 275.º, n.º 5.

Esta penhora consiste na notificação ao administrador e aos contitulares (segundo as


regras da citação, nos termos das disposições combinadas dos n.ºs 1 dos art.ºs 856.º e 862.º) e
quando sejam várias as pessoas notificadas, a penhora produz efeitos a partir da primeira
notificação111 - art.º 862.º, n.º 1.

Se o bem indiviso estiver sujeito a registo, também a penhora do direito o está e neste
caso releva a data do registo, por ser este o ato constitutivo da penhora – cfr. art.ºs 838.º,
851.º e 863.º.

A perspetiva de venda única é motivo para o agente de execução dar prioridade à


penhora destes direitos – cfr. art.ºs 832.º, n.º 1, 835.º, n.º 2 e 862.º.

IV – Bens a penhorar na execução contra herdeiro – art.º 827.º

Nas previsões deste artigo cabem as execuções por dívidas da herança propostas contra
o herdeiro, pelas quais respondem os bens que integram o respetivo património (cfr. art.º
2068.º do CC).

Daí que o n.º 1 do art.º 827.º estabeleça que na execução movida contra o herdeiro só
podem penhorar-se os bens que ele tenha recebido do autor da herança.

Mas, o herdeiro pode aceitar a herança pura e simplesmente ou a benefício de


inventário (cfr. art.º 2052.º do CC).

Se aceitar a herança a benefício de inventário, a penhora só atinge os bens que ao


herdeiro tiverem sido adjudicados na partilha e se porventura forem atingidos quaisquer
outros bens, o herdeiro/executado pode requerer fundamentadamente o seu levantamento e
ao mesmo tempo indicar outros bens da herança que tiver em seu poder – n.º 2 do art.º 827.º,
requerimento esse que é dirigido ao agente de execução, o qual atenderá ao pedido depois de
ouvir o exequente e de este não se manifestar discordante.

Caso o exequente se oponha ao requerido, o executado só logrará obter o levantamento


da penhora se demonstrar ao agente de execução, através de prova documental, que os bens

111
A penhora considera-se feita no momento da notificação - Ac. STJ, de 94/05/26 in BMJ 437, pg. 471.

200
Manual de apoio ao ingresso - 2013
penhorados não provieram da herança e que não recebeu outros bens além dos que indicou
ou, se recebeu mais, que os outros foram aplicados para solver os encargos da herança.

Da junção de documentos é oficiosamente notificado o exequente nos termos do


disposto no art.º 526.º ex vi do art.º 466.º, n.º 1. Quer o exequente, quer o executado
poderão reclamar para o juiz da decisão que sobre a questão for tomada pelo agente de
execução – cfr. art.º 809.º, n.º 1.

V – Penhorabilidade subsidiária – art.º 828.º

Há bens que só podem ser penhorados depois de verificadas a insuficiência ou mesmo a


falta de bens de outros, como é o caso já visto das dívidas de um dos cônjuges, pelas quais
respondem prioritariamente os seus próprios bens e só depois, se a dívida for comum ou
comunicável, os bens comuns do casal.

Mas, há mais situações em que isto pode acontecer, nomeadamente, quando, pela via
negocial ou legal, houver um devedor principal e outro subsidiário (por exemplo, um fiador).

Do n.º 1 do art.º 627.º do Código Civil resulta que o fiador garante a satisfação do
direito de crédito, ficando pessoalmente obrigado perante o credor. E acrescenta o n.º 2 que
a obrigação do fiador é acessória da que recai sobre o devedor principal. Mas, ao fiador é
lícito usar o benefício da excussão prévia112, recusando o cumprimento da obrigação enquanto
não tiverem sido excutidos todos os bens do devedor, com ou sem garantia reais – cfr. art.ºs
638.º e 639.º do CC.

No mesmo contexto, o art.º 828.º do CPC define regras para a penhora subsidiária de
bens, consoante a execução seja movida contra:
 O devedor principal e o devedor subsidiário;
 O devedor principal apenas; ou

112
O benefício da excussão prévia é invocável pelos seguintes devedores subsidiários: fiador – art.ºs 627.º e
seguintes do Cód. Civil, salvo as exceções do art.º 640.º, n.º 2 e da fiança comercial, em que o fiador é
solidariamente responsável com o afiançado – cfr. art.º 101.º do Cód. Comercial; sócios da sociedade comercial
em nome coletivo – art.º 175.º, n.º 1 do Cód. das Sociedades Comerciais; sócios comanditados da sociedade
comercial em comandita – art.º 465.º, n.º 1 do Cód. das Sociedades Comerciais; sócios da sociedade civil – art.º
997.º, n.º 2 do Cód. Civil.
O avalista nas letras ou nas livranças é considerado principal responsável – art.ºs 32.º e 77.º da LULL.

201
Manual de apoio ao ingresso - 2013
O devedor subsidiário na execução movida contra os devedores principal e
subsidiário, em que este último deva ser citado previamente à penhora dos seus bens (cfr.
art.º 812.º-F, n.º 2, a)), o n.º 1 do art.º 828.º impede que a penhora se efetue enquanto não
forem penhorados e vendidos ou adjudicados todos os bens do devedor principal.

Mas, a citação do devedor subsidiário, ainda que prévia à penhora dos seus bens, só
pode ocorrer depois de excutidos todos os bens do devedor principal, salvo se o exequente
pedir que ela se efetue antes da excussão.

Neste caso, o devedor subsidiário pode, no prazo da oposição e por simples


requerimento dirigido ao agente de execução, invocar o benefício da excussão prévia dos
bens do devedor principal, sujeitando-se, caso o não faça, à possibilidade de os seus bens
serem logo penhorados – cfr. n.ºs 1 e 3-a) do art.º 828.º.

A excussão plena dos bens do devedor principal termina com o “apuramento” do


produto da venda de todos os seus bens, pois só assim será possível aferir da eventual
insuficiência do produto em face da estimativa (feita pelo agente de execução) do montante
das custas da execução, do crédito exequendo (incluindo os juros, se pedidos) e bem assim
dos créditos graduados à frente do exequente (cfr. art.º 455.º).

A execução prosseguirá sobre os bens do devedor subsidiário até que o crédito do


exequente seja integralmente pago.

Vejamos, agora, a execução movida apenas contra o devedor principal.

Aqui, respondem, em primeira linha, os bens dele e só perante a manifesta falta ou


insuficiência dos bens é que o exequente pode requerer ao agente de execução, no mesmo
processo, o prosseguimento da execução, também, contra o devedor subsidiário – cfr. n.º 5 do
art.º 828.º.

Finalmente, a execução movida apenas contra o devedor subsidiário

O n.º 7 deste normativo permite a instauração da ação executiva logo contra o devedor
subsidiário, assim o credor/exequente demonstre a falta ou insuficiência de bens do devedor
principal.

Uma vez proposta a execução apenas contra o devedor subsidiário, ele só não será
citado previamente se o exequente, no requerimento executivo, deduzir o pedido de dispensa
de citação prévia, e o juiz, produzidas as provas necessárias, decidir favoravelmente – cfr.
art.ºs 812.º-F, n.º 3 e 812.º-D, a).

202
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 Sendo citado previamente, o executado poderá, no prazo da oposição,
invocar o benefício da excussão prévia, o que confere ao exequente o direito de
pedir o prosseguimento da execução, também, contra o devedor principal. A não
invocação de tal benefício abre portas à penhora, em primeira linha, dos bens do
devedor subsidiário – n.º 2 do art.º 828.º.
 Não sendo citado previamente, os bens do devedor subsidiário só
poderão ser penhorados desde que se verifique a falta de bens do devedor
principal (facto que será alegado pelo exequente no requerimento executivo) ou a
renúncia ao benefício da excussão prévia feita extrajudicialmente pelo do
executado (cfr. art.º 640.º al.ª a) do CC).´

Só assim se compreende a al.ª b) do n.º 3 do artigo em referência, quando


articulado com o n.º 4, que permite ao devedor subsidiário que não tenha
renunciado extrajudicialmente ao benefício da excussão prévia poder vir invocar
tal benefício no prazo da oposição, e com o n.º 6 que confere ao devedor
subsidiário a possibilidade de, a todo o tempo, indicar à penhora bens do devedor
principal e, por essa via, pedir o levantamento da penhora dos seus.
Admitida a oposição à penhora, o exequente, ao ser notificado para a ela se opor no
prazo de 10 dias (cfr. art.ºs 863.º-B, n.º 2 e 303.º), deverá ser advertido para, querendo e no
mesmo prazo, requerer o prosseguimento da execução, também, contra o devedor principal,
com a cominação de, não o fazendo, ser levantada a penhora dos bens do devedor
subsidiário.

 Início das diligências para penhora

No quadro da nova ação executiva, são distintos os momentos em que se iniciam as


diligências tendentes à penhora, sempre sem precedência de despacho judicial, à exceção
da penhora de saldos bancários.

Nas execuções em que não tenham lugar o despacho liminar nem a citação prévia
(casos do art.º 812.º-C; (cfr. art.º 832.º, n.º1, a)) e o agente de execução tenha sido
designado no próprio requerimento executivo, as diligências têm início no prazo máximo
de cinco dias, contados da distribuição do requerimento executivo, no caso de a sua

203
Manual de apoio ao ingresso - 2013
apresentação ter sido efetuada por transmissão eletrónica, ou da notificação efetuada pela
secretaria ao agente de execução, enviando-lhe cópia do requerimento executivo e dos
respetivos documentos, quando apresentados em papel.

No caso de o agente de execução ter sido designado pela secretaria nos termos do
art.º 811.º-A, n.º 1, as diligências têm início no prazo máximo de cinco dias, contados da
notificação ao agente de execução, por meios eletrónicos, da sua designação, no caso de a
apresentação do requerimento ter sido efetuada por transmissão eletrónica, ou da notificação
efetuada pela secretaria ao agente de execução, enviando-lhe cópia do requerimento
executivo e dos respetivos documentos, quando apresentados em papel.

A partir da data da distribuição do requerimento executivo ou das notificações acima


referidas, começa a correr o prazo de 10 dias para o agente de execução proceder às
diligências de penhora (cfr. art.º 808.º, n.º 12).

Se o agente de execução não aceitar a designação, tem lugar o procedimento constante


do art.º 5.º da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março, a que já se fez referência

Artigo 5.º

Não aceitação da designação pelo agente de execução

1 - Nos casos previstos no artigo anterior, o agente de execução tem cinco dias
após a notificação para declarar que não aceita a designação, nos termos do n.º 8
do artigo 467.º ou do n.º 12 do artigo 810.º do Código de Processo Civil.

2 - A não aceitação da designação pelo agente de execução é efetuada no sistema


informático de suporte à atividade dos agentes de execução.

3 - A não aceitação da designação é imediatamente notificada ao mandatário


judicial da parte que procedeu à designação, mediante aviso gerado pelo sistema
informático CITIUS, quando a petição inicial ou o requerimento executivo foram
apresentados nos termos do n.º 1 do artigo 150.º do Código de Processo Civil ou
da alínea a) do artigo 2.º da presente portaria, respetivamente.

4 - Nos casos em que não foram utilizadas as formas de apresentação da petição


inicial ou do requerimento executivo referidas no número anterior, a não
aceitação da designação é notificada pela secretaria à parte ou ao mandatário,
nos termos gerais do Código de Processo Civil.

204
Manual de apoio ao ingresso - 2013
5 - Se o exequente não designar agente de execução substituto no prazo de 5 dias,
a secretaria designa agente de execução substituto nos termos do artigo 811.º-A
do Código de Processo Civil.

Se, por outro lado, a designação ficar sem efeito, a secretaria apenas designa agente
de execução nos termos do art.º 811.º-A, nos seguintes casos:

- Substituição pelo exequente: se o agente de execução substituto indicado pelo


exequente declarar que não aceita a designação (cfr. art.º 7.º da Portaria n.º 331-B/2009, de
30 de Março);

Artigo 7.º

Substituição do agente de execução pelo exequente

1 - A substituição do agente de execução pelo exequente, prevista na primeira


parte do n.º 6 do artigo 808.º do Código de Processo Civil, é apresentada pelas
formas referidas nos artigos 2.º e 3.º da presente portaria.

2 - O agente de execução é notificado da substituição promovida pelo exequente


através do sistema informático de suporte à atividade dos agentes de execução.

3 - A substituição do agente de execução pelo exequente implica necessariamente


a designação de agente de execução substituto nos termos dos artigos 2.º e 3.º da
presente portaria.

4 - O agente de execução substituto é notificado da substituição através do


sistema informático de suporte à atividade dos agentes de execução.

5 - Se o agente de execução substituto declarar que não aceita a designação nos


termos do artigo 5.º, a secretaria designa imediatamente novo agente de
execução substituto nos termos do artigo 811.º-A do Código de Processo Civil.

6 - Os elementos previstos no n.º 2 do artigo 129.º do Estatuto da Câmara dos


Solicitadores são entregues ao agente de execução substituto pelo agente de

205
Manual de apoio ao ingresso - 2013
execução substituído no prazo de 10 dias após o pedido de entrega desses
elementos pelo agente de execução substituto.

- Substituição por outras razões: se o exequente não efetuar a designação do agente


de execução substituto ou este declarar que não a aceita (cfr. art.º 8.º da Portaria n.º 331-
B/2009, de 30de Março);

Artigo 8.º

Substituição do agente de execução por outras razões

1 - A Câmara dos Solicitadores notifica, em simultâneo, o tribunal, por via


eletrónica e automática, e o exequente, preferencialmente por via eletrónica,
sempre que tiver conhecimento da morte, da incapacidade definitiva ou da
cessação das funções do agente de execução.

2 - A Comissão para a Eficácia das Execuções notifica, em simultâneo, o tribunal,


por via eletrónica e automática, e o exequente, preferencialmente por via
eletrónica, sempre que aplicar pena de suspensão por período superior a 10 dias
ou de expulsão ao agente de execução.

3 - A designação, pelo exequente, do agente de execução substituto, prevista no


n.º 1 do artigo 129.º do Estatuto da Câmara dos Solicitadores é apresentada, nos
termos dos artigos 2.º e 3.º da presente portaria4 - Se a designação não for
efetuada no prazo de 20 dias a contar da receção da notificação pelo tribunal ou
o agente de execução substituto declarar que não aceita a designação nos termos
do artigo 5.º, a secretaria designa agente de execução substituto nos termos do
artigo 811.º-A do Código de Processo Civil.

5 - O agente de execução substituto é notificado da substituição através do


sistema informático de suporte à atividade dos agentes de execução.

6 - Os elementos previstos no n.º 2 do artigo 129.º do Estatuto da Câmara dos


Solicitadores são entregues ao agente de execução substituto pela Câmara dos
Solicitadores, nos casos previstos no n.º 1, e pela Comissão para a Eficácia das
Execuções, nos casos previstos no n.º 2.

206
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Destituição: se o exequente não efetuar a designação do agente de execução substituto
ou este declarar que não a aceita (cfr. art.º 9.º da Portaria n.º 331-B/2009, de 30de Março);

Artigo 9.º

Destituição

1 - O agente de execução pode ser destituído pelo órgão com competência


disciplinar sobre os agentes de execução, com fundamento em atuação processual
dolosa ou negligente ou em violação grave de dever que lhe seja imposto.

2 - A Comissão para a Eficácia das Execuções notifica, em simultâneo, o tribunal,


por via eletrónica e automática, e o exequente, preferencialmente por via
eletrónica, sempre que destituir o agente de execução, produzindo efeitos na
data de comunicação.

3 - Em caso de destituição, o exequente pode designar agente de execução


substituto, nos termos dos artigos 2.º e 3.º da presente portaria.

4 - Se a designação não for efetuada no prazo de 20 dias a contar da receção da


notificação pelo tribunal ou o agente de execução substituto declarar que não
aceita a designação nos termos do artigo 5.º, a secretaria designa agente de
execução substituto nos termos do artigo 811.º-A do Código de Processo Civil.

5 - O agente de execução substituto é notificado da substituição através do


sistema informático de suporte à atividade dos agentes de execução6 - Os
elementos previstos no n.º 2 do artigo 129.º do Estatuto da Câmara dos
Solicitadores são entregues ao agente de execução substituto pelo agente de
execução destituído no prazo de 10 dias após o pedido de entrega desses
elementos pelo agente de execução substituto ou, caso aquele não o faça, pela
Comissão para a Eficácia das Execuções.

Nas demais situações, como já anteriormente se referiu, as diligências iniciam-se no


prazo de cinco dias a partir da notificação efetuada pela secretaria ao agente de execução
após (cfr. art.º 832.º, n.º 1, c):

207
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 despacho que dispense a citação prévia do executado a requerimento do exequente
– cfr. art.º 812.º-F, n.º 3;
 despacho de admissão da oposição à execução que não suspenda a execução nos
termos do art.º 818.º;
 decisão que julgar improcedente a oposição à execução (suspensa);
 O despacho de indeferimento do pedido de suspensão da execução fundado na falta
de genuinidade do documento particular (art.º 818.º, n.º 1).

Consulta prévia – art.º 832.º, n.º 2

As execuções (cíveis e laborais) e as falências, tal como as insolvências, são objeto de


registo informático em ordem a permitir a disponibilização da informação nela contida a
magistrados judiciais e do Ministério Público, advogados, solicitadores, agentes de execução
(solicitadores de execução, advogados e oficiais de justiça), o “titular dos dados” (executado
ou falido) ou qualquer pessoa que com ele tenha relação contratual ou pré-contratual, ou
revele outro interesse atendível, nos termos previstos no artigo 807.º e regulados no Decreto-
Lei n.º 201 /2003 de 10 de Setembro, na redação que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.º
226/2008, de 20 de Novembro. O agente de execução tem, como já se referiu, acesso direto
ao registo informático de execuções, através do sistema informático de suporte à atividade
dos agentes de execução (cfr. art.º 9.º do Decreto-Lei 201/2003, de 10 de Setembro e art.º
45.º, n.º 2 da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março).113

Compete, ainda, ao agente de execução a inscrição e atualização dos dados do processo


no registo informático de execuções (cfr. art.ºs 3.º e 4.º do Decreto-Lei 201/2003. de 10 de
Setembro).

Cabe ainda referir que toda a informação contida nesta base de dados está
permanentemente atualizada – cfr. art.ºs 806.º, n.º 3 do CPC e art.º 4 n.º 2 do DL 201/2003 -,
sendo possível efetuarem-se retificações e atualizações a requerimento do titular do dados,
independentemente da fase em que se encontrem os processos.

113
Nos termos do n.º 2 do art.º 47.º da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março, as referências efetuadas ao
sistema de suporte à atividade dos agentes de execução, consideram-se feitas ao sistema informático CITIUS, no
que se refere às diligências de execução promovidas pelo oficial de justiça.

208
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Conforme consta dos art.ºs 806.º do CPC e 2.º do Decreto-Lei n.º 201/2003, o registo de
cada processo executivo contém os seguintes dados:
- Identificação do processo;
- Identificação do agente de execução:
O agente de execução é identificado pelo nome, domicílio profissional e números de
cédula e de identificação;
O oficial de justiça é identificado pelo nome e respetivo número mecanográfico;
- Identificação das partes nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 467.º114 e incluindo o
número de identificação de pessoa coletiva, a filiação e os números de bilhete de identidade
e de identificação fiscal;
- O pedido (indicando-se o fim e o montante, a coisa ou a prestação, consoante se trate
de execução para pagamento de quantia certa, para entrega de coisa certa ou para prestação
de facto);
- Bens indicados à penhora; - Bens penhorados (indicando-se a data e a hora da penhora e
mais tarde as datas da adjudicação ou da venda);
- Os créditos reclamados - valores e identificação dos titulares.

Todos estes dados são introduzidos diária e oficiosamente pelo agente de execução (art.º
806-n.º 3).
Há casos em que a atualização ou inserção dos dados não é oficiosamente efetuada pelo
agente de execução, por carecerem de despacho judicial. Referimo-nos, concretamente, aos
processos de falência (cfr. art.ºs 806.º, n.º 4-a) do CPC e 186.º, n.º 1 e 187.º, n.º 1 do
CPEREF, com as alterações produzidas pelo Decreto-Lei n.º 38/2003) e aos processos de
insolvência com a alteração do Decreto-Lei n.º 201/2003, de 10 de Setembro, através de
publicação do Decreto-Lei n.º 53/2004, de 18 de Março, que aprovou o Código da Insolvência
e da Recuperação de Empresas, bem como às execuções do foro laboral quando arquivadas
por falta de bens penhoráveis.

Os procedimentos do agente de execução após a consulta dependem do que constar


do certificado da consulta, que pode ser qualquer dos seguintes:115

114
Nomes, domicílios ou sedes e, na medida do possível, as profissões e locais de trabalho.
115
O art.º 21.º do Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro, revogou a al. a) do art.º 806.º do C.P.C. que
previa a menção no registo informático de execuções da extinção com pagamento integral; no entanto o Decreto-
Lei n.º 201/2003, de 10 de Setembro, que regula aquele preceito, manteve-se intocado, continuando a prever na
al. a) do art.º 2.º: “a) A extinção com pagamento integral”.

209
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 Não existe qualquer registo;
 Execução extinta sem integral pagamento – art.º 806.º, n.º 2-b);
 A extinção de execução por não terem sido encontrados bens penhoráveis nos termos
do n.º 3 do art.º 832.º e no n.º 6 do art.º 833.º-B – art.º 806.º, n.º 2-c);
 Execução de trabalho finda por falta de bens – art.º 806.º, n.º 4-b).
 Execução pendente;

Declaração de insolvência e a nomeação de um administrador da insolvência, bem como


o encerramento do processo – art.º 806.º, n.º 4-a); Inexistindo registo ou havendo registo de
execução finda com pagamento integral, o agente de execução inicia as diligências com
vista à efetivação da penhora.

Havendo execução extinta sem integral pagamento ou extinta por falta de bens, o
agente de execução prossegue imediatamente com as diligências prévias à penhora, a efetuar
nos termos do art.º 833.º-A, no sentido de identificar e localizar bens penhoráveis – art.º
832.º, n.º 3.

O agente de execução leva a cabo todas as diligências que considerar necessárias,


nomeadamente, consultas diretas, sem necessidade de prévia autorização judicial, às bases
de dados da administração tributária, da segurança social, das conservatórias do registo
predial, comercial e automóvel e de outros registos ou arquivos semelhantes, nos termos
previstos na Portaria n.º 331-A/2009, de 30 de Março (art.º 833.º-A, n.º 2).116

Feitas as consultas, o agente de execução comunica o resultado ao exequente, que


pode, no prazo de 5 dias, declarar que não pretende a penhora de determinados bens
imóveis ou móveis não sujeitos a registo, ou, em alternativa, desistir da execução conforme o
preceituado no n.º 2 do art.º 833.º-B.

No caso de não serem encontrados bens ou de não serem indicados quaisquer bens à
penhora pelo exequente, a execução extingue-se imediatamente (cfr. parte final do n.º 3 do
art.º 832.º) por decisão do agente de execução que será notificada nos termos art.º 919.º.
Decorridos dez dias após as notificações (cfr. art.ºs 153.º e 809.º, n.º 1-c)), iniciam-se
automaticamente os procedimentos de inclusão do executado na lista pública de execuções
(cfr. art.ºs 16.º-A, 16.º-B e 16.º-C do DL n.º 201/2003, de 10/09, e Portaria n.º 313/2009, de
30 de Março)

116
Estas diligências não têm lugar quando no requerimento executivo tenham sido identificados os bens referidos
nas alíneas a) a d) do n.º 1 do art.º 834.º, devendo o agente de execução penhorar os bens ali indicados.

