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OverlorD 10 O Governante das

Conspirações
オーバーロード Ilustrado por so-bin
Aviso Legal:
A tradução de OVERLORD — para inglês e português — é feita e revisada de fã para fã,
não monetizem em cima da obra e não compactuem com quem o faz. Se quiserem e pu-
derem contribuir com o autor, comprem o livro ou ebook (japonês, inglês ou português)
em sua livraria de preferência.

Sobre:
A obra faz uso de muitos anglicismos, ainda mais por se basear em RPGS, então há mui-
tos termos em inglês e tentei preservar vários desses aspectos em alguns termos, nomes
de armas, itens, raças e coisas do tipo.
Claro, algumas coisas precisam ser adaptadas, outras é preciso generalizar. Dito isto,
àqueles que são adeptos do Dia do Saci em vez do Halloween podem não gostar. Estejam
avisados.

Tentei remover o máximo possível de erros de português e concordância. Mas somos


apenas pessoas com boa vontade e não especialistas da língua portuguesa.
Quando encontrarem algum erro, sintam-se à vontade para entrarem em contato atra-
vés do e-mail disponível no blog :)

Créditos:
CRÉDITOS PT-BR:
ainzooalgown-br.blogspot.com
CRÉDITOS EN-US:
overlordvolume10.blogspot.com
REFERÊNCIA DE NOMES:
overlordmaruyama.wikia.com

Atenção: Se baixou este arquivo de outro link que não o oficial do blog. Ou se tem muito
tempo que baixou e deixou guardado, que tal dar uma conferida no blog? Talvez esta seja
uma versão desatualizada :)

Revisão: 6.6 | Versão: 5.5


Sumário
Prólogo .......................................................................................................................................................... 5
Capítulo 01: O Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown .................................................... 9
Parte 1 ................................................................................................................................................................................... 10
Parte 2 ................................................................................................................................................................................... 50
Parte 3 ................................................................................................................................................................................... 68
Parte 4 ................................................................................................................................................................................... 83
Capítulo 02: O Reino Re-Estize .............................................................................................. 102
Parte 1 ................................................................................................................................................................................ 103
Parte 2 ................................................................................................................................................................................ 123
Parte 3 ................................................................................................................................................................................ 132
Parte 4 ................................................................................................................................................................................ 148
Interlúdio................................................................................................................................................ 171
Capítulo 03: O Império Baharuth .......................................................................................... 190
Parte 1 ................................................................................................................................................................................ 191
Parte 2 ................................................................................................................................................................................ 196
Parte 3 ................................................................................................................................................................................ 238
Parte 4 ................................................................................................................................................................................ 288
Epílogo .................................................................................................................................................... 328
Posfácio .................................................................................................................................................. 336
Ilustrações .............................................................................................................................................. 339
Glossário ................................................................................................................................................ 359
OverlorD
オーバーロード
-Volume 10-
O Governante das Conspirações

Autor:

Maruyama Kugane
Ilustrador:

so-bin
Prólogo
lbedo entrou na sala e inflou seus pulmões de ar.

A Infelizmente, não havia nada no ar para estimular seu olfato, mas isso era
de se esperar. Afinal de contas, não apenas seu amado mestre não possuía
metabolismo, ele nem mesmo respirava, de modo que não havia cheiro que
ele pudesse deixar para trás.

Ainda assim — ela podia sentir isso em seu coração.

Depois de respirar o ar onde seu mestre esteve, ela sentiu a paz fluindo através de sua
alma.

Era isso que significava ser uma garota apaixonada.

“Ku~ fufu.”

Quando a risada suave escapou de seus lábios, Albedo pressionou a mão sobre a boca.

Não era que alguém estivesse lá, ou que seus dentes estivessem aparecendo. No entanto,
não era algo que uma dama de respeito faria.

Albedo sentou-se educadamente na cama e depois se deitou.

Ela cheirou novamente e, como esperado, não havia aroma algum. Ainda assim, o fato
de que ela poderia fazer isso enquanto estava deitada na cama de seu amado mestre a
encheu da mais sublime alegria.

Este foi um curso de ação perfeitamente razoável para uma garota apaixonada. Se hou-
vesse uma mulher que pudesse deitar na cama do homem que amava, fizesse as mesmas
coisas que Albedo fazia e ainda assim não sentisse nada ao se atrever a chamar a si
mesma de “uma garota apaixonada”, então ela certamente consideraria aquela mulher
uma que não entendia o verdadeiro amor e rapidamente eliminaria uma pessoa tão de-
sagradável sem demora.

“Haaa~”

Albedo retirou as mãos que passeavam abaixo de seu ventre. Agora não era a hora para
tais coisas.

Parece que está se tornando um hábito.

Albedo pensou enquanto se erguia.

De qualquer forma, ela tinha que terminar as tarefas do dia.

Prólogo
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Depois de fundar o Reino Feiticeiro e colocar E-Rantel sob seu domínio, a carga de tra-
balho de Albedo aumentou dramaticamente. Grande parte da razão para isso foi porque
os oficiais que deveriam administrar E-Rantel tinham fugido para o Reino, criando uma
escassez de pessoal administrativo.

O plano era usar os undeads criados pelo seu mestre para lidar com essa tarefa. No
entanto, como ainda estavam em fase de treinamento, o resultado foi que ela ficou sem
tempo e sua carga de trabalho aumentou. Além disso, havia muitas outras coisas que ela
tinha que fazer. Embora fosse provável que sua agenda ficasse livre em um futuro pró-
ximo, por hora, ela ainda estaria muito ocupada.

Obviamente, para Albedo, esses trabalhos não eram custosos. Ou melhor, não havia um
único habitante de Nazarick que sequer pensaria em trabalhar para seu mestre fosse
algo difícil. Disso, Albedo tinha absoluta certeza. Pode-se até chegar a dizer que, quanto
mais pesado o fardo fosse, mais alegre ela seria.

“Está na hora de verificar os resultados do treinamento...”

Esse treinamento havia se estendido de alguns dias a algumas semanas. Mesmo depois
de um mês, eles ainda estavam apenas meio prontos, mas ela teria que entregar as ré-
deas da administração a eles e ver como as coisas aconteceriam.

Recentemente, ela estava considerando uma visita ao Reino, para se encontrar com o
Rei. Na verdade, sua presença não era necessária, contanto que seu mestre — que trans-
bordava de sabedoria — estivesse por perto. No entanto, essas tarefas eram pouco mais
do que pequenos recados, o que não se adequava ao seu papel de governante absoluto.

Os reis tinham coisas que apenas reis precisavam fazer.

“Ainda assim, falando nisso... de onde o Ainz-sama planeja liderar o Reino Feiticeiro?”

Uma nação de verdade precisava de políticas que poderia implementar.

Uma vez decidido, eles poderiam aplicá-las em suas terras e definir a direção futura de
todo o país. Por exemplo, poderiam decidir transformar humanos em escravos e fazer
com que todo o país sirva a Nazarick. Se escolhessem esse caminho, então precisariam
aprovar leis adequadas para governar humanos como escravos. Então, partindo deste
princípio, eles precisariam considerar vários problemas, como lidar com os países hu-
manos próximos, como tratar os humanos de outros países e outros problemas relacio-
nados.

No entanto, seu mestre não foi capaz de lhe dar uma resposta clara, mesmo agora.

Em outras palavras, o Reino Feiticeiro estava se construindo sobre os alicerces da an-


tiga casa, antes chamada de Re-Estize, e estava perdendo sua liderança central ao fazê-
lo.

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Será que um país assim era o que seu mestre desejava? Ou estava ele esperando por
algo? Se fosse o último, ela só poderia se sentir envergonhada por não poder ler os pen-
samentos de seu amado mestre.

Essa foi uma das poucas vezes em que ela se sentiu incomodada com o intelecto bri-
lhante de seu mestre.

Havia muitos significados para cada movimento que seu mestre fazia, como um ser de
profundo discernimento e considerações distantes. Ela sentiu o arrependimento mais
amargo do que outros, pois não pôde compreender imediatamente o significado das
ações de seu mestre.

Até mesmo Demiurge — cujo intelecto rivalizava, ou talvez até superasse o dela — ha-
via dito no passado: “Minha sabedoria não pode nem mesmo chegar aos pés de meu mes-
tre; é verdadeiramente impossível”. Ainda assim—

“Tudo que eu preciso fazer é obedecer às decisões do Ainz-sama, independentemente


do país que ele criar.”

De todas as maneiras, Albedo seguiria fielmente seu amado marido.

“Ainda assim, queria saber o que ele faz agora...”

Mas, claro, não houve resposta ao som do murmúrio de Albedo.

Prólogo
8
Capítulo 01: O Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown

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Parte 1

Rei Feiticeiro. O governante absoluto da Grande Tumba de Nazarick e do

O
Reino Feiticeiro, Ainz Ooal Gown. Um ser que governou os 41 Seres Supre-
mos e o último deles que permaneceu em Nazarick. Naquele momento, essa
entidade que deveria estar desfrutando das atenções de seus subordinados
estava encolhida em uma cama macia, lendo um livro.

A dita cama fôra transferida da Grande Tumba de Nazarick para este lugar — para as
câmaras privadas do antigo governante de E-Rantel, o Prefeito Panasolei, o lugar fôra
parcialmente reformado e convertido nos aposentos de Ainz. Desde que se transferiu
para cá, ele não pôde mais detectar a fragrância que costumava emanar dessa mobília
que outrora estava em Nazarick.

Talvez seja porque a cama aqui não tem perfume pulverizado sobre ela.

Ainz pensou quando ele inclinou seu peso sobre a cama em questão.

É claro, dormir era completamente desnecessário para um undead como Ainz.

De fato, eram apenas os remanescentes de sua humanidade dizendo à sua mente que
ele deveria estar cansado. Era por isso que Ainz ocasionalmente fazia esse tipo de coisa,
deitar em uma cama para acalmar sua cabeça e coração exausto. No entanto, isso foi
apenas uma solução temporária. Afinal, ficar deitado muito tempo, como um ser humano
faria, era algo sem sentido algum.

Claro, sempre havia algumas exceções à regra.

Por exemplo— Enquanto ele estava lendo. Em particular, quando ele estava consciente
da maneira como os outros estavam olhando para ele enquanto lia.

Vai amanhecer logo... oh!

Um fraco raio de luz solar raiou através da abertura nas cortinas, dando a Ainz uma
idéia aproximada do horário. Com isso, ele enfiou o livro que estava lendo até agora de-
baixo do travesseiro.

Então, inclinou o crânio para olhar para um canto da sala.

Ele viu uma empregada lá.

Ela era uma das empregadas regulares de Nazarick, e ela estava responsável por Ainz
hoje — para ser mais preciso, ela o atendia desde ontem. Atualmente, ela estava elegan-

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


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temente sentada com as costas retas em uma cadeira. Entretanto, essa postura não mu-
dou desde a noite passada. Pelo que Ainz sabia, nenhuma das empregadas falhou em
manter essa posição.

Sua linha de visão estava constantemente fixa em Ainz, e evitava até mesmo o simples
ato de piscar.

Um fardo verdadeiramente indescritível.

Claro, ela certamente não pretendia exercer tamanha pressão em Ainz. Foi simples-
mente porque prestar muita atenção a ele permitiria que respondesse imediatamente a
qualquer situação que pudesse surgir. No entanto, isso fez um homem comum como Su-
zuki Satoru querer chorar e implorar “me poupe, por favor”.

Ninguém se sentiria confortável se fosse constantemente encarado assim, especial-


mente se fosse um membro do sexo oposto fazendo isso. Mesmo que nada acontecesse,
ele sentia que tivesse feito algo errado.

A coisa mais importante foi a maneira como ela silenciosamente respondia a Ainz assim
que fizesse algum movimento.

Simplificando — uma experiência verdadeiramente miserável.

Claro, Ainz era um governante absoluto. Se ele a proibisse de fazê-lo, ela pararia. No
entanto, quando ele pensou no olhar que a empregada faria se dissesse isso, ele não con-
seguiu falar as palavras que estavam prestes a sair.

Depois de vir a este mundo, Ainz rapidamente entrou em ação sob o disfarce de Momon.
Então essa foi a primeira vez que as empregadas tomaram conta dele assim. Talvez fosse
por isso que prestavam sua lealdade de forma tão inspiradora. E justamente por Ainz
saber disso que não conseguia pedir para que não fizessem desse modo.

“Além disso, elas vão se cansar disso depois de um tempo.”

Fazia um mês desde que ele pensara isso.

A idéia de que esse estado de coisas poderia continuar para sempre enchia Ainz de certo
desconforto. Como as empregadas levavam 41 dias para concluir uma única rotação de
turno, ele decidiu deixar esse assunto para o futuro, mas essa linha de pensamento era
constantemente empurrada com a barriga.

É isso que chamam de responsabilidade da liderança... administrar Nazarick, planejar o


futuro do grupo, responder aos desejos dos meus subordinados... as pessoas no topo das
coisas são admiráveis. Não admira que eles tenham salários tão altos...

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As pessoas no topo fazem tão pouco e ainda ganham mais. Agora que ele entendia o por-
quê disso, Ainz riu de sua loucura passada. Então, lentamente se levantou da cama.

Neste momento, a empregada levantou-se silenciosamente de seu assento também.


Isso o fez sentir como se houvesse uma corda conectando-os.

Como os movimentos dela podiam ser tão graciosos depois de ficar acordada durante a
noite?

“—Estou de pé.”

“Sim, mestre. Então, com sua licença, me despeço. Em alguns instantes, a empregada de
hoje virá para servi-lo.”

Ainz não disse nada como “obrigado”, mas simplesmente grunhiu “Uhun” e acenou com
a mão para indicar que ela deveria continuar.

Talvez eu esteja sendo muito arrogante.

Pensou Ainz.

Ainda assim, pode ser melhor assim.

Ele havia enviado Hamsuke para perguntar, e a primeira resposta das empregadas pa-
recia ser: “Parece que estamos sendo dominadas, Ainz-sama é o melhor” ou algo assim.
Parece que todas eram masoquistas e, embora tenha incomodado Ainz quando ouviu
pela primeira vez, depois de considerar calmamente o assunto, ele percebeu que um go-
vernante precisava agir e vestir e atuar assim. Era o que seus súditos desejariam.

Usando uma empresa como exemplo, um chefe tinha que parecer e agir como um chefe.

Quando pensou sobre isso dessa forma, Ainz sentiu que fez o que um Rei Feiticeiro de-
veria ter feito. Mas o segredo era que, em seu tempo livre, ele estava espionando o go-
vernante do Império, Jircniv Rune Farlord El-Nix, e notou que o homem se comportava
de forma bem similar.

Ainda assim, Suzuki Satoru já havia sido um assalariado, e ele se sentiu um pouco des-
confortável por não dizer algo como “Obrigado por trabalhar arduamente”.

“...Então, é melhor ir descansar um pouco.”

“Ah—! Por favor, permita que sua serva lhe ofereça os mais profundos agradecimentos
por tamanha generosidade, Ainz-sama!”

A empregada curvou-se profundamente quando expressou sua gratidão.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


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“No entanto, é graças a este item que o senhor tão gentilmente me emprestou que sua
serva pôde ficar ao seu lado para atendê-lo sem ter que descansar, Ainz-sama.”

Não, não foi isso que eu quis dizer.

Ainz murmurou em seu coração.


[Anel do S u s t e n t o ]
Era verdade que, uma vez que se colocasse o Ring of Sustenance, podia-se passar o dia
e a noite sem dormir. Ainda assim, sentar em uma cadeira e observar Ainz a noite toda
deveria ter sido uma chatice infernal. Embora estivesse muito satisfeito com sua dedica-
ção, não havia necessidade de ir tão longe.

Pelo menos elas deveriam cancelar o turno da noite... Não tem porquê me observar de
noite, é pedir demais?

Por serem empregadas, era natural que servissem fielmente seu mestre dedicando co-
ração e alma.

Ele não sabia exatamente qual das empregadas tinha dito isso, mas se lembrava de ou-
vir de uma delas.

Servir fielmente seu mestre, huh. O que diriam se eu quisesse viver como um igual a vocês?

Ao contrário de como se sentiu quando veio pela primeira vez a este novo mundo, Ainz
estava agora confiante de que todos os seus subordinados eram absolutamente leais a
ele. Enquanto Ainz prestasse atenção às suas ações e não fizesse nada que os desapon-
tasse, não havia chance de sua traição — exceto por interferência externa. Nesse caso,
talvez ele deva mudar o relacionamento entre eles e se colocar em pé de igualdade com
os NPCs. Isso pode ser uma boa escolha para fazer, em algum momento.

Se isso acontecesse, Ainz estaria livre desta vida de ser um governante, de ter que quei-
mar seus miolos o dia todo. Além do mais—

Seria como antes, ah sim, exatamente como nos dias de ouro da Guilda. Quando eu poderei
voltar a esse tipo de vida novamente?

Sempre que falava com os NPCs, ele ficava imaginando seus antigos amigos sobrepostos
a eles. Por causa disso, Ainz esperava que não tivesse que se relacionar com eles na con-
dição de mestre para com seu servo, mas sim, do jeito que era no passado com—

—Não.

Ainz pensou enquanto mentalmente balançou a cabeça.

Enquanto ele não soubesse o que poderia plantar as sementes de decepção em seus
súditos, uma mudança tão dramática nas circunstâncias não seria nada sábio. Além disso,

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já que ele sabe que eles desejavam um relacionamento de servo com ele, era sua respon-
sabilidade como seu mestre agir assim. Ao mesmo tempo, como a última pessoa que per-
maneceu aqui, era preciso fazer tudo o que pudesse para os NPCs (as crianças).

A empregada pediu licença a Ainz e saiu do quarto.

Naquele momento, Ainz entrou em ação. Primeiro, ele substituiu o livro embaixo do
travesseiro com outro livro. O livro que substituiu tinha um título muito complexo —
um rápido olhar já desestimulava completamente a ânsia por leitura. Então, o livro que
ele estava lendo na noite passada entrou em sua dimensão de bolso pessoal — seu in-
ventário.

Depois de colocar o livro onde não seria facilmente roubado, Ainz soltou um suspiro de
alívio.

Isso também fazia parte de suas responsabilidades como mestre.

Ele certamente não queria ler livros complexos que faziam sua cabeça doer a noite toda.
Se possível, ele queria ler alguns livros populares. No entanto, ser visto lendo esses livros
prejudicaria a dignidade de Ainz como governante. Por isso que foi forçado a tomar tais
medidas incômodas.

Aliás, ele já havia levado em consideração o fato de que as empregadas moveriam o


livro sob o travesseiro para outro local.

Agora que ele havia terminado tudo o que podia fazer na cama, Ainz afastou o fino dos-
sel de gaze que envolvia a cama e se levantou.

Só então, várias batidas vieram da porta. Logo depois disso, a empregada que deveria
assumir o turno seguinte a abriu e entrou.

Quando ela viu Ainz saindo da cama, se aproximou sorridente. Aparentemente era a
empregada designada para acompanhar Ainz hoje.

“Bom dia, Fifth.”

Um sorriso incrivelmente radiante surgiu no rosto da empregada.

“Bom dia, Ainz-sama! Fico feliz em servi-lo hoje!”

Se Fifth tivesse uma cauda, provavelmente estaria a abanando com toda força. De re-
pente, ele lembrou de um evento passado, de Pestonya abanando a cauda.

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Seu uniforme era o mesmo utilizado pela empregada anterior, Foss. Ao contrário das
Empregadas de Batalha, as empregadas regulares usavam o mesmo uniforme padroni-
zado. Mas ainda assim, sua aparência exata variava entre cada empregada —provavel-
mente porque cada empregada que o usava era diferente.

Ainz relembrou algo que um de seus amigos disse tanto que até ficou gravado em sua
mente: “Roupas simples de empregada já são boas, mas roupas de empregada cheias de
decorações são ainda melhores”. Houve também uma continuação para isso: “Em outras
palavras, os uniformes de empregada são os melhores, não importa como pareçam. Uni-
formes de empregada são a maior invenção da história da humanidade. Viva aos uniformes
de empregada!”.

Embora Ainz não soubesse o que ele queria dizer com “viva”, no fim, pensou ser algum
tipo de ênfase. Pode ter sido também um termo inventado por ele. Desta forma, Ainz
recordou as memórias de seus companheiros passados, pouco a pouco.

Ainz sorriu amargamente — embora sua expressão facial não mudasse, é claro — e si-
lenciosamente olhou para a empregada.

“Ai-Ainz-sama, algo o incomoda?”

Fifth corou enquanto as mãos seguravam com força o avental do uniforme. Foi então
que Ainz percebeu seu descuido.

“Me perdoe. Parece que eu estava... sim, parece que fiquei um tanto fascinado por você.”

“—!”

“Então, vamos?”

“—Hieh? Ah, sim. Como desejar!”

A empregada congelou por um momento, mas ainda conseguiu dar uma resposta enér-
gica enquanto seguia atrás dele e juntos saíram do quarto.

Ainz passou por vários outros aposentos. Claro, o que ele viu lá não poderia se compa-
rar em nada ao 9º Andar de Nazarick. Justamente por isso, quando Ainz decidiu ficar
aqui, os Guardiões expressaram suas objeções um após o outro.

Aponta— Este lugar é carente de gosto como residência para um Ser Supremo.

Aponta— A capacidade defensiva deste lugar é insuficiente e tem proteção inadequada


contra espionagem.

Aponta aqui. Aponta ali. Aponta lá—

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No entanto, Ainz ignorou todas as objeções que recebeu e selecionou este lugar como
sua casa.

Esta era sua responsabilidade como Rei — afinal, Jircniv também vivia no Palácio Im-
perial da Capital Imperial. Isso endossaria sua imagem. Além do mais, o lugar era dema-
siadamente luxuoso para Ainz— não, para Suzuki Satoru. Sua antiga casa sequer chegava
aos pés da dignidade desse local. Além disso, seu quarto no 9º Andar sempre foi muito
chamativo e muito grande.

Quando estava no jogo, isso sequer o incomodava. Mas agora que ele realmente tinha
que viver lá, ele estava ciente de que não havia lugar para ele dentro daquelas paredes.
Tudo o que Ainz queria era se esconder em algum canto.
[Assassino d o s Oito-Gumes]
Ainz levou Fifth e um Eight-Edge Assassin que caiu do teto para o camarim.

Várias empregadas regulares já estavam lá esperando por Ainz. Elas executaram res-
peitosos comprimentos a ele em uníssono. Fifth rapidamente se alinhou com elas tam-
bém.

“Ainz-sama, o que o senhor gostaria de usar hoje?”

Fifth perguntou em uma voz que estava repleta de energia.

...Oh, há um brilho nos olhos da Fifth. Será que todas elas têm esse brilho nos olhos? Dizem
que as mulheres gostam de roupas... é assim que elas expressam isso? Ou elas apenas gos-
tam de combinar roupas e acessórios?

Uma sensação de fadiga constante se apoderou dele, mas Ainz não demonstrou. Em vez
disso, ele apenas disse “Uhun” de uma forma arrogante — ou pelo menos, foi assim que
se sentiu quando praticou de antemão.

Logicamente, Ainz não precisava trocar de roupa.

Suas vestes mágicas não ficariam amassadas mesmo que passasse a noite toda rolando
na cama. Seu corpo não excretava nenhum resíduo. A poeira flutuando no ar poderia se
acomodar nele, mas tudo o que ele tinha que fazer era ignorá-la. Além disso, qualquer
lugar onde Ainz fosse já teria sido completamente limpo pelas empregadas. Além disso,
ele não precisava comer ou beber, sendo assim, ele não se sujava com essas atividades.

