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Resumo

Epidemiologia social*
Este artigo trata da emergência da epi-
demiologia social concomitantemente ao
Social Epidemiology surgimento da epidemiologia como discipli-
na científica, destacando as condições teóri-
cas e epistemológicas desse aparecimento.
Em seguida são enfocadas as razões para o
declínio dessa abordagem, assim como para
seu ressurgimento na década de 60, no sé-
culo XX. São apresentadas as diferentes cor-
rentes teóricas atualmente vigentes na
epidemiologia social, destacando as carac-
terísticas gerais e as limitações de cada uma
delas. Especial atenção é dada às seguintes
formulações: a eco-epidemiologia proposta
por Mervin Susser, a teoria do capital social,
a perspectiva do curso de vida, a teoria da
produção social da doença e a teoria
ecosocial elaborada por Nancy Krieger. O
panorama traçado pretende demonstrar a
vitalidade dessa abordagem, bem como in-
dicar a diversidade de aspectos em seu inte-
rior. Para finalizar são apontados alguns di-
lemas e desafios.

Palavras-chave: Epidemiologia social.


Abordagens teóricas. Teoria epidemiológica.

Rita Barradas Barata


Departamento de Medicina Social, Faculdade de Ciências Médicas, Santa Casa
de São Paulo (FCMSCSP)

*Apresentado em Mesa-Redonda no VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia. Recife, PE,


Brasil. 19-23 de junho de 2004.
Correspondência: Rua Dr. Cesário Motta Jr 61 6º andar, 01221-020 - São Paulo - SP,
rita.barata@fcmscsp.edu.br

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Abstract Por que Epidemiologia Social?

This paper reviews the latest trends in social O comentário mais habitual ao se falar
epidemiology. It analyzes the emergence of de epidemiologia social é a indagação se toda
epidemiology as a scientific discipline in the epidemiologia não é social. Afinal, por defi-
nineteenth century focusing on the main nição, os fenômenos estudados pela epide-
characteristics of the episteme of the period. miologia pertencem ao âmbito coletivo e,
This paper also analyzes the decline of the portanto, devem remeter ao social. Faz sen-
social approach in the beginning of the twen- tido pensar em algum processo biológico que
tieth century and the resurgence of social seja independente do contexto social? É pos-
interest in the sixties. The multiple approaches sível pensar o indivíduo isolado, desenraizado
of social epidemiology currently adopted are da sociedade em que vive?
commented. The study also emphasizes A despeito dessas considerações, nem
Susser’s proposal of ecoepidemiology, de- toda epidemiologia é social. A epidemiologia
scribing its characteristics and pointing out social se distingue pela insistência em inves-
limitations. Next, there is a discussion of the tigar explicitamente os determinantes soci-
social capital theory and its potentialities for ais do processo saúde-doença1. O que dis-
epidemiological studies. The life course per- tingue a epidemiologia social das outras
spective is also analyzed, mentioning its psy- abordagens epidemiológicas não é a consi-
chological and material versions. Latin deração de aspectos sociais, pois, bem ou
America’s social production of the health and mal, todas reconhecem a importância des-
disease process is presented along with an ses aspectos, mas a explicação do processo
overview of Nancy Krieger’s social ecoepi- saúde-doença. Trata-se portanto de uma
demiology. Finally, some dilemmas and chal- distinção no plano teórico.
lenges for the future are presented. Nas duas últimas décadas do século XX
observou-se crescimento exponencial da
Key Words: Social epidemiology. Theoreti- produção científica em epidemiologia soci-
cal approaches. Theoretical epidemiology. al2. As revistas que mais publicaram artigos
em epidemiologia social nas duas últimas
décadas foram o International Journal of
Epidemiology, Journal of Epidemiology and
Community Health, American Journal of
Public Health e American Journal of
Epidemiology.

A Epidemiologia Social é um
fenômeno do final do século XX?

A observação do gradiente socioeconô-


mico em saúde, estendendo-se a todas as
camadas da sociedade, é bastante antiga. Do
mesmo modo, ao longo dos dois últimos
séculos foram se acumulando evidências de
que tanto o nível de pobreza quanto o con-
texto social em que ela se desenvolve im-
portam na determinação do estado de saú-
de, ou seja, indivíduos pobres vivendo em
ambientes degradados apresentam pior es-
tado de saúde do que indivíduos pobres vi-
vendo em ambientes melhores3.

