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Resumo para a frequência de Direito da Responsabilidade

 Responsabilidade Civil
Consiste na obrigação da reparação do dano causado por outrem a alguém. Quem sofre o dano é
o lesado e o infrator do mesmo dano é o agente.

A responsabilidade civil desdobra-se em:

 Responsabilidade Civil Contratual ou obrigacional (violação de obrigação


emergente de contratos, negócios jurídicos unilaterais ou da lei – art.798º)
 Responsabilidade Civil Extracontratual ou Extraobrigacional (violação de direitos
absolutos ou prática de lícitos que causem danos a alguém – art.483º)

O fim é o ressarcimento do dano causado, ou seja, o lesado deve ser ressarcido pelo dano que
sofreu, no entanto, há situações em que poderá ser ressarcido não pelo agente devido a
impossibilidade patrimonial deste mas por terceiros, como é o caso da responsabilidade do
comitente (aquele que encarrega alguém á realização de uma tarefa – art.500º), e os acidentes
de circulação de automóveis (art.503º).

 Distinção entre a responsabilidade contratual e extracontratual


A responsabilidade contratual absorve a responsabilidade extracontratual, isto é, aplica-se as
regras da responsabilidade contratual – príncipio da absorção.

Culpa

Na responsabilidade contratual presume-se a culpa do devedor (799º) isto é, tem que provar o
porquê de não ter cumprido. Na responsabilidade extracontratual o lesado é que tem que provar
a culpa do lesante (487º\1)

Prazo de prescrição

Na responsabilidade contratual é de 20 anos (309º), na extracontratual é de três anos (498º\1)

Capacidade dos sujeitos

Na responsabilidade contratual temos a maioridade, na extracontratual a capacidade é a natural


(488º\1).

Pluralidade Passiva

Na contratual a regra geral é a conjunção (art.513º a contrário), na extracontratual é a da


solidariedade podendo qualquer um dos responsáveis ter que pagar a totalidade na

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indemnização havendo depois possibilidade de direito de regresso na proporcionalidade das
respetivas culpas (497º e 507º)

Graduação da Indemnização

Na contratual não há graduação de indemnização, pois a indemnização é aquela que resulta da


violação de um direito de crédito apurados os danos, na extracontratual a indemnização pode ser
inferior aos danos sofridos ou causados devido aos juízos de equidade (494º e 570º\2).

 Responsabilidade Extraobrigacional ou Extracontratual

1) Responsabilidade por factos ilícitos- art.483º\1

Para existir tem que haver o preenchimento cumulativo de cinco pressupostos:

 Facto voluntário

Ação humana dominável pela vontade, isto é, ações ou omissões domináveis pela vontade
humana. Naquele momento o agente tem que estar na plenitude das suas capacidades (querer e
entender). Se estiver em causa uma ação do agente art.483º\1, se estiver em causa uma omissão
do agente conjugamos o art.483º\1 com o art. 486º. Neste pressuposto não interessa a culpa, ou
seja, não tem que ser intencional.

 Ilicitude

Reporta-se ao facto do agente, o comportamento do agente é censurado quando viola a lei.


Existem causas gerais de ilicitude e causas especiais.

Causas gerais de ilicitude:

 Violação de direitos de outrem (art.483º\1), corresponde a violação de direitos


absolutos (personalidade, propriedade industrial, reais, família)

 Violação de normas de proteção de interesses alheios, por norma não dá direito a


responsabilidade civil, para que possa dar origem tem que preencher os seguintes
requisitos:
- A lesão de interesses particulares tem de corresponder a violação de norma legal
- A tutela dos interesses particulares violados figura entre os fins da norma violada
- O dano regista-se no círculo de interesses privados que a lei visa tutelar

 Abuso de direito – art.334º, que corresponde ao exercício anormal de um direito, ou


seja, para defender o seu direito prejudica os outros.

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Causas especiais de ilicitude:

 Ofensa do crédito e ofensa ao bom nome art.484º (a menos que haja interesse legítimo
na divulgação)
 Conselhos, informações ou recomendações art.485º
 Casos em que haja responsabilidade art.485º\2 e art.486º

Há situações em que se exclui a ilicitude e nesse aspeto falamos em causas de exclusão da


ilicitude que podem ser gerais ou especiais.

Causas Gerais da Exclusão da Ilicitude:

 Exercício de um direito, tem que ser de boa-fé, por exemplo, servidão, colisão de atos
(art.335º).
 Cumprimento de um dever (ordem superior, no entanto, não pode ir contra a ordem
jurídica, se for contra terá que se exigir a ordem por escrito).

Causas Especiais (formas de autotutela) da Exclusão da Ilicitude:

Ação direta (art.336º)

Visa restaurar um direito que foi anteriormente violado. Tem como requisitos:

- Violação de um direito anterior ao comportamento do agente

- Não se pode exceder o estritamente necessário para evitar o prejuízo

- O recurso aos meios coercivos normais não é possível sob pena de se perder o direito

- Não podem ser sacrificados interesses superiores àqueles que se visam assegurar

A ação direta é considerada lícita não havendo lugar a indemnização, no entanto, se houver erro
acerca dos pressupostos da ação direta haverá lugar a indemnização nos termos do art.338º. No
fundo, é o recurso á força para o restabelecimento de um direito próprio.

Legítima Defesa (art.337º)

Traduz-se na reação a uma agressão atual e ilícita contra a pessoa ou património do agente ou de
terceiro. Pode ser para salvaguardar direito do próprio ou de terceiro. O recurso aos meios
coercivos normais não é possível, e tem que haver proporcionalidade entre o prejuízo causado e
entre aquele que se evita, o dano provocado não pode ser superior ao que se pretende afastar, se
houver erro sobre os pressupostos também haverá lugar a indemnização nos termos do art.338º.
A ação é considerada lícita, não havendo indemnização, ainda que haja excesso e esse excesso
for provocado por medo ou perturbação do agente (art.337º\2).

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Estado de necessidade (art.339º)

Consentimento do lesado (340º\1)

Que pode ser expresso, tácito ou presumido (340º\3)

 Culpa

Para isso temos que analisar dois aspetos:

 Imputabilidade- são imputáveis os maiores de 7anos que não sofram de anomalia


psíquica (art.488º).

 Prova de culpa (art.487º) – compete ao lesado a prova da culpa do agente, o lesado é


que tem que provar que o facto praticado pelo agente é suscetivel de censura. Tem que
provar que há juízo de censura pela ordem jurídica (podia e devia ter agido de outro
modo), para tal utiliza-se o critério do homem médio (art.487º\2).

Graduação da Culpa (art.494º):

Negligência (falta de cuidado) ou dolo (intenção de atingir esse fim)

Prova da culpa:

Como regra geral temos o art. 487º\1, em que compete ao lesado provar que o comportamento
do agente é suscetivel de censura.

Como exceção temos a presunção de culpa, como é o caso do art.491º, art.492º, art. 493º\1
(cfr.502º), art. 493º\2 e art. 503º\3.