210
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Artigo 832.º
Exequente pode
requerer a citação Requerimento executivo
prévia a penhora 812-
F, n.º 1
Consulta registo informático
Requerimento
Inscrição no
executivo com
registo Execução sem integral
informático pagamento início nos
832.º n.º 6 termos do art.º
812.º-C
Diligências prévias nas bases de dados

Não há bens
há bens
Notificação dos resultados ao exequente

Não indica bens em 10 dias


-Aguarda requerimento
do exequente - 833-B Inscrição no registo
informático 806.º n.º
n.º 2
2 al.ª c) Extinção da execução
-Penhora segundo as art.º 832 n.3

regras do art.º 834 n.º 1

Pendendo alguma execução para pagamento de quantia certa, o agente de execução


requer à secretaria a remessa da “sua” execução para apensação ou incorporação na
execução constante da base de dados - evitando-se, por esta via, não só a pulverização de
execuções autónomas sobre o mesmo executado, como também a multiplicação de penhoras
sobre os mesmos bens -, apenas e só no caso de se verificarem cumulativamente os
seguintes requisitos:
1. Que o exequente desta última execução seja titular dum direito real de
garantia (que não seja privilégio creditório geral117) sobre o bem penhorado na
primeira execução – art.º 832.º, n.º 4-a); e

117
Do Código Civil: artigo 735.º, (Espécies)

1. São de duas espécies os privilégios creditórios: mobiliários e imobiliários.

2. Os privilégios mobiliários são gerais, se abrangem o valor de todos os bens móveis existentes no património do
devedor à data da penhora ou de ato equivalente; são especiais, quando compreendem só o valor de determinados
bens móveis.
3. Os privilégios imobiliários são sempre especiais.

211
Manual de apoio ao ingresso - 2013
2. E que em tal execução ainda não tenha sido proferida sentença de graduação
de créditos – art.º 832.º, n.º 4-b).

Daqui ressalta que, na falta de um destes requisitos, o agente de execução não


providenciará pela remessa do processo, pelo que deve iniciar os atos preparatórios da
penhora de bens, incluindo, se necessário, os próprios bens penhorados anteriormente na
outra execução, caso em que, após a penhora, a execução há-de ser sustada pelo agente de
execução, mediante informação por este prestada ao processo à ordem do qual se realizou a
penhora anterior, no prazo de 10 dias após a realização da segunda penhora ou do
conhecimento da primeira, nos termos previstos no artigo 871.º.

Verificados ambos os requisitos atrás mencionados, se a primitiva execução já estiver na


fase do concurso de credores118, a segunda execução valerá como reclamação de créditos,
pelo que deverá ser incorporada no apenso da reclamação de créditos. Se ainda não existir o
apenso, abrir-se-á um com base nesta execução – art.ºs 832.º, n.º 5 e 865.º, n.º 8.

Encontrando-se aquela execução em fase anterior à do concurso de credores, a segunda


execução é remetida para ser apensada ou incorporada na primitiva (consoante o caso),
dando lugar a uma coligação119 de exequentes - art.ºs 832.º, n.º 5, 58.º, n.º 4, 275.º, n.ºs 1 e
2.

De notar que, tanto a apensação como a incorporação operam-se de acordo com o


estabelecido nos n.ºs 2 a 4 do artigo 53.º, aplicáveis à coligação por força do n.º 3 do artigo
58.º.

Se constar da base de dados que alguma execução anterior terminou prematuramente


sem o pagamento integral, o agente de execução enceta as diligências necessárias à
identificação e localização de bens penhoráveis, conforme já referido.

Frustradas as tentativas, o agente de execução pode requerer ao juiz autorização para


obter informações sujeitas a sigilo fiscal, bancário ou profissional (cfr. art.ºs 833.º-A, n.º 7,
519.º e 519.º-A CPC).

118
A fase do concurso de credores inicia-se com a primeira citação que se fizer nos termos do art.º 864.º.
119
“Esquematicamente, pode dizer-se que há litisconsórcio quando o pedido é o mesmo ou os pedidos são os
mesmos relativamente a todos os sujeitos; há coligação quando são deduzidos pedidos diferentes por vários
autores ou contra vários réus” – Eurico Lopes Cardoso in Manual da Ação Executiva, 3.ª edição, pag.s. 126 e 127.

212
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Da Lei Geral Tributária120
Artigo 64.º
Confidencialidade
1 - Os dirigentes, funcionários e agentes da administração tributária estão
obrigados a guardar sigilo sobre os dados recolhidos sobre a situação tributária
dos contribuintes e os elementos de natureza pessoal que obtenham no
procedimento, nomeadamente os decorrentes do sigilo profissional ou qualquer
outro dever de segredo legalmente regulado.

2 - O dever de sigilo cessa em caso de:

a) Autorização do contribuinte para a revelação da sua situação tributária;

b) Cooperação legal da administração tributária com outras entidades públicas,


na medida dos seus poderes;

c) Assistência mútua e cooperação da administração tributária com as


administrações tributárias de outros países resultante de convenções
internacionais a que o Estado Português esteja vinculado, sempre que estiver
prevista reciprocidade;

d) Colaboração com a justiça nos termos do Código de Processo Civil e Código de


Processo Penal3 - O dever de confidencialidade comunica-se a quem quer que,
ao abrigo do número anterior, obtenha elementos protegidos pelo segredo
fiscal, nos mesmos termos do sigilo da administração tributária.

4 - O dever de confidencialidade não prejudica o acesso do sujeito passivo aos


dados sobre a situação tributária de outros sujeitos passivos que sejam
comprovadamente necessários à fundamentação da reclamação, recurso ou
impugnação judicial, desde que expurgados de quaisquer elementos suscetíveis
de identificar a pessoa ou pessoas a que dizem respeito.

5 - Não contende com o dever de confidencialidade:

a) A divulgação de listas de contribuintes cuja situação tributária não se


encontre regularizada, designadamente listas hierarquizadas em função do
montante em dívida, desde que já tenha decorrido qualquer dos prazos
legalmente previstos para a prestação de garantia ou tenha sido decidida a sua
dispensa;

b) A publicação de rendimentos declarados ou apurados por categorias de


rendimentos, contribuintes, sectores de atividades ou outras, de acordo com

120
Aprovada pelo Decreto-Lei n.º 398/98, de 17 de Dezembro; revista e republicada com a Lei n.º 15/2001, de 5 de
Junho e alterada pela Lei n.º 16-A/2002, de 31 de Maio. O normativo contém as alterações introduzidas pela Lei
n.º 60-A/2005, de 30 de Dezembro.

213
Manual de apoio ao ingresso - 2013
listas que a administração tributária deve organizar anualmente a fim de
assegurar a transparência e publicidade.

6 - Considera-se como situação tributária regularizada, para efeitos do disposto


na alínea a) do número anterior, o pagamento integral de quaisquer tributos, a
inexistência de situações de mora ou a sua regularização em conformidade com
as disposições e planos previstos no Código de Procedimento e de Processo
Tributário e demais legislação em vigor.

Concedida autorização pelo juiz, o agente de execução notifica as entidades


competentes, com cópia do despacho de autorização, para fornecerem as informações
pretendidas e se as entidades se recusarem a fazê-lo invocando violação do sigilo profissional
ou de funcionários públicos, ou do segredo de Estado (cfr. art.º 519.º, n.º 3-c)), deverá o
agente de execução suscitar nova intervenção do juiz (art.ºs 519.º, n.º 4 CPC e 135.º do
Código de Processo Penal).

Não sendo encontrados bens penhoráveis, o agente de execução notifica o exequente


para, no prazo de 10 dias, indicar bens penhoráveis – art.º 833.º-B, n.º 3.

Se o exequente indicar bens, o agente de execução procede, no prazo de 10 dias, à


penhora dos bens indicados, sem prejuízo da ordem de preferência de realização da penhora
referida no n.º 1 do art.º 834.º, devendo o exequente ser informado de todas as diligências
efetuadas, assim como do motivo da frustração da penhora (cfr. art.º 837.º-n.º 1).

De notar que o agente de execução não está mais obrigado a enviar à secretaria do
tribunal o relatório a que se referia o art.º 837.º, na redação do Decreto-Lei n.º 38/2003Como
se disse anteriormente, o controlo da atividade do agente de execução não compete agora ao
juiz mas sim ao exequente, que pode, por via disso mesmo, proceder à sua substituição livre,
cabendo, no limite, a sua destituição à Comissão para a Eficácia das Execuções.

Como já foi referido anteriormente, o registo informático de execuções efetua-se após


a consulta prévia pelo agente de execução. Mas o que se pretende dizer com o n.º 6 do art.º
832.º, conjugado com o art.º 806.º, n.º 2-c), é que a extinção da instância executiva, está
sujeita a registo. Ou seja, antes do início das diligências para identificação e localização dos
bens, o agente de execução regista a execução e se, após isto, a instância executiva vier a
ser extinta, será este facto levado ao registo informático de execuções, registo este que deve

214
Manual de apoio ao ingresso - 2013
ser mantido atualizado diariamente (cfr. art.º 4.º do Decreto-Lei n.º 201/2003, de 10 de
Setembro).

 Inscrição no “registo informático de execuções” – momento

A inscrição no registo informático de execuções efetua-se ativando a opção no


Habilus “disponível para consulta” e este ato deve acontecer logo após a consulta
obrigatória efetuada pelo agente de execução, nos termos do n.º 2 do art.º 832.º, sem
que haja lugar à extinção da execução ou à sua remessa nos termos dos n.ºs 4 a 6 do art.º
832.º.

Não havendo razões para a remessa do processo nos termos previstos nos n.ºs 4 e 5 do
art.º 832.º, nem para a extinção da instância nos termos dos n.ºs 3 e 6 do mesmo artigo, o
agente de execução inicia as diligências da penhora dos bens nos termos dos art.ºs 833.º-
A e 833.º-B, tendo em atenção os critérios estabelecidos no art.º 834.ºCom ressalva das
duas exceções catalogadas no artigo 835.º, que obrigam a que se comece pela penhora
dos bens ali mencionados, o agente de execução deve, independentemente da ordem pela
qual o exequente indicou os bens à penhora no requerimento executivo, efetuar a
penhora daqueles bens, preferencialmente, pela ordem constante n.º 1 do art.º 834.º, ou
seja:

a) Depósitos bancários;

b) Rendas, abonos, vencimentos, salários ou outros créditos se permitirem,


presumivelmente, a satisfação integral do credor no prazo de seis meses;

c) Títulos e valores mobiliários;

d) Bens móveis sujeitos a registo se, presumivelmente, o seu valor for uma vez e
meia superior ao custo da sua venda judicial;

e) Quaisquer bens cujo valor pecuniário seja de fácil realização ou se mostre


adequado ao montante do crédito do exequente.

215
Manual de apoio ao ingresso - 2013
A realização da penhora deve sempre respeitar os limites definidos pelo n.º 3 do art.º
821.º em articulação com os critérios de adequação e proporcionalidade previstos nos n.ºs 1 e
2 do art.º 834.º, tendo em atenção as restrições (relativas ou absolutas) à penhorabilidade
dos bens constantes dos artigos 822.º e seguintes, aos quais fizemos referência em momento
anterior.

Se não forem encontrados bens, o agente de execução informa o exequente e


simultaneamente notifica-o para, no prazo de 10 dias, indicar os bens penhoráveis que
conhecer (cfr. art.ºs 833.º-B, n.º 3 e 837.º, n.º 1).

 O silêncio do exequente implica a citação do executado121 (ou notificação no


caso de ele já ter sido previamente citado – art.º 833.º-B, n.º 4 e 5) para deduzir
oposição à execução no prazo de 10 dias (cfr. parte final n.º 4), a menos que já
tenha sido citado previamente, caso em que não será notificado para exercer
este direito processual;
 E independentemente da oposição que venha a deduzir, pagar ou indicar bens
à penhora no prazo de 10 dias;
 Com a expressa advertência de que fica sujeito a uma sanção pecuniária
compulsória122 de montante correspondente a 5% da dívida por cada mês
passado, com o limite mínimo global de mil euros, até à descoberta de bens, a
partir da data em que ele omitir a indicação de bens ou fizer qualquer
declaração cuja falsidade se venha a comprovar em razão do posterior
conhecimento de bens naquela data (cfr. art.ºs 833.º-B, n.ºs 4 e 7 do CPC).

A falta de pagamento ou de indicação de bens pelo executado importa a extinção da


instância de forma semelhante à prevista no n.º 3 do art.º 832.º, extinção esta que é
declarada pelo agente de execução e notificada nos termos do art.º 919.º, seguindo-se,
decorridos que sejam dez dias após as notificações, os procedimentos de inclusão do
executado na lista pública de execuções (art.ºs 16.º-A, 16.º-B e 16.º-C do DL n.º 201/2003,
de 10/09, e Portaria n.º 313/2009, de 30 de Março).

121
À parte a citação prévia, o momento da realização constitui uma exceção ao regime regra estabelecido no n.º 1
do art.º 864.º, segundo o qual o executado é citado no momento da penhora ou, quando não esteja presente, num
dos cinco dias seguintes.
122
O valor desta sanção é repartida equitativamente pelo exequente e pelo Estado (cfr. art.º 829.º-A, n.º 3 do
Cód. Civil).

216
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Art.ºs 833.º-A e B

Exequente pode requerer Requerimento executivo


a citação prévia à art.º 812.º-C
penhora – art.º 812.º-F/1

Início das diligências


para penhora (5 dias)

Consulta do registo
Não necessárias se o
informático de
exequente indicou bens
execuções
referidos no art.º 834 n.º1,
efectuando-se de imediato a
Incrição no registo
penhora
informático – art.º 832.º, Nada consta
n.º 6.

Consultas
às bases de dados

Há bens Não há bens

- Aguarda requerimento Notificação dos resultados Não indica bens em 10


do exequente art.º 833.º- ao exequente dias
B, n.º 2;
- Penhora segundo as
regras do art.º 834 n.º 1.
Citação ou notificação do
executado - art.º 833.º-B,
n.º 4

Extinção da execução Não indica bens em 10


(art.º 833.º, n.º 6) dias

Actos finais
(custas / notificações / arquivo)

Exemplificando:
Execução Comum com agente de execução (não oficial de justiça)

Se, ao verificar o certificado da consulta prévia, o agente de execução constatar que o


processo deve ser remetido para outra execução pré-existente nos termos previstos no n.º 4
do art.º 832.º, cabe-lhe, antes de mais, notificar o facto ao exequente e informá-lo que tem o
prazo de dez dias requerer o que tiver por conveniente, não sendo despicienda a hipótese de

217
Manual de apoio ao ingresso - 2013
ele se manifestar pela desistência da remessa do processo, por não querer fazer valer o seu
direito real de garantia sobre o bem já penhorado na outra execução. Se isto acontecer, a
execução não é remetida, prosseguindo autonomamente.

Se o processo seguir autonomamente, o agente de execução disponibiliza-o para


consulta no Habilus.

Mantendo-se a remessa, ela não se opera oficiosamente por carecer de despacho


judicial, nomeadamente se se tratar de execução que preveja o despacho liminar – cfr. art.ºs
23 da Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro, e 275.º do Código de Processo Civil.

a) Remessa para apensação

O processo só é remetido para a execução pré-existente mediante a verificação


cumulativa das seguintes condições:

- constar do certificado da consulta prévia ter sido ali penhorado um bem sobre o qual o
aqui exequente detenha um direito real de garantia que não seja privilégio creditório geral e

- no processo de destino não tenha sido ainda proferida sentença graduatória dos
créditos reclamados.

Nestas circunstâncias, a remessa da nova execução dá origem (naquela pré-existente)


ao estabelecimento duma coligação de exequentes nos termos dos art.ºs 58.º, n.º 4 e 832.º,
n.º 5.

Exemplo:

Proc.º 1 Lisboa  Proc.º 2 Porto

Exequente Executado Exequente Executado

Hipóteses:

a) Penhorados bens móveis

b) Penhorado bem imóvel

Na hipótese a) o processo não pode ser remetido pois o exequente do Proc.º 1 não
detém um direito real de garantia sobre o bem penhorado no Proc.º 2 a correr termos no
Tribunal do Porto, o que já pode não acontecer na hipótese b) se o exequente for detentor de
um direito real de garantia sobre o imóvel penhorado no Porto.

218
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Ainda neste exemplo e na hipótese b), quando o Proc.º 1 é recebido no Porto para
apensação ao Proc.º 2:

O exequente de Lisboa pode coligar-se com o do Porto ou pode assumir, no Proc.º 2 a


posição de credor reclamante.

A situação será diferente consoante o processo de Lisboa seja recebido no Porto na fase
do concurso de credores, valendo o requerimento executivo como reclamação, assumindo o
exequente a posição de reclamante, caso contrário, constitui-se coligação de exequentes.

b) Processo autónomo

Uma vez que o processo segue os trâmites na secção a que foi distribuído, o agente de
execução deve proceder à penhora no prazo de 10 dias, findos os quais, não tendo sido
penhorados bens, informa o exequente nos termos do art.º 837.º.

Execuções por Custas, Multa e Coima < > Oficial de Justiça


Como já referimos anteriormente, estas execuções, em regra, integram-se na al.ª d) do
n.º 1 do art.º 812.º-C, o que significa que não têm despacho liminar, salvo se:
a)- O valor exceder a alçada da Relação (atualmente, € 30.000,00) ou
b)- O exequente indicar à penhora estabelecimento comercial, ou direito real menor
que sobre ele incida.

Independentemente da indicação de bens, o oficial de justiça, no exercício das funções


de agente de execução, previamente à realização da penhora, deve consultar o registo de
execuções e inexistindo motivos para a remessa do processo nos termos do n.º 4 do art.º
832.º, conforme já foi referido, coloca, no Habilus, o processo disponível para consulta e
inicia as diligências para identificação, localização e penhora dos bens, respeitando os
princípios da proporcionalidade (art.º 821.º) e da adequação (art.º 834.º).

O prazo para a realização da penhora é de 10 dias, na falta de disposição especial


(art.º 808.º, n.º 12), findo o qual, caso não a tenha realizado, o oficial de justiça abre vista
ao Ministério Público a informá-lo sobre as razões impedientes da efetivação da penhora
(cfr. art.º 837.º, n.º 1).

O oficial de justiça deve documentar os autos de todas as diligências efetuadas com


vista à identificação, localização e penhora ou frustração.

219
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Uma vez esgotadas todas as diligências de pesquisa sem que se encontrem quaisquer
bens suscetíveis de serem penhorados ao executado, o oficial de justiça notifica o Ministério
Público para no prazo de 10 dias indicar bens.123

Sendo indicados bens, o oficial de justiça diligencia no sentido de penhorá-los. Caso o


Ministério Público não indique outros bens, o oficial de justiça cita o executado para, no
prazo de 10 dias, pagar ou indicar bens à penhora, podendo, no mesmo prazo, deduzir
oposição à execução (cfr. n.º 4 do art.º 833.º-B), com expressa advertência para a cominação
do n.º 7 do mesmo artigo.

No caso de o executado ter sido citado previamente, em vez de ser citado, será agora
notificado

Esta citação mais não é do que a antecipação da citação genericamente prevista no


art.º 864.º.

Se o executado não pagar e não indicar bens, nem deduzir oposição, o processo volta
com “vista” ao Ministério Público para que requeira o arquivamento condicional dos autos
nos termos do n.º 5 do art.º 35.º do Regulamento das Custas Processuais.

O arquivamento condicional é declarado pelo agente de execução (por termo nos


autos)124 e notificado ao Ministério Público, e também ao executado se este já tiver sido
citado para a execução.

O crédito de custas prescreve no prazo de cinco anos contados a partir da data do


arquivamento (cfr. art.º 37.º do Regulamento das Custas Processuais).

O arquivamento condicional é levado ao registo informático de execuções (cfr. art.º


806.º, n.º 2, al.ª c).

Encontrados bens e uma vez penhorados, há que notificar o Ministério Público.

Quando os bens forem insuficientes, o Ministério Público, no prazo de 10 dias a contar


daquela notificação, pode requerer ao juiz a dispensa da convocação de credores nos termos
do n.º 5 do art.º 35.º do Regulamento das Custas Processuais. Se isto acontecer, o processo
avança para a fase de pagamentos (a venda é uma das modalidades de pagamentos) de que

123
A economia processual sugere a adoção do termo de “vista” para esta notificação. Desta forma, concede-se ao
Ministério Público a possibilidade de requerer diretamente nos próprios autos o que se lhe oferecer, poupando-se a
elaboração, apresentação, registo de entrada e subsequente entrega na secção de mais um “papel” para juntar ao
processo.
124
A partir desta data contam-se os cinco anos da prescrição da dívida de custas, podendo a execução ser
movimentada a todo o momento, logo que sejam conhecidos bens ao executado, o que, doravante, poderá ocorrer
com mais frequência do que no passado em face do registo informático de execuções.

220
Manual de apoio ao ingresso - 2013
falaremos mais adiante Se o Ministério Público nada requerer, seguem-se as citações previstas
no art.º 864.º do CPC, incluindo a do executado, na eventualidade de ele não ter sido citado
no ato da penhora (cfr. n.º 2).

EXECUÇÃO POR CUSTAS / MULTAS /OUTRAS QUANTIAS CONTADAS


(inexistência ou insuficiência de bens)

CONSULTAS PRÉVIAS
(art.º 833.º-B, n.º 1)

Atenção
POSSIBILIDADE DE
REFORÇO
Notificação ao exequente (834.º-3)
(MP) dos resultados

SIM NÃO
Há bens?

Aguarda 5 dias requerimento do MP - Aguarda 10 dias requerimento do MP


art.º 833.º-B, n.º 2. - art.º 833.º-B, n.º 3.

2 hipóteses Exequente indica bens à penhora?


SIM NÃO
a) Sendo apresentado requerimento, o
agente de execução penhora os bens
conforme requerido;

b) Não sendo apresentado requeri- Penhora dos bens indicados Citação do executado (ou
mento, o agente de execução penhora notificação se já tiver
os bens encontrados com as regras de citado - art.º 833.º-B. n.ºs
preferência do art.º 834.º, n.º 1. SIM 4 e 5)

Bens são suficientes?


SIM
NÃO
Executado indica bens
(p. 10 dias)?

A requerimento do M.º
Execução prossegue P.º, o juiz dispensa o
os trâmites normais concurso dos credores
até integral e ordena a imediata
pagamento. liquidação dos bens Há mais
bens
penhorados
(art.º 35.º, n.º 5 RCP). NÃO

O produto da liquidação
é suficiente para
NÃO
pagamento dos valores O agente de execução
em dívida? ARQUIVA
(condicionalmente) a
Não há execução e notifica o MP,
mais bens sem prejuízo de
EXTINÇÃO prosseguimento nos
da execução (art.º SIM termos do art.º 35.º, n.º 6
919.º CPC) RCP.

221
Manual de apoio ao ingresso - 2013
A penhora

Como já vimos, a indicação de bens é feita no requerimento executivo.

Todavia, esta indicação não tem carácter vinculativo para o agente de execução – salvos
os casos taxativamente enunciados nos art.ºs 834.º-n.º1 e 835.º, casos em que não há lugar às
diligências prévias à penhora (art.º 833.º-A) -, cabendo-lhe promover as diligências
necessárias à identificação e localização dos bens de acordo com princípio da adequação
formulado no n.º 2 do art.º 834.º

Ou seja, independentemente da ordem da indicação dos bens feita pelo exequente no


requerimento executivo e à parte os casos de falta de bens abordados anteriormente (art.ºs
832.º, n.º 3 e 833.º-B, n.ºs 4 a 7), cabe ao agente de execução penhorar os bens do
executado segundo a ordem preferencial constante do art.º 834.º, n.º 1, considerando,
como já referido, os limites do n.º 3 do art.º 821.º e do art.º 824.º, sendo caso disso, e
considerando especialmente a facilidade de realização do crédito exequendo.

Norma excecional é o n.º 2 do art.º 834.º, que admite a penhora, por excesso, de
imóvel ou de estabelecimento comercial, quando no universo patrimonial do executado não
existam bens cuja penhora se preveja não garantir a satisfação integral do devido no prazo de
6 meses.

Se a dívida ascender a € 25.000,00 e o executado apenas possuir um prédio urbano (casa


de habitação) de valor estimado em € 50.000,00 e um automóvel de valor estimado em €
13.000,00, a citada norma permite a penhora do imóvel, embora de valor excessivo
relativamente ao devido, deixando livre o automóvel, por não ser crível que a sua venda
satisfaça o crédito exequendo.