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Embora os saberes sobre a saúde e a do- fluências deletérias das privações sofridas na
ença, na dimensão coletiva, já existissem como infância sobre a saúde na idade adulta3.
prática discursiva individualizada desde o sé- Os trabalhos de Virchow e Snow, além
culo XVII, somente no início do século XIX a de tantos outros, também associam condi-
epidemiologia irá se constituir em disciplina ções de vida e processos de adoecimento,
científica, fortemente influenciada pelos de- fortalecendo a idéia de que as intervenções,
senvolvimentos científicos da época, seja no para terem eficácia, devem estar baseadas
campo das ciências naturais, seja no campo no conhecimento das tendências de distri-
das ciências sociais nascentes4. buição dos casos, características dos indiví-
É durante o século XIX que a sociedade duos acometidos, espacialização e ocorrên-
passa a ser estudada cientificamente. A in- cia em períodos anteriores4.
vestigação e quantificação dos eventos vitais Essa relação inicial entre a Epidemiologia
(nascimentos e óbitos), que vinham sendo e as Ciências Sociais na busca de explicações
realizadas desde os séculos anteriores, for- para os padrões populacionais de distribui-
neciam evidências de que a observação dos ção das doenças perdura durante a maior
padrões populacionais era útil para a com- parte do século XIX e até as primeiras déca-
preensão dos processos de adoecimento. A das do século XX.
observação das regularidades nas séries es- O enfraquecimento dos vínculos teóri-
tatísticas sugere vínculos causais ou proces- cos e metodológicos entre essas disciplinas
sos de determinação subjacentes. Por outro decorre principalmente de dois movimen-
lado, continua forte na episteme desse perí- tos5. Ainda no final do século XIX, o desen-
odo a crença na existência de relações ínti- volvimento da teoria do germe representa a
mas entre Matemática e Realidade, preva- primeira cisão. A oposição entre os defen-
lente em toda a ciência desde Galileu. A sores das teorias contagionistas e os defen-
epidemiologia, como outras disciplinas ci- sores das teorias miasmáticas pode ser lida
entíficas populacionais que utilizam abor- também como a oposição entre os concei-
dagens quantitativas, encontrou na conta- tos de multicausalidade e constituição. Ao
gem e nos procedimentos de categorização contrário do que se costuma pensar, a teo-
ferramentas fundamentais para a produção ria do germe, longe de resultar em um
de conhecimentos, e nos estudos empíricos unicausalismo, favoreceu a substituição de
indutivistas a possibilidade de, a partir da concepções totalizantes, baseadas na idéia
análise da diversidade dos indivíduos, gerar de constituição epidêmica e estrutura
leis universais5. epidemiológica, por modelos mais ou me-
Vários estudos são emblemáticos desse nos simplificados de multicausalidade (ba-
período de constituição da epidemiologia em lança de Gordon, rede de causalidade de
disciplina científica, e todos eles poderiam MacMahon, “pizzas” de causas componen-
perfeitamente ser enquadrados na catego- tes de Rothman, a tríade ecológica de
ria de estudos de epidemiologia social, pois Leavell&Clark) 6.
buscam explicar os padrões de adoecimento As explicações tributárias da teoria da
através dos vínculos entre a saúde e a socie- multicausalidade caracterizam-se por incluir
dade. aspectos relativos à organização da socieda-
Villermé, em 1826, relacionou as taxas de e à cultura entre fatores que contribuem
de mortalidade geral nos bairros parisienses para a produção das doenças, sem que cons-
à proporção de rendas não taxadas da po- tituam necessariamente determinantes do
pulação, tomada como indicadora do grau processo. Os fatores sociais, econômicos,
de riqueza ou pobreza desses bairros. culturais, demográficos, são pensados como
Engels, em 1884, já chamava a atenção partes de um conjunto mais amplo de cau-
para a alta mortalidade entre os pobres, da- sas que inclui fatores do ambiente físico e
das as condições precárias de vida da classe biológico em um componente designado
operária na Inglaterra e, alertava para as in- como meio-ambiente6.

