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F o r m a ç ã o
Pedagógica
em Educação
Profissional na
Área de Saúde:
Enfermagem
Brasília – DF
1 Educação
2002
Governo Federal
Barjas Negri
Ministro de Estado de Saúde
Rita Sório
Gerente Geral do Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem – PROFAE
Valcler Rangel
Gerente do Componente II
F o r m a ç ã o
Pedagógica
em Educação
Profissional na
Área de Saúde:
Enfermagem
Brasília – DF
1 Educação
2002
© 2000 Fundação Oswaldo Cruz
Todos os direitos desta edição reservados à Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Gestão de Investimentos em Saúde
Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem – PROFAE
Esplanada dos Ministérios, bloco G, edifício sede, 8o andar, salas 824-828
CEP 70058-900 – Brasília – DF
Tel.: (61) 315 3286 / 315 2218
Fax: (61) 325 2068
Home page: http://www.profae.gov.br
Ficha Catalográfica
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão de Investimentos em Saúde. Projeto de Profissionalização dos
Trabalhadores da Área de Enfermagem.
Formação Pedagógica em Educação Profissional na Área de Saúde: enfermagem: núcleo contextual: educação
1 / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão de Investimentos em Saúde, Projeto de Profissionalização dos
Trabalhadores da Área de Enfermagem – 2. ed. rev. e ampliada. – Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
ISBN 85-334-0693-2
Núcleo Estrutural
Maria Esther Provenzano – Coordenadora do Núcleo
Carlos Alberto Gouvêa Coelho
Módulo 5
Maria Inês do Rego Monteiro Bomfim
Módulo 6
Alice Ribeiro Casimiro Lopes
Módulo 7
Maria Esther Provenzano
Nelly de Mendonça Moulin
Módulo 8
Núcleo Integrador
Milta Neide Freire Barron Torrez – Coordenadora do Núcleo
Módulos 9, 10 e 11
Maria Regina Araujo Reicherte Pimentel
Módulos 9, 10 e 11
Regina Aurora Trino Romano
Módulos 9, 10 e11
Valéria Morgana Penzin Goulart
Módulos 9, 10 e 11
Colaboradores
Cláudia Mara de Melo Tavares
Elaci Barreto
Helena Maria Scherlowski Leal David
Izabel Cruz
Guia do Aluno
Carmen Perrotta – Coordenadora
Maria Inês do Rego Monteiro Bomfim
Milta Neide Freire Barron Torrez
Livro do Tutor
Maria Inês do Rego Monteiro Bomfim – Coordenadora
Carmen Perrotta
Milta Neide Freire Barron Torrez
1
Educação
2
Educação/
3
Educação/
4
Educação/
Sociedade/ Conhecimento/ Trabalho/
Cultura Ação Profissão
5
Proposta
6
Proposta
7
Proposta
8
Proposta
pedagógica: pedagógica: pedagógica: pedagógica:
o campo da as bases da o plano da avaliando
ação ação ação a ação
9
Imergindo na
10
Planejando uma
11
Vivenciando uma
prática prática ação docente
pedagógica em pedagógica autônoma e
Enfermagem significativa significativa na
em Enfermagem educação
profissional
em Enfermagem
Sumário
Apresentação da 1a edição 9
Apresentação da 2a edição 11
Apresentação do Curso 13
Textos complementares 69
Síntese 82
Bibliografia de referência 86
Apresentação da 1 a edição
José Serra
Ministro da Saúde
1 Educação Identificando a ação educativa
Apresentação do Curso
O Curso que você está iniciando visa a apoiá-lo(la) na construção de
competências para formar, em nível técnico, outros profissionais de enfermagem.
Acreditamos que o conteúdo de formação desses novos profissionais
já é, em grande parte, do seu domínio, por possuir curso superior em
Enfermagem, tendo, portanto, uma sólida formação básica para o exercício
de sua profissão. Além disso, o fato de estar atuando profissionalmente em
uma equipe de saúde permite a você atualizar constantemente seus
conhecimentos e aperfeiçoar suas competências.
A prática, quando refletida criticamente e complementada por uma
intencional busca de trocas significativas de informações e experiências, é
extraordinariamente formadora.
Ser um profissional competente e comprometido é mais de meio caminho
andado para atuar na formação de outros profissionais. Mas não é tudo.
Em um grande esforço de dignificação do exercício profissional, a
comunidade da saúde – da qual você é membro integrante e participativo –
tem lutado muito pela qualificação dos que já estão atuando ou dos que
pretendem vir a atuar como auxiliares nas equipes de enfermagem. Tal
mobilização tem resultado em decisões políticas que estão abrindo
possibilidades de encaminhar essa questão. Este Curso é uma dessas ações que
fazem parte de um conjunto. Pretende apoiá-lo(la) em uma tarefa que, com
certeza, de alguma maneira, você já exerce: partilhar seus conhecimentos, suas
habilidades, seus valores profissionais com os que não passaram ainda por
cursos sistemáticos no campo da enfermagem.
Essa tarefa precisa ser, agora, uma ação sistemática, e ninguém melhor
do que o(a) enfermeiro(a) poderá desempenhá-la com a qualidade exigida,
sustentando a prática docente em uma formação pedagógica voltada para a
educação profissional na área de Saúde: Enfermagem.
Por isso, foi cuidadosamente pensado este Curso, que lhe dará
oportunidade de organizar o que você já sabe, de adquirir novos elementos
conceituais e práticos, de desenvolver capacidades próprias para exercer
plenamente e, em melhores condições, as responsabilidades de um docente
em cursos de formação profissional de nível técnico.
Sua proposta pedagógica, justamente porque circunstanciada na realidade
concreta em que você já está inserido(a), tem sua concretização comprometida
com sua atuação docente, no cotidiano.
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1 Educação Prática social educativa
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1 Educação Identificando a ação educativa
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Prática social educativa
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1 Educação
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Prática social educativa
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1 Educação
TEMA 1
Prática social educativa
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Prática social educativa
Não sei se você já reparou que, de modo geral, quando alguém é indagado
em torno de sua formação profissional, a tendência do perguntado, ao
responder, é arrolar suas atividades escolares, enfatizando sua formação
acadêmica, seu tempo de experiência na profissão. Dificilmente se leva em
consideração, como não rigorosa, a experiência existencial maior. A
influência, às vezes, quase imperceptível que recebemos desta ou daquela
pessoa com quem convivemos, ou deste ou daquele professor ou professora
cuja coerência jamais faltou, como da competência bem-comportada, nada
trombeteada, de humilde e séria gente.
