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pensamentos sempre sobre os mesmos temas. partir desta década, surge o uso da abordagem
Tais indivíduos penavam pela convivência comportamental, descrita por Meyer, com as
contínua com dúvidas e medo de cometerem técnicas de dessensibilização sistemática para
atos impulsivos. Os pacientes eram situados o tratamento de obsessões e compulsões pro-
no campo da loucura pelos comportamentos postas por Wolpe (Cordioli, 2008).
apresentados, apesar da diferença entre as A partir dos anos 70, múltiplos estudos vêm
demais patologias e as obsessões. Contudo, sendo realizados a fim de comprovar a eficácia
estudiosos elucidavam tratar-se de delírios da abordagem comportamental no tratamen-
parciais, loucuras parciais ou monomanias, to do TOC, sobretudo utilizando a técnica da
uma vez que os acometidos por este mal não Exposição e Prevenção de Respostas. Mais
perdiam a razão. recentemente, as limitações observadas neste
Em 1886, Falret (in Macedo, 2005, p. 211) modelo, referentes às compulsões mentais e
definiu esta afecção: obsessões puras, têm dado lugar ao estudo do
papel das cognições no entendimento dos sin-
O verdadeiro transtorno desta enfermidade con- tomas obsessivos e compulsivos. Dessa forma,
siste, sobretudo, em envolver-se incessantemente surge o modelo cognitivo para complementar
sobre as mesmas ideias e sobre os mesmos atos,
o modelo comportamental, valorizando a ava-
experimentando uma necessidade de repetir as
mesmas palavras e de realizar os mesmos atos
liação das crenças distorcidas e propondo a
sem conseguir jamais satisfazer-se ou convencer- terapia cognitivo-comportamental (TCC) que,
se, nem sequer antes evidências. atualmente, é considerada o tratamento de
primeira linha para os sintomas obsessivos e
A diferença fundamental entre as formula- compulsivos (Cordioli, 2008).
ções de Falret e, posteriormente, de Freud está
na substituição que a psicanálise faz do termo Transtorno obsessivo-compulsivo:
loucura por Neurose. Na segunda metade do apresentação geral
século XIX, as obsessões faziam parte de um
quadro abrangente de disfunções mentais com Até a década de 80, o TOC era considerado
diversos sintomas em comum que não defi- raro, com estudos apontando uma prevalência
niam, entretanto, uma estrutura psicopatológi- de 0,05% da população. Mas, após a publicação
ca autônoma, dentre elas a neurastenia e a dege- dos dados de um importante estudo, o ECA
nerescência. Estas considerações da psiquiatria (Epidemiological Catchment Area Study), o TOC
acerca das obsessões permaneceram até a for- começou a receber mais atenção de pesquisa-
mulação do conceito de Neurose Obsessiva, dores. O estudo, desenvolvido em diferentes
termo que, posteriormente, seria empregado comunidades americanas, avaliou 18.500 pes-
como categoria exclusiva da clínica psicanalí- soas e encontrou taxa de prevalência de TOC
tica com a retomada do estudo das obsessões ao longo da vida de 1,9 a 3,3% (Karno et al.,
pelo campo da medicina (Macedo, 2005). 1988). Um estudo mais recente desenvolvido
Cabe ressaltar ainda que, divergente da nos Estados Unidos, o National Comorbity Sur-
compreensão médica, o olhar psicanalítico vey Replication, apontou estimativa de 1,6% na
proporcionou uma forma revolucionária de população geral (Kessler et al., 2005). No Bra-
entendimento das manifestações clínicas, da sil, a prevalência encontra-se entre 0,7 e 2,1%
origem e do funcionamento obsessivo. O ter- (Almeida-Filho et al., 1992).