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Portanto, a adoção da tríade ecológica A Epidemiologia Social que
como modelo de explicação da causalidade emerge dos movimentos
representa mudança na qualidade da rela- políticos dos anos 60 é a mesma
ção entre a epidemiologia e as ciências soci- herdada das origens da
ais. A articulação entre elas deixa de se dar disciplina?
no plano teórico e se vê reduzida ao plano
instrumental dos atributos. A mesma con- Se a epidemiologia social não é nova,
cepção de causa, como simples sucessão de tampouco as correntes hoje existentes po-
eventos, encontra-se fortemente presente na dem ser vistas como uma simples continui-
chamada epidemiologia dos fatores de ris- dade dos estudos históricos.
co, em que uma série infindável de fatores Há atualmente um consenso sobre a
que apresentam associações fortes com as importância dos aspectos sociais e seus efei-
doenças, são identificados como “causas”, tos sobre a saúde. No entanto, as concor-
sem que, de fato, haja um modelo coerente dâncias se encerram aí. As divergências en-
de articulação entre eles6. tre as diversas escolas aparecem em relação
A redução dos vínculos entre sociedade e à teoria social subjacente, à adoção do con-
processo saúde-doença a atributos mensu- ceito de causalidade ou determinação, aos
ráveis a partir do estudo de casos individuais conceitos chaves para a condução das pes-
resulta ainda na supervalorização dos “esti- quisas e ao nível de análise dos fenômenos
los de vida” e nas propostas de promoção da no plano individual ou coletivo.
saúde baseadas majoritariamente na educa- Como decorrência dessas diferentes op-
ção e na responsabilização dos indivíduos, ções teóricas surgem vários modelos explica-
como abordagens privilegiadas pela epide- tivos na epidemiologia social, gerando dis-
miologia moderna. tintas vertentes no trabalho epidemiológico.
Esses movimentos de enfraquecimento da Esses diversos modelos, na avaliação de
relação entre a epidemiologia e as ciências so- Kaplan 2, têm em comum a abordagem
ciais acabam por determinar o ocultamento multinível ou hierárquica da realidade, a va-
do caráter coletivo e social da epidemiologia, lorização de distintos processos ou meca-
levando à substituição da perspectiva nismos de produção e a consideração das
populacional pela perspectiva individual nas influências recíprocas entre os distintos pro-
investigações epidemiológicas. Como afirma cessos. Esses modelos são todos considera-
Castellanos7, “a Epidemiologia tem sido cada velmente mais amplos e complexos, crian-
vez mais o estudo de problemas de saúde indi- do problemas consideráveis com respeito à
vidual (sobretudo doenças e riscos) em popu- disponibilidade de dados e de métodos ana-
lações”. A pesquisa epidemiológica tem se de- líticos apropriados. Portanto, além de nem
dicado mais a responder “Por que adocem os toda epidemiologia poder ser denominada
indivíduos?”, ao invés de, “por que as popula- de social, ainda haveria que distinguir entre
ções têm determinado perfil de saúde?” ou “por diferentes epidemiologias sociais.
que determinados problemas são predomi-
nantes em determinadas populações?” A Eco-epidemiologia de Susser
A renovação do interesse pelas explica-
ções sociais do processo saúde-doença vai A ascensão da mortalidade por doenças
se dar na segunda metade do século XX sob crônicas na segunda metade do século XX
a influência das transformações sociais ocor- fortaleceu o paradigma do risco na pesquisa
ridas a partir dos anos 60 e caracterizadas epidemiológica. Este modelo de causalida-
pela emergência dos movimentos políticos de, freqüentemente chamado de paradigma
de luta pelos direitos civis, o fortalecimento da caixa preta, baseia-se na identificação de
da perspectiva crítica, a valorização do con- inúmeros fatores de risco nem sempre
texto sócio-cultural e político na determina- conectados adequadamente por meio de
ção dos comportamentos humanos5. uma teoria da doença, considerando-se su-

