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A obtenção de ferro gusa geralmente ocorre no chamado alto forno, embora um material
quimicamente semelhante, porém com aspecto esponjoso possa ser obtido pelo processo
de redução direta, e depois utilizado de modo semelhante ao ferro gusa sólido obtido no
alto forno.
No alto forno é introduzido o minério de ferro sob a forma de sínter ou pelotas (o minério
inicialmente contendo cerca de 99 % de Fe2O3, que após ser submetido à sinterização ou
pelotização, que reduz o teor de Fe2O3 para cerca de 80 %), é transformado em ferro
gusa líquido com teor de fero da ordem de 95 %. Após a produção no alto forno o ferro
gusa é submetido à conversão em aço na aciaria a oxigênio, que também recebe sucata
como parte da matéria-prima, tendo o teor de ferro elevado pela eliminação de impurezas
e grande parte do carbono. O aço líquido é submetido ao lingotamento contínuo (mais
comum atualmente, por questões de produtividade do que a solidificação em lingoteiras) e
assim, solidificado, é encaminhado aos processos de conformação mecânica, como
laminação (inicialmente a quente e posteriormente a frio) e o forjamento.
Uma rota alternativa prevê a alimentação de minério de ferro e pelotas numa usina de
redução direta de minério de ferro, constituída por fornos de redução direta, que são
retortas verticais com gás reformado. Por esta rota, ao invés do ferro gusa, é obtido o
chamado ferro esponja (no estado sólido), que junto com sucata é utilizado como matéria-
prima nos fornos elétricos, onde é obtido o aço líquido, solidificado no lingotamento
contínuo e depois ás operações de conformação mecânica do aço sólido, como laminação
e forjamento. A redução direta faz parte do escopo de outro texto deste conjunto de textos
sobre a fabricação de aço.
O alto forno produz ferro gusa como seu principal produto, contendo cerca de 4,5 % de
carbono, 0,3 a 0,7 % de silício, 0,01 a 0,04 % de enxofre, no máximo 0,1 % de fósforo e
cerca de 0,1 5 de manganês. Além disso, produz escória contendo 30 a 40 % de SiO2, 5 a
15 % de Al2O3, 35 a 45 % de CaO, 5 a 15 % de MgO e 1 a 2 % de enxofre. Recentemente
tem crescido o aproveitamento da escória de alto forno para a fabricação de cimentos e
outros materiais cerâmicos. A basicidade (B) da escória é dada pela razão entre a soma
dos teores de CaO e MgO e a soma dos teores de SiO2 e Al2O3.
O gás de topo, que escapa do alto forno contém cerca de 22 % de CO, 22 % de CO2
(razão CO/CO2 praticamente unitária) 3 % de H2, 50 % de N2 e 3 % de H2O. Quando o ar
é soprado no alto forno, o oxigênio, ao entrar em contato com o coque, reage para formar
CO e CO2:
O ar pode estar seco ou úmido. Se estiver úmido, a uma temperatura de cerca de 1300 ºC
e pressão de 4,3 atm H2O é convertida em H2. A pressão de topo é de 2,5 atm.
FexO é reduzido a ferro líquido, o chamado gusa (em inglês: “pig iron”, devido ao excesso
de impurezas).
A escória é resfriada por jatos d’água, sendo utilizada como matéria-prima para a
fabricação de cimento, principalmente do tipo Portland.
O minério extraído das minas é empilhado em pilhas de cerca de 200.000 toneladas com
600 a 700 camadas. É então transportado para a unidade de sinterização, na qual é
introduzido com água, coque e fundentes, resultando no sínter que é transportado para o
alto forno.
No fundo do alto forno, na região denominada cadinho, deposita-se o ferro gusa, contendo
em elevados teores: C, Si, Mn, P, S e outros elementos. A escória localiza-se sobre o
metal líquido, por ser menos densa. Na interface entre metal e escória ocorre a migração
de elementos químicos entre estes produtos.
Na parte inferior do alto forno, na chamada zona de elaboração, o ar é soprado entre 1600
e 2100 ºC. Por cima a escória contém SiO2 e outros óxidos (Fase I), enquanto embaixo o
ferro gusa líquido contém Fe e outros metais (Fase II).
As ventaneiras sopram ar que contém O2, que oxida o C a CO2 em ambiente turbulento,
com muita agitação. As ventaneiras estão localizadas entre a fase I e a fase II, juntas ou
separadas e o sopro atravessa a região de turbulência.
Em outra região ocorre a reação de Boudouard: CO2 + C = 2CO. A válvula do gás de topo
controla as pressões dos gases (princípio Le Chatelier).