mo Neurose Obsessiva é mencionado na obra A Associação Psiquiátrica Americana classi-
de Freud, pela primeira vez, em seu trabalho fica o TOC como um transtorno mental, incluin-
de 1894, intitulado As neuropsicoses de defesa, do-o entre os transtornos de ansiedade, ao lado
no qual expõe nosologia que une obsessões e das Fobias Específicas, Fobia Social, Transtorno
histeria. A partir de então, e até a década de 60, de Pânico, entre outros. Caracteriza-se pela pre-
a teoria psicanalítica forneceu o modelo para sença de obsessões e/ou compulsões. Obsessões
tratamento do TOC baseando-se na formula- são pensamentos, imagens ou impulsos intrusi-
ção teórica proposta por Freud (1970 [1909]) vos, repetitivos e recorrentes que causam ansie-
em O homem dos ratos. Entretanto, a formula- dade. Para aliviar o desconforto, a pessoa tenta
ção psicanalítica, postulando que a neurose suprimir ou neutralizar as obsessões através de
obsessiva seria uma manifestação de conflitos comportamentos repetitivos ou atos mentais,
inconscientes ligados à fase anal do desenvol- que são as compulsões (APA, 2002).
vimento, mostrou-se pouco eficaz para o tra- Outro sintoma que também pode estar pre-
tamento de casos resistentes do TOC. Assim, a sente são as evitações. Devido aos pensamen-
tos obsessivos ou pelo medo de realizar atos influenciar para o agravamento e manutenção
compulsivos em público os indivíduos podem dos sintomas. O Obsessive-Compulsive Cog-
evitar determinados locais, objetos, pessoas nitions Working Group (1997), grupo compos-
ou situações (evitar tocar em trincos, tornei- to por especialistas, apresenta uma relação das
ras, talheres utilizados por outras pessoas ou principais crenças: (a) exagerar a responsabili-
de lugares públicos, sentar em ônibus, bancos dade, (b) valorizar de forma excessiva os pen-
de praças; encostar-se em outras pessoas, pi- samentos, (c) necessidade de controlar os pen-
sar em tapetes com sapatos da rua, pisar em samentos, (d) exagerar o risco, (e) necessidade
rejuntes de azulejos). Outros sintomas asso- de ter certeza, e (f) perfeccionismo.
ciados ao transtorno são a indecisão, senso de Em relação aos fenômenos sensoriais, mui-
responsabilidade supervalorizado, lentidão e tos pacientes relatam sensações corporais pre-
dúvida patológica (Calvocoressi et al., 1999). cedendo seus rituais (ao invés de obsessões).
É uma doença crônica, de evolução va- Elas se apresentam de forma focal ou genera-
riável e que pode aparecer abruptamente, lizada e ocorrem antes da realização do com-
desencadeada ou não por evento estressor. portamento repetitivo. Os fenômenos senso-
A sintomatologia é grave em 10% dos casos, riais dividem-se em físicos e mentais. Dentre
intensificando-se progressivamente, podendo os físicos estão os táteis (por exemplo: “eu uso
acarretar incapacitação para o trabalho, limi- um batom 20 vezes por dia para aliviar uma
tações e grande sofrimento aos portadores. A sensação de secura nos lábios”) e músculo-es-
possibilidade de remissão dos sintomas sem queléticos ou viscerais (por exemplo: “quando
tratamento é considerada extremamente rara, eu como sinto meu estômago aumentado e isto
assim como seu início após os 40 anos de ida- me incomoda. Eu tenho uma sensação estra-
de. Um estudo multicêntrico brasileiro apre- nha nele e tenho que checar várias vezes como
sentou a média de idade de início dos sintomas ele está para me livrar dessa sensação descon-
obsessivos de 13,6 anos e dos compulsivos de fortável”). As sensações mentais, por sua vez,
13,2 anos. No entanto, não é raro encontrar ca- são definidas como percepções que ocorrem
sos da doença ainda na infância, com pesqui- antes ou durante a realização de um compor-
sas apontando que mais de 50% dos pacientes tamento repetitivo. Dentre elas estão apenas a
referem o surgimento dos sintomas quando necessidade ou premência, o “ter de” realizar
crianças. Além disso, o tempo médio entre o (por exemplo: “eu não sei o motivo que me
início dos sintomas e a busca por tratamento leva a checar as portas. Eu não tenho nenhum
chega a 18,1 anos (Miguel et al., 2008; Diler e pensamento ruim, imagem ou medo, eu ape-
Avci, 2002). nas tenho de voltar e checar várias e várias ve-
Frequentemente, os sintomas do TOC são zes”), liberação de energia (por exemplo: “eu
vistos como egodistônicos e parecem absurdos sinto uma tensão mental crescendo se eu não
ou ridículos para a própria pessoa. Mas, mes- confiro os meus armários. Não é uma sensa-
mo com crítica a respeito das manifestações ção física, sinto uma energia na minha mente.
