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FORMAÇÃO MODULAR

UFCD: 9631-Ética e
deontologia
profissional no
trabalho com crianças
e jovens

20-01-2020
Victor Marcos
Índice

Objetivo Geral......................................................................................................................... 3

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profissional no trabalho
com crianças e jovens
OBJETIVOS DO CURSO

Objetivo Geral

No final do módulo os formandos deverão ser capazes de:

 Reconhecer as exigências éticas associadas à atividade


profissional no trabalho com crianças e jovens.

 Identificar os fatores deontológicos associados à atividade


profissional no trabalho com crianças e jovens.

 Reconhecer as suas próprias competências e funções no


trabalho com crianças e jovens.

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CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

 Ética e deontologia profissional no trabalho com crianças e jovens


o Conceitos de ética e de moral
o Princípios de referência ética
 - Competência
 - Responsabilidade
 - Integridade
 - Respeito
o Os Direitos das Crianças
o Respeito pelo superior interesse da criança
o Respeito pelas diferenças religiosas, culturais e
socioeconómicas da criança e sua família
o Dever de transparência e Informação à família
o Dever de colaboração com a família na procura de soluções
o Dever de zelo
o Particularidades da aplicação dos princípios éticos e
deontológicos no trabalho com crianças em contexto
diferenciados
 - Domicílio
 - Entidades privadas
 - Entidades públicas
 Compromissos com os intervenientes
o Compromisso com as crianças e jovens
o Compromisso com as famílias
o Compromisso com a equipa
o Compromisso com a entidade empregadora
o Compromisso com a comunidade e com a sociedade em geral
 Comportamentos e atitudes
o Relações interpessoais
o Resolução de conflitos
o Bem-estar pessoal
o Ética do cuidado
o Sigilo profissional
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o Negligência e maus tratos

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INTRODUÇÃO

Ao finalizar o estudo e a participação neste módulo de formação, o


formando deve reconhecer o que é ética e deontologia profissional.

A vida humana assume uma posição inigualável na Ordem Jurídica


Portuguesa. É inegável que todas as pessoas humanas merecem ser
tratadas com igualdade perante o Direito.

O Princípio da igualdade dispõe que situações iguais devem ser alvo de


tratamento igual e situações distintas devem ser tratadas de forma distinta.

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1-Ética e deontologia profissional no trabalho com crianças e
jovens
1.1-Conceitos de ética e de moral

A necessidade de reflexão sobre a pessoa humana foi despoletada com o


surgir do iluminismo, já que esta corrente político-filosófica alertou o mundo
para a igualdade entre todas as pessoas humanas num passado recente
marcado pela diferença de tratamento entre os seres humanos, como
aconteceu com a escravatura.
Apesar de tarde se ter reconhecido a igualdade de todas as pessoas
humanas perante a lei, o Direito reflete um elevado desenvolvimento no
reconhecimento dos direitos fundamentais inerentes a toda a pessoa
humana.
A pessoa pode ser vista de duas perspetivas, como ser humano e como
destinatário de normas, na medida em que é suscetível de ser titular de
direitos e de obrigações.
O termo ética tem origem no grego “ethiké” ou do latim “ethica ”, vinda da
filosofia como objetivo o juízo de apreciação que distingue o bem e o mal, o
comportamento correto e o incorreto. Os seus princípios constituem como
diretrizes para os humanos, enquanto sujeitos sociais, com a finalidade de
dignificar um comportamento. Os códigos de ética são, dificilmente,
separáveis da deontologia profissional pelo que é, igualmente, pouco usual
serem utilizados indiferentemente.

Moral é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente


por cada cidadão. Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas
ações e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou
errado, bom ou mau.
No sentido prático, a finalidade da ética e da moral é muito semelhante.
São ambas responsáveis por construir as bases que vão guiar a conduta do
homem, determinando o seu caráter, altruísmo e virtudes, e por ensinar a
melhor forma de agir e de se comportar em sociedade.