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ficiente a menção ao conceito de multi- características dos grupos que não têm cor-
causalidade. Este modelo, embora forneça respondência no nível individual, como, por
informações úteis para a saúde pública, re- exemplo, a desigualdade de renda. As variá-
força o encobrimento das relações entre saú- veis derivadas do primeiro tipo não permi-
de e sociedade, anteriormente mencionado. tem distinguir entre os efeitos composi-
Segundo Susser 8, a chamada epide- cionais (derivados da contribuição de cada
miologia moderna está “desembaraçada das indivíduo) e os efeitos contextuais (deriva-
exigências de refletir sobre as doenças dos do ambiente) 9.
inseridas em grupos sociais, comunidades e A abordagem eco-epidemiológica difere da
outras formações da estrutura social”. abordagem multicausal ao transpor o nível
Para superar as limitações desse mode- individual de compreensão do processo saú-
lo, o autor propõe um novo paradigma de- de-doença em direção ao nível populacional.
signado de eco-epidemiologia. Para conotar Exemplificando diferentes abordagens
a inclusão de sistemas interativos em níveis epidemiológicas no estudo da infecção pelo
hierárquicos distintos o autor lança mão da HIV e aids, Poundstone e colaboradores10 dis-
metáfora das “caixas chinesas”. Neste mo- tinguem essas abordagens quanto às questões
delo, cada sistema pode ser descrito em seus de investigação, concepção do risco e propos-
próprios termos e define os limites de um tas de intervenção. A abordagem multicausal
nível específico de organização. O enfoque procura responder a questões do tipo: O que
epidemiológico adequado é aquele que ana- coloca a pessoa em risco de adquirir a infec-
lisa os determinantes e desfechos em dife- ção? Que características individuais estão as-
rentes níveis de organização, levando em sociadas com o desenvolvimento e a progres-
conta a hierarquia de complexidade e as são da aids? Ambas podem ser respondidas
múltiplas interações entre e através dos di- pela “epidemiologia dos fatores de risco”. A
ferentes níveis. O nível mais externo deve abordagem eco-epidemiológica, por outro
ser o meio-ambiente físico que contém so- lado, formularia questões como: O que coloca
ciedades e populações (o terreno da epide- a população em risco de epidemia? Que ca-
miologia), indivíduos isolados, sistemas fisi- racterísticas populacionais aumentam a
ológicos, tecidos, células e moléculas. vulnerabilidade a epidemias? Para responder
O modelo ecológico representa a tenta- a perguntas como essas os determinantes so-
tiva de superação dos problemas teóricos ciais terão que ser considerados.
da multicausalidade, na medida em que bus- Do ponto de vista lógico, este modelo,
ca articular os componentes do modelo em como a teoria da multicausalidade, encon-
relações de interação recíproca, bem como tra-se no campo da lógica formal, operando
em relações estruturais, respeitando diferen- com relações de interação funcional entre
tes níveis hierárquicos de constituição do os sistemas. Embora utilize a noção de tota-
mundo material. lidade, ou seja, conceba o todo como quali-
Um aspecto importante presente nesse tativamente diferente da simples soma en-
modelo é o reconhecimento de que nem tre as partes, resultante do processo de
todos os determinantes podem ser concei- autopoiese (emergência do novo a cada ní-
tuados como atributos de nível individual. vel de organização do sistema) e caracteri-
Além das variáveis individuais devem ser zado pela complexidade, não há lugar nesse
consideradas as variáveis grupais ou ecoló- sistema de lógica para a explicação das trans-
gicas, expressas em construtos tais como formações históricas. As mudanças no pro-
desigualdade de renda, capital social ou ca- cesso serão explicadas pelas alterações
racterísticas de vizinhança. As variáveis ambientais.
grupais podem ser derivadas de valores in-
dividuais dos componentes do grupo, como A teoria do capital social
por exemplo a renda média dos moradores
em determinado bairro, ou descreverem A utilização do conceito de capital social