De entre os bens passíveis de penhora, o agente de execução escolherá e dará


preferência àqueles enumerados no art.º 834.º, n.º 1 Estando em causa a cobrança de dívida
com garantia real que onere certos bens do executado, cabe ao agente de execução
penhorar tais bens e só se estes se revelarem insuficientes é que poderá haver lugar ao
reforço da penhora sobre outros bens – cfr. art.ºs 835.º, n.º 1.

Outrossim, a penhora de quinhão de património autónomo (ex: herança) ou de direito


sobre bem indiviso (ex: imóvel em compropriedade) precede a de outros bens se os restantes
quinhões ou direitos já se encontrarem penhorados na mesma ou em diferentes execuções,
determinando a venda conjunta e única no processo em que se tiver realizado a primeira
penhora – cfr. art.ºs 835.º, n.º 2 e 826.º.

222
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Sendo penhorados bens que estejam na posse de terceiro (cfr. art.º 831.º), o agente de
execução averigua, no ato da penhora, se tal facto advém de direito de retenção ou de
penhor e, na afirmativa, consigna-o no auto de penhora onde identifica o terceiro125, tendo
em vista a sua citação aquando da convocação dos credores (registados ou conhecidos), nos
termos do art.º 864.º, n.ºs 1 e 9.

Esta citação deve ser imediatamente efetuada, só o sendo posteriormente no caso de


impossibilidade (cfr. art.º 831, n.ºs 2 e 3).

Reforço ou substituição

Efetuada a penhora, é possível reforçá-la através da penhora de mais bens - o que pode
acontecer a requerimento do exequente - ou substituí-la pela penhora de outros bens, nuns
casos a pedido do exequente, noutros a requerimento do executado.

Senão, atentemos nos n.ºs 3 e 6 do art.º 834.º:

3 – A penhora pode ser reforçada ou substituída nos seguintes casos:


a) Quando o executado requeira ao agente de execução, no prazo da oposição à penhora,
a substituição dos bens penhorados por outros que igualmente assegurem os fins da execução,
desde que a isso não se oponha exequente; (cfr. art.º 863.º-B)
b) Quando seja ou se torne manifesta a insuficiência dos bens penhorados;
c) Quando os bens penhorados não sejam livres e desembaraçados e o executado tenha
outros que o sejam;
d) Quando sejam recebidos embargos de terceiro contra a penhora, ou seja a execução
sobre os bens suspensa por oposição a esta deduzida pelo executado;(cfr. art.º 356.º)
e) Quando o exequente desista da penhora, por sobre os bens penhorados incidir penhora
anterior;
f) Quando o devedor subsidiário, não previamente citado, invoque o benefício da excussão
prévia.(cfr. art.º 828.º)

125
Estas referências são feitas em “18 - Observações” do auto de penhora de modelo aprovado pela
Portaria n.º 700/2003, de 31 de Julho.

223
Manual de apoio ao ingresso - 2013
6 – O executado que se oponha à execução pode, no ato da oposição, requerer a
substituição da penhora por caução idónea que igualmente garanta os fins da execução. (cfr.
art.º 813.º).

Estatui ainda o n.º 5 que, em caso de substituição, e sem prejuízo do levantamento da


penhora a requerimento do devedor subsidiário nos termos previstos no n.º 4 do artigo 828.º,
só depois de penhorados novos bens é que se procede ao levantamento da penhora dos bens
substituídos.

o O auto de penhora

Da penhora é lavrado auto126 de modelo aprovado pela Portaria n.º 700/2003, de 31 de Julho,
sob o comando do art.º 836.º CPC, no qual deverão constar, além dos elementos
identificadores das partes, do processo, da quantia exequenda, e dos prédios penhorados (os
quais deverão ser identificados tal como se encontram registados e considerando o disposto
no n.º 5-a) do art.º 810.º), a data e a hora da realização, que se revestem de particular
importância para a determinação do processo principal quando se sucedam penhoras sobre os
mesmos bens em processos diferentes (cfr. art.º 871.º) ou para a determinação do processo
em que há-de ser realizada a venda única no caso previsto no art.º 826.º, n.º 2.

Sendo vários os bens, descrever-se-ão por meio de verbas numeradas sequencialmente.

O auto de penhora é lavrado pelo agente de execução designado na execução – cfr.


art.º 838.º, n.º 3 -, salvo nos casos previstos no n.º 8 do art.º 808.º, em que o auto é lavrado,
não pelo agente de execução designado, mas, pelo agente de execução ou oficial de justiça
(nas vestes de agente de execução) que realizarem o ato a solicitação do agente.

o Penhora de imóveis

126
O modelo aprovado serve para a penhora de imóveis (art.º 838.º, n.º 3), móveis (849.º e 851.º, n.º 1) e estabelecimentos
comerciais (art.º 862.º-A, n.º 1).

224
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Antes de mais, importa sublinhar que as regras estabelecidas para a penhora de imóveis
aplicam-se subsidiariamente à penhora de bens móveis e de direitos (cfr. art.ºs 855.º e 863.º).

A penhora de coisas imóveis127 efetua-se por comunicação eletrónica128 enviada pelo


agente de execução e dirigida à conservatória do registo predial competente129, valendo a
comunicação como apresentação para o efeito da inscrição no registo, ou mediante
apresentação naquele serviço de declaração por ele subscrita – cfr. art.º 838.º, n.º 1 – e só
depois de receber da conservatória a respetiva certidão130 dos direitos e encargos sobre o
prédio penhorado ou sua disponibilização por via eletrónica (cfr. art.ºs 838.º do CPC; 110.º do
Código do Registo Predial) é que o agente de execução lavra o respetivo auto de penhora e
procede à afixação do edital de modelo aprovado pela Portaria n.º 700/2003, de 31 de Julho,
na porta ou noutro local visível do imóvel (cfr. n.º3 do art.º 838.º).

A certidão não é emitida oficiosamente pela Conservatória. Carece de ser requisitada


pelo agente de execução ou pelo exequente de acordo com o n.º 1 do art.º 111.º do CRP,
podendo ser efetuado pessoalmente, por via eletrónica, pelo correio, por telecópia ou por via
imediata (cfr. art.ºs 111.º, n.º 3 e 41.º-B do Código do Registo Predial). 131

Não sendo por comunicação eletrónica, o registo da penhora efetua-se a pedido do


agente de execução em impresso de modelo aprovado, nos termos previstos nos art.ºs 41.º a
41.º-E do Código do Registo Predial, pessoalmente, por via eletrónica, pelo correio, por
telecópia ou por via imediata

O registo da penhora é considerado ato urgente (cfr. art.ºs 838.º, n.º 5 do CPC e 75.º,
n.º 3 do CRP) devendo ser pagos, em simultâneo com o pedido ou antes deste, os

127
Art.º 204.º do Cód. Civil: 1 - São coisas imóveis os prédios rústicos e urbanos; as águas; as árvores, os arbustos
e os frutos naturais, enquanto estiverem ligados a solo; os direitos inerentes aos imóveis mencionados nas alíneas
anteriores; as partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos. 2 - Entende-se por prédio rústico é uma parte
delimitada do solo e as construções nele existentes que não tenham autonomia económica e por prédio urbano
qualquer edifício incorporado no solo, com os terrenos que lhe sirvam de logradouro. 3 - É parte integrante toda a
coisa móvel ligada materialmente ao prédio com carácter de permanência.
128
A comunicação eletrónica das penhoras (“Registos On Line”) encontra-se hoje disponível para os agentes de
execução (solicitadores de execução e advogados) através dos endereços www.predialonline.mj.pt (para imóveis)
e www.automovelonline.mj.pt (para automóveis). Para tanto é necessário que o utilizador tenha um certificado
digital, possibilidade ainda não comtemplada para os oficiais de justiça. Assim, nada mais nos resta do que
proceder ao envio da declaração nos termos gerais.
129
Art.º 48.º, n.º 1 do Cód. Reg. Predial (com a redação dada pelo Dec. Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho):”Sem
prejuízo do disposto quanto às execuções fiscais, o registo da penhora é efetuado com base em comunicação
eletrónica do agente de execução ou em declaração por ele subscrita.”
130
Os “certificados” desapareceram com o Decreto-Lei n.º 49063, de 12 de Junho de 1969.
131
O pedido de registo é efetuado pelos meios previstos no art.º 41.º-B do C.R.Predial.

225
Manual de apoio ao ingresso - 2013
emolumentos ou taxas devidas. Os tribunais, no que respeita à comunicação das ações,
decisões e outros procedimentos e providências judiciais sujeitas a registo, em que se
englobam os atos de registo no âmbito da ação executiva e enquanto no exercício das funções
de agente de execução, estão dispensados do pagamento dos emolumentos e taxas,
devendo tais quantias entrar em regra de custas (cfr. art.º 151.º, n.ºs 1 e 4 do Código do
Registo Predial).

O valor do auto de penhora é agora meramente formal, já que o momento da sua


elaboração ocorre depois de efetuada a penhora, ato este que se limita à inscrição no registo,
quer a título provisório ou definitivo (cfr. art.ºs 70.º, 92.º e 101.º do CRP).

Assim, após a receção da certidão da conservatória é elaborado o auto de penhora,


devendo o agente de execução proceder, posteriormente, à afixação de um edital na porta ou
noutro local visível do imóvel penhorado, adotando o modelo aprovado pela Portaria n.º
700/2003, de 31 de Julho.

Se da certidão resultar que o registo da penhora foi efetuado provisoriamente por


natureza, dado se encontrar inscrito como titular pessoa diversa do executado, o agente de
execução, sem necessidade de despacho judicial, procede à citação do titular inscrito para,
no prazo de 10 dias, declarar se o prédio ou direito lhe pertence.

Enquanto o registo provisório não passar a definitivo, a execução prossegue os


trâmites normais, salvo decisão contrária do juiz sobre questão submetida à sua apreciação
pelas partes ou pelo agente de execução, mas, em qualquer circunstância, fica impedida a
adjudicação dos bens (cfr. art.º 875.º e segs.), a consignação judicial dos respetivos
rendimentos (cfr. art.º 879.º e segs.) ou a venda (cfr. art.ºs 886.º e segs.).

 Depositário
Em regra, o cargo de depositário é atribuído ao agente de execução ou quando este
seja oficial de justiça, o depósito é confiado a pessoa por ele designada – cfr. art.º 839.º, n.º
1.

Casos especiais de depositário:

226
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 O próprio executado, mediante o consentimento do exequente ou quando o imóvel
penhorado seja a sua casa de habitação – al.ª a);
 O arrendatário em caso de imóvel arrendado. Sendo vários os arrendatários, o
agente de execução escolherá um a quem caberá, também, cobrar as rendas e
depositá-las numa instituição de crédito à ordem do agente de execução ou da
secretaria de execução nas execuções em que o agente de execução seja oficial de
justiça – al.ª b) e n.º 2;
 O retentor relativamente a bem penhorado que seja objeto de direito de retenção
derivado de incumprimento contratual judicialmente verificado – al.ª c).
 Se o agente de execução for oficial de justiça, este designa depositário uma pessoa
idónea.

Posse dos bens

O depositário deve tomar posse efetiva dos bens penhorados, cuja entrega deverá
constar do auto de penhora, a menos que o cargo incumba ao próprio executado, caso em que
apenas se fará menção do facto no auto.

Quando for oferecida alguma resistência, o agente de execução pode (e deve)


solicitar diretamente o auxílio das autoridades policiais - art.º 840.º, n.º 2.

Pelos serviços prestados terão as referidas autoridades direito a uma remuneração, a


fixar nos termos de uma portaria conjunta dos membros do Governo responsáveis pelas áreas
da administração interna e da justiça, ainda não publicada, e que constitui encargo para
efeito de custas processuais (art.º 840.º, n.ºs 5 e 6). Se o imóvel estiver com as portas
encerradas ou quando se preveja que venha a ser oferecida alguma resistência, deve o
agente de execução solicitar ao juiz que determine a requisição do auxílio de força
pública, arrombando-se as portas, se necessário, e lavrando-se auto de ocorrência – art.º
840.º, n.º 3 -, diligências estas que só poderão realizar-se entre as 7 e as 21 horas no caso de
se tratar de casa habitada ou duma dependência desta.

Direitos e deveres do depositário

Estabelece o art.º 843.º que ao depositário incumbem, além dos deveres gerais de zelo
definidos nos art.ºs 1187.º e seguintes do Código Civil, o dever de administrar os bens e a

227
Manual de apoio ao ingresso - 2013
obrigação de prestar contas (cfr. art.º 1023.º), podendo o agente de execução socorrer-se de
colaboradores para o auxiliarem no desempenho do cargo, sob a sua responsabilidade (cfr.
art.º 1198.º do Cód. Civil).

A exploração dos bens penhorados é feita nos termos acordados entre exequente e
executado, e na falta de acordo compete ao juiz decidir, depois de ouvidos o depositário e
feitas outras diligências consideradas necessárias.

Incidente de remoção

O depositário que deixar de cumprir escrupulosamente os seus deveres pode ser


removido pelo juiz, por iniciativa do agente de execução, a requerimento do exequente, do
executado, do cônjuge deste (cfr. art.º 864.º-A), de qualquer credor reclamante ou até de
terceiro que tiver deduzido embargos de terceiro – cfr. art.º 845.º.

Esta remoção não se aplica ao depositário agente de execução/solicitador de execução


ou advogado, sem prejuízo do disposto no n.º 6 do art.º 808.º.

Apresentado e junto o requerimento ao processo executivo, o depositário é


oficiosamente notificado pela secretaria para responder no prazo de 10 dias, após o que será
o processo concluso ao juiz para prosseguimento dos trâmites normais dos incidentes de
instância previstos nos art.ºs 302.º a 304.º.

A solicitação de diligências no âmbito da penhora:


Compete ao agente de execução realizar todas as diligências do processo de execução,
tais como a penhora e os pagamentos, conforme dispõe o art.º 808.º - n.º 1 do C.P.C.

Apenas as diligências que impliquem a deslocação para fora da área da comarca da


execução legitimam uma solicitação do oficial de justiça, na qualidade de agente de
execução, dirigida à secretaria judicial da área da diligência a realizar – cfr. n.ºs 8 e 9 do
mesmo preceito legal.

Como é sabido, a penhora realiza-se mediante inscrição na Conservatória do Registo


Predial competente, nos termos gerais, ou seja, mediante o preenchimento e subsequente
entrega ou envio pelo correio, de impresso de modelo aprovado, que consubstancia a
apresentação para efeito da inscrição no registo (art.º 838.º- n.º 1 do C.P.C. e 41.º a 41.º-E,
42.º, 60.º e 91.º, todos do C. Reg. Predial).

228
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Assim sendo, fica inviabilizada qualquer solicitação do agente de execução para
efeitos de inscrição da penhora no registo.

Quanto à elaboração do auto de penhora, tendo em atenção que o mesmo se destina,


por um lado, a tornar conhecida de forma inequívoca a situação jurídica do imóvel penhorado
na data da respetiva inscrição no registo, e por outro lado a acompanhar a
citação/notificação do executado, bem como as demais citações constantes do art.º 864.º do
C. P. Civil, também não se torna necessária qualquer solicitação para o efeito A questão do
depositário deve também ser abordada na mesma perspetiva, tudo sob a égide do princípio
da economia processual, pelo que o mesmo pode muito bem ser notificado da sua
constituição, de acordo com o comando do art.º 839.º do C. P. Civil, com cópia do auto de
penhora, entretanto já elaborado, dando-lhe conhecimento dos deveres que sobre si
impendem a dos direitos que lhe assistem, enquanto se mantiver em funções, sem prejuízo de
poder requerer a escusa do cargo (cfr. 1187.º e segs. do C. Civil, e 843.º, 845.º e 854.º do C.
P. Civil).

Convém aqui relembrar que, no direito anterior à reforma de 2003, a penhora de imóvel
era realizada por termo nos autos que o depositário tinha obrigatoriamente que assinar (art.º
838.º -n.º 3 na redação anterior ao D.L. n.º 38/2003, de 8/3).

Essa obrigatoriedade não existe hoje em dia uma vez que, como já se referiu, a penhora
se realiza com a sua inscrição no registo.

Abordando agora a situação da entrega efetiva, parece-nos também que tal não
constitui qualquer reserva à possibilidade de o depositário poder ser constituído através de
notificação nos autos, já que, mesmo no direito anterior, ao assinar o termo, na secretaria, o
depositário não tomava posse efetiva de coisa nenhuma. Para tanto, e se tal se justificar,
pode o mesmo solicitar diretamente o auxílio da força pública, no caso de ser oposta alguma
resistência, ou solicitando a sua determinação ao juiz, no caso de necessidade de
arrombamento de portas, nos termos do disposto no art.º 840.º, n.ºs 2 e 3).

 Conversão do arresto em penhora

Se os bens a penhorar tiverem sido anteriormente arrestados, a penhora consiste na


conversão do arresto por despacho do agente de execução, com efeitos reportados à data do
arresto (cfr. art.ºs 822.º, n.º 2 do CC e 846.º do CPC). Tratando-se de bens sujeitos a registo,
o agente de execução promove oficiosamente o registo da penhora junto da conservatória
competente e averba a conversão no auto do arresto.

229
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Note-se que o averbamento, no auto do arresto, deve ser sempre efetuado, ainda que
se trate de bens não sujeitos a registo.

Levantamento da penhora

Além dos casos previstos nos art.ºs 834.º n.ºs 2 e 5, tal como quando proceda a oposição
à execução (cfr. art.º 863.º-B, n.º 4), a penhora pode ser levantada, pelo agente de
execução, a requerimento do executado com fundamento em ato ou omissão que não seja da
sua responsabilidade causadora da paragem da execução durante seis meses.

A penhora é levantada logo que decorra o prazo para a reclamação da decisão do


agente de execução (10 dias – art.º 153.º) ou após o trânsito em julgado da decisão judicial
que a determinou.

Qualquer credor reclamante, a partir do termo do primeiro trimestre decorrido após o


início da imobilidade do exequente, pode praticar o ato deixado de praticar por este,
promovendo o andamento do processo relativamente aos bens sobre os quais o credor
detenha garantia real (cfr. art.º 920.º, n.º 3) até que o exequente retome a prática normal
dos atos subsequentes – cfr. art.º 847.º, n.ºs 5 e 6.

o Penhora de móveis

A reforma diferencia claramente a penhora de coisas móveis sujeitas a registo (cfr.


art.ºs 851.º a 854.º) da que incide sobre móveis não sujeitos a registo (cfr. art.ºs 848.º a
850.º).
Do Código Civil
Artigo 204.º
Coisas imóveis
1. São coisas imóveis:
a) Os prédios rústicos e urbanos;
b) As águas;
c) As árvores, os arbustos e os frutos naturais, enquanto estiverem
ligados ao solo;

230
Manual de apoio ao ingresso - 2013
d) Os direitos inerentes aos imóveis mencionados nas alíneas
anteriores;
e) As partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos.
2. Entende-se por prédio rústico uma parte delimitada do solo e as
construções nele existentes que não tenham autonomia económica, e
por prédio urbano qualquer edifício incorporado no solo, com os
terrenos que lhe sirvam de logradouro.
3. É parte integrante toda a coisa móvel ligada materialmente ao
prédio com carácter de permanência.
Artigo 205.º
Coisas móveis
1. São móveis todas as coisas não compreendidas no artigo anterior.
2. As coisas móveis sujeitas a registo público é aplicável o regime das
coisas móveis em tudo o que não seja especialmente regulado.

Com efeito, os bens móveis não sujeitos a registo são penhorados, apreendidos e
imediatamente removidos para depósitos (públicos132 ou não), presumindo-se pertencentes ao
executado os bens encontrados em seu poder, embora o executado possa reagir perante o
juiz, depois de efetuada a penhora, exibindo documentos comprovativos de direitos de
terceiros, os quais podem igualmente tomar posição na defesa dos seus interesses por meio
de embargo de terceiro (cfr. art.º 848.º, n.º 2 e 351.º).

Este requerimento é oficiosamente notificado ao exequente para dizer o que se lhe


oferecer no prazo de 10 dias (cfr. art.ºs 3.º e 3.º-A, 153.º e 229.º, n.º 2), após o que se fará o
processo concluso ao juiz. Quando o agente de execução seja oficial de justiça, onde não
existirem depósitos públicos, nada obsta que ele nomeie depositário dos bens penhorados
uma pessoa idónea, ou até o próprio executado, depois de o ouvido o exequente, sem
oposição (cfr. n.º 1 do art.º 839.º ex vi art.º 855.º).

Se pela conversão do arresto em penhora se operar a substituição do depositário, então,


há que observar o preceituado no art.º 839.º.

Havendo necessidade de forçar a entrada no domicílio do executado ou de terceiro


(quando estiver em causa a penhora de bens do executado em poder de terceiro – art.º 831.º)
ou se se previr que tal venha a ser necessário, aplica-se o disposto no art.º 840.º, n.ºs 2 a 6.

132
Os bens removidos para depósitos públicos são lá vendidos – cfr. art.º 907.º-A

231
Manual de apoio ao ingresso - 2013
O auto de penhora
No auto de penhora relatar-se-ão todas ocorrências.

Da penhora é lavrado auto133 de modelo aprovado pela Portaria n.º 700/2003, de 31 de


Julho, sob o comando do art.º 836.º, no qual deverão constar, além dos elementos exigidos
pelas disposições conjugadas dos art.ºs 849.º e 810.º, n.º 5-b), a data e a hora da realização,
as quais se revestem de particular importância para a determinação do processo principal
quando se sucederem penhoras sobre os mesmos bens em processos diferentes (cfr. art.º
871.º).

O auto de penhora é lavrado pelo agente de execução designado na execução – cfr.


art.º 838.º, n.º 3 -, salvo nos casos previstos no n.º 8 do art.º 808.º, em que o auto será
lavrado não pelo agente de execução designado, mas, pelo agente de execução ou oficial de
justiça que realizar o ato a solicitação do agente.

Sendo vários os bens, descrever-se-ão sumariamente por meio de verbas numeradas


sequencialmente, atribuindo-se a cada verba um valor aproximado, podendo o agente de
execução recorrer diretamente a um perito, quando a avaliação exigir conhecimentos
especiais.

O exequente pode cooperar com o agente de execução, facultando os meios necessários


à apreensão dos bens, e as despesas que suportar sairão precípuas do produto da penhora
(cfr. art.ºs 848.º-A e 455.º).

No caso de o executado ou alguém por si recusar-se a abrir as portas da casa ou dos


móveis ou ainda se a casa se encontrar deserta, observar-se-á o disposto para a entrega
efetiva de imóvel – cfr. art.ºs 850.º, n.º 1 e 840.º.

Ocultação e sonegação de bens


Quem ocultar ou sonegar bens no intuito de os afastar da penhora fica sujeito às
sanções correspondentes à litigância de má-fé a aplicar pelo juiz (cfr. art.ºs 456.º e 457.º),

133
O modelo aprovado serve para a penhora de imóveis (art.º 838.º, n.º 3), móveis (849.º e 851.º, n.º 1)
e estabelecimentos comerciais (art.º 862.º-A, n.º 1).

232
Manual de apoio ao ingresso - 2013
em face das informações prestadas pelo agente de execução, sem prejuízo de eventual
procedimento criminal.134

O dinheiro, papéis de crédito, pedras e metais preciosos são apreendidos e


depositados numa instituição de crédito à ordem do agente de execução designado, ou à
ordem da secretaria, quando se tratar de oficial de justiça

Depositário

Dos bens móveis penhorados é sempre depositário o agente de execução que efetuar a
diligência (solicitador de execução, advogado ou oficial de justiça), o que já não acontece nos
imóveis ou nos direitos.

No entanto, revelando-se impossível a remoção dos bens, afigura-se-nos a possibilidade


de o agente de execução nomear depositário o executado, uma vez obtido o consentimento
do exequente, ou outra pessoa idónea por si (cfr. art.ºs 839.º, n.º 1 e 855.º).