Usar o mesmo conjunto de roupas não seria um problema para ele.

Entretanto, nenhum de seus subordinados poderia permitir isso. Mas isso era apenas
para ser esperado, afinal, um governante absoluto usando a mesma coisa todo dia arrui-
naria sua imagem.

Dito isso, Ainz não estava confiante em sua capacidade de combinar sua roupa.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


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Seria completamente diferente se estivesse preparando seu equipamento de batalha
após considerar as habilidades e perícias de seus oponentes e planejar suas táticas, nisso
ele estava confiante em sua capacidade de selecionar o equipamento adequado para me-
lhor combater o inimigo que estava enfrentando. Contudo—

Bem, até certo ponto, a experiência adquirida por Suzuki Satoru permitia que ele co-
mentasse se uma gravata ficaria bem com um terno. Mas isso não o deixava dizer nada
sobre se esse manto de púrpura com filigranas de prata, se ele combinava ou não com
colar de prata engastado com quatro diamantes e assim por diante. Além disso, era pre-
ciso selecionar roupas para combinar com um corpo esquelético.

Se ele usasse uma roupa incompatível, as pessoas poderiam duvidar de seu senso de
estilo como líder. Isso seria como trair seus leais subordinados. Portanto, Ainz teve que
dar o seu melhor mesmo na hora da vestimenta.

E nisso estava um problema fatal.

Será que seus subordinados comentariam mesmo que Ainz usasse algo inadequado?
Era uma situação semelhante a uma peruca torta de um CEO de uma grande empresa;
ninguém ousaria dizer nada.

Sendo esse o caso, havia apenas uma alternativa para ele.

“—Fifth, deixarei essa tarefa para você. Prepare um conjunto de roupas que melhor se
adapte a mim.”

“Entendido! Cuidarei disso, Ainz-sama! Me dicarei a isso de corpo e alma!”

Você não precisa se preocupar tanto com isso—

Bem, Ainz pensou isso, mas nunca disse isso diante das empregadas.

“Eu— eu acho que o vermelho combina muito bem com o senhor, Ainz-sama! Assim, eu
estava pensando em usar o vermelho como cor base da vestimenta. O que o senhor acha?”

“...Como eu disse, está nas suas mãos a escolha. Então não há necessidade de confirmar
nada.”

“Sim! Como desejar!”

Se ele não tinha confiança em si mesmo, então tudo que precisava fazer era entregar a
tarefa para outra pessoa — como permitir que a empregada escolhesse por ele.

Ainz estava um tanto consternado com o manto carmesim que ela havia escolhido. A
cor vermelha era tão brilhante que quase ardia os olhos, e ainda foi adornada por muitas

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


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joias enormes como botões. Poderia ser aceitável se fossem todos da mesma cor, mas as
muitas gemas refletiam um arco-íris de cores diferentes. Além disso, a peça foi bordada
com caracteres estranhos usando fios de ouro.

—Essa roupa é realmente normal? É alguma moda da realeza ou algo assim?

Ele se sentiu como um homem-placa iluminado por luzes de néon. Ele nunca teria esco-
lhido essa roupa por conta própria. Ou melhor, Ainz começou a se perguntar o porquê
havia comprado isso. Como não tinha lembrança de ser forçado pelos antigos membros
da guilda, por processo de eliminação, ele mesmo deve tê-lo obtido em alguma ocasião.

Ganhei de brinde? Ou será que veio como um conjunto? ...Enfim, bem, só resta aceitar, huh.

Mesmo tentando lembrar como o havia conseguido, isso não faria o manto carmesim
diante dele desaparecer.

Embora pudesse recusar prontamente, isso transformaria o “deixarei essa tarefa para
você” em uma mentira. Em resumo, Ainz pode ser o único que achava isso embaraçoso,
todos os demais adoravam. E era bem provável que realmente fosse o caso.

Já que Fifth selecionou este manto, ele poderia culpá-la se alguém comentasse sobre
isso.

Eu realmente sou um chefe terrível.

Ainz sabia que isso não era algo digno de orgulho e ele se sentiu culpado por isso.

Empurrar a culpa para outra pessoa não era uma conduta louvável para um chefe —
para um superior. Ainz sabia disso, mas mesmo assim, ele precisava de alguma maneira
para preservar sua dignidade.

Ele teve que se proteger sacrificando seus subordinados. Não havia nada que pudesse
fazer para evitar.

“—Me desculpe por isso.”

“Ah, minhas mais sinceras desculpas!”

“Tudo bem... eu estava falando comigo mesmo. Não dê atenção. Pensando bem...”

Ainz decidiu escolher suas palavras cuidadosamente enquanto fazia sua pergunta.

“Há algo que gostaria de perguntar. Você não acha que este manto é chamativo demais
para mim?”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


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“Certamente não! Afinal, qualquer roupa fica bela no senhor, Ainz-sama! Embora eu
ache que o preto e marrom-escuro sejam charmosos, usar essas cores o tempo todo não
mostraria suas outras virtudes, Ainz-sama! Essa aqui expressará sua imagem imponente
nos olhos de todos que—”

Ainz interrompeu o fluxo ininterrupto de elogios.

“—Está bem. Desde que seja adequado, tudo bem. Então, você poderia me vestir?”

“Entendido!”

Fifth e as outras empregadas começaram a trabalhar.

Enquanto Ainz permanecia de pé, as empregadas silenciosamente removeram as rou-


pas de Ainz. O ato de ter suas roupas trocadas por mulheres, mesmo que seu corpo não
fosse nada mais que ossos, encheu-o de uma vergonha sem igual.

Mas, claro, tal gesto era um ato natural para um governante absoluto.

Pelo menos era assim para Jircniv. Ainz também leu a mesma coisa em um de seus livros.

Ainz permaneceu imóvel e permitiu que as empregadas trabalhassem, enquanto ele si-
lenciosamente olhava para o espelho em seu camarim.

Logo, um Ainz de manto vermelho apareceu no espelho. Como esperado, era bem vis-
toso. Não era nada além de chamativo.

...Não. Este mundo tem um senso de estética bastante divergente. Pelo que sei... essas rou-
pas podem ser bem adequadas para um governante usar.

Ele lembrou Hamsuke como um exemplo e anulou sua inquietação.

“Então vamos.”

Enquanto liderava o caminho, acompanhado por Fifth. Ainz pensou do fundo de seu
coração; Eu realmente queria um tempo pra relaxar.

♦♦♦

O manto rubro e vistoso avançou em direção ao seu escritório. Quando Ainz se aproxi-
mou da porta, Fifth rapidamente se adiantou e a abriu cortesmente.

Às vezes, ele pensava em dizer: É só uma porta, eu posso abrir. Mas enquanto observava
o olhar nos rostos das empregadas que diziam: “Yay, olhe para mim, estou trabalhando!”,
Ainz não podia fazer nada além de aceitar isso como um meio automático de abrir portas.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


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Ainz levou Fifth e um Eight-Edge Assassin para o escritório.

A escrivaninha no centro era como a que Ainz tinha em seu próprio quarto e irradiava
um ar de dignidade.

fôra trazida aqui de Nazarick, junto com sua cama. E, nas profundezas da sala, havia
uma bandeira do Reino Feiticeiro — com o brasão da Ainz Ooal Gown.

Ainz atravessou a sala e se aproximou da sacada.

Havia uma caixa de vidro no peitoril. Não era muito grande e continha um ambiente de
selva. Ainz inseriu seu dedo ossudo na caixa, que parecia desprovida de vida, e levantou
uma folha. Escondido embaixo havia uma criatura que se escondia na escuridão para
evitar a luz do sol.

Seu corpo de cores vivas estava coberto de secreções pegajosas e escorregadias, e a


parte da frente de seu corpo lembrava um par de lábios humanos.

Ainz estudou cuidadosamente o Inseto Boca.

“—Essa é uma boa cor. Você parece muito vívido.”

Ele se lembrou do que ela havia dito uma vez, sobre a importância das cores. Ele tam-
bém lembrou de ter vários Insetos Bocas colocados em sua frente, e aprendeu a diferen-
ciar quando estavam mais enérgicos pela sua cor. E de fato; o Inseto Boca diante dele
parecia muito mais vívido que os outros naquela época.

Ainz pegou uma folha de repolho fresca de um prato próximo.

“Venha, Nurunuru-kun. É hora de comer~”

Ele levou a folha para perto do Inseto Boca, que atendeu pelo nome. Depois que ele
soltou a folha, o Inseto Boca a comeu com grandes mordidas.

Ainz pegou mais duas folhas, que o Inseto Boca prontamente devorou também.

Ele decidiu parar por aí, porque Entoma havia lhe dito que alimentá-lo demais não fazia
bem.

Ainz gentilmente devolveu o diminuto e feliz Inseto Boca à sua casa sombreada na caixa
de vidro — para o lugar que mais amava.

“Parecia um pouco nojento no começo, mas depois de cuidar disso por um tempo, per-
cebi que é realmente muito fofo.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


2 0
Ele não falava com ninguém em particular, apenas para si mesmo. Ainz tinha um sorriso
alegre no rosto quando fechou a fina tampa da caixa. A caixa não era muito resistente, e
o Inseto Boca poderia escapar se realmente quisesse. A razão pela qual Ainz usou foi
para provar sua confiança em ser capaz de cuidar bem de seu ocupante. Dito isto, era um
monstro mercenário gerado com ouro, então a questão de saber se escaparia ou não
ainda não tinha resposta.

Ainz gentilmente limpou a mão com um pano nas proximidades, e depois de terminar
todas as tarefas da manhã, ele se sentou em sua cadeira. Ele apoiou o peso nas costas e
deixou seu corpo afundar profundamente.

...Ah, trabalho. Não tenho horário para começar, mas meu coração ainda se lembra bem.
Eu acho que velhos hábitos são difíceis de morrer.

A escrivaninha estava imaculada, não havia um grão de poeira, e isso sem falar dos do-
cumentos, perfeitamente organizados.

Era completamente diferente da mesa de Suzuki Satoru.

O motivo da arrumação era que ele não tinha nenhum trabalho a fazer que prolongasse
até de noite. O trabalho de Ainz era tomar as grandes decisões, sem se preocupar com os
detalhes. Depois que decidia, cabia aos seus subordinados entrarem em ação.

...Ainda assim, por isso que é tão difícil? Acho que é a primeira vez que percebo isso, a
dificuldade de um trabalho é determinada por quanta responsabilidade ele exige. É mais
mentalmente do que fisicamente cansativo... e certamente é mais estressante. Ah, já é hora
de começar?

Não houve necessidade de olhar para um relógio.

Naquele exato momento, uma batida veio da porta. Fifth — que estava em pé ao lado
da porta — verificou a identidade do interlocutor.

“Ainz-sama, é a Albedo-sama e os Elder Liches.”

Havia respeito na voz de Fifth, pois esses Elder Liches eram criações pessoais de Ainz.

“Entendo. Eles podem entrar.”

Fifth afastou-se da porta para abrir caminho para os visitantes. Albedo entrou na sala
liderando seis Elder Liches.

“Bom dia, Ainz-sama.”

Depois da saudação de Albedo, os Elder Liches inclinaram a cabeça profundamente.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


2 1
“Uhum, bom dia Albedo. Parece que o tempo hoje está muito bom.”

“Realmente. Eu tenho relatos de que estará ensolarado o dia todo — é claro, se for seu
desejo como o governante supremo deste mundo, nós podemos produzir qualquer tipo
de clima que o senhor desejar. Vamos prosseguir, Ainz-sama?”

Apenas usou um tópico irrelevante para iniciar uma conversa, mas não esperava que
ela começasse com uma sugestão como essa.

“Não será necessário. Flutuações no clima não me incomodam. Os dias ensolarados são
bons, o estrondo dos trovões nos dias chuvosos é charmoso, e o cair silencioso da neve
é intrigante. Não seria exagero dizer que cada dia traz uma experiência única com o
clima.”

Ainz não desgostava das mudanças climáticas deste mundo. Nesse mundo intocado, ele
descobriu que entendia as palavras do antigo camarada Blue Planet: “A chuva foi origi-
nalmente uma bênção da natureza”.

Era melhor deixar a natureza permanecer natural.

“Sim, como pensei... Eu senti que o senhor não tinha vontade de alterar o clima, mas
perguntei para ter certeza. Afinal, o senhor não é o tipo de líder que nos ordena direta-
mente para satisfazer seus desejos, Ainz-sama.”

“...Mesmo? Não me parece assim...”

Ainz começou a ponderar, mas não conseguia pensar em nada em especial. Quando
ainda era Suzuki Satoru, sua mente estava cheia de pensamentos sobre YGGDRASIL. De-
pois que seu corpo se tornou assim, só piorou. Embora ele não tivesse certeza se isso era
um efeito colateral de se tornar uma criatura undead, havia a possibilidade de ser algo
inato a sua personalidade. Se fosse nomear seu desejo por algo, seria um desejo de cole-
tar itens raros. E também de—

Ainz sorriu em solidão e gentilmente balançou a cabeça.

“Bem, pode ser exatamente como diz. Mas isso é simplesmente porque não há nada que
eu realmente queira. Quando eu desejar algo, naturalmente, darei as ordens apropriadas
quando chegar o momento.”

“Quando chegar a hora, espero que o senhor me permita, como Supervisora Guardiã,
selecionar as pessoas que responderão imediatamente aos seus desejos.”

Respondeu Albedo, baixando a cabeça. Quando voltou, seu rosto parecia um pouco co-
rado e completou:

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


2 2
“A propósito, suas roupas hoje estão magníficas. Elas são extraordinariamente radian-
tes. Ou melhor, elas brilham tão brilhantemente porque o senhor está as usando, Ainz-
sama.”

Albedo finalizou o elogio.

O brilho de que ela falou era provavelmente as gemas que pareciam substituir botões,
já que era a única coisa presente que o brilhava. Ainz assentiu enquanto pensava sobre
isso.

“Se diz, então, muito obrigado, Albedo.”

“O senhor é muito gentil. Eu estava simplesmente afirmando o óbvio. Ainz-sama, és ver-


dadeiramente—”

Ainz levantou a mão para interromper Albedo enquanto ela animadamente se prepa-
rava para continuar. Ele tinha a sensação de que deixá-la continuar arrastaria a conversa
por um longo tempo.

“Vamos deixar esse assunto de lado por enquanto. Então, e sobre os documentos que
você e os outros estavam lidando ontem, Albedo?”

“Sim.”

Albedo estufou as bochechas de maneira adorável, e os Elder Liches seguiram suas ins-
truções e colocaram seus documentos na mesa.

A pilha de documentos empilhados um em cima do outro chegou a uma espessura con-


siderável. Os documentos em si não continham muitas propostas, mas havia muitos do-
cumentos de extras anexados a eles. Muito parecido com a forma que faziam em seu an-
tigo emprego, parece que tudo isso estava em preparação para lidar com um problema
complicado.

Ele havia preparado seu coração para isso. Ainz passou a manhã toda se preparando e
fortalecendo sua determinação para este momento.

Suzuki Satoru fôra um mero funcionário, e ele não foi do tipo que interagia com as ope-
rações da empresa. Se perguntado que, alguém assim poderia gerenciar um país inteiro,
Ainz responderia “Não” com toda a certeza de seu ser. Ou melhor, até mesmo um gerente
de operações acharia muito difícil administrar um país.

O que piorava tudo, foi que Ainz se tornou um governante absoluto. Mesmo que hou-
vesse algum erro em suas palavras, seus subordinados se uniriam para transformá-las
em realidade.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


2 3
Havia algo mais assustador que isso? Uma única palavra de Ainz poderia levar a um
suicídio em massa.

Sendo esse o caso, o que ele deveria fazer?

A resposta era muito simples. Muito parecido com suas roupas, só era preciso entregar
essa responsabilidade para pessoas capazes.

Ser capaz de alocar habilmente seus subordinados de acordo com seus pontos fortes
também era uma qualidade essencial em um chefe.

Dito isto, também havia problemas em delegar completamente tudo para os outros. De
fato, ele poderia ficar tranquilo se tudo fosse deixado aos cuidados de Albedo. Mas um
Rei não uma mera figura de um chefe. Como alguém em posição elevada, ser superior
implicava ter as responsabilidades de um superior.

Claro, havia algumas tarefas que não podiam ser ignoradas dizendo “Não sei”.

Como tal, Ainz começou a ler cuidadosamente a pilha de documentos de cima para baixo,
colocando o selo real em cada um deles.

Depois de estampar ritmicamente vários documentos, Ainz fez uma pausa, tendo sele-
cionado um deles como o alvo do dia. Ele abriu para examinar seu conteúdo. E então—

...Não entendo nada disso. Isso tem algo a ver com recursos materiais? Isso é mesmo im-
portante? Será que os Elder Liches entendem disso? ...Bem, eles foram todos feitos por mim...
como essa diferença de habilidade pode ser explicada— ler tudo isso é realmente cansativo,
é como ler documentos judiciais...

Como havia referências cruzadas para outras páginas, havia muitas repetições dessas
poucas palavras que precisavam ser repetidamente alternadas entre as páginas. O úl-
timo ponto baseou-se na conclusão anterior para se chegar a um julgamento negativo.
Além disso, porque havia muitas declarações negativas nas sentenças, interpretar o con-
teúdo foi muito difícil.

“—Albedo.”

“Sim, Ainz-sama! Alguma coisa chamou sua atenção?”

“Não, não tem relação com isso, mas eu pensei em algo. Como vai a promulgação das
leis?”

Este país foi chamado de Reino Feiticeiro, mas não exerceu nenhuma legislação única,
continuando a usar as antigas leis do Reino Re-Estize.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


2 4
“Sim. Isto é simplesmente um rascunho por enquanto. Se nós forçássemos as novas leis
de forma muito agressiva, isso poderia levar a um descontentamento generalizado. As-
sim, não temos certeza se devemos ou não fazê-lo.”

Essas palavras soaram estranhas quando vieram de Albedo, que não se importava com
a humanidade. Ainda assim, Ainz não pôde deixar de acariciar seu peito em alívio.

“Cheguei a discutir isso com o Demiurge antes... mas as leis do Reino simplesmente não
concedem poder suficiente a um governante absoluto como o senhor, Ainz-sama. Atual-
mente, estamos considerando simplesmente manter o primeiro edital da lei do Reino e,
em seguida, aplicá-las pela força.”

“No momento estou mais confiante em outras áreas...”

Isso foi uma mentira descarada — Ainz não tinha confiança em praticamente nada.

“Lamento dizer, mas não sou versado nos caminhos da lei. Faça como achar melhor.
Você tem minha total confiança.”

“Sim! Como desejar.”

Albedo tinha uma expressão de prazer no rosto. Se Ainz olhasse de perto, notaria que
suas asas estavam tremendo. Ela — e Demiurge, por alguma razão desconhecida — pa-
recia considerar Ainz um gênio que estava sempre um passo à frente deles.

Assim, quando Ainz disse que não sabia ou algo nesse sentido, ele podia entender pro-
fundamente a alegria que eles — que foram feitos como seres altamente inteligentes —
sentiam em ser capazes de validar sua existência.

“Ainda assim, não há necessidade de mentir sobre não entender a lei...”

“Estou falando a verdade. Eu não sou perito em lidar com questões da lei.”

“Entendo... deve ser assim que o senhor vê, da perspectiva de um líder supremo que
nunca foi obrigado por nenhuma lei. Eu entendo o que quer dizer.”

Ainz sentiu que estava sendo mal interpretado, mas decidiu ignorar o assunto. Afinal,
ele não tinha idéia de como explicar isso para ela. Em vez disso, ele simplesmente sorriu.
Esse sentimento era apenas vagamente familiar, mas ele podia sentir como as crianças
se sentiam quando exibiam orgulhosamente seus talentos aos pais.

“Algo está errado?”

O olhar de surpresa de Albedo só deixou Ainz mais feliz. Ainda assim, seria rude se a
alegria fosse toda por conta dele.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


2 5
“Perdoe-me, mas quando eu vi o quão feliz estava, fiquei impressionado com o quão
bonita você ficou... como eu vou dizer isso... Hum, é um pouco difícil de explicar.”

Enquanto ele dizia isso, houve um breve alvoroço de movimento dos Eight-Edge Assas-
sins no telhado, mas eles ficaram parados.

“Ah~, isso é embaraçoso.”

Albedo pressionou as mãos nas bochechas. Assim que Ainz viu como ela corou, ele per-
cebeu o quão desconfortável deve tê-la feito sentir, e com uma leve tosse, ele decidiu
estudar os documentos diante dele.

Parece que sua maneira de tratar os NPCs como os filhos de seus amigos o fez dizer
coisas embaraçosas.

Ele se sentiu um pouco culpado por sua grosseria, mas no fim, carimbou o último docu-
mento. Com isso, uma tarefa foi concluída.

Ele entregou os documentos para Albedo, que estava usando a mão para cobrir a boca.
Ela, por sua vez, os entregou aos Elder Liches.

“Então, vamos começar o habitual. Estas são as propostas que serão exibidas hoje.”

Ainz abriu o armário e tirou uma pilha de papéis. Eram sugestões e opiniões coletadas
de todos em Nazarick, a fim de ajudar no desenvolvimento do Reino Feiticeiro.

Depois de lê-las, Ainz transcrevia as sugestões e as lia para Albedo nesse horário todas
as manhãs.

“Não há necessidade de desperdiçar seu precioso tempo com tarefas mesquinhas, como
escrevê-las, Ainz-sama.”

“Creio que não, pois pode haver algumas sugestões que são direcionadas a mim. Além
disso, meu corpo não requer sono. Seria uma perda de tempo se eu não fizesse nada.”

Isso também era mentira. Ou melhor, era verdade que ele ficaria ocioso se não fizesse
nada. No entanto, ele poderia gastar esse tempo em coisas como ler, tomar banho, pra-
ticar suas habilidades de atuação e simular combates. Mesmo assim, ele ainda tinha que
fazer isso à mão pois Ainz estava colocando suas próprias sugestões entre as outras.

Ainz tinha que fazer isso, pois se ele fizesse essas sugestões diretamente, seus subordi-
nados se obrigariam a fazê-las acontecer, mesmo que fossem impraticáveis. Isso poderia
levar a consequências trágicas.

Portanto, ao submeter anonimamente suas sugestões, ele esperava que Albedo, como
uma terceira parte imparcial, julgasse apenas os méritos. Além disso, ao não divulgar os

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


2 6
nomes dos sugestores, as habilidades de Ainz não seriam questionadas, o que era como
matar dois coelhos com uma cajadada só.

Ainz começou a ler a sugestão em sua voz mais empostada.

“Vejamos... Acredito que precisamos de serviços de educação infantil que possam desco-
brir indivíduos com Talentos e cultivá-los. Desta forma, poderemos ser capazes de fortale-
cer Nazarick. Mesmo que não funcione, ainda podemos usá-lo para desenvolver tecnologias
para nós mesmos, que também podem ser usadas como uma fundação para fortalecer Na-
zarick. ou algo assim.”

Ainz olhou para Albedo, que estava de pé e olhando para a frente.

“Os benefícios são claramente delineados e é uma excelente sugestão. Pode-se sentir a
excelência do sugestor através dela. Pode ser bom divulgar isso como um modelo para
os outros estudarem.”

Depois daquela rodada de elogios, Ainz retomou seu habitual rosto severo — embora,
é claro, seu rosto não se movesse:

“Analisando isso, quem você acha que escreveu isso?”