Concorrências de culpas:

Possibilidade art.570º\1 e Presunção do Risco art.570º\2

Causas de exclusão da culpa:

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 Medo invencível – art.337º\2
 Erro desculpável- art.338º
 Desculpabilidade

Todas estas causas são de acordo com o critério do homem médio.

 Dano

Sem dano não há responsabilidade, e existem vários tipos de dano:

 Danos patrimoniais- são aqueles que são suscetiveis de avaliação pecuniária.


 Danos não patrimoniais- quando indemnizáveis são a título compensatório
 Danos emergentes- correspondem às perdas e diminuições de valores de
património já existentes quando ocorrem
 Lucros cessantes- correspondem às perdas e diminuições de valores que se
contava vir a verificar.

Em regra, a indemnização pelo dano sofrido, faz-se através de reconstituição natural


(art.562º), quando a mesma não for possível, for insuficiente ou demasiado gravosa para o
devedor faz-se em dinheiro (art.566º) e a forma como é calculada resulta do art.566º que
estabelece a teoria da diferença.

Em relação aos danos não patrimoniais, são calculados a partir do art.496º\2\4 só que
são graves merecem a tutela do direito e o montante é fixado equitativamente.

 Nexo de Causalidade- art.563º

Tem como base a teoria da causalidade adequada, que só considera relevante para efeitos de
responsabilidade civil aquele facto que em abstrato é provável ou verossímil que tenha como
consequência um determinado dano, trata-se de um critério jurídico e não material. Esta teoria
opõe-se á teoria condition si ne qua non que é material.

2) Responsabilidade por factos lícitos

O facto é considerado lícito porque não viola nenhuma regra jurídica ou pelo menos o interesse
que tutela é superior ao direito violado, mas apesar disso há obrigação de reparar os danos
causados, por exemplo reparação de muros ou edifícios em que é preciso aceder a propriedade
de outrem, a recolha de frutos… Neste tipo de responsabilidade a única função é a reparadora,
não havendo lugar á censura. Também se prescinde da culpa e da ilicitude.

 Responsabilidade do Comitente (art.500º)


É a primeira responsabilidade pelo risco.

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Apesar de o comitente responder sem culpa, ele irá responder pela culpa da pessoa que escolheu
(culpa in eligendo). Assim o comitente é aquele que encarrega alguém de realizar uma tarefa, e
o comissário é aquele que vai realizar a mesma tarefa.

O comitente apenas responde para garantir o pagamento da indemnização ao lesado, no entanto,


depois, tem direito de regresso (art.500º\3) por parte do comissário.

Para haver responsabilidade por parte do comitente é necessário o preenchimento de requisitos:

 Relação de comissão (por conta do comitente e de acordo com as suas orientações),


havendo portanto uma subordinação, por exemplo contrato de trabalho, o tio que manda
o sobrinho cortar a relva etc…
 O facto danoso tem que ser praticado no exercício da função de comissario
 Tem que haver a obrigação de indemnização por parte do comissário.

 Responsabilidade pelo Risco

No art.483º\2 temos presente a responsabilidade objetiva ou pelo risco, existe responsabilidade


independentemente da culpa do agente, ou seja, situações em que estamos perante a prática de
comportamentos que só por si são um risco para a sociedade (art.503º, 509º).

O art.501º o comitente são entidades públicas, os pressupostos são os mesmos do art.500º.

O art.502º a responsabilidade pelo risco é dos proprietários dos animais, não se aplica às
pessoas que tem animais á sua guarda (493º\1) nem às pessoas que utilizam os animais como
arma (483º\1).

O art.503º determina responsabilidade pelo risco para acidentes provocados por automóveis,
tem que preencher dois requisitos cumulativamente:
 Tem que se ter a direção efetiva do veículo
 O veículo tem que ser conduzido no seu próprio interesse.
Abrange três tipos de riscos:
 Riscos relacionados com a pessoa do condutor (ataque cardíaco, quebra de
tensão…)
 Riscos inerentes ao próprio veículo (rebentamento de pneu…)
 Riscos inerentes às vias de circulação inimputáveis aos responsáveis
Situações em que fica excluída a responsabilidade do detentor do veículo:
 Art.500º quando o acidente for imputável ao próprio lesado ou terceiro
 Quando resulte de causa maior estranha ao funcionamento do veículo.

Quando há locação ou comodato do veículo de curta duração o proprietário mantem o poder-


dever sobre o veículo, de longa duração o proprietário deixa de ter a direção efetiva logo não vai
responder.
Os danos têm que ser resultado de factos relacionados ao funcionamento do veículo, trata-se de
responsabilidade sem culpa, caso haja culpa, dolo ou negligencia, não se resolve pelo 503º mas
pelo 483º\1 a menos que não se verifique os restantes pressupostos.

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O art.503º\3 presume a culpa daqueles que têm acidentes por conta de outrem (por exemplo os
motoristas), e divide-se em duas partes:
 1ª Condução do veiculo por conta de outrem
 2ª Quando conduz fora do exercício das suas funções, responde como se fosse o
proprietário do veículo (503º\1)

O art. 504º fala nos beneficiários da responsabilidade, que aproveita a terceiros (aqueles que
estão fora mas também engloba os motoristas que não tenham a condução nem sejam
proprietários), e aproveita também as pessoas transportadas. No nº2 o transporte por virtude de
contrato, são indemnizáveis os danos pessoais e patrimoniais. No nº3 o transporte gratuito só
são indemnizáveis os danos pessoais (ferimentos…)

O art.509º tem os danos causados por instalações de energia elétrica ou gás.

 Responsabilidade Contratual

Quando há incumprimento imputável ao devedor, o cumprimento ocorre quando há satisfação


do direito do credor. Esta matéria está prevista no art.762º e 789º.

1) Príncipios gerais

1.1 Príncipio da pontualidade – art.406º, a obrigação há-de respeitar o contrato ponto por
ponto, o devedor tem que cumprir a sua obrigação em todos os aspetos.

1.2 Príncipio da boa-fé - art.762º padrão ético de comportamento não só no que se refere á
obrigação principal mas também às obrigações acessórias (lealdade, correção…) A violação
pode dar origem a responsabilidade.

1.3 Príncipio da integralidade – art.763º a prestação deve ser efetuada na sua totalidade,
podendo o credor recusá-lo quando tal não acontece. Este príncipio deve ser conjugado com
o príncipio da boa-fé.

2) Características do cumprimento

2.1 Legitimidade para o cumprimento


A regra é a da fungibilidade, a prestação tanto pode ser feita pelo devedor como por terceiro
(767º, mora do credor 813º), mas tem exceções:
 Infungibilidade convencional – quando é acordado que a prestação tem que ser feita
pelo devedor
 Infungibilidade natural- quando a substituição do devedor por outrem prejudica o
credor.
Quanto á legitimidade para receber a prestação esta deve ser feita ao credor ou ao seu
representante (769º), com a exceção do 770º.

