Você está na página 1de 21

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA

___ª VARA CÍVEL DA COMARCA _________________________. - (Conforme


art. 319, I, NCPC e organização judiciária da UF)

NOME COMPLETO DA PARTE AUTORA, nacionalidade, estado civil (ou a


existência de união estável), profissão,portadora da cédula de Identidade nº
_______________, inscrita no CPF/MF sob o nº _______________, endereço
eletrônico, residente e domiciliada na _______________, por seus advogados in
fine assinados conforme procuração anexada, com endereço profissional
(completo), para fins do art. 106, I, do Novo Código de Processo Civil, vem, mui
respeitosamente a V.Exa., propor a presente:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS

pelo rito comum, contra a _______________, pessoa jurídica de direito privado,


estabelecida na Rua ________________, endereço eletrônico, inscrita no CPNJ
sob o nº ____________, pelos fundamentos de fato e de direitos a seguir
aduzidos:
1 - Dos fatos.

Em razão da comemoração do aniversário de seu tio que foi no dia


01/11/2014, a demandante juntamente com alguns familiares, adquiriu viagem aos
Estados Unidos da América, onde conheceram a Disney, em Orlando na Flórida.

Referido voo adquirido partiu da cidade de Recife-PE no dia 01/11/2014


e seguiu direto para Miami - Estados Unidos, onde fez escala para posterior chegada
em Orlando, o que ocorreu sem que houvesse qualquer contratempo.

No que diz respeito ao retorno para o Brasil, país de origem, o voo


adquirido tinha data marcada para 14/11/2014, com saída do aeroporto de Orlando às
21:45hs, com escala em Miami e chegada em Recife/PE no dia seguinte logo pela
manhã.

Nesse sentido, no dia 14/11/2014, tendo em vista que seu voo para
Miami sairia às 21:45hs, a Autora e as outras 4 (quatro) pessoas de sua família, todos
muito cautelosos, chegaram ao aeroporto de Orlando com mais de 2 (duas) horas de
antecedência, e viajaram para Miami, onde fariam conexão para o Brasil.

Ao chegar em Miami, a autora aguardou no portão de embarque


designado o voo para o Brasil, que deveria sair no mesmo dia 14/11/2014 às 23:55hs.

Todavia, 1:00hs da manhã, já muito cansada e exausta da correria da


viagem, a autora foi repentinamente surpreendida com a absurda notícia de que seu voo
estaria ATRASADO e só iria sair de Miami com destino ao Brasil no dia 15/11/2014 às
11:00hs da manha, ou seja, com quase 12 horas de atraso!!!!
Tal inaceitável notícia deixou a autora e sua família em estado de choque.

Evidente, portanto, todo o constrangimento, humilhação, vergonha,


chateação, e demais sensações amargas vividas pela autora, que teve seu voo
ATRASADO POR MAIS DE 11:00 HORAS!!!!!

Deve ser salientado que mais absurdo ainda o fato da empresa


requerida NÃO TER DADO NENHUMA JUSTIFICATIVA PLAUSÍVEL para o
atraso tão longo!!!

Após a notícia que deixou a autora extremamente irritada, esta foi


orientada a procurar o balcão da empresa demandada, e pegar informações a respeito de
acomodação e alimentação, já que estaria há horas aguardando pelo embarque o que não
aconteceu, conforme já mencionado.

Ao chegar no balcão da empresa demandada, a autora foi novamente


surpreendida, pois se deparou com uma fila enorme, já que apenas uma única
funcionaria estaria fazendo o atendimento.

Além disso deve ser mencionado que embora a autora ser menor de
idade, além de estar acompanhada de sua avó (maior de 60 anos), ainda assim não teve
preferencia de atendimento, tendo ficado horas e horas aguardando pelo atendimento,
mesmo tendo solicitado a preferencia a atendente da Empresa Ré.
Ora Excelência!!! Não restam dúvidas que a Autora viveu momentos de
extremo estresse e desgaste emocional, já que não estava tendo a devida atenção e
respeito merecida!!!!!

Assim a viagem de volta ao Brasil se tornou uma verdadeira tragédia na


vida da autora e sua família!

Ato contínuo, por volta das 02:30 hs da madrugada, a autora recebeu


vouchers individualizados de alimentação ( referente ao jantar do dia 14/11/2014) e café
da manhã do dia 15/11/2014, além do hotel onde passaria o resto da noite.