No fundo, a experiência profissional se dá no corpo da existencial maior. Se
gesta nela, por ela é influenciada e sobre ela, em certo momento, se volta
influentemente.
Indagando-me sobre minha formação como educador, como sujeito que
pensa a prática educativa, jamais eu poria de lado, como um tempo
inexpressivo, o em que andarilhei por pedaços do Recife, de livraria em livraria,
ganhando intimidade com os livros, como o em que visitava seus córregos e
seus morros, discutindo com grupos populares seus problemas ou como em
que, durante dez anos, vivi a tensão entre prática e teoria e aprendi a lidar
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1 Educação
Não deixe passar esse texto de Paulo Freire, sem aproveitar toda a sua
riqueza. A verdade é que nele encontramos a valorização educativa de tudo o
que fomos até agora, do que somos hoje e do que seremos amanhã. Tenha
presente que ele aponta para um princípio e uma estratégia fundamental na
proposta deste curso: a prática educativa refletida criticamente é aquela da
experiência escolar e profissional, mas é a experiência “existencial maior” que
lhe dá significado pleno e concreto de prática social.
Na raiz (radicalmente), esta é a razão pela qual, ao trabalhar sua formação
como docente na área de Enfermagem, o que se evidencia não é uma dupla
formação para uma dupla profissão. O desafio é que, na totalidade de sua
prática existencial, você se construa como enfermeiro-professor, pessoa humana
total, com identidade individual produzida na relação com os outros no convívio
social, e que manifeste essa sua humanidade em seu agir profissional.
Uma discussão da educação e da relação pedagógica só é possível,
portanto, se a situarmos como prática social. A prática social não pode ser
vista, simplesmente, como uma atividade que se manifesta como fenômeno
ou fato, mas todo um conjunto de atividades humanas que se diferenciam de
qualquer comportamento “natural”.
Nesse sentido, só há prática humana – mesmo quando “praticada” por uma
só pessoa (por exemplo, você estudando este módulo) – quando nela se identifica
uma dimensão social. Ela está inserida no processo cultural, produzido historicamente.
Isto é, produzido na relação de interação intencional entre os seres humanos e na
relação de homens e mulheres com a natureza, com o mundo das coisas.
Assim, ainda que o ser humano tenha uma atividade de busca de alimento
para saciar sua fome – o que é natural –, nele essa mesma atividade é prática,
porque mobiliza, para além de sua capacidade de sentir a fome e de buscar
saciá-la, sua consciência, sua intencionalidade. A caça ou a pesca, portanto, passam
a ser um fazer consciente e intencionado, implicando necessariamente
estabelecimento de raciocínios, relações, reflexão, abstração, significação.
Mediação – intermediação entre
É necessário ainda registrar que nenhuma prática, justamente por ser
termos ou seres. Representa
humana, pode prescindir de elementos teóricos. Ela é atividade que incorpora especificamente as relações
uma reflexão sobre o mundo, sobre a vida, sobre si mesma, enquanto concretas – e não meramente
parte constitutiva indispensável da humanidade do homem. formais – que se estabelecem entre
É pela mediação realizada pela consciência que o homem percebe e os fenômenos e suas articulações.
entende a natureza, os outros homens e a sociedade. É pela incorporação de No caso da educação, essa
categoria torna-se básica porque
a educação, como organizadora
e transmissora de idéias, medeia
as ações executadas na prátrica
social. Assim, a educação possui,
antes de tudo, um caráter
mediador.
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Prática social educativa
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1 Educação
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Prática social educativa
e da prática educativa. Além disso, há nelas uma constante que você identificará:
a interação ou relação. Em primeiro lugar, entre pessoas, mas também entre
pessoas e coisas, fatos, idéias. Você notará ainda que essas interações se dão em
uma realidade concreta, física – é verdade –, mas, sobretudo, socialmente
circunstanciada, onde a vida econômica, política, cultural se constitui em contexto
historicamente definido das interações e das ações.
Nesse sentido, a educação está sempre presente quando as pessoas se
desenvolvem, se aperfeiçoam. Pode-se mesmo dizer que, em todas as práticas
Trocando impressões com outras sociais – que necessariamente supõem interação entre as pessoas e relação das
pessoas – principalmente colegas pessoas com o mundo que as cerca –, há uma busca de aperfeiçoamento pessoal
profissionais da área de Saúde –, e coletivo, uma busca de transformação, portanto, uma prática educativa.
procure identificar e registrar em
seu Diário de Estudo situações em Admitindo a amplitude da prática social educativa como uma realidade,
que, de diferentes maneiras, precisamos ter clareza, , das diferentes situações, com diferentes características,
houve interação educativa. manifestando processos educativos distintos.
Anteriormente, sinalizamos reducionismos falseadores da realidade.
Certamente é reducionismo não distinguir práticas educativas diversas e não aprofundar
a análise de diferentes manifestações do processo educativo. Principalmente porque,
ao caracterizar essas diferenças, estaremos qualificando a relação pedagógica,
encaminhando parâmetros de responsabilidades pessoal e profissional.
Exemplificando: certamente é uma prática social de saúde a promoção
de um ambiente sadio. Iniciar as crianças em hábitos de higiene, separar o lixo,
reivindicar coleta seletiva e sistema eficaz de tratamento de água e esgoto são
responsabilidades de todos os que participam do convívio social. Entretanto,
práticas específicas de profilaxia, como planejamento e produção de sistemas
de saneamento básico, análise e recomendação de medidas preventivas ao
contágio de uma epidemia, por exemplo, não podem ser responsabilidade de
todos, embora todos devam ser envolvidos nelas como sujeitos.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu artigo 1º,
reconhece a grande abrangência da educação e define seu objeto específico.
Art. 1º A Educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na
vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino
e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais.
§1º Esta lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente,
por meio do ensino, em instituições próprias.
§2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática
social (Lei n.º 9.394/96 ).
Assim, a lei assume que a educação é um fenômeno humano cujas
manifestações – todas importantes – são muitas e diferenciadas. E mais: delimita
o seu campo de ação, definindo que cabe a ela disciplinar apenas as formas
institucionalizadas de educação, que se expressam predominantemente pelas
atividades de ensino. Mas, ao fazê-lo, estabelece uma condição necessária: a
vinculação da educação escolar tanto ao mundo do trabalho como à prática
social. Isto significa que a educação escolar existe contextualizada, ou seja, situada
no espaço, datada no tempo e referida à vida social como um todo, da qual ela
é parte integrante.
