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APOSTILA DE HISTÓRIA (isto é, na formação das mentalidades e das opiniões) sobre

toda a sociedade.
Os trabalhadores (ou laboratores, palavra latina com
Idade Média - Feudalismo esse significado) compunham uma ordem heterogênea. Esse
grupo era composto, basicamente, da população camponesa,
Organização política, social e econômica que realizava os trabalhos necessários à subsistência da
sociedade. A maior parte dos camponeses trabalhava na
A palavra feudo deriva do germânico fehu (gado), condição de servo, o que implicava uma série de restrições à
significando um “bem oferecido em troca de algo”. Os feudos liberdade. Os servos recebiam do senhor o chamado manso
podiam ser não apenas uma extensão de terras, mas também servil (lotes de terra para o cultivo), do qual retiravam sua
um castelo, uma quantia em dinheiro ou outros direitos. subsistência. No entanto, os servos eram obrigados a pagar
taxas ao senhor e “trabalhavam ainda em lugares e tarefas
Características gerais indicados [por ele], sem qualquer tipo de remuneração. Em
O processo de formação do feudalismo não foi o mesmo contrapartida, tinham a posse vitalícia e hereditária de seus
em todos os lugares da Europa Ocidental. No entanto, é mansos, e a proteção militar proporcionada pelo senhor”.
possível identificar algumas características comuns em várias Essa organização social, praticamente sem mobilidade
regiões, que correspondem, atualmente, a França, Alemanha, entre as ordens, era preservada pela elite do clero e da
Inglaterra e parte da Itália. São elas: nobreza em função de seus interesses.
• o enfraquecimento do poder real (ou central) e o Para justificar a divisão social em três ordens, o bispo
fortalecimento dos poderes dos senhores locais ou regionais; francês Adalberon de Laon, no século XI, escreveu:
• a existência de vínculos pessoais de obediência e
A casa de Deus que parece una é, portanto, tripla: uns
proteção entre os mais poderosos e os mais fracos;
rezam, outros combatem e outros trabalham. Todos
• o declínio das atividades comerciais urbanas e o os três formam um conjunto e não se separam: a obra
fortalecimento da vida rural; de uns permite o trabalho dos outros dois e cada qual
• o uso generalizado de trabalho servil no campo. por sua vez presta seu apoio aos outros.

Sociedade feudal Economia feudal


A sociedade feudal era comumente dividida em três Na sociedade feudal, predominava a produção agrícola e
ordens (grupos) principais: nobres, clero e servos. a pecuária, que tinha como principal unidade produtora o
senhorio (extensão de terra pertencente a um senhor feudal)
e, como forma de trabalho, a servidão. O tamanho médio de
um senhorio variava, dependendo da região, entre 200 e 250
hectares. Cada um tinha uma produção variada de cereais,
carnes, leite, manteiga, farinha, vinho, roupas, utensílios
domésticos. Alguns produtos — como o sal e os metais
utilizados na confecção de armas e instrumentos — vinham de
fora.
O senhorio era dividido em três grandes áreas:

• campos abertos (terras comunais) – bosques e pastos de


uso comum, em que os servos podiam recolher madeira,
coletar frutos silvestres e soltar animais, mas não podiam
caçar determinados animais (como cervo e javali), o que era
um direito exclusivo do senhor;
A nobreza (ou bellatores, palavra latina que significa
“guerreiros”) representava a ordem dos detentores de terra, • reservas senhoriais – terras exclusivas do senhor feudal,
que se dedicavam basicamente às atividades militares. Em cultivadas alguns dias por semana pelos servos para cumprir a
tempos de paz, as atividades favoritas da nobreza eram a caça obrigação devida ao senhor (corveia). Tudo o que era
e os torneios esportivos, que serviam de treino para a guerra. produzido nessas reservas pertencia ao senhor;
O clero (ou oratores, palavra latina que significa
“rezadores”) representava a ordem dos membros da Igreja • mansos servis – terras utilizadas pelos servos, divididas em
Católica, destacando-se os dirigentes superiores, como bispos, lotes (as tenências), das quais eles retiravam o próprio
abades e cardeais. Os dirigentes da Igreja administravam suas sustento e recursos para cumprir as obrigações devidas aos
propriedades e tinham grande influência política e ideológica senhores.
Suseranos e vassalos tinham direitos e deveres
recíprocos.
Vejamos alguns deles:
• suserano – devia proteger militarmente seus vassalos e
dar-lhes assistência jurídica. Tinha o direito de reaver o feudo
do vassalo que morresse sem deixar herdeiros, de proibir o
casamento do vassalo com pessoa que lhe fosse infiel, entre
outros;
• vassalo – devia prestar serviço militar ao suserano,
libertá-lo (caso fosse aprisionado por inimigos), comparecer
ao tribunal presidido pelo suserano toda vez que fosse
convocado, entre outras obrigações. Recebia proteção militar
do suserano.