1.2-Princípios de referência ética


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Princípios como referência ética:

A Competência – enquanto saber integrado, cientificamente suportado e em


permanente reconstrução.

A Responsabilidade – enquanto atitude dinâmica que permite dar resposta


correta, no sentido do bem do outro, e que exige uma mobilização pessoal
atenta e solícita.

A Integridade – enquanto conjunto de atributos pessoais que se revelam


numa conduta honesta, justa e coerente.

O Respeito – enquanto exigência subjetiva de reconhecer, defender e


promover a intrínseca e inalienável dignidade da pessoa.

1.3-Os Direitos das Crianças

Direitos da Criança: Convenção sobre os Direitos da Criança

A Convenção dos Direitos da Criança é o mais ratificado de todos os


tratados sobre direitos humanos. O seu esboço foi iniciado em 1979, no Ano
Internacional da Criança, por um grupo estabelecido pela Comissão dos
Direitos Humanos. O tratado resultante desta Convenção foi aceite por
unanimidade e adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas de 20 de
Novembro de 1989, estando tudo pronto para a sua assinatura a 26 de
Janeiro de 1990. Nesse dia, 61 nações assinaram este documento, mas só
passados alguns meses, após se ter efetuado o número de ratificações por
Estados exigido pelos estatutos da ONU, a Convenção teve força legal.

1.º
Toda criança será beneficiada por estes direitos, sem nenhuma
discriminação de raça, cor, sexo, língua, religião, país de origem, classe
social ou situação económica. Toda e qualquer criança do mundo deve ter
seus direitos respeitados!
2.º

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Todas as crianças têm direito a proteção especial e a todas as facilidades e
oportunidades para se desenvolver plenamente, com liberdade e dignidade.
As leis deverão ter em conta os melhores interesses da criança.
3.º
Desde o dia em que nasce, toda a criança tem direito a um nome e uma
nacionalidade, ou seja, ser cidadão de um país.
4.º
As crianças têm direito a crescer e criar-se com saúde. Para isso, as futuras
mães também têm direito a cuidados especiais, para que seus filhos possam
nascer saudáveis. Todas as crianças têm também direito a alimentação,
habitação, recreação e assistência médica.
5.º
Crianças com deficiência física ou mental devem receber educação e
cuidados especiais exigidos pela sua condição particular. Porque elas
merecem respeito como qualquer criança.
6.º
Toda a criança deve crescer num ambiente de amor, segurança e
compreensão. As crianças devem ser criadas sob o cuidado dos pais, e as
mais pequenas jamais deverão separar-se da mãe, a menos que seja
necessário (para bem da criança). O governo e a sociedade têm a obrigação
de fornecer cuidados especiais para as crianças que não têm família nem
dinheiro para viver decentemente.
7.º
Toda a criança tem direito a receber educação primária gratuita, e também
de qualidade, para que possa ter oportunidades iguais para desenvolver as
suas habilidades. E como brincar também é uma boa maneira de aprender,
as crianças também têm todo o direito de brincar e de se divertir!
8.º
Seja numa emergência ou acidente, ou em qualquer outro caso, a criança
deverá ser a primeira a receber proteção e socorro dos adultos.
9. º
Nenhuma criança deverá sofrer por negligência (maus cuidados ou falta
deles) dos responsáveis ou do governo, nem por crueldade e exploração.
Não será nunca objeto de tráfico (tirada dos pais e vendida e comprada por
outras pessoas). Nenhuma criança deverá trabalhar antes da idade mínima,

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nem deverá ser obrigada a fazer atividades que prejudiquem sua saúde,
educação e desenvolvimento.

Interesse superior da criança

Todas as decisões que digam respeito à criança devem ter plenamente em


conta o seu interesse superior. O Estado deve garantir à criança cuidados
adequados quando os pais, ou outras pessoas responsáveis por ela não
tenham capacidade para o fazer.