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1 Educação
Com base nessa análise inicial, podemos encaminhar nossa reflexão sobre a
prática social educativa, tentando sistematizar alguns aspectos que julgamos essenciais.
Considerando que a educação só se realiza plenamente quando resulta em
uma transformação do sujeito que se educa, a intencionalidade é um aspecto muito
importante da prática educativa. Intenção de quem deseja transformar-se, isto é,
do sujeito-educando do processo educativo. Intenção de quem se propõe a apoiar
o sujeito que deseja transformar-se, o sujeito-educador.
Surge assim, sob o ponto de vista da intencionalidade, uma grande
quantidade de possibilidades de situações educativas. Podemos pensar, por
exemplo, em duas situações opostas:
! o sujeito da transformação tem forte intenção de educar-se em uma
determinada circunstância, porém ninguém tem intenção de ajudá-lo em
seu processo;
! uma pessoa, que se propõe a apoiar a educação de outra, tem forte intenção
de fazê-lo, enquanto aquela, que seria sujeito do processo de transformação
educativa, não tem a mínima intenção de educar-se.
Mesmo que você tenha a certeza
E, entre essas duas situações, a intencionalidade dos sujeitos pode adquirir de conhecer o sentido exato
gradações diferenciadas. É possível promover uma situação em que ambas as dessas palavras, procure-as em
partes manifestem um grau elevado de intencionalidade no estabelecimento de um bom dicionário e anote o
uma interação visando à educação. seu entendimento:
Para prosseguirmos nossa análise, essas duas palavras precisam ter um ! Intenção
significado muito claro para nós: intenção e interação. ! Interação
É usual caracterizar os processos educacionais como
Como você aplica esses
! formais – quando a intenção de promover a educação e a maneira de conceitos em situações de sua
realizar a interação pedagógica se explicitam em definição de objetivos, prática cotidiana, principalmente
critérios de seleção de conteúdos, identificação de linhas metodológicas a profissional?
serem adotadas, indicação dos critérios de avaliação; e
! informais – quando ocorrem sem que se explicitem a intenção e a interação
propriamente educativas, em situações ocasionais de convívio social ou
de participação em eventos, sem qualquer previsão ou formalização de
procedimentos.
Quando se trata de educação, é preciso considerar que estamos diante de
um modo específico de ter intenção, de uma maneira específica de vivenciar a
interação. Porém é preciso reconhecer, também, que, mesmo nos processos Você consegue se lembrar de
educativos que apresentam alto índice de sistematização, há sempre espaços ou situações espontâneas que, na
sala de aula, contribuíram
momentos menos sistemáticos e até espontâneos, em que se desenvolvem para a sistematização de
importantíssimos processos interativos, nem sempre explicitados como conhecimento?
educacionalmente intencionais, mas cujos resultados educacionais são incontestáveis.
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Prática social educativa
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Pode-se dizer – sem nenhuma dúvida – que é uma proposta de educação
caracterizada por explicitação de elevado grau de intencionalidade e de interação
sistematizada.
No entanto, faz parte de sua metodologia lembrar continuamente que é
necessário criar – nas múltiplas interações de seu cotidiano (mesmo que elas
ocorram fora do espaço escolar ou do serviço da saúde) – uma forte intenção
educativa, para aproveitar, como formativas, todas essas ocasiões.
É bom lembrar que as classificações e categorizações quase nunca dão
conta da realidade. Por exemplo, a maioria das cores, dos sons, dos sabores,
dos odores, que vemos, ouvimos e sentimos, é resultado de combinações que
– embora referidas a escalas de cores, sons, sabores e odores básicos –
promovem resultados diferentes, múltiplas possibilidades de variações.
Por meio de um grande programa de formação de pessoal auxiliar da área
de Enfermagem, no qual você atuará como docente formalmente habilitado por
este Curso, surgirão múltiplas possibilidades de combinações de situações mais e
menos formais, mais e menos intencionais, mais e menos sistematizadas. Todas
com potencial educacional. Importa tanto reconhecer esse potencial como distinguir
– com absoluta clareza – os seus graus e níveis .
Como você será responsável pela formação de profissionais
competentes, é necessário situar-se em algumas discussões que ajudam a entender
a educação como um processo amplo, aberto e, ao mesmo tempo,
comprometido com a especificidade e o rigor necessários ao desenvolvimento
de competências.
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1 Educação Prática social educativa
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Prática social educativa
Interação intencionada da
prática social educativa
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1 Educação
A estrela
Rubem Alves
A democracia não pode existir também, num país cujo povo não seja
educado. Ser educado não é ter diploma de escola. Ser educado é saber
pensar. Pensar, primeiro, a estrela. Depois, pensar o caminho na sua direção.
Se não vemos a estrela, como caminhar? Quem não contempla a estrela
não pode pensar. Há eruditos com PHD que só sabem pensar os limites
estreitos do seu laboratório de pesquisa. Sua estrela são as revistas
especializadas internacionais onde seus artigos são publicados. Nossas
escolas e universidades não têm ensinado o povo a contemplar as estrelas!
Acúmulo de saberes não significa sabedoria. Perguntava T. S. Eliot [poeta
inglês]: “Onde está a Vida que perdemos ao viver?/ Onde está a sabedoria
que perdemos no conhecimento?/ Onde está o conhecimento que perdemos
na informação?” Ou Manuel de Barros [poeta brasileiro]: “Quem acumula
muita informação perde o condão de adivinhar.” Povo que não sabe pensar
não vê a estrela; caminha seduzido pelo brilho das imagens.
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Prática social educativa
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1 Educação
TEMA 2
Educação na prática social brasileira:
bases históricas
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Educação na prática social brasileira
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Educação na prática social brasileira
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Educação na prática social brasileira
Já a segunda determinação é
ordenar, como por este ordeno, que no ensino das classes e no estudo das letras
humanas haja uma geral reforma, mediante a qual se restitua o método
antigo, reduzido aos termos símplices, claros e de maior facilidade que se
pratica atualmente nas nações mais polidas da Europa, conformando-me
para a fim de determinar com o parecer dos homens mais doutos e instruídos
neste gênero e erudições.
