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A pluralidade das censuras e das propagandas da ditadura

- “Porões da ditadura” – Expressão que designa as práticas repressivas do regime militar


brasileiro, principalmente a tortura e a morte de prisioneiros políticos. A partir de 1969,
com a instituição do sistema CODI-DOI, em 1969, a prisão seguida de tortura e, por
vezes, de morte, foi oficializada;

- Entre 1964 e 1968, essas práticas eram denunciadas pela imprensa, porém, com a
censura política institucionalizada pelo AI-5, em 1968, esses fatos são ocultados da
população. No último triênio da década de 60, a ditadura veicula de forma intensa uma
propaganda politica que defende a ideia de que “a sociedade brasileira finalmente
realizava todas as suas potencialidades”, sendo considerada pelo autor uma “outra face
da censura”;

- O autor considera que os “Pilares básicos de qualquer regime totalitário”, que são “a
polícia politica, a espionagem, a censura e a propaganda politica”, têm sido reduzidos à
definição de “porões da ditadura”, englobando repressões violentas e as formas de
controlar a sociedade e “homogeneizando as diferentes instâncias” da repressão;

- O objetivo do autor no texto é bem claro: Estabelecer as diferenças entre censura e


propaganda politica, de modo a “aclarar a leitura que enfatiza as especificidades de cada
um dos ‘pilares básicos’ da ditadura”. O autor aponta também que só podemos entender
como os “diversos ‘sistemas’ (de repressão/censura)” foram articulados se estudarmos
todas as “instâncias repressivas”;

- Carlos Fico afirma que desde o golpe já havia “uma luta pela implantação de um
‘projeto repressivo’”. O Marechal Castelo Branco, ao momentaneamente oferecer
resistência a isso, acaba criando um embate entre a chamada linha dura e os moderados.
O próprio autor reconhece que esta é uma “dicotomia simplista”, mas a considera
fundamental para entender “uma das leituras possíveis sobre a ditadura militar
brasileira: a trajetória de constituoção, institucionalização, auge e decadência das
comunidades de segurança e de in formações”;

- A chamada “força autônoma”, que surge ainda no governo de Castelo Branco e cujo
slogan preferido era o “combate ao comunismo e à corrupção”, é um “grupo de oficiais
superiores que supunha ser possível levar o país ao seu ‘destino de grandeza’ desde que
fossem eliminados todos ‘óbices’ que, naquela fase da Guerra Fria, eram identificados
com o comunismo ou com o que fosse entendido como tal”, bem como a corrupção;

- Esse grupo defendia a suspensão das garantias constitucionais por um longo período,
para efetuar a chama “operação limpeza”. A primeira dessas durou apenas 60 dias, o
que desagradou o grupo. Em 1965, Castelo Branco concederia uma “licença para
prender, torturar e matar, com o AI-2”. A força autônoma se tornaria “a principal fonte
de apoio do general Costa e Silva”, sucessor de Castelo Branco na presidência da
República;

- As práticas repressivas institucionalizadas no sistema CODI-DOI (policia política) têm


origem nas ações da “força autônoma”. Aqui, o autor aponta um importante fator de
diferenciação entre as instâncias repressivas: O Serviço Nacional de Informações foi
considerado algumas vezes como “órgão de segurança por excelência” e que teria
“subordinado todos os outros órgãos repressivos” foi criado ainda em 64. O que ocorre
é que, com a vitória da linha dura, o SNI se torna mais “duro”, mas mantém sua “área
de atuação: a espionagem”. As “operações de segurança” (prisões, tortura,
interrogatórios, assassinatos) eram efetuadas pela policia política. O endurecimento do
regime também atinge outras instâncias, porém mantendo suas especificidades;

- O fato de o regime adotar essas práticas repressivas, segundo o autor, não é explicado
como uma “reação” a “episódios políticos conjunturais”. É algo que já vem sendo
defendido desde o golpe. O AI-5 se configura como um “instrumento definitivo” para
realizar a “operação limpeza” e não tem relação de causa e efeito com a chamada luta
armada, pois esta já existia a certo tempo.

- O autor afirma que o AI-5 não é uma “ruptura”; Significa a vitória de um desejo que
existia desde o começo de regime e que devemos reconhecer o impacto que isto causou
nas instâncias repressivas da ditadura.

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