Deve ser observado que embora tenha recebido voucher para jantar, já
eram 02:30hs da manhã, e a autora estava sem comer nada, já que deveria ter
embarcado desde às 23:55hs, ou seja, passado 2 horas e 35 minutos do horário do voo
para que a Autora finalmente tivesse recebido a sua alimentação e hospedagem.

Ademais, ainda sem acreditar no que estaria acontecendo, as humilhações


não cessaram por ai, já que a autora embora tenha questionado, teve que se contentar
com apenas um único voucher para dormir com sua família de cinco pessoas, tendo
recebido a informação que o quarto teria duas camas de casal, devendo a criança se
acomodar entre o casal em uma das camas, o que aumentou ainda mais a indignação da
demandante, mas, em virtude do adiantar da hora e do cansaço aceitou o fato.

Dessa forma, a Autora precisou andar por dentro do aeroporto de Miami,


um dos maiores do Estados Unidos, já que a essa hora da madrugada o sky-train não
estava mais funcionado, para ai sim conseguir chegar até o guichê da empresa aérea ré.
Acontece que ao chegar no Hotel foi surpreendido com a informação de
que somente teria APENAS UMA ÚNICA CAMA NO QUARTO PARA
ACOMODAÇÃO DE TODA SUA FAMÍLIA!!!

Nesse momento a autora tentou entrar em contato com a empresa


demandada visando a disponibilidade de mais um voucher de hotel, já que não seria
possível dormir 5 (cinco) pessoas em uma única cama, o que não foi possível em razão
de não ter mais nenhum funcionário trabalhando naquele momento, deixando a
demandante totalmente desamparada.

Além de todo o já exposto, o atraso no referido voo alvo da presente


demanda causou um outro enorme prejuízo à autora, já que sua bagagem havia sido
despachada e não poderia ter acesso as mesma.

Ocorre que dentro de sua mala estavam todos seus objetos pessoal e de
higiene.

Assim, em razão de todos os transtornos ocasionados pelo atraso de mais


de 11:00 horas, a autora se viu desesperado, pois precisaria tomar seu medicamento, e
não haveria como, já que foi impedida a ter acesso a sua bagagem e demais pertences
pessoais.

Além disso, precisou a autora e seus familiares dormir com a mesma


roupa do corpo que já haviam passado todo o dia.
Ora Douto Julgador!!! Não restam dúvidas acerca dos inúmeros ilícitos
contra a autora praticados.

Inconformada nas condições em que foi submetida, às 03:18hs a autora


foi jantar com sua família na Subway, já que o valor do voucher alimentação não seria
suficiente para pagar um jantar decente.

Ocorre que nessa altura, a filha da autora de apenas três anos já não
parava de chorar, por fome, sono e irritação, devidos aos desgastes que se viu
submetida, pedindo desesperadamente para ir ao hotel dormir, conforme se observa na
foto em anexo!!!

Ato contínuo, após as péssimas horas de sono, por volta das 10:00 hs da
manhã do dia 15/11/2014, a autora foi para o aeroporto onde finalmente embarcaria para
o Brasil, tendo entrado na aeronave por volta das 10:30hs.

Acontece que entre 11:30hs e 12:00hs o voo ainda não havia saído,
momento em que receberam a notícia de que mais uma vez o voo iria atrasar em virtude
de problemas técnicos, tendo saído apenas no final da tarde desse mesmo dia, sofrendo
mais 4 (quatro) horas de atraso, somando um total de MAIS DE QUINZE HORAS DE
ATRASO!!!!

Pasme Excelência!!! Pois mesmo após 12 horas de atraso, a autora


quando pensa que finalmente conseguiria retornar ao Brasil, recebe a notícia de NOVA
falha mecânica na aeronave e por isso precisaria aguardar por mais VÁRIAS horas????
Neste sentido é de se esclarecer que a aeronave somente decolou rumo ao
seu destino, PASME, aproximadamente as 15h!!!

Deve ser salientado ainda que a autora estava praticamente sem dormir,
já que se viu amontoada com as demais pessoas de sua família em uma única cama de
casal, além de ter se alimentado muitíssimo mal.

Observe Douto Julgador, os desgastes emocionais e físicos que a autora


se viu submetida, já que nem tão pouco estava tomando seus remédio controlados!!!