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1 Educação
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Educação na prática social brasileira
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1 Educação
Sendo de absoluta necessidade que no Hospital militar e de marinha Ao terminar a leitura desta parte
desta Côrte se formem cirurgiões, que tenham também princípios de do tema, referente à história da
medicina, mediante os quais possam mais convenientemente tratar os educação no Brasil Colonial, pense
doentes a bordo das náos, e os povos naqueles lugares em que hajam de no que lhe chamou mais a
residir nas distantes povoações do vasto continente do Brasil; sou servido atenção sobre as concepções e
crear como princípio de maiores e adequadas providências que sobre tão intenções da educação à época e
sobre os métodos de ensino
sisudo e importante objeto me proponho dar, uma cadeira de medicina
vigentes. Como você sistematizaria
clínica teórica e prática, cujo lente terá obrigação de dar lições aos seu pensamento em três ou quatro
ajudantes de cirurgia, e outros alunos que frequentarem o dito Hospital e parágrafos? Experimente esse
de lhes ensinar os princípios elementares da matéria médica e exercício de análise e síntese,
farmaceutica, dando igualmente um plano de policia médica, de higiene utilizando o Diário de Estudo para
geral e particular e de terapeutica, por cujo trabalho vencerá o ordenado registro.
de 600$ (apud Moacyr, 1936, p. 37). Se considerar importante para
seu estudo resgatar as idéias
tratadas no texto, você poderá
A educação no Brasil Imperial retomá-las, discutindo, por
exemplo:
Mesmo depois da independência, o traço de formação de quadros ! a proposta educacional dos
dirigentes acompanha as discussões e as ações relacionadas à educação. jesuítas;
Assim como a independência política se faz pela mão do Príncipe Regente ! a reforma pedagógica do
– herdeiro do Trono Português, que se torna Imperador no Brasil – não será Marquês de Pombal e sua
imediata a diferenciação do regime, das prioridades políticas, do repercussão no Brasil;
comportamento na gestão da coisa pública e – conseqüentemente – da proposta ! as ações educacionais do
de um sistema nacional de educação. governo português instalado no
Ao abrir a sessão de inauguração da Assembléia Constituinte (3 de maio Brasil a partir de 1808.
de 1823) do proclamado independente Império do Brasil, D. Pedro I
recomenda aos parlamentares suma consideração às questões educacionais,
levantadas por ele em um trecho da Fala do Trono. Mais um relato do que foi
feito – ações esparsas, na Corte – do que uma proposta consistente:
Tenho promovido os estudos públicos quanto é possível, porém necessita-se
para isto de uma legislação particular. Fez-se o seguinte: comprou-se para
engrandecimento da Biblioteca Pública uma coleção de livros da melhor escolha;
aumentou-se o número de escolas e algum tanto o ordenado de seus mestres,
permitindo-se além disto haver um sem número delas particulares: conhecendo
a vantagem do ensino mútuo, também fiz abrir uma escola pelo método
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Educação na prática social brasileira
Ensino lancasteriano – lancasteriano. O seminário de São Joaquim, que os seus fundadores tinham
método de ensino para instrução em criado para a educação da mocidade, achei-o servindo de hospital da tropa,
massa. Criado por Joseph Lancaster fi-lo abrir na forma de sua instituição, havendo eu concedido à Casa de
(1778-1838), mestre-escola inglês, Misericórdia e roda dos expostos uma loteria para melhor se poderem manter
baseado no emprego de alunos mais estabelecimentos de tão grande utilidade, determinei ao mesmo tempo, que
capazes como monitores. Estes uma quarta parte desta mesma loteria fosse dada ao seminário de São
ensinavam pequenos grupos de Joaquim para que melhor se pudesse conseguir o útil fim para que fora
colegas o que haviam aprendido destinado pelos seus honrados fundadores... (Moacyr, 1938, p.71).
com o professor. Introduzido nos
Estados Unidos em 1806, foi Decorridos 65 anos, na penúltima Fala do Trono, em 1888, o segundo
amplamente adotado, mas imperador ainda mencionará aos parlamentares que
abandonado em 1853.
reorganizar o ensino nos seus diversos graus, difundindo os conhecimentos
mais úteis à vida pratica e preparando com estudos sérios e bem dirigidos os
aspirantes às carreiras que demandam superior cultura intelectual, é assunto
que muito se recomenda à vossa patriótica solicitude (Moacyr, 1938, p.667).
O Brasil Imperial começa e termina sem a organização e consolidação
de um sistema educacional.
Tanto a Constituição outorgada em 1824 quanto a Lei sobre o ensino
elementar de 15 de outubro de 1827 proclamavam o valor da instrução primária
gratuita a todos os cidadãos como uma das garantias da inviolabilidade dos direitos civis
e políticos dos cidadãos brasileiros.
Mas, em 1832, as estatísticas oficiais registram 180 escolas (18 para
meninas), das quais ao menos 40 sem professor. Isto é, após 10 anos da existência
política do Brasil como nação independente, não acontecera nada que registrasse
uma tendência de implantação de um sistema educacional para “todos os
cidadãos”.
José Ricardo Pires de Almeida apresenta como razão: as escolas primárias
não foram instaladas por falta de pessoal apto para as funções de instrutor. Isto devia-se
ao fato das pessoas que poderiam abraçar esta carreira penosa encontrarem uma remuneração
muito baixa (1989, p. 60-61).
Sucedem-se, entre discussões e comparações com as nações modernas
da Europa e com os Estados Unidos da América, propostas de leis e planos.
Sucedem-se também relatórios oficiais e discursos de parlamentares e dos
ministros do Império. Entretanto, é o Conselheiro Paulino José Soares de
Souza, Ministro do Império do Partido Conservador, em Relatório de 1869,
quem vai se aproximar da verdadeira razão: não se faz investimento público
suficiente para desenvolver a educação pública e não se executam ações de
formação e apoio ao magistério.
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1 Educação
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Educação na prática social brasileira
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1 Educação
I – RUI BARBOSA
A verdade (...) é que o ensino público está à orla do limite possível a uma
nação que se presume livre e civilizada; é que há decadência, em vez de
progresso; é que somos um povo de analfabetos, e que a massa deles, se
decresce, é numa proporção desesperadoramente lenta; é que a instrução
acadêmica está infinitamente longe do nível científico desta idade; é que a
instrução secundária oferece ao ensino superior uma mocidade cada vez
menos preparada para o receber; é que a instrução popular, na Corte
como nas províncias, não passa de um desideratum; é que há sobeja matéria
para nos enchermos de vergonha, e empregarmos heróicos esforços por
uma reabilitação, em bem da qual, se não quisermos deixar em dúvida
nossa capacidade mental ou os nossos brios, cumpre não recuar ante
sacrifício nenhum (...) Salvo exceções singulares, as crenças e as filosofias
mais opostas,, variando quanto à direção, reacionária, ou liberal, que mais
convenha imprimir ao ensino, coincidem na idéia, cada vez mais geral de
que, na fase atual da civilização, as instituições e encargos do Estado,
em matéria de ensino, tendem inevitavelmente a crescer (...) A idéia hostil
à interferência do governo no domínio da instrução pública não passa de
uma concepção abstrata, contrariada pela evolução das idéias e dos fatos
nos países mais livres. Em vez de vos propor medidas tendentes a enfraquecer
a organização central do ensino, a vossa comissão encara, por conseguinte,
como providência de largo alcance e urgência imperiosa a criação do
ministério da instrução pública (Barbosa,1982, p. 89-97, 114).