2.2 Lugar da prestação

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Por regra a prestação é efetuada no domicílio do devedor (772º\1), com a exceção do 773º\1
para entrega de coisa determinada é no local da coisa, e 774º para obrigações pecuniárias é no
domicílio do credor.

2.3 Prazo para o cumprimento


Neste sentido distinguimos obrigações puras de obrigações de prazo determinado.
 Obrigações puras – 777º\1, não têm qualquer prazo fixado, o credor pode exigir
quando entender e o devedor oferecer o cumprimento quando entender. O devedor só é
considerado em mora depois de interpelado para cumprir (805º\1 e 804º).

 Obrigações com prazo determinado temos que ver a favor de quem é atribuído o
prazo, ou seja, verificar quem é o beneficiário do prazo:

 Regra geral é o devedor (779º) o credor não pode exigir antes do prazo, com
exceção do 780º e 781, nem recusar receber (813º).
 A favor do credor, pode exigir antes de terminar o prazo, mas o devedor não
pode oferecer antes desse final de prazo, a recusa de cumprimento por parte do
devedor leva á mora (804º)
 A favor de credor e devedor, o credor pode exigir e recusar e o devedor pode
recusar e oferecer antes. Só há mora após decurso do prazo.
Nas obrigações com prazo determinado o devedor entra em mora quando não
cumpre no prazo estipulado (804º\2 e 805º\2\a).
Há situações em que há perda do benefício do prazo (780º e 781º), no 780º temos
situações em que o credor tomou conhecimento da insolvência do devedor. No
781º quando o devedor falha uma das prestações na compra e venda a prestações.

O cumprimento da obrigação leva como é óbvio á extinção da obrigação.

2.4 Incumprimento

Temos o incumprimento não imputável, é não culposo, e não gera responsabilidade, apresenta
três impossibilidades:
 Impossibilidade objetiva (790º\1) e subjetiva (791º), a obrigação extingue-se.
 Impossibilidade temporária\definitiva (792º) tem que se ter em conta o interesse do
credor e não há mora
 Impossibilidade total ou parcial – redução (793º), se no houver já interesse do credor
leva ao 801º\2
As consequências, regra geral 795º exonera-se da obrigação e direito de restituição se já tiver
efetuado. A exceção 796º quad Effectum, em que há transferência de propriedade também se
transfere o risco.

Temos o incumprimento imputável, é culposo, leva:


 Mora – tem como requisitos manutenção de interesse (808º\2) e a prestação tem que
ainda ser possível. As consequências é a obrigação de indemnizar (804º 562º) e a
inversão do risco (807º e 796º\1). Cessa a mora com a prescrição (309º), cumprimento,
acordo das partes e a convenção em incumprimento definitivo (interpelação
admonitória 808º\1, impossibilidade e declaração do devedor).

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 Incumprimento Definitivo pode levar á:

 Manutenção do contrato, o credor tem que efetuar o juro da prestação 798º, há


indemnização pelo interesse contratual positivo (danos patrimoniais (danos
emergentes e lucros cessantes) + danos não patrimoniais).

 Resolução do contrato 801º\2 + 432º (ter em atenção o 886º) pode levar á


indemnização mas só pelo interesse contratual negativo.

 Casos práticos

No dia 25 de Outubro, A decidiu oferecer um jantar aos seus amigos e, para tal, dirigiu-se
ao seu talho habitual e comprou três quilos de lombo de porco. No dia seguinte, A sentiu-
se mal e foi parar ao hospital, em consequência do mau estado da carne, pretendendo
pedir uma indemnização pelos danos sofridos a B, o dono do talho. Imagine que é juiz.
Que regras da responsabilidade civil aplicaria a este caso?

Estamos perante uma relação jurídica obrigacional, portanto estamos perante responsabilidade
contratual nos termos do art.798º e seguintes. Haverá responsabilidade civil? Para tal temos que
verificar se estão preenchidos os cinco pressupostos:

 Facto voluntário – a carne estava em mau estado


 Ilicitude- houve a violação de um direito de crédito de A, houve o cumprimento
defeituoso por parte de B 397º
 Culpa- existe
 Dano- teve danos patrimoniais com as despesas hospitalares (562º) e não
patrimoniais (vergonha, dores – 496º\4)
 Nexo de causalidade – a carne estragada levou a sentir-se mal (563º)

A é imputável porque está na plenitude das suas capacidades (querer e entender).

Logo há lugar a responsabilidade civil.

Artur produziu queijos lesivos á saúde de vários consumidores ao não observar


determinada legislação. Camilo, também produtor de queijo, viu diminuídas as suas
vendas. Poderá Camilo responsabilizar Artur com base no artigo 483º\1?

Não, não pode porque não resulta nenhum direito subjetivo para Camilo.

A, vendo uma moto conduzida por B vir na sua direção, empurra C para conseguir
afastar-se e salvaguardar a sua integridade física, causando a C a fratura de um braço e
dois dedos da mão. Quid Iuris?
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Estamos perante responsabilidade extracontratual por factos ilícitos (339º e 396º). Teríamos que
verificar os pressupostos: facto voluntário, ilicitude, culpa, dano, nexo de causalidade.
Verificava-se os pressupostos, mas estamos perante uma situação de exclusão da ilicitude –
estado de necessidade.

De facto B viola um direito absoluto de C, mas estava em causa o direito á vida de B, por isso
pode prevalecer-se o direito á vida. B tem que indemnizar C e A tem que pagar porque
provocou toda a situação.

A, doente mental internado num hospital, consegue iludir um enfermeiro e foge. Vai a um
bar, envolve-se numa discussão com B, dono provocando a danificação de objetos. Ao
agredir B, A também fica ferido. Quem podem A e B acionar com vista á reparação dos
danos sofridos?

Estamos perante uma responsabilidade extracontratual pois imaginemos que se trata de um


hospital público.

Os intervenientes são A (doente) B (dono do bar) e o enfermeiro.

B teve danos no bar e danos pessoais, A teve danos pessoais.

A doente mental (488º) é inimputável pois não tem capacidade para querer e entender (488º\1),
logo quem responde é o enfermeiro com base no art.483º\1 e 491º devido á presunção de culpa.
O enfermeiro não responde sozinho, o hospital responde pelo risco (500º), mais não seja por
contratar pessoas sem responsabilidade e responde pelas pessoas que trabalham consigo, para tal
tem que haver:

 Relação de comissão
 Dano causado no exercício de funções
 Obrigação de indemnizar por parte do comissário

O hospital paga mas tem direito de regresso sobre o enfermeiro (500º\3)

Se considerarmos que A é imputável, tem que indemnizar (483º) o enfermeiro tinha dever de
vigilância (483º\1, 486º, 487º), ou seja, tem que provar a culpa do enfermeiro e respondem
solidariamente se conseguirem culpar o enfermeiro o hospital também responde (487º)

B agrediu A mas foi como resposta a uma agressão atual, logo falamos em legitima defesa,
opera uma causa de exclusão, não há portanto responsabilidade civil por parte de B.

