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Exame de Prática Processual Penal

No dia 20/02/06 António foi surpreendido na sua caixa do correio com uma
notificação do Tribunal ali colocada nesse dia que, recebendo a acusação que contra si era
deduzida pelo M.P. imputando-lhe a prática de um crime de furto simples p e p. pelo art.203º, nº1
do CP, designava para julgamento o dia 31 de Março de 2006.
Dado que nenhum ilícito havia praticado e nunca tendo sido notificado ou sequer
ouvido no processo António entendeu tal notificação como um lapso que a “Divina Providência”
se encarregaria de resolver e, no dia e hora designados, não compareceu em tribunal.
Também nunca contactou, ou foi contactado, pelo defensor que lhe foi nomeado o
qual foi notificado do mesmo despacho que designou dia para julgamento por carta que lhe foi
enviada em 21/02/06.
No dia designado, e porque o Tribunal não considerou absolutamente
indispensável a presença de António, o julgamento realizou-se, não se tendo procedido à
documentação dos actos de audiência já que nesse sentido houve acordo de todos os
intervenientes e, tendo a final o Tribunal dado como provada toda a matéria constante da
acusação, condenou António a uma pena de dois anos e três meses de prisão, sentença esta
que foi logo ditada para a acta.
No dia seguinte António foi detido, notificado da sentença e, mais tarde, conduzido
ao estabelecimento prisional para cumprimento da pena em que foi condenado.

1 – Aprecie a legalidade da falta de audição do arguido durante o inquérito (3 valores)


2 – Aprecie a legalidade da realização do julgamento (3 valores)
3 – Por que meio, para onde e em que prazo reagiria à decisão? E o que alegaria? (3 valores)

II

Suponha agora que, quando notificado do despacho que designou dia para
julgamento, António contactou o seu Defensor e resolveram apresentar contestação.
Até quando poderia ser apresentada tal peça processual? Justifique indicando os
preceitos legais aplicáveis. (2 valores)

III
1 - Bernardo constituiu-se assistente num processo por crime de ofensa à
integridade física agravada, no sexto dia anterior à data designada para a audiência de
julgamento pelo Tribunal Colectivo.
Em que circunstância ou circunstâncias pode Bernardo, e no prazo do art. 411º do
CPP, interpor recurso do acórdão proferido por aquele Tribunal Colectivo? (4 valores)

2 - Em 05/09/2005, por despacho do JIC proferido durante o inquérito com


fundamento na verificação de fortes indícios da prática de crime de roubo, p. e p. pelo art. 210º,
nº1, do C.P., bem como de perigo de fuga e de continuação da actividade criminosa foi
decretada a prisão preventiva de Carlos.
Em 11/10/2005 foi requerido pelo seu defensor, por suspeita de inimputabilidade,
exame pericial ao seu estado psíquico, tendo o respectivo relatório sido apresentado em
11/11/2005.
Por despacho(s) do JIC de 05/12/2005 e 05/03/2006, foi reapreciada e mantida a
medida de coacção.
Até à presente data (05/04/2006) não foi deduzida acusação mantendo-se o
arguido em prisão preventiva.

Aprecie a legalidade desta prisão e, se a entender por ilegal, indique qual o meio
mais idóneo para contra ela reagir e desde quando o poderia utilizar. (5 valores)
Grelha de Correcção
Grupo I
Correndo Inquérito contra pessoa determinada é obrigatório
interrogá-la como arguido - art. 272, nº 1 do CPP
A omissão desta diligência, considerada fundamental para as
finalidades do inquérito, dará origem à insuficiência do inquérito o
que configura uma nulidade dependente de arguição –art.120º, nº2,
al. d)
Tal como resulta do Acórdão 1/2006 de 02/06
a ser arguida até ao encerramento do debate Instrutório ou, não
havendo lugar a instrução, até cinco dias após a notificação do
despacho que tiver encerrado o inquérito- art.120º, nº3, al. c)
Nota: também poderá ser admitida a seguinte resposta:
Caso se não considere a diligência como fundamental, e como tal
se considere que a sua omissão não provoca a insuficiência do
inquérito, estaremos perante uma irregularidade
a ser arguida nos três (cinco) dias seguintes a contar da notificação
para qualquer termo do processo – art. 118, nº2 e 123º do CPP 3

O julgamento não poderia ter sido realizado. Desde logo porque,

face ao disposto no art. 332º, nº1 do CPP é obrigatória a presença

do arguido em audiência

só podendo esta ser efectuada na sua ausência nos casos definidos

por lei –art. 32º, nº 6 da CRP

nomeadamente nos termos do disposto nos arts. 333º e 334 do

CPP

e desde que tenha prestado Termo de Identidade e Residência pois

só assim terá tomado conhecimento de que a audiência de

julgamento poderá ser realizada na sua ausência sendo ali

representado pelo seu defensor – art. 196º nº 3, al. d)

Ora, no caso vertente, não se verifica qualquer uma das situações a

que aludem os nºs 1 e 2 do art.334º.

Também se não verifica a situação do art.333º pois o arguido não


está regularmente notificado para a audiência já que foi notificado

por via postal simples o que só seria admitido caso o arguido

tivesse indicado a sua residência (ou domicilio profissional) à

autoridade policial ou judiciária que tivesse elaborado o auto de

notícia ou o tivesse ouvido em inquérito ou instrução – arts 113, nº 1

al. c), 283º, nº6 e 196º, nº 3. al. c).

A realização do julgamento nestas circunstâncias configura a

nulidade insanável prevista no att. 119º, al. c) 3

O meio adequado para reagir à decisão seria o recurso

a interpor no prazo de 15 dias

dirigido ao Tribunal da Relação

Neste recurso deveria ser alegada a nulidade insanável decorrente

da realização do julgamento na ausência do Arguido e a falta de

documentação das declarações prestadas em audiência –arts. 119,

al. c) e 333º, nº 2 3

Grupo II

Data: 17 de Março de 2006

Prazo: 20 dias

315, nº1

Notificação de António: 25 de Fevereiro (5 dia após depósito)

113/1/c e 113/3

Notificação do Defensor: 24 de Fevereiro de 2006 (3º dia útil

posterior ao do registo)

113/1/b e 113/2

Aproveita o prazo do notificado em último lugar

113/9

Primeiro dia de prazo: 26 de Fevereiro

103/1 + 104/1 CPP + CPC 2


Grupo III

Sempre desde que o Acórdão seja absolutório – art. 401º, nº1, al. b)

e nº2 “à contrario”

Sempre que o M.P. haja recorrido no sentido da agravação da pena

– art. 401º, nº 1 al. a) e 69º, nº1

Pode ainda se demonstrar um concreto e próprio interesse em agir

– art. 401, nº1 al. b e nº2 4

Prisão ilegal por excesso de prazo já que o crime é punível com

pena de prisão até 8 anos e não é nenhum dos previstos no nº 2 do

art. 215 – art. 215º, nº 1, al. a)

O modo de reacção mais célere seria o “Habeas Corpus” em virtude

de prisão ilegal – art. 222º, nº2, al. c)

Podendo ser requerida apenas desde 05/04/2006 atenta a

suspensão do decurso do prazo de duração máxima da prisão

preventiva por um mês – art. 216º, nº 1, al. a) 5

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