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em estudos epidemiológicos objetivou inici- tural, relativo à extensão e intensidade das
almente a compreensão de mecanismos pe- relações associativas na sociedade, quanto
los quais as desigualdades de renda agem um componente cognitivo, relacionado à
sobre a saúde dos indivíduos. A relação en- percepção dos indivíduos acerca do nível de
tre privação material e nível de saúde é de- confiança interpessoal, compartilhamento e
monstrada e facilmente aceita, mas o mes- reciprocidade nas relações sociais16.
mo não ocorre com a desigualdade relativa. Poundstone e colaboradores10 exempli-
A partir da indagação sobre os possíveis ficam essa abordagem através das seguintes
mecanismos mediadores entre as desigual- questões de investigação: Como os fatores
dades de renda e o estado de saúde das po- sociais influenciam o comportamento colo-
pulações residentes nos países desenvolvi- cando as pessoas em risco? Os fatores psico-
dos, vários autores identificaram na falta de sociais, tais como o suporte social, estão as-
investimentos em capital humano e nos efei- sociados à progressão da doença? Como os
tos danosos do stress, componentes impor- fatores sociais e comportamentais se relaci-
tantes da cadeia de causalidade11. onam na determinação da doença?
O conceito de capital social deriva da Apesar dos autores ressaltarem o cará-
sociologia funcionalista que concebe a or- ter coletivo do capital social, consideram que
ganização social como um sistema compos- a percepção do lugar na hierarquia social,
to por partes articuladas e em cooperação em sociedades com desigualdades marcan-
para a obtenção de um objetivo. Estas par- tes, induz a níveis declinantes de confiança e
tes correspondem aos estratos sociais que, coesão social que são traduzidos em pro-
em sociedades sadias, têm na solidariedade cessos psico-neuro-endócrinos e em com-
sua forma predominante de relação, e nas portamentos anti-sociais e nocivos para
sociedades doentes têm suas relações a saúde17.
marcadas pela anomia, isto é, por um funci- Ao combinar um conceito econômico de
onamento no qual predominam os conflitos capital com conceitos sociais como confi-
e onde emergem as desigualdades. ança e justiça, essa abordagem se torna mais
Kawachi e colaboradores demonstraram aceitável para os formuladores das políticas
a relação inversa entre medidas de capital sociais, uma vez que a consideração dos fa-
social e desigualdade de renda, bem como o tores sociais é justificada como meio para
impacto das variações no nível de confiança um fim econômico. Esse movimento, entre-
entre as pessoas sobre as taxas de mortalida- tanto, despolitiza o tema do desenvolvimen-
de após o ajuste pela taxa de pobreza, con- to social além de colocar o foco sobre com-
cluindo que o efeito da concentração de ren- portamentos individuais sem considerar o
da sobre a saúde é mediado pelo capital soci- contexto social mais amplo, podendo resul-
al12. tar em culpabilização das vítimas e interven-
A coesão social decorrente da confiança ções inefetivas ou danosas sobre os grupos
cívica entre os cidadãos, da participação ati- comunitários17.
va na vida associativa e de outras manifesta- As críticas dirigidas contra esse enfoque
ções de organização da sociedade civil, cons- ressaltam ainda que as interpretações sobre
titui o capital social existente na comunida- o processo saúde-doença deveriam come-
de e potencializa o bem-estar dos indivídu- çar pelas causas estruturais e materiais, ao
os. O conceito é eminentemente ecológico, invés de valorizar tanto as percepções da
ou seja, não é um atributo individual, mas desigualdade. Esses autores consideram que
sim uma característica do “lugar” 13. um modelo baseado na incorporação física
Um aspecto central na teoria do capital e psicosocial das influências do ambiente
social é que ela se baseia nas relações sociais material seria mais frutífero para a compre-
que se estabelecem no interior de grupos e ensão das desigualdades e mais útil como
entre grupos na sociedade14,15. O capital so- embasamento para políticas públicas do que
cial apresenta tanto um componente estru- um modelo focalizado no funcionamento

