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O presente artigo é fruto das reflexões suscitadas neste processo e representa uma
contribuição para esse debate, na medida em que, nele me insiro duplamente
implicada: enquanto psicóloga e docente da área da Psicologia.
Eliana Perez
Gonçalves de Moura
Psicóloga, Mestre em Psicologia
Social e Personalidade, Docente
da Escola de Pslcologia-UC Pel.
A Comissão de Especialistas no Ensino da tradicionalmente, a prática empreendida pe-
Psicologia, constituída pelo MEC/SESU a partir los psicólogos, têm privilegiado uma perspec-
do Edital 04/97, ao elaborar a sua proposta tiva de análise e de intervenção no âmbito
de diretrizes curriculares para os cursos de do estritamente individual. Nesta, buscam-
graduação, inadvertidamente, promoveu um se explicações individuais (intra psíquicas) para
amplo, produtivo e necessário debate tanto as mais diferentes facetas da existência
no âmbito dos cursos de formação em humana, diagnosticando-os "adaptadas" ou
Psicologia, quanto no âmbito das entidades desadaptadas", segundo o modelo
de representação dos psicólogos, em geral. estabelecido como "padrão normal". Chamo
a atenção para o caráter autoritário que se
Como resultado das mobilizações, destaca- encerra neste modelo, na medida em que
se a articulação e convergência em torno da acaba, de acordo com Fonseca (1998),
opção por uma formação generalista. Nesta, naturalizando:
o objetivo será formar psicólogos-cidadãos
comprometidos com a realidade social, "a realidade psicológica e social, mascarando
atuando enquanto agentes de transformação, o papel que desempenham certas práticas
na direção da construção de uma sociedade humanas na construção dessa realidade, su-
mais justa e democrática. Para tal, propugna- gerindo, por exemplo, a existência de certos
se uma formação que propicie e favoreça a padrões de normalidade psicológica marcados
preparação de profissionais que reflitam e pela própria natureza e aos quais devemos nos
critiquem, amplamente, suas práticas. conformar e adequar" (p. 45).
A Psicologia (e os Psicólogos)
Que Queremos
N o m o m e n t o e m q u e somos incitados a
preparar um novo m o d e l o de atuação
e m que a recém-nascida profissão esforçava-
profissional, a l e m b r a n ç a e o registro da
se para ganhar prestígio e reconhecimento no história r e c e n t e da Psicologia, no Brasil,
mercado de trabalho, impunha-se a constitui-se o p o r t u n a para aqueles q u e , no
necessidade dos cursos de f o r m a ç ã o interior dos espaços de f o r m a ç ã o do
garantirem a qualidade dos profissionais que psicólogo, assumem a responsabilidade de
preparavam. Entretanto, a definição d o critério preparar u m currículo, realmente, generalista
de qualidade adotado pautou-se pelo aprimo- e crítico.
Este deve ser o ponto de partida da longa e territórios desconhecidos e movediços que,
árdua caminhada que temos a percorrer: to- certamente, produzirão rupturas irreparáveis.
marmos consciência daquilo que não mais Entre tantas, destaca-se a necessária e
queremos, daquilo que não mais podemos urgente revisão do conceito de saúde
fazer. É bem verdade que já temos uma re- mental, da concepção de sujeito, do modelo
ferência sobre o q u e precisamos e de sociedade e, consequentemente, da
queremos fazer: construir um profissional concepção de ciência e métodos de
capaz de empreender uma prática pluralista, investigação que utilizamos. Depois de tudo,
crítica e transformadora, que saiba teremos ainda que aprender a relativizar
reconhecer as demandas de intervenção e nosso saber acadêmico frente ao saber
propor caminhos que atendam à essas empírico, a fim de estabelecermos um
demandas. diálogo produtivo com os sujeitos concretos.
Estes, sim, verdadeiros agentes de
No entanto, para alcançar estes propósitos transformações na realidade sócio-
teremos, inevitavelmente, que transitar por econômico-político e cultural.
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