O circo internacional, propriedade da sociedade Ferreira e Ferreira, chegou á cidade,


durante o espetáculo dessa noite um leão escapa da jaula porque o tratador não fechou a
jaula convenientemente.

a) O leão atacou um dos espectadores que se encontrava num local de acesso


proibido ao público a fim de puder ver o espetáculo sem pagar o bilhete. Quem
e com que fundamento responde pelos danos sofridos pelo espectador.
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Manuel não pagou o bilhete, quer ser indemnizado por ter sido atacado pelo Leão, quem é que
vai responder? O tratador que deixou a jaula aberta, facto voluntário por omissão (483º\1 e
486º), ilicitude- há a violação do direito á integridade física, culpa – imputável 488º\1\2, mera
culpa ou negligência, prova de culpa (presunção de culpa, culpa provada). Se formos pela culpa
provada 487º\1 Manuel tem que provar que o tratador deixou a jaula mal fechada, e aí haveria
responsabilidade (570º\1), como o tratador é um funcionário, com ele responde também o circo
(500º) que depois teria direito de regresso sobre o tratador (500º\3), ou seja, o circo responderia
pelo risco.

Se formos pela presunção de culpa (493º\1) presume-se que o tratador é responsável pela jaula,
mas também há culpa do lesado porque está num local proibido (570º\2) logo não haveria lugar
a indemnização

b) Sousa e o seu filho Diamantino assustados com o leão, fugiram junto com os
restantes espectadores para a saída tendo pelo caminho pisado Anacleto
causando-lhe a morte.

Há responsabilidade extracontratual, há facto voluntário, há ilicitude, culpa há mas há causa de


exclusão da culpa: medo invencível, logo não há responsabilidade civil.

Alexandre vive no Porto com o filho Bruno de 4 anos, querendo sair uma noite para jantar
telefona a Carolina, uma vizinha que costuma tomar conta de crianças, ambos acordam o
pagamento de 25 euros para que ela fique com Bruno até ao regresso do pai. Quando
regressa, Alexandre vê Carolina adormecida no sofá, Bruno que se escapulira para a
varanda estava entretido a atirar para a rua os cachimbos que o pai colecionava há anos, o
seu pânico aumenta quando verifica que o automóvel estacionado na rua tinha o vidro
partido e os cachimbos estavam no chão todos partidos. Entretanto, Diogo que passava na
rua aproveita o vidro partido para furtar o rádio de dentro do veículo. Quid Iuris?

O vínculo jurídico é sempre entre o agente e o lesado.

Danos- vidro do carro, cachimbos e rádio

Vidro do carro: responsabilidade extracontratual, Bruno é o agente e é inimputável 483º\1 e


488º\2, então quem responde? Alexandre e Carolina. O pai consegue iludir a presunção de culpa
porque pagou a alguém para vigiar o filho. Carolina responde nos termos do art.483º\1 e 486º e
491º. Se Alexandre respondesse responderia como comitente e depois teria direito de regresso
sobre carolina.

Cachimbos: o lesado é Alexandre, o agente é Bruno (inimputável), quem vai responder é


Carolina, neste caso há entre Alexandre e Carolina uma relação jurídica obrigacional 798º.

Rádio: o lesado é o dono do carro, o agente é Diogo. Relação extracontratual (facto voluntário,
ilicitude, culpa, nexo de causalidade, dano). No entanto não há nexo de causalidade entre a
omissão de carolina e o furto do carro, por isso carolina não tinha responsabilidade, quem
responderia seria Diogo.

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A foi de férias e deixou o seu cão á guarda de B, tratador de cães. Certo dia B quis testar a
agressividade do animal e atiçou-o, sendo que o cão acabou por o morder, causando-lhe
graves ferimentos. B quer ser indemnizado. Quid Iuris.

Os intervenientes são A lesante porque é o dono do cão, B é o lesado porque foi mordido.

Apesar de haver contrato, trata-se de uma relação jurídica extracontratual, ver requisitos (facto
voluntário, ilicitude …etc)

A atuação de A não é culposa nem negligente.

A responde pelo risco (502º)

O comportamento de B é relevante porque foi ele que atiçou o cão 570º\2, logo exclui o deve de
indemnizar, houve culpa do lesado.

A procura um cirurgião plástico, proprietário da clinica X, para que este proceda a uma
intervenção a fim de resolver um problema nasal. No decorrer da intervenção por causa
não apurada A sofreu lesões. A pretende ser indemnizado.

Houve contrato entre A e o cirurgião, logo estamos perante responsabilidade contratual. Temos
que verificar a mesma os requisitos do facto voluntário, ilicitude etc…. Presume-se a culpa do
médico que não consegue iludir a culpa porque as lesões ocorreram devido a causa não apurada
(799º), logo o cirurgião terá que pagar a indemnização a A.

No dia de Carnaval, A participou com os amigos num jogo de futebol, no decurso do jogo
A fraturou um dedo em virtude de uma disputa de bola com P. Cheio de dores, A tenta
agredir P, C irmão de P para evitar a agressão envolve-se num confronto com A acabando
por lhe fraturar uma perna. Quando A cai inanimado no chão, C completamente
descontrolado dá-lhe uma tareia, para socorrer o marido F atinge C com um disparo de
uma bala.

Danos: 1º P fratura o dedo a A.

2º C fratura a perna a A

3º C dá uma tareia a A quando este está no chão

4º F manda um tiro a C.

Primeiro devemos perguntar se há algum vínculo jurídico obrigacional entre eles? Não, então
estamos perante uma obrigação extracontratual 483º\1. Houve a violação de direitos absolutos
ou a prática de atos que causam dano a alguém.

1º 483º\1 e 340º\1, fratura do dedo é uma violação de direito de outrem. Verificar requisitos:
facto voluntário, ilicitude, etc… Há causa de exclusão porque houve consentimento do lesado,
logo não há lugar a responsabilidade.
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2º Fratura da Perna – verificar requisitos, na ilicitude há causas de exclusão da ilicitude porque
há legítima defesa (337º) haverá exceção? É atual, ilícita e excesso, haveria excesso mas seria
desculpável (337º\2), logo não há lugar a responsabilidade.

3º Tareia quando está no chão – C é imputável (+ de 7 anos, capacidade de querer e entender),


verificados os requisitos há lugar a responsabilidade nos termos do art.483º\1.

4º Tiro- F é imputável, mas é legítima defesa, o excesso é desculpável porque há medo mais
perturbação. Logo não há lugar a responsabilidade.

A ao entrar no elevador precipitou-se no fosso deste em virtude deste não se encontrar no


patamar por estar a ser inspecionado pela empresa que faz esses serviços. Atendendo a
que estava ligado o sinal vermelho de ocupado e que não havia luz na cabine e sendo certo
que A morreu já no hospital diga se há responsabilidade civil e em caso afirmativo quem
responde e quem tem direito a ser indemnizado?

O lesado é o A, o agente são funcionários (comissários) e a empresa (comitente). Se forem


vários funcionários utiliza-se o art.497º.