Evidente, portanto, os prejuízos materiais e morais vividos pela autora,


além da imensurável humilhação que sofreu ao ser surpreendida com a notícia de que
não viajaria, sem nenhuma razão lógica, coerente e no mínimo plausível quando do
atraso de doze horas do voo!!!

Necessário se faz lembrar ainda que, com a segunda pane da aeronave, a


sensação de insegurança e medo tomou conta de todos os passageiros (incluindo a
autora e sua família) já que não tinham certeza se o avião estava apto para voar com
segurança, já que em menos de 24 horas havia quebrado por duas vezes.

Ocorre que a American Air Lines descumpriu exigências da ANAC


para atrasos e cancelamentos de voo, além de ter submetido sua cliente, ora autora, a
situação extremamente vexatória e humilhante, tendo inclusive, cometido evidente
DESRESPEITO para com seus clientes.
Não restam dúvidas, portanto, acerca da necessidade da reparação pelos
danos sofridos, como a seguir se fundamenta.

2 - Do Dano Moral.

PLÁCIDO E SILVA, ao definir dano moral, em sua obra Vocabulário Jurídico,


nos ensina que:

"Assim se diz da ofensa ou violação que não vem ferir os bens patrimoniais,
propriamente ditos, de uma pessoa, mas os seus bens de ordem moral, tais sejam os que
se referem à sua liberdade, à sua honra, à sua pessoa ou à sua família".

Não resta duvida que o Autor teve atingida a sua honra e imagem, que
são protegidos pela Constituição Federal em seu art. 5º, inciso X, que dispõe:

"São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a


imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo
dano material ou moral decorrente da sua violação".

O grande doutrinador pátrio José de Aguiar Dias, em sua obra "Da


Responsabilidade Civil", 9ª Edição, Rio de Janeiro, Forense, 1994, v. 2, faz o seguinte
comentário sobre dano moral:

"Não é o dinheiro nem coisa comercialmente reduzida a


dinheiro, mas a dor, o espanto, a emoção, a vergonha, a injúria
física ou moral, em geral uma dolorosa sensação experimentada
pela pessoa, atribuída à palavra dor o mais largo significado".
Finalmente, a Jurisprudência Pátria, posiciona-se no sentido de que:

"Qualquer agressão à dignidade pessoal lesiona a honra,


constitui dano moral e é por isso indenizável. Valores como a
liberdade, a inteligência, o trabalho, a honestidade, o caráter e
tantos outros com sele de perenidade, aceitos pelo homem
comum, formam a realidade axiológica a que todos estamos
sujeitos. Ofensa a tais postulados exige compensação
indenizatória".(TJSC, 2ª Câm. Cív., AC 40.541, Rel. Des. Xavier
Vieira, j. 19.10.1993, Dano Moral - Série Jurisprudência,
adcoas, Rio de janeiro, 1995, p. 156).

Com efeito, o caput do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor


estabelece responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços pelos danos causados
aos consumidores, ou seja, os prestadores de serviços respondem pelo dano
independentemente de culpa, in verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
fruição e riscos.

Aplica-se ao caso a teoria da responsabilidade objetiva, que leva em


conta o dano, em detrimento do dolo ou da culpa. Vale dizer, para a configuração do
dever de indenizar é suficiente a existência do dano e do nexo de causalidade, não sendo
necessária a comprovação da culpa do agente. Mesmo antes do Código de Defesa do
Consumidor e do novo Código Civil, a jurisprudência já vinha prestigiando a teoria
objetiva ou teoria de risco, como se infere da lição de Sílvio Salvo Venosa:

“Com isso, a jurisprudência, atendendo a necessidades


prementes da vida social, ampliou o conceito de culpa. Daí
ganhar espaço o conceito de responsabilidade sem culpa. No
final do século XIX, surgem as primeiras manifestações
ordenadas da teoria objetiva ou teoria do risco. Sobre esse
prisma, quem, com sua atividade, cria risco deve suportar o
prejuízo que sua conduta acarreta, ainda porque essa atividade
de risco lhe proporciona um benefício.” (in Direito Civil –
Responsabilidade Civil, vol IV, 3ª Edição, Editora Atlas S.A.,
2003, pág17).

Assim, resta demonstrado o dever do réu indenizar a Autora pelos danos


causados.