Logo abaixo do sopro contendo oxigênio existe uma atmosfera de gás, mais abaixo a
escória e abaixo desta o metal líquido. Nessa situação o gás não se difunde para o metal,
ao contrário do que corre mais acima.
Fe2O3 e Fe3O4 são reduzidos a FeO líquido, o qual reage com C: FeO + C = FeC, sendo
que este carbeto difunde-se para p Fe líquido. Na verdade o Fe3O4 é um espinélio:
FeO.Fe2O3, o qual é dissociado numa temperatura de cerca de 650 ºC, liberando Fe2O3
e FeO.
De modo semelhante, para o manganês: MnO, Mn2O3, Mn3O4 (Mn2O3.MnO) corre esta
reação com C: MnO + C = MnC, sendo que este carbeto também se difunde para o ferro
líquido.
Cr, Ni, Zn e Cu são importantes elementos de liga. Alguns elementos são particularmente
importantes para o ferro gusa, como Si e Mn: a oxidação destes elementos é exotérmica,
fornecendo calor ao processo. Na aciaria não há outra fonte de calor. Estes elementos
devem ser controlados através das variações de pressão no gás de topo. O S e o P são
controlado na carga: CaCO3 = CaO + O2, sendo que o CaO controla o S: CaO + FeS =
CaS + FeO (CaO fica na escória e FeS no metal). FeO + C = Fe + CO. Como CaS é muito
mais estável que FeS, passa para a escória e permanece nesta (não se reduz).
A estatística operacional de um alto forno com alta produtividade pode ser descrita
genericamente a seguir: para uma produção de 1000 ton/dia, partindo de uma carga com
60 a 40 % de sínter e 40 a 60 % de pelotas, combustível da ordem de 535 kg ton de Fe,
sendo o 450 kg de coque e 85 litros de óleo. O cadinho teria 14 m de diâmetro e volume
interno de 4373 m3. A vazão do sopro seria de 8000 m3/min, a pressão do topo seria 2,5
bar, a pressão de sopro 4,3 bar e a temperatura seria 1350 ºC, sendo o teor de oxigênio
de até 3 %.
A matéria-prima, na entrada do alto forno seria composta por: 7820 ton/dia de sínter, 8439
ton/dia de pelotas, 14976 ton/dia de sopro, 4500 ton/dia de coque, 400 ton/doa de calcário
e 700 ton/dia de óleo.
O material na saída teria a seguinte composição: 10.000 ton/dia de ferro gusa, 3.000
ton/dia de escória e 20.966 ton/dia de gás.
Características básicas de operação do alto forno: pressão de topo, que afeta a reação de
Boudouard: 2 a 3 bar, boa distribuição no topo (passagem de gás na ventaneira), alta
temperatura de sopro (cerca de 1350ºC, acima disso não compensa
termodinamicamente), excelente preparação de carga, injeção de O2, quantidades
adequadas de óleo, finos de C no sopro e coque “rate”.
O ferro gusa contém cerca de 4 a 5 % de carbono, 0,3 a 0,7 % de silício e cerca de 0,1 %
de manganês. O teor de enxofre no gusa é da ordem de 0,01 a 0,04 % e o de fósforo em
torno de 0,1 %.
Óxidos:
A temperatura do gás no topo do alto forno cai devido à reação endotérmica e ao seu
encontro com a carga fria,.
Comportamento térmico:
Ventaneiras:
Na zona de combustão existem os gases: O2, CO, CO2, N2, H2 e H2O, ocorrendo as
reações:
O2 + C + CO e CO2, H2 → H2O e H2O → H2.
Na zona de oxidação existem os gases: CO, CO2, N2, H2 e H2O. O O2 residual reage
com C para formar CO e CO2.
Na região externa existem os gases CO, H2 e N2. As reações que acontecem são:
O2 + C = CO e CO2 + C = 2CO.
Redução do Silício:
Composição química
Zona Nível de silício (m/Wmm2)
(m/Wmm2)
Rampa Fe Bem Baixo
Ganga transferindo Si para o
Ventaneiras 3a4%
metal (Fe)
Escória recebendio Si do
Escória metal e metal reagindo com 1a2%
C: Fe + 4 % C
Na escória formam-se vários óxidos: MnO, SiO2, CaO, Al2O3 e também FeO. As reações
entre a atmosfera do forno, a escória , o metal líquido e o refratário tendem a aumentar a
fluidez, favorecendo reações nas interfaces.
Parte do enxofre está na escória e parte no metal líquido. A reação de sulfetação ocorre do
seguinte modo: [S] + [Me] = (MeS), onde Me = Fe ou Mn.