II – FERNANDO DE AZEVEDO
Nessa sociedade, de economia baseada no latifúndio e na escravidão, e Fernando de Azevedo (MG,
à qual, por isso, não interessava a educação popular, era para os ginásios 1894 – SP, 1974) – educador,
e as escolas superiores, que afluíam os rapazes do tempo com historiador e sociólogo –,
participou intensamente do
possibilidades de fazer os estudos. As atividades públicas, administrativas e
movimento das reformas
políticas, postas em grande realce pela vida da corte e pelo regime
educacionais da década de
parlamentar, e os títulos concedidos pelo Imperador contribuíam ainda mais 1920, tendo promovido, como
para valorizar o letrado, o bacharel e o doutor, constituindo, com as profissões Diretor Geral da Instrução
liberais, o principal consumidor das elites intelectuais forjadas nas escolas Pública, a reforma do sistema
superiores do país. Esse contraste entre a quase ausência de educação escolar do Distrito Federal
(1926-1930). Em 1932 foi o
relator do Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova.
Tendo participado da concepção
e criação da Universidade de
São Paulo, em 1934, exerceu
grande influência na formação
dos cientistas sociais brasileiros.
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Em 1907 contava o país com No período republicano, muitas são as discussões e constantes as
3.258 empresas industriais e proclamações de valores e intenções educacionais que não se tornam realidade.
150.000 operários no setor. Entretanto, um processo significativo de industrialização vem ocorrendo,
Em 1920 estes números e a sociedade começa a contar com a afluência e influência de novas forças e
passam a 13.336 e 276.000,
movimentos sociais. Crescem as aspirações – que logo se tornam exigências –
respectivamente.
por mais e melhor educação. No âmbito federal, nem sempre esses movimentos
encontravam repercussão objetiva entre os políticos e a burocracia.
Embalados na generalidade de um discurso entusiasmado e em uma
Anarquismo – doutrina política visão otimista da educação, os governos pouco fazem. Os movimentos sociais
que, em nome da emancipação dividem-se na reivindicação da escolarização. Enquanto uns cobram do governo
do indivíduo, rejeita toda uma educação oficial e pública para todos (socialistas e comunistas) e disputam
organização do Estado e toda
recursos públicos para suas iniciativas educacionais, os anarquistas partem para
autoridade social repressiva que
a ele se imponha. a ação direta, criando as Escolas Modernas ou Racionalistas.
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porque nos batemos em 1932, e cuja atualidade é ainda tão viva, e mais
do que viva, tão palpitante que esse documento já velho de mais de 25
anos, se diria pensado e escrito nestes dias. (...) Vendo embora com
outros olhos a realidade (...) partimos do ponto em que ficamos (...) para
uma tomada de consciência da realidade atual e uma retomada, franca e
decidida, de posição em face dela e em favor, como antes, da educação
democrática da escola democrática e progressista que tem como postulados
a liberdade de pensamento e a igualdade de oportunidades para todos.
(...) Não foi, portanto o sistema de ensino público que falhou, mas os que
deviam prever-lhe a expansão, aumentar-lhe o número de escolas na
medida das necessidades e segundo planos racionais, prover às suas
instalações, preparar-lhe cada vez mais solidamente o professorado e
aparelhá-lo dos recursos indispensáveis ao desenvolvimento de suas
múltiplas atividades. (...) A educação pública é a única que se compadece
com o espírito e as instituições democráticas cujos progressos acompanha
e reflete, e que ela concorre, por sua vez para fortalecer e alargar com
seu próprio desenvolvimento (...) A Escola pública, cujas portas, por ser
escola gratuita, se franqueiam a todos sem distinção de classes, de
situações, de raças e de crenças, é, por definição contrária e a única que
está em condições de se subtrair a imposições de qualquer pensamento
sectário, político ou religioso. A democratização progressiva de nossa
sociedade (e com que dificuldades se processa ao longo da história
republicana) exige pois, não a abolição – o que seria um desatino, –
mas o aperfeiçoamento e a transformação constante de nosso sistema de
ensino público. (...) As profundas transformações operadas em Você sabia que, entre os
conseqüência da preponderância da economia industrial sobre as formas signatários desse manifesto,
econômicas que a precederam, determinam, de fato, e têm de determinar, estão, além de Anísio Teixeira e
nos sistemas de ensino, grandes mudanças que permitam ampla Paschoal Lemme (Pioneiros),
participação de todos em estudos e práticas, desde a escola primária Florestan Fernandes, Fernando
completa até os mais altos níveis de estudo superiores’. Já se vê, mais Henrique Cardoso, Ruth Correa
uma vez, que essa participação, com a amplitude que deve ter, para Leite Cardoso, Darcy Ribeiro,
Caio Prado Júnior, José Arthur
colher toda a população em idade escolar não pode ser senão obra do
Giannotti, Wilson Martins e
Estado pela escola universal, obrigatória e gratuita, e numa sucessão de tantos outros?
esforços ininterruptos, através de longos anos, inspirados por uma firme
política nacional de educação. (...) [Os que acusam e pedem a eliminação
da escola pública] (...) o que disputam afinal, em nome e sob a capa de Identifique no Manifesto dos
liberdade, é a reconquista da direção ideológica da sociedade - uma Educadores de 1959 os principais
espécie de retorno à Idade Média - e os recursos do erário público para argumentos de defesa da
manterem instituições privadas, que, no entanto, custeadas, na hipótese, educação pública. Como você
os situa em relação à realidade
pelo Estado, mas não fiscalizadas, ainda se reservariam o direito de cobrar
educacional do país, hoje?
o ensino, até a mais desenvolta mercantilização das escolas (...).