clínicas e marcados prejuízos nas atividades Eu tenho de checar para aliviar essa tensão”),
ocupacionais, sociais e rotinas diárias, ainda é incompletude (por exemplo: “pior que as ob-
baixa a procura por tratamento. Muitas vezes, sessões é o sentimento de que sempre falta al-
os pacientes apresentam receio de expor seus guma coisa em mim; muito raramente eu me
sintomas pelas crenças de que os pensamentos livro desde sentimento quando faço algumas
se tornem realidade ou por motivos relacio- coisas várias e várias vezes”) e percepções just
nados à vergonha, na tentativa de evitar pos- right (por exemplo: “eu levo horas para me
síveis humilhações. No caso de obsessões de vestir por que as coisas têm de parecer visual-
conteúdo sexual ou agressivo, alguns temem mente certas ou quando eu toco minha roupa
que possam ser vistos como loucos ou perigo- ela tem de ter uma textura certa; eu tiro e colo-
sos pelos outros (Heyman et al., 2001; Presta et co as roupas várias e várias vezes para que as
al., 2003; Torres e Lima, 2005). coisas pareçam certas”) (Hounie et al., 2001).
Atualmente, pesquisadores abordam de Apesar de ter sido descrito há mais de um
forma mais ampla a psicopatologia do TOC, in- século e dos vários estudos publicados até o
vestigando experiências subjetivas que acom- momento, o TOC ainda é considerado um enig-
panham os comportamentos repetitivos, como ma. Questões como a descoberta de possíveis
as crenças e fenômenos sensoriais. As crenças fatores etiológicos, diversidade de sintomas e
disfuncionais são descritas por diferentes au- como respondem aos tratamentos continuam
tores e entendidas como um fator que pode sendo um desafio para os pesquisadores. Uma
dificuldade para encontrar essas respostas nação e compulsões de limpeza, (v) obsessões
deve-se ao caráter heterogêneo do transtorno. e compulsões de colecionismo; e (vi) obsessões
É devido a esta fenomenologia rica e diversifi- e compulsões diversas. A DOCS apresenta 20
cada, com múltiplas possibilidades de apresen- itens que contemplam quatro dimensões: (i)
tação, que ocorre a dificuldade de sua identifi- contaminação, (ii) responsabilidade por dano,
cação. Atrelado a isto, nem todos os pacientes (iii) pensamentos indesejáveis e (iv) simetria.
respondem ao tratamento (medicamentoso ou O colecionismo, frequentemente conside-
psicoterápico), a ponto de ainda hoje haver rado como uma dimensão do TOC, presente
o questionamento se existe de fato um único inclusive em alguns questionários sobre sinto-
transtorno ou se o TOC constitui um grupo de mas obsessivo-compulsivos (Rosário-Campos
transtornos (Castle e Phillips, 2006; Hounie et et al., 2006; Foa et al., 2002), vem sendo ampla-
al., 2001; Ravindran et al., 2009). mente discutido. Alguns pesquisadores suge-
rem que o colecionismo, em razão de suas ca-
A heterogeneidade do TOC racterísticas distintas, deveria apresentar seus
próprios critérios diagnósticos e definir-se
Os sintomas presentes no TOC, como ob- como um transtorno independente no DSM-V
sessões, compulsões e evitações, costumam (Pertusa et al., 2010; Leckman et al., 2010).