Liberdade de pensamento, consciência e religião

O Estado respeita o direito da criança à liberdade de pensamento,


consciência e religião, no respeito pelo papel de orientação dos pais.

Responsabilidade e segredo profissional

Responsabilidade é a obrigação de um individuo cumprir as tarefas


delegadas assim como saber assumir as consequências de todos os seus
atos.

Segredo profissional é saber guardar a informação relativa a alguma coisa


que pertence à instituição onde se trabalhar assim como dos utentes.
Implica responsabilidade e profissionalismo.

Moral é o conjunto de princípios, normas, dos juízos de valor vigorantes


numa dada sociedade e aceite pelos indivíduos dessa mesma sociedade.
Quando se considera o que é correto ou incorreto estamos perante um juízo
de valor. Os valores são sempre sociais e históricos. Baseia-se no costume,
hábitos culturais, regras que já estão enraizadas numa determinada
sociedade. Não faças aos outros o não quereis que façam a ti, é um dos
fundamentais princípios da ética. Mas seria igualmente justificado afirmar:
tudo o que fizeres a outros fá-lo-ás também a ti próprio” (Erich Fromm,
Ética e Psicanálise).

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Sigilo/segredo profissional

Como se sabe, o sigilo profissional — a guarda de informações obtidas em


razão do exercício profissional, de tudo aquilo que lhe foi confiado como
sigilo, ou o que veio a ser conhecido devido seu estatuto profissional.
Constitucionalmente, ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
algo, senão em virtude da lei, e que são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas. Esse entendimento norteia os
dispositivos legais que se referem ao sigilo profissional, em particular o
sigilo médico. Importante ter em atenção que o direito à confidencialidade é
tanto um direito da pessoa, como também uma responsabilidade
profissional. Em outros termos, a existência do sigilo profissional interessa a
toda sociedade, pois é condição indispensável para o trabalho do
profissional, na medida em que essas ações encarnam um interesse da
sociedade.

Negligência e Maus Tratos

Maus-tratos na infância são um problema importante de saúde pública que


afeta tanto as crianças quanto a sociedade como um todo. Para muitas
pessoas, maus-tratos são sinônimos de abuso físico ou sexual, mas estes
representam apenas 24% e 3% dos casos, respetivamente. As formas mais
comuns de maus-tratos são a negligência (30% dos incidentes), a
exposição à violência doméstica (28%) e o abuso emocional (15%). De
acordo com o segundo Canadian Incidence Study of Reported Child Abuse
and Neglect – CIS (Estudo Canadense sobre Incidência Relatada de Abuso e
Negligência na Infância), entre 1998 e 2003 a incidência de maus-tratos na
infância aumentou em 125% – de 9,64 para 21,71 casos documentados
para cada mil crianças. 1 Esse aumento pode ser atribuído à melhoria dos
procedimentos de registro e investigação. Ocorreram mudanças na forma
pela qual os casos são documentados, irmãos vitimizados agora podem ser
identificados.