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psicológico individual e nas relações panhadas de privação material, embora re-
interpessoais18. sultem em impactos negativos sobre a saú-
de, apresentam menor intensidade do que
Perspectiva do Curso de Vida os impactos decorrentes das situações de
desvantagem material. As observações acu-
A abordagem do curso de vida baseia-se muladas parecem indicar a independência e
na suposição de que o estado de saúde de a primazia dos aspectos materiais na deter-
uma dada coorte não reflete apenas as cir- minação das doenças, sugerindo que as con-
cunstâncias de vida atual, mas incorpora tam- dições materiais podem ser variáveis de con-
bém as circunstâncias anteriores, ou seja, que fusão na associação entre fatores psicos-
a trajetória pessoal moldada pelo contexto sociais e estado de saúde.
social e pelas condições materiais de vida aca- Marmot23 também prefere adotar um
ba por determinar o estado de saúde. modelo complexo combinando aspectos
Segundo Krieger19, o estado de saúde atu- materiais e não materiais, bem como carac-
al dos indivíduos resulta das trajetórias de terísticas individuais e de contexto, na expli-
desenvolvimento pessoal ao longo do tem- cação da distribuição social das doenças. Ele
po, conformadas pela história de cada um considera que as privações materiais são
referida ao contexto social, econômico, po- extremamente importantes até um certo li-
lítico e tecnológico das sociedades onde tais miar, a partir do qual outros aspectos pas-
trajetórias se desenvolveram. sam a ter maior dominância. De qualquer
Os efeitos do curso de vida sobre a saúde modo, os determinantes contextuais exer-
podem ser desdobrados em efeitos latentes, ceriam maior determinação do que as ca-
correspondentes ao ambiente material e racterísticas individuais.
imaterial no qual decorreu a infância; efei-
tos modeladores, caracterizados pelas ex- Produção Social da Doença
periências precoces que acabam por dirigir (Laurell, Breilh, Samaja)
as trajetórias de vida individual com conse-
qüências para a saúde; e efeitos cumulati- A teoria da produção social do processo
vos, resultantes da intensidade e duração de saúde-doença filia-se ao materialismo his-
exposições nocivas ao longo da vida20. tórico e dialético utilizando modelos de ex-
Há duas vertentes de explicação no mo- plicação que explicitam os determinantes
delo do curso de vida: uma vertente materi- políticos, econômicos e sociais da distribui-
alista, que atribui às condições materiais as- ção da saúde e da doença, no interior e entre
sociadas à estrutura de classes a determina- as sociedades, identificando os aspectos pro-
ção da distribuição das doenças; e uma ver- tetores e os nocivos à saúde presentes na
tente psicossocial, que leva em conta, além organização social19.
dos aspectos materiais, a ação de aspectos A determinação social é o processo pelo
psicossociais tais como sucesso, fracasso ou qual os determinantes (fatores essenciais)
frustração, sobre os sistemas adaptativos, põem limites ou exercem pressão sobre ou-
produzindo doenças como resultado de tras dimensões da realidade, sem serem ne-
múltiplos estressores e falta de habituação21. cessariamente determinísticos. O processo
Davey-Smith e MacLeod22 consideram de produção se completa com a mediação
que a dicotomia entre explicações psicos- que os componentes das dimensões
sociais e explicações materiais é em grande subsumidas exercem sobre esses determi-
medida falsa. Segundo eles, na maioria das nantes, daí resultando a conformação de dis-
populações as desvantagens materiais estão tintos perfis epidemiológicos24.
associadas a várias exposições psicossociais O conceito nuclear nessa abordagem é o
adversas, caracterizando a situação de mi- conceito de reprodução social. Cada ciclo
séria ou exclusão social. Por outro lado, si- reprodutivo introduz necessariamente mo-
tuações de exposição ao estresse, não acom- dificações em suas condições originais, co-