Além dos deveres gerais estabelecidos nos art.ºs 1187.º e seguintes do Cód. Civil, o
depositário de bens móveis fica obrigado a mostrá-los a qualquer pessoa, quando tal lhe for
ordenado – cfr. art.º 854.º, n.º 1. Se não o fizer dentro do prazo de 5 dias nem justificar as
razões da falta, o agente de execução dará conhecimento do facto ao juiz com o fito de ser
decretado o arresto em bens do depositário faltoso para garantia do valor do depósito (valor
atribuído no auto de penhora aos bens em causa), as custas e as despesas, arresto que será
levantado logo que os bens sejam apresentados ou que sejam pagos os valores atrás referidos,
sendo as custas calculadas de imediato, tudo isto sem prejuízo de eventual responsabilidade
criminal135 Simultaneamente, o juiz ordena ainda

134
Art.º 227.º-A do Código Penal - Frustração de créditos
1 - O devedor que, após prolação de sentença condenatória exequível, destruir, danificar, fizer desaparecer,
ocultar ou sonegar parte do seu património, para dessa forma intencionalmente frustrar, total ou parcialmente, a
satisfação de um crédito de outrem, é punido, se, instaurada a ação executiva, nela não se conseguir satisfazer
inteiramente os direitos do credor, com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.
2 - É correspondentemente aplicável o disposto nos n.ºs 2 e 3 do artigo anterior.
135
Artigo 205.º do Código Penal - Abuso de confiança
1 - Quem ilegitimamente se apropriar de coisa móvel que lhe tenha sido entregue por título não translativo da
propriedade é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.
2 - A tentativa é punível.
3 - O procedimento criminal depende de queixa.
4 - Se a coisa referida no n.º 1 for:
a) De valor elevado, o agente é punido com pena de prisão até 5 anos ou com pena de multa até 600 dias;
b) De valor consideravelmente elevado, o agente é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos.

233
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 A extração de certidão dos autos e a entrega ao Ministério Público para efeitos de
procedimento criminal;
 E ordena o prosseguimento da execução, também, contra o depositário infiel.

o Penhora de coisas móveis sujeitas a registo

A penhora destes bens efetua-se por comunicação eletrónica dirigida à conservatória


competente (comercial ou automóvel), na sequência do que será feito o registo e tudo o mais
previsto no art.º 838.º para os imóveis.

Tal como nos imóveis, também a penhora destes bens pode realizar-se nos termos
gerais, ou seja, através do preenchimento dos impressos próprios e entregues em mão ou
enviados sob registo postal às entidades competentes para o registo.

Penhora de navios
Tratando-se de navio despachado para viagem, a comunicação eletrónica é enviada à
conservatória do registo comercial, atento o disposto nos art.ºs 2.º e 4.º-f) do Dec. Lei n.º
42644, de 14 de Novembro de 1959136, diploma mantido em vigor pelo art.º 5.º n.º 2 do Dec.
Lei n.º 403/86, de 3 de Dezembro.

5 - Se o agente tiver recebido a coisa em depósito imposto por lei em razão de ofício, emprego ou profissão, ou na
qualidade de tutor, curador ou depositário judicial, é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos.
Artigo 224.º do Código Penal - Infidelidade
1 - Quem, tendo-lhe sido confiado, por lei ou por ato jurídico, o encargo de dispor de interesses patrimoniais
alheios ou de os administrar ou fiscalizar, causar a esses interesses, intencionalmente e com grave violação dos
deveres que lhe incumbem, prejuízo patrimonial importante é punido com pena de prisão até três anos ou com
pena de multa.
2 - A tentativa é punível.
3 - O procedimento criminal depende de queixa.
4 - É correspondentemente aplicável o disposto nos n.ºs 2 e 3 do artigo 206.º e na alínea a) do artigo 207.º.
Artigo 348.º do Código Penal - Desobediência
1 - Quem faltar à obediência devida a ordem ou a mandado legítimos, regularmente comunicados e emanados de
autoridade ou funcionário competente, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias
se:
a) Uma disposição legal cominar, no caso, a punição da desobediência simples; ou
b) Na ausência de disposição legal, a autoridade ou o funcionário fizerem a correspondente cominação.
2 - A pena é de prisão até 2 anos ou de multa até 240 dias nos casos em que uma disposição legal cominar a
punição da desobediência qualificada.
136
O art.º 5.º do Decreto-Lei n.º 403/86, de 3/12, que aprovou o Código do Registo Comercial *, manteve em vigor
o diploma em anotação.
* Alterações ao Código do Registo Comercial: DL n.º 185/2009, de 12/08; DL n.º 122/2009, de 21/05; Lei n.º
19/2009, de 12/05; DL n.º 247-B/2008, de 30/12; Declaração de retificação n.º 47/2008, de 25/08; DL n.º
116/2008, de 04/07; DL n.º 73/2008, de 16/04; DL n.º 34/2008, de 26/02; DL n.º 318/2007, de 26/09; DL n.º

234
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Nos termos do n.º 2 do art.º 830.º, o navio considera-se despachado para viagem logo
que esteja em poder do respetivo capitão o desembaraço passado pela capitania do porto.

Os navios mercantes estão ainda sujeitos a um registo de carácter administrativo junto


das capitanias dos portos, nos termos dos art.ºs 1.º, 3.º, 72.º, n.º 1, 73.º, n.º 1 e 78.º do
Regulamento Geral das Capitanias, aprovado pelo Dec. Lei n.º 265/72, de 31 de Julho137.

A requerimento do exequente ou de qualquer credor ou ainda depositário, pode o juiz


autorizar o navio penhorado a navegar.

O pedido do depositário é atendido se exequente e executado estiverem de acordo.

Nos outros casos, o pedido pode ser deferido independentemente do acordo das partes,
mediante a garantia de caução prestada pelo exequente ou credor que requerer a navegação
e dum seguro usual contra os riscos, após o que o navio é entregue ao requerente que se
constituirá como depositário, comunicando-se a decisão à capitania do porto – art.º 853.º.

A penhora que incida apenas sobre as mercadorias carregadas no navio rege-se pelas
disposições do artigo 830.º e das relativas à penhora dos bens móveis (sujeitos ou não a
registo) ou de direito, consoante a natureza dos bens encontrados.

Penhora de aeronaves
Tratando-se de aeronave, a comunicação é dirigida ao Instituto Nacional de Aviação
Civil, que é a entidade competente para o registo nos termos do art.º 6.º, al.ª i) do Decreto-
Lei n.º 133/98, de 15 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto- Lei n.º 145/2002,
de 21 de Maio, seguida de notificação à entidade responsável pelo controlo das operações
onde ela se encontrar estacionada, com a dupla finalidade de comunicar a penhora e
consequentemente proceder à apreensão da aeronave e dos respetivos documentos.

8/2007, de 17/01; Declaração de retificação n.º 28-A/2006, de 26/05; DL n.º 76-A/2006, de 29/03; DL n.º 52/2006,
de 15/03; DL n.º 111/2005, de 08/07; DL n.º 35/2005, de 17/02; DL n.º 2/2005, de 04/01; DL n.º 70/2004, de
25/03; DL n.º 53/2004, de 18/03; DL n.º 107/2003, de 04/06; DL n.º 323/2001, de 17/12; DL n.º 273/2001, de
13/10; DL n.º 533/99, de 11/12; DL n.º 410/99, de 15/10; DL n.º 375-A/99, de 20/09; Declaração de retificação n.º
10-AS/99, de 30/06; DL n.º 198/99, de 08/06; DL n.º 172/99, de 20/05; DL n.º 368/98, de 23/11; DL n.º 257/96, de
31/12; DL n.º 328/95, de 09/12; Declaração de retificação n.º 144/94, de 30/09; DL n.º 216/94, de 20/08; DL n.º
267/93, de 31/07; DL n.º 31/93, de 12/02; Declaração de retificação n.º 236-A/91, de 31/10); DL n.º 238/91, de
02/07; DL n.º 349/89, de 13/10; DL n.º 7/88, de 15/01; Declaração de retificação de 31/01/87; DL n.º 403/86, de
03/12 (primeira versão).

137
Última alteração: Decreto-Lei n.º 64/2005, 15 de Março.

235
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Conforme indicações que constam da página informática do Instituto Nacional de
Aviação Civil, I.P. [http://www.inac.pt], o pedido de registo de ação, arrolamento, arresto e
penhora, entre outros “atos diversos” ali referidos, sobre aeronave ou equipamento
autónomo (motor, rotor, hélice, APU, etc.), deve ser formulado através de requerimento cujo
formulário se encontra disponível, para download, em formato “pdf”138.

 Penhora de veículos automóveis


Comecemos pela penhora de veículo automóvel por oficial de justiça no exercício das
funções de agente de execução.
De acordo com o disposto no n.º 1 do art.º 851.º do CPC, à penhora de bens móveis
sujeitos a registo aplicam-se as regras da penhora de imóveis constantes do art.º 838.º do
CPC.

No caso concreto dos veículos automóveis, a penhora concretiza-se pela via do registo
em qualquer conservatória do registo de automóveis.

Diligências prévias à penhora

Desde que, no requerimento executivo, o exequente identifique o veículo a penhorar, o


agente de execução não procede às diligências prévias à penhora para identificação de bens
penhoráveis (cfr. art.º 833.º-A, n.º 1) No entanto, tais diligências só não terão lugar se os
bens indicados forem de valor previsivelmente igual ou superior ao crédito exequendo,
acrescido das custas previsíveis da execução.

A penhora de bens móveis sujeitos a registo fica ainda condicionada à presunção de que
o seu valor seja uma vez e meia superior ao custo da sua venda judicial, conforme dispõe
alínea d) do n.º 1 do art.º 834.º.

Ora, tal juízo de prognose, imposto pelos art.ºs 833.º-A e 834.º do C.P.C., apenas pode
ser levado a cabo se o agente de execução estiver na posse de elementos concretos sobre o
veículo a penhorar, que não resultam normalmente da leitura do requerimento executivo.

Assim sendo, o agente de execução, previamente à penhora, deve munir-se de


informações tendentes a saber se o veículo é suscetível de gerar um valor que exceda os

138
http://www.inac.pt/SiteCollectionDocuments/Aeronaves/v2_7_req_registo_atos_diversos.pdf

236
Manual de apoio ao ingresso - 2013
custos do registo da penhora e demais despesas criadas por essa penhora, nomeadamente
através das diligências necessárias à identificação e localização do veículo.139

Tais diligências podem ser solicitadas às autoridades policiais ou administrativas,


cabendo aqui, também, a consulta às bases de dados do registo automóvel que disponibiliza a
identificação de cada veículo de que o executado seja proprietário ou titular de outro direito
real, bem como os ónus e encargos que incidam sobre cada um (cfr. art.ºs 833.º-A e art.º 5.º
da Portaria n.º 331-A/2009, de 30 de Março).

Os atos relativos a registos de veículos com motor e respetivos reboques podem ser
efetuados e os respetivos meios de prova obtidos em qualquer conservatória de registo
automóvel, independentemente da sua localização geográfica – cfr. art.º 30.º, n.º 2 da Lei
Orgânica da Direcção-Geral dos Registos e Notariado, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 87/2001,
de 17 de Março, na redação que lhe foi dada pelo D.L n.º 178-A/2005, de 28 de Outubro.

O registo de veículos tem essencialmente por fim dar publicidade à situação jurídica dos
veículos a motor e respetivos reboques, tendo em vista a segurança do comércio jurídico
(cfr. art.º 1.º do D.L. n.º 54/75, de 12 de Fevereiro, na redação que lhe foi dada pelo D.L.
n.º 178/2005, de 28 de Outubro).

Entrega do requerimento

Com a chamada “desformalização do registo automóvel” foi eliminada a competência


territorial das Conservatórias do Registo Automóvel, pelo que passou a ser permitido praticar
atos de registo em qualquer Conservatória do território nacional, independentemente da
escolhida para a elaboração do 1.º registo sobre o veículo (cfr. art.º 8.º do D.L. 519-F2/79, de
29de Dezembro, na redação que lhe foi dada pelo D.L. n.º 324/2007, de 28 de Setembro).140

139
Neste sentido, veja-se o acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 30/04/2009, JTRP00042534: “I – O
disposto no art. 851º, nº2, do CPC não permite que a penhora de veículos seja precedida de apreensão para
averiguação, seja da existência do veículo, seja do seu valor comercial.
II – Mas a penhora de bens apenas é legalmente admissível se presumivelmente puder contribuir para o pagamento
do montante exequendo.
III – A lei não proíbe, antes impõe, atenta a finalidade do processo executivo, que é a satisfação dos interesses do
credor, que, antes de se proceder à penhora do veículo, sejam pelo solicitador de execução realizadas diligências
tendentes a saber se o veículo é suscetível de gerar um valor que exceda os custos do registo da penhora, dos
honorários devidos ao solicitador e demais despesas por essa penhora criadas, única em que é razoável proceder à
penhora do mesmo.
IV – O solicitador de execução que proceda à penhora de um veículo sem ter efetuado essas diligências que lhe
hajam sido solicitadas pelo exequente ou impostas pelos dados do caso concreto, nomeadamente os anos
decorridos desde a data de matrícula do veículo, responderá perante o exequente pelos prejuízos que lhe causar
tal atuação negligente ou dolosa.”
140
Artigo 8.º

237
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Os pedidos de registo podem ser efetuados através dos modelos de requerimento
aprovados pelo Presidente do Instituto dos Registos e do Notariado, I.P. (IRN, I.P.)
Atualmente existe apenas um modelo de requerimento para a prática de atos de registo
de veículos e respetivos reboques, nomeadamente para inscrição de hipotecas, penhoras e
arrestos.141
O pedido de registo da penhora pode ser realizado eletronicamente pelo agente de
execução nos termos previstos no art.º 838.º, n.º 1 do CPC, através de comunicação direta
entre o sistema GPESE e o sistema informático do registo automóvel (cfr. art.º 40.º, n.º 3 do
D.L. n.º 55/75, de 12 de Fevereiro, na redação dada pelo D.L. n.º 178-A/2005, de 28 de
Outubro, e art.º 22.º da Portaria n.º 99/2008, de 31 de Janeiro).
Conforme já foi referido para a penhora de imóveis, também não é ainda possível ao
oficial de justiça proceder à penhora eletrónica de veículos automóveis.

Além da entrega direta na conservatória, o requerimento pode ser enviado por correio,
sob registo postal e com aviso de receção, endereçado à conservatória do registo de
automóveis, nos termos do art.º 40.º do Decreto-Lei n.º 55/75.

O facto de o pedido de registo poder ser entregue diretamente na conservatória ou


enviado pelo correio nos termos atrás assinalados, injustifica a circulação entre secretarias
de “solicitações” de atos desta natureza.

A efetivação da penhora através do registo


Conforme já referimos, decorre do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 54/75, de 12 de
Fevereiro142, que “o registo de automóveis tem essencialmente por fim dar publicidade à
situação jurídica dos veículos a motor e respetivos reboques, tendo em vista a segurança do
comércio jurídico”.

1 - Os atos relativos a veículos a motor e respetivos reboques podem ser efetuados e os respetivos meios de
prova obtidos em qualquer conservatória do registo de veículos, independentemente da sua localização
geográfica.
2 - A competência para a prática dos atos previstos no número anterior pode ser atribuída a qualquer
conservatória de registos, através de despacho do presidente do Instituto dos Registos e do Notariado, I. P.
141
O requerimento obtém-se neste endereço: http://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/a_registral/servicos-
externos-docs/impressos/automovel/requerimento-de-
registo/downloadFile/file/ANEXD57.pdf?nocache=1216986303.52
142
Este diploma foi objeto de várias alterações, a última das quais pela Lei n.º 39/2008, de 11 de Agosto.

238
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Os factos sujeitos a registo vêm elencados nos art.ºs 5.º e 6.º do mesmo diploma, o qual
estabelece regras para o registo, complementadas pelo Regulamento do Registo de
Automóveis, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 55/75, de 12 de Fevereiro.143 O Código do Registo
Predial é subsidiariamente aplicável ao registo automóvel na medida e nos termos do
disposto no art.º 29.º do citado Decreto n.º 54/75.
Tal como os imóveis, também a penhora dos veículos automóveis se concretiza pela via
do registo na conservatória de registo dos automóveis, seguida dos demais atos
complementares.

Até que se estabeleçam as comunicações eletrónicas com as conservatórias, o registo da


penhora é solicitado através da “apresentação de declaração subscrita pelo agente de
execução”, o mesmo é dizer através do requerimento de modelo único a obter gratuitamente
por meio de download a partir do seguinte endereço:

http://www.irn.mj.pt/IRN/sections/inicio

Uma vez efetuado o registo, a conservatória emite e envia ao agente de execução a


certidão comprovativa do ato, para ser junta ao processo.

Atos complementares

O art.º 851.º dispõe o seguinte: n.º 2: A penhora de veículo automóvel é seguida de


imobilização do veículo, designadamente através da imposição de selos ou de imobilizadores
e, da apreensão do documento de identificação do veículo, nos termos dos n.ºs 3 a 8 do artigo
164.º e do artigo 161.º do Decreto-lei n.º 114/94, de 3 de Maio144, com as necessárias
adaptações, e de portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça.
N.º 3: Após a penhora e a imobilização, o veículo só é removido quando o agente de
execução entenda necessário para a salvaguarda do bem, aplicando-se com as devidas
adaptações, o disposto nos artigos 167.º e 168.º do Decreto-Lei n.º 114/94, de 3 de Maio.
O Decreto-Lei n.º 114/94, de 3 de Maio, aprovou o Código da Estrada, diploma nos termos
do qual se efetuam a apreensão e imobilização dos veículos, pese embora a necessidade de
publicação de Portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça.145
Assim, à penhora realizada pela via do registo segue-se uma série de atos
complementares.

143
Este foi sujeito a diversas alterações, a última das quais pelo Decreto-Lei n.º 185/2009, de 12 de Agosto.
144
Este diploma foi objeto de várias alterações, a última das quais pelo Decreto- Lei n.º 138/2012, de 5 de Julho.
145
Esta Portaria ainda não foi publicada.

239
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Vejamos:
 Apreensão do veículo
O veículo deve ser apreendido. E este facto envolve a proibição de o mesmo circular -
nos termos das disposições conjugadas dos art.ºs 851.º, n.º 2 do CPC e 22.º do Dec. Lei n.º
54/75, de 12 de Fevereiro -, podendo a apreensão ser solicitada a qualquer autoridade de
investigação criminal ou de fiscalização ou seus agentes, nos termos dos art.ºs 851.º, n.º 2
CPC e 161.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 114/94, de 3 de Maio.
Assim, incumbe à entidade apreensora do veículo removê-lo, sempre que o agente de
execução entender necessário fazê-lo para salvaguarda do bem. Neste caso, o veículo deve
ser entregue a um fiel depositário, conforme dispõem os art.ºs 851.º, n.º 3 do CPC e 168.º do
Decreto-Lei n.º 114/94.

 Apreensão dos documentos


Os documentos do veículo devem ser igualmente apreendidos (cfr. art.º 161.º, n.ºs 1 e 2
do Decreto-Lei n.º 114/94, de 3 de Maio).

Todavia, caso não seja possível apreendê-los, deverá o executado ser expressamente
notificado (pela entidade apreensora ou, caso esta o não possa fazer, pelo agente de
execução) para os apresentar ao agente de execução no prazo de dez dias (art.º 153.º CPC),
sob a sanção cominada para o crime de desobediência qualificada previsto e punível nos
termos do art.º 348.º, n.º 2 do Código Penal ex vi do art.º 16.º, n.º 2 do Decreto-Lei n.º
54/75.

o Auto de apreensão
Incumbe à entidade administrativa ou policial lavrar o auto de apreensão e logo remetê-
lo ao agente de execução, acompanhado dos documentos do veículo (quando apreendidos),
dele se fazendo constar a nomeação e entrega ao depositário.
Pelo que mais adiante referiremos, no auto de apreensão deverá ser feita menção à
colocação do selo.
Quando o veículo se encontrar fora da área de jurisdição do tribunal onde correr a ação
executiva, o agente de execução solicita a apreensão diretamente à entidade administrativa
ou policial.
Sobre esta questão, transcreve-se em seguida o sumário do Acórdão do Tribunal da
Relação de Lisboa n.º JTRL00016998, de 7/2/1991: Para proceder à penhora de uma viatura

240
Manual de apoio ao ingresso - 2013
automóvel é correto solicitar a sua apreensão às autoridades policiais, ainda que atuem fora
da área da jurisdição do Tribunal – in www.dgsi.pt.

o Remoção do veículo
Decorre do n.º 3 do art.º 851.º do CPC que a remoção do veículo é um recurso a utilizar
a título excecional, isto é, quando o agente de execução entender necessário fazê-lo para a
salvaguarda do bem.

 Depositário
Em matéria de depositário o art.º 851.º é omisso.
Com efeito, as normas reguladoras da penhora de bens móveis não sujeitos a registo são
distintas das que regulam a penhora de bens móveis sujeitos a registo.
Vejamos, em síntese:
A penhora de bens móveis não sujeitos a registo pauta-se por regras próprias - art.ºs
848.º a 850.º - e acessoriamente pelo preceituado sobre a penhora de bens imóveis, por força
do art.º 855.º.
Quanto aos bens móveis sujeitos a registo, importa, antes de mais, sublinhar que nele
se congregam, embora com tratamentos diversos, veículos automóveis, navios ou aeronaves.
Vem a propósito lembrar que nas “execuções por custas, multas, coimas e ou outras
quantias contadas” a penhora dos bens móveis sujeitos a registos submete-se às regras da
penhora de imóveis, quer por força da remissão que o n.º 1 do art.º 851.º faz para o art.º
838.º, quer pela via subsidiária do art.º 855.º, aliás, a exemplo do que se verifica com os bens
móveis não sujeitos a registo, muito embora a penhora de navios ou de mercadorias neles
carregadas devam seguir ainda o estabelecido nos art.ºs 830.º, 852.º e 853.º do CPC.

Nesta perspetiva, afigura-se-nos inaplicável à penhora dos bens móveis sujeitos a registo
o que vem disposto no artigo 848.º para a penhora de bens móveis não sujeitos a registo. O
mesmo é dizer que, à falta de normas próprias, o depositário dos bens móveis sujeitos a
registo há-de ser encontrado segundo os critérios estabelecidos para a penhora de bens
imóveis, ou seja, no quadro legal do art.º 839.º ex vi do art.º 855.º do CPC.
De forma que, sendo oficial de justiça a desempenhar funções de agente de execução,
jamais lhe incumbe o depósito do veículo penhorado.
Na verdade, o depositário há-de ser a pessoa designada pelo agente de execução, sem
excluir o exequente, nem o próprio executado, cabendo ao agente de execução clarificar esta

241
Manual de apoio ao ingresso - 2013
última possibilidade, notificando o exequente, em momento anterior ao da penhora, para, no
prazo de dez dias (art.º 153.º CPC), declarar expressamente se se opõe a que o executado,
quando necessário e com vista a obviar dificuldades retardatárias do processo, seja nomeado
depositário dos bens penhorados.
Nesta linha de raciocínio, a remoção do veículo para qualquer depósito (público ou não)
só ocorrerá mediante opção fundamentada e casuisticamente tomada pelo agente de
execução, tendo em linha de conta a medida de exceção consagrada no n.º 3 do citado art.º
851.º do CPC.

O executado deve ser citado ou notificado no próprio ato da penhora ou nos cinco dias
subsequentes – cfr. n.ºs 2 e 7 do art.º 864.º do CPC.

Sendo a penhora efetuada por registo na conservatória, o executado não presencia o


ato, pelo que à sua citação ou notificação há-de o agente de execução proceder no prazo de
cinco dias após a receção da certidão comprovativa do registo, nos termos do n.º 2 do art.º
864.º do CPC.

Só assim não será se da certidão resultar que o titular inscrito é pessoa diversa do
executado, facto que determina, como é consabido, o cumprimento, pelo agente de
execução, do disposto no artigo 119.º do Código do Registo Predial, aqui aplicado
subsidiariamente por força do art.º 29.º do Decreto-Lei n.º 54/75, de 12 de Fevereiro.