Senhores e servos
Na relação de servidão, os servos não eram proprietários
das terras em que trabalhavam. Eles apenas as usavam, tanto
para produzir o próprio sustento como para manter as outras
duas ordens (nobreza e clero).
A relação servil também envolvia uma série de
obrigações do servo para com o senhor feudal, pagas em
forma de trabalho e de produtos. Entre elas, destacavam-se as
seguintes:
• corveia – obrigação servil de trabalhar alguns dias da
semana nas reservas senhoriais. Esse trabalho podia ser
realizado na agricultura, na criação de animais, na construção
de casas e outros edifícios ou em benfeitorias;
• talha – obrigação servil de entregar parte da produção
agrícola ou pecuária ao senhor feudal;
• banalidade – taxa devida ao senhor pela utilização de
equipamentos e instalações do senhorio (celeiros, fornos,
moinhos etc.).
A economia feudal não era exclusivamente agrária. • mão morta - Era o pagamento de uma taxa para permanecer
Também havia comércio e artesanato. Praticava- -se comércio no feudo da família servil, em caso do falecimento do pai ou
nas feiras locais, onde os camponeses costumavam trocar seus da família.
excedentes de produção por artigos produzidos no artesanato • tostão de Pedro ou dízimo - 10% da produção do servo era
urbano. pago à Igreja, utilizado para a manutenção da capela local.

Crise do feudalismo
Suseranos e vassalos A crise do feudalismo ocorreu no último período da
Durante o feudalismo, o poder político foi controlado Idade Média, denominado de Baixa Idade Média (séculos XI e
sobretudo pelos senhores feudais. Detentores de terras — dos XV).
feudos —, os senhores feudais governavam seus domínios Alguns fatores foram necessários para que o feudalismo
exercendo autoridade administrativa, judicial e militar. desaparecesse por completo, pondo fim a Idade Média e
De modo geral, intitulava-se senhor (ou suserano) o dando início a Idade Moderna.
nobre que concedia feudos a outro nobre, denominado Baseado na posse de terras (feudos), na monarquia, na
vassalo. Em troca, o vassalo devia fidelidade e prestação de centralização do poder, na autossuficiência e numa sociedade
serviços (principalmente militares) ao senhor. estamental (nobreza, clero e povo), destituída de mobilidade
Os vários núcleos de poder político — principados, social, o feudalismo foi um sistema que permaneceu até o
ducados e condados, entre outros — estavam ligados por século XIV na Europa.
laços estabelecidos entre membros da nobreza por meio da No entanto, com as mudanças de paradigmas e com
concessão de feudos. diversos acontecimentos históricos, culturais, políticos e
A transmissão do feudo era realizada em uma cerimônia sociais, o sistema feudal entrou em declínio a partir do século
solene, constituída de dois atos principais: a homenagem XI.
(juramento de fidelidade do vassalo) e a investidura (ato de
transmissão do feudo ao vassalo).
Segue abaixo as principais causas que acarretaram na
crise do sistema feudal:
 O renascimento comercial impulsionado, principalmente,
pelas Cruzadas;
 O aumento da circulação das moedas, principalmente nas
cidades. Este fator desarticulou o sistema de trocas de
mercadorias, característica principal do feudalismo;
 Desenvolvimento dos centros urbanos, provocando
o êxodo rural (saída de pessoas da zona rural em direção
às cidades). Muitos servos passaram a comprar sua
liberdade ou fugir, atraídos por oportunidades de trabalho
nos centros urbanos;
 As Cruzadas proporcionaram a volta do contato da Europa
com o Oriente, quebrando o isolamento do sistema feudal;
 O surgimento da burguesia, nova classe social que
dominava o comércio e que possuía alto poder econômico.
Esta classe social foi, aos poucos, tirando o poder dos
senhores feudais;
 Com o aumento dos impostos, proporcionados pelo
desenvolvimento comercial, os reis passaram a contratar
exércitos profissionais. Este fato desarticulou o sistema de
vassalagem, típico do feudalismo;
  Peste Negra: um dos fatores que assolaram a população
na Idade Média, foi a epidemia da peste negra (ou peste
bubônica), que matou milhões de pessoas a partir do
século XIV, ou seja, cerca de um terço da população
europeia.
Entre 1346 e 1353, a falta de higiene e de condições
favoráveis de vida foram determinantes para que a peste
atingisse grande parte da população. Assim, a diminuição da
mão de obra caiu drasticamente, revelando um pouco da crise
feudal que se iniciava.
A população vivia em condições precárias de habitação e
higiene, o que fez com que o vírus da peste, que se alojava nas
pulgas dos ratos, se proliferasse drasticamente.
Isso implicou principalmente, na maior opressão e
exploração dos poucos servos que ainda trabalhavam nos
feudos, o que deixou cada vez mais a população descontente,
levando a diversas revoltas camponesas, das quais se
destacam a Jacquerie (1358) e a Revolta Camponesa de 1381.
 No final do século XV, o feudalismo encontrava-se
desarticulado e enfraquecido. Os senhores feudais
perderam poder econômico e político. Começava a surgir
as bases de um novo sistema, o capitalismo.

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