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locando, lenta mas inexoravelmente, as con- cial e biológico adotando uma perspectiva
dições para sua transformação em um mo- histórica e ecológica. A autora recorre à me-
vimento dialético e histórico. O processo de táfora dos fractais para postular a existência
reprodução social, isto é, o movimento de de estruturas recursivas, repetidas e seme-
conformação, consolidação e transforma- lhantes a si mesmas em cada escala de orga-
ção das organizações sociais, é composto nização, desde o nível micro até o nível
por várias dimensões ou momentos que macro.
apenas para efeito didático podem ser sepa- Os corpos ou organismos fornecem evi-
rados. Essas dimensões compreendem um dências de como incorporam, no sentido
conjunto de processos bio-comunais, forte do termo, o mundo no qual vivem, pro-
comunais-culturais, societais e políticos. duzindo padrões de saúde, doença, incapa-
A dimensão da reprodução bio-comunal cidade e morte. Os modelos de incorpora-
é aquela referida à reprodução cotidiana das ção decorrem de arranjos societais de po-
condições necessárias para a sobrevivência der, propriedade e padrões de produção,
e a reprodução dos organismos vivos soci- distribuição e consumo (reprodução soci-
ais, isto é, a reprodução corporal e das inter- al), associados a constrangimentos e possi-
relações comunitárias que permitem a vida bilidades do corpo biológico determinados
e a sobrevivência desses corpos. pela história evolutiva da espécie, pelo con-
A dimensão comunal-cultural compreen- texto ecológico e pela história individual.
de a reprodução da autoconsciência e da con- Os modos de incorporação do social pelo
duta humana, ou seja, a produção, manuten- organismo biológico expressam a inter-re-
ção e transformação das redes simbólicas de lação cumulativa entre exposição, vulnera-
elaboração e transmissão de experiências e bilidade e resistência presentes em distintos
aprendizagem, conhecida como processo de níveis e em múltiplos domínios da realidade.
socialização primária e secundária. Nessa abordagem, os corpos são vistos
A reprodução societal refere-se à pro- como artefatos sociais e entidades políticas.
dução da vida material, da esfera econômi- O construto central – incorporação – reme-
ca e das relações sociais entre as classes, que te ao processo cotidiano de acumulação e
definem os processos de produção, distri- integração de experiências e exposições
buição e consumo da riqueza. estruturadas por diversos aspectos relativos
Finalmente, a reprodução ecológico-po- à posição social26.
lítica inclui as condições ambientais e as re- Esta perspectiva procura incorporar vá-
lações de interdependência que se estabele- rios aspectos presentes em várias teorias, fun-
cem entre as dimensões mencionadas ante- dindo-as em uma única explicação que arti-
riormente25. cule os aspectos biológicos e sociais, a histó-
Nessa teoria também se podem identifi- ria de vida, os efeitos contextuais do ambien-
car duas vertentes principais: o estudo dos te, a reprodução social e a dimensão política.
processos de reprodução social através das Da eco-epidemiologia proposta por Susser, a
estruturas de classe, que apresentam várias autora retém a idéia força da organização da
dificuldades de operacionalização, e o estu- realidade em diferentes dimensões e dos pro-
do da reprodução social a partir do conceito cessos de determinação e mediação entre elas.
de espaço socialmente construído ou dos Da perspectiva do curso de vida, a autora
estudos de vizinhança, que vêm sendo cada aproveita a concepção de história ou trajetó-
vez mais utilizados nos estudos de desigual- ria de vida determinada pelas condições
dade social em saúde. societais. Da teoria da produção social, ela
incorpora o conceito de reprodução social e
A teoria ecossocial a dimensão política. Além dessas fusões e
resignificações, a autora busca articular nos
A teoria ecossocial, proposta por Nancy próprios organismos vivos a dimensão bioló-
Krieger19, procura articular o raciocínio so- gica e a dimensão social.