Por sua vez, a respeito da natureza e do fundamento da indenização por


dano moral, é oportuna a lição de Caio Mário da Silva Pereira:

“O fundamento da reparabilidade pelo dano moral está em que,


a par do patrimônio em sentido técnico, o indivíduo é titular de
direitos integrantes de sua personalidade,não podendo
conformar-se a ordem jurídica em que sejam impunemente
atingidos. Colocando a questão em termos de maior amplitude,
Savatier oferecer uma definição de dano moral como “qualquer
sofrimento humano que não é causado por uma perda
pecuniária”. (...) O ponto de partida para a sustentação do
ressarcimento do dano moral está na distinção do que seja o
prejuízo, no caso do dano material e do dano moral.A
dificuldade de se avaliar, responde De Page, “não apaga a
realidade do dano, e por conseguinte não dispensa a obrigação
de repará-lo”(Traité Élémentaire, vol. II, nº 915-bis).
(...)
Quando se cuida de dano moral, o fulcro do conceito
ressarcitório acha-se deslocado para a convergência de duas
forças: “caráter punitivo” para que o causador do dano, pelo
fato da condenação, se veja castigado pela ofensa que praticou;
e o“caráter compensatório” para a vítima, que receberá uma
soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal
sofrido.(in Responsabilidade Civil de Acordo com a Constituição
de 1998, editora Forense, págs. 54/55).”

Por fim, cumpre ressaltar que o objetivo da Autora na presente ação não
é apenas a reparação econômica, como também de fundo moral. A presente ação visa,
também, produzir um efeito educativo ou pedagógico para que se evite a ocorrência dos
atos lesivos praticados pela Ré. Discorrendo sobre o caráter punitivo derivado da
efetiva reparação devida a título de dano moral, é oportuna a lição de Humberto
Theodoro Júnior, transcrevendo decisão do 2º Tribunal de Alçada Cível de São Paulo:

“A reparação do dano moral tem natureza também punitiva,


aflitiva para o ofensor, com o que tem a importante função,
entre outros feitos, de evitar que se repitam situações
semelhantes. A teoria do valor de desestímulo na teoria dos
danos morais insere-se na missão preventiva da sanção civil,
que ofende não só o interesse privado da vítima, mas também
visa a devolução do equilíbrio às relações privadas,
realizando-se assim, a função inibidora da teoria da
responsabilidade civil.” (2º Tribunal de Alçada Cível de São
Apulo, 2ª Turma, Apelação nº 477.907-00/3, Rel. Juiz Renato
Sartorelli, julgado de 24.03.97, apud Humberto Theodoro
Júnior, Dano Moral, Editora Oliveira Mendes, 1ª ed., 1998,
pág. 142).

A falha na prestação de serviço é indiscutível, sendo evidente que a


reiterada prática de violação ao contrato e aos direitos da Autora caracteriza o abuso de
direito pelo Réu e viola a sua dignidade humanda diante de sua impotência face a
Demandada.

O tratamento dispensado pela companhia aérea Ré aos cosumidores


são vexatórios, vergonhosos e constrangedores.

A Constituição Federal de 1.988, no artigo 5º, incisos V e X, prevê a


proteção ao patrimônio moral, in verbis:

“V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem”;
(…)
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação.”

E no caso sob exame, evidente está a caracterização do dano moral


sofrido pela Autora, na medida em que sofreu demasiadamente com sua absurda
impossibilidade de viajar e realocação em voo com saída, se vendo obrigada a aguardar
por mais de quinze horas pela realocação em outro voo, além de ter sido obrigada a
dormir com toda sua família em uma única cama na madrugada do dia 15/11/2014, além
de ter sofrido tremenda irritação, constrangimento e humilhação ao se ver “jogada”
dentro do aeroporto com sua filha prima três anos, sua avó com mais de sessenta anos, a
impossibilidade de ter acesso a sua mala, roupas e remédios, má alimentação e etc.

Neste sentido, o ato abusivo da Ré constitui-se em um ato ilegal que deve


ser indenizado.

A prática ilegal autoriza a indenização por danos morais, com base no


que preceitua o art. 186 do Código Civil:

“Art.186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência, ou imprudência, violar direito e causar prejuízo a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

A jurisprudência do nosso Tribunal confirma necessidade da reparação


dos danos morais sofridos em casos como o presente:

RECURSO INOMINADO. PRELIMINAR ILEGITIMIDA


PASSIVA. REJEITADA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. TRANSPORTE AÉREO. ATRASO DE
VOO. PERDA DE CONEXÃO. CHEGADA AO DESTINO
COM MAIS DE 10 (DEZ) HORAS DE ATRASO. AUTORA
ACOMPANHANDA DE FILHO (TRÊS ANOS). FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. DANO MORAL CARACTERIZADO.
SENTENÇA REFORMADA PARA MAJORAR A
INDENIZAÇÃO PARA R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS)
ANTE AS PECULIARIDADES DO CASO. RECURSOS
CONHECIDOS. RECURSO PROVIDO PARA A AUTORA
RENATA FRANCO SILVEIRA MALUF ; RECURSO
IMPROVIDO PARA AS RECORRENTES GOL LINHAS
AEREAS INTELIGENTES S A. E VRG LINHAS AÉREAS
LTDA. (Recurso Inominado Nº 201100800981, Turma
Recursal do Estado de Sergipe, Tribunal de Justiça do Estado
de Sergipe, Diógenes Barreto, RELATOR, Julgado em
08/09/2011)

Nesse sentido, o art. 6º do CDC, VI, dispõe que constitui direito básico
do consumidor:

“a efetiva prevenção e reparação de danos


patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos”.

Nessa diretriz, oportuno lembrar o ensinamento de Roberto Rugiero,


citado no voto proferido do RE n° 109.233 (MA) – STF que vem assim ementado:
“Para ser dano moral basta perturbação feita pelo ato ilícito nas relações psíquicas,
na tranqüilidade, nos sentidos, nos afetos de uma pessoa para produzir diminuição no
gozo no respectivo direito”.

Diz a doutrina – e confirma a jurisprudência do Superior Tribunal de


Justiça (STJ) – que a responsabilização civil exige a existência do dano. O dever de
indenizar existe na medida da extensão do dano, que deve ser certo (possível, real,
aferível).
Pronunciando-se sobre os casos de atrasos e cancelamentos de voos, o
STJ pacificou a existencia do Dano Moral Presumido, inclusive nos casos em que o
passageiro não pode viajar no horário programado por causa de overbooking. A
responsabilidade é do causador, pelo desconforto, aflição e transtornos causados ao
passageiro que arcou com o pagamentos daquele serviço, prestado de forma defeituosa.

Em 2009, ao analisar um caso de atraso de voo internacional, a Quarta


Turma reafirmou o entendimento de que “o dano moral decorrente de atraso de voo
prescinde de prova, sendo que a responsabilidade de seu causador opera-se in re ipsa”
(REsp 299.532).

O transportador responde pelo atraso de voo internacional, tanto pelo


Código de Defesa do Consumidor como pela Convenção de Varsóvia, que unifica as
regras sobre o transporte aéreo internacional e enuncia: “Responde o transportador pelo
dano proveniente do atraso, no transporte aéreo de viajantes, bagagens ou mercadorias.”

Dessa forma, “o dano existe e deve ser reparado. O descumprimento dos


horários, por horas a fio, significa serviço prestado de modo imperfeito que enseja
reparação”, finalizou o relator, o então desembargador convocado Honildo Amaral.

O ministro relator, Paulo de Tarso Sanseverino, enfatizou que “o dano


moral decorre da demora ou dos transtornos suportados pelo passageiro e da negligência
da empresa, pelo que não viola a lei o julgado que defere a indenização para a cobertura
de tais danos” (Ag 1.410.645).
Os julgados precedentes, inseridos nos inúmeros acórdãos das diversas
Turmas do Colendo STJ espelham o pacífico entendimento a respeito da matéria, quais
mostram-se abaixo transcritos:

RECURSO ESPECIAL Nº 299.532 - SP (2001⁄0003427-6),


RELATOR: MINISTRO HONILDO AMARAL DE MELLO
CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ⁄AP).
Data Julgamento: 27/10/2099 – 4ª Turma STJ. EMENDA:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE
CIVIL. ATRASO DE VÔO INTERNACIONAL -
APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
EM DETRIMENTO DAS REGRAS DA CONVENÇÃO DE
VARSÓVIA. DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO
DANO. CONDENAÇÃO EM FRANCO POINCARÉ -
CONVERSÃO PARA DES - POSSIBILIDADE - RECURSO
PROVIDO EM PARTE. 1 - A responsabilidade civil por atraso
de vôo internacional deve ser apurada a luz do Código de Defesa
do Consumidor, não se restringindo as situações descritas na
Convenção de Varsóvia, eis que aquele, traz em seu bojo a
orientação constitucional de que o dano moral é amplamente
indenizável. 2. O dano moral decorrente de atraso de vôo,
prescinde de prova, sendo que a responsabilidade de seu
causador opera-se , in re ipsa, por força do simples fato da sua
violação em virtude do desconforto, da aflição e dos transtornos
suportados pelo passageiro. 3 - Não obstante o texto
Constitucional assegurar indenização por dano moral sem
restrições quantitativas e do Código de Defesa do Consumidor
garantir a indenização plena dos danos causados pelo mau
funcionamento dos serviços em relação ao consumo, o pedido
da parte autora limita a indenização ao equivalente a 5.000
francos poincaré, cujos precedentes desta Egrégia Corte
determinam a sua conversão para 332 DES (Direito Especial de
Saque).4 - Recurso Especial conhecido e parcialmente provido.

RECURSO ESPECIAL Nº 503.043 - RJ (2002⁄0175997-0).


RELATOR: MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES
DIREITO. Data do Julgamento: 02/09/2003 – 3ª Turma STJ.
EMENTA: Reparação de dano moral. Cancelamento de vôo do
exterior para o Brasil. Incidência do Código de Defesa do
Consumidor. Precedentes da Corte. 1. Tratando-se de
cancelamento de vôo, incide o Código de Defesa do
Consumidor para o fim de receber o valor correspondente ao
dano moral.2. Recurso especial conhecido e provido.
RECURSO ESPECIAL Nº 265.173 - SP (2000⁄0064259-2).
RELATOR: MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR.
Data do Julgamento: 19/12/2002 – 4ª Turma STJ. EMENTA:
CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ATRASO DE VÔO.
DANO MORAL. CDC. VALOR. FRANCOS-POINCARÉ.
CONVERSÃO EM DES (332). DECRETO N. 97.505⁄89. I.
Após o advento do Código de Defesa do Consumidor, as
hipóteses de indenização por atraso de vôo não se restringem às
situações elencadas na Convenção de Varsóvia, o que, de outro
lado, não impede a adoção de parâmetros indenizatórios nela ou
em diplomas assemelhados estabelecidos. II. Inobstante a infra-
estrutura dos modernos aeroportos ou a disponibilização de
hotéis e transporte adequados, tal não se revela suficiente para
elidir o dano moral quando o atraso no vôo se configura
excessivo, a gerar pesado desconforto e aflição ao passageiro,
extrapolando a situação de mera vicissitude ou contratempo,
estes plenamente suportáveis. III. Ressarcimento fixado no
equivalente a 332 DES (antigos 5.000 francos poincaré), em
consonância com a conversão prevista na tabela anexa ao
Decreto n. 97.505⁄89, valor compatível com a situação fática
descrita pelas instâncias ordinárias. IV. Recurso especial
conhecido em parte e parcialmente provido, para a explicitação
da proporção da conversão a Direitos Especiais de Saque.

Assim, levando-se em conta a existência do demonstrado nexo de


causalidade entre a conduta do agente e o dano experimentado pela vítima, ora
requerente, os dispositivos constitucionais e legais invocados e o inevitável dever de
acatamento ao princípio da segurança jurídica, é de se impor a devida e reclamada
condenação com arbitramento de indenização em favor da requerente.

Além disso, segue abaixo decisão recente proferida pela juíza da 15ª
Vara Cível da Comarca de Recife/PE, no processo de nº 0002166-32.2015.8.17.0001 ,
vejamos:

“Sentenca Nº: 2015/00164 Processo Nº: 0002166-


32.2015.8.17.0001 Natureza da Acao: Procedimento Sumario
Autor: DIOGO HENRIQUE FEIJO FIALHO Advogado:
PE025616 - Higinio Luiz Araujo Marinsalta Advogado:
PE035523 - BARBARA CAROLINE PONDACO Reu:
AMERICAN AIRLINES INC Advogado: SP019383 - Thomas
Benes Felsberg Advogado: PE023698 - RODRIGO SALMAN
ASFORA Advogado: PE030419 - MARIA CLAUDIA
BARBOSA DINIZ Vistos, etc... (...)

Nesse contexto, e importante se debrucar na legislacao do artigo


302 do CPC que dispoe: Art. 302. Cabe tambem ao reu
manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na peticao
inicial. Presumem-se verdadeiros os fatos nao impugnados.
Desta feita, transportando a legislacao ao caso em apreco,
verifico que a parte demandada nao enfrentou de forma
especifica as alegacoes de danos materiais trazidas pelo autor na
peticao inicial. Portanto, o pedido do autor deve ser acatado na
integralidade, motivo pelo qual, vislumbro a guisa do prejuizo
suportado pelo autor, o valor de R$ 834,01 (oitocentos e trinta e
quatro reais e um centavo), a titulo de danos materiais. DECIDO
Isto posto, JULGO PROCEDENTE a pretensao autoral para
condenar o demandado ao pagamento de R$ 7.000,00 (sete mil
reais), a titulo de indenizacao por danos morais e de R$
834,01 (oitocentos e trinta e quatro reais e um centavo), a titulo
de indenizacao por danos materiais, corrigidos desde a data da
sentenca e acrescido de juros legais desde a data do evento
danoso, conforme sumula 54 do STJ. Por conseqUencia, extingo
o processo, com apreciacao meritoria, com arrimo nos termos do
inciso I, do art 269 do CPC. Condeno, ainda, a Demandada ao
pagamento das custas processuais e honorarios advocaticios na
proporcao de 20% sobre o valor da condenacao. Transitada em
julgado e cumprida a obrigacao, remetam-se os autos ao
arquivo, com as devidas cautelas. Publique-se. Registre-se.
Intime-se. Recife, 25 de Agosto de 2015. Luzicleide Maria
Muniz Vasconcelos, Juiza de Direito.”

(Grifos Nossos)

Então nos caso sob exame, evidente está a caracterização do dano moral
sofrido pela autora, na medida em que a Companhia Aérea deu causa para a negativa do
comparecimento do autor no voo, o que ocasionou a desgastes morais, físicos e
emocionais.

4 - Da Inversão do Ônus da Prova.

O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 6º, VIII, prevê a


possibilidade de se inverter o ônus da prova, “quando, a critério do juiz, for verossímil
a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências”.

Ora, no caso dos autos, inegável a possibilidade de se inverter o ônus da


prova, seja pela verossimilhança da alegação, ante os documentos apresentados, seja
pela cristalina hipossuficiência da autora em relação à demandada, o que não leva a
outra conclusão senão a necessidade da inversão do onus probandi, o que desde já se
requer.

5 - Dos Pedidos.
Diante de todos os fatos e fundamentos anteriormente dispostos,
REQUER:

I – Que seja designada AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO ou MEDIAÇÃO, conforme


previsto no art. 334 do NCPC;

II - a citação da Demandada, no endereço indicado mediante AR, para que, em


querendo, conteste a presente peça exordial, sob pena de revelia e de confissão
quanto à matéria de fato, de acordo com o art. 344 do NCPC, constando no
mandado expressamente a possibilidade de inversão do ônus de prova;

III – por fim, que se julgue procedente a presente demanda, condenando a


Demandada a indenizar a Autora em decorrência do acima narrado, em quantum
a ser arbitrado por este juízo, considerando sobretudo:

∙ A intensidade da dor moral, arbitrariedade, ilicitude do ato da ré;

∙ O poderio econômico da ré;

∙ O caráter educativo e inibitório da condenação imposta à ré, que


reclama a fixação de quantia em valor considerável, de forma a provocar
profunda reflexão e inibição quanto às novas violações a direitos de
cidadania já amplamente consagrados na CF/88.

∙ As reiteradas decisões dos Tribunais de Justiça, no sentido de coibir


arbitrariedades e ilegalidades como as cometidas pela ré.

IV - Requer, com fulcro no art. 6º, inciso VIII do Código de Defesa do


Consumidor, que seja invertido o ônus da prova, diante da clara hipossuficiência do
Consumidor e da verossimilhança das suas alegações, sobretudo no sentido de que seja
compelida a Requerida a juntar os documentos relativos aos fatos aqui alegados.

V – a condenação da Ré ao pagamento das custas judiciais e honorários


em 20% do valor da condenação.
Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, na amplitude
dos artigos 369 e seguintes do NCPC, em especial as provas: documental, pericial,
testemunhal e depoimento pessoal da parte ré.

Dá-se a causa o valor de XXXXXXXXXXX, para efeitos meramente


fiscais.

Termos em que

Pede deferimento.

Cidade, data

Advogado, OAB

Você também pode gostar