A penhora só prosseguirá se o titular citado declarar expressamente que o veículo não


lhe pertence ou por outro lado se não fizer declaração alguma – cfr. n.ºs 3 e 4 do citado art.º
119.º.

Por conseguinte, o sobredito prazo de cinco dias para o agente de execução citar ou
notificar o executado decorre a partir do termo do prazo estabelecido no n.º 1 do art.º 119.º
do CRP ou da data da apresentação da declaração negativa do titular inscrito.

Considerando, como vimos, que a imobilização do veículo por via da apreensão sucede à
penhora propriamente dita, somos levados a concluir que o auto de penhora deve ser
lavrado na secretaria logo após a receção da certidão do registo, obviamente sem prejuízo
do disposto no art.º 119.º do Código do Registo Predial tal como vimos atrás, no sentido de se
permitir a oportuna citação ou notificação do executado em ordem a permitir-lhe exercer os
seus direitos processuais.

De outro modo, se se aguardasse a realização das diligências complementares à penhora


para elaboração dum auto de penhora descritivo das diligências realizadas e de quaisquer
incidências eventualmente ocorridas, estaríamos de alguma forma a penalizar o executado
pela inversão da sequência lógica e normal dos atos, ao proporcionarmos que ele pudesse

242
Manual de apoio ao ingresso - 2013
tomar conhecimento da penhora e da pendência do processo, quando não previamente
citado, sem que o agente de execução lhe tivesse dado tal “notícia” em tempo oportuno.

Posteriormente notificar-se-lhe-ão os demais documentos juntos aos autos, o que há-de


acontecer, desde logo, após a junção do auto de apreensão.
Poderá questionar-se: e se não for possível apreender o veículo por não ser encontrado
ou por qualquer outra razão?

As razões podem ser as mais variadas, desde o veículo ter ficado completamente
destruído num acidente de viação até à sua deslocação para país estrangeiro.
Numa tal situação, o agente de execução, entre outras hipóteses, pode suscitar a
intervenção do juiz no sentido de ordenar a notificação do executado, nos termos e sob os
efeitos cominatórios do art.º 519.º do CPC, como também deve notificar o facto ao exequente
para, no prazo de 10 dias (art.º 153.º), dizer o que se lhe oferecer, não sendo de excluir,
numa tal dificuldade e ante a provável insuficiência do bem, a eventualidade de ele vir a
requerer o reforço da penhora, com base no art.º 834.º, n.º 3-b) do CPC.

 Selo de penhora de automóvel e imobilizadores

Preceitua o n.º 2 do art.º 851.º do CPC que “a penhora de veículo automóvel é seguida
de imobilização, designadamente através da imposição de selos...” A prática revela-nos que a
apreensão do veículo é solicitada a entidades policiais e predominantemente por estas
realizada.
O ato implica não só a imobilização do veículo, mas também a sua proibição de circular
– cfr. art.º 164.º, n.º 3 do D.L. n.º 114/95, de 23/02.
Sendo este o natural sentido da lei, não vemos por que razão não há-de ser a
entidade apreensora do veículo a fazer a imposição do “selo” sinalizador da imobilização.
Para tanto, o pedido de apreensão endereçado às entidades administrativas ou policiais
há-de ser acompanhado de um selo, previamente preenchido, ficando em branco apenas os
campos destinados à data e à assinatura.
Este documento está disponível no Habilus, para ser solicitada a aposição do selo em
zona envidraçada do veículo, assim como a assinatura legível do agente e a indicação do seu
número de identificação profissional e a corporação ou serviço a que pertencer, tudo
autenticado com o carimbo em uso na unidade ou serviço respetivos.
No auto de apreensão deve a entidade apreensora fazer expressa referência à aposição
do selo de penhora.

243
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 Valor do veículo automóvel

Quanto ao valor do veículo, embora não se trate agora de um elemento imprescindível


para a validação da penhora, como já não o era anteriormente, desde 1 de Janeiro de 1997,
data em que vigorou o regime instituído pelo Dec. Lei n.º 329-A/95, de 12 de Dezembro, em
face do que dispõe o art.º 886.º-A do CPC, preceito que prevê sobre a fixação do valor base
da venda do bem, o veículo deve ser avaliado na primeira oportunidade que surgir e que é,
sem dúvida, o ato de apreensão.

No regime cessante, era usual solicitar-se às autoridades a apreensão do veículo e a


inscrição no auto de um valor estimado em função do estado de conservação aparente. A
nosso ver, no atual quadro normativo, não há, na verdade, razão para que as coisas se
passem, quanto a esta matéria, em moldes diferentes do passado, pelo que se nos afigura ser
de manter o pedido de apreensão e avaliação do veículo às autoridades apreensoras, sendo
certo que o valor atribuído poderá sempre ser sujeito a alteração até à venda (cfr. art.º
886.º-A, n.ºs 2-b) e 3 do CPC).

Concluindo, de acordo com a perspetiva desenhada, o elenco dos atos relacionados com a
penhora de veículo automóvel é o que passamos a descrever, em síntese final:
1. Diligências precedentes
- Diligências prévias à penhora no sentido da identificação e localização do veículo
a penhorar;

- Diligências tendentes à escolha de depositário, sem excluir a audição do


exequente;
- Notificação do exequente sobre a oposição à nomeação do executado depositário
do veículo a penhorar (ou de quaisquer outros bens);
2. Registo da penhora;
3. Cumprimento do art.º 119.º do CRP, se necessário.
4. Elaboração do auto de penhora;
5. Atos complementares:
- Pedido de apreensão do veículo e dos respetivos documentos, colocação do selo
ou de imobilizador e entrega ao depositário indicado pelo agente de execução;

244
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Citação ou notificação do executado (independentemente dos resultados do pedido de
apreensão), a efetuar no prazo de 5 dias a contar da receção da certidão do registo ou após o
art.º 119.º CRP, Nas execuções por custas, multas, coimas e outras quantias contadas ou
liquidadas, quando o bem a penhorar for um veículo automóvel, com o fim de evitar a prática
de atos inúteis, o oficial de justiça, previamente ao registo em que se traduz a penhora, deve
averiguar se o mesmo se encontra ou não registado em nome do executado. Caso o veículo
não se encontre registado em nome do executado deverá o agente de execução notificar o
exequente (Ministério Público) para manter ou substituir o bem indicado a penhora.

 Penhora de velocípedes (com e sem motor)

Os velocípedes não estão sujeitos a registo, nem tão pouco têm já obrigatoriedade de
matrícula.

O art.º 117.º do Código da Estrada elenca os veículos cuja matrícula é obrigatória não
constando dele os velocípedes conforme definição do art.º 112.º do mesmo código.146
Por isso, a penhora dos velocípedes enquadra-se na penhora de bens móveis não sujeitos
a registo nos termos do art.º 848.º.

 Penhora de direitos

Vimos até aqui a penhora sobre coisas corpóreas – imóveis e móveis.

146
Código da Estrada – DL n.º 114/94, de 3 de Maio, na redação que lhe foi dada pelo DL n.º 138/1012,
de 5 de Julho.
Artigo 112.º
Velocípedes
1 - Velocípede é o veículo com duas ou mais rodas acionado pelo esforço do próprio condutor por meio de pedais
ou dispositivos análogos.
2 - Velocípede com motor é o velocípede equipado com motor auxiliar com potência máxima contínua de 0,25 kW,
cuja alimentação é reduzida progressivamente com o aumento da velocidade e interrompida se atingir a
velocidade de 25 km/h, ou antes, se o condutor deixar de pedalar.
3 - Para efeitos do presente Código, os velocípedes com motor, as trotinetas com motor, bem como os dispositivos
de circulação com motor elétrico, autoequilibrados e automotores ou outros meios de circulação análogos com
motor são equiparados a velocípedes.

245
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Mas, a penhora pode incidir também sobre coisas incorpóreas, ou seja, sobre direitos.

Sobre a penhora de direitos versam os art.ºs 856.º a 863.º, divididos consoante as


especificidades, a saber:

- Créditos – art.ºs 856.º a 860.º Direitos ou expectativas de aquisição – art.º


860.º-A;
- Rendas, abonos, vencimentos ou salários – art.º 861.º;
- Depósitos bancários – art.º 861.º-A;
- Direitos a bens indivisos - art.º 862.º;
- Quotas em sociedades – art.º 862.º;
- Estabelecimento comercial – art.º 862.º-A.

Um dos aspetos que caracteriza a penhora de direitos consiste na notificação como


forma de realização, regendo-se pelas disposições próprias e subsidiariamente pelas
disposições relativas à penhora de imóveis e de móveis – art.º 863.º.

 Penhora de créditos
Efetua-se por notificação ao devedor do executado, segundo o formalismo da citação,
ou por outras palavras, a notificação processa-se como a citação pessoal, a qual, como é
sabido, começa pela via postal e vai até ao contacto pessoal pelo agente de execução ou
oficial de justiça, consoante o caso (cfr. art.ºs 233.º, n.ºs 2 e 4 e 808.º, n.º 1).

Este devedor (terceiro) é assim notificado de que o crédito do executado fica à ordem
do agente de execução e que dispõe dum prazo de 10 dias (prorrogável com fundamento
justificado) para declarar se o crédito existe ou não e, na afirmativa, quais as garantias que o
acompanham, em que data se vence e quaisquer outras circunstâncias que possam interessar
à execução – cfr. art.º 865.º, n.ºs 1 e 2 -, sendo advertido nos termos e para os efeitos dos
art.ºs 856.º, n.ºs 3 e 4 e 860.º, n.º 4.

Sendo a notificação feita por contacto pessoal, o notificando pode prestar as


declarações no próprio ato, as quais serão transcritas na certidão pelo agente de execução.

246
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Estando o crédito garantido por penhor de coisas (cfr. art.ºs 669.º e seguintes do Cód.
Civil), faz-se a apreensão dos próprios bens empenhados nos termos da penhora de bens
móveis.

Tratando-se de penhor de direitos (cfr. art.ºs 679.º e seguintes do CC), são os direitos
transferidos para a execução por via das notificações aos terceiros, nos termos da penhora de
direitos.

Se o crédito estiver garantido por hipoteca, a penhora será registada por averbamento à
respetiva inscrição – cfr. art.ºs 856.º, n.º 6 do CPC; 2.º, n.º 1-o) e 101.º, n.º 1-a), ambos do
Código do Registo Predial.

 Atos subsequentes consoante o comportamento do terceiro devedor

O devedor contesta a existência de crédito

Se o terceiro devedor contestar ou negar a existência do crédito, o agente de execução


notifica o exequente e o executado para responderem no prazo de 10 dias, sendo o primeiro
advertido para declarar se pretende a manutenção da penhora ou se desiste dela, e que no
caso de pretender mantê-la, o crédito considerar-se-á litigioso147 e como tal será adjudicado
ou transmitido (cfr. art.ºs 858.º), considerando-se efetuada a penhora na data da primitiva
notificação.

Optando pela desistência do crédito, a penhora deve ser levantada, dando-se ao


exequente, quando necessário, a possibilidade de indicar outros bens, nos termos do art.º
834.º, n.º 3 al.ªs b) e e).

O devedor alega que a obrigação depende de prestação do executado

O executado é notificado para confirmar ou infirmar o terceiro devedor Se confirmar ou


nada disser e a prestação já estiver vencida, o agente de execução notifica o executado para
satisfazê-la no prazo de 15 dias (cfr. art.º 859.º, n.º 1).

147
“Diz-se litigioso o direito que tiver sido contestado em juízo contencioso, ainda que arbitral, por qualquer
interessado” – cfr. n.º 3 do art.º 579.º do Código Civil.

247
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Perante o incumprimento da prestação pelo executado, pode o exequente ou o terceiro
devedor exigir o cumprimento da obrigação, por apenso à ação executiva (cfr. art.º 859.º, n.º
2 e 4).

Em alternativa, pode também o exequente substituir-se ao executado no cumprimento


da prestação, ficando, nesse caso, sub-rogado nos direitos daquele terceiro devedor – art.º
859.º, n.º 2.

Refutando a afirmação do terceiro devedor, o agente de execução notifica o exequente


para se pronunciar no prazo de 10 dias, nos termos e para os efeitos do art.º 858.º, n.ºs 1 e 2,
sendo o primeiro advertido para declarar se pretende manter a penhora ou se desiste dela, e
que no caso de pretender mantê-la, o crédito será considerado litigioso, embora com a
incerteza relativamente à dependência de prestação por parte do executado, e como tal será
adjudicado ou transmitido (cfr. art.ºs 858.º), considerando-se efetuada a penhora na data da
primitiva notificação – cfr. art.º 859.º, n.º 3.

Optando pela desistência do crédito, a penhora deve ser levantada, dando-se ao


exequente, quando necessário, a possibilidade de indicar outros bens, nos termos do art.º
834.º, n.º 3 al.ªs b) e e).

Depósito ou entrega da prestação devida

Vencendo-se a dívida antes de ultimada a fase de pagamentos, o terceiro-devedor é


notificado para depositar a importância numa instituição de crédito à ordem do agente de
execução ou à ordem da secretaria de execução, no caso do agente de execução ser oficial de
justiça, entregando ao agente executivo o respetivo documento comprovativo – art.º 860.º,
n.º 1 -, podendo, em alternativa, entregar a coisa ao agente de execução, que dela ficará
depositário. Se o crédito estiver vendido ou adjudicado, a prestação é entregue ao respetivo
adquirente (cfr. art.º 860.º, n.º 2).

Se o terceiro-devedor não cumprir a obrigação, pode o exequente ou o adquirente exigir


a prestação, servindo de título executivo:

 Se o crédito não está vendido ou adjudicado - a declaração de reconhecimento do


devedor, a notificação efetuada e a falta de declaração;
 Se o crédito já estiver vendido ou adjudicado - o título de aquisição do crédito – cfr.
art.º 860.º, n.º 3.

248
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 Penhora de direitos ou expectativas de aquisição

Diz-nos o n.º 1 do art.º 860.º-A, que lhe são aplicáveis as disposições relativas à penhora
de créditos, o que vale por dizer, que a penhora se constitui por notificação do terceiro
(segundo as regras da citação), nos termos do art.º 856.º.

Se o objeto a adquirir estiver na posse ou detenção do executado, será o próprio objeto


apreendido nos termos previstos para a penhora de bens imóveis (ou bens móveis sujeitos a
registo) ou móveis, consoante a sua natureza.

Exemplo:

Se o executado tiver adquirido um veículo automóvel a prestações,


com reserva de propriedade (cfr. art.ºs 409.º e 934.º do CC), o agente de
execução procede à penhora da seguinte forma:
 Notifica o vendedor que o direito do executado sobre o
148
automóvel fica à ordem do agente de execução, e tudo o mais prescrito
no art.º 856.º, aplicando-se com as necessárias adaptações o disposto nos
artigos 858.º e 859.º por força do n.º 1 do art.º 860.º-A;
 Procede à apreensão do veículo automóvel nos termos dos art.ºs
849.º e 851.º (ex vi do n.º 2 do art.º 860.º-A), removendo-o e confiando-o a
um depositário, se necessário;
 Considerando que uma das principais finalidades do registo é
tornar pública a situação jurídica dos bens e uma vez que o veículo
automóvel é bem móvel sujeito a registo, também a penhora de um direito
sobre ele é objeto de registo na competente conservatória do registo
automóvel.
 Elabora o auto de penhora;
 Cita o executado nos termos do n.º 2 do art.º 864.º (ou notifica-
o se já tiver sido previamente citado nos termos do n.º 7, atendendo-se,
neste caso, ao disposto no n.º 1-b) do art.º 863.º-B).

Consumando-se a aquisição, na pendência da ação executiva, a penhora anteriormente


efetuada passa a incidir na penhora do próprio bem, que, recorde-se, já foi apreendido, facto
148
O direito do executado consiste grosso modo na aquisição da propriedade do veículo depois de o pagar
integralmente ao vendedor.

249
Manual de apoio ao ingresso - 2013
que não dispensa o agente de execução de efetuar a comunicação eletrónica à respetiva
conservatória ou em alternativa proceda ao registo da penhora nos termos gerais, pagando o
respetivo preparo149, e de lavrar o auto de penhora depois de receber da conservatória a
certidão dos ónus e encargos

 Penhora de rendas, abonos, vencimentos, salários ou outros


rendimentos periódicos

Tal como as penhoras anteriormente afloradas, é igualmente pela notificação do


terceiro devedor que se efetua a penhora destes bens – art.º 861.º, n.º 1.

Assim, o terceiro devedor será o locatário relativamente à penhora de rendas; o


empregador ou entidade patronal relativamente à penhora de vencimentos ou de salários 150
ou outras entidades no tocante a abonos ou outros rendimentos periódicos.

O agente de execução notifica, segundo as regras da citação, o terceiro devedor para


descontar, nas quantias que ele tiver de pagar, o valor calculado pelo agente de execução
respeitando os limites dos art.ºs 821.º e 824.º e depositá-los numa instituição de crédito à
ordem do agente de execução.

Sendo oficial de justiça o agente de execução, a entidade é notificada para


depositar os descontos à ordem da secretaria judicial – art.ºs 861.º, n.º 2 do CPC.

Dado importante a considerar é que esta penhora, embora se considere efetuada na


data da notificação do terceiro devedor, tem-se por concluída somente com o depósito
dos descontos151.

As quantias descontadas e depositadas mantêm-se indisponíveis até ao termo do prazo


para a oposição à execução (e à penhora) ou, se ela for deduzida, até à decisão que a julgar
improcedente, momentos a partir dos quais o agente de execução a entrega as quantias
depositadas152 até perfazerem o montante da dívida exequenda que tiver sido liquidada no
requerimento executivo, deduzindo-se o valor das despesas da execução estimado nos termos

149
Cfr. penhora de imóveis e móveis sujeitos a registo – art.ºs 838.º e 851.º.
150
Os vencimentos dos funcionários e agentes da administração pública estão abrangidos por esta norma, uma vez
que desapareceu o regime diferenciado de penhora que se previa na anterior versão do CPC.
151
O valor dos descontos mensais está sujeito aos limites do art.º 824.º.
152
De notar que agora as quantias depositadas são entregues pelo agente de execução ao exequente, sem
necessidade de requerimento (cfr. nova redação do n.º 3 do art.º 861.º).

250
Manual de apoio ao ingresso - 2013
do n.º 3 do art.º 821.º, e assegurando-se os valores dos créditos reclamados ou dos créditos
graduados antes do exequente, consoante o caso – cfr. art.º 861.º, n.º 3.

De forma semelhante, como veremos a seguir, pode proceder o agente de execução à


penhora de depósitos bancários (cfr. art.º 861.º-A, n.º 13). Mas, o exequente ou qualquer
credor podem, ainda, requerer ao agente de execução a adjudicação por entrega direta das
quantias descontadas, nos termos do n.º 8 do art.º 875.º.

 Penhora de depósitos bancários

Fugindo à regra geral da não precedência de despacho instituída no n.º 1 do art.º 832.º,
a penhora de depósitos bancários carece sempre de despacho do juiz a autorizá-la, que
pode fazer parte do despacho liminar quando a ele houver lugar e efetua-se preferentemente
por comunicação eletrónica diretamente para cada uma das instituições bancárias (cfr. art.º
861.º-A, n.ºs 1 e 6).

Nas execuções em que não haja lugar a despacho liminar, pode revelar-se prematuro
fazer o processo concluso imediatamente após a autuação do requerimento executivo em face
do que pode resultar da consulta prévia nos termos do art.º 832.º (cfr. n.ºs 3 e 4).

Nas execuções em que agente de execução for oficial de justiça, será através do Habilus
que estas comunicações se hão-de processar (envioresposta) bastando ao operador
selecionar as instituições bancárias para as quais pretende enviar a comunicação.

 O conteúdo da comunicação/notificação assemelha-se à da penhora de direitos


(art.º 856.º), com as seguintes especialidades: Sendo vários os titulares do depósito,
a penhora incide na quota-parte do executado, que se presume igual à dos
restantes (cfr. art.ºs 861.º-A, n.º 2 do CPC e 1403.º, n.º 2 do Cód. Civil).
 Perante o n.º 3, é admissível o envio da comunicação a todas as instituições
legalmente autorizadas, quando se desconheçam as contas ou as instituições em
que elas possam estar constituídas. E se o somatório dos depósitos penhorados
exceder os limites do n.º 3 do art.º 821.º, cabe ao agente de execução fazer as
reduções necessárias (n.º 4) e em seguida comunicar às instituições respetivas, para
descativarem as quantias em excesso, com a seguinte ordem de preferências:

251
Manual de apoio ao ingresso - 2013
1) Contas a prazo
a) Executado único titular;
b) Menor número de contitulares;
c) Executado 1.º titular de entre vários titulares ou contitulares;
2) Contas à ordem
a) Executado único titular;
b) Menor número de contitulares;
c) Executado 1.º titular de entre vários titulares ou contitulares;
 A notificação é feita com a menção expressa de que o saldo existente ou a quota-
parte do executado (nos casos de contitularidade) fica cativo desde a data da
notificação, podendo apenas ser movimentada pelo agente de execução até ao
limite do n.º 3 do art.º 821.º (dívida exequenda + despesas previsíveis), para além
dos movimentos a débito ou a crédito resultantes de operações ocorridas antes da
penhora (por exemplo, pagamentos feitos através de cartão de crédito; letras;
livranças; cheque emitido antes da penhora e creditado na conta, cujo saldo só fica
disponível uns dias depois), sendo que as instituições constituem-se depositárias e
como tal responsáveis pelos saldos existentes, incumbindo-lhes o dever de enviarem
para o “tribunal” extratos dos movimentos efetuados (cfr. art.º 861.º-A, n.ºs 3 e
11);
 Identificação do agente de execução e do executado:
O agente de notificação identifica-se nos termos do n.º 11 do art.º 808.º e do
art.º 6.º da Portaria n.º 331-B/2009,de 30/3, e identifica o executado pelo
nome, domicílio ou sede (se pessoa coletiva), número do bilhete de
identidade ou documento equivalente (cédula, carta de condução,
passaporte, etc.) e número de identificação fiscal.
Na falta do B.I. e ou do n.º de identificação fiscal, deve o agente de
execução recorrer à consulta de documentos sujeitos a sigilo fiscais,
requerendo previamente ao juiz a necessária autorização nos termos do n.º 7
do art.º 833.º-A;
 Resposta das instituições:
o As entidades notificadas devolvem a resposta (positiva ou
negativa) no prazo de 10 dias (art.º 861.º-A, n.º 8);
 Notificação do executado:

252
Manual de apoio ao ingresso - 2013
o Incumbe às entidades bancárias comunicar ao executado a
efetivação da penhora;

As quantias depositadas e penhoradas mantêm-se indisponíveis até ao termo do prazo


para a oposição à execução (e à penhora) ou, se for deduzida, até à decisão que a julgar
improcedente, momento a partir do qual o agente de execução poderá entregar as quantias
depositadas ao exequente, sem necessidade de requerimento deste, até perfazerem o
montante da dívida exequenda que tiver sido liquidada no requerimento executivo,
deduzindo-se, naturalmente, o valor das despesas da execução estimado nos termos do n.º 3
do art.º 821.º, e assegurando-se os valores dos créditos reclamados ou dos créditos graduados
antes do exequente, consoante o caso – cfr. art.º 861.º-A, n.º 13.

De forma semelhante, como vimos anteriormente, pode proceder o exequente na


penhora de rendas, salários, vencimentos e outras quantias (cfr. art.º 861.º, n.º 3).

Custos

Para cada instituição notificada estão fixadas no n.º 5 art.º 17.º do Regulamento das
Custas Processuais as remunerações a seguir indicadas, as quais entram em regra de custas a
título de encargos (cfr. art.º 861.º-A, n.º 12):
 Nas comunicações eletrónicas:
 1/5 UC, quando sejam apreendidos saldos de conta bancária ou
valores mobiliários existentes em nome do executado;
 1/10 UC, quando não haja saldos ou valores em nome do
executado;
 Nas comunicações normais (não eletrónicas)
 Metade dos valores acima indicados.