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No entanto, o impacto dos maus-tratos nem sempre é tão evidente.
Transtornos ou traumas no início da vida podem resultar em uma variedade
de problemas, entre os quais depressão, agressividade, abuso de drogas,
problemas de saúde e infelicidade, anos depois de terem cessado os maus-
tratos. Quando adultos, as vítimas de maus-tratos têm altas taxas de
ansiedade e de transtornos de estresse pós-traumático, e são mais
propensas a se envolverem em comportamentos criminosos. Maus-tratos na
infância podem resultar em apegos inseguros com os cuidadores, que são
transferidos para relações futuras. Crianças que presenciam violência
doméstica correm risco de problemas psicológicos, emocionais,
comportamentais, sociais e acadêmicos. Apresentam problemas
semelhantes aos de crianças que são vítimas de abuso físico. Filhos de
famílias que praticam abusos estão expostos a formas desajustadas de
comunicação e de comportamento emocional, e recebem modelos
deficientes de autorregulação adaptativa. Os mecanismos precisos que
associam a experiência de maus-tratos ao desenvolvimento desses
problemas são, em sua maior parte, desconhecidos. É possível que as
crianças sejam mais sensíveis a certas emoções – por exemplo, raiva – em
comparação com outras emoções importantes para seu comportamento
social; ou é possível que o estresse elevado afete o processo pelo qual
aprendem a regular suas emoções. A pesquisa sobre os efeitos de maus-
tratos enfrenta diversos desafios. Não há consenso entre os pesquisadores
sobre a melhor forma de definir e medir maus-tratos. Também é difícil fazer
distinção entre os efeitos de diferentes formas de maus-tratos, que muitas
vezes vitima uma mesma criança; e entre os efeitos de maus-tratos e os
efeitos associados à pobreza ou a outros fatores relacionados ao ambiente e
a eventos da vida. Predisposições genéticas podem ajudar a explicar por
que algumas crianças são mais resilientes do que outras a maus-tratos na
infância. O que pode ser feito? Os programas que visam à prevenção de
maus-tratos na infância promovem fatores de proteção e reduzem fatores
de risco. Promovem o bem-estar das crianças, dos pais e das famílias,
evitando muitos resultados negativos. Entre as estratégias preventivas mais
eficazes estão os seguintes programas: A intervenção tem o potencial de
ajudar crianças e pais. A identificação precoce de crianças em risco de
Síndrome do Bebê Sacudido pode reduzir os custos individuais, médicos e

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sociais associados a essa forma de abuso. Os profissionais da área da saúde
podem desempenhar um papel-chave na avaliação das condições
domésticas e para ajudar os pais a identificarem situações de risco, como o
choro excessivo. Intervenções para crianças expostas à violência doméstica
visam a ajudá-las a lidar com os estressores associados e a reduzir
problemas nos cuidados parentais. Embora tenham sido observados
impactos positivos, é preciso notar que não podemos extrapolar esses
resultados para todas as situações. Por exemplo, o programa bastante
estudado de visitas domiciliares por enfermeiras, de David Olds, mostrou-se
eficaz na prevenção de maus-tratos na infância, mas não se pode supor que
outros programas de visita domiciliar sejam igualmente efetivos até que
existam evidências nesse sentido. São necessárias certas condições para
que os efeitos se repitam – por exemplo, há evidências de Visitas
domiciliares no período perinatal por enfermeiras; Cuidados infantis de boa
qualidade e programas preventivos de educação na primeira infância;
Educação do público, com campanhas nos meios de comunicação e
conscientização sobre temas escolhidos – por exemplo, a Síndrome do Bebê
Sacudido; Educação de profissionais, com melhor capacitação para a
identificação de maus-tratos e melhores instrumentos de triagem; Melhorias
na comunidade, tais como habitação.

que,para que apresentem impactos preventivos no curto e no longo prazo,


programas de prevenção no período pré-escolar devem ser longos e
intensivos. Em alguns casos, nosso conhecimento sobre os efeitos
completos dos programas é limitado. Por exemplo, programas educacionais
sobre abuso sexual na infância estão associados ao aumento das
comunicações/notificações de casos de abuso, mas não se sabe se também
ajudam a reduzir sua ocorrência.

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Bibliografia

Jonas, H. (1990). Le principe de la responsabilité: pour une éthique pour la


civilisation technologique. Paris: Editions du Cerf. Jonas, H. (1998). Pour
une éthique du futur. Paris: Rivages Poche. Oser, F., Patry, J.-L. (1994).

Teacher responsibility. In: L. Anderson (Ed.), The international encyclopedia


of education, 2nd edition, volume „Teacher education“ (pp. 6048-6053).
Oxford, England: Pergamon.

https://www.unicef.pt/actualidade/publicacoes/0-a-convencao-sobre-os-direitos-da-
crianca/

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