“Eu acredito que seja a Yuri Alpha.”

Foi uma resposta instantânea. Ainz sentia o mesmo também.

“Concordo. Deve ser a sugestão da Yuri. Então, Albedo, o que acha dessa sugestão?”

“Uma grande tolice. Suínos devem viver como suínos e morrer depois de dar tudo o que
têm para seus criadores. Não há necessidade de viverem de outra maneira. Como não há
sentido em permitir que eles vivam de maneira diferente, não há sentido em permitir
que eles escolham de forma diferente.”

“Bem, isso foi uma maneira muito dura de olhar para eles, mas eu concordo, até certo
ponto. É preciso educação básica para servir como uma engrenagem para girar nas rodas
da sociedade. É assim que as pessoas devem viver, envelhecer e morrer. Permitir que a
tecnologia se espalhe só ameaçaria nosso poder— Hum?”

“Ainz-sama, o senhor está bem?”

“Eu me lembro de ter ouvido essas palavras antes. Alguém disse para outra pessoa, mas
quem? Narberal e... ah, Lupusregina. Quando ela estava perguntando sobre as poções de
cura... Eu acho que não há necessidade de contar já que você já sabe, Albedo. Oh, que gafe
a minha, por favor, não dê atenção.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


2 7
“C-claro que não, acredito que preciso entender suas profundas percepções, Ainz-sama.
Por favor, compartilhe-as comigo.”

“É, é mesmo é... Bem, embora isso me envergonhe um pouco, eu não posso ser o único
compartilhando meus pensamentos. Se ficar descontente com qualquer coisa que ouvir,
por favor sinta-se à vontade para me corrigir.”

Não havia nada mais vergonhoso do que agir como um sabichão na frente de alguém
que conhecia bem mais. Com a preocupação de ser tratado como um idiota em seu cora-
ção, Ainz decidiu compartilhar seus pensamentos sobre o assunto.

Conhecimento, educação e informação eram as armas básicas da humanidade — que


também incluíam seres não-humanos neste mundo. À medida que o conhecimento de
uma nação aumentava, também aumentava seu poder, mas, por outro lado, o ressenti-
mento por saber que não poderia ter tudo aumentaria.

Assim, um governante tinha que considerar se devia ou não armar as massas com a
arma chamada conhecimento, pois essa arma poderia algum dia ser apontada para o pró-
prio governante.

No jogo YGGDRASIL, Ainz tinha aprendido a importância de possuir informações. Foi


por isso que ele levou os dois herboristas da família Bareare para o Vilarejo Carne, onde
ele podia ficar de olho neles e mandar fazer poções. Isso foi para que ele pudesse mono-
polizar os frutos de suas pesquisas e acumular qualquer conhecimento obtido com isso.

Do ponto de vista de Ainz, aqueles que foram governados deveriam agir, viver e morrer
na ignorância. No entanto, ainda era necessário desenvolver novas tecnologias à medida
que o poder de uma nação aumentava. No fim, a questão-mor era para quem as lanças
do conhecimento seriam apontadas.

“Em suma, devemos compartilhar nossas novas tecnologias apenas com aqueles que
são absolutamente fiéis a Grande Tumba de Nazarick. Nós daremos ao pessoal comum
uma tecnologia ultrapassada que não representa uma ameaça para nós. O “Fruto do Co-
nhecimento” só tem valor quando nós o possuímos sozinho.”

Depois que ele chegou a essa parte, ele deu uma olhada em Albedo, para ter certeza de
que ela não duvidava ou desconfiava dele.

“E agora, isso é o que eu realmente desejo. Albedo, em contraste com o que acabei de
dizer, acho que devemos aceitar essa sugestão.”

Os olhos de Albedo se arregalaram por um momento.

“Posso saber o que levou a essa conclusão?”

“Sentimentalismo. Além disso, sinto que a Yuri tem razão.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


2 8
“Entretanto, eu sinto que há muitos deméritos para essa sugestão... ou o senhor está
dizendo que pretende testá-lo nos arredores? Depois de fechar todos os vazamentos de
informação e depois começar a educação por meio de lavagem cerebral, os méritos co-
meçarão a aparecer.”

“Nós não faremos isso. Embora isso possa desviar um pouco da sugestão de Yuri, fun-
daremos um orfanato nesta cidade.”

Enquanto Ainz vivia aqui como Momon, ele ouvira falar dos orfanatos administrados
pelos templos. Ele imediatamente teve a idéia de fundar um orfanato em nome de Ainz
Ooal Gown.

“Enfim, devemos considerar a possibilidade da tecnologia de Nazarick vazar para o


mundo exterior. Creio que estará bem se administrássemos um orfanato regular e limi-
tássemos o conhecimento que ensinamos àqueles próximos a nós. Se encontrarmos pes-
soas com Talentos, poderemos considerar o que fazer com elas.”

“...Entendo. Esse arranjo não deve causar nenhum problema.”

“Então, pretendo usar viúvas para o pessoal do orfanato.”

“As mulheres que perderam seus maridos na batalha onde o senhor demonstrou uma
fração de seu magnifico poder. Isso servirá como ajuda financeira para aquelas mulheres
que estão lutando abaixo da linha da pobreza. E, de fato, tal ajuda apenas melhorará a
opinião popular sobre o senhor... como esperado de Ainz-sama.”

“Uhum, mas, se nós apenas agirmos depois que Momon contar sobre a situação das vi-
úvas, então apenas a reputação dele irá melhorar, e não a minha. Assim, devemos agir
rapidamente, antes que alguém possa pedir ajuda a ele. Para conseguir isso... ordeno que
a Pestonya e a Nigredo sejam libertadas do confinamento.”

Ainz sentiu um leve brilho nos olhos de Albedo.

“Perdoe a minha franqueza... mas se o senhor conceder anistia àquelas que foram jul-
gadas culpadas por desobedecer ao seu comando e perdoá-las, temo que isso possa atra-
palhar a ordem e a lei em Nazarick.”

“Nós não as colocamos em confinamento para isso?”

“Foi uma punição muito leve. Sua vontade é tudo para nós, Ainz-sama. O crime de de-
sobedecer ao seu comando é totalmente imperdoável. Seus servos alegam que elas de-
vem ser aliviadas do peso de suas cabeças, isso servirá como um aviso para os outros.”

“Se fosse esse o caso—”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


2 9
Ainz queria dizer que era uma questão mesquinha, mas elas eram motivadas por sua
reverência a Ainz — um dos 41 Seres Supremos. Seria muito trágico negar essa lealdade.

Ainda assim, foi por isso que ele teve que perdoar as duas. Suas personalidades foram
criadas pelos antigos amigos de Ainz. Assim, pode-se dizer que as ações de Pestonya e
Nigredo foram equivalentes às de seus amigos.

Ainz tinha certeza que se desse uma ordem a Albedo, ela obedeceria sem questionar.
No entanto, esse seria um último recurso a ser usado. Primeiro, ele teve que tentar per-
suadi-la com palavras.

“—O fato é, permitir que essas ordens vazem para o mundo exterior seria problemático.
Qualquer um seria capaz de ligar os pontos e rastrear o incidente na Capital Real de volta
a Nazarick, isso sem sequer sair das sombras. Por isso até mesmos as crianças tiveram
de ser eliminadas. Mas aquelas duas estavam apenas tentando defender os bebês que
não tinham lembranças do incidente, pois assim não havia necessidade de eliminá-los.
Pode-se dizer também que elas entenderam com precisão minhas intenções.”

“Elas estavam simplesmente distorcendo os fatos em prol da conveniência. Suas ações


são imperdoáveis.”

“Albedo—”

Ele entendia os sentimentos de Albedo por ser a Supervisora Guardiã. Por isso era pre-
ciso se esforçar o máximo que pôde para convencê-la.

Ainz sorriu; um sorriso amargo e perturbado. Claro, sua expressão não mudou.

“Ainz-sama, esse seu olhar é muito injusto...”

Albedo murmurou, com bochechas rosadas. Ainz acariciou o rosto, como se para verifi-
car.

“Oh, É mesmo?”

“Mm, sim...”

Albedo suspirou impotente e abaixou a cabeça. Ela fez *Haa~* quando exalou profun-
damente.

Quando levantou a cabeça novamente, estava de volta ao normal.

“Compreendo. Nada é mais importante que seus desejos, Ainz-sama. Eles são tudo para
mim. Por favor, me conduza como achar melhor.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


3 0
“Eu não quero que me obedeça por causa de seus sentimentos. Eu quero que você me
obedeça porque é a coisa sensata a fazer.”

“Isso não será um problema. Com toda probabilidade, ninguém em Nazarick se oporá a
libertar àquelas duas além do meu eu de antes.”

“Mesmo... então isso é bom. Coloque as duas como encarregadas de administrar o orfa-
nato.”

“Compreendo. Vou transmitir suas instruções para elas.”

“Conto com isso. Então— a próxima sugestão.”

Ainz murmurou para si mesmo. A sugestão seguinte foi uma que ele havia escrito:

“...Ghrun. Bem, esta não é uma sugestão muito boa... eh, faz parte.”

Ainz deu uma espiada na expressão de Albedo e continuou a falar.

“Façamos um uniforme para atividades atléticas — roupas de ginástica — para fortale-


cer a solidariedade em Nazarick. O que acha?”

Assim que ele terminou de falar, Albedo franziu as sobrancelhas com raiva.

“...Se houvesse um limite inferior para a definição da palavra inferior, essa idéia certa-
mente conseguiu passar por ela. Quem fez uma sugestão tão pífia, afinal?”

Ainz fez um esforço imenso para reprimir seu impulso de dizer, “me desculpe”, e em
seu lugar assumiu uma expressão preocupada.

“Er, bem— eu não tenho certeza. Eu descartei a folha de papel original.”

“Não posso sequer imaginar quanta paciência o senhor tem. Como alguém poderia des-
perdiçar seu precioso tempo com uma sugestão tão trivial, Ainz-sama? Vamos imediata-
mente iniciar uma investigação para erradicar essa pessoa e determinar a punição apro-
priada.”

“Qu—! Não há necessidade disso! Ouça, Albedo! Não faça isso em hipótese alguma!”

Embora estivesse desesperado, Ainz conseguiu estufar seu peito e dizer com lógica:

“Eu disse a todos em Nazarick que, para incentivar que opinassem sem medo, todos
estariam protegidos pela anonimidade. Se você os repreender, isso transformaria mi-
nhas palavras em mentiras. E também implica que tudo o que disser no futuro também
será uma mentira. Além disso, pessoas amedrontadas ficariam ainda mais acanhadas

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


3 1
para dar opiniões... portanto, espero que, uma vez que saia desta sala, esqueça essa su-
gestão.”

“Sim, como desejar. É exatamente como diz, Ainz-sama.”

“Ótimo, ótimo. É assim que se faz.”

Ainz estava profundamente grato pelo fato de que seu corpo não podia suar. Se esse
não fosse o caso, o assento provavelmente estaria encharcado agora. No entanto, apesar
da maravilhosa constituição de seu corpo e mente, a palavra “inferior” ficou presa no
fundo do coração, deixando uma ferida que não se curaria por muito tempo.

“...Ainz-sama, tenho uma proposta. No futuro, permita-me selecionar as sugestões.


Dessa forma, o senhor não será incomodado por tais insensatas sugestões novamente.”

“Guh... não, não há necessidade de incomodá-la com isso. Além disso, se selecionar to-
das, então meu papel seria meramente assinar as suas escolhas. Nossas discussões aqui
se tornariam sem sentido.”

“Ah, sim, isso mesmo, Ainz-sama. Devemos trabalhar juntos.”

As asas de Albedo se agitaram e os Eight-Edge Assassins se agitaram mais uma vez.

“Tudo bem. Já que você entendeu, vamos passar para a próxima, Albedo.”

Pessoalmente, ele não achava que a sugestão fosse impraticável, mas o clima no ar não
era aquele que lhe permitiria evocar isso e, ele não se sentia confiante o suficiente para
mencionar outro tópico semelhante.

“Então a próxima—”

Assim que Ainz estava prestes a continuar lendo, um som de batida veio da porta.

Os dois olharam para Fifth. Ela se curvou um pouco e depois foi ver quem eram os visi-
tantes.

Uma voz animada e pueril veio através da abertura na porta, junto com uma voz quase
inaudível que não tinha qualquer confiança.

...Tenho quase certeza que é a primeira vez que os dois vieram aqui a esta hora do dia.
Aconteceu alguma coisa? Se for algo assim, acho que é bom que a Albedo esteja aqui tam-
bém.

Como Ainz já sabia quem eram os visitantes, ele poderia imediatamente ter permitido
a entrada deles. No entanto, Fifth parecia muito feliz em desempenhar suas funções, e

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


3 2
conceder-lhes permissão para entrar antes que ela pudesse anunciar seus nomes signi-
ficaria ter que interrompê-la.

Passar por cima do trabalho pode fazê-la perder a motivação para trabalhar. Era im-
portante que as pessoas no topo entendessem e levassem esses assuntos em considera-
ção.

Eu acho que o Jircniv faz isso também. Afinal, ele deixa muitas coisas para suas emprega-
das...

Pensou Ainz, enquanto comentava sobre o modelo de um rei que ele vinha estudando
constantemente.

Acho que algum dia eu vou ter uma conversa descontraída com ele sobre os fardos do
governo.

“Ainz-sama, são Aura-sama e Mare-sama.”

Agora que completou sua função, Ainz indicou que os dois tinham permissão para en-
trar em seu escritório.

A porta se abriu e um par de pequenos Elfos Negros entrou. Seus sorrisos radiantes não
pareciam indicar que algo problemático havia acontecido, e Ainz ficou aliviado.

“Boun-dia! Ainz-sama!”

“B-b-bom dia, Ainz-sama.”

“Bom dia. Vocês dois parecem muito animados hoje.”

Os dois cumprimentaram Albedo também. Aura deu a volta na mesa e se posicionou ao


lado de Ainz.

Uma vez que ela estava muito perto dele, ela estendeu as duas mãos, fazendo dois sinais
“V” de vitória.

“Mm!”

Ela não disse nada ao frustrado Ainz, apenas levantou as mãos e fez os sinais.

Seus olhos brilhantes, tão cheios de antecipação, ficaram fixos nele, e então ela começou
a pular de pé para pé.

Depois de perceber o que ela queria, Ainz puxou a cadeira para trás, agarrou Aura sob
as axilas e a levantou.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


3 3
“O-o que está fazendo, Ainz-sama—”

Ainz não deu atenção ao grito estrangulado de surpresa de Albedo. Em vez disso, ele
virou Aura 180 graus, de costas para ele, e então a sentou em sua coxa direita.

Ao contrário de uma coxa normal, os ossos eram duros, então Ainz teve que colocá-la
paralela a ela, permitindo que as nádegas macias de Aura a protegesse do incomodo.

“Ehehe~”

Foi uma risada um tanto acanhada, mas completamente encantadora de Aura, e Ainz
retribuiu com um sorriso. Então, ele se virou e acenou para Mare de aparência inquieta.

Ele pegou Mare quando ele se aproximou e colocou-o em seu fêmur esquerdo.

“Ah, hum, Ai-Ainz-sama, e, e quanto a mim...?”

Enquanto Ainz se perguntava se deveria conseguir algum tipo de almofada, foi a vez de
Albedo falar nervosamente. No entanto, era muito embaraçoso deixar uma mulher
adulta sentar em sua coxa — fêmur.

“Não, isso... eu não posso.”

“Mas, mas, os dois...”

“...Albedo, são apenas crianças. Você é uma adulta, não é?”

Por um momento, ele pensou ter visto algo por trás de Albedo — um flash de luz que
foi a manifestação física do golpe que ela acabara de sofrer. Embora se sentisse um pouco
triste por ela, o constrangimento seria ainda pior. Além do mais, se ele realmente conti-
nuasse com isso, poderia ser enquadrado como assédio sexual.

“Então. Vocês dois querem contar alguma coisa?”

A fortaleza na Grande Floresta de Tob — a falsa Nazarick, ou talvez um depósito de


recursos — havia sido completada por enquanto.

A próxima tarefa de Aura era esconder a fortaleza e fortalecer suas defesas.

O plano original era fugir para lá se os inimigos aparecessem e esconder a versão ver-
dadeira de Nazarick, mas agora, até mesmo Jircniv conhecia a localização da Grande
Tumba de Nazarick.

Sendo assim, serviria como um bunker e um depósito de recursos.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


3 4
Mare, por outro lado, foi encarregado de cavar uma catacumba nos arredores de E-Ran-
tel.

Não havia planos para utilizar essa instalação imediatamente. Foi simplesmente porque
ele tinha a mão de obra disponível, mas nenhum lugar para usá-la.

O uso de humanos para tal trabalho incorreria em custos trabalhistas, mas os Golems e
os undeads não tinham esse problema. Além disso, eles poderiam usar a magia de Mare
para produzir pedras simples.

A propósito, entre os outros Guardiões, Shalltear foi designada para os deveres de tele-
transporte relacionados com magias como 「Gate」 e também a segurança de Nazarick.
Cocytus estava no comando da aldeia Lizardman e seu lago nas proximidades. Demiurge,
por outro lado, estava em uma missão no Reino Sacro.

Em outras palavras, todos os Guardiões em E-Rantel estavam agora nesta sala.

Como as tarefas já haviam sido atribuídas, o que os dois estavam fazendo aqui?

Aura alegremente respondeu à pergunta de Ainz:

“A gente veio aqui pra te ver, Ainz-sama!”

Suas palavras inocentes trouxeram um sorriso radiante para o rosto de Ainz.

“Entendo. Também estou muito feliz por ver vocês dois.”

Ainz fez um afago na cabeça de Aura. Por sua vez, Aura pareceu achar muito confortável
e se esfregou na mão de Ainz. Era como brincar com um cachorrinho adorável.

“Então, então. Ainz-sama, o-o que o senhor está fazendo? Espero que não tenhamos
causado problemas...”

“Certamen—”

“Certamente não. Como poderiam causar algum problema para mim?”

Ainz gentilmente respondeu a Mare.

Ainz então se virou para Albedo.

“Perdoe-me, Albedo. Eu me distraí quando estávamos prestes a começar um novo tó-


pico. Ah, sim, sinto o mesmo quando encontro você.”

“S-Sim!”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


3 5
Disse Albedo, seu rosto ficou vermelho como uma maçã, ela fez beicinho e tentou pare-
cer séria.

“Ainz-sama!”

O que é?

Ainz pensou enquanto seus olhos se arregalaram.

“Buwaa!”

Ainz se perguntou se ele havia ouvido algo errado.

O que foi que ela disse?

Como se quisesse informar a Ainz que sua audição estava bem, Albedo disse “Buwaa!!”
novamente, com uma voz terrivelmente tímida.

...Ela provavelmente está tentando agir como um bebê. Não, o mais assustador seria se ela
tentasse agir como qualquer outra coisa. MAs por que ela está fazendo isso? Será que está
trabalhando demais? Ah! Isso pode ter algo a ver com a Nigredo e liberá-la do confina-
mento.

Confusão oprimia Ainz apesar de seu corpo undead e, ao mesmo tempo, Mare começou
a se mexer desconfortavelmente em seu assento improvisado.

“Isso, hum, p-por mim tudo bem, então, hum, eu deveria deixar a Albedo-sama...”

Essas palavras foram como uma revelação para ele.

Eu acabei de dizer que eles podem por serem crianças, então, como adulta, você deveria
ser capaz de suportar isso. É por isso que ela está fingindo ser criança agora?

Por que um bebê? E além disso, deixar a Albedo sentar na minha coxa também é...

Dito isto, ela era possuidora de proporções bem embaraçosas para serem ajeitadas.

Não posso simplesmente ignorar isso, tanto como um superior quanto como um homem.
Pensando bem, a Albedo é uma “criança”, não como a Aura e Mare, mas ainda assim uma
criança. Eu devo ser justo com ela.

“Perdoe-me, Mare.”

Disse Ainz. Tendo resolvido a si mesmo, deixou Mare sair de sua perna e chamou Albedo.

“Senta aqui, Albedo.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


3 6
“Sim!”

A prévia timidez de Albedo desapareceu como névoa no sol da manhã, substituída por
um olhar de antecipação que um filhote de cachorro poderia ter antes de dar um passeio.
Em um instante, Albedo se moveu para o lado de Ainz.

Albedo também fez os sinais em “V”.

Foi um tanto difícil para Ainz fazer enquanto estava sentado, mas mesmo assim ele co-
locou as mãos sob as axilas e a levantou.

“...Hum, desculpe por isso. Você se importaria de se sentar como ela?”

“Claro! Entendido!”

Albedo ocupou a posição de Mare na coxa esquerda de Ainz e se mexeu de maneira


sensual.

A primeira coisa que Ainz sentiu foi sua maciez. Ao contrário das crianças, era a maciez
de um corpo adulto. Então, o calor fluiu para ele, o que o deu um pouco de comichão.

Nossa, ela é muito macia!

Ela poderia ser uma guerreira de nível 100, mas ele não tinha idéia de onde seus mús-
culos tinham ido. Alguém poderia dizer isso de uma maneira menos educada e se per-
guntar se ela era um molusco.

“Kufufufu~”

Ele ouviu a risada silenciosa de Albedo.

Uma fragrância flutuou dos longos cabelos de Albedo. Isso fez cócegas no olfato de Ainz.

“—Mm?”

Neste momento, algo surgiu dentro do cérebro inexistente de Ainz.

Esse perfume é familiar; onde eu cheirei isso antes? Roupas da Albedo? Não, o perfume
dela?

Ainz tinha certeza de que ele havia se deparado com o cheiro que Albedo estava emi-
tindo em algum momento do passado. No entanto, ele não tinha idéia de onde o sentira
e não conseguia se lembrar dos detalhes.

“Mmm... Albedo. Você está usando algum tipo de perfume?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


3 7
“Sim, eu uso perfume. Isso desagrada o senhor?”

“Não, claro que não, a fragrância é boa.”

Albedo virou apressadamente o rosto para Ainz. Seus olhos esbugalhados assustaram
Ainz um pouco.

“Mesmo, Ainz-sama!? Se o senhor quiser, que tal me cheirar? Por uma hora, mesmo um
dia inteiro estaria bem também!”

“Não, além disso, uma hora seria até de...”

Ainda assim, não importa o que ele dissesse, era um fato que ele estava um tanto inte-
ressado. Além disso, se ele a cheirasse, poderia recordar mais detalhes sobre esse cheiro.

“Então, bem, posso cheirar só um pouco?”

Ainz cuidadosamente aproximou seu crânio de Albedo e inalou sua fragrância. Já que
ele estava mais perto dela do que antes, ele podia sentir aquele cheiro agradável mais
claramente. Como pensava, era familiar, mas ele ainda não conseguia localizar onde o
havia encontrado antes. Enquanto Ainz azucrinava sua mente para resolver o mistério,
uma voz fria chegou aos seus ouvidos.

“...Ainz-sama.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


3 8
Embora ele não tivesse idéia de quem era por um momento, aquela voz claramente per-
tencia a Aura. Ainz nervosamente se virou para encará-la, e viu que Aura estava fazendo
beicinho com as bochechas infladas.

“Isso parece meio pervertido.”

“Ah, d-desculpe...”

Ela tem razão...

Ainz se amaldiçoou por fazer algo assim na frente das crianças. Isso teria um efeito ne-
gativo em sua educação sexual. Fôra por isso que ela se dirigira a ele no mesmo tom que
sua velha amiga fazia quando estava com raiva de seu irmão mais novo.

