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UMA MENTE LIVRE

“Loucura mesmo, é insistir em levar uma vida normal.”

Uma mente livre, uma mente insana, uma mente produtiva.


[...um relato sobre a visão da sociedade acerca da loucura e dos indivíduos que
não se ajustam às regras...]

Praticamente todos os grandes intelectos da nossa história possuíam certa


inquietação mental dominante e porque não dizer, avassaladora. Suas mentes
extraordinárias produziram obras inexpugnáveis enquanto suas vidas pessoais,
não raramente vertiam escândalos.
Existe uma ambigüidade inerente ao gênio, ao artista, própria das mentes
libertas. Esta mesma ambigüidade que assombra, é o “néctar dos deuses” de
nossa sociedade, donde provêm as maiores revoluções culturais e sociais. E se
por um lado a sociedade não aceita as diferenças, vivendo a arregalar seus olhos
medíocres diante do novo, por outro passa a maior parte de seu tempo a empurrar
podridões para debaixo do tapete duma letargia coletiva, que não deixa de ser
insana.
Existe uma necessidade da sociedade em manter uma pseudo-harmonia e
esta, é mantida à custa da limitação do indivíduo por normas de conduta. Os
indivíduos que se submetem, formam uma grande massa que passa
despercebida enquanto que o indivíduo que não se submete, paga seu tributo.
Pode-se fazer aqui uma lista de inconveniências, patológicas e éticas, que
pesam como um grande fardo nas costas de personalidades da nossa história.
Desfilam à nossa frente perversões, excentricidades, esquizofrenias num sem fim
de exemplos.
Oscar Wilde, considerado um dos maiores escritores do século XIX,
produziu um número reduzido de obras, morreu jovem, com apenas quarenta e
seis anos de idade e teve uma vida amorosa moralmente condenável para o seu
tempo. Coisa que talvez hoje em dia pudesse ser vista sob outro prisma. Durante
o período mais difícil de sua vida, assolado pela pobreza e por problemas com a
justiça, ousava declarar publicamente suas opiniões sobre a visão unilateral da
sociedade e pagou o preço por seu comportamento inadequado. Condenado e
isolado, terminou seus dias em total solidão. Um homem que ousou afirmar: “A
única diferença entre um simples capricho e uma paixão eterna é que o capricho
dura um pouco mais”.
Albert Einstein, o filósofo, gênio da física e da matemática, pai da teoria da
relatividade, começou a falar tardiamente, não se relacionava bem com as outras
crianças, tinha rendimento escolar baixo e teve dois matrimônios um tanto
tumultuados. Era tido como radical, tinha jeito de maluco e era visto como tal.
E finalmente apresentando uma patologia diagnosticada, a esquizofrenia,
pode-se citar John Nash, o matemático ganhador do Prêmio Nobel de 1994 e cuja
biografia baseou o filme “Uma Mente Brilhante”. Após lutar solitariamente para
vencer a esquizofrenia sem uso de medicamentos, este grande intelecto
demonstra que até mesmo as diferenças mais gritantes entre os indivíduos tidos
como normais e os insanos, podem ser vencidas. Que existe espaço para todos
os seres “pensantes” neste mundo enorme, até mesmo para os que falam
sozinhos uma boa parte do dia.
Ele decreta a receita para vencer preconceitos e diferenças em seu
discurso na cerimônia de entrega do Prêmio Nobel quando afirma: “Sempre
acreditei em números, nas equações e na lógica. Mas após uma vida de
demanda, pergunto: O que é, na verdade, lógico? Quem decide o que é racional?
A minha busca conduziu-me do físico ao metafísico, ao delírio e ao regresso. E fiz
a mais importante descoberta da minha carreira. A mais importante descoberta da
minha vida. É apenas nas misteriosas equações do Amor que alguma lógica ou
razão podem ser encontradas.”
Portanto, que o louco possa ser respeitado. E assim como ele todos
aqueles que são diferentes. Toda a sociedade necessita dos benefícios inerentes
às diferenças e para isso, necessita estabelecer mais algumas regras
indispensáveis à convivência. São elas, regras de complacência.

(escrito em 03.09.2004 – Carmem L Marcos)


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