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Universidade de Brasília

Instituto de Psicologia
Departamento de Psicologia Clínica

PCL0051 - Tópicos em Psicoterapia - Turma C – Hipnoterapia – 2020/2


Professores: Maurício da Silva Neubern / Hugo Nogueira Gonçalves (doutorando)
Data: 12/02/2021

Aula 02: Hipnose Ericksoniana e


Fenômeno de Transe
Erickson (Erickson & Rossi, 1979) relatam sobre um paciente inesperado:
Um paciente entra energeticamente em seu consultório alegando não saber se é hipnotizável
ou não. Ele estava disposto a entrar em transe se lhe fosse possível e desde que Erickson abordasse
todo o processo de forma intelectual, e não de maneira mística ou ritualística. Declarou que precisava
de psicoterapia por vários motivos e já havia tentado várias escolas de psicoterapia extensivamente e
sem benefício. Também já havia tentado hipnose em várias ocasiões, mas falharam miseravelmente
devido a misticismos e falta de apreciação por uma abordagem intelectual.
Questionamentos revelaram que para ele abordagem intelectual significava, não uma sugestão
de ideias, mas questioná-lo sobre seus próprios pensamentos e sentimentos em relação a realidade.
Afirma que Erickson devia reconhecer que ele estava sentado em uma cadeira, que a cadeira estava
em frente a uma mesa, e que isto constituía fatos absolutos de realidade. Como tais, não poderiam ser
ignorados, esquecidos ou negados. Ainda ilustrando a questão, o paciente menciona como estava
obviamente tenso, ansioso e preocupado com os tremores de suas mãos, que descansavam no apoio
de braço da cadeira, e que estava muito distraído, notando tudo a sua volta.
Erickson imediatamente tirou proveito deste último comentário como a base de uma
cooperação inicial com ele. Lhe disse:
“Por favor, prossiga explicando suas ideias e compreensões, me permitindo apenas
interrupções suficientes para o assegurar que o entendo completamente e que sigo junto com você.
Por exemplo, você mencionou a cadeira mas obviamente você viu minha mesa e tem se distraído com
os objetos nela. Por favor, explique completamente.”
Ele respondeu verborragicamente com vários comentários mais ou menos conectados sobre
tudo em vista. A cada pequena pausa, Erickson intervia com uma palavra ou frase para direcionar sua
atenção a algo novo. Estas interrupções foram ocorrendo com cada vez mais frequência, e ocorreram
da seguinte forma:
“Aquele peso de papel; o arquivo; seu pé no tapete; a luz do teto; as cortinas; sua mão direita
no braço da cadeira; as fotos na parede; a mudança de foco dos seus olhos enquanto desviam o
olhar; o interesse nos títulos dos livros; a tensão nos seus ombros; a sensação da cadeira; os
barulhos e pensamentos perturbadores; peso das suas mãos e pés; peso dos problemas; peso da
mesa; a prateleira; os arquivos de muitos pacientes; os fenômenos da vida; da doença; da emoção;
do comportamento físico e mental; o descanso do relaxamento; a necessidade de atender a
necessidades; a necessidade de atender à própria tensão enquanto olha para a mesa ou o peso de
papel ou o arquivo; o conforto de sair do ambiente; cansaço e seu desenvolvimento; as
características imutáveis da mesa; a monotonia do arquivo; a necessidade de descansar; o conforto
de fechar os próprios olhos; a sensação relaxante de um respiro profundo; o prazer de aprender
passivamente; a capacidade de um aprendizado intelectual pelo inconsciente.”
Foram feitas várias outras interjeições breves, lentamente no início e depois aumentando em
frequência. Inicialmente as interjeições complementavam a linha de raciocínio do paciente,
estimulando-o a se empenhar mais. Após, Erickson pausava e hesitava a completar a frase, o que
gerou expectativa e uma certa dependência sobre o autor para a continuação do procedimento. (pp.
56 – 57).

Referências:
Erickson, M., & Rossi, E. (1979). Hypnotherapy: an exploratory casebook. New York: Irvington.

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