Você está na página 1de 4

FICHAMENTO DE COMENTÁRIO E CITAÇÃO

David Ferreira Severo

FEENBERG, Andrew. O que é a filosofia da tecnologia? IN: NEDER, Ricardo


T. A teoria crítica de Andrew Feenberg: racionalização democrática,
poder e tecnologia. Brasília: UNB/CAPES, 2013.

CAPÍTULO 1: O QUE É A FILOSOFIA DA TECNOLOGIA?

Este é o primeiro capítulo de uma coletânea de nove textos que fazem uma revisão
teórica da obra de Andrew Feenberg.

INTRODUÇÃO
Nesta primeira parte, escrita pelo próprio autor, Feenberg faz uma síntese do
conceito de filosofia da tecnologia sob dois pontos de vista: “primeiro, uma perspectiva
histórica e, segundo, uma abordagem das opções contemporâneas das diferentes teorias
que se encontram em discussão” (p. 51)

“A filosofia começa por interpretar o mundo a partir do fato fundamental de que a


humanidade é constituída de um tipo de animal que trabalha constantemente para
transformar a natureza. Tal fato molda distinções básicas que tradicionalmente
prevalecem ao longo da filosofia Ocidental.” (p. 51)

AS ORIGENS GREGAS
O autor vai buscar na filosofia clássica a natureza filosófica do tecnologia:

“A primeira dessas distinções está entre o que os gregos chamaram de physis e poiesis.
Physis geralmente é traduzido como natureza. Os gregos entendiam a natureza como um
ser que se cria a si mesmo, como algo que emerge de si mesmo. Mas há outras coisas no
mundo, coisas que dependem de que algo passe a existir. Poiesis é a atividade prática de
fazer. Dela os seres humanos se ocupam quando produzem algo. Chamamos o que é
criado de artefatos e incluímos entre eles os produtos da arte, do artesanato e os da
convenção social. A palavra techné na Grécia antiga significa o conhecimento ou a
disciplina que se associa com uma forma de poiesis. Techné está na origem das palavras
modernas para técnica e tecnologia nas línguas ocidentais, embora, como verão, estas
tenham adquirido um significado um pouco diferente […] A segunda distinção fundamental
está entre a existência e a essência. A existência responde à pergunta “se algo é ou não
é”. A essência responde à pergunta “o quê a coisa é”. As indagações “aquele é” e “aquele
é o quê?” parecem ser duas dimensões independentes do ser.” (p. 52-53)
Como se pode depreender, Feenberg defende a tese de que a filosofia da
tecnologia começa com os gregos, sendo este fato o fundamento de toda a filosofia
ocidental, cuja base ontológica se concentra no binômio existência/essência. Ao contrário
dos gregos que viviam em harmonia com a natureza

“No contexto moderno, a tecnologia não realiza os objetivos essenciais inscritos na


natureza do universo, como o faz a techné. Aparece agora como puramente instrumental,
como isenta de valores. Não responde aos propósitos inerentes, mas somente servem
como meios e metas subjetivas que escolhemos a nosso bel-prazer. Para o senso comum
moderno, meio e fins são independentes um do outro. Eis aqui um exemplo bem cru. Na
América no Norte dizemos que as “armas não matam as pessoas, as pessoas matam as
pessoas”. Armas são um meio independente dos fins agregados a ele pelo usuário, seja
roubar um banco, seja executar a lei. Dizemos que a tecnologia é neutra, o que significa
que não há preferência entre os vários usos possíveis a que possa ser posta. Essa é a
filosofia instrumentalista da tecnologia, que é um tipo de produto espontâneo de nossa
civilização, irrefletidamente assumida pela maioria das pessoas.” (p. 56)

Na origem grega, portanto, a distinção entre essência e essência, percebemos que


a ênfase é dada à essência porque é vista como conteúdo do conhecimento.

ALTERNATIVAS MODERNAS
Nas sociedades contemporâneas, emergem da liberação do poder de questionar
tais formas tradicionais de pensamento. No contexto moderno, as alternativas estão
distribuídas sob 4 perspectivas, conforme a seguinte tabela da página 57:
Em sua reflexão, o autor apresenta a tecnologia como uma dupla possibilidade, ora
sendo neutra, ora sendo carregada de valores. Como neutra, a tecnologia pode ser
autônoma ou humanamente controlada, sob o influxo do determinismo e do
instrumentalismo. Por outro lado, sendo carregada de valores, a tecnologia precisa ser
vista em uma visão crítica.

“A teoria crítica da tecnologia descobre, em exemplos como esses, uma tendência de


maior participação nas decisões sobre o design e o desenvolvimento. A esfera pública
parece estar se abrindo lentamente para abranger os assuntos técnicos que eram vistos
antigamente como exclusivos da esfera dos peritos. Esta tendência poderia continuar até
o ponto de a cidadania envolver o exercício do controle humano sobre a estrutura técnica
de nossas vidas? Não nos resta senão a esperança, uma vez que as outras alternativas
parecem levar, com certeza, à destruição.” (p. 64)

“Claro que os problemas não só são tecnológicos. A democracia está indo bem mal hoje
em todas as frentes, mas ainda não há alternativa melhor. Se puderem conceber e
perseguir os seus interesses intrínsecos em paz e, além disto, alcançar sua realização por
via do processo político, as pessoas assumirão a questão da tecnologia inevitavelmente
junto com muitas outras aspirações que hoje se mantêm meras expectativas. Só nos resta
esperar que tudo aconteça mais cedo do que tarde demais.” (p. 64)

Você também pode gostar