Não há responsabilidade jurídica obrigacional, logo estamos perante uma relação jurídica
extracontratual por factos ilícitos.

Facto voluntário (porta destrancada) 483º\1 e 486º

Culpa (487º\1 regra geral) ou então a situação do art.493º (570º\1\2 e 572º)

Nexo de causalidade 563º

O filho de A pegou no cartão de sócio do FC Porto do pai e atirou-o para casa do vizinho.
A pediu ao vizinho B que este entregasse o cartão, B sportinguista recusou fazê-lo. A
porque pretendia nesse dia ir ver o jogo do FCP saltou o muro e foi ao quintal de B
apanhar o cartão, com essa sua atuação destruiu meia dúzia de roseiras, B pretende ser
indemnizado.

Não há relação obrigacional, logo estamos perante responsabilidade extracontratual por factos
ilícitos vamos ver os pressupostos:

 Facto voluntário – existe

 Ilicitude – é ilícito, há violação do direito de propriedade, mas temos uma norma que
torna o facto lícito (1349º), o que nos leva á responsabilidade por facto lícito, que leva
há obrigação de indemnizar se verificar os outros pressupostos.

 Dano – houve, estragou as roseiras.

 Nexo de causalidade – se o cartão não fosse lá parar ele não ia saltar para o ir lá buscar

Havia lugar a indemnização 566º\2 através da teoria da diferença.

13
A conduzia um veículo automóvel, propriedade de B que o emprestara por um dia quando
foi interveniente num acidente de viação embatendo contra o veículo conduzido por C, que
é proprietário.

a) Ficou provado que o acidente resultou por A ter sofrido um ataque cardíaco
que o fez perder o controlo da viatura. Quem responde e em que termos.

Art.483º\2, 503º\1 e 506º.

b) Não ficou apurada a causa do acidente. Quem responde e em que termos.

483º\2, 503º\1 e 506º.

c) Ficou provado que o acidente resultou de A ter guinado para a esquerda de


modo a evitar o atropelamento de José que apareceu repentinamente á frente
do carro. Quem responde pelos danos sofridos?

483º\1 e 339º.

A, funcionário de C que é proprietário do veículo, embate no carro de B, não foram


apuradas as causas do acidente. Havendo danos para ambos os veículos e dano para D que
pediu boleia a A. Quem responde e em que termos?

Como intervenientes temos:

A- Condutor, tem presunção de culpa contra si (483º\1 e 503º\3\), não conseguindo ilidir a
culpa.

C- Proprietário do veículo (503º\1) tem direção efetiva e tem interesse na condução,


responde também por comitente (500º\1\2)

B – Condutor e proprietário (503º\1) tem direção efetiva e tem interesse na condução.

Temos confronto entre culpa de A, neste caso elimina-se as situações de risco, logo C
responde apenas por comitente. B tem direito a ser indemnizado, podendo exigir a A ou a C
(497º\2 e 507º\2), sendo que se for a C este tem direito de regresso face a A (500º\3).

D- 503º\3 que remete para 503º\1 em relação a D, A tem direção efetiva e interesse na
condução, B também responde (503º\1) assim responde A e B para com D (506º).

Alexandre ao conduzir um automóvel perdeu o domínio do veículo, indo colher Simão,


transunto que sofreu danos avaliados em 25.000€.

a)    Suponha que, o acidente se ficou a dever a doença súbita do condutor e que o


imóvel era pertencente a Carlos que lho emprestou para o fim-de-semana. Quid Iuris?

14
Está presente um contrato de comodato de curta duração. Não há uma relação obrigacional pois
não há nenhum vínculo entre Alexandre e Simão. É extracontratual mas não por factos ilícitos
pois Alexandre não estava na plenitude das suas capacidades. Assim, há responsabilidade pelo
risco na medida que, Alexandre tinha a direção efetiva e interesse na condução (art. 503º/1).
Como Carlos era o dono do veículo também responde pelo risco pois também tinha direção
efetiva e interesse na condução. Portanto, Alexandre e Carlos respondem solidariamente pelos
danos causados a Simão nos termos do artigo 503º/1 e 507º/1.

b)   Suponha que, Alexandre era motorista profissional e que o veículo era pertencente à
entidade paternal e não ficou apurada a causa do acidente. Quid Iuris?

Novamente não há responsabilidade contratual pois não há um vínculo entre o agente e o


lesado. O artigo 503º/3 prevê a possibilidade de culpa dos motoristas (+ 483º/1). Será que
consegue ilidir a culpa? Não, logo não afasta a presunção de culpa e será responsável. Como
estava a exercer as suas funções, também o comitente responde pelo artigo 500º. Assim,
Alexandre e Carlos respondem solidariamente tendo este último direito de regresso, desde que
se verifique os requisitos da relação comissão (art. 497º e 500º/3).

c)    Pressuponha que, Alexandre tinha feito um desvio na rota pré determinada a fim de
tratar de um assunto pessoal.

Quem não está no exercício de funções responde como sendo o proprietário do veículo, logo
responde pelo risco (art. 503º/1). O comitente não responde, pois apesar de ter direção efetiva,
naquele momento não tinha interesse na condução do veículo logo aplica-se apenas a
responsabilidade do risco ao condutor exceto se ele não praticar factos ilícitos.

O veículo conduzido por (A), motorista de (B), despistou-se em virtude do rebentamento


de um pneu. Em consequência do despiste o veículo embateu contra a montra da
ourivesaria de (C), partindo o vidro. (A) fraturou uma perna e (F) a quem dera boleia foi
projetado por ter a porta mal fechada e fraturou um pulso. No meio da confusão (S)
fraturou joias da ourivesaria. (H) uma idosa assustada teve um AVC de que só recuperou
no hospital.

Quanto ao dano na montra: (A) responde pelo risco (art. 483º/1 + 503º/3), mas como o acidente
foi devido ao arrebentamento de um pneu consegue ilidir a culpa, logo não é responsável. O (B)
não responde pelo comitente (art. 500º/1) mas responde pelo risco (art. 503º/1) enquanto

15
detentor e proprietário do veículo, não responde por comitente pois não se verifica os requisitos,
ou seja, (A) não estava no exercício das suas funções.

Quanto ao roubo das joias: não há nexo de causalidade entre o facto praticado por (A) e o furto
das joias praticado por (G), no entanto, há nexo entre a ação de (G) e o furto, uma vez que, agiu
dolosamente (art. 483º/1 + 487º/1).

Quanto à fratura na perna: (B) responde pelo risco e terá de responder pelos prejuízos causados
(art. 503º/1 + 504º/1).

Quanto à fratura no pulso: (B) já não tem interesse na condução e por isso, (A) responde como
proprietário do veículo (art. 503º/3 – última parte) e também responde pelo risco (art. 503º/1).
(F) não fechou bem a porta, é um comportamento relevante logo há culpa do lesado (art. 570º/2)
e por isso, não há indemnização (art. 572º) pois a culpa do lesado é culpa provada e é superior à
presunção de culpa. 