Penhora de
 quinhão autónomo
 direito a bem indiviso não sujeito a registo
 direito real de habitação periódica

253
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 outro direito real cujo objeto não deva ser apreendido153
 quota em sociedade

Comecemos por recordar as restrições à penhora dos próprios bens que integram a
universalidade do património autónomo ou de bem indiviso estabelecidas no art.º 826.º.

Diz-nos o n.º 1 do art.º 862.º que a penhora de quinhão em património autónomo ou


direito a bem indiviso não sujeito a registo consiste unicamente na notificação do facto ao
administrador dos bens (cfr. art.ºs 985.º, 1047.º e 2079.º, todos do Cód. Civil), se o houver, e
aos contitulares, com expressa advertência de que o direito fica penhorado à ordem do
agente de execução, desde a data da primeira notificação efetuada a qualquer deles
(administrador ou contitulares).

Serão, ainda, notificados de que podem fazer as declarações que entenderem quanto ao
direito do executado, no prazo de 10 dias ou no próprio ato de notificação quando for por
contacto pessoal do agente de execução (cfr. art.º 856.º, n.º 2), e ao modo de o tornar
efetivo, podendo dizer se pretendem que a venda tenha por objeto todo o património
autónomo (ex. herança) ou a totalidade do bem indiviso (cfr. art.º 862.º, n.º 2). Se,
posteriormente, todos os contitulares forem unânimes quanto à venda total, a ela se
procederá (cfr. art.º 862.º, n.º 4).

Se algum deles contestar o direito do executado, o agente de execução notificará


exequente e executado para, no prazo de 10 dias (cfr. n.º 2 do art.º 858.º e n.º 3 do art.º
862.º), se pronunciarem sobre o requerimento, seguindo-se os demais trâmites prescritos no
art.º 858.º. A penhora de direito real de habitação periódica consiste na notificação do
facto ao administrador ou proprietário do empreendimento, responsável pela administração
das unidades de alojamento (cfr. art.º 25.º do Dec. Lei n.º 275/93, de 5 de Agosto).

Quanto à penhora de outros direitos reais, veja-se o caso da penhora da nua


propriedade duma fração autónoma a efetuar-se através da notificação do usufrutuário (cfr.
art.º 1439.º e seguintes do Cód. Civil).

Finalmente, a penhora de quota em sociedade constitui-se, segundo o n.º 6 do art.º


862.º, pela comunicação (eletrónica ou normal) à conservatória do registo comercial
competente (cfr. art.º 3.º-f) do Código do Registo Comercial), e complementa-se com uma

153
Exemplo: penhora da nua propriedade em fração autónoma.

254
Manual de apoio ao ingresso - 2013
notificação à própria sociedade154, aplicando-se, quanto à execução da quota, os art.ºs 183.º,
222.º e 239.º do Código das Sociedades Comerciais.

A oposição à penhora

Quando ao executado sejam penhorados bens, ele pode deduzir oposição nos termos do
art.º 863.º-A, no prazo de 20 dias a contar da citação efetuada após a penhora nos termos do
n.º 1 do art.º 864.º (art.º 863.º-B, n.º 1-a)) ou no prazo de 10 dias a contar da notificação da
penhora quando o executado já tiver sido anteriormente citado (art.º 863.º-B, n.º 1-b) e
813.º, n.ºs 1 e 2).

Um outro aspeto a considerar é que este incidente corre por apenso à execução, de
forma autónoma ou cumulado na oposição à execução (art.º 813.º, n.º 2, 863.º-B, n.º 2 e
817.º, n.º 1. À penhora pode igualmente opor-se o cônjuge do executado quando ela incida
em bens comuns do casal - perante a falta ou insuficiência ou inexistência de bens próprios do
executado - ou sobre bens imóveis ou estabelecimento comercial próprios ou comuns que não
possam ser alienados livremente (cfr. art.ºs 864.º, n.º 3-a) e 864.º-A do CPC e 1682.º-A do
CC155), em execução por dívidas comuns ou comunicáveis (cfr. art.ºs 825.º, n.ºs 2 a 4, 863.º-A,
n.º 1 al.ªs b) e c), 864.º, n.º 3-a) e 864.º-A).

Os embargos de terceiro constituem o meio processual adequado ao cônjuge do


executado, relativamente aos bens próprios e ou comuns penhorados em execução por dívidas
da exclusiva responsabilidade do executado (cfr. art.º 825.º, n.ºs 1, 2 e 6 e 351.º do CPC e
1696.º, n.º 1 do CC).

Também ao terceiro cuja posse ou direito sobre certos bens seja afetada pela penhora
está reservado o direito de contra ela reagir por embargos de terceiro (cfr. art.ºs 1285.º e
1311.º do CC e 351.º, n.º 1 do CPC).

154
A sede da sociedade constitui o seu domicílio, sem prejuízo de no contrato se estipular domicílio particular para
determinados negócios – art.º 12.º, n.º 2 do Código das Sociedades Comerciais integralmente republicado com o
Dec. Lei n.º 76-A/2006, de 29 de Março.

155
Segundo este normativo, carecem do consentimento de ambos os cônjuges a alienação da casa de morada de
família e, salvo se entre eles vigorar o regime de separação de bens, a alienação de imóveis ou de
estabelecimentos próprios ou comuns.

255
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Cumulado o incidente na oposição à execução, deverá o executado opoente auto
liquidar previamente à apresentação do articulado as taxas de justiça correspondentes à
oposição à execução e ao incidente da oposição à penhora, em função dos respetivos valores
tributários (cfr. art.ºs 447.º, n.º 2 e 447.º-A do CPC; 1.º e 7.º do Regulamento das Custas
Processuais e Tabela II aprovada pelo Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro).

Pela dedução autónoma do incidente é obviamente exigível apenas a taxa de justiça do


incidente. O incidente autonomamente deduzido rege-se pelo disposto nos art.ºs 303.º e
304.º, tal-qual os incidentes de instância, e só a decisão do juiz que julgar prestada a caução
pode suspender a execução relativamente aos bens abrangidos pela oposição (cfr. art.ºs
990.º, n.º 1, 986.º e 863.º-B, n.º 3), suspensão esta que se manterá até à decisão final do
incidente a qual, sendo procedente, decretará o levantamento da penhora sobre os bens
envolvidos (n.º 4).

O requerimento inicial da oposição à penhora deve ser submetido a despacho liminar e


se for admitido deve ser notificado o exequente para, querendo e no prazo de 10 dias,
exercer o direito de resposta, com a qual oferecerá todas as provas, sob o efeito cominatório
de a ausência de oposição implicar a confissão dos factos alegados pelo executado.

Sendo admitido o incidente, a execução será suspensa quanto aos bens objeto da
oposição, e se o executado prestar caução, podendo prosseguir se houver outros bens
penhorados (cfr. art.º 863.º- B, n.º 3).

O exequente pode, ainda, nos termos do art.º 834.º n.º 3, al.ªs b) a e), requerer a
substituição ou reforço da penhora, tal como poderá fazê-lo o próprio executado nos termos
previstos na al.ª a) do mesmo artigo.

Concurso de credores
Efetuada a penhora, para além do executado e do cônjuge, o agente de execução deve
proceder à citação dos credores que sejam titulares de direito real de garantia para
reclamarem o pagamento dos seus créditos (cfr. art.º 864.º n.º 3-b)).

O art.º 864.º não especifica as situações em que a citação deve ocorrer, mas, é da
leitura do n.º 4 do art.º 865.º que se afere a não admissão da reclamação de créditos quando
a penhora incide sob determinados bens. Ora se não são admitidos, também não deverão ser
citados de forma a não se praticarem atos inúteis nos processos.

Assim, não deverá haver lugar citação dos credores com privilégio creditório geral,
mobiliário ou imobiliário nas execuções em que tenha sido penhorado:

256
Manual de apoio ao ingresso - 2013
1 - Renda, vencimento ou rendimento periódico

2 - Crédito exequendo inferior a 190 UC e cumulativamente a penhora incida em moeda


corrente, nacional ou estrangeira e depósito bancário em dinheiro;

3 - Crédito inferior a 190 UC e cumulativamente a penhora incida num direito de crédito


ou o exequente requeira a adjudicação ou consignação de rendimentos do direito; a dação em
cumprimento do direito, devendo o requerimento ser efetuado antes da convocação de
credores.

Citação das entidades fiscais por transmissão eletrónica de dados


[Portaria n.º 331-A/2009, de 30/3]

As entidades referidas nas leis fiscais, o Instituto da Segurança Social, I.P. e o Instituto
de Gestão Financeira da Segurança Social, I.P., são citados exclusivamente por meios
eletrónicos nos termos definidos na Portaria n.º 331-A/2009, de 30 de Março.

Esta citação é realizada pelo agente de execução no prazo de 5 dias, contados da


realização da última penhora, através do sistema informático de suporte à atividade dos
agentes de execução (para os solicitadores de execução e advogados) e do sistema
informático CITIUS (para o oficial de justiça) - cfr. art.º 9.º da Portaria n.º 331-A/2009, de
30/3.

As referidas entidades consideram-se pessoalmente citadas na pessoa de qualquer


funcionário que aceda aos respetivos sistemas informáticos ou ao sitio da Internet
http://www.tribunaisnet.mj.pt.

Os sistemas informáticos da Fazenda Nacional, do Instituto da Segurança Social, I.P., do


Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, I.P. e o sítio da internet acima referido,
asseguram a certificação da data e hora da primeira consulta da citação, se anterior ao 5.º
dia posterior à data da certificação da disponibilização desta e a disponibilização desta
informação, por via exclusivamente eletrónica e automática, ao sistema informático CITIUS e
ao sistema informático de suporte à atividade dos agentes de execução.

A citação por transmissão eletrónica de dados efetuada nos termos atrás referidos
considera-se efetuada na data em que a entidade citanda proceder, pela primeira vez, à
consulta da citação e tem-se por efetuada na própria pessoa do citando.

257
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Caso a primeira consulta não seja efetuada nos primeiros quatro dias após a data da
disponibilização da citação, a mesma presume-se efetuada na própria pessoa do citando
no 5.º dia posterior àquela data, presumindo-se também que o citado teve oportuno
conhecimento dos elementos que lhe foram disponibilizados.

As disposições da Portaria n.º 331-A/2009, de 30/3, aplicam-se às diligências de execução


realizadas por oficial de justiça, com as devidas adaptações.

A citação dos restantes credores é efetuada nos termos gerais, ou seja, por carta
registada com aviso de receção de modelo aprovado, não havendo lugar à citação edital.

Após a citação, têm os credores o prazo de 15 dias para reclamar os seus créditos (art.º
865.º, n.º 2).

Os titulares de direitos reais de garantia que não tenham sido citados, podem reclamar
espontaneamente o seu crédito até à transmissão dos bens penhorados (art.º 865.º, n.º 3).

As reclamações são autuadas num único apenso ao processo de execução (art.º


865.º, n.º 8).

Terminado o prazo para a sua apresentação, a secção, oficiosamente, procede à


notificação do exequente, executado e outros credores reclamantes, para no prazo de 15 dias
a contar da notificação, impugnarem os créditos reclamados (art.º 866.º, n.º 4).

Se for deduzida alguma impugnação, o credor cujo crédito haja sido impugnado pode
responder no prazo de 10 dias a contar da notificação (art.º 867.º).

O apenso de verificação e graduação de créditos segue os termos do processo sumário (art.º


868.º, n.º 1).

Recorda-se que vale como reclamação a remessa do requerimento executivo se o


processo que o recebe se encontrar na fase do concurso de credores, passando a posição do
exequente para reclamante, mas desde que o exequente (ora reclamante) seja titular de um
direito real de garantia que não um privilégio creditório geral e ainda não tenha sido
proferida sentença de graduação (cfr. art.º 832.º, n.º 4).

258
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Se o credor, não se encontrar munido de título executivo, embora o crédito goze de
garantia real sobre os bens penhorados, deverá, dentro do prazo da reclamação de créditos,
requerer que a graduação de créditos aguarde até que consiga obter o título (cfr. art.º 869.º,
n.º 1).

Recebido o requerimento, será dele, oficiosamente, notificado o executado, para,


querendo, se pronunciar no prazo de 10 dias, esclarecendo-o que se reconhecer a existência
do crédito ou se nada disser, formar-se-á o título executivo e considerar-se-á reclamado o
crédito, sem prejuízo da impugnação de que possa ser alvo por parte do exequente e demais
credores Se o executado negar a existência do crédito, o credor terá de obter, em ação
própria, sentença exequível, após o que poderá, então, reclamar o seu crédito na execução.

Na eventualidade de esta ação já ter sido proposta e estiver pendente à data do


requerimento, o requerente deverá ali requer a intervenção principal do exequente e demais
credores nos termos do art.º 325.º.

Se a ação tiver sido, ainda, proposta, o requerente deverá propô-la contra o executado,
exequente e demais credores.

O requerimento não obsta à venda ou à adjudicação de bens, nem à verificação dos


créditos reclamados, mas o requerente é admitido a exercer, na execução, os mesmos
direitos reconhecidos ao credor cuja reclamação haja sido admitida (art.º 869.º, n.º 6).

Pagamentos

Findo o prazo para a reclamação de créditos (cfr. art.º 865.º, n.º 2), a execução
prossegue, independentemente dos trâmites do apenso de verificação e graduação de
créditos, com as necessárias diligências para a realização dos pagamentos (cfr. art.º 873.º, n.º
1), à exceção da consignação de rendimentos, que pode ser requerida pelo exequente e
deferida logo a seguir à penhora.

São modalidades de pagamentos (cfr. art.º 872.º):


- entrega de dinheiro (cfr. art.º 872.º);
- adjudicação dos bens penhorados (cfr. art.ºs 875.º a 878.º);
- consignação judicial dos seus rendimentos (cfr. art.ºs 879.º a 881.º);
- pagamento em prestações (cfr. art.ºs 882.º a 885.º);

259
Manual de apoio ao ingresso - 2013
- venda (cfr. art.ºs 886.º e segs.).

o Entrega de dinheiro (art.º 874º)

Se a penhora recair em moeda corrente, depósito bancário em dinheiro ou outro direito


de crédito pecuniário, o exequente ou qualquer credor que o sobreponha é pago pelo dinheiro
existente até ao montante do seu crédito, tendo sempre em atenção o previsto no art.º 455.º.
Julgada improcedente a oposição à execução ou decorrido o prazo para ela, o agente de
execução entrega ao exequente as rendas, abonos, vencimentos, salários ou outros
rendimentos periódicos, que não garantam crédito reclamado, até ao valor da quantia
exequenda, depois de deduzido o montante correspondente às despesas previsíveis da
execução entre as quais se incluem as custas da execução (cfr. art.ºs 861.º, n.º 3 e 861.º-A,
n.º 11).

o Adjudicação (art.ºs 875.º a 878.º)

Esta modalidade de pagamento consiste na possibilidade que o exequente e os credores


reclamantes têm para pedir os bens penhorados não compreendidos nos art.º s 902.º e 903.º
lhe sejam adjudicados como pagamento completo ou parcial do seu crédito, tendo sempre em
atenção, como atrás já foi referido, que as custas saem precípuas do produto dos bens
penhorados (cfr. art.º 455.º).
Todos os bens penhorados podem ser objeto de adjudicação, à exceção dos que, de
acordo com o disposto nos art.ºs 902.º e 903.º, devam ser vendidos nas bolsas de capitais ou
mercadorias ou a certas entidades (cfr. art.º 875.º, n.º 1).

O requerente deve indicar o preço em que assenta a sua oferta, o qual não poderá a
oferta ser inferior a 85% do valor base dos bens156 (cfr. art.º 889.º, n.º 2). Deve, ainda,
juntar ao requerimento da proposta
- Um cheque visado emitido à ordem da secretaria ou do agente de execução,
consoante as diligências de execução sejam realizadas por oficial de justiça ou por
agente de execução (agente de execução ou advogado), no montante correspondente
a 5% do valor anunciado para a venda, ou
156
Redação da Lei n.º 60/2012, de 9 de Novembro.

260
Manual de apoio ao ingresso - 2013
- garantia bancária no mesmo valor (cfr. art.º 897.º, n.º 1).

Cabe ao agente de execução fazer a adjudicação, mas, se à data do requerimento já


estiver anunciada a venda por propostas em carta fechada, esta não será sustada e a
pretensão do requerente só será considerada se não houver pretendentes que ofereçam preço
superior (cfr. art.º 875º, n.º 4).
Requerida a adjudicação, será designado dia e hora para abertura das propostas de
preço superior ao oferecido, notificando-se o exequente, os preferentes, executado e
credores reclamantes, se os houver. Na adjudicação, a publicitação segue os termos previstos
para a venda mediante propostas em carta fechada (cfr. 876.º n.º 1), que mais adiante
abordaremos.
A abertura de propostas tem lugar perante o juiz se se tratar de imóveis ou,
estabelecimento comercial, se o juiz o determinar), ou perante o agente de execução, nos
restantes casos, desempenhando este as funções reservadas ao juiz na venda do imóvel,
aplicando-se, as normas da venda por propostas em carta fechada, devidamente
adaptadas (cfr. art.º 876.º).
Se não surgir qualquer proposta e ninguém comparecer a exercer o direito de
preferência, aceita-se o preço oferecido pelo requerente. Se houver propostas de maior
preço, observar-se-á o disposto nos art.ºs 893º e 894º, ou seja, em princípio aceita-se o preço
de maior valor, em proteção de todos os interessados.
Se o requerimento de adjudicação tiver sido feito depois de anunciada a venda por
proposta em carta fechada e esta não tiver qualquer proposta, são logo adjudicados os bens
ao requerente (cfr. art.º 877.º, n.º 3).
A adjudicação como atrás foi referido, cabe ao agente de execução, a qual é efetuada
nos termos do art.º 890.º (cfr. art.º 878.º).

o Consignação de rendimentos (art.ºs 879º a 881º)

Esta modalidade de pagamento pode ser requerida ao agente de execução logo após a
penhora de bens até à venda ou adjudicação, desde que a penhora tenha recaído em bens
imóveis ou móveis sujeitos a registo (cfr. art.º 879º, n.º 1). Diversamente da adjudicação de

261
Manual de apoio ao ingresso - 2013
bens, que pode ser requerida igualmente pelos credores reclamantes, a consignação de
rendimentos só pode ser requerida pelo exequente.
Ouvido o executado, se este não requerer a venda, é deferido o requerido ao
exequente, sendo este pago pelo rendimento dos bens.
Se a consignação de rendimentos for deferida antes de se iniciar a fase da convocação
de credores, esta não se realiza (cfr. art.º 879.º, n.º 3) uma vez que os bens não são
transmitidos.
A consignação efetua-se por comunicação ao serviço competente de registo, através
de comunicação eletrónica, sendo o registo efetuado por averbamento (cfr. art.º 879.º, n.ºs 4
e 5).
Não haverá lugar à citação dos credores se a consignação de rendimentos for requerida
antes dela (citação dos credores).

o Pagamento em prestações (art.º s 882.º a 885.º)

É admissível o pagamento em prestações da dívida exequenda, se se verificarem os


seguintes pressupostos:
- Exequente e executado estarem de comum acordo, na suspensão da instância
executiva, que terá de ser requerida ao agente de execução até à transmissão do
bem penhorado ou, no caso da venda mediante proposta em carta fechada, até à
aceitação da proposta apresentada;
- No referido requerimento para pagamento em prestações deve constar o plano de
pagamento acordado.
Salvo convenção em contrário e sem prejuízo da constituição de outras garantias, a
penhora, já realizada, mantém-se até integral pagamento (vide art.º 883.º).
Perante a falta de pagamento de qualquer prestação, nos termos acordados, o
exequente pode requerer o prosseguimento da execução (cfr. art.º 884.º).
Se estiver a correr termos algum processo de verificação de créditos, a sustação da
execução ficará sem efeito se algum credor reclamante, cujo crédito esteja vencido,
requerer o prosseguimento da execução para satisfação do seu crédito (cfr. art.º 885º, n.º 1).
Ao exequente é facultado o direito de denúncia do acordo, a exercer no prazo de 10
dias após a notificação. Se exercer esse direito, o remanescente do seu crédito será satisfeito

262
Manual de apoio ao ingresso - 2013
pelo produto da venda do bem penhorado. Se não o exercer, perde o direito de garantia
constituído a seu favor pela penhora e, caso o credor tenha exercido o direito de prosseguir
com a execução, assumindo a posição de exequente, verá a ação executiva prosseguir apenas
para satisfação do seu crédito e os restantes credores reclamantes com garantia real sobre o
bem penhorado (cfr. art.º 885º, n.º s 2 a 4).

 Modalidades de venda – art.º s 886º e seguintes

O n.º 1 do art.º 886.º prevê as seguintes modalidades de venda:

Proposta em carta fechada (art.º s 889.º e segs.);


Venda em bolsas de capitais ou mercadorias (art.º 902.º);
Venda direta a pessoas ou entidades que tenham direito a adquirir os bens (art.º 904º);
Venda por negociação particular (art.º s 904.º e 905.º);
Venda em estabelecimento de leilões (art.º 906º);
Venda em depósito público ou equiparado ( art.º 907-º-A). Venda em leilão eletrónico -
(art.º 907ºB).

Quando não esteja prevista na lei, cabe ao agente de execução decidir sobre a
modalidade da venda, depois de ouvidos os interessados (cfr. art.º 886.º-A), devendo a
decisão ter como objeto as seguintes questões:

- modalidade da venda;
- valor base dos bens a vender;
- eventual formação de lotes, com vista à venda em conjunto dos bens
penhorados.

A fixação do valor base dos bens imóveis é:

- Igual ao seu valor patrimonial tributário, nos termos de avaliação efetuada há


menos de três anos;
- Igual ao seu valor de mercado, nos restantes casos.

263
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Quanto aos restantes bens, compete ao agente de execução fixar o seu valor base de
acordo com o valor de mercado, podendo realizar as diligências necessárias à determinação
do valor, quando considerá-lo vantajoso ou algum dos interessados lho solicitar.

A decisão do agente de execução é pelo mesmo notificada a todos os interessados, os


quais poderão manifestar a sua discordância perante o juiz, que apreciará por decisão
insuscetível de recurso (cfr. art.º 886.º-A, n.º s 3 a 5).

 Venda mediante proposta em carta fechada - art.ºs 889.º e segs.

A lei privilegia este tipo de venda para os imóveis penhorados que não hajam de ser
vendidos de outra forma e para os estabelecimentos comerciais de valor superior a 500 UCs,
afastando desta modalidade de venda os bens móveis penhorados (cfr. art.ºs 889.º, n.º 1,
901.º-A).

Assim, os imóveis são vendidos por propostas em carta fechada (cfr. art.ºs 889.º, n.º
1 e 895.º, n.º 2), sem prejuízo de poderem sê-lo noutras modalidades, conforme mais adiante
se verá.

Decidida a venda de imóveis por propostas em carta fechada, cabe ao juiz designar dia e
hora para a abertura das propostas, competindo o agente de execução ou oficial de justiça,
consoante, publicitá-la por meio de um edital afixado na porta do prédio a vender e de um
anúncio na página informática do tribunal157, com a antecedência mínima de dez dias (cfr.
art.º 890.º, n.º 1).
O valor da venda a anunciar é o correspondente a 85% do valor base dos bens (cfr. art.º
889.º, n.º 2)

Esta venda efetua-se no tribunal da execução, salvo se o juiz, oficiosamente ou a


requerimento dos interessados, determinar que a mesma deva ter lugar no tribunal da
localização dos bens (cfr. art.º 889.º, n.º 3).
O edital é afixado pelo agente de execução ou oficial de justiça, consoante o caso, na
porta dos prédios urbanos a vender (cfr. art.º 890.º, n.º 1-b). Foram suprimidos os editais à
porta do tribunal e na junta de freguesia da situação dos bens.

157
http://www.citius.mj.pt/Portal/consultas/ConsultasVenda.aspx
A reforma de 2008 suprimiu os editais à porta do tribunal e na junta de freguesia do prédio a vender.