“Então Albedo, Aura. Por favor, levante-se. Ah, Albedo, vamos continuar discutindo esse
assunto a partir de agora.”

No entanto, não houve movimento.

Ambas permaneceram imóveis. Elas estavam esperando o outro lado sair primeiro.

“Haja paciência...”

Ainz pegou Aura e a colocou no chão ao lado dele. Uma risada calma de “Kufufufu~”
veio do lado de Albedo.

“...Aura foi quem se sentou primeiro. Albedo, é melhor você se levantar também.”

“Mas, mas... Aura está sentada há três minutos e quarenta e um segundos. Eu só estou
sentada há cinquenta e sete segundos. Embora possa parecer insensato, acredito que
deveria poder sentar-me por mais três minutos.”

“Mas Albedo, você está aqui há muito mais tempo que eu.”

“Não era evitável, pois foram assuntos relacionados ao trabalho.”

“Ah, trabalho, né? Só por isso? Eu vim até aqui só para ver o Ainz-sama, e nada mais.”

“Gh!!”

Albedo balançou as nádegas na coxa de Ainz, ajustando sua posição para encarar Aura
nos olhos.

Ainz pensou:

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


3 9
Até posso adivinhar o porquê a Albedo queira se sentar na minha coxa, mas por que a
Aura quer fazer isso? Não é como se ela me “amasse” como a Albedo...

Ele não conseguia lembrar o que tinha feito que levaria uma garota como Aura a ter tais
sentimentos. O sentimento chamado amor deveria ser um mistério para Aura. E então
— Ainz finalmente encontrou a resposta.

Entendo. Então ela está sendo possessiva.

Além disso, ela pode desejar o amor paterno. Aura e Mare foram concebidos como cri-
anças, e eles ainda estavam em uma idade que seriam mimados por seus pais. Talvez
eles estivessem inconscientemente olhando Ainz para preencher essa lacuna em seus
corações.

Se houvesse um país de Elfos Negros, ele considerara a possibilidade de enviá-los para


fazer amigos. No entanto, Suzuki Satoru jamais recebeu o amor de seu pai, então ele sen-
tia que era um pouco tarde demais para isso.

Eu me pergunto se há livros para educação sexual infantil na biblioteca?

Estava tudo bem quando eram apenas dados. Mas como acabou de pensar, notou que
ainda havia algumas coisas faltando para o crescimento mental saudável de Aura e Mare.

Como eu pensei, eles realmente precisam fazer amigos Elfos Negros! Vamos fazer disso
uma prioridade. Sendo esse o caso—

“Aura. Há algo que gostaria de perguntar; o que aconteceu com as três Elfas que deixei
com você e o Mare?”

“Tá falando daquelas Elfas que puseram os pés em Nazarick, mas que foram perdoadas
por sua misericórdia, Ainz-sama?”

Ainz assentiu.

Na ocasião da invasão planejada dos Trabalhadores, Ainz entregou as escravas Elfas


para Aura e Mare. Normalmente, qualquer um que entrasse em Nazarick sem convite
não teria permissão para sair com suas vidas. Mas elas não foram lá por vontade própria,
e não tinham intenção de pegar os tesouros de Nazarick por conta própria. Sendo esse o
caso, era razoável mostrar-lhes alguma medida de bondade.

Além disso, se fossem Elfos da Floresta, provavelmente teriam um efeito benéfico no


desenvolvimento de Aura e Mare.

“Sim. Estão lá no nosso Andar.”

“Em qual parte?”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


4 0
“Bem, como direi isso... elas não têm nada pra fazer, mas ficam o tempo todo querendo
cuidar de nós. É um pouco chato ter isso o tempo todo.”

“Is-isso mesmo. A-até com as roupas. Eu posso me vestir, mas elas continuam vindo
para me ajudar...”

“Você tem que ficar firme com elas, Mare. Elas ficam tentando te vestir porque você age
desse jeito. Olhe pra mim, acha que elas tentam fazer isso comigo?”

Entendo, estão tentando cuidar deles. Assim como as empregadas a minha volta. Eu sinto
sua dor, Mare. Pelo menos isso significa que as três não são completamente inúteis, afinal.
Seria ruim para as ex-escravas ensinarem educação sexual? Hm~

“Bem, nós salvamos suas vidas. Não as mate por impulso, mesmo que seja enervante.
Mas se realmente achar que forem problemáticas, diga-me e vou enviá-las para outro
lugar.”

“Pode deixar! Qualquer coisa eu aviso.”

Ainz olhou para Mare, que estava com a cabeça abaixada e murmurou “vejamos” para
si mesmo. Então, ele olhou de forma um pouco fria para Albedo.

“Albedo, está na hora de sair. Passam-se mais de três minutos.”

Albedo pareceu desapontada por um momento, mas ela ainda obedientemente saiu da
coxa de Ainz sem dizer nada.

“A propósito, o que vocês dois estavam fazendo, Ainz-sama?”

“Hm? Ahhh. Eu reuni sugestões de muitos em Nazarick sobre como melhorar este país.
Ah, claro. Vocês dois também. Se tiverem boas idéias, o que acham de dizer? Eu vou ouvir
qualquer coisa, sabia?”

O rosto de Aura se iluminou.

“Se é assim, Ainz-sama! Então eu tenho uma grande idéia!”

“Hohoh— E o que seria, Aura? Vamos, me diga.”

“Sim! Eu acho que os meninos devem se vestir como garotas e as garotas devem se ves-
tir como garotos!”

Bukubukuchagama—!

Ainz gritou o nome de sua antiga camarada de guilda internamente.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


4 1
Por um momento, Ainz chegou a ver a imagem fantasma de um Slime rosado dizendo
“Des-culpe~!” em uma voz adorável que estava completamente em desacordo com sua
aparência.

“Entendo. Então essa foi a idéia da Bukubukuchagama-sama. É certamente uma exce-


lente proposta. Além disso, neste país, qualquer decisão dos Seres Supremos certamente
será a correta.”

Correta?

Ainz queria questionar Albedo, mas ele não podia fazer isso.

De todo modo, era preciso vetar essa idéia. Mas havia um problema com isso.

Os dois apenas se vestiram assim porque Bukubukuchagama os projetou dessa maneira.


Se Ainz negasse a idéia de Aura, ele teria que explicar o motivo exato para os outros.

Ainz não conseguia pensar imediatamente em tal explicação.

“Ainz-sama. Devemos implementar a sugestão da Aura imediatamente?”

Por que está aceitando a decisão tão rápido!?

Ele estava sem tempo.

Se ele concordasse com essa sugestão, estaria declarando a todas as partes dentro e
fora do país que o Reino Feiticeiro de Nazarick era uma nação que valorizava o cross-
dressing. Isso seria incrivelmente ruim. Talvez apenas Bukubukuchagama estivesse in-
teressada nisso. Não, se Bukubukuchagama estivesse neste mundo, Ainz sentia que ela
definitivamente não iria querer fazer um país assim.

Se soubessem que os NPCs desenvolveram seus próprios egos, algumas pessoas ficariam
intrigadas e desejariam conhecê-los, enquanto outros gostariam de evitá-los. Bukubuku-
chagama provavelmente cairia no último grupo. Yamaiko e Ankoro Mochimochi provavel-
mente gostariam de conhecê-los. Enfim, elas são bem diferentes, apesar de todas serem
mulheres...

Enquanto ele relembrava suas antigas amigas, Ainz levantou-se lentamente e olhou
pela janela. Claro, essa ação não tinha significado especial. Ele estava simplesmente ten-
tando ganhar tempo. Uma vez que teve uma idéia aproximada do que pronunciaria, Ainz
se virou encarando os três.

“Eu não posso permitir essa idéia.”

“M-mas por quê?”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


4 2
Claro que perguntaria isso... Quero dizer, dar máscaras para solteiros no Natal ainda seria
uma lei melhor do que isso...

Ainz suspirou. Claro, essa ação não tinha significado especial. Ele estava simplesmente
tentando ganhar tempo.

“Há muitas razões complexas para isso, Albedo. Você precisa de mim para explicar to-
das e cada uma delas?”

“S-Sim. P-por favor, se o senhor não se importar.”

Ainz estava planejando dizer isso para Albedo, mas foi Mare quem pediu.

Ele é sempre tão dócil; por que está sendo tão perverso agora?

Ainz pensou com tristeza. Se fosse Albedo, ela teria definitivamente dito: “Não há ne-
cessidade disso. Permita-me explicar a vocês dois em nome de Ainz-sama”. Mas sob essas
circunstâncias, Ainz tinha que fazer isso sozinho.

“...Tudo bem. Eu explico. Mas de onde devo começar para facilitar a compreensão...?”

Ainz disse “Uhum”, e apoiou o queixo com a mão. Escusado dizer que também foi para
comprar tempo. Ainz se forçou desesperadamente a pensar, com tanto entusiasmo que
achou que seu cérebro começaria a suar, e então uma idéia lhe ocorreu.

“—Primeiramente, ah, sim, deveria ser isso. Vocês dois devem sentir que por estarem
vestidos dessa maneira, todo o país deve se vestir assim, estou certo? Afinal, vocês de-
vem sentir que essa foi a vontade da Bukubukuchagama-san. Porém, isso seria incor-
reto—Sim, vocês dois são especiais.”

“Somos especiais!?”

“Exatamente. Vocês dois são especiais para a Bukubukuchagama-san. É por isso que
têm permissão para se vestirem dessa maneira... então pretendem conceder essa honra
para as muitas pessoas que sequer a conhecem?”

“Como poderíamos!?”

A pessoa que retorquiu tão alto foi — surpreendentemente — Mare.

“Nunca! Eu nunca deixarei ninguém além da Nee-chan ter essa honra que a Bukubuku-
chagama-sama nos deu!”

“Is-isso mesmo. É assim que é. Entende agora, Aura?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


4 3
“Sim! Eu fui tão estúpida que não pensei em como a Bukubukuchagama-sama se sentia!”

“Além disso...”

Aura e Mare já haviam aceitado esse raciocínio. Seria bom sair cuidadosamente do as-
sunto. Mas ainda havia mais uma coisa que preocupava Ainz.

Albedo murmurou alguma coisa sobre “Rejeitamos alguns”, e ele a espiou enquanto
murmurava.

Alguém tão extraordinária quanto ela provavelmente teria pensado mais à frente do
que Ainz. Ela vai achar estranho se o assunto morrer agora? Isso foi o que fez Ainz des-
confortável.

Quando seus olhos se encontraram, Albedo sorriu e depois inclinou o pescoço.

Não sabendo o significado disso, Ainz desviou os olhos. E então, se deparou com um
Elder Lich na frente dele. Ainz olhou distraidamente os documentos que ele estava se-
gurando.

“—Ahhh. Então o senhor estava pensando sobre isso também, Ainz-sama. Afinal, esse
foi o que o senhor mais olhou. Não deve haver problema em discutir isso com eles, não?”

Ainz se virou para Albedo novamente quando ela falou de repente.

“—Humm. Então você também pensou nisso, Albedo.”

“Sim. Estava em dúvida se o senhor a mencionaria, Ainz-sama. E creio que está pen-
sando se deve ou não explicar para os dois, estou certa?”

“Como esperado de você, Albedo. Conhece meus pensamentos sem a necessidade de


explicação.”

“O senhor é muito gentil.”

Albedo sorriu e abaixou a cabeça. Por outro lado, Aura encheu as bochechas com irrita-
ção.

“Ainda assim, fiquei em choque por não pensar dos desejos da Bukubukuchagama,
mesmo sendo algo essencial a se considerar. Como esperado do nosso criador, nosso
soberano. Eu nunca serei capaz de me igualar a suas sábias decisões, feitas considerando
inúmeros pontos de vista.”

“Não, não diga isso, Albedo. Tenho certeza de que você mostrará os talentos que exce-
derão o meu algum dia.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


4 4
Ela já me superou faz tempo.

Ainz sentiu vergonha de si mesmo ao pensar nisso, mas Albedo simplesmente assentia
com a cabeça cheia de convicção.

“Sim! Algum dia!”

“Então, quais outras razões existem?”

“Não entendeu, Aura? Albedo, explique para os dois. Torne mais fácil entender, assim
uma criança entenderá. Faça de forma didática.”

Depois que Ainz disse isso, ele ficou em silêncio e então olhou pela janela mais uma vez.
No entanto, todos os esforços de seu corpo estavam concentrados em ouvir, pois não
queria perder uma única palavra que Albedo dissesse.

“Certamente. Acontece que eu já queria tratar isso com o Ainz-sama quanto antes. O
fato é que um pequeno problema surgiu.”

“Ehhh? Alguém te causou problemas? Quer que a gente vá lá e acabe com ele?”

“Não, não é bem assim. Na verdade, descobrimos que nossos estoques podem não ser
suficientes para o futuro. Ou seja, se ordenássemos que todos trocassem de roupa agora,
seria algo bem problemático, pois só poderiam trocar roupas usadas.”

É sério isso!?

Claro, Ainz não podia dizer. Tudo o que ele podia fazer era desesperadamente tentar
lembrar o conteúdo dos documentos que acabara de ver.

Sim, continha algo sobre recursos, mas a quantidade parecia bastante adequada. Mas já
que Albedo disse isso, então deve ser verdade.

Isso é tão ruim assim? Bem, se esse é o caso, não é só simplesmente comprar mais do Reino
ou do Império? Uma cidade como esta deve ter capital suficiente para isso, não?

Albedo respondeu diante das dúvidas imaginadas por Ainz.

“Esta cidade era um excelente depósito de recursos e funcionava como uma cidade co-
mercial. Mas desde que o Ainz-sama assumiu o controle, os comerciantes dos outros três
países raramente nos visitam. O que levou a uma diminuição constante dos recursos, e
com poucos meios de reabastecê-los.”

“Se a gente não tem, então é só pegar de outro lugar. Que tal do Império ou do Reino?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


4 5
“Onee-chan, nós, nós não podemos fazer isso. Ah, A-Ainz-sama disse que éramos proi-
bidos de usar a força nesses três países, não?”

Ele tinha razão. Embora não soubesse sobre o futuro, Ainz havia colocado uma proibi-
ção geral do uso da força militar até que assumisse totalmente o controle da cidade. Claro,
se o outro lado atacasse primeiro, isso era um assunto completamente diferente.

“Então, o que devemos fazer?”

“Er, erm, não precisamos nos preocupar. Afinal, A-Ainz-sama vai resolver isso.”

Vai despejar tudo em cima de mim agora?

Ainz queria refutar Mare com isso, mas se forçou a não o fazer. Depois que Aura res-
pondeu a Mare com: “Isso aí!”, ele não conseguiu trair a confiança que aquelas duas cri-
anças depositaram nele.

Mas um mero funcionário como Ainz não poderia pensar em uma política financeira
adequada. Por causa disso, Ainz decidiu jogar um de seus dois trunfos.

Ainz se virou lentamente e disse com confiança:

“—Albedo. Você está cuidando disso, não é?”

Em outras palavras, ele iria despejar tudo em outra pessoa talentosa (Albedo) e acabar
com isso.

“Sim. Logo mais as sementes que o Demiurge plantou devem estar prontas para serem
colhidas.”

“Então. Vocês dois não têm com o que se preocupar.”

Seus olhares brilhantes de respeito e adoração fizera Ainz sentir uma pontada de culpa.
Ao mesmo tempo, o medo de ver os olhares de decepção em seus olhos quando desco-
brissem que tudo isso era falso criou raízes em seu coração.

Ainda assim, típico do Demiurge. Eu não sei quais sementes ele plantou, mas ele é real-
mente incrível.

Ainz queria perguntar sobre o plantio, mas ele não podia.

Isso porque Ainz Ooal Gown deveria se comportar como a luz da sabedoria.

Eu sei que deveria ter estudado economia, mas só consegui folhear aqueles livros compli-
cados... eles deveriam ter feito aqueles sobre economia keynesiana e assim por diante, são
mais fáceis de entender. Ou será que eu não consegui por causa da minha idade?

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


4 6
Ainz era completamente versado na mecânica de YGGDRASIL. Este não era um orgulho
ocioso; ele aprendeu mais de 700 magias e memorizou os detalhes de cada uma delas,
uma façanha que chocou seus amigos. Mesmo as magias que ele não aprendeu, ainda
assim se tornaram armas para ele ao ler os pontos fortes de seus oponentes, uma vez
que ele soubesse quais. Foi por isso que Ainz fez o seu melhor para memorizar todas as
magias. Ele estava facilmente entre os cinco primeiros entre seus companheiros de gui-
lda quando se tratava de conhecimento mágico.

Ainda assim, mesmo ele podendo ter feito isso, ele era completamente ignorante sobre
os acadêmicos.

Eh? Será que não consigo me lembrar de mais coisas porque não tenho cérebro?

Ainz sabia que ele tinha aprendido muitas coisas desde que veio a este mundo, então
sabia que isso era impossível. Ainda assim, ele tremeu um pouco com essa teoria assus-
tadora.

“Ah, sim, eu tenho uma questão que requer sua aprovação, Ainz-sama...”

“—O quê? Aprovação?”

Ainz sentia que as sugestões que Albedo fizesse não requereriam sua aprovação. Afinal,
ela era uma mulher inteligente e certamente faria escolhas melhores que as dele. No en-
tanto, se esse fosse o caso, uma organização não seria capaz de funcionar corretamente.
Afinal, as pessoas no topo tinham que assumir responsabilidade pelas ações de seus su-
bordinados. Por causa disso, parece que os superiores tinham que conceder selos de
aprovação dessa maneira.

“Alguém deve visitar a Capital Real para incitar esses humanos. O senhor permitiria que
eu, como sua serva, fosse?”

“Quê!?”

Ainz foi pego completamente de surpresa, e exclamou mais alto que o normal.

Mandar Albedo sair enquanto Demiurge não estava por perto fez Ainz se sentir muito
desconfortável. Além disso, seu controle sobre essa cidade não era perfeito.

Mais do que qualquer outra coisa, a razão pela qual isso foi tão chocante foi porque essa
foi a primeira vez que Albedo falou algo assim.

“...Se eu te mandar para fora... eu ficaria bastante perturbado...”

“Ara~”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


4 7
Albedo sorriu de prazer antes de continuar:

“Vai ficar tudo bem, Ainz-sama. Resolverei quanto antes as questões e voltarei para o
seu lado.”

“Mesmo... bem, se for algo rápido, tudo bem. Quem receberá o controle de Nazarick e
da cidade?”

Aura e Mare pareciam bastante surpresos, então obviamente não eram eles.

Espero que não seja eu.

Ainz pensou esperançoso.

“Eu pretendo confiá-los ao Pandora’s Actor.”

Aura e Mare disseram algo do tipo: “Tudo bem se for ele”.

“...Ele.”

“Por ter sido criado pelo senhor, afirmo que ele possui excelência, Ainz-sama. Como
dizem, tal pai, tal filho— Me perdoe, por favor. Pensar que nós, que fomos meramente
criados, ousaríamos dizer ser os filhos dos Seres Supremos. Eu rezo para que perdoe
minha grosseria.”

O repentino pedido de desculpas de Albedo surpreendeu Ainz — até os pontos verme-


lhos de luz em seus olhos se desvaneceram.

“Não precisa se desculpar. Isto é, bem, ele é meu filho... Desculpe. Eu não desgosto dele,
isso, hm... mas ele é uma criança tola... não, isso não é culpa dele... Bem, como devo dizer.
Ele é como uma criança. Uhum.”

Antes que percebesse, todos ficaram quietos. Ainz sabia que a conversa iria acabar se
isso acontecesse, então ele se fortaleceu e perguntou:

“Se deixarmos o Pandora’s Actor gerenciar isso, o que acontecerá com Momon, quem
irá interpretá-lo? Eu deveria fazer isso?”

“Não, como poderíamos deixar o senhor fazer esse tipo de coisa, Ainz-sama? Eu estava
planejando que o Momon aceitasse um pedido e fosse mandado para fora em alguma
missão de reconhecimento.”

Mm.

Ainz assentiu. Embora ele pensasse em relaxar assumindo o disfarce de Momon, as coi-
sas agora eram muito diferentes de quando ele estava fazendo o papel de um aventureiro.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


4 8
Haveria muitas coisas problemáticas, ou coisas que tinham que ser cuidadosamente
tratadas. Sendo esse o caso, enviar Momon em uma missão de reconhecimento pode ser
a melhor escolha.

“Ah, s-sobre isso... se enviar Mo-Momon-sama para fora, como as pessoas na cidade vão
se comportar?”

“Vai tudo ficar bem. Aquele único movimento do Ainz-sama teve um grande impacto
aqui. Pois não banalizamos os seres humanos — embora quase não houvesse qualquer
intenção de fazê-lo —, Momon se tornou profundamente confiável. Assim, tudo o que
precisamos fazer é mandar o Momon dizer aos líderes locais para nos obedecer antes
que ele saia e tudo ficará bem. E por falar nisso, eles não têm idéia de que são marionetes
sendo manipuladas por nossos cordéis, regidos pelo Ainz-sama... Como eu pensava, só
ele poderia ter antecipado essa virada de eventos logo depois de ter sido transportado
para cá e feito os preparativos apropriados.”

“Mm— é meio estranho, como eles confiam no Momon-sama, mas não em Ainz-sama.”

“Realmente. Ainda assim, esta é uma parte importante em controlar completamente


esta cidade pacificamente. Tudo o que precisamos fazer é remover gradualmente o Mo-
mon e instilar lealdade ao Ainz-sama. Isso pode levar vários anos, mas não podemos evi-
tar.”

“Ótimo. Então, Albedo, deixe isso para o Pandora’s Actor. Depois de se preparar e en-
tregar suas tarefas, vá e colha a colheita. Há algo mais que precise?”

“Entendido. Planejo conduzir algumas negociações quando for ver o rei dos humanos.
O senhor poderia guardar um pouco do seu precioso tempo para revisar um rascunho
comigo?”

“Uhum. Traga-os para mim mais tarde.”

Bem, tudo o que ele iria fazer poderia ser resumido em algo simples como colocar seu
selo no rascunho de Albedo.

“Bem, embora me envergonhe perguntar, ficaria encantada se o senhor pudesse me dar


algumas roupas. Eu estava simplesmente pensando que seria necessário trocar de roupa
lá.”

“Sendo assim. Então eu lhe darei vários conjuntos de roupas da minha coleção. Venha
me procurar mais tarde. Falando nisso, o Demiurge— não, não há necessidade. Está bem.
Então, vamos continuar... hm, já que vieram até aqui, eu gostaria de ouvir vocês dois
também.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


4 9
Parte 2

Depois que seus negócios foram concluídos, os três saíram da sala com os Elder Liches,
deixando Ainz e Fifth. E, claro, os Eight-Edge Assassins no teto.

Para ser honesto, Ainz não tinha mais trabalho para fazer hoje. O resto do dia seria ba-
sicamente tempo ocioso. E os assuntos que foram resolvidos mais cedo foram tecnica-
mente simples, assim que terminaram, ele se viu completamente livre. Enquanto pen-
sava sobre o que fazer com seu tempo, Ainz de repente pensou em algo e levantou-se.

“Eu visitarei o Pandora’s Actor.”

Com essa ordem, Ainz se adiantou. Fifth seguiu em silêncio. Naturalmente, o mesmo
aconteceu com os Eight-Edge Assassins.

Uma vez que deixou sua casa, ele notou que o ar livre ainda estava fresco, como condi-
zente com a estação. O vento tinha um toque de frio, mas Ainz estava completamente
imune ao frio. Depois de olhar para Fifth para ter certeza de que ela estava bem, ele con-
tinuou andando.