Quanto ao ataque cardíaco: não há nexo de causalidade entre o facto voluntário e o dano, logo
aplica-se o art. 563º que corresponde à Teoria da Causalidade Adequada.

Há danos patrimoniais (montra e contas do hospital) e danos não patrimoniais (dores). A


indemnização dos primeiros é calculada pelo art. 566º/2 segundo a Teoria da Diferença. Já o
cálculo da indemnização de danos não patrimoniais é feito através dos Juízes de Equidade (art.
496º/1 e 4).

 António que vive numa aldeia do Conselho de Amarante, contratou Bento, taxista, para o
transportar ao Porto para uma consulta médica. Ficou combinado que, Bento passaria em
casa de António às 8 horas do dia 2 de Outubro, uma vez que, a consulta estava marcada
para as 11 horas. No decurso da viagem para o Porto, o táxi de Bento despistou-se por
causa do gelo na estrada e foi colidir na traseira de um veículo que estava parado no
semáforo. Ambos os veículos sofreram danos. Quid Iuris?

Não existe uma relação jurídica obrigacional entre o taxista, Bento, e o veículo que estava
parado nos semáforos. Portanto, é uma relação extracontratual mas será por factos ilícitos?
Deve-se analisar os pressupostos: há facto voluntário porque Bento teve vontade em conduzir o
veículo naquela situação; há ilicitude, uma vez que, o embate corresponde à violação do direito
de outrem. Mas já não há culpa pois não existe um comportamento censurado pela ordem
jurídica), logo não é por responsabilidade por factos ilícitos mas responde pelo risco (art.
503º/1), uma vez que, tem direção efetiva e interesse na condução. O dono do veículo parado
também tem direção efetiva e interesse na condução e por isso também responde pelo risco (art.
16
503º/1). No entanto, deve-se ter em atenção o art. 506º que refere que, responde pelos danos
quem por eles for responsável. Como o outro veículo estava imobilizado será responsável pelos
danos o Bento e só ele é obrigado a indemnizar.

Pressuponha agora que, já no Porto, o táxi acabava por colher Joaquim que inesperada e
repentinamente atravessa a rua para ir apanhar o autocarro, não dando tempo a Bento
para travar. Quid Iuris?

O agente, Bento, é culposo nos termos do 503º/1 mas Joaquim teve um comportamento
relevante, logo há culpa do lesado nos termos do art. 570º/2. Assim, resolve-se o problema pelo
artigo 505º que corresponde a uma exclusão da responsabilidade, logo Bento não teve culpa e
por isso não responde pelo resultado. 

Bento esqueceu-se e apareceu em casa de António às 11:30h. Que pode António fazer?

Está aqui presente uma relação obrigacional e posteriormente um incumprimento faltoso


definitivo e António poderá responsabilizar Bento nos termos do artigo 798º e ss.

Pressuponha agora que, o atraso ficou a dever-se ao facto de a polícia não permitir a
entrada no Porto. Quid Iuris?

É na mesma impossibilidade mas não culposa. O Bento não paga nem António, uma vez que,
extingue-se as obrigações (art. 795º). Caso António já tivesse pago a Bento tinha direito à
restituição do pagamento. Não se aplica o art. 796º porque em causa não está um direito de
propriedade. 

António pediu a Bento que fosse buscar o seu filho à escola, uma vez que, estava numa
reunião e disse-lhe para levar o seu carro. No regresso da escola, sem que nada fizesse
prever, Bento despistou-se e foi embater num carro estacionado. Enquanto tentava
resolver a situação, o filho de António, à janela do carro, atirou um brinquedo que feriu
Carlos num olho. Quid Iuris?

Não existe nenhuma relação jurídica obrigacional entre António e Bento, logo trata-se de uma
relação extracontratual. Assim, irá-se analisar a responsabilidade pelo risco, uma vez que, não
há juízo de censura. Desta forma, António tinha direção efetiva e interesse na condução de
Bento. Há uma relação de comissão entre António e Bento. Será que Bento consegue ilidir a
presunção? Não (art. 503º). Desta forma, António responde enquanto comitente sobre os danos
do carro estacionado (art. 500º) e assim, não se aplica o (art. 503º/1).

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Quanto aos danos provocados pelo filho de António. Não se sabe se ele é imputável, desta
forma quem responde primeiro? Bento (art. 483º/1 + 491º), pois tinha a obrigação de vigiar a
criança. Novamente, António responde enquanto comitente (art. 500º).

Fonseca pretende comprar um cavalo para se dedicar ao hipismo. Como tal no dia 2/01/09
adquiriu a Simões um cavalo, vencedor de vários concursos hípicos. Ficou convencionado
que o cavalo seria entregue na quinta do comprador no dia 10/01/09.

1.    Suponha que, no dia 4/01/09, o cavalo morreu de ataque cardíaco fulminante.

Está-se perante um contrato de compra e venda (art. 874º) que à partida terá os efeitos do
mesmo (art. 879º), a transferência deu-se por mero efeito do contrato (art. 408º/1). Ficou
convencionado a entrega do cavalo e como Simões não a fez está perante um incumprimento.
Há facto voluntário (uma omissão – não entrega do cavalo). Há ilicitude porque há violação de
um direito de crédito. Mas já não há culpa pois o cavalo morreu de ataque cardíaco. Presume-se
a culpa de Simão e tem que se verificar se ele a consegue ilidir. E assim acontece (art. 799º/1). É
um incumprimento não imputável (art. 790º/1) e tem como consequência a obrigação do
devedor extinguir-se. Aplica-se o art. 796º pois com a transferência da propriedade transfere-se
o risco. Não se prevê a possibilidade do nº2 pois nada foi convencionado. Fonseca não teria
direito de regresso e caso não tivesse paga o preço teria de cumprir a sua obrigação.

2.    Suponha agora que, chegado dia 20/01/09, Simões não tinha entregue o cavalo.
Fonseca procura-o a si para saber como poderá agir.

Tem-se novamente um facto voluntário (omissão), ilicitude (violação do direito de crédito de


outrem) mas já há culpa pois não se a consegue ilidir. Há nexo de causalidade e também há
dano. Está-se perante um caso de mora (art. 804º/1). O que se podia aconselhar a Fonseca? Para
haver a resolução teria de transformar a mora em incumprimento definitivo através da
interpolação admonitória (art. 808º/1) e desta forma, haveria efeitos retroativos e o que foi
prestado seria devolvido (art. 432º). Também poderia mostrar que perdeu o interesse na venda
(art. 808º/2) e ainda beneficiar do artigo 817º em que, pode exigir o cumprimento do devedor.

Se optar pela manutenção do contrato, colocam-se nas posições iniciais, ele paga a sua
obrigação mas poderá exigir a indemnização (danos patrimoniais (danos emergentes + lucros
cessantes) e danos não patrimoniais) – art. 798º.

18
António comprou a Bento uma certa mercadoria. Aferiram que a entrega se fazia em
determinada data e Bento não cumpriu.

a)    O que pode António fazer?