264
Manual de apoio ao ingresso - 2013
O anúncio em página informática de acesso público no endereço eletrónico
http://www.tribunaisnet.mj,pt – cfr. art.º 890.º, n.º 1-a) e n.º 1 do art.º 35.º da Portaria n.º
331-B/2009, de 30 de Março Quer o anúncio quer o edital deverão conter;

A identificação do processo de execução;


b) O nome do executado;
A identificação do agente de execução;
As características do bem;
A modalidade da venda;
O valor para a venda;
O dia, hora e local de abertura das propostas;
O local e horário fixado pelo depositário para facultar a inspeção do bem;
Menção, sendo caso disso, ao facto de a sentença que serve de título executivo estar
pendente de recurso ou de oposição à execução ou à penhora.
Deverão, ainda, conter quaisquer outras informações relevantes, designadamente, os
ónus e ou encargos que incidirem sobre o bem, assim como, sempre que possível,
fotografia que permita identificar as características exatas do bem e o seu estado de
conservação.

Além dos meios publicitários atrás mencionados, são admissíveis outros meios de
divulgação da venda, como, por exemplo, os jornais - cfr. art.º 890 nº 2

Os bens a vender devem ser mostrados pelo depositário designado (cfr. art.º 839.º) a
quem os queira examinar (cfr. art.º 891.º), podendo este fixar as horas para o efeito, devendo
o agente de execução fazer esta menção no anúncio e edital.

Para que se possa incluir na publicidade a dar à venda, do local e horário fixado para a
inspeção dos bens a vender, deverá o agente de execução notificar o depositário para esse
fim, notificação esta que poderá juntar-se à da decisão sobre a modalidade da venda nos
termos do art.º 886.º-A. Devem ser notificados os titulares de direito de preferência legal
ou convencional com eficácia real sobre os bens penhorados, informando – os do dia, hora e
local para a abertura das propostas (cfr. art.º 892º, n.º s 1 e 2).

Nota:

Às notificações aplicam-se as regras referentes à citação, isto é, por


carta registada com aviso de receção. A não notificação de algum
preferente não impede de propor ação de preferência nos termos do art.º
1410.º do C. Civil.

265
Manual de apoio ao ingresso - 2013
As propostas são entregues na secretaria do tribunal (até ao momento de abertura) e
abertas pelo agente de execução ou pelo oficial de justiça, consoante os casos, na presença
do juiz, devendo assistir à abertura o agente de execução, podendo também assistir, se
quiserem, o executado, o exequente, credores reclamantes que detenham garantias reais
sobre os bens a vender e os proponentes (cfr. art.º 893º, n.º 1).

O proponente deve juntar à proposta, como caução, um cheque visado, à ordem da


secretaria ou do agente de execução, consoante as diligências de execução sejam realizadas
por oficial de justiça ou por agente de execução (agente de execução ou advogado) no
montante correspondente a 5% do valor anunciado para a venda, ou garantia bancária no
mesmo valor (cfr. art.º 897.º, n.º 1).158

Se o preço mais elevado for oferecido por mais de um proponente abre-se logo licitação
entre eles, salvo se declararem que pretendem adquirir os bens em compropriedade (cfr.
art.º 893.º, n.º 2).

Após abertura das propostas da licitação ou do sorteio a que haja lugar, são as mesmas
apreciadas pelo exequente, executado e credores que hajam comparecido. Se nenhum estiver
presente, considera-se aceite a proposta de maior valor (cfr. art.º 894.º, n.º 1).

Aceite alguma proposta, é o proponente notificado para, no prazo de 15 dias, depositar


na execução ou numa instituição de crédito, consoante as diligências sejam efetuadas por
oficial de justiça ou agente de execução (solicitador de execução ou advogado), a totalidade
ou parte do preço em falta com a cominação prevista no art.º 898.º (cfr. art.º 897.º, n.º s 1 e
2).

Não serão aceites as propostas de valor inferior ao valor anunciado, salvo se o


exequente, o executado e todos os credores com garantia real sobre os bens a vender
acordarem na sua aceitação (cfr. art.º 894.º n.º 3).

Se o proponente não depositar o preço dentro do prazo atrás referido, o agente de


execução ou o oficial de justiça, ouvidos os interessados na venda, poderá:

Determinar que a venda fique sem efeito e aceitar a proposta de valor imediatamente
inferior;
Determinar que a venda fique sem efeito e efetuar a venda dos bens através da
modalidade mais adequada, não podendo ser admitido o proponente ou preferente
remisso a adquirir novamente os mesmos bens e perdendo o valor da caução
constituída nos termos do n.º 1 do artigo 897.º;

158
No regime anterior ao Dec. Lei n.º 226/2008, o montante da caução era o de 20% calculado sobre o valor base
dos bens.

266
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Liquidar a responsabilidade do proponente ou preferente remisso, devendo ser
promovido perante o juiz o arresto em bens suficientes para garantir o valor em falta,
acrescido das custas e despesas, sem prejuízo de procedimento criminal e sendo aquele,
simultaneamente, executado no próprio processo para pagamento daquele valor e acréscimos
Em suma, ouvidos todos os interessados na venda, poderá ser determinado que aquela fique
sem efeito, aceitando-se a proposta de valor imediatamente inferior, não perdendo o
proponente, nesta situação, o valor apresentado como caução.

No entanto, se o agente de execução determinar que os bens voltem a ser vendidos


mediante novas propostas em carta fechada ou por negociação particular, o proponente
perderá o valor da caução (cfr. art.º 898.º, n.º 1 b).

Auto de abertura e aceitação de propostas (cfr. art.º 899.º)

Antes da adjudicação do bem, o agente de execução ou oficial de justiça, consoante o


caso, deve interpelar os titulares de direito de preferência que estejam presentes para que
declarem se querem exercer o seu direito (cfr. art.º 896.º, n.º 1).
Caso se apresente mais de uma pessoa com igual direito de preferência, abre-se
licitação entre elas, sendo aceite o lance de maior valor (cfr. n.º 2 do art.º 896.º).

Aos preferentes que pretendam exercer esse direito aplicam-se as regras, devidamente
adaptadas, do art.º 897.º, n.º 1, isto é, a caução dos 5% sobre o valor anunciado para a
venda, devendo depositar o remanescente do valor no prazo de 15 dias, à ordem da
secretaria ou em instituição bancária à ordem do agente de execução, consoante as
diligências sejam efetuadas por oficial de justiça ou agente de execução.

Finalmente, após o pagamento total do preço e satisfeitas as obrigações fiscais


inerentes à transmissão, são os bens adjudicados e entregues ao adquirente, mediante a
passagem do título de transmissão pelo agente de execução (cfr. art.º 900.º, n.º 1).

Por fim, o agente de execução comunica à conservatória a transmissão operada pela


venda para o respetivo averbamento de cancelamento dos registos que houverem de ser
cancelados (cfr. art.ºs 824.º, n.º 2 do CC, 101.º, n.º 5 do Cód. Registo Predial, 900.º, n.º 2 do
CPC).

O agente de execução ou oficial de justiça lavram o auto de abertura e aceitação das


propostas, no qual descreverão todas as incidências e vicissitudes.

267
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 Venda por negociação particular – art.º s 904.º e 905.º

A venda por negociação particular prevista no art.º 904.º pode surgir nas seguintes
situações:

- quando o exequente propõe um comprador ou um preço, e após ouvidos o


executado e demais credores é aceite;
- quando o executado propõe um comprador ou um preço, e ouvidos o exequente
e demais credores é aceite;
- quando haja urgência na realização da venda, e esta for reconhecida pelo juiz
como por exemplo bens que se deteriorem ou depreciem;
- quando se frustre a venda por proposta em carta fechada (cfr. art.º 895º, n.º 2);
- quando se frustre a venda em depósito público ou equiparado por falta de
proponentes ou não aceitação das propostas, e, atenta a natureza dos bens, tal
seja aconselhável;
- quando se frustre a venda em leilão eletrónico, por falta de proponentes.

Esta venda é efetuada por uma pessoa especialmente designada para o efeito pelo
agente de execução, podendo ele próprio ser encarregado da venda (nunca o oficial de
justiça) por acordo de todos os credores e sem oposição do executado, ou, na falta de acordo
ou havendo oposição, por determinação do juiz. Para a venda de imóveis é preferencialmente
designado um mediador oficial (cfr. art.º 905.º, n.º s 1 a 3).

O preço oferecido deve ser imediatamente pago na sua totalidade antes de lavrado o
instrumento da venda (cfr. art.º 900.º, n.º 1).

 Venda estabelecimento de leilão – art.º 906.º

A venda em estabelecimento de leilão é efetuada quando:

- O exequente, executado ou credor reclamante com garantia sobre o bem, o proponha


e não haja oposição dos restantes;

- Tratando-se de bens móveis o agente de execução opte por esta modalidade nos
termos da al. b) do artigo em anotação.

Esta modalidade de venda abrange bens móveis e imóveis e é efetuada pelo pessoal do
estabelecimento de leilão.

268
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Cabe ao gerente do estabelecimento depositar o preço líquido em instituição de
crédito, à ordem do agente de execução ou, nos casos em que as diligências de execução são
realizadas por oficial de justiça, da secretaria, e fazer chegar ao processo o respetivo
conhecimento, nos cinco dias posteriores à realização da venda, sob cominação das sanções
aplicáveis ao infiel depositário (cfr. art.º 854.º).

 Venda em depósito público ou equiparado

(art.º 907.º-A do CPC e art.ºs 36.º a 44.º da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março)

É uma nova modalidade de venda que está vocacionada para a venda de bens que
tenham sido removidos para o depósito e que não devam ser vendidos de outra forma.159

- De acordo com o art.º 37.º, n.º 1 da Portaria 331-B/2009, salvo disposição legal em
contrário, os bens a remover para depósito público ou equiparado são:
- Bens móveis não sujeitos a registo;
- Bens móveis sujeitos a registo, quando seja necessária ou conveniente a sua
remoção efetiva, desde que a natureza do bem não seja incompatível com a
estrutura do armazém.

Da conjugação daquela disposição com o n.º 3 do art.º 851.º, resulta que, após a
penhora e a imobilização do veiculo automóvel, este só será removido para o respetivo
depósito se e quando o agente de execução achar conveniente.

Esta venda será feita mensalmente, após ser publicitada nos termos do n.º 2 do art.º
907.º-A do C.P.C.

Os bens que se encontrem em depósito público ou equiparado são vendidos desde que a
execução não se encontre suspensa e assim que a venda seja processualmente possível.
Excetuam-se os bens que possam ser vendidos de forma antecipada nos termos do artigo
886.º-C do CPC.

159
Por depósito público entende-se qualquer local de armazenagem de bens que tenha sido afeto, por despacho do
diretor-geral da Administração da Justiça, à remoção e depósito de bens penhorados no âmbito de um processo
executivo.

Por depósito equiparado a depósito público entende-se qualquer local de armazenagem de bens que tenha sido
afeto por um agente de execução à remoção e depósito de bens penhorados no âmbito de um processo executivo e
cuja propriedade, arrendamento ou outro título que lhe confira a utilização do local ou dos serviços de
armazenagem seja registado por via eletrónica junto da Câmara dos Solicitadores.

269
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Cabe ao depositário disponibilizar aos agentes de execução, por escrito ou em formato
eletrónico que permita um registo temporário da informação, todas as informações relativas à
periodicidade das vendas, datas em que devem ser realizadas e modo de realização de cada
venda, bem como os bens que devem ser vendidos e o respetivo valor base (cfr. art.º 40.º da
Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março).

A venda em depósito público ou equiparado só pode ser realizada mediante:

- Regime de leilão eletrónico;


- Regime de leilão;
- Negociação particular;
- Venda direta a pessoas ou entidades que tenham um direito reconhecido a adquirir os
bens

Os bens removidos para depósito público ou equiparado são preferencialmente


vendidos em leilão eletrónico e, frustrando-se a venda nesta modalidade, serão vendidos
em leilão.

Frustrada a venda em leilão eletrónico e em leilão, os bens poderão ser vendidos


mediante negociação particular.

 Venda em regime de leilão (cfr. art.º 41.º, n.º 1-b) da Portaria


n.º 331-B/2009)

A venda em leilão deve ser realizada em local aberto ao público, preferencialmente no


próprio local do depósito, salvo se a natureza da venda ou dos bens aconselhar outro local
específico.

Para além da publicidade prevista n.º 2 do artigo 907.º-A, esta venda deve ser também
publicitada na página eletrónica do depositário.

Os interessados têm o direito de inspecionar os bens a vender, no local onde estes se


encontrarem, entre a data de publicitação e a data de realização da venda.

A venda em leilão tem periodicidade semanal ou mensal de acordo com o volume de


bens, sendo depositário o responsável por essa organização.

A venda deve ser realizada na presença do agente de execução, sempre que possível,
devendo os interessados na aquisição dos bens inscrever-se junto do depositário até ao início
da realização da venda.

270
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Após a identificação de cada bem ou lote de bens podem os presentes apresentar
verbalmente propostas de aquisição, em regime de leilão. Ao interessado que apresentar a
proposta mais elevada é a quem o bem é vendido, devendo de imediato pagar o preço. O
titular do depósito tem dois dias para entregar ao agente de execução o valor apurado na
venda;

Caso o agente de execução não possa estar presente, devem ser definidas as condições
de aceitação da venda e entregá-las ao depositário.

Os bens adquiridos devem ser entregues ao respetivo adquirente no prazo máximo de


cinco dias, após a entrega ao agente de execução do produto da venda;

Do resultado da venda é lavrada ata, que deve ser assinada pelo agente de execução
ou agentes de execução, pelo adquirente e pelo depositário.

É aplicável à venda em regime de leilão o disposto no n.º 2 do artigo 889.º do Código


de Processo Civil.

 Venda em leilão eletrónico – art.º 907.º-B 160

É uma nova modalidade de venda, que foi introduzida pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de
20 de Novembro e que exclui do seu âmbito os bens que devam ser vendidos em bolsa ou
através de venda direta (art.ºs 902º e 903º do CPC).

A venda efetuada nesta modalidade abrange as seguintes situações:

a) quando o agente de execução, após ouvir o executado, exequente e os credores


com garantia real sobre os bens a vender e estes não se oponham no prazo de 5 dias;

b) quando se frustre a venda por proposta em carta fechada;

c) quando se frustre a venda em depósito público ou equiparado

d) quando seja anulada a venda em estabelecimento de leilão.

` Nos casos referidos nas alíneas b) a d) é também pressuposto que o agente de


execução entenda que a venda em leilão eletrónico é preferível à venda por negociação
particular ou à venda por propostas em carta fechada.

 Direito de remição

160
Esta modalidade de venda carece de regulamentação através de portaria do membro do Governo responsável
pela área da justiça (cfr. art.º 907.º-B, n.º 1).

271
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Este direito é concedido ao cônjuge do executado que não esteja separado
judicialmente de pessoas e bens e seus parentes em linha reta e consiste num direito especial
de preferência (cfr. art.º 912.º).

Este direito de remição prevalece sobre o direito de preferência (cfr. art.º 914.º, n. 1).

 Extinção da execução

Regra geral a execução extingue-se pelo pagamento coercivo da quantia exequenda e


legais acréscimos.

Este pagamento, como atrás foi referido, pode revestir a forma de venda, adjudicação
ou consignação de rendimentos. (cfr. art.ºs 875.º n.º 6 e 881.º n.º 1).

Mas, pode o executado ou terceiro fazer extinguir o processo executivo através de um


ato voluntário (cfr. art.º 916º, n.º 1).

O Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro, veio aditar ao art.º 919.º outras formas
de extinção do processo executivo a saber:

Extinção nos termos do art.º 832.º, nº 3, ou seja, quando contra o executado


tenha sido movida execução anterior sem integral pagamento e o agente de
execução não encontra bens, nem o exequente os indica Extinção nos termos
do art.º 833.º-B, n.º 6, ou seja, quando o agente de execução não tiver
encontrado bens penhoráveis e o exequente e executado não os tiverem
indicado.
Ocorrida uma causa de extinção da execução, esta extingue-se, devendo todos os
intervenientes serem notificados dessa extinção (cfr. art.º. 919.º, n.º 2).

Compete ao agente de execução, após notificação da extinção a todos os


intervenientes, proceder à comunicação, por via eletrónica, ao tribunal a respetiva extinção,
assegurando o sistema informático o arquivamento automático.

Nota:

Perante a nova redação dada ao n.º 3 do art.º 919.º, afigura-se-nos


que a extinção da ação executiva, bem como o arquivamento do
processo, não carecem de intervenção judicial.

272
Manual de apoio ao ingresso - 2013
A execução extinta pode renovar-se nas situações previstas no art.º 920º, n.º s 1 e 2 a
requerimento do exequente, quando o título tenha um trato sucessivo, isto é, para cobrança
de prestações vincendas, ou por qualquer credor, cujo crédito esteja vencido, podendo este,
no prazo de 10 dias a contar da data em que declare extinta a execução,

Requerer o prosseguimento da mesma, para pagamento do seu crédito, o qual vai


assumir a posição de exequente.

O exequente pode requerer a renovação da instância executiva, quando a mesma foi


extinta nos termos do n.º 3 do art.º 832.º ou n.º 6 do art.º 833.º-B e o mesmo proceda à
indicação de bens penhoráveis, casos em que não se repetirão as citações, aproveitando -se
todos os atos que tiverem sido praticados até ao momento da extinção da execução.

Também, por iniciativa do adquirente dos bens penhorados, quando a posse efetiva
dos mesmos seja dificultada pelo detentor, pode haver renovação da instância executiva, nos
termos previstos no art.º 901.º.

O processo executivo pode ser anulado no todo, aproveitando-se apenas o


requerimento executivo ou parte, nos termos dos art.ºs 921.º, n.º 1 e 864.º, n.º 11, sendo que
a nulidade pela falta de citação pode ser requerida a todo o tempo.

Efetuada a conta e pagas as custas, o agente de execução notifica a extinção da


instância executiva (com cópia desta declaração – art.ºs 229.º e 919.º) ao exequente,
executado, credores e outros intervenientes acidentais que o devam ser, como, por exemplo,
o depositário.
Decorridos 10 dias (cfr. art.º 153.º do CCJ) após a notificação (via postal registada –
art.º 254.º e 255.º), e não sendo apresentada qualquer reclamação (art.º 809.º, n.º 1-c) CPC),
o processo vai ao "visto fiscal" do Ministério Público e depois à "correição" do juiz, após o que
estará em condições de ser remetido para o arquivo – art.º 126.º, n.º 2 da Lei n.º 3/99, de 13
de Janeiro.

Nota:
Dispõe o n.º 3 do art.º 919.º, na redação que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20
de Novembro, que o sistema informático assegura o arquivo automático e eletrónico do processo,
sem necessidade de intervenção judicial ou da secretaria.
Temos sérias reservas quanto à possibilidade de aplicação prática da referida norma.
Com efeito, da sua leitura parece resultar o arquivamento automático do processo, sem o
“visto fiscal” do Ministério Público e a “correição” do juiz, à margem do disposto no art.º 126.º, n.º
2 da Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro (LOFTJ).

273
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Se assim for, como se poderá compaginar este automatismo com a possibilidade que se abre,
sempre, às partes de reclamarem dos atos do agente de execução, a realizar, no prazo de 10 dias, a
contar da notificação da declaração de extinção?
Assim sendo, parece-nos difícil que a execução se possa “arquivar” sem, pelo menos, decorrer
o referido prazo.

A lista pública de execuções


[Art.ºs 16.º-A, 16.º-B e 16.º-C do Decreto-Lei n.º 201/2003, de 10/09, e

Portaria n.º 313/2009, de 30 de Março]

A lista pública de execuções visa a disponibilização através da Internet do rol de


execuções extintas

pelo pagamento parcial da quantia exequenda ou


por não terem sido encontrados bens penhoráveis.

Extinta a execução, facto que ocorre após o decurso do prazo de 10 dias para
reclamação da decisão de extinção do agente de execução, inicia-se automaticamente o
procedimento de inclusão do executado na lista pública de execuções.

Nesta altura, devem ser inseridos em “detalhes do processo” os seguintes tópicos:

Decisão final e
um dos seguintes descritivos, consoante os casos:
Extinção por pagamento parcial ou
Extinção por falta/insuficiência de bens.

O executado é imediatamente notificado pelo agente de execução161 de que dispõe


do prazo de 30 dias162 para pagar a quantia em dívida ou para aderir a um plano de

161
Esta notificação compete ao Oficial de Justiça unicamente nas execuções em que tenha sido designado para
praticar atos de agente de execução.

274
Manual de apoio ao ingresso - 2013
pagamento da dívida, elaborado com o auxílio de uma entidade reconhecida pelo Ministério
da Justiça (cfr. art.ºs 16.º-A e 16.º-B do Decreto-Lei n.º 201/2003, de 10 de Setembro, na
redação dada pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro, e 3.º da Portaria n.º
312/2009, de Março).

Esta notificação obedece ao modelo anexo à referida portaria (cfr. art.º 3.º, n.º 3), que
está disponível no Habilus, apenas para utilização nos casos em que caiba ao Oficial de
Justiça praticar atos de agente de execução:

Nas execuções cíveis, a notificação está disponível no bloco dos atos


referentes a “Sentença (Final)”;
Nas execuções do trabalho o documento encontra-se no bloco de atos
respeitantes a “Suspensão/Sustação/Extinção”.

162
Afigura-se-nos estarmos perante um prazo de natureza processual, porque decorrente de um ato praticado no
âmbito do processo executivo com o objetivo de tornar efetiva a prestação documentada no título executivo. O
facto de a notificação se desenrolar depois de extinta a instância executiva, tendo em conta que dela resultam
uma série de atos processuais, nomeadamente, o pagamento e a inserção, suspensão ou supressão da lista pública
de execuções, reforça a ideia de estarmos perante um prazo processual, caracterizado pela contagem de acordo
com a disciplina do artigo 144.º do Código de Processo Civil.

275
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Quando a execução se extinguir sem o executado ter sido citado (cfr. art.º 832.º, n.º 3
CPC, na redação dada pelo Dec. Lei n.º 226/2008), afigura-se-nos que esta notificação deve
ser realizada com as formalidades da citação pessoal, por ser a primeira comunicação ao
executado sobre a pendência da ação (cfr. art.º 228.º, n.º 1).

Após a efetiva notificação do executado, decorrerá o prazo de 30 dias163 previsto no n.º 1


do art.º 3.º, acrescido da respetiva dilação nos termos do artigo 252.º-A do CPC.

Quando a extinção ocorrer após o executado ter sido regularmente citado para a
execução, a notificação em causa far-se-á por via postal registada, presumindo-se feita no
terceiro dia posterior ao do registo, ou no primeiro dia útil seguinte a esse, quando o não for
(art.º 254.º, n.º 3 CPC), ainda que a carta, enviada para o domicílio correto, tenha sido
devolvida164.

Adesão a um plano de pagamentos

Se, decorrido o prazo de 30 dias após a notificação, o executado aderir a um plano de


pagamentos,

deverá proceder-se à atualização dos detalhes do processo (prevalentes


durante o cumprimento do plano) com a inserção da “fase” processual de
Encerramento e
do seguinte descritivo:

163
Trata-se de um prazo processual sujeito às regras do artigo 144.º do CPC.
164
Cfr. art.º 254.º, n.º 4 do CPC.
- Lebre de Freitas, Código de Processo Civil Anotado, 1.º volume, pgs. 446/448.
- Ac. TRPorto n.º JTRP00042250, de 17/02/2009.
- Sobre a constitucionalidade da presunção da notificação cfr. Acórdão do Tribunal Constitucional de 06/12/95,
publicado no DR, II Série, n.º 70, de 22/03/96.

276
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Adesão ao Plano de pagamentos
Os detalhes inseridos refletem-se automaticamente no histórico e contribuem para a
identificação do “Estado” do processo.

Cumprido o plano e paga a dívida, atualizam-se novamente os detalhes do processo,


visto que o processo se encontra findo, desde a inserção da decisão final por adesão ao plano
de pagamentos.