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Esta abordagem tem sido utilizada prin- cionais, e a maioria das relações são contin-
cipalmente em estudos epidemiológicos das gentes, ou seja, não são nem necessárias nem
questões de gênero e etnia. Os impactos das suficientes em si mesmas.
desigualdades de gênero nas sociedades Outro desdobramento teórico relaciona-
modernas, bem como os problemas decor- do com a forma de fragmentação da reali-
rentes do racismo e da discriminação de gru- dade tem a ver com o conceito de totalida-
pos étnicos minoritários, têm sido estuda- de. A maioria dos enfoques da complexida-
dos a partir dessa abordagem. de presssupõe a idéia de uma realidade or-
ganizada hierarquicamente em diferentes
Dilemas e desafios da dimensões. Entretanto, algumas abordagens
Epidemiologia Social substituem esse conceito pela noção de um
todo compostos por partes isoláveis e
Há um conjunto de questões teóricas, decomponíveis, possibilitando assim a iden-
metodológicas e de técnicas de análise que tificação da ação específica de cada variável
cercam o empreendimento científico da sobre o desfecho estudado.
epidemiologia social. Dentre as questões te- Kaufaman e Cooper27 chamam a atenção
óricas duas apresentam maior relevância. A para impropriedade desse tipo de enfoque.
primeira refere-se ao abandono ou não da Os autores indagam sobre o sentido de se usar
visão causalista. Grande parte dos esforços qualquer variável social, como por exemplo
despendidos pelas chamadas vertentes de a renda, como variável independente. Segun-
explicação psicossocial decorrem da persis- do eles, no mundo real não é possível isolar
tência do conceito de causa em algumas das um aspecto e manter os demais constantes,
abordagens mencionadas. conforme fazem os epidemiologistas com
Qual é a diferença entre o conceito de seus modelos multivariados. As variáveis
causa e o conceito de determinação social? socioeconômicas variam e interagem segun-
O conceito de causa, na versão uni ou do modelos estruturados que refletem a or-
multicausal, necessita da identificação de ganização social. Pessoas com determinada
eventos independentes relacionados através renda não são alocadas aleatoriamente em
de uma ligação unidirecional, necessária, determinadas posições sociais, mas chegam
específica e capaz de gerar o desfecho de a elas através de trajetórias dinâmicas de vida
interesse. Tais características são raramente moldadas pelo contexto no qual vivem.
observadas nos processos biológicos e soci- Ainda no plano teórico há desafios rela-
ais. A busca por mecanismos de causalida- cionados com o trânsito necessário entre
de, assemelhados aos fisiopatológicos e ten- diferentes disciplinas para aprofundar a
do como causa um fator social está fadada compreensão de processos complexos e
ao fracasso, uma vez que os aspectos da vida com a superação da visão essencialista ou
social não podem ser dissociados sob pena reificada das relações entre determinantes
de perderem sua significação, e de não faze- sociais e saúde, presentes em muitas das
rem sentido quando isolados do contexto abordagens materialistas2.
da sua produção. Do ponto de vista metodológico, os prin-
O conceito de determinação é mais ade- cipais desafios para a epidemiologia social
quado para a compreensão de processos estão na realização de estudos populacionais
sociais complexos, pois não necessita do iso- que permitam considerar de maneira apro-
lamento completo das variáveis nem da no- priada os efeitos contextuais e os efeitos
ção de independência entre elas. Tampouco composicionais. Este desafio principal tem
está baseado na idéia de um vínculo neces- desdobramentos tanto para a definição de
sário, genético e específico. Na perspectiva desenhos apropriados de investigação quan-
das diferentes variedades de determinação to para o nível de ancoragem desses estu-
existentes no mundo material, os limites nem dos, seja na dimensão coletiva, seja na di-
sempre são claros, não há vínculos unidire- mensão individual.

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Outro desafio metodológico importante ticos e outros cientistas, nem sempre fáceis
diz respeito à mensuração adequada dos as- de obter.
pectos sociais. Quais são os conceitos e ins- Apesar de todas as dificuldades aponta-
trumentos corretos para a avaliação exata e das, o compromisso histórico da epidemio-
precisa dos determinantes sociais? Em que logia com a melhoria da saúde das popula-
medida é possível seguir usando as mesmas ções e com a redução das desigualdades so-
ferramentas utilizadas pela “epidemiologia ciais obriga todos os epidemiologistas, que
dos fatores de risco” sem infringir os pres- se reconhecem como atores na arena da saú-
supostos teóricos das abordagens da epide- de coletiva, a prosseguirem no desenvolvi-
miologia social? mento de novas teorias, novas estratégias de
As técnicas de análise disponíveis tam- investigação e novas ferramentas de análise
bém parecem insuficientes para a aborda- que possam, cada vez mais, fornecer ele-
gem correta desses problemas complexos e mentos corretos para orientar as interven-
das interações entre as várias dimensões a ções sociais no campo de saúde e a formula-
serem consideradas. Alguns recursos que ção de políticas públicas baseadas no reco-
aparentemente poderiam fornecer estraté- nhecimento dos direitos de cidadania, na ga-
gias mais adequadas de análise implicam em rantia das liberdades democráticas e na bus-
aprofundamento na formação de epidemio- ca da felicidade humana.
logistas ou maior cooperação com matemá-

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recebido em: 09/11/04


versão final reapresentada em: 25/02/05
aprovado em: 28/02/05

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