No Fe líquido: S → [FeS]. No alto forno: 3[Fe] líquido + SiO2 ganga = [FeS] + 2(FeO): na
saturação o FeO se precipita; 2[Fe} líquido + S2 ganga = 2[FeS]. O teor de enxofre do
ferro gusa é menor ou igual a 0,07 % (0,02 a 0,07 %), mas na aciaria o teor de enxofre cai
muito mais.
No alto forno o chamado ponto de equilíbrio químico (W em inglês “pinch point”) deve ser
evitado, pois nesse caso é difícil reduzir o FeO a Fe. No W há 100 % de FeO, mesmo com
alto consumo de coque, que teria grande impacto econômico desfavorável. Há um
determinado tempo de residência na região das ventaneiras. Mudando a temperatura e a
pressão no topo, modificam-se as posições das zonas no alto forno.
Deve haver controle de: carga (composição e qualidade), sopro (velocidade, temperatura,
pressão e umidade: afetam as reações das zonas das ventaneiras: C → CO2 → CO em
função de delta H).
A distribuição da carga no topo influi na descida da carga através da altura do alto forno,
mas a velocidade de decida deve ser controlada. A distribuição de gases revela presença
de N2, CO e CO2 na região inferior da cuba, acima das ventaneiras. As regiões mais
controladas são o topo (parâmetros da carga: massa, composição e sequência de
carregamento) e as ventaneiras (parâmetros do sopro: temperatura, W, pressão e vazão;
injeções de óleo, carvão, oxigênio e gás). Se for utilizada dolomita em vez de calcário,
acarreta-se dissociação em condições diferentes, alterando a posição das zonas dentro do
alto forno. Para mantê-las seria necessário alterar a pressão do gás de topo, a composição
do ferro gusa e o carregamento. Na parte de baixo do alto forno produz-se ferro gusa com
controle de composição química, temperatura, quantidade (massa em toneladas) e teor de
silício. O gás de topo, além do controle de pressão, pode ter outras variáveis controladas
como temperatura, % CO, CO2, H2 e N2.
Dissociação de carbonetos metálicos: MCO3 = MO + CO2 (gás), onde M pode ser: Ca,
Mg, Fe, Mn e outros. No caso da dolomita, composta por uma mistura de MgCO3 e
CaCO3, primeiramente dissocia-se o carbonato de magnésio (MgCO3 a 400ºC) e depois
calcário (CaCO3 a 900ºC). O MgCO3 é mais caro e aumenta a viscosidade.
A partícula é formada por um núcleo de MCO3 sobre o qual se forma uma camada de MO,
óxido muito poroso, havendo uma interface entre MCO3 e MO. Calor é transferido para a
interface, permitindo correr a reação de dissociação. CO2 é liberado e migra da interface
através da camada de MO para fora da partícula. Este é o modelo idealizado, topoquímico,
com encolhimento (redução ou contração) do núcleo. A partícula possui formato
aproximadamente esférico. Ocorrem: transferência de calor, transporte do gás CO2 e a
reação química de MCO3 para MO, com variação de pressão e temperatura. Fenômenos
envolvidos: sinterização, densificação de grãos (que impede o transporte de gás),
trincamento e formação de canais preferenciais. Todo o processo de dissociação dos
carbonatos apresenta um período inicial de incubação.
À medida que a transformação ocorre de fora para dentro, fecham-se os canais para a
saída dos gases, dificultando cada vez mais o prosseguimento da reação.
A pressão (em mm de Hg) varia aumento com o tempo, porém com diferentes taxas de
aumento. Entretanto, a taxa de variação da pressão com o tempo decresce continuamente
á medida que o tempo se prolonga. A fração convertida (em óxido) aumenta inicialmente a
uma taxa elevada, que se reduz com o tempo, aumentando assim cada vez mais
lentamente até atingir o ponto de saturação em quase 100 %. A dimensão de partícula de
óxido transformado aumenta com o tempo, sendo maior em temperaturas mais latas.
Na decomposição do carbonato: além desta reação em si: CaCO3 = CaO + CO2, a reação
de oxidação do carbono: C+O2 = CO2 também é importante, pois ao contrário da outra, é
fortemente exotérmica, fornecendo calor para que a decomposição do carbonato aconteça.
Para a adequada redução do minério no alto forno é necessário que a carga seja bem
distribuída e nivelada. Para alcançar estes objetivos, utilizam-se dispositivos que
promovem a distribuição e o nivelamento da carga, que é distribuída em camadas
alternadas de coque, minério e calcário.
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