Este distrito continha três tipos de edifícios: a residência de Ainz, todos os tipos de es-
truturas governamentais, bem como casas de hóspedes. Pandora’s Actor— não, Momon
morava em uma dessas casas de hóspedes.

Normalmente, ele teria convocado Momon diante dele como condizente com seu status
de governante, mas mudou de idéia quando ponderou um pouco mais.

“—Hum? O que é isso?”

Ainz murmurou enquanto se aproximava da casa de hóspedes. Ele estava olhando para
os estábulos que continham a casa de hóspedes em questão. A palavra “estábulo” impli-
cava que seria usado para guardar cavalos, mas agora a única ali era Hamsuke. Ou me-
lhor, era assim que deveria ter sido.

Um tanto confuso, Ainz se aproximou dos estábulos, e ouviu um silencioso *hyu~ hyu~*
de ronco. O sono era um privilégio de criaturas vivas, então Hamsuke deveria estar den-
tro.

O sol já estava bem alto no céu, mas Hamsuke ainda estava dormindo.

Hamsuke podia ver no escuro como um gato, mas, segundo Hamsuke, ela não era nem
diurna nem noturna. Ela comia e dormia novamente até acordar com fome. Esse era o
seu modo de vida.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


5 0
Quando Ainz ouviu pela primeira vez sobre isso, ele se perguntou: “Que parte disso soa
como um Sábio Rei da Floresta”. Ele se sentiu um tolo por esperar que ela se comportasse
como um ser inteligente.

“Ela não nos notou, apesar de estarmos tão próximos. Ela perdeu seus instintos ani-
mais? Francamente... é uma preguiçosa. Não, talvez ela tenha trabalhado durante a noite.”

“Esse não é o caso. Hamsuke-sama esteve aqui também ontem.”

“...Entendo.”

Ainz queria falar com Hamsuke apesar das palavras impiedosas de Fifth, mas ele não
conseguia pensar em nada para dizer.

Bem, ela é apenas um animal de estimação. Eu que não deveria ter esperado nada dela.
Não importa se ela se permitiu cair para esse nível... ainda assim, estou ocupado com todos
os tipos de coisas, mas ela está aqui solenemente. Isso realmente me irrita... embora eu
saiba que estou apenas descontando minha raiva em alguém.

Ele espiou para dentro dos estábulos e o hamster gigante estava dormindo no chão de
maneira desprotegida. Tudo o que ela precisava agora era uma bolha gigante do nariz e
seria a própria imagem de uma dorminhoca.

No entanto, havia algo mais que chamava a atenção de Ainz, além da maneira como
Hamsuke estava dormindo como uma tia de meia-idade (embora seu corpo não devesse
permitir isso).
[Cavaleiro d a M o r t e ]
Havia um Death Knight e a calda de Hamsuke estava enrolada em sua cintura. A princí-
pio, essa criatura undead deve ter sido o que atraiu a atenção de Ainz para este estábulo.

Já que era uma criatura undead que ele havia feito, havia um vínculo entre eles e assim
ele poderia julgar sua localização aproximada. No entanto, agora havia muitos undead
em E-Rantel, de modo que esse senso específico se tornou confuso.

Com toda a honestidade, foi muito difícil para ele discernir minuciosamente a localiza-
ção dos undead que ele havia feito. Mesmo assim, Ainz não se lembrava de posicionar
um nos estábulos, daí a sua confusão em detectar uma reação undead aqui.

“Acorde, Hamsuke.”

“Muuu, sim....”

Seus olhos piscaram como os de um ser humano enquanto seu grande rosto se movia,
e então ela avistou Ainz.

“Ohhhh! Eu estava me perguntando quem era, mas, como se vê, é Milorde!”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


5 1
“Não importa se sou eu. Normalmente você deveria estar me chamando de Ainz-sama,
esqueceu? Afinal, você é a corcel de Momon, não meu.”

“Claro que sim, Milorde!”

“Tá bom... bem, contanto que você entenda...”

Dito isso, a reação de Hamsuke fez Ainz pensar:

Você realmente entendeu?

Além disso, os animais mágicos não eram particularmente resistentes ao controle men-
tal. Por isso, Ainz emprestou um item a Hamsuke que a tornou impermeável ao controle
da mente, mas ele ainda estava desconfortável que alguém pudesse tentar manipulá-la
através de outros meios que não a magia.

“Bem, já que não cometeu nenhum erro até agora, eu confio em você. Então, indo direto
ao ponto. O que há com esse Death Knight?”

“Ohhh! Ele é um amigo que treina com este aqui, Milorde!”

Foi então que Ainz se lembrou.

Ele havia conduzido um experimento, ensinar Artes Marciais enquanto Hamsuke estava
recebendo treinamento para ser uma guerreira. Em outras palavras, ele usou esse Death
Knight para ver se poderia continuar ganhando níveis como um guerreiro.

Ele havia equipado o Death Knight com artefatos que aumentaram o ganho do XP, mas
isso o enfraquecera muito. E ainda assim, no fim, o Death Knight não ganhou nenhum
nível. Ainz havia antecipado esse resultado, mas ele não estava zangado. Mas por algum
motivo, Hamsuke vivia falando sobre o Death Knight e quando o experimento terminou,
ele pegou de volta os artefatos e deixou o Death Knight com ela.

Então esse é o... Pensando nisso, os pontos em sua armadura parecem arredondados para
baixo... Eu não o emprestei para ser um dakimakura, mas porque eu queria que ele se tor-
nasse um guerreiro, ou talvez dominar alguma técnica... Bem, não importa. Há Death
Knights de sobra para suprir qualquer demanda. Dar um não vai fazer falta.

Na verdade, havia Death Knights mais do que suficientes, tanto que Ainz não fazia mais
Death Knights quando criava seus undeads rotineiramente.

“Então é por isso. Compreendo. Ainda assim, você costumava ser uma fera mágica sel-
vagem. É bem alarmante que não perceba alguém chegar tão perto. Nós não somos tão
furtivos quanto a Aura, somos? Não deveria estar levando isso um pouco mais a sério?”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


5 2
Hamsuke parecia deprimida e seus bigodes ficaram murchos.

“Este aqui pede sinceras desculpas. Este aqui costumava ser a criatura mais forte na-
quela floresta. Este aqui nunca precisou estar em alerta porque este aqui nunca foi em-
boscado antes.”

“Você deveria ter tido um período... infância... ou algo assim, não? Mas antes disso, não
existia o Gigante do Leste e a Serpente Demônio do Oeste?”

“Quem são? Esses senhores... Leste? Oeste? De quem o senhor fala?”

Um ponto de interrogação apareceu na cabeça de Ainz.

“...Eles eram seres que reivindicaram a floresta, assim como você.”

“Hoho~ Este aqui nem sabia que existia isso naquela floresta! Como esperado do se-
nhor, Milorde! Sua percepção é de fato aguçada. Este aqui sabia pouco fora do território
deste aqui.”

“Você... você se chama o Sábio Rei da Floresta e ainda é...”

“No passado, um guerreiro humano que invadiu o território deste aqui se dirigiu a este
aqui de tal maneira. Então este aqui poupou o guerreiro, e somente ele, pois este aqui
achou que o nome soava bastante impressionante. Ah, que nostalgia—”

Ainz sentiu que finalmente havia resolvido o mistério.

Depois que o guerreiro voltou vivo, ele deve ter exagerado muito as histórias de seu
inimigo, Hamsuke. Provavelmente foi uma maneira de justificar sua própria sobrevivên-
cia quando todos os seus companheiros morreram.

Isso também não foi difícil de entender. Pois de fato, Hamsuke era muito forte para os
níveis deste mundo. De todos os guerreiros humanos que Ainz conhecera, talvez apenas
Clementine e Gazef pudessem ter vencido Hamsuke.

Ainz de repente se lembrou de Gazef.

“Ohh? Aconteceu algo, Milorde?”

“Não é nada. Apenas... sim... é só que você não se qualifica como um Sábio Rei da Floresta,
apenas um Hamster da Floresta.”

“Hamsters...— me lembro, o senhor falou dessas criaturas antes, Milorde! Então este
aqui é realmente um hamster?”

“Uhum. Você é um hamster gigante.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


5 3
“Ohhh! Então este aqui é na verdade um hamster gigante! Então, o senhor sabe onde
encontrar outros membros da espécie deste aqui, Milorde?”

“Não sei.”

Depois daquela resposta curta, Hamsuke caiu em desesperança mais uma vez.

Eu fui muito severo?

Ainz pensou e tentou consolá-la dizendo:

“Eu garanto a todos que servem a Nazarick recompensas apropriadas pelo serviço pres-
tado. Se continuar trabalhando para Nazarick, algum dia encontrarei companheiros de
sua espécie para você.”

“Ohhhh!”

Os bigodes de Hamsuke saltaram quando ela se levantou.

“Embora este aqui já fosse leal a Milorde, este aqui servirá ainda mais lealmente a partir
deste dia!”

“Uhum, Uhum. Então, Hamsuke, sobre Momon— não, o Pandora’s Actor está dentro da
casa de hóspedes?”

“O sósia de Milorde? Este aqui não tem certeza. Afinal de contas, ele frequentemente
monta nas carruagens que os humanos desta cidade preparam para ele, e nem sempre
leva este aqui com ele.”

“Ah, se me lembro bem, ele usa esse tipo de transporte para compartilhar informações.”

Kuku~

Ainz riu maldosamente.

Tudo se desenvolveu como ele havia previsto. Sob o disfarce de compartilhar informa-
ções, as pessoas diriam coisas para Momon que eles queriam manter em segredo de Ainz,
ou talvez pudessem induzir uma intriga entre Momon e Ainz. No entanto, na verdade
eles que seriam envenenados pelos pensamentos de Pandora’s Actor.

Que Ainz era um rei digno de confiança, um ser misericordioso que pensava no povo e
assim por diante.

“Compreendo. A propósito... você parece poder usar armadura agora. Se não tem nada
para fazer, que tal colocá-la e treinar?”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


5 4
O protótipo da armadura deve estar completo.

“Este aqui entende, Milorde! Então, este aqui também gostaria de ver aqueles Lizard-
men-donos, se possível.”

“Muito bem. Eu concederei seu desejo. Informarei o Cocytus depois e mandarei alguém
aqui.”

“O senhor tem meus agradecimentos eternos, Milorde. Venha, Death Knight-dono! Va-
mos trabalhar arduamente juntos!”

Ainz não prestou atenção à amizade ardente entre uma fera e um cadáver e seguiu em
frente.

Atrás de Ainz havia uma voz que dizia algo como “Urg— faça silêncio, que chato!”. Mas
ele não conseguia pensar no que o Death Knight poderia dizer. Embora Ainz estivesse
vagamente interessado no que Hamsuke estava fazendo, ele logo descartou o pensa-
mento.

Falando nisso, se me lembro bem, acho que dei algo a Hamsuke... Faz tempo já... sinto que
esqueci o que era. Ah, bem, se não consigo lembrar o que é, não deve ser algo tão impor-
tante assim.

A cabeça de Ainz estava cheia desses pensamentos que não conseguia articular. A sen-
sação era semelhante ao esperar por um espirro que não viria. Ele chegou diante da
porta da casa de hóspedes, mas obviamente não tomaria iniciativa para bater. Fifth, que
seguia atrás de Ainz, avançou imediatamente diante dele.

“Abra.”

“Entendido, Ainz-sama.”

Fifth parecia terrivelmente séria quando abria a porta, mas o canto de sua boca parecia
um pouco relaxado. Isto deve ter vindo da satisfação que ela sentia em poder ajudar Ainz
de alguma forma.

Ainda bem que observei o Jircniv. Eu realmente me tornei um governante adequado. Me


sinto mal por ele, mas vou continuar o observando. Afinal, é para me ajudar a aprender
como é ser um Rei.

Ainz não agradeceu a Fifth, mas olhou para a porta aberta.

“—Eight-Edge Assassins.”

“Sim! Prontos para suas ordens!”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


5 5
Os Eight-Edge Assassins que estavam seguindo atrás de Ainz se formaram rapidamente
em uma linha.

“—Vão.”

“Sim!”

Suas mandíbulas se abriram e fecharam, e então os Eight-Edge Assassins alinhados, res-


ponderam com uma voz que parecia mais forte do que o normal antes de entrar na edi-
ficação. Apenas Pandora’s Actor deveria estar nesta casa de hóspedes. Às vezes Narberal
estava aqui, mas na maior parte do tempo, ela estava na Grande Tumba de Nazarick,
cumprindo as ordens de Ainz.

Ele poderia ter deixado uma empregada regular aqui, mas seria problemático se as pes-
soas que viessem visitar Momon pensassem que estavam sendo observadas. Assim, tudo
chegara a isso. No entanto, se Pandora’s Actor estivesse sozinho, havia a possibilidade
de que as pessoas que fizeram a lavagem cerebral em Shalltear pudessem se infiltrar.
Assim, Ainz sentiu que era melhor estabelecer algumas contramedidas.

...Mas para que isso aconteça, alguém precisaria se infiltrar até aqui. Bem, apenas os tolos
não se preparam o suficiente... Mm— quanto tempo vou ter que esperar? Ou devo seguir
em frente? Pelo bom senso, devo esperar aqui. Afinal, os Eight-Edge Assassins retornarão a
mim. Mas um Rei realmente deveria esperar na porta?

Depois de hesitar um pouco, Ainz pensou:

Ah, que se dane.

E entrou na casa de hóspedes.

Ele avançou, usando o porte régio e apropriado que havia praticado dezenas de vezes,
de uma maneira que ele achava mais adequado a um governante.

Mas em menos de 20 passos, um dos Eight-Edge Assassins retornou e fez a genuflexão


ante Ainz.

“Ainz-sama, nós contatamos o Pandora’s Actor-sama. Ele se apresentará ao senhor em


breve.”

“Certo. Então vou esperar na sala de hóspedes.”

Ainz tinha estado nesta casa antes, então Ainz tinha uma idéia aproximada dos cômodos.
Depois que Fifth abriu a porta para ele, Ainz se moveu sem hesitação para o assento
principal na sala de hóspedes.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


5 6
Isso violava muitas das maneiras que ele havia aprendido como assalariado e sentia-se
errado ao fazê-lo. Ainda assim, esta foi uma tarefa fácil para Ainz, que passou muito
tempo praticando para ser um governante.

Pouco depois, uma batida veio da porta. Ainz acenou para Fifth.

Tendo recebido permissão, Fifth abriu a porta e Pandora’s Actor entrou. Ele não estava
usando magia para aparecer como Momon, mas estava em seu uniforme militar de cos-
tume.

“Ooh, meu Supremo, meu criador, Ainz-sama—”

“Não precisa me cumprimentar. Sente-se.”

“Sim!”

Ele bateu continência antes de continuar.

Seus movimentos foram tão suaves e enérgicos quanto os de um soldado, mas para Ainz
eram totalmente desnecessários. A melhor palavra para descrever isso foi “overacting”.

E assim, Pandora’s Actor avançou para o lugar ao lado de Ainz e sentou-se.

As pessoas geralmente não se sentam em frente uma da outra?

Todos possuíam uma área ao redor chamada de espaço pessoal, mas Ainz não pôde dei-
xar de encarar o blitzkrieg impiedoso de Pandora’s Actor sobre ele.

...Bem, acho que está tudo bem. Mas ele está muito perto...

Ainz inspecionou de perto Pandora’s Actor quando ele se sentou. Ele não sentiu mais o
mesmo choque que teve quando o viu pela primeira vez na Tesouraria. Talvez a passa-
gem do tempo e os encontros rotineiros para ordens e afins tenham suavizado o impacto
ao vê-lo.

“Posso perguntar—”

“Não, não é nada, não se preocupe com isso. Bem, tenho algumas coisas para te pergun-
tar. Primeiro, gostaria de saber sobre a condição do Momon. Eu sei o que você já relatou
para a Albedo... então, há algum problema?”

“Parece que não há nada espec—”

“Certo. Ótimo. Então, eu gostaria de perguntar a você, como Pandora’s Actor, se há al-
gum problema do seu lado?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


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Capítulo 2 O Reino Re-Estize
5 8
O clima no ar mudou.

“Na verdade, Ainz-sama!”

Ainz recostou-se, como se a tremenda presença de Pandora’s Actor estivesse esma-


gando-o.

“Eu, estou em infortúnio!”

Só se for o meu Infortúnio, né!?

No entanto, Ainz não teve tempo de retrucar antes que Pandora’s Actor continuasse a
falar.

“Durante esse tempo, não consegui tocar em itens mágicos. Eu fui incapaz de cuidar dos
vários itens mágicos criados pelos Seres Supremos. A classificação de cristais de dados
também foi interrompida. Por favor! Não importa o que eu tenha que fazer, Ainz-sama!
Suplico-lhe que me conceda algum tempo com esses itens!”

“...Eu, eu projetei você desse jeito?”

“Sobre isso não há dúvida! Esses sentimentos foram concedidos a mim pelo senhor,
Momonga-sama!”

“...Ahhhhh.”

Ainz tentou desesperadamente lembrar a maneira como projetou Pandora’s Actor. Ele
se lembrava de ter lhe dado uma narrativa que afirmava que ele gostava de gerenciar
itens mágicos e coisas do tipo. A intenção original de Ainz era projetá-lo de tal maneira
que ele não achasse estranho ficar sozinho na Tesouraria — de fato, alguém poderia
considerar estar cercado pelas coisas que amava como um trabalho celestial. Assim, pa-
rece que as configurações de personalidade de Ainz eram a fonte do problema. No en-
tanto, por algum motivo, parecia que tal coisa havia atingido o nível de um fetiche.

“Mas já permiti que você retornasse à Nazarick todos os dias, não?”

Metade dos undeads de Nazarick foram feitos por Ainz, a outra metade foi feita por
Pandora’s Actor. É verdade que os undeads feitos pelo Pandora’s Actor eram mais fracos
que os feitos por Ainz, mas só até certo ponto. Ainda assim, isso estava dentro de parâ-
metros aceitáveis, e havia cadáveres adequados congelados no 5º Andar para esse pro-
pósito.

De fato, havia tantos deles que os dois trabalhando juntos não podiam usar todos.

“Sim, mas não recebi permissão para retornar à Tesouraria!”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


5 9
O que ele poderia estar sentindo que o fez omitir sua habitual teatralidade?

“Entendo. Informarei a Shalltear, ela também te dará o Anel. Além disso, concedo a você
permissão para trabalhar no armamento e no equipamento de meus companheiros. Não
os danifique.”

“Dies—”

“Pare com isso. Fale normalmente. Eu não te disse isso antes, hein, Pandora’s Actor?”

“Sim!”

“O relacionamento entre nós é de Criador e Criatura. E sim, estou muito feliz com a ma-
neira como vem trabalhando arduamente para cumprir meus desígnios. Mas, às vezes
me pergunto; os filhos não deveriam trabalhar para superar seus pais?”

“Ohhhh... Ainz-sama. E pensar que se referiria a mim como seu filho!”

“Uhum, certo. Você é, er, meu filho, ou algo assim. Isso... er, como devo colocar isso, pro-
vavelmente, er, deve ser o caso. Portanto, não há necessidade de usar alemão ou sauda-
ção ou ser tão dramático na minha frente. Já que eu te fiz, quero ver as partes de você
que não fiz, como uma prova de seu crescimento.”

Ainz olhou para trás ao ouvir alguém fungando, e viu que Fifth estava enxugando os
cantos dos olhos com um lenço.

Por quê?

Ela não está chorando por isso?

Assim que Ainz estava se sentindo confuso, Pandora’s Actor abaixou a cabeça.

“Eu entendo — Pai! Eu lhe mostrarei o que deseja ver, Pai!”

“...Oh.”

Isso foi uma má idéia, foi rápido demais. Embora fosse impossível, Ainz sentiu uma dor
de cabeça o pegando desprevenido.

“Pandora’s Actor. Você não deve contar a ninguém mais ninguém sobre o que aconteceu
aqui. Entendido? Se as pessoas souberem que está recebendo tratamento especial, isso
poderá resultar em atrito. Além disso— na verdade, por causa disso, colocarei você mais
baixo em minhas prioridades. Se chegar a hora de escolher entre ajudar você ou os Guar-
diões, eu abandonarei você.”

“Mas é claro! Por favor, me sacrifique como achar melhor!”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


6 0
Enquanto Ainz observava-o inflar o peito enquanto falava, um sentimento de culpa
cresceu no coração de Ainz.

“Sinto muito. E... Fifth. Não fale sobre o que aconteceu aqui.”

Depois de ver Fifth acenando em reconhecimento, Ainz assentiu também.

“Então, hora de ir.”

“Ah, sobre isso, poderia esperar um pouco? Como raramente nos encontramos, há um
assunto que gostaria de discutir, Pai. Posso saber como o senhor pretende governar este
Reino Feiticeiro?”

“O quê?”

“Muitos humanos têm dúvidas sobre o caminho em que pretende tomar este país, Pai.
Por exemplo, se o senhor deseja adotar uma política de expansão, eles temem que sejam
enviados para o campo de batalha, e assim por diante.”

Ainz ficou sem se mover.

Como seria a liderança de Ainz Ooal Gown?

Para começar, Ainz era apenas uma pessoa normal, mas ele havia declarado um objetivo
quase inacessível, conquistar o mundo. Ainz parou de pensar nisso e achava que seria
melhor entregar esse assunto para pessoas inteligentes como Albedo ou Demiurge.

Dito isso, a questão de como administrar esse país era uma questão que ele não podia
evitar.

“Algo está errado, Pai?”

“...Eu pretendo deixar você saber, mas ainda estou esboçando isso em minha mente.
Discutirei o assunto com os Guardiões de Nazarick e depois o informarei.”

“Siiim!”

Ainz levantou-se silenciosamente.

“Então isso é tudo, Pandora’s Actor.”

Depois de ouvir Pandora’s Actor se despedir, Ainz saiu.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


6 1
Antes de sair pela porta principal, ele enviou uma 「Message」 para Shalltear antes
que ele esquecesse, informando-a sobre o pedido de Pandora’s Actor. Se adiasse, ele pro-
vavelmente esqueceria mais tarde.

Uma vez que ele alcançou a porta, Ainz se moveu mais rápido que Fifth e abriu a porta
antes que ela pudesse fazer isso por ele.

Então, ele olhou para o céu.

Era um céu azul claro.

“Eu irei voando.”

Disse Ainz secamente. Embora as pessoas atrás dele começaram a entrar em pânico,
Ainz preferiu não lhes dar atenção.

Ainz flutuou no céu graças a magia 「Fly」 e, em seguida, pousou no telhado da casa de
hóspedes.

Como E-Rantel era uma cidade protegida por três camadas de muralhas, desse ponto
de vista, metade de seu campo de visão estava bloqueado pelas muralhas da cidade.

“Eu não posso ver daqui, né? Parece que vou ter que dar um passeio.”

Ele poderia pensar em algo se andasse pelas ruas. Ficar aqui significava que não havia
como ele pensar em nada.

Só então, as formas dos Eight-Edge Assassins — que haviam escalado as paredes —


apareceram diante de Ainz.

“Ainz-sama, por favor aguarde! É perigoso ir sozinho!”

Peroroncino, o arqueiro — que era o mais especializado em combate à distância dentro


da guilda Ainz Ooal Gown — provavelmente seria capaz de ferir Ainz de maneira severa.
Aquele homem poderia facilmente atacar mesmo há 2km de distância. Sua tática favorita
era se esconder e depois atirar em seu oponente —com um arco. Dito isto, mesmo que
seu oponente fosse Peroroncino, Ainz não tinha intenção de se permitir ser um brin-
quedo nas mãos da morte.

