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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ

CAMPUS APUCARANA
LETRAS / INGLÊS

DISCIPLINA: Literaturas de língua inglesa III - Drama


DOCENTE: Fernanda Tarran
DISCENTE: XXXXX

BLOOM, Harold. O universalismo de Shakespeare. In ______. Shakespeare: a


invenção do humano. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998, p. 25-43.

No capítulo O universalismo de Shakespeare, o autor Harold Bloom ressalta e


reafirma a característica de identificação universal dos personagens
shakespearianos. Para Bloom, o Bardo é o autor que melhor representou a natureza
humana em seus trabalhos, dotando seus personagens de caráter realista. Ao
mesmo tempo, criações como Hamlet e Falstaff influenciaram a sociedade de tal
forma que o ser humano não seria o mesmo se eles não tivessem existido.

Para sustentar tais afirmações (um tanto pretensiosas), Bloom cita críticos
literários diversos que atestam a singularidade de Shakespeare. Já que autores
contemporâneos ao Bardo não foram tão bem sucedidos quanto ele ao criar
personagens memoráveis, a diferença entre eles e Shakespeare, segundo Bloom, é
a genialidade do último (p. 25). Shakespeare habilmente representava em suas
peças a mudança no ser humano, provocada não apenas pelo caráter falho ou pela
corrupção, mas também pela vontade de seus personagens, dotando-os de agência
(p. 26). A diferença entre Hamlet e Falstaff e criações de outros autores é que os
primeiros possuem personalidade (p. 28).

Ao comentar como Shakespeare era capaz de criar personagens repletos de


personalidade, Bloom, citando Leeds Barroll, explica que os ideais renascentistas
enfatizavam a união do humano com o espiritual, e que o Bardo foi capaz de
perscrutar aquilo que separa o homem de seus ideais (p. 31). Dessa forma, Hamlet
está sempre dividido entre esses pólos: deveria ele matar seu tio e rei para vingar o
pai? Seria ele capaz de fazer isso? Por que ele faria isso? Um personagem comum
vingaria a morte de seu pai, entretanto Hamlet titubeia, pensa, posterga a ação,
como uma pessoa real faria.

No fim do capítulo, Bloom afirma que a genialidade de Shakespeare está na


construção de seus personagens, mas que não há como depreender de sua obra
uma “fórmula” de como ele os construiu. O crítico também menciona o grande
impacto da obra shakespeariana na língua inglesa, bem como na psicologia e
personalidade dos leitores e dos autores que o sucederam. Além disso, há uma
menção à presença do niilismo em praticamente todas as obras de Shakespeare,
inclusive as comédias. Bloom comenta que isso pode ser um indicativo da
personalidade do Bardo, mas que não há forma de pôr essa afirmação à prova.

Bloom pode estar cometendo um exagero ao afirmar que Shakespeare teria


sido o primeiro e o único a conceder traços complexos de personalidade a seus
personagens. Há muitos autores que afirmam que Édipo, de Sófocles, era um
personagem complexo – criado muitos séculos antes do nascimento de
Shakespeare. Além disso, ao anunciar categoricamente que a sociedade moderna
não seria a mesma sem Shakespeare, o autor cai no campo da especulação; é
muito difícil imaginar quais seriam as conseqüências da não existência de
determinada obra ou de determinado autor do passado. No entanto, não há dúvida
que tanto os enredos quanto os personagens de Shakespeare têm grande
complexidade, rendendo inúmeras discussões até o dia de hoje, e se mantendo
atuais – o que denota que os temas adotados pelo Bardo não tratam de questões
passageiras e mutáveis, mas, pelo contrário, tocam a natureza humana naquilo que
ela tem de mais permanente.

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