Trata-se de responsabilidade contratual, António e Bento celebraram um contrato de compra e


venda (art. 874º) que à partida produzirá os respetivos efeitos (art. 879º). Não tinha forma legal,
uma vez que, era uma coisa móvel não sujeita a registo, logo vigora a liberdade de forma (art.
219º). Há aqui um atraso no cumprimento que se traduz na mora: ainda tem de ser possível a
prestação da coisa e o credor ainda tem de ter interesse na manutenção co contrato (art. 808º/2).
Desta forma, Bento teria de indemnizar (art. 804º) pois está em atraso desde o fim do prazo da
entrega da coisa (art. 805º/2/a).

António podia querer transformar a mora em incumprimento definitivo, para isso, tinha de
provar a perde de interesse ou utilizar a interpelação admonitória (art. 808º/1) em que o credor
teria de dar um prazo razoável ao devedor (15 dias) e verificar a cominação (se não cumprir nos
15 dias considera-se o contrato incumprido e por isso, pode resolver o contrato (art. 801º/1 +
434º) que tem efeitos retroativos: se António pagou tem direito de regresso, caso contrário, não
tem de pagar. Ele pode receber uma indemnização negativa.

b)   Pressuponha que, no dia combinado para a entrega, Bento apenas pretende entregar
dois terços da mercadoria.

Está presente o princípio da integralidade e o princípio da boa-fé (art. 763º e 762º). O que é
relevante é o interesse do credor. Em relação a uma parte da prestação Bento está em mora (art.
793º) e ou António faz a prova da perda do interesse ou torna a mora em incumprimento
definitivo (interpolação admonitória) e dessa forma, resolve o contrato. Se ainda assim, António
tiver interesse, Bento reduz o preço e António fica com os dois terços da mercadoria 

c)    Bento quer entregar a mercadoria antes do prazo fixado. Quid Iuris?

Em regra, o prazo é estabelecido a favor do devedor (salvo convenção em contrário). Como


nada foi convencionada presume-se que assim foi e por isso, Bento pode entregar antes do prazo
(art. 779º) mas o credor não pode recusar se o fizer entra em mora (art. 813º) e sofre as
consequências (art. 816º).

Marta e Matilde em 1 de Julho de 2012 convencionaram trocar um quadro que valia


4000€, pertencente à primeira, por uma escultura, pertencente à segunda do mesmo valor.
Ficou acordado que os bens seriam trocados no dia 16 de Julho de 2012.

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a)    Pressuponha que, Matilde no dia 5 de Julho, por descuido deixou cair a escultura, a
qual em consequência ficou partida e sem qualquer valor. O que poderá Marta fazer?

Trata-se de responsabilidade contratual (art. 790º) em que, Marta e Matilde celebraram um


contrato de permuta que à partida terá os efeitos da compra e venda (art. 939º). No entanto,
Matilde por descuido deixou cair a escultura. Não há mora pois há uma impossibilidade da
prestação imputável (superveniente), uma vez que, agiu com descuido/ negligencia. Assim,
Matilde encontra-se em incumprimento definitivo (art. 801º) e é culposo (art. 799º). Matilde não
consegue ilidir a presunção e por isso é responsável. Desta forma, Marta tem duas alternativas:
resolve o contrato e volta a adquirir a propriedade do quadro, tendo direito a uma indemnização
negativa (art. 801º) e Matilde fica com os cacos da escultura ou então, Marta não quer o quadro
e pretende uma indemnização positiva (art. 798º).

b)   Pressuponha que, no dia 16 de Julho, Marta não apareceu no local convencionado


para a troca dos bens e que no dia seguinte, Matilde por descuido deixou cair a escultura
que partiu e ficou sem qualquer valor. Quid Iuris?

Está-se perante a mora do credor, uma vez que, já tinha havido a transferência do risco com o
não aparecimento de Marta (art. 815º). Marta fica com a obrigação de indemnizar devido aos
seus atos dolosos. Senão o risco corre por conta do proprietário, Matilde.

c)    Pressuponha agora que, no dia 16 quando se dirigia para o local convencionado para a
entrega, Matilde foi abordada por Joaquim que a agrediu para a roubar. Para afastar a
agressão Matilde usou a escultura, partindo-a na cabeça de Joaquim. Ambos ficaram
feridos, quem e em que termos é responsável pelos danos causados.

Trata-se de responsabilidade extracontratual por factos ilícitos e estão presentes três danos:

1.    Agressão de Joaquim a Matilde: há facto voluntário (Joaquim agiu com intenção de agredir
Matilde), há ilicitude (violação de um direito de crédito e ofensa à integridade física), há culpa
(em principio é imputável e praticou atos dolosos), há nexo de causalidade (a ação prevê o
dano) e por fim, há danos (patrimoniais e não patrimoniais). Logo, Joaquim é responsável e
teria de indemnizar Matilde pelos danos causados.

2.    Agressão de Matilde a Joaquim: há facto voluntário mas não há ilicitude, uma vez que,
Matilde agiu em legítima defesa por estar perante uma agressão ilícita e atual (art. 337º).

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3.    Prejuízo de Marta: há facto voluntário mas, novamente, não há ilicitude pois Matilde para
se defender precisou de usar a escultura. Entrou num estado de necessidade (art. 339º). Joaquim
teria de indemnizar Mata mas também Matilde acabaria por o fazer.

A sociedade MC contratou a sociedade CS, especializada em programação informática


para criar um programa específico. O contrato foi celebrado no dia 15/10/2014, e o
programa deveria estar a funcionar a 15/01/2015, data a partir da qual a MC contava
implementar a venda de um novo serviço. O preço foi de 1.000.000€.

a)    No dia 16/01/2015, uma vez que o sistema informático não estava ainda instalado a
MC interpolou a CS resolvendo o contrato e pedindo o pagamento de uma indemnização
de 250.000€ respeitante ao lucro que vai deixar de obter em virtude do contrato não ter
sido cumprido antecipadamente.

Trata-se de responsabilidade contratual. A CS encontra-se em mora que tem dois requisitos:


possibilidade da prestação e interesse do credor na manutenção, no entanto, a MC não podia
enviar logo a carta a falar sobre a resolução pois ou prova a perda do interesse ou transfere a
mora em incumprimento definitivo (para isso usa a interpolação admonitória – art. 801º/1) e tem
que dar um prazo razoável à CS e só nessa situação pode haver resolução do contrato.

Pode a MC pedir uma indemnização? Não, porque optou pela resolução do contrato e ou opta
por ela (que consiste na destruição do contrato e por isso tem efeitos retroativos e recebe uma
indemnização de interesse contratual negativo – 801º/2) ou opta pela manutenção do contrato e
paga a sua prestação e recebe a indemnização que queria e que corresponde aos danos
patrimoniais (danos emergentes + lucros cessantes).

b)   No dia 1/01/2015 os técnicos da CS dirigiram-se às instalações da MC para


estabelecerem à instalação do programa informático tendo encontrado-a encerrada com o
seguinte aviso: “encerrada para balanço até dia 15/01”. Apesar da sociedade CS
argumentar que não respeitou o prazo estabelecido porque a MC se encontrava
encerrada, esta defende que a CS teve muito tempo para cumprir antes do encerramento
para balanço. Concorda com esta opinião? Justifique legalmente.