Ainz estava confiante de que poderia usar vários meios para se defender, escapar ou
contra-atacar. Ele havia aperfeiçoado suas habilidades através do PVP, e definitivamente
não morreria sem antes agir. No entanto, se ele tivesse que ser cauteloso com os métodos
de ataque que só existiam neste mundo, então sim, de certo modo os Eight-Edge Assas-
sins tinham razão.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


6 2
Ainz não poderia morrer agora. No mínimo, antes de testar a ressureição, era preciso
assumir que ele só tinha uma vida e preparou um escudo de carne para si mesmo.

Sua melhor e mais segura opção para esse trabalho era Albedo, cuja força defensiva era
a mais alta entre os Guardiões. Mas ele precisaria de pessoas para protegê-la também, o
que exigiria uma grande mobilização de forças. Ele não queria fazer isso a menos que
fosse com o propósito de atrair um ataque inimigo.

Se fosse esse o caso, a melhor escolha seria os vassalos descartáveis e de alto nível,
mas—

Eu não tenho monstros vassalos de alto nível. Mesmo se eu quisesse usar monstros merce-
nários, gastei muito dinheiro conjurando os subordinados para a Albedo, então eu não te-
nho dinheiro para invocar monstros casualmente.

Ele decidira fazer uma grande demonstração de gastos para provar sua generosidade,
e agora se arrependia vagamente de fazê-lo. Tudo o que ele podia fazer era se consolar
dizendo que precisava manter sua imagem como chefe.

Espere, melhor pensar nisso passo a passo.

Ainz listou várias possibilidades em sua mente.

• Monstros mercenários: Ele não tinha dinheiro, então eles estavam fora da lista.
• A habilidade 「Undead Lieutenant」: Exigia XP, então ele decidiu ignorar.
• Convocação via Cajado de Ainz Ooal Gown: O próprio fato de que ele tinha que
carregar a arma da guilda com ele significava que estava fora de questão.
• A habilidade 「Create Undead」: Mesmo que ele criasse undead de nível supe-
rior, eles seriam apenas o nível 70, no qual ele nem mesmo confiaria para escoltar
os Guardiões.

Não, eu ainda tenho um trunfo oculto.

Ele aprimorou suas habilidades de criação de undead através do uso de um ritual,


「Rite of Darkness」.

Ele só podia criar undeads de nível superior quatro vezes ao dia. No entanto, ele poderia
fazer undeads de nível 90 se contentasse em ter apenas dois usos por dia.

Ainz acariciou seu queixo e se perguntou que tipo de undeads fazer.

Tipos ladinos como os Eternal Deaths, ou tipos sensoriais como os Eyeballs...

Com certeza, os Eternal Deaths eram excelentes undeads para usar, mas eles tinham
uma habilidade passiva chamada 「Aura of Death and Decay」 que estava constante-
mente em efeito. Era uma habilidade potente que combinava os efeitos de Ainz

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


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「Despair Aura V (Morte Instantânea)」 e 「Despair Aura I (Medo)」, tornando-a uma
criatura que poderia infligir morte instantânea e aplicar penalidades ao inimigo. Em par-
ticular, a penalidade de status não era uma habilidade que afeta a mente. Mas isso per-
mitia que a habilidade ignorasse a imunidade aos efeitos que afetam a mente, o que tor-
nava muito difícil lidar com ela.

Dito isto, se essa habilidade fosse usada quando fogo amigo fosse ativado, ela rapida-
mente pintaria um quadro dantesco de sofrimento e miséria. Claro, ele poderia ordenar
que suprimam a habilidade, mas trazer undeads assim para as ruas da cidade seria uma
completa insanidade.

Vários outros monstros assustadores apareceram em sua mente, mas ele atirou todas
essas idéias para o limbo.

...Como devo dizer isso... eles são muito capazes, mas todos parecem feios.

Nenhum deles era adequado como guardas que um rei teria consigo quando andasse
pelas ruas.

Assim que Ainz estava intrigado sobre o assunto, ele notou Fifth bem abaixo, tentando
desesperadamente escalar a parede.

Sem dizer nada, Ainz caiu, usando 「Fly」 no ar para desacelerar sua descida, e ele
aterrissou graciosamente no chão abaixo.

Fifth — que estava segurando uma moldura de janela e cujo rosto estava vermelho —
rapidamente assumiu sua posição atrás de Ainz.

“Fifth.”

“Sim!”

“Eu vou dar uma volta na cidade.”

“Entendido, sua carruagem estará pronta em instantes!”

“Não, não há necessidade disso. Eu pretendo observar as condições na cidade. Eu go-


verno essas ruas, então planejo ir a pé.”

“Eh!? Mas isso só mancharia seus preciosos pés! Por favor, ordene-nos a limpar as ruas
para o senhor! E devemos preparar os seguidores!”

Poucas estradas em E-Rantel foram pavimentadas, então depois da chuva, as demais se


tornariam lamaçais.

“Não há necessidade disso. Eu vivi nesta cidade antes.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


6 4
Mesmo tendo dito isso, o fato era que depois de se registrar na pousada, ele imediata-
mente retornava a Nazarick para fazer undeads.

“Além disso, pretendo conjurar seguidores com magia, então não há necessidade de
mandar pessoas de Nazarick.”

“...Se essa é a vontade do Supremo.”

Bem, a questão sobre o que conjurar permanece. Se eu chamar demônios ou undeads, isso
levará a maus rumores e fofocas maldosas. Então, vou precisar invocar algo bonito para
levantar opiniões a meu respeito. O que se adequaria nisso...

Enquanto pensava nisso, Ainz encontrou a resposta.

“Eu vou conjurar anjos assim que sair. Vamos.”

“Sim.”

Embora o valor do carma de Ainz fosse extremamente negativo, ele não teria problemas
em conjurar anjos, cujos valores de carma eram altamente positivos. Havia algumas pro-
fissões que tinham a penalidade de não serem capazes de invocar monstros cujos valo-
res de carma eram muito diferentes dos seus, mas Ainz não tinha essas profissões.

Aliás, os monstros invocados por essas profissões ficavam mais fortes quanto mais pró-
ximos os valores de carma dos monstros eram em relação aos seus mestres.

Em YGGDRASIL, quaisquer desvantagens também teriam vantagens correspondentes.

Ainz se dirigiu para o pátio.

Como esperado de um lugar usado para colocar os cavalos para pastar, treinar cães de
caça e outras atividades semelhantes, a extensão de grama aparada que compunha o pá-
tio era de fato vasta.

“Então, vamos começar. Isso pode demorar um pouco, então fale comigo nesse meio
tempo.”

“Q-Quem, eu!?”

“Exatamente. Em outras palavras, quero saber tudo sobre o 9º Andar de Nazarick —


certo. Conte-me sobre seu trabalho. Há alguma coisa nos quartos que limpa?”

Ainz não esperou a resposta de Fifth. Depois de trocar partes de seu equipamento, ele
lançou sua magia.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


6 5
Essa magia era de Super-Aba 「Pantheon」, que era semelhante a magia de 10º nível
「Armageddon - Good」 e a magia de Super-Aba 「Nibelung I」, e que era diametral-
mente oposta à magia de Super-Aba 「Pandemonium」.

Ele escutou as palavras de Fifth enquanto esperava a magia de Super-Aba ter efeito. Se
houvesse uma súbita necessidade de tomar medidas urgentes, ele usaria naturalmente
um item de cash, mas fazê-lo neste momento seria um desperdício.

Jogar conversa fora com as empregadas não é ruim.

Pensou Ainz.

Além disso, esta foi a primeira vez que ele ouviu que o quarto de Albedo era proibido
para as empregadas.

“—Entendo. Bem, foi uma conversa bastante interessante. Mas pensando nisso, volte
para o meu quarto e pegue o Nurunuru-kun. Seria problemático sem ele.”

“Entendido!”

Ainz observou a roupa de empregada de Fifth balançar descontroladamente enquanto


ela corria, ele permaneceu no pátio.

Enquanto esperava, ele se lembrou das palavras de Fifth.

Aparentemente, Albedo havia dito às empregadas que ela cuidaria da limpeza de seu
próprio quarto como parte de seu treinamento de noiva, então ela não queria que nin-
guém entrasse em seu quarto.

Ainz murmurou para si mesmo:

“Ah~ essa é a cruz que tenho que carregar... Albedo, não é que eu não entenda seus
sentimentos, mas o fato é que você é uma pessoa ocupada, então deve deixar a limpeza
para as empregadas. Eu não posso dizer isso, mas parece que sou um governante melhor
do que você, nesse sentido.”

Em pouco tempo, Fifth retornou, ofegando e apresentando Nurunuru-kun. Ainz sorriu


satisfeito por sua habilidade de comandar.

“Obrigado.”

Ainz aceitou o Inseto Boca oferecido por Fifth com uma breve palavra de apreciação.
Então, ele aplicou o Inseto Boca na base de sua garganta óssea.

“Ah, er, hum.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


6 6
Por alguma razão, houve uma mudança na voz de Ainz. Com certeza, essa era a habili-
dade especial da criatura, mas ele ainda não a entendia. Tudo o que ele podia fazer era
aceitar.

Ainz deixou suas dúvidas de lado e lançou a magia de Super-Aba. Seis colunas de luz
apareceram ao redor dele, e delas vieram seis anjos.

Esses anjos tinham cabeças de leão, com um par de asas estendido e outro par dobrado
ao redor deles, para um total de quatro asas. Cada um usava uma armadura brilhante e
segurava escudos com padrões de olhos em uma mão e lanças de fogo na outra.

Esses anjos estavam em torno do nível 80 e eram chamados de Cherubim Gatekeeper.

Ainz não sabia muito sobre mitologia, então não sabia o porquê eles eram chamados de
gatekeeper (Porteiro/Guardiões do Portal), mas ele sabia sobre suas forças como mons-
tros.

Os Cherubim Gatekeepers eram bastante adequados para a tarefa de tanque, e suas


consideráveis habilidades sensoriais também os tornava sentinelas muito boas.

“Me proteja. Não mate meus inimigos, mas torne o inimigo impotente enquanto causa
o menor dano possível.”

“Entendido, oh invocador.”

Esta ordem não foi dada por compaixão. Embora Ainz não hesitasse em matar seus opo-
nentes, ele teve que considerar que as pessoas podem estar planejando das sombras.
Além disso, ele deveria deixar Momon executar as execuções, daí suas instruções para
capturar o inimigo vivo.

“Então, vamos.”

Depois que os anjos tomaram uma formação defensiva em torno de Ainz, ele imediata-
mente avançou.

Conjurar magias — incluindo esta magia de nível Super-Aba — terminaria depois de


um tempo. Assim, ele teve que evitar perder tempo.

“Anjos, a Fifth me acompanhará. Defenda-a como se ela fosse meu corpo.”

“Entendido, oh invocador.”

“Ai-Ainz-sama, como meu corpo poderia ser comparado com a forma preciosa de um
Ser Supremo?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


6 7
“...Fifth. Você pode ser uma empregada, mas ainda é uma criação de um dos meus ami-
gos. Assim, você é muito valiosa para mim. Lembre-se disso bem, pois acho complicado
ficar me repetindo. Então lembre-se de contar a todas as suas companheiras.”

“Ob-obrigada, muito obrigada!”

Aliás, ele não disse a mesma coisa para os Eight-Edge Assassins, já que eram seres con-
vocados usando o ouro de YGGDRASIL. Ele poderia ter se sentido vagamente arrepen-
dido por ter que sacrificá-los, mas eles não tinham valor para ele além disso.

“Vamos.”

Com os seis anjos, Fifth e alguns Eight-Edge Assassins — os restantes foram deixados
como sentinelas — o seguindo, Ainz dirigiu-se para o portão.
[Senhor da C r i p t a ]
Lá surgiu a forma de um Crypt Lord, que comandava mais de 20 Death Knight.

Ele estava vestido com vestes roxas esfarrapadas que outrora foram magníficas, e usava
uma coroa cintilante estranhamente reluzente. Era uma criatura vinda de Nazarick, um
undead de nível 70.

Suas habilidades da profissão Comandante poderiam fortalecer qualquer Death Knight


que ele controlasse, mas não poderia fazê-lo com esses, já que os Death Knights ao seu
dispor estavam sob o controle de Ainz. Dito isto, Ainz colocou aqui porque ele reconhe-
ceu suas excelentes habilidades de comando.

“Eu vou dar uma volta, informe a Albedo.”

Depois de passar pelo Crypt Lord — que estava se curvando profundamente — Ainz
chegou às ruas.

Ele não tinha objetivo em mente.

Em vez de dar um passeio, era mais como se ele quisesse encontrar a resposta para a
pergunta de Pandora’s Actor. Havia coisas que ele não seria capaz de resolver normal-
mente, ainda mais se estivesse sendo incomodado de todos os lados.

Ainz alargou seu passo enquanto imaginava o futuro que o Reino Feiticeiro de Ainz Ooal
Gown teria sob ele.

Parte 3

Ainz e a companhia avançaram em linha reta ao longo da estrada principal.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


6 8
Era difícil afirmar que as ruas estavam cheias de vida. Isso ficou óbvio quando ele com-
parou suas memórias de seu tempo como Momon para as cenas diante dele agora. As
expressões dos pedestres eram sombrias e pareciam estar se movendo um pouco mais
depressa.

Em contraste, os Death Knights caminhavam orgulhosamente pelas ruas. Eles prova-


velmente estavam patrulhando no lugar da guarda habitual da cidade. Ainz só lhes deu
ordens simples: apreender alguém envolvido em violência, proteger quem pedir ajuda.

Ainz encarou a muralha da cidade.

Uma parte dos Death Knights produzidos em massa foi designada para o serviço de
sentinela no topo das muralhas. Havia outros como eles que estavam vigiando os portões
da cidade ou patrulhando. No entanto, o modo mais bizarro que foram empregados foi
receber ordens para construir novos vilarejos para os habitantes do distrito pobre.

As pessoas que acabavam sendo moradores nos bairros pobres eram tipicamente o se-
gundo ou terceiro filho das famílias camponesas: aqueles que não tinham sua própria
fazenda para trabalhar. Eles sonhavam com uma vida melhor na cidade, mas no final,
eles só conseguiam cavar uma miserável existência de um pobre em meio às cinzas de
seus sonhos. Assim, Ainz prometeu conceder-lhes um lote de terra e enviou-os para lá.

Eles foram enviados para as ruínas dos vilarejos incendiados devido à tramoia da Teo-
cracia Slane. Como haviam caído devido a razões externas, tudo o que precisavam fazer
era limpar os escombros, procurar novos moradores e o vilarejo se recuperaria natural-
mente.
[Devoradores
Por terem sido atacados no passado, Ainz permitiu que os Death Knights e S o u l
de Alma]
Eaters fossem com eles como guardas, e ele também ordenou que eles ajudassem os al-
deões com seu trabalho na fazenda.

É claro que nenhum deles era particularmente hábil em trabalhar nos campos. No en-
tanto, eles eram muito superiores aos seres humanos comuns quando se tratava de força
física bruta. Essencialmente, eram maquinários agrícolas pesados que não necessitavam
de combustível e que podiam funcionar 24 horas por dia. Eles eram ideais para a tarefa
de arar o solo e uma sorte de trabalhos pesados, certamente fariam grandes contribui-
ções nas próximas colheitas.

O objetivo de Ainz era reconstruir os vilarejos em um ano, permitindo assim que atin-
gissem a autossuficiência básica. Eles então começariam uma colheita regular no se-
gundo ano.

No entanto, o objetivo de reconstruir os vilarejos era meramente coletar seus produtos


[ C a i x a d e Câmbio]
como impostos e depositá-los na Exchange Box, onde se tornariam moedas de ouro de

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


6 9
YGGDRASIL. Albedo e Demiurge elogiaram essa idéia até as alturas, por isso deve ser
algo bastante viável.

Ele havia emprestado os undeads para evitar gastar tempo na colonização das regiões
ermas.

Ao mesmo tempo, como os undeads estavam em empréstimo, ele cobrava taxas adicio-
nais de aluguel, além dos impostos combinados previamente. Como não precisava co-
brar o aluguel dos moradores, ele teve essa idéia depois de considerar que poderia aca-
bar emprestando os undeads a várias outras pessoas no futuro.

Embora esse plano priorizasse o envio de grande número de moradores dos bairros
pobres — com suas famílias — para fora da cidade, isso por si só não era o motivo para
a falta de pessoas nas ruas.

A causa provável seria Ainz. Quando os pedestres o encontravam nas ruas, eles olhavam
com os olhos arregalados antes de voltar pelo caminho que vinham, ou circulando ao
redor dele.

Era como andar em um deserto abandonado.

Ainda assim, ser temido não era ruim. Era pelo menos uma dúzia de vezes melhor do
que ser desrespeitado.

Mas é difícil acreditar que minha cidade seria um lugar sem vida...

Ele não se importava com o que acontecesse com os outros, contando que a Grande
Tumba de Nazarick e seus NPCs fossem felizes, tudo bem. Mas o que seus amigos do
passado pensariam se estivessem por perto?

Eles seriam como Ainz, que foi afetado por ser undead, e acabariam sendo influenciados
por seus traços raciais? Eles acabariam tratando os humanos como pouco mais que for-
ragem? Ou eles continuariam mantendo suas fortes emoções do seu tempo como huma-
nos?

Mas para onde eu realmente quero levar este país?

Assim como Pandora’s Actor havia dito, Ainz precisava decidir como administrar esse
país e usar este objetivo para governar essa cidade.

Por exemplo, cultivando trigo e coisas semelhantes e jogando as colheitas na Exchange


Box da Tesouraria, ele poderia obter moedas que poderiam ser usadas para fortalecer a
Grande Tumba de Nazarick. O país então se tornaria aquele cujo único objetivo de pro-
duzir moeda.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


7 0
Por exemplo, ele poderia criar e abater seres humanos, fazendo com que o país produ-
[Avareza e Generosidade]
zisse XP, que seria armazenado dentro da Avarice and Generosity.

Por exemplo, ele poderia entregar todas as tarefas de produção e trabalho para os unde-
ads, tornando-se um país onde os vivos não precisavam trabalhar.

E por exemplo—

De uma terra repleta de amor para uma cheia de ressentimento, como seria o país que
hasteava o brasão da guilda?

Ele não podia entregar essa decisão a seus subordinados. Este era seu dever, sua res-
ponsabilidade, como o governante de Nazarick e o Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown.

“Fifth, o que você acha desta cidade? Deste país?”

“Minhas mais profundas desculpas. Posso saber como o senhor gostaria que eu respon-
desse?”

Ele tinha sido muito abstrato. Ainz decidiu perguntar novamente:

“Você sente que este é um país onde pode ser feliz? Diga-me com toda sua sinceridade
e não esconda nada.”

“Sim. Estou muito feliz neste país porque o senhor o governa, Ainz-sama.”

Ainz olhou para o céu e suspirou. Bem, ele deveria ter esperado que um NPC lhe desse
uma resposta assim.

“Mas se—”

“Oh, qual é o problema? Me conte qualquer coisa que vier à sua mente.”

“Entendido. Mesmo o senhor agraciando a todos aqui, Ainz-sama, por que ninguém sai
para homenagear o governante deste país em sua forma imponente? E a maneira como
eles se escondem nas edificações e espiam... é muito perturbador!”

Fifth bufou. De fato, muitas pessoas estavam espionando Ainz e sua comitiva enquanto
se escondiam nas lojas ao longo das ruas. De fato, alguns deles fraquejaram quando vi-
ram os anjos.

“Fifth, você acha que os humanos são criaturas chatas?”

“Sim. É como o senhor diz. Eles não foram criados pelos Seres Supremos, portanto, são
formas de vida lastimáveis.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


7 1
Mais da metade dos seres em Nazarick pensavam assim. Mesmo as empregadas de nível
1 não eram exceção.

“Fifth. Todos vocês ainda são os mais importantes para mim.”

“Muito obrigada!”

“No entanto, devo mostrar alguma medida de misericórdia às pessoas que domino. Afi-
nal, eles são cidadãos do Rei Feiticeiro.”

“É como o senhor diz.”

“Então, por que não transformar este lugar em uma utopia? Um maravilhoso mundo de
sonhos que é tão doce quanto imergir-se em mel. Um mundo onde eles desejarão ser
governados eternamente.”

“Eu sinto que este é um excelente plano.”

“Já que eu pretendo conquistar o mundo, meus cidadãos não serão apenas humanos.
Todas as raças do mundo devem se ajoelhar diante de mim.”

“Naturalmente.”

Projeto Utopia.

Este plano estava sendo realizado no 6º Andar, e foi iniciado com a intenção de atrair
qualquer jogador que eles encontrassem com a idéia de que Nazarick era uma boa guilda
que recebia todas as raças.

Usar este lugar para a experiência parece uma boa idéia.

Pensou Ainz.

“Eu devo proclamar ao mundo: Somente aqueles que servem ao Rei Feiticeiro terão
prosperidade eterna.”

“Não há dúvida de que é a verdade.”

Se pudesse fazer isso, se encontrasse seus antigos amigos — seus antigos companheiros
de guilda — ele poderia orgulhosamente mostrar essa cidade para eles.

Parece que o país que Ainz desejava seria aquele em que ele governaria várias raças
coexistindo em harmonia.

Ele tomaria a visão de Ainz Ooal Gown dentro da Grande Tumba de Nazarick e a repro-
duziria em escala global.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


7 2
Como seus amigos poderiam estar escondidos em algum canto do mundo, ele criaria
um mundo onde diferentes heteromorfos e raças poderiam sorrir e viver juntos.

As luzes nos olhos de Ainz ficaram mais brilhantes.

O Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown deve ser um país onde todas as raças possam
coexistir. Isso era algo que apenas o Reino Feiticeiro poderia fazer.

Mesmo que o fundador de uma nação fosse um gênio, não havia garantia de que seus
herdeiros seriam também. E a geração após geração, seus filhos, netos e bisnetos — não
havia garantia de que eles seriam talentosos também. Se a segunda geração fosse incom-
petente, eles seriam eliminados pela sociedade na terceira geração. Ainz ouvira essa his-
tória com bastante frequência.

No entanto, se fossem governados por um gênio infatigável e eterno, esse tipo de coisa
não aconteceria. A forma ideal disso era ter uma ditadura governada por um grupo se-
leto de gênios.

Com pessoas como Demiurge e Albedo no Reino Feiticeiro— não, foi precisamente por-
que eles estavam lá que eles poderiam fazer um paraíso eterno ser possível.

Como o Ulbert-san havia dito uma vez: “Uma ditadura dirigida por mãos de ferro seria
ótima”. Ou algo assim.

Ainz ponderou mais sobre o assunto.

Liderados por Demiurge e Albedo, os Guardiões estavam prosseguindo com seu obje-
tivo de dominação mundial. Ainz não podia negar completamente o ponto deles. Afinal,
isso poderia espalhar seu nome para seus companheiros.

No entanto, não seria melhor espalhar esse nome através de outros meios que não a
governança pela força? Permitindo que o Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown seja conhe-
cido como uma utopia, eles podem fazer com que muitas pessoas escolham dobrar o jo-
elho e submeter-se à sua governança por essa doce promessa de mel.

Seria como usar a Cenoura & Chicote.

Se Demiurge e Albedo fossem o Chicote, então Ainz seria a Cenoura.

Que ótima idéia...

Ainz havia decidido.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


7 3
Ainz era diferente dos NPCs que só podiam desprezar aqueles que estavam fora de Na-
zarick. Essa forma de conquista do mundo era algo que só ele, com seus vestígios de
humanidade, poderia inventar. Ele dominaria através de um charme irresistível.

Então, o que deveria fazer para realizar este plano?

Quando Ainz começou novamente a andar, ele pensou desesperadamente sobre o as-
sunto.

Ele precisaria de métodos diferentes dos de Demiurge e Albedo — métodos que não
dependiam de força.

Ele não conseguia se imaginar administrando um país sozinho. Por causa disso, Ainz se
imaginaria empregado de uma pequena empresa.

Seria uma pequena empresa, do tipo que só tinha um único andar em um prédio, e o
único funcionário da empresa era Ainz.

O produto desta empresa seria “A Regência Excepcional do Reino Feiticeiro”. Ele estaria
promovendo as vendas deste produto.

Primeiro, era preciso considerar seu mercado alvo. Só então ele poderia entregar este
produto para as mãos daqueles que precisassem. No entanto, ele não tinha informações
sobre seus consumidores. Por que isso? Simples — porque ele não tinha publicidade su-
ficiente.

Dito isto, não se tratava de correr para várias cidades e distribuir panfletos na entrada.
Isso seria apenas uma perda de tempo. Ainz já fôra um empregado, então ele deveria
considerar outros métodos.

Não havia nada parecido com mídia de massa neste mundo. Embora os comerciantes e
outros profissionais desse tipo tivessem suas próprias redes de inteligência, dificilmente
qualquer publicidade deles seria garantida. Antes de Ainz perceber, ele já estava na en-
trada da Guilda dos Aventureiros.

Talvez fosse porque ele tinha vindo aqui muitas vezes como Momon, mas parecia ter se
tornado um hábito.

Será um sintoma de vicio em trabalho...?

Ainz sorriu amargamente e abriu a porta.

O balcão dentro da edificação apareceu. Havia uma recepcionista sentada. À sua es-
querda havia um grande conjunto de portas duplas, à direita havia um quadro de avisos
com pedidos de pergaminho anexado a ele. E os aventureiros que deveriam estar de pé
diante dele— não estavam lá.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


7 4
A guilda estava vazia. Não havia comparação com o que ele tinha visto durante seu
tempo como Momon.

Ainz ignorou a recepcionista de olhos arregalados que estava olhando para ele e cami-
nhou até o quadro de avisos.

Ele ainda não conseguia entender a escrita, mas já havia memorizado algumas frases,
que incluíam o mês e o ano.

De relance, havia apenas pedidos antigos de um mês atrás. Em outras palavras, não
eram importantes, trabalhos repetitivos.

“...Recepcionista. Parece haver muito menos tarefas agora. Ninguém fez novos pedidos?”

“Eprr... sim, sim, isso mesmo. Estes são todos o que temos, Vossa Majestade.”

Assim, o número de aventureiros diminuiu porque o número de pedidos também dimi-


nuiu.

A causa disso foi Ainz.

Ainz usou suas próprias forças militares — os Death Knights — para patrulhar as ruas
e manter a segurança interna do Reino Feiticeiro. No final, isso fez com que as pessoas
fugissem da ameaça daqueles monstros.

Ele considerou que, se mantivessem suas patrulhas, pessoas como aventureiros pode-
riam deixar completamente de existir.

Preciso criar tarefas para eles, a fim de mantê-los por perto— não, não há necessidade de
manter os aventureiros por perto.

Qualquer coisa que os aventureiros pudessem fazer, os Death Knights poderiam fazer
melhor — embora tivessem certas dificuldades com algumas tarefas, como pegar ervas.
Mas, nesse caso, tudo o que ele precisava fazer era alugar os Death Knights para os her-
boristas como guarda-costas.

Ainz ainda não conseguia pensar em nenhum uso para os aventureiros. E quando se
chegou a isso, o fato da questão era que aventureiros custavam dinheiro para contratar.
E-Rantel e sua baixa renda não tinham o luxo de tais coisas.

Ninguém vai passar por problemas se eles forem embora.

Com isso em mente, Ainz se virou para o lado de fora.

E esse trabalho é banal demais para inspirar sonhos...

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


7 5
Ele se lembrou da primeira vez que ele e Narberal tinham ido à Guilda dos Aventureiros
nesta cidade.

Antes, ele pensava que os aventureiros eram como o que ele tinha visto em YGGDRASIL,
aqueles que se aventuraram no desconhecido e viajaram para vários lugares ao redor do
mundo.

Se não passam de mercenários anti-monstro, então quando não houver demanda, eles fi-
carão sem trabalho. É assim que o mundo funciona. Pensar que a imagem dos aventureiros
como eles eram representados em YGGDRASIL era, no final das contas, nada mais que um
sonho... Sonhos? De explorar o desconhecido e viajar pelo mundo? Será que...?

Inspiração passou pela mente de Ainz.

Se ele mudasse os aventureiros de mercenários caçadores de monstros para explora-


dores do desconhecido, como em YGGDRASIL, isso significaria que eles levariam o nome
do Reino Feiticeiro para terras inexploradas.

Ainz não queria apenas alcançar o mundo humano, mas todas as outras raças também.
Ele poderia facilmente se promover no mundo humano através das conexões dos comer-
ciantes. No entanto, como isso não bastava, os aventureiros eram a melhor escolha para
o trabalho.

“Hmhm...”

Ainz assentiu.

Embora a recepcionista o olhasse de um modo intrigado, ele não lhe deu atenção. Ou
melhor, se tivesse se importado com ela, esse raro lampejo de inspiração teria desapa-
recido.

Pensando como o chefe de uma pequena empresa, Ainz decidiu contemplar o resultado
deste plano.

No entanto, o número de aventureiros no Reino Feiticeiro está diminuindo constante-


mente. Se isso continuar, a situação continuará a deteriorar-se. Eles podem até desapare-
cer completamente no futuro próximo. O que posso fazer para reverter isso?

Era bem simples aumentar seus números. Tudo o que ele precisava fazer era reverter
as circunstâncias atuais — em outras palavras, o Reino Feiticeiro pagaria pela elimina-
ção dos monstros. No entanto, isso seria contra a meta de Ainz de ter aventureiros ex-
ploradores do desconhecido. Embora ele também pudesse fazer pedidos para que eles
promovessem seu nome, mas Ainz não tinha dinheiro para isso.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


7 6
Havia literalmente montanhas de ouro na Grande Tumba de Nazarick, mas esses não
eram fundos pessoais de Ainz. Claro, os NPCs concordariam que toda a riqueza em Na-
zarick pertencia a Ainz, mas ele não queria usar esse dinheiro em um projeto pessoal.

Assim que Ainz estava imerso em pensamentos, o som de uma porta se abrindo veio da
entrada.

Quando ele se virou, viu aventureiros — uns que ele já havia conhecido antes — em pé
na porta, congelados no lugar enquanto o observavam.

Hm? Como ele se chama mesmo... vejamos... Yokmok? Não, não é isso, mas é algo assim.

Parecia que estava na ponta da língua, mas por algum motivo, não saia. Essa frustração
fez com que Ainz explorasse as profundezas de suas memórias com toda a sua vontade.

“Moknach...!?”

Assim que encontrou a resposta, ele a disse sem pensar. Tendo sido tratado pelo nome,
o aventureiro ficou sem ação, travado onde estava.

Merda!

Era tarde demais para entrar em pânico. Ele podia sentir os olhos da recepcionista da
Guilda olhando na sua direção.

Era impossível que o novo governante de E-Rantel, o Rei Feiticeiro Ainz Ooal Gown,
soubesse de um mero aventureiro ranque mythril. E se ele conheceu o homem, o que
isso implica? O cérebro de Ainz girou em alta velocidade enquanto ele cogitava, mas an-
tes que chegasse com uma resposta, Moknach falou:

“O-o senhor ouviu isso do Momon-dono? Meu nome, é esse...”

“Uhum, sim. Precisamente.”

Ainz decidiu se aproveitar dessa jogada de sorte. Um par de emoções dramaticamente


opostas apareceu no rosto de Moknach, expectativa e medo.

Tendo recuperado de sua perturbação anterior, Ainz começou uma análise mais pro-
funda da situação.

Ele lembrou que esse homem era o líder do grupo de aventureiros mythril “Arco-íris”.
A primeira vez que ele o viu foi durante o incidente vampírico. Eles haviam falado várias
vezes depois disso, mas como não haviam se encontrado recentemente, o homem havia
sumido de sua mente.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


7 7
Muito parecido com outros aventureiros e soldados, ele parecia adorar Momon como
um herói. Então, como se sentiria sobre Momon se tornar um servo do Rei Feiticeiro?

Por que o Momon falou sobre mim para o Rei Feiticeiro? Jogando conversa fora? Ou o
Momon promoveu meu nome? Seu coração provavelmente estava cheio de dúvidas e sus-
peitas como essa.

Ainz começou a procurar uma maneira de transformar essa cautela em uma oportuni-
dade.

“Quando perguntei sobre aventureiros capazes por aqui, ele me contou sobre o
Moknach, o líder da Arco-íris.”

Moknach, que originalmente baixou a cabeça, subitamente olhou de volta.

“Isso— isso é verdade?”

“Você dúvida das minhas palavras?”

“Não! Claro que não...”

Ao discutir negócios com um cliente, a primeira coisa que se deve fazer é elogiar a con-
traparte. Poucas pessoas reagiriam mal ao elogio. Uma vez que eles estavam em um es-
tado de espírito elevado, eles poderiam falar de negócios. Essa era uma habilidade básica
para um vendedor e também uma técnica absoluta.

Agora que ele havia abalado o outro lado e aproveitado completamente a iniciativa,
Ainz não perdeu a chance de disparar outra pergunta.

“Diga-me, por que você está em E-Rantel?”

Se ele quisesse aprender mais sobre aventureiros, a maneira mais rápida de conseguir
isso era questionar diretamente um aventureiro.

Moknach ficou perplexo com a pergunta de Ainz, mas em pouco tempo, ele parecia ter
reunido coragem suficiente para respondê-lo.

“Por causa dos undeads, Vossa Majestade. Este lugar é perto das Planícies Katze, e nós
podemos matar monstros por dinheiro sem medo de exaurir nossa fonte de renda.”

Embora Ainz não tenha entendido muito bem, parece que, mesmo com o suor escor-
rendo dele, Moknach tinha um sorriso rebelde no rosto que parecia dizer: “Isso aí! Falei
mesmo”.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


7 8
Ainz tinha planos para trazer as Planícies Katze sob seu domínio no futuro próximo. De
particular interesse, os rumores de um navio que navegava ao longo da terra desperta-
ram o interesse de Ainz.

“Certo.”

“Eh?'

“Hm?”

“Ah, nada...”

Que cara travado.

Ainz recusou a vontade de suspirar e impulsivamente perguntou:

“Isso é tudo?”

“...Não, tem mais. Antes do Momon-dono vir aqui, nós éramos os únicos aventureiros
mythril entre os aventureiros mais experientes, então era mais fácil a gente conseguir
empregos bem remunerados.”

Então era dinheiro afinal.

Talvez reservar parte do orçamento para remunerações de aventureiros possa ser o


melhor curso de ação.

“Também nasci nesta cidade, então conheço muitas pessoas aqui. E também, todos os
tipos de itens mágicos fluem por aqui.”

“Hoh, itens mágicos?”

“Sim. Afinal, itens mágicos salvaram minha vida no passado, então, como um aventu-
reiro, eu naturalmente gostaria de me basear em um lugar com bom acesso a eles.”

Em YGGDRASIL, também havia histórias de como um simples item mágico evitou mas-
sacres. Dito isso, ele também viu muitas pessoas que se pareciam com aventureiros nos
mercados da Capital Imperial. Em outras palavras, se ele pudesse montar um negócio de
itens mágicos em escala maior que a Capital Imperial, certamente atrairia aventureiros.

Ele provavelmente conseguiria excelentes resultados fazendo itens mágicos com cris-
tais de dados apropriados e depois leiloando-os. No entanto, isso seria fundamental-
mente explorar as reservas de Nazarick, e não havia garantia de que Ainz e os outros não
se deparariam com as tecnologias desenvolvidas usando estes itens como base para fun-
dar estacas que seriam apontadas para a garganta de Ainz.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


7 9
Não deve ter problema se eu o usar como isca, certo? Não, prefiro evitar usar os recursos
de Nazarick se puder. Então, que tal itens feitos usando a tecnologia mágica deste mundo?
Dessa forma, poderíamos entregá-los a outros países sem causar problemas... ah, isso é di-
fícil. Deixarei essa idéia para outra hora.

“Ah...”

A voz preocupada de Moknach trouxe a mente de Ainz das profundezas da contempla-


ção.

“Vossa Majestade, posso saber por que está me fazendo essas perguntas? Se permitir
que eu seja franco...”

Moknach rangeu os dentes e continuou com uma voz profundamente dolorida.

“Nossa insignificância está além das palavras quando comparado a um dos undeads que
Vossa Majestade comanda. Com seres tão poderosos defendendo a área em torno desta
cidade, há pouco sentido para a existência de aventureiros no Reino Feiticeiro.”

O que ele deveria dizer agora? Que frase ele poderia usar para deixá-lo — a recepcio-
nista também estava olhando para ele, assim como um pequeno grupo da Guilda que
conseguira se agrupar ao redor deles sem ser visto — com uma boa impressão de si
mesmo?

Ou talvez, ele pudesse assumir um risco perigoso e diretamente calá-lo dizendo: “Não
há necessidade de explicar isso para você”. Isso pode ser mais seguro. No entanto, se ele
fizer isso, pode torná-los ainda mais suspeitos. Deveria haver um jeito melh—

Não, eu tenho que acreditar em mim mesmo. Eu sou um homem que superou muitos peri-
gos no passado. Eu devo ser capaz de pensar em algum caminho além desse problema!

Ainz permitiu que sua presença se irradiasse.

Pensando nisso, você já tem uma imagem tão clara das coisas em sua mente. Então, por
que você ainda está nessa cidade? Porque você nasceu aqui? Você tem namorada?

A resposta a essas perguntas determinaria a direção em que o Rei Feiticeiro tomaria


essa conversa.

“Antes de responder, gostaria que você respondesse minha primeira pergunta. Por que
ainda está nesta cidade?”

“Is-isso é porque...”

Moknach começou a tropeçar em suas palavras. Então, apesar de hesitar um pouco, ele
continuou:

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


8 0
“É por causa do Momon-dono. Momon-dono ficou nesta cidade para ser nosso escudo.
Sendo esse o caso, como poderia eu, um nativo desta cidade, fazer algo tão vergonhoso
quanto fugir?”

Naquele instante, Ainz sorriu.

Claro, por ele ser Momon no passado, ele tinha entendido este homem até certo ponto.
No entanto, não esperava que o homem abrisse seu coração tão prontamente.

“É como diz. Então, responderei a sua pergunta.”

Ainz fingiu ficar em silêncio por um tempo, e então, numa voz régia, anunciou:

“É por causa do Momon. Todos vocês, algum dia, podem se tornar pessoas como o Mo-
mon, eu queria saber o que os aventureiros queriam e o que procuravam.”

Os olhos de Moknach se arregalaram. Os sons de *gulp* podiam ser ouvidos dos funci-
onários da Guilda que estavam próximos.

“Momon é forte, mas mais importante, ele tem um espírito nobre.”

Parecia um pouco embaraçoso dizer esse tipo de coisa sobre si mesmo, mas era assim
que a persona de Momon tinha sido planejada, então não poderia evitar.

“E então, eu vi algo como o brilho de Momon entre vocês, aventureiros.”

Será que minha prática de atuação compensou...?

Ainz se perguntou enquanto pronunciava essas palavras. Um raio pareceu brilhar atrás
de Moknach e dos outros.

“Mas, mas o Momon-dono é um ser supremo, apenas um escolhido poderia aspirar a ser
como ele. Nós não poderíamos alcançar o seu—”

“Então você está dizendo que o Momon é cego para a sua própria grandeza?”

“Quê!? Será, será que o Momon-dono também disse isso!?”

“Não diretamente.”

Embora ele não achasse particularmente engraçado, ele mesmo se esforçou para suge-
rir que achava divertido. Ainz assumiu o sorriso de um rei — o resultado de muita prá-
tica — e mostrou a todos.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


8 1
“Mesmo que vocês não possam fazê-lo, que tal seus filhos? Seus netos? Ou está dizendo
que ninguém ao seu redor poderia dar origem a alguém como o Momon? Eu sou um ser
imortal e o governante do Reino Feiticeiro. É natural que eu queira tomar medidas para
inspirar verdadeira lealdade para com o próximo Momon. Este é o significado que eu,
como governante, encontrei para a existência de aventureiros dentro do Reino Feiticeiro.
Bem, há outra razão, mas, como ainda não se formaram totalmente em minha mente,
permita que eu as omita por enquanto.”

O ar ao redor dele estava em silêncio.

Hm? Não funcionou? Este homem não é um fã zeloso do Momon?

Assim que o desconforto estava começando a descer sobre Ainz, Moknach se curvou
profundamente para Ainz.

“Vossa Majestade, eu sou grato por este encontro com o senhor, e a oportunidade de
aprender com seus pensamentos.”

Quando Moknach levantou o rosto, não havia sinal do mal-estar, medo ou dúvida que
estivera originalmente ali. Em contraste, ele tinha um sorriso alegre e despreocupado
em seu lugar.

“...Que homem incrível. Pensar que o senhor possuía um carisma incrível, superando
até vossa poderosa magia.”

“Também estou feliz por ter encontrado excelentes aventureiros. Algum dia, gostaria
de abarcá-los sob meu amparo.”

O rosto de Moknach relaxou, sentindo-se um pouco mais feliz agora.

“Ainda assim, Vossa Majestade. A Guilda dos Aventureiros permanece não afiliada ao
governo. Eu pela mesma forma. O senhor realmente pode nos ter como subordinados?”

“Uhum. Eu vim precisamente para esse objetivo. Com certeza, isso é apenas um rascu-
nho e ainda não tomou forma... Recepcionista, diga ao Chefe de Guilda que o Rei Feiti-
ceiro gostaria de falar com ele.”

“S-Sim!”

A recepcionista — que estivera ouvindo atentamente a conversa — saiu correndo.

“Então, Vossa Majestade, nos despedimos de vossa presença.”

Isso era completamente diferente de como eles agiram quando apareceram pela pri-
meira vez. Moknach se curvou cheio de respeito antes de se virar e sair.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


8 2
Vejamos... o que devo fazer a seguir?

O principal objetivo do plano incompleto de Ainz, era usar aventureiros para exaltar as
virtudes do Reino Feiticeiro. Havia três pontos principais nesse plano:

• A expansão da Guilda dos Aventureiros. Não havia sentido em uma organiza-


ção que tinha apenas 10 membros ou menos.
• Nutri-los. Os fracos não poderiam ir longe, e se o evangelho de ser governado
pelo Reino Feiticeiro se propagasse devagar demais, não lhe renderia muitos be-
nefícios.
• Cooperação genuína e de bom coração. Não era que ele não pudesse usar Mo-
mon, mas se Ainzach quisesse ajudá-lo por vontade própria, isso tornaria as coi-
sas muito mais fáceis no futuro.

Eu preciso resolver esses três problemas antes de negociar com o Ainzach. Ainda assim...
é muito difícil negociar sem qualquer informação. Ah, meu estômago dói.

Tudo o que ele podia fazer agora era rezar para que o Chefe de Guilda não estivesse.
Infelizmente, a primeira coisa que a recepcionista disse quando retornou foi:

“Por aqui, por favor.”

Ainz olhou para o teto e seguiu atrás da recepcionista.

Parte 4

Ele havia atravessado esse corredor algumas vezes como Momon, então passou pela
sala do Chefe de Guilda — embora não tenha entrado, foi levado para a sala ao lado da-
quela. Uma sala usada para entreter convidados.

Um homem de constituição forte saiu para encontrá-lo — o Chefe de Guilda Pluton Ain-
zach.

Ainz o encontrou como Momon várias vezes antes — ele inclusive o arrastou quando
era Momon para estabelecimentos adultos no passado. No entanto, esta foi a primeira
vez que ele encontrou o homem como o Rei Feiticeiro Ainz Ooal Gown, então ele teve
que estar profundamente consciente de suas palavras e ações.

“Oh, é Vossa Majestade, o Rei Feiticeiro. Como um cidadão deste país, nada poderia me
agradar mais do que recebê-lo dentro de minha humilde morada. Por favor, entre e, em-
bora este seja um lugar sujo, ofereço-lhe um assento, se isso lhe agrada.”

Ainz sentou-se no local onde Ainzach havia indicado.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


8 3
Fifth ficou atrás de Ainz, três dos anjos seguiam Ainz para dentro. O resto permaneceu
fora da sala, aguardando ordens.

“Por direito, eu deveria ter sido aquele a visitá-lo, mas estou profundamente grato que
o senhor veio até aqui para me ver.”

Ainzach fez uma genuflexão e inclinou a cabeça profundamente.

Ainz sorriu amargamente ao ver Ainzach fazendo esse ato.

Era completamente diferente de como ele se comportava com Momon. Sua voz gentil
estava tingida de respeito, mas isso era apenas uma fachada. Ainz não pôde deixar de
sorrir depois de perceber que tudo isso era apenas tática profissional de trabalho. Claro,
sua própria expressão não havia mudado em nada.

Ainz virou os olhos para a outra porta da sala, que não a da entrada.

Aquela porta levava à sala do Chefe de Guilda. Era provável que conversariam lá se a
persona de Momon estivesse aqui. O fato do Chefe de Guilda o ter recebido aqui, fez Ainz
ciente da distância entre os dois.

“É algo importante, Vossa Majestade?”

Ainzach levantou a cabeça para espiar Ainz, que parecia tê-lo ignorado em favor de
olhar para a sala ao lado. Ainz não pôde deixar de sentir a sua tolice.

O rosto de Ainzach ficou rígido. Talvez ele pensasse que o riso fosse direcionado a ele.

Ainz sentiu repugnância por sua grosseria, mas o Rei Feiticeiro não podia se desculpar.
Em vez disso, ele decidiu avançar com a conversa na tentativa de encobrir isso.

Ainda assim, que tipo de atitude ele deveria tomar em relação ao Chefe de Guilda?

Ainz ainda estava aprendendo a maneira correta de ser um rei, e não tinha nenhum
conhecimento nesse campo. A única coisa que o guiava era uma sensação vaga de “isso
deveria estar certo”. Com isso, ele decidiu tentar algo.

“Eu acho que deve ter ouvido falar sobre isso, Ainzach, mas eu tenho uma proposta para
você.”

“—Perdoe-me, Vossa Majestade, mas não tenho certeza do que fala. Se é possível, o se-
nhor poderia explicar desde o começo?”

De suas interações anteriores com o homem, Ainz sabia que Ainzach era um homem
capaz de mentir com um sorriso no rosto. Havia uma grande chance de ele já ter uma

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


8 4
compreensão firme da situação. Foi provavelmente por isso que ele não se alarmou com
os anjos.

Sendo esse o caso, não havia necessidade de fazer arrodeios. Ainz decidiu falar direta-
mente.

“Eu pretendo incorporar a Guilda dos Aventureiros no Reino Feiticeiro.”

“...Se é o caso. Eu não acho que ninguém vai se opor a isso.”

“Hoh. Ouvi dizer que a Guilda dos Aventureiros sempre se manteve na neutralidade.
Você está realmente bem com isso?”

“Todos devem proceder como o senhor deseja, Vossa Majestade. Esta nação é gover-
nada pelas leis que estabeleceu. Se Vossa Majestade quiser subordinar a Guilda dos
Aventureiros à sua vontade, ninguém poderá negar essa decisão.”

Ainz bufou novamente. Aquela reação pareceu ter surgido de Ainzach. Ainz sentiu que
ele tinha chegado ao Chefe de Guilda, pelo olhar profundo em seus olhos.

“De fato, procederá como eu desejo. Mas você realmente pretende compactuar com
isso? Ou talvez pretenda avisar os aventureiros e enviá-los ao Império e ao Reino antes
de entregar a concha vazia de uma Guilda para mim.”

Ainzach olhou atentamente para Ainz, e então ele rodeou os ombros, como se dissesse:
“Então, isso é o máximo que eu vou conseguir, huh”.

“Como esperado de Vossa Majestade. Pensar que o senhor não iria apenas reivindicar e
governar esta cidade, mas até mesmo ver através dos meus pensamentos mais íntimos...
o senhor leu minha mente com magia?”

“Não, eu não usei magia. Não foi nada mais que experiência.”

“Por estar vivo há muito tempo, eu aceito. Ora ora, que senhor temível que é. Então, o
que será de mim?”

“Nada vai acontecer com você.”

“...Eu não vou agradecer por isso, sabia?”

“E nem eu o quero. Mais do que isso, quero suas opiniões. Eu ouvi dizer que aventurei-
ros existem para defender as pessoas. Assim, eles não desejam ser usados em guerras
entre humanos e têm mantido um grau de independência de qualquer nação. Isso é ver-
dade?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


8 5
“É como diz, Vossa Majestade. Na verdade, quando Vossa Majestade reivindicou esta
cidade, não tínhamos a intenção de oferecer qualquer resistência.”

“E ainda assim o homem chamado Momon estava diante de mim...?”

Ainzach grunhiu:

“Oh.”

Bem, não adiantava se dar um tempo. Ainz decidiu continuar falando e, claro, ele teve
que ajudar a cobrir a identidade de Momon.

“Ah, eu não vou perseguir esse assunto. Afinal, estamos trabalhando juntos, em certo
sentido. De fato, essa cooperação é uma das razões pelas quais posso pacificamente go-
vernar esse lugar.”

Ainzach parecia estar prestes a dizer alguma coisa, mas Ainz o ignorou e continuou.

Esta seria a jogada certa.

Ele precisava trazer Ainzach para o seu lado, e fazê-lo querer ajudar o Reino Feiticeiro
por sua própria vontade.

Depois de recordar as várias queixas e reclamações que ouvira durante seu tempo como
Momon, Ainz disse:

“...Então, eu tenho uma pergunta depois de ouvir suas palavras. Você está certo de que
os aventureiros existem para defender as pessoas. No entanto, quem exatamente são as
“pessoas”?”

“Posso saber o que o senhor quer dizer com isso?”

Havia um olhar perplexo no rosto de Ainzach.

“Ou seja, a palavra “Pessoas” abrange todos os humanoides, ou apenas seres humanos?
Os Elfos, e os mestiços de Elfos e outras espécies que vivem em harmonia com a huma-
nidade são cobertos por essa palavra?”

“Bem, sobre isso, sim, eles estão incluídos.”

“Que estranho. Se bem me lembro, Elfos são escravos do Império, não são? E mesmo
assim, podem dizer que os protege? Eles não são escravos porque entraram em conflito
com as leis do Império?”

Ainzach abaixou a cabeça. Então, ele olhou para cima para encarar Ainz novamente.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


8 6
“...Eu sou o Chefe da Guilda dos Aventureiros do Reino. Assim, não sei o que a Guilda do
Império tem em mente.”

“Então está apenas tentando fugir com o jogo de palavras, então...”

Os olhos de Ainzach se arregalaram e havia uma nítida raiva ali.

“Vossa Majestade, tal zombaria—”

“Zombaria? Isto não é a verdade? ...Eu vou perguntar de novo. Você não está tentando
se livrar de ser ambíguo?”

Ainzach baixou os olhos.

“...É como o senhor diz.”

“Você diz que vai defender Elfos e mestiços, mas não fez nada disso. Por quê?”

Ainzach deu sua explicação, começando pela posição de que ele não estava claro sobre
as intenções da Guilda dos Aventureiros no Império.

“Apesar de sermos uma Guilda dos Aventureiros, não podemos escapar totalmente dos
laços dos países. Mesmo a Guilda dos Aventureiros declarando orgulhosamente estar
acima de suas regras, nós permanecemos obedientes às leis das nações. Somos uma or-
ganização armada. Seria muito perigoso se um grupo com a nossa força fosse transfor-
mar esse poder contra a nação. Eu acredito que a Guilda do Império pense na mesma
linha.”

“Isso é o que eu quis dizer. Como você está sujeito às leis de um país, não deve haver
problema em ser incorporado a esse país. Sendo esse o caso, por que você não gosta
disso?”

“Tanto o Império quanto o Reino cobiçam nossa força. Afinal, apenas aventureiros como
nós podem lutar em pé de igualdade com monstros poderosos. Por causa disso, ninguém
fez nenhum pedido difícil para nós até agora. No entanto, o ponto onde Vossa Majestade
está ponderando é discutível. Se nos tornarmos subordinados ao senhor, há uma chance
de que nossa força seja dirigida contra o povo.”

“E assim, você procura resistir à assimilação no país, pois tem medo de usar a força
contra o homem comum, estou correto?”

“É como Vossa Majestade diz. Não queremos ser obrigados a reprimir pessoas ou a lutar
em guerras. Isso nos tornaria acessórios para muitas mortes.”

Ainz não pôde deixar de rir disso.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


8 7
Bem, eu já sabia disso.

Mas é claro que ele não podia dizer isso.

“Então sente-se. Agora vou explicar o que pretendo para vocês no futuro.”

Ainz teve que dizer a ele para se sentar novamente antes que Ainzach finalmente con-
cordasse, sentando-se com medo. Então, Ainz começou sua explicação.

“Estou considerando a possibilidade de os aventureiros assumirem outros tipos de tra-


balhos mais significativos. Eu quero que os aventureiros descubram o desconhecido e
explorem este mundo.”

Ainz sentiu Ainzach olhando diretamente para ele pela primeira vez.

“Por exemplo, há um pedaço de deserto ao sul, entre a Teocracia e o Reino Sacro. Mas
você conhece os detalhes do terreno e que tipo de monstros vivem lá?”

“Não, porque existem muitos assentamentos demi-humanos na região. A Guilda dos


Aventureiros do Reino já enviou pessoas para o local, mas nenhuma retornou. Então não
sabemos quase nada sobre lá.”

“Então, há uma cordilheira ao sudoeste que serve como uma barreira natural entre vo-
cês e a Teocracia. O que você sabe daquele lugar?”

“Nada, não temos informações detalhadas sobre essa região.”

“Não sentem envergonha dessa ignorância? Não, talvez pareça inevitável do ponto de
vista de um aventureiro. Afinal, vocês fazem parte de uma organização que protege as
pessoas, por isso não há necessidade de saber sobre lugares que não contêm pessoas.
Embora haja uma chance de que ervas que salvam vidas possam crescer nessas regiões.”

A boca de Ainzach se apertou em uma linha reta naquela provocação.

“Depois que eu pegar a Guilda dos Aventureiros sob minha bandeira, planejo preencher
todos os espaços em branco no mapa.”

“...Não seria melhor entregar essa tarefa para as pessoas próximas a Vossa Majestade?”

“Não seja tolo. Ouvi dizer que você costumava ser um aventureiro, Ainzach, então deixe-
me perguntar de novo: quando você pensa sobre a palavra “aventureiro”, o que real-
mente pensa sobre isso, acha que existem apenas para lutar contra monstros? Antes de
aprender mais sobre aventureiros, achei que eram seres que se aventuravam nos confins
do desconhecido.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


8 8
Ainzach mordeu o lábio com tanta força que parecia que ele estava tentando tirar san-
gue.

“—Devemos proteger as pessoas.”

“Não há necessidade disso. No Reino Feiticeiro, protegerei meu povo como um gover-
nante. Dada a queda acentuada nos pedidos, você deve ser capaz de entender a verdade
das minhas palavras, estou errado?”

Ainzach respondeu afirmativamente, com uma voz de dor que soava mais como um ge-
mido.

“Então o que você fará em seguida? Você vai se mudar para o Reino ou o Império para
proteger as pessoas? Isso parece muito com o que um mercenário especializado em ca-
çar monstros faria.”

Ainz fez uma pausa aqui. O próximo passo seria a persuasão. Ele precisava dedicar a
capacidade total de sua mente para o que ele disse em seguida.

“Agora a pouco, você disse que meus subordinados deveriam fazer isso. De um certo
ponto de vista, isso seria uma boa solução. É verdade que meus subordinados são exce-
lentes em matar o inimigo. No entanto, muitos deles levantam sérias dúvidas em minha
mente sobre se podem ou não construir boas relações com os seres que encontram neste
mundo desconhecido. É uma grande marca de vergonha para mim. Portanto, desejo dei-
xar esta tarefa para vocês, aventureiros.”

Mesmo ele estando bastante interessado na reação do silencioso Ainzach, sua apresen-
tação ainda não estava terminada.

“Bem, já que eu planejo que façam um trabalho tão perigoso, eu naturalmente lhes darei
meu total apoio. Você não acha que é necessário que eu assimile a Guilda dos Aventurei-
ros para isso?”

“...Tudo o que o senhor precisa fazer é nos contratar.”

“Entendo. Então você está bastante confiante em sua força. Eu não desgosto dessa co-
ragem.”

“O que, o que quer dizer, Vossa Majestade?”

“Descobrir o desconhecido inclui a possibilidade de fazer encontros desafortunados


com outras civilizações. Se isso acontecesse, você acha que o Reino Feiticeiro iria negar,
certo? Além disso, a Guilda dos Aventureiros seria a única responsável por lidar com
quaisquer problemas que surgissem, estou errado? Já que afirmam ser uma organização
independente, não acha que isso é esperado? Afinal, qualquer contrato que eu faça com
você não acarretará nenhuma perda para o Reino Feiticeiro.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


8 9
Ainzach ficou em silêncio.

“E é isso que significa agir de forma independente, livre do controle de qualquer nação,
não é esse o caso? E se uma situação se elevar a um nível internacional, você teria que
lidar com isso sozinho... é por isso que o que diz é tão risível?”

“Certamente não, Vossa Majestade.”

Ainzach assentiu profundamente, para mostrar que entendia e completou:

“Tudo o que falou está correto.”

“Já era hora. Mas se isso acontecer, aventureiros valiosos — profissionais que possuem
habilidades especiais — acabarão se esgotando. Como os seres humanos levam muito
tempo para amadurecer, a morte de qualquer indivíduo talentoso será uma grande
perda. Por causa disso, eu queria adquirir o grupo de aventureiros. E então, eles recebe-
riam meu total apoio como pagamento por ter que cumprir minhas ordens.”

“Essa é uma proposta muito atraente... Mas tenho uma dúvida que gostaria de esclare-
cer. Uma vez que tenhamos entendido o desconhecido, isso significa que nos tornaremos
forças invasoras para o Reino Feiticeiro?”

“Questão muito complicada. Não posso descartar essa possibilidade por completo. Afi-
nal, se localizarmos um inimigo em terras desconhecidas que planeja lançar uma invasão,
é bastante razoável usar essa informação para tomar a iniciativa e dar o primeiro golpe.
Os inimigos podem incluir demi-humanos como Ogros ou Orcs que vivem no deserto. Ou,
talvez, seja necessário lançar uma invasão para mostrar a diferença entre a força deles e
a nossa. Se houvesse um monstro feroz ao seu lado pronto para dar o bote, você não
desejaria atacar primeiro?”

“Entendo, é como diz, mas—”

“...Hm.”

“É algo importante, Vossa Majestade?”

“Não é nada, me perdoe por te interromper. O que estava prestes a dizer?”

“...Entendido. No entanto, o que me incomoda é se é certo ou não subjugar pela força


aquelas raças que estão vivendo em paz.”

“Em quais raças você está pensando? Talvez em Elfos?”

“Bem, talvez.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


9 0
“...Os detalhes desse tipo de coisa são altamente sigilosos, pois estão ligados à política
nacional, então não posso discutir isso abertamente. Se a invasão e a conquista forem
vantajosas para o Reino Feiticeiro, poderíamos acabar por fazê-lo, ou, se gerassem ape-
nas desvantagens, evitaríamos tais atos. Isso é bastante comum entre os países, estou
correto? Mas se for apenas uma simples questão de invasões, posso afirmar claramente
que tenho forças militares adequadas à minha disposição. Não espero que os aventurei-
ros coletem informações sobre nações inimigas, nem preciso que eles explorem rotas
secretas para mim. Como eu disse anteriormente, eu simplesmente desejo que explorem
o desconhecido e descubram todos os tipos de coisas. Eu dou a minha palavra sobre isso.”

No entanto, logo depois de dizer isso, Ainz perguntou a Ainzach:

“Ainda assim, parece que você trata as raças de forma diferente dependendo de quão
atraentes elas são. Por que você não disse essa frase sobre, “se é certo ou não subjugar
pela força aquelas raças que estão vivendo em paz” quando surgiu o tópico de invadir
Orcs e Ogros?”

“Isso, porque são demi-humanos—!”

“Hahahaha. Entendo, entendo. Então é isso que você pensa. Eu entendo, sei como pensa.
Então, qual é a sua resposta?”

Ainzach parecia querer dizer alguma coisa, mas imediatamente sacudiu a cabeça. Isso
provavelmente para mudar de idéia.

“Devo responder a essa pergunta imediatamente, Vossa Majestade?”

“Certamente, gostaria que respondesse imediatamente. No entanto, esse assunto é de


grande importância, e você deve se preparar para isso discutindo-o com os outros. O fato
de levar tempo é inevitável. Mas ainda assim gostaria de saber o que pensa, Ainzach.”

Ainz se inclinou para frente, para que ele pudesse olhar diretamente nos olhos de Ain-
zach de perto.

“Eu estou muito bravo. Mas mais do que isso, estou entristecido pelo fato de vocês,
aventureiros, não são nada além de simples exterminadores de monstros. Como as pes-
soas se atrevem a se chamar de aventureiros? O que me diz, Ainzach? Você está disposto
a se aventurar sob minhas leis? É minha esperança para todos vocês que—”

Aqui, Ainz parou por um momento. Então, deixou a força fluir em seus olhos e sua voz.

“—Que todos vocês serão capazes de se tornarem Aventureiros no verdadeiro sentido


da palavra.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


9 1
A tensão encheu a sala. Como se observasse um oponente que havia sido morto por seu
golpe derradeiro, Ainz prendeu a respiração — embora nem pudesse respirar — e
aguardou a resposta de Ainzach.

“...Eu sinto que esta é uma proposta muito atraente. Mas...”

As luzes dentro das órbitas vazias de Ainz tremeluziram. Parecia que ele encontraria
algum motivo para recusar.

“...Pretendo perguntar aos outros se eles podem aceitar essa proposta. É verdade que
usar aventureiros como nós para tal propósito é como um sonho que se torna realidade.
Tornar-se agentes do Reino Feiticeiro é algo com o qual podemos chegar a um acordo
em algum momento. Se eu pudesse falar como um ex-aventureiro... eu ficaria feliz em
ajudar.”

—Eh, isso significa que funcionou?

“É aceitável...”

Ainz se recostou no sofá.

A alegria do sucesso de sua fala se espalhou firmemente através dele. Era como a sen-
sação de deixar um cliente depois de fechar um negócio, depois correr para um telefone
mais próximo para ligar para a própria empresa e gritar “Eu consegui!” pelo telefone.

Ele não esperava que sua experiência como aventureiro acabasse sendo usada aqui.
Não, foi por causa dessa experiência que Ainz pôde propor essa proposta.

E então, Ainz pensou em algo que era muito importante que tinha que ser endereçado
imediatamente. Dizia respeito ao futuro do Reino Feiticeiro que ele imaginou.

“Ah, sim. Mais uma coisa.”

Ainz levantou um dedo ossudo.

“Quando você disse que queria proteger as pessoas, definiu como abrangendo todos os
humanoides. Assim, o objetivo dos aventureiros é proteger todas as pessoas dentro
dessa definição.”

“Sim. Exatamente isso, Vossa Majestade.”

“E então, quando o assunto foi para o tópico de invasão, você indicou que tudo ficaria
bem, desde que fossem demi-humanos. Isso está correto?”

Ainzach assentiu com a cabeça, sua expressão dizendo: “E daí?”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


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“O Reino Feiticeiro aceitará todas as raças. Isto é, não apenas humanoides, mas demi-
humanos e heteromorfos. Portanto, se a filosofia dos aventureiros é proteger o povo,
então você deve defender também os demi-humanos e heteromorfos.”

Os olhos de Ainzach se arregalaram.

“O que está dizendo!?”

“...O que há de errado? Eu não entendo o porquê está tão agitado. No meu país, não há
diferença entre seres humanos, demi-humanos ou heteromorfos. Se eles me reconhece-
rem como seu Rei, então eles serão meus súditos.”

“Isso, isso é muito ridículo. Isso é impossível, Vossa Majestade!”

“Tem certeza? Eu ouvi falar de um país ao norte do Reino, chamado Conselho Estadual.
Não existem muitas raças que coexistem lá?”

“De fato, eu ouvi falar desse país... não! O senhor pretende que nós coexistamos com
aquelas raças que veem os humanos como pouco mais que comida?”

“Entendo, há razão no que diz. O Reino Feiticeiro não permitirá que seus súditos comam
seus semelhantes. Eu vou fazer disso ser uma lei. Isso deve bastar, correto? No entanto,
eu não vou impedi-los se eles procuram atacar aqueles que não são meus súditos. Afinal,
eu não sou do tipo que interfere com os hábitos culinários do meu povo... não, ver os
membros de sua própria raça sendo massacrados e vendidos por carne é prejudicial
para a mente... talvez esse assunto exija mais debate.”

Segundo Lupusregina, os aldeões de Carne viviam em harmonia com Goblins e Ogros.


Assim, não havia razão para que isso fosse impossível para esta cidade. Dito isto, o
grande número de pessoas envolvidas complicaria o assunto.

“O que, o que exatamente o senhor pretende fazer?”

“Você certamente faz muitas perguntas surpreendentes. Por que não perguntar por que
todos vocês, como seres vivos, não podem se unir? Como um undead, acho esse ponto
bastante difícil de entender. Para mim, não há diferença entre humanos e Goblins. Todas
as raças serão iguais sob minha regência. Naturalmente, eu estarei acima de você como
seu governante absoluto, assim como os subordinados sob mim.”

A respiração de Ainzach parecia mudar através de uma variedade de velocidades, antes


de finalmente se acalmar.

“Então o senhor vai levar Goblins sob sua bandeira— transformá-los em seus cidadãos?”

“Não ouviu o que eu disse antes? Eu disse que levaria Orcs e Ogros como meus súditos
também, não?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


9 3
“Perdoe, me perdoe. Eu ouvi isso, mas acreditei que eles seriam seus escravos.”

“Essa resposta certamente combina com uma raça que trata os Elfos como escravos.
Deixe-me repetir — todos os cidadãos sob o meu governo serão iguais.”

Quando ele olhou para o jeito que Ainzach estava ofegante, Ainz considerou se o homem
tinha percebido suas intenções.

Uma interpretação extrema dessas palavras seria que todo sujeito do Reino Feiticeiro
seria um escravo da Grande Tumba de Nazarick e seus membros. Claro, ele não diria isso.
Nem havia necessidade de dizer isso. Seria melhor se Ainzach não percebesse isso.

“Há muitos Goblins sob minha proteção. Em poucos dias, um grupo de Goblins visitará
E-Rantel. Tente se misturar com eles. Os preconceitos que você tem dos Goblins certa-
mente serão destruídos. Além disso, os Lizardmen não comem muita carne, sendo sua
dieta primária o peixe. Dryads e Treants amam a água limpa e a luz do sol, e eles só ata-
cam humanos em autodefesa.”

“O senhor já tomou tantos vassalos sob sua bandeira?”

“Não tenha dúvidas sobre isso. Há um grande número de demi-humanos e heteromor-


fos que se tornaram meus súditos. Ah, parece que nos afastamos bastante do assunto.
Então, Ainzach, é do meu entendimento que você aprova a Guilda dos Aventureiros se
tornar parte do Reino Feiticeiro?”

“—Enquanto Vossa Majestade se manter fiel à sua palavra.”

“Você se preocupa muito, não é? Não estou mentindo. Os aventureiros devem procurar
explorar o desconhecido.”

Se possível, ele esperava reunir todos os tipos de raças em grupos e enviá-las para fora.

“Então, deixarei a tarefa de explicar o assunto para os outros aventureiros em suas


mãos. Se algum aventureiro não aprovar a tarefa de se tornar funcionário público, não
terei nenhum escrúpulo em deixá-lo partir.”

“Realmente não terá problema?”

“A cooperação forçada não é eficaz. Enfim, pode-se imaginar que grandes mudanças na
estrutura da organização e desvios repentinos das práticas atuais causarão muitos pro-
blemas. Portanto, o status quo será mantido, até certo ponto. A mudança mais óbvia será
apenas o estabelecimento de um escritório de investigação para a Guilda assim como o
Chefe de Guilda.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


9 4
Tudo o que restou foi a parte mais importante; os incentivos que fariam com que mais
aventureiros quisessem se juntar à Guilda dos Aventureiros do Reino Feiticeiro.

“O apoio que o Reino Feiticeiro oferece incluirá principalmente o estabelecimento de


uma instalação de treinamento. Seria uma perda terrível abrir caminho para terras dis-
tantes, apenas para ser morto por monstros desconhecidos. Portanto, um método de
treinamento mais prático do que o modelo atual — o de combate ao vivo contra mons-
tros — será necessário. Considerando que os aventureiros precisam se acostumar ao
combate em equipe, pode ser uma boa idéia construir uma dungeon para eles se acostu-
marem.”

Parte dos monstros seria preenchida por undeads POP de Nazarick.

“Sinto que é uma idéia muito boa mesmo. Só que, com certeza, seria um empreendi-
mento considerável.”

Como a equipe seria composta de undeads, que não necessitavam de salário, os custos
operacionais não seriam muito altos. No entanto, não havia necessidade dessa informa-
ção ser compartilhada com eles. Deve-se vender favores sem hesitação quando surgir a
necessidade.

“Certamente, isso exigirá um investimento inicial considerável. Mas isso está dentro do
limite permitido para despesas necessárias. Afinal de contas, os aventureiros são um va-
lioso recurso humano para o Reino Feiticeiro.”

“Eu sou profundamente grato, Vossa Majestade.”

“Não precisa ficar de cerimônia. Então, que tal isso? Você não acha que os aventureiros
seriam atraídos por isso?”

“Com certeza, isso seria bastante atrativo para os aventureiros de baixo nível... mas e se
os aventureiros decidirem se transferir para o Reino ou para as guildas do Império de-
pois de completar seu treinamento?”

“Claro que isso não será permitido. Este é um órgão estatal; o uso indevido disso pode-
ria ser considerado traição.”

“Entendo... parece que vou precisar explicar cuidadosamente essa parte.”

“Então, como atrairemos aventureiros de alto nível?”