Há, pois, necessidade de reiniciar o processo para ser inserida uma nova decisão, desta
vez a “extinção por pagamento integral”, o que só deverá acontecer depois de cumprido o
disposto no artigo 919.º CPC.

277
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Na eventualidade de o devedor não cumprir o plano, a secção de processos, para
além dos atos a praticar na retoma dos normais trâmites processuais após conhecimento, nos
autos, do incumprimento, deve inserir novos detalhes de “encerramento”.

Se o devedor deixar de cumprir o plano de pagamentos estabelecido, o registo suspenso


nos termos anotados no parágrafo anterior será, pelo agente de execução, (re)incluído na
lista pública de execuções, após receção duma comunicação eletrónica do exequente ou da
entidade credenciada, comunicação que será igualmente enviada ao GRAL – Gabinete para a
Resolução Alternativa de Litígios.

2.º - O agente de execução efetua automática e eletronicamente a inclusão dos dados


na lista pública de execuções.

Como?

Tratando-se de Oficial de Justiça designado para praticar atos de agente de execução,


bastará selecionar o executado, clicar com o botão direito do rato e selecionar as opções
“Lista Pública” e “Inserir na Lista”.

Em seguida, abre-se uma caixa de diálogo com um pedido de confirmação, o que


permite ao utilizador, em caso de engano, recuar no procedimento.

Após clicar em “Sim” na caixa de diálogo, abre-se uma nova janela para inserção do
valor em dívida no momento da extinção, que pode não coincidir com o pedido inicialmente
formulado.

Importa, pois, atentar neste pormenor.

278
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Após validação, os dados abaixo indicados serão automaticamente enviados para a Lista
Pública de Execuções, permanentemente disponível e de livre acesso no endereço eletrónico -
http://www.citius.mj.pt/Portal/Execucoes/ListaPublicaExecucoes.aspx.

A inclusão do executado na lista pública efetua-se com base nos seguintes elementos
(art.º 5.º, n.º 2 da Portaria):

Nome do executado;
Número de identificação fiscal do executado (NIF) ou, apenas nos casos em que não
exista ou não seja conhecido o número de identificação fiscal do executado, o seu
número de identificação civil, de passaporte ou de licença de condução;
Valor em dívida no momento da extinção da execução;
A indicação de que o processo executivo se extinguiu com pagamento parcial ou por
não terem sido encontrados bens penhoráveis e o tribunal onde correu a execução;
Data da inclusão na lista.

As pesquisas na lista podem ser efetuadas através do nome do executado, do seu NIF, do
número de identificação civil, passaporte ou licença de condução, ou ainda, pelo número do
processo executivo e tribunal onde ocorreu a execução (art.º 5.º, n.º 3 da Portaria n.º
313/2009).

279
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Os registos referentes a execuções contra executados que adiram e cumpram os
respetivos planos de pagamentos das dívidas elaborados por entidades para o efeito
credenciadas pelo Ministério da Justiça são suspensos da lista pública de execuções mediante
comunicação eletrónica ao agente de execução e ao Gabinete para a Resolução Alternativa de
Litígios (GRAL).

Esta ação implica a retirada da lista pública através de um procedimento idêntico ao


da inserção, selecionando-se o “executado”, “Lista Pública” e “Retirar da Lista”.

Contudo, se o devedor deixar de cumprir o plano de pagamentos estabelecido, o


registo suspenso nos termos anotados no parágrafo anterior será, pelo agente de execução,
(re)incluído na lista pública de execuções, após receção duma comunicação eletrónica do
exequente ou da entidade credenciada, comunicação que será igualmente enviada ao GRAL –
Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios.

O cumprimento da obrigação pelo devedor implica a exclusão da lista pública de


execuções, assim que ao agente de execução tal facto for comunicado pelo exequente ou
pelo próprio executado (neste caso, depois da confirmação do exequente), ou ainda pela
entidade credenciada, que comunicará igualmente ao GRAL.

Todos os registos constantes da lista pública de execuções referentes a ações


executivas extintas há mais de cinco anos são oficiosa e automaticamente retirados e
destruídos – art.º 6.º, n.º 4 da Portaria.

A alteração ou a retificação dos dados inscritos na lista pública de execuções pode ser
requerida pelo titular dos dados, ou seja, pelo executado, através de formulário eletrónico
para o efeito disponibilizado no sítio Internet www.tribunaisnet.mj.pt ou de requerimento em
suporte de papel entregue diretamente na secretaria do tribunal da execução, ou para ele
enviado por telecópia ou por correio registado. O pedido pode ser igualmente formulado pelo
mandatário do executado através do CITIUS (art.º 8.º da Portaria).

280
Manual de apoio ao ingresso - 2013
O requerimento tem carácter urgente, devendo a secretaria apreciá-lo no prazo
máximo de dois dias úteis (a contar da entrega na secretaria, em suporte informático ou em
suporte de papel) e notificar o resultado ao requerente, efetuando as necessárias alterações
e retificações (cfr. art.ºs 16.º-B do Dec. Lei n.º 201/2003 e 8.º da Portaria n.º 313/2009).

A notificação atrás referida será enviada para o endereço de correio eletrónico indicado
pelo interessado no formulário eletrónico ou por carta registada para o respetivo domicílio,
no caso de o requerimento ter sido apresentado em suporte de papel

Nota:

Se a secretaria não apreciar o requerimento nos dias úteis, os dados do


requerente, identificados na lista, serão automática e eletronicamente
dela retirados até que a secretaria se pronuncie, incluindo-se o
processo na comunicação de atrasos a efetuar semanalmente ao
Conselho Superior da Magistratura e ao Conselho dos Oficiais de Justiça
(art.ºs 16.º-B do Dec. Lei n.º 201/2009 9.º e 10.º da Portaria).

As notificações ao mandatário do exequente serão preferencialmente efetuadas


eletronicamente através do CITIUS (art.º 9.º da Portaria 313/2009). Porém, se o mandatário
tiver apresentado qualquer peça processual ou documento através do CITIUS ou se tiver
declarado, no sistema, intenção de receber notificações por via eletrónica, ser-lhe-ão as
mesmas assim efetuadas (art.º 21.º-A da Portaria n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro, aditado
pela Portaria n.º 1538/2008, de 30 de Dezembro).

Extinção sem pagamento integral


Lista Pública de Execuções – Portaria 313/2009

Agente de execução
notifica executado e mandatário
- art.º 3.º n.s 1 e 2.

No prazo de 30 dias O executado nada faz no prazo


paga ou adere a um de 30 dias.
plano de pagamentos.
alteração/ rectificação
art.º 8.º. Inclusão na lista
Durante o pública de
cumprimento do execuções pelo
plano de Secretaria agente de
pagamentos não há pronuncia-se no execução.
inclusão na lista. prazo de 2 dias.

Se não se pronuncia nesse prazo,


suspensão automática da inscrição e
comunicação ao COJ***e CSM.

281
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 PROCESSO EXECUTIVO PARA ENTREGA DE COISA CERTA

Este tipo de execução tem lugar sempre que o título executivo tenha por fim a entrega
de uma coisa (objeto da obrigação). Não se traduz na execução do património do devedor
para garantia e satisfação dos direitos do credor, mas sim numa obrigação de entrega de coisa
certa, ainda que esta não exista ou não venha a ser encontrada, podendo neste caso haver
uma conversão deste tipo de execução.

Assim, neste processo executivo o credor não requer a execução do património do


devedor (cfr. art.º 817.º do Cód. Civil), mas, sim, a entrega judicial da coisa devida (cfr. art.º
827.º do Cód. Civil).

O tribunal competente para a execução é o da área onde a coisa se encontre – art.º


94.º, n.º 2.

Esta execução rege-se, em primeira linha, pelas disposições próprias, e a título


subsidiário pelas disposições gerais e as relativas à execução para pagamento de quantia
certa – art.ºs 466.º, n.º 2 e 801.º, n.º 1.

Apresentado o requerimento executivo e após a distribuição (cfr. art.º 209.º e segs.) o


executado é citado para, no prazo de 20 dias, fazer a entrega (cfr. art.º 928.º), sob pena de
esta ser efetuada coercivamente pelo agente de execução (cfr. art.º 830.º, n.º 1).

O executado poderá deduzir oposição pelos motivos especificados dos art.ºs 814.º a
816.º, com as devidas adaptações, e com fundamento em benfeitorias a que tiver direito (cfr.
art.º 929.º, n.º 1), devendo concluir com um pedido líquido (cfr. art.º 805.º).

A oposição à execução suspende a execução, salvo se o exequente prestar caução


quanto às benfeitorias (cfr. art.º 929º, n.º 2).

Mas se a oposição tiver por fundamento outra situação que não as benfeitorias, só
suspende se o executado prestar caução.

Findo o prazo da citação sem que haja oposição à execução ou esta for julgada
improcedente e o executado não fizer voluntariamente a entrega da coisa, segue-se a
apreensão e entrega judicial (cfr. art.º 930º, n.º 1). Aplicam-se as regras da penhora com as
necessárias adaptações.
Se os bens a entregar forem móveis, o agente de execução faz a entrega da coisa.
Sendo imóveis, o agente de execução investe o exequente na sua posse (cfr. art.º 930º, n.º s
2 e 3).

Quando não seja encontrada a coisa, observam-se as regras da liquidação (cfr. art.ºs
378º, 380º e 805º) com as necessárias adaptações.

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Manual de apoio ao ingresso - 2013
Feita a liquidação procede-se à penhora de bens necessários (cfr. art.º 821º, n.º 3)
seguindo-se os demais termos do processo executivo para pagamento da quantia certa (cfr.
art.º 931º).

Execução para Entrega de Coisa Imóvel Arrendada (EPECIA)

A reforma introduzida pela Lei n.º 31/2012, de 14 de Agosto, ao NRAU (Lei n.º 6/2006,
de 27 de Fevereiro), veio restringir o elenco de títulos executivos que podem servir de base à
execução para entrega de coisa imóvel arrendada.

Com efeito, tirando a decisão judicial no âmbito da ação de despejo prevista no art.º
14.º do NRAU, parece que os restantes títulos anteriormente previstos passaram a ter
acolhimento no Procedimento Especial de Despejo (PED) previsto nos art.ºs 15.º a 15.º-S do
NRAU, encontrando-se aí os mecanismos tendentes à efetivação da desocupação do locado.

Citação
Nestas execuções há sempre lugar à citação prévia do executado (art.º 928.º do CPC),
podendo haver ou não lugar a despacho liminar face ao disposto no art.º 812.º-C n.º 1,
aplicável por força dos art.º 466.º n.º 2, 801.º do C.P.C.
Não haverá despacho liminar se o título for uma sentença (art.º 812.º-C n.º 1 al. a),
do C.P.C.) ou se o título se enquadrar no art.º 812.º -C, n.º 1-c) do C.P.C.
Há despacho liminar nos restantes títulos, ou quando o agente de execução, nos
termos do art.º 812.º-D, al. e), suscitar a intervenção do juiz, por duvidar da suficiência do
título.

o Oposição à execução

O executado tem o prazo de 20 dias, a contar da citação, para deduzir oposição à


execução, por apenso, seguindo os termos do processo sumário declarativo (art.ºs 813.º, n.º 1
e art.º 817.º, n.º 1).
A oposição é submetida a despacho liminar.

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Manual de apoio ao ingresso - 2013
Nos casos enumerados no art.º 930.º-B, o recebimento da oposição faz suspender a
execução fundada num dos títulos extrajudiciais previstos no art.º 15.º.
O agente de execução deverá suspender as diligências executórias quando o detentor
da coisa imóvel não tiver sido ouvido e convidado, na ação declarativa, a exibir um título de
arrendamento ou de subarrendamento com data anterior ao início da execução – art.º 930.º-
B, n.º 2.
O agente de execução deverá suspender, também, as diligências executórias, quando,
tratando-se de arrendamento para habitação, for apresentado atestado médico - n.º 3.
O prazo para o exequente contestar a oposição é de 20 dias (art.º art.º 817.º, n.º 2).

 PROCESSO EXECUTIVO PARA PRESTAÇÃO DE FACTO

Recorre-se a este tipo de execução, quando a obrigação titulada consista na prestação


de um facto, positiva ou negativa (cfr. art.ºs 828.º e 829.º do Código Civil).

A prestação de facto pode ter natureza fungível ou infungível.

Sendo o facto infungível, não é possível obter de terceiro a sua prestação (como
acontece quando um pintor de renome é contratado para retratar determinada pessoa. Se por
qualquer motivo não poder efetuar o retrato, o lesado só pode ser ressarcido por um
equivalente pecuniário, uma vez que o devedor numa situação destas é insubstituível).

Se for facto fungível é possível ser praticado pelo devedor ou por terceiro, caso seja
indiferente ao credor que seja efetuado por um ou por outro.

Pode distinguir-se entre prestação de facto positivo sujeito a prazo (cfr. art.º s 933º a
938º), de facto positivo não sujeito a prazo (cfr. art.ºs 939.º e 940.º) e de facto negativo
(cfr. art.º s 941.º e 942.º).

Facto positivo sujeito a prazo

Se alguém estiver obrigado a prestar um facto em prazo certo e não cumprir, o credor
pode requerer a prestação por outrem, se o facto for fungível, bem como uma indemnização
moratória a que tenha direito (cfr. art.º 933.º, n.º 1).

O devedor é citado para, no prazo de 20 dias, deduzir oposição à execução, podendo o


fundamento da oposição consistir, ainda que a execução se funde em sentença, no
cumprimento posterior da obrigação, provado por qualquer meio (cfr. art.º 933.º, n.º 2) O

284
Manual de apoio ao ingresso - 2013
recebimento dos embargos tem os efeitos previstos no art.º 818.º, devidamente adaptados
(cfr. art.º 933.º, n.º 3).

Se o exequente tiver requerido uma indemnização, esta execução é convertida em


execução para pagamento da quantia certa, findo o prazo concedido para a oposição à
execução, ou julgada esta improcedente (cfr. art.º 934.º).

Se o exequente optar pela prestação do facto por outrem, deverá requerer a


nomeação de um perito para avaliar o custo da prestação.

Concluída a avaliação e após a conversão da execução, procede-se à penhora dos bens


necessários para o pagamento da quantia arbitrada, seguindo-se os demais trâmites do
processo executivo para pagamento da quantia certa (cfr. art.º s 934.º e 935.º).

Pode o exequente mandar fazer sob sua vigilância as obras e trabalhos necessários,
mesmo antes de terminada a avaliação para a realização do facto. Fica, no entanto, obrigado
a dar contas ao agente de execução (cfr. art.º 936.º, n.º 1).

Facto positivo não sujeito a prazo

Se o prazo não estiver fixado, o exequente indica o prazo que reputar suficiente para a
prestação, sendo o executado citado para, em 20 dias, dizer o que tiver por conveniente (cfr.
art.º 939.º, n.º 1), sob pena de fixação judicial de prazo.

O executado pode deduzir oposição à execução e dizer o que se lhe oferecer sobre o
prazo indicado pelo exequente (cfr. art.º 939.º, n.º 2).

Fixado o prazo pelo juiz, seguem-se os termos referidos para a prestação de facto
sujeito a prazo, com as necessárias adaptações (cfr. art.º 940.º).

Facto negativo

O executado está obrigado a não praticar certo facto e, apesar disso, praticou esse
mesmo facto, desrespeitando o compromisso.

Se o executado tiver praticado um facto que não devesse, o exequente pode, se for o
caso, à custa do património do devedor, pedir a demolição da obra que tenha sido
ilicitamente efetuada e uma indemnização compensatória pelo prejuízo (cfr. art.º 941.º).

A oposição à execução será apresentada no prazo de 20 dias a contar da citação nos


termos do art.º s 814.º e seguintes; a oposição ao pedido de demolição pode fundar-se no
facto de a demolição representar, para o executado, prejuízo consideravelmente superior ao
sofrido pelo exequente (cfr. art.º 941.º, n.º 2).

Efetuadas a vistoria e avaliação, o juiz profere despacho declarando verificada, ou não,


a violação e a indemnização a liquidar posteriormente.

285
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Se decidir pela violação, ordenará a demolição da obra, seguindo posteriormente os
termos da execução para pagamento da quantia certa (cfr. art.º 942.º, n.º s 1 e 2).

Índice
NOÇÕES GERAIS SOBRE PROCESSO CIVIL ................................................................ 2

Introdução ................................................................................................... 2

 ALGUNS PRINCÍPIOS QUE ENFORMAM O CPC ....................................................... 3

 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS ........................................................................ 6

Personalidade judiciária e capacidade judiciária ............................................. 7

Competência do tribunal .......................................................................... 7

PATROCÍNIO JUDICIÁRIO.......................................................................... 10

 DOS ATOS PROCESSUAIS ............................................................................. 11

Impedimentos...................................................................................... 13

Propositura da ação............................................................................... 13

SUSPENSÃO DA INSTÂNCIA ....................................................................... 14

Prazos processuais ................................................................................ 14

o Modalidades de prazos processuais .......................................................... 15

o Prorrogação de prazos ......................................................................... 16

o Contagem dos prazos .......................................................................... 17

o A continuidade dos prazos .................................................................... 19

 ATOS EM GERAL ....................................................................................... 23

ATOS DAS PARTES ................................................................................. 23

o ENTREGA OU REMESSA A JUÍZO DAS PEÇAS PROCESSUAIS – ART.º 150.º ................ 23

Petição inicial ..................................................................................... 28

286
Manual de apoio ao ingresso - 2013
o OMISSÃO DE DUPLICADOS E CÓPIAS - art.º 152.º do CPC.................................. 30

ATOS DOS MAGISTRADOS ......................................................................... 31

ATOS DA SECRETARIA ............................................................................. 33

o Prazos para o expediente – art.º 166.º ...................................................... 35

o Publicidade do processo ....................................................................... 35

COMUNICAÇÃO DOS ATOS ........................................................................ 37

ATOS ESPECIAIS .................................................................................... 39

o DISTRIBUIÇÃO ................................................................................... 39

o CITAÇÃO E NOTIFICAÇÃO ...................................................................... 40

 INCIDENTES DE INSTÂNCIA .......................................................................... 63

Noção de incidente processual .................................................................. 63

DISPOSIÇÕES GERAIS .............................................................................. 65

Tramitação ...................................................................................... 67

TAXA DE JUSTIÇA ............................................................................... 68

 PROCEDIMENTOS CAUTELARES...................................................................... 69

1. Introdução.......................................................................................... 69

1.1 - Características dos procedimentos cautelares......................................... 70

1.2 - Procedimentos cautelares comuns e procedimentos cautelares especificados ......... 72

2. O procedimento cautelar comum ............................................................ 74

Caducidade da providência cautelar ........................................................... 84

 AÇÃO DECLARATIVA .................................................................................. 85

FORMAS DE PROCESSO ............................................................................ 86

NOÇÕES ELEMENTARES SOBRE A MARCHA DO PROCESSO E RESPETIVOS PRAZOS ......... 88

AÇÃO ORDINÁRIA .................................................................................. 90

O RÉU NÃO CONTESTA A AÇÃO ..................................................................... 92

o O RÉU CONTESTA A AÇÃO ..................................................................... 92

287
Manual de apoio ao ingresso - 2013
o Taxa de justiça inicial devida pelo réu ...................................................... 93

o A RÉPLICA ........................................................................................ 94

o A TRÉPLICA ...................................................................................... 95

AUDIÊNCIA PRELIMINAR E DESPACHO SANEADOR ............................................. 95

INSTRUÇÃO ......................................................................................... 99

Audiência de discussão e julgamento ......................................................... 102

o Formalidades da audiência (instrução e discussão da causa): .......................... 105

Sentença:.......................................................................................... 106

 Súmula da Ação Ordinária .......................................................................... 107

 AÇÃO SUMÁRIA ....................................................................................... 113

 Súmula da Ação Sumária ........................................................................... 114

 AÇÃO SUMARÍSSIMA .............................................................................. 120

 Súmula da Ação Sumaríssima ...................................................................... 121

 Ação Executiva ................................................................................... 125

 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 125

O juiz de execução............................................................................... 127

O agente de execução ........................................................................... 132

o Competências .................................................................................. 136

A ação executiva – caracterização ............................................................. 141

Pressupostos processuais........................................................................ 144

o A execução imediata da sentença: ......................................................... 148

 Certeza (art.º 802.º) .......................................................................... 153

 Exigibilidade ................................................................................... 154

 Liquidez ......................................................................................... 156

TRAMITAÇÃO DA EXECUÇÃO .......................................................................... 161

PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA ............................................................. 161

o Recusa de recebimento do requerimento executivo ..................................... 167

288
Manual de apoio ao ingresso - 2013
Não há despacho liminar: .................................................................... 171

Remessa do processo para despacho liminar (art.º 812.º-D) Há sempre despacho


liminar ................................................................................................ 173

Citação prévia e dispensa de citação prévia (art.º 812.º-F) .................................. 176

Execução por Custas, Multas, Coimas e outras quantias contadas ou liquidadas .... 183

 Oposição à execução ............................................................................ 184

 Fase da penhora .................................................................................. 188

As diligências para a penhora têm início (art.º 832.º): .................................. 189

A penhorabilidade dos bens .................................................................. 189

 Início das diligências para penhora ............................................................ 203

Consulta prévia – art.º 832.º, n.º 2.......................................................... 208

A penhora ......................................................................................... 222

o O auto de penhora ............................................................................ 224

o Penhora de imóveis .............................................................................. 224

o Penhora de móveis ............................................................................ 230

o Penhora de coisas móveis sujeitas a registo ............................................... 234

 Penhora de veículos automóveis ............................................................ 236

 Penhora de direitos ........................................................................... 245

A oposição à penhora ............................................................................ 255

Concurso de credores ............................................................................ 256

Pagamentos ....................................................................................... 259

o Entrega de dinheiro (art.º 874º) ............................................................. 260

o Adjudicação (art.ºs 875.º a 878.º) .......................................................... 260

o Consignação de rendimentos (art.ºs 879º a 881º) ......................................... 261

o Pagamento em prestações (art.º s 882.º a 885.º) ......................................... 262

 Modalidades de venda – art.º s 886º e seguintes .......................................... 263

 Venda mediante proposta em carta fechada - art.ºs 889.º e segs. ............................... 264

289
Manual de apoio ao ingresso - 2013
 Venda por negociação particular – art.º s 904.º e 905.º ................................ 268

 Venda estabelecimento de leilão – art.º 906.º ........................................... 268

 Venda em depósito público ou equiparado ............................................... 269

 Venda em regime de leilão (cfr. art.º 41.º, n.º 1-b) da Portaria n.º 331-B/2009) ... 270

 Venda em leilão eletrónico – art.º 907.º-B ................................................ 271

 Direito de remição ............................................................................... 271

 Extinção da execução ........................................................................... 272

A lista pública de execuções ......................................................................... 274

 PROCESSO EXECUTIVO PARA ENTREGA DE COISA CERTA.................................... 282

Execução para Entrega de Coisa Imóvel Arrendada (EPECIA) .............................. 283

o Oposição à execução .......................................................................... 283

 PROCESSO EXECUTIVO PARA PRESTAÇÃO DE FACTO ........................................ 284

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Manual de apoio ao ingresso - 2013
Coleção “Curso para ingresso na carreira de Oficial de
Justiça”

Autor:

Direção-Geral da Administração da Justiça - Divisão de


Formação

Titulo:

“Processo Civil - Manual de Apoio ao Ingresso”

(revisão e atualização dos textos de apoio ao ingresso)

Coordenação técnico-pedagógica:

DGAJ-DF

Coleção pedagógica:

Divisão de Formação

1.ª edição de Abril de 2013

Direção-Geral da Administração da Justiça


Divisão de Formação
Av. D. João II, n.º 1.08.01 D/E – piso 10..º, 1994-097 Lisboa, PORTUGAL
TEL + 351 21 790 64 21 Fax + 351 21 154 51 02 EMAIL cfoj@mj.pt
http://e-learning.mj.pt
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Manual de apoio ao ingresso - 2013

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