A entrega seria no dia 15/01 mas a sociedade CS quis entregar no dia 1/01, no entanto, a MC
estava fechada para balanço. A CS podia entregar o programa antes? Sim (art. 779º) porque o
prazo conta a favor do devedor e por isso, a MC encontra-se em mora. Como se poe termo à
mora do credor? Entende-se que se pode usar o expediente da interpolação admonitória – não
existe solução concreta no código civil. 

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A vai a lisboa tratar de uns assuntos, ainda no Porto encontra C a pedir boleia na estrada
e resolve levá-la até Lisboa.

Perto de Coimbra, A sente-se com sono, C parece-lhe uma pessoa ponderada pede-lhe que
conduza a viatura, C inicia a condução e A adormece profundamente.

a) C sente-se indisposto e sem acordar A sai da autoestrada e sai em Vila Franca de


Xira para procurar ma farmácia ao estacionar embate no veículo de P que estava
estacionado.

Temos como dano o embate no veículo estacionado, C é comissário 503º\3 e 483\1, mas não
está no exercício de funções logo responde pelo risco 503º\1.

A não responde porque não está no seu interesse.

b) Na portagem de Alverca por causa não apurada o veículo conduzido por C embate
no veículo conduzido por J, proprietário, da colisão resultou danos para ambos.

C é comissário, está no exercício de funções, 483º\1 e 503º\3, não consegue ilidir a presunção de
culpa, a causa não foi apurada, logo responde pelo 483º\1.

A responde por comitente 500º, verificados os requisitos, tem direito de regresso nos termos do
500º\3. Assim, A e C respondem solidariamente 497º.

A vendeu a B um quadro ficando de o entregar 1 semana depois. Quando A se preparava


para meter o quadro na mala do carro para o ir entregar, um vaso caiu do 3º andar
destruindo o quadro e partindo o vidro da mala do carro.

B tomando conhecimento do sucedido recusa-se a pagar o quadro, A enfurecido acabou


por lhe tirar a carteira á força com o intuito de retirar a quantia em questão, perante isso
B agrediu-o, tendo A caído, batido com a cabeça na soleira de porta e acabou por morrer.

Como danos temos o quadro, o vidro do carro, o tirar a carteira á força e a agressão e morte de
A.

A vendeu um quadro a B, temos presente responsabilidade contratual pois temos uma relação
jurídica obrigacional resultante do contrato compra e venda com liberdade de forma (219º), e
produz os seus normais efeitos 879º alínea a) e 408º\1 e 796º\1, transmitiu-se a propriedade e o
risco, e ainda os efeitos da alínea b e c. A entrega da coisa ficou estipulada para uma semana

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depois, surgiu uma impossibilidade superveniente, definitiva, não imputável 790º\1, a obrigação
de A extingue-se, B tem que efetuar a prestação 796º\1 uma vez que o risco já está a correr por
sua conta. B não paga o preço, leva a incumprimento de B, sendo mora se interpelado para
pagar não cumpre aí usa-se o art.804º e 805º\1.

Dano do quadro – o lesado é B, agente é o vizinho do A, há facto voluntário (483º\1 3 486º


493º), há ilicitude (violação do direito de propriedade de B), culpa é imputável 488º, mera culpa
ou negligência, prova da culpa B prova que houve culpa do vizinho 487º\1 ou presume a culpa,
há nexo de causalidade, e temos danos patrimoniais 562º e 566º\1 teoria da diferença.

Dano do carro é igual ao anterior.

Carteira- facto voluntário, ilicitude, culpa, nexo de causalidade, danos patrimoniais e não
patrimoniais.

Agressão e Morte – facto voluntário, ilicitude só que opera uma causa de exclusão da ilicitude
337º legítima defesa, verificar os requisitos, e eventual excesso, culpa, nexo de causalidade e
danos 495º e 496º\2.

A vendo B desmaiado no passeio quebra o vidro do automóvel de C para o levar ao


hospital, porque no seu entendimento de enfermeiro não há tempo para esperar pelos
meios de socorro normais, ao dirigir-se ao hospital acaba por embater em excesso de
velocidade no carro de D conduzido pelo seu funcionário que inadvertidamente não parou
no STOP, do embate resultaram danos para ambos os veículos, e a morte de B que não foi
socorrido a tempo.

Temos como danos o vidro do carro de C, o acidente que causou danos para ambos e a morte de
B.

Quanto ao vidro, o agente é A, o lesado é C, não há relação jurídica contratual entre eles 483º\1,
logo estamos perante responsabilidade extracontratual. Há facto voluntário, ilicitude (violação
do direito de propriedade), só que há causa de exclusão da ilicitude – 339º - estado de
necessidade, verificam-se os requisitos, quem tinha que indemnizar o C era o agente e o B
(339º\2) juízos de equidade. Culpa imputável, culpa provada, nexo de causalidade e danos
patrimoniais.

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Quanto ao acidente, A ia com excesso de velocidade, D era funcionário que não parou no stop,
culpa provada 483º\1 e 487º, a par do funcionário responde o dono por comissário 500º\1. C é
dono do carro não responde pelo 503º\1 porque não tem direção efetiva nem tem interesse.

D vai responder pelo 570º\1 ou seja, D e A respondem por 50% 50%.

Quanto á morte de B, a sua morte resultou de ferimentos do acidente? Não, já estava desmaiado,
não haveria nexo de causalidade entre o acidente e a morte.

A, pintor, realizou uma exposição durante a qual vendeu algumas das suas obras, o
combinado com os adquirentes foi entrega-las no dia a seguir.

Durante a exposição contratou também com C ir pintar-lhe uma parede de uma divisão da
sua casa, visto que C pretendia uma pintura original.

Na véspera do encerramento da exposição, um incendio aconteceu e apesar dos esforços de


A, que acabou ferido, a quase totalidade das obras de arte ficou destruída.

A ficou com uma incapacidade permanente na mão direita, C e os restantes adquirentes já


tinham satisfeito as suas obrigações contratuais e pretendem reaver as mesmas.

Estamos perante uma relação jurídica obrigacional, A pintou vendeu quadros e efetuou pintura
em casa de C.

Quanto aos quadros vendidos, temos uma compra e venda, com liberdade de forma, efeitos do
879º. Impossibilidade objetiva 790º\1, extinção de prestação do devedor, que consegue ilidir a
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culpa 799º\1 leva a incumprimento não imputável, neste caso não se transferiu o risco
art.796º\2, têm direito a ser ressarcidos. A prestação do pintor extingue-se mas os credores que
já efetuaram o pagamento devem ser ressarcidos.

Quanto á pintura, temos uma impossibilidade subjetiva 791º, extingue-se a obrigação do


devedor, não há fungilidade 767º, tem como consequência o art.795º\1.

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