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Educação na prática social brasileira
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1 Educação
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Educação na prática social brasileira
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1 Educação
Outras leituras
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Educação: interação e consciência social
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1 Educação
TEMA 3
Educação: interação e consciência social
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Educação: interação e consciência social
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1 Educação
agir de promoção da saúde. O que pode ser grave é limitar-se a elas, em uma
não rara redução dos temas, dos problemas, das soluções e das intenções aos
limites mesmos de cada campo, daquela específica prática social, quase a excluir
o campo e sua prática do contexto social amplo.
Em um dos seus mais brilhantes artigos, Durmeval Trigueiro Mendes Identifique e analise uma situação
concreta, vivida ou presenciada
(1974), usando o exemplo da formação de médicos, nos lembra da centralidade
por você, em que você percebeu
do trabalho na constituição do sujeito humano e social, já que é por meio dele uma limitação ao campo
e nele que o indivíduo desenvolve sua cultura. Por outro lado, essa cultura específico, ou seja, o contexto
transcende o trabalho “como instância crítica e criadora”. A escola média, social mais amplo não foi
segundo o autor considerado.
Registre em seu Diário de Estudos
dá a formação profissional, mas esta só é autêntica quando a tecné, na e, depois, confira com colegas,
qual o indivíduo é instruído, constituir uma práxis autêntica, abrangente verificando se, na opinião deles,
do seu projeto existencial global – o seu fazer que incorpora o seu ser; o sua percepção foi adequada.
fazer é fazer-se refazendo o seu “entorno” – e abrindo, dentro dele,
espaço para sua própria e permanente recriação. O indivíduo não cai
dentro de uma profissão como um objeto passivo se encaixa dentro de um
escaninho, ou um bicho-da-seda dentro de seu casulo. Ele se torna elemento
ativo e criador, não só porque se movimenta dentro do seu emprego, como
também porque é capaz de olhar o mundo, além deste, como um horizonte
de possibilidades para sua promoção humana e social. Ele precisa estar
armado de uma consciência crítica e prospectiva para não cair num emprego
como uma pedra cai num poço, mas para mergulhar numa corrente que
pode levá-lo sempre adiante. Sua habilidade fundamental é para exercer
criadoramente seu ofício, aperfeiçoando-o, extraindo dele uma consciência
gratificante que está ligada só a um opus – e nunca a uma tarefa – e
transcendendo-o sempre para outros, mais próximos de sua ambição
criadora e de sua capacidade.
Muito importante, para nós, é ter sempre presente que o nosso aluno,
que se estará formando como profissional técnico ou auxiliar de enfermagem,
não pode ser dissociado de seu “projeto existencial global”, e este só subsiste
em termos pessoais se inserido no projeto da sociedade.
Aqui, então, é que esta intencionalidade da interação humana está chamada
a se manifestar como consciência social, “crítica e prospectiva”, abrangente de
uma totalidade que vai além e inclui a prática educativa.
Dissemos está chamada a se manifestar como consciência social, porque ter
consciência é um atributo humano natural, mas não é natural, e sim uma
produção pessoal no contexto histórico e cultural, é mobilizar a capacidade de
“saber que sabe” para níveis mais elaborados de consciência disso ou daquilo.
Por isso é que podemos, diante de uma realidade, constatar presença ou ausência
de consciência social.
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Educação: interação e consciência social
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1 Educação
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Prática social educativa
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1 Educação
Textos complementares
Texto complementar n o 1
1. A proposta educativa de Erasmo
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Educação: interação e consciência social
3. Rabelais e Montaigne
Na França do século XVI, contemporâneos já dos jesuítas, Rabelais
(1494-1553) e Montaigne (1533-1592) contribuíram de uma forma mais
sistemática e diferente para a reformulação das concepções e práticas
pedagógicas.
Rabelais
Com a força destruidora da ironia e da sátira – concretizada na sua
Sátira – texto, discurso, panfleto obra Gargantua, Rabelais manifesta todo o seu horror aos vícios da educação
manuscrito ou impresso que
praticada em seu tempo. Critica tanto os mestres de gramática quanto os mestres
investe contra os costumes
público ou privados, ou que
universitários e apresenta suas idéias de como deveria ser a nova educação:
ridiculariza alguém ou alguma ! não pode se basear exclusivamente em memória e palavras;
coisa, em linguagem picante ou ! a inteligência deve ser enriquecida com idéias e conceitos aprendidos
maldizente.
gradualmente e de forma sistemática;
! o bom senso e a virtude devem ser desenvolvidos de maneira ativa;
! as bases do plano completo da educação são o humanismo (adquira perfeito
conhecimento do outro mundo que é o homem), em que:
! o movimento substitui a vida sedentária;
! a observação direta dos objetos substitui as simples palavras;
! a escola não se fecha em quatro paredes, mas se abre no contato com
a amplitude da vida no campo e na sociedade;
! a aprendizagem das línguas vivas modernas é tão útil quanto a das
línguas antigas.
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1 Educação
Montaigne
Encontramos os pensamentos de Montaigne sobre educação nos seus
Ensaios (especialmente nos capítulos Da educação das Crianças e Pedantismo). Sua
preocupação pedagógica é com a educação da criança para a formação do
homem. Parte de sua própria educação como um menino de família rica,
instruída e culturalmente sofisticada. Em relação ao educador, recomenda que:
! tenha uma cabeça bem feita em lugar de bem cheia;
Texto complementar n o 2
A pedagogia da Reforma e da Contra-Reforma
1. Reforma
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Educação: interação e consciência social
2. Contra-Reforma
A preocupação pedagógica na Contra-Reforma ou Reforma
Católica é, evidentemente, diversa.
As instituições educacionais, nas regiões em que a reforma “protestante”
não se tornara hegemônica, mantinham-se em plena atividade.
Entretanto, mesmo nos países católicos, viviam-se fortes apelos
reformadores que repercutiam nas instituições, nas práticas e nas orientações
educativas.
A preocupação com a educação do clero, em particular, presidia os
ajustamentos e mudanças que se operavam na atividade pedagógica sob a
influência da Igreja.
Com os humanistas, acreditava-se que a reforma do homem envolve a
educação.
No pensamento dos reformadores católicos, a própria reforma da Igreja
teria que passar pela educação dos fiéis e, sobretudo, dos membros do clero e da
elite leiga. Essa educação será definida, principalmente depois da ruptura luterana,
como instrumento de preservação da fé e da unidade da Igreja.
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1 Educação
Texto complementar n o 3
Iluminismo: sociedade, cultura e educação
O que é o Iluminismo?