apresentar-se de diferentes formas, com conte- Além disso, a ideia do TOC como uma
údos diversos. Estudos propõem uma divisão entidade única tem sido substituída no pen-
dimensional dos sintomas, podendo alguns samento psiquiátrico atual pela noção de um
tipos de obsessões e compulsões ocorrerem de espectro obsessivo-compulsivo, considerando
forma concomitante (Abramowitz et al., 2010; a similaridade do transtorno com várias cate-
Calamari et al., 1999; Rosário-Campos et al., gorias nosográficas que, embora classificadas
2006; Van Oppen et al., 1995). Achados científi- como categorias distintas, podem se distribuí-
cos atuais apontam que as dimensões do TOC rem em um continuum (Castle e Phillips, 2006;
estão associadas a diferentes questões genéti- Lochner e Stein, 2006; Phillips, 2002; Ravin-
cas, neurobiológicas, comorbidades e resposta dran et al., 2009). O TOC possui características
ao tratamento (Schruers et al., 2005). clínicas que o tornam um transtorno de difícil
A mais consistente divisão em dimensões diagnóstico. Uma delas diz respeito às frontei-
de sintomas inclui: (a) obsessões de contami- ras com outros transtornos mentais, sendo que
nação e compulsões de lavagem/limpeza; (b) estas precisam ser consideradas na avaliação
obsessões sobre responsabilidade por causar de pacientes com TOC. A noção de um espec-
prejuízos ou erros e compulsões de checagem; tro considera ainda as comorbidades, a idade
(c) obsessões sobre ordem e simetria e com- de início dos sintomas, a etiologia, o curso clí-
pulsões de ordenamento e arranjo; e (d) pen- nico e a resposta ao tratamento. Fazem parte
samentos obsessivos repugnantes sobre sexo, deste espectro, além do TOC, os transtornos de
religião e violência com rituais mentais e ou- tiques, Transtorno Dismórfico Corporal, Trico-
tras estratégias de neutralização (Mataix-Cols tilomania, Jogo Compulsivo, Comprar Com
et al., 2005). pulsivo e demais transtornos de controle de
No entanto, a maior limitação para adotar impulsos (Miguel, 1996).
a abordagem dimensional tem sido a falta de Como proposta para a definição de sub-
instrumentos capazes de englobar a diversi- grupos mais homogêneos, leva-se em consi-
dade dos sintomas obsessivo-compulsivos de deração as comorbidades associadas ao TOC.
forma adequada e com dados precisos (Le- Miguel et al. (2008) encontraram em sua amos-
ckman et al., 2010). Algumas escalas, como a tra altos índices de comorbidade com Trans-
Dimensional Yale–Brown Obsessive–Compulsive torno Depressivo Maior (69,7%), Fobia Social
Scale (DY-BOCS) e a Dimensional Obsessive- (36,8%), Transtorno de Ansiedade Generaliza-
Compulsive Scale (DOCS), vêm sendo estuda- da (35,4%), Fobia Específica (32,4%) e Trans-
das (Rosário-Campos et al., 2006; Abramowitz torno de Estresse Pós-Traumático (15,6%). Os
et al., 2010). A DY-BOCS compreende 88 itens, transtornos de tique também se revelaram fre-
divididos em seis categorias: (i) obsessões so- quentes, com prevalência de 28,7% da popu-
bre agressão, violência, desastres naturais e lação estudada. Além disso, os transtornos do
compulsões relacionadas; (ii) obsessões sexu- controle dos impulsos aparecem comumente
ais e religiosas e compulsões relacionadas; (iii) associados ao TOC, mais especificamente as
obsessões e compulsões de simetria, ordem, grooming disorders (Tricotilomania, skin-picking
contagem e arranjo; (iv) obsessões de contami- e nail-biting) (Grant, 2006). Quanto aos trans-
tornos de Eixo II, o Transtorno da Personalida- quais tem medo de se contaminar ou de se su-
de Obsessivo-Compulsivo, comumente con- jar (Torres, 2001).
fundido com o TOC, pode aparecer em até Outras condições consideradas dentro do
24,7% dos indivíduos (Pinto et al., 2006). espectro obsessivo-compulsivo são a Tricoti-
As fronteiras diagnósticas com outros lomania, o Transtorno Dismórfico Corporal e
transtornos mentais suscitam a grande dúvida a hipocondria. A Tricotilomania é um impulso
a respeito do TOC: são realmente comorbida- desencadeado por uma situação de tensão ou
des ou fazem parte do quadro clínico? A ocor- ansiedade, mas que também pode se manifes-
rência de sintomas obsessivos e de comporta- tar em momentos de relaxamento. Arrancar os
mentos compulsivos não é determinante no próprios cabelos e pelos, bem como o de ou-
diagnóstico. Pacientes diagnosticados dentro tras pessoas, de animais de estimação ou fios
do espectro dos transtornos de ansiedade, e de tapetes proporciona a sensação de alívio, de
que manifestam preocupações excessivas com liberação da energia, de prazer e satisfação. Já
doença, podem ter seus sintomas confundi- o Transtorno Dismórfico Corporal faz parte do
dos com o Transtorno de Pânico, por exemplo. espectro obsessivo pelo fato de os portadores
Além disso, os sintomas obsessivos também apresentarem preocupações excessivas com
podem fazer parte de quadros como Esquizo- defeitos na aparência. Demonstram incômodo
frenia, depressões e demências (Torres, 2001). exagerado com alguma característica e a cren-
Relativo à depressão, pode-se observar ça de que possuem deformações na aparência.
que, além de se apresentar como sintoma se- Os portadores têm uma distorção da autoima-
cundário ao TOC, revela aspectos em comum gem e veem a si mesmo como extremamente
com o transtorno, como a manifestação da cul- feios. No que concerne à hipocondria, consi-
pa, a preocupação excessiva, o medo, a baixa derada um transtorno somatoforme, há uma
autoestima, as ruminações obsessivas, a ava- preocupação exagerada e persistente com ter
liação exagerada dos riscos e o viés cognitivo uma doença grave. A preocupação não desa-
catastrófico (Heyman et al., 2006). Entretan- parece diante de evidências como exames clí-
to, no TOC, o paciente sofre para evitar que nicos (Cordioli, 2008).
algo de ruim ocorra no futuro, enquanto que No que diz respeito ao Transtorno da Perso-
na depressão o sofrimento se dá por algo já nalidade Obsessivo-Compulsivo, este se carac-
ocorrido. A lentidão também é comum a am- teriza por um padrão global de preocupações
bos os transtornos, porém na depressão há um excessivas com organização, perfeccionismo,
estupor pelo portador apresentar maior fatiga- escrupulosidade, inflexibilidade, autoritarismo,
bilidade e diminuição de energia. No TOC, a avareza, exigências exageradas, dedicação ex-
lentidão consiste em dificuldade para realizar cessiva ao trabalho, preocupações com regras,
tarefas corriqueiras como escovar os dentes, normas, valores e preceitos morais. O essencial
banhar-se, vestir-se pela demora que se dá é a rigidez, não se caracterizando pela presen-
tanto pela dificuldade de iniciá-las como por ça de obsessões e compulsões. O diagnóstico
serem realizadas de modo lento e meticuloso. diferencial em relação ao TOC deve levar em
Existem superposições entre as fobias e consideração os traços de personalidade dura-
as obsessões no que se refere aos medos irra- douros, estáveis, de início precoce e o atributo
cionais de situações ou objetos fobígenos. No egossintônico do Transtorno da Personalidade
TOC, não há a necessidade de exposição à si- Obsessivo-Compulsivo (APA, 2002).
tuação ou objeto temido, pois um pensamento Em alguns quadros, como Jogo Patológico,
ou uma dúvida podem desencadear compor- transtornos alimentares, cleptomania, com-
tamentos de esquiva. Nas obsessões, os estí- prar e comer compulsivos, o termo compulsão
mulos geradores de ansiedade são internos e não deve ser entendido no sentido de evitar
as cognições associadas são mais complexas, riscos ou aliviar riscos como no TOC e sim
evolvendo pensamentos mágicos. Um fóbico como atos impulsivos, não premeditados, sem
associa o estímulo externo (cachorro, altura, levar em consideração as consequências (Lo-
multidão) ao medo e à ansiedade, enquanto chner e Stein, 2006). Nesse contexto situa-se
no obsessivo o estímulo é associado a vários ainda a Anorexia Nervosa, que se aproxima do
sentimentos como nojo, desconforto, vergo- TOC pelos comportamentos ritualísticos para
nha. Como exemplo, a pessoa com TOC pode evitar ganhar peso, a consequência temida.
esquivar-se de entrar ou mesmo de passar na Alguns rituais do TOC implicam o compor-
frente de supermercados pela existência de tamento alimentar, fator que pode dificultar o
produtos de limpeza ou gosmentos com os diagnóstico diferencial (Torres, 2001).
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