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1 Educação Educação: interação e consciência social
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1 Educação
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Educação: interação e consciência social
Texto complementar n o 4
O pensamento educacional de A. Comte
Embora sem ter deixado o Tratado sobre a Educação Universal, que
projetava publicar em 1858, Comte explicitou seu pensamento educacional
em outras obras, o que nos permite conhecer suas principais idéias. Vejamos o
que ele diz na segunda lição de seu Curso de Filosofia Positiva:
O problema fundamental da educação consiste em fazer com que o
entendimento, muitas vezes medíocre, em poucos anos chegue ao mesmo ponto
de desenvolvimento atingido, durante uma longa série de séculos, por um grande
número de gênios superiores, que aplicaram, sucessivamente, durante a vida
inteira, todas as suas forças ao estudo de um mesmo assunto.
Assim, a educação do indivíduo deve, segundo ele, reproduzir a da espécie, no sentido
de transmitir não as etapas - o que seria impossível - mas o movimento e o produto.
Em síntese, seu discípulo Émile Littré registra que o pensamento
educacional de Comte consiste em:
! mudar de base mental,
! substituir pelo saber científico o saber literário, que deve manter seu lugar, mas
não-prioritário,
! e universalizar, uniformizando-a, a educação (Littré, 1878, p.352-353).
75
! o método geral da educação positiva apresenta diversificações em duas
fases:
! antes da puberdade, preocupa-se com o concreto, a prática da
observação e de exercícios tendentes a facilitar a adaptação do corpo à ação
habitual;
! da puberdade em diante, preocupa-se com a sistematização, ou seja,
com lições formais e programação orgânica das ciências, segundo
classificação hierarquizada;
! os professores devem ser polivalentes, isto é, capazes de dirigir a iniciação
de todas as ciências, devendo suscitar a submissão ativa e voluntária e não a
discussão estéril e dispersiva, o que faz prevalecer o ensino oral, sendo raro o
recurso a livros didáticos.
Texto complementar n o 5
A proposta dos intelectuais educadores da década de 1930
(Trechos do Manifesto dos Pioneiros)
empregará os métodos comuns a todo gênero de investigação científica, podendo recorrer a técnicas
mais ou menos elaboradas e dominar a situação, realizando experiências e medindo os resultados
de toda e qualquer modificação nos processos e nas técnicas, que se desenvolveram sob o impulso
dos trabalhos científicos na administração dos serviços escolares.
À luz dessas verdades e sob a inspiração de novos ideais de educação, é que se gerou,
no Brasil, o movimento de reconstrução educacional. Nós assistíamos à aurora de uma verdadeira
renovação educacional, quando a revolução estalou. Já tínhamos chegado, então, na campanha
de divisão das águas. Mas, a educação que, no final de contas, se resume logicamente numa
reforma social, não pode, ao menos em grande proporção, realizar-se senão pela ação extensa
e intensiva da escola sobre o indivíduo e deste sobre si mesmo, nem produzir-se, do ponto de
vista das influências exteriores, senão por uma evolução contínua, favorecida e estimulada por
todas as forças organizadas de cultura e de educação.
A educação nova, alargando a sua finalidade para além dos limites das classes,
assume, com uma feição mais humana, a sua verdadeira função social, preparando-se para
formar “a hierarquia democrática” pela “hierarquia das capacidades”, recrutadas em todos
os grupos sociais, a que se abrem as mesmas oportunidades de educação. Ela tem, por objeto,
organizar e desenvolver os meios de ação durável, com o fim de “dirigir o desenvolvimento
natural e integral do ser humano em cada uma das etapas de seu crescimento”, de acordo com
uma certa concepção do mundo.
...a doutrina de educação, que se apóia no respeito da personalidade humana, considerada
não mais como meio, mas como fim em si mesmo, não poderia ser acusada de tentar, com a
escola do trabalho, fazer do homem uma máquina, um instrumento exclusivamente apropriado
a ganhar o salário e a produzir um resultado material num tempo dado.
...a escola socializada não se organizou como um meio essencialmente social senão para
transferir do plano da abstração ao da vida escolar em todas as suas manifestações, vivendo-se
intensamente, essas virtudes e verdades morais, que contribuem para harmonizar os interesses
individuais e os interesses coletivos.
...do direito de cada indivíduo à sua educação integral, decorre logicamente para o
Estado, que o reconhece e o proclama, o dever de considerar a educação, na variedade de seus
graus e manifestações, como uma função social e eminentemente pública, que ele é chamado a
realizar, com a cooperação de todas as instituições sociais.
Afastada a idéia do monopólio da educação pelo Estado num país, em que o Estado,
pela sua situação financeira não está ainda em condições de assumir a sua responsabilidade
exclusiva, e que, portanto, se torna necessário estimular, sob sua vigilância, as instituições
privadas idôneas, a “escola única” se entenderá, entre nós, não como “uma conscrição precoce”,
arrolando, da escola infantil à universidade, todos os brasileiros, e submetendo-os durante o
maior tempo possível a uma formação idêntica, para ramificações posteriores em vista de
destinos diversos, mas antes como a escola oficial, única, em que todas as crianças, de 7 a 15,
todas, ao menos que, nessa idade, sejam confiadas pelos pais à escola pública, tenham uma
educação comum, igual para todos.
A estrutura do plano educacional corresponde, na hierarquia de suas instituições
escolares (escola infantil ou pré-primária; primária; secundária e superior ou universitária)
aos quatro grandes períodos que apresenta o desenvolvimento natural do ser humano,
uma reforma integral da organização e dos métodos de toda a educação nacional, dentro
do mesmo espírito que substitui o conceito estático do ensino por um conceito dinâmico,
fazendo um apelo, dos jardins de infância à universidade, não à receptividade, mas à
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Questionando o Processo Educativo
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1 Educação
Síntese
Neste primeiro módulo, foram desenvolvidos temas e indicadas atividades, buscando sistematizar
referências conceituais relativas à educação, sempre a partir da aplicação de reflexão crítica sobre
manifestações concretas da prática educativa.
1 – Em um primeiro momento, procuramos identificar, a partir de práticas sociais concretas vivenciadas
pelos alunos do curso, as diferentes manifestações da educação como prática social, considerando sua ocorrência
nos diversos espaços de convívio social e, sobretudo, na escola, onde se estabelece a relação pedagógica
professor-aluno, educador-educando, como relação intersubjetiva, isto é, entre sujeitos sociais.
Na discussão de práticas educativas diferenciadas, foi dado especial destaque à educação de adultos
caracterizando ainda uma experiência alternativa de educação fundamental de crianças, tendo como exemplo o
Movimento dos Sem Terra.
Ressaltamos também a importância de ter clareza sobre a intencionalidade da interação na prática social
educativa, que tem como finalidade básica a construção dos sujeitos, em sua dimensão tanto individual como
social, como agentes da reconstrução do mundo como espaço de vida humana plena.
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1 Educação Atividade de avaliação do módulo
limitados no tempo e no espaço (Capital, capitais); entretanto, no âmbito da sociedade cresce a exigência
por mais e melhor educação, na mesma proporção em que os impactos da industrialização e modernização
se fazem sentir mais fortes, a partir da década de 1920, quando intelectuais brasileiros, alçados a cargos de
dirigentes da educação, promovem em seus estados (e muito mais, em suas capitais) reformas de cunho
modernizador, no espírito do movimento de idéias e ações da Escola Nova, repercutindo suas idéias e
feitos, em 1932, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova; começa também a introduzir-se o
processo de definição da educação profissional em geral e, especificamente, na área de Saúde; movimentos
que se confrontam – e muitas vezes são utilizados – com um projeto ditatorial no qual o populismo,
sustentado pelos interesses da oligarquia, reforça o dualismo pedagógico, sistematizando uma educação
brasileira em compartimentos estanques como caminho da elite para as profissões liberais e caminho
popular para as profissões manuais, ainda que exigentes de mão-de-obra mais bem qualificada;
! a história da redemocratização do país, após a Segunda Guerra Mundial, que se faz no desafio da velocidade
das mudanças no mundo, quando a educação, redefinida em seus objetivos na perspectiva da liberal
democracia inscrita na Constituição de 1946, discute durante 15 anos suas diretrizes e bases, sendo o
confronto entre público e privado o centro de um debate que vai refletir-se em novo manifesto de
intelectuais “mais uma vez convocados” em defesa de uma educação pública, universal, leiga e gratuita,
em 1959;
! a inauguração de um longo período autoritário, em 1964, que se opõe ao impulso renovador exigente de
reformas e rico em projetos alternativos de educação popular que ocorria desde 1961; esse período
autoritário, primeiro de fato, depois através de medidas normativas, recentraliza a educação e, com a mais
genuína fidelidade ao tecnicismo economicista, promove uma revisão da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional;
! o avanço do processo de redemocratização (embora mantido no modelo da liberal democracia), vinte
anos após o golpe,através das reformas de políticas sociais, conseguindo um bom projeto pedagógico na
Constituição de 1988;
! o retrocesso sofrido pela Constituição com o texto final da Lei de Diretrizes e Bases de 1996 que, não
avançando, deixa espaços para atos normativos do poder executivo, com forte conotação de dualismo
educacional, renovada crença na teoria do capital humano a serviço do mercado, flexibilização do uso do
fundo público para a educação privada.
Em todo o percurso, buscou-se estabelecer relações com o desenvolvimento da formação e da prática
social de saúde no campo da enfermagem.
3 – Retomando a prática social educativa, cujo entendimento se reforçou com a análise da experiência
histórica, foi discutida com mais profundidade a interação social e sua intencionalidade, para identificar no
processo educativo as possibilidades de desenvolvimento de uma consciência social.
Passou-se, então, a caracterizar a atividade de planejamento e sua objetivação em planos e projetos,
como uma forma de explicitar a intencionalidade da interação pedagógica para a construção de ampliação do
entendimento da realidade e de proposição sistematizada de estratégias como possibilidade de intervenções
transformadoras no convívio social.
80 80
Educação: interação e consciência social
1 – Com base no estudo desenvolvido neste módulo, exponha seus referenciais de educação em um
pequeno texto (de duas a quatro páginas), abordando as seguintes questões:
! que significa para você a expressão “a educação é uma prática social” e como você relaciona intenção e
interação a esse entendimento?
! em sua maneira de ver, quais os problemas que se apresentam quando o processo desconsidera a dimensão
sociocultural do aluno?
2 – A exemplo do que fez Paulo Freire, em Cartas a Cristina, escreva para um companheiro(a) docente-
enfermeiro(a) como você, refletindo criticamente, em razão da leitura deste módulo, sobre sua prática na saúde
e na educação. Comente, nessa missiva (de duas a quatro páginas) seu pensamento em relação a conceitos aqui
aprendidos.
3 – Leia, com atenção, o texto abaixo, extraído do Manifesto de Educadores, de 1959, que você conhe-
ceu ao ler o Tema 2 deste módulo:
(...) Não foi, portanto, o sistema de ensino público que falhou, mas os que deviam prever-lhe a expansão, aumentar-lhe o
número de escolas na medida das necessidades e segundo planos racionais, prover às suas instalações, preparar-lhe cada vez
mais solidamente o professorado e aparelhá-lo dos recursos indispensáveis ao desenvolvimento de suas múltiplas atividades.
(...)
... a educação pública é a única que se compadece com o espírito e as instituições democráticas cujos progressos
acompanha e reflete, e que ela concorre, por sua vez, para fortalecer e alargar com seu próprio desenvolvimento. (...) A
escola pública, cujas portas, por ser escola gratuita, se franqueiam a todos sem distinção de classes, de situações, de
raças e de crenças, é, por definição contrária e a única que está em condições de se subtrair a imposições de qualquer
pensamento sectário, político ou religioso. A democratização progressiva de nossa sociedade (e com que dificuldades se
processa ao longo da história republicana) exige pois, não a abolição – o que seria um desatino, – mas o aperfeiço-
amento e a transformação constante de nosso sistema de ensino público. (Azevedo e outros,1959).
Com base no estudo desenvolvido no módulo, especialmente no Tema 3, comente em um pequeno
texto (de duas a quatro páginas) o trecho acima, abordando, os seguintes aspectos:
! a importância do planejamento como expressão de uma intencionalidade de uma prática social educativa;
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1 Educação Bibliografia de referência
4 – Relate em um texto breve (de duas a quatro páginas) uma experiência (ou um conjunto de experiências) de
prática educativa vivenciada por você ou a que você tenha assistido, seja na escola ou no serviço de saúde, analisando-
a/o do ponto de vista da concepção pedagógica e da interação social estabelecida entre os sujeitos do processo.
Observação importante: Para a realização da atividade que você escolher entre as quatro propostas, não
deixe de recorrer, como fonte de consulta, ao seu Diário de Estudo, resgatando as idéias e reflexões anotadas
no transcurso do seu estudo.
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Educação: interação e consciência social
Bibliografia de referência
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1 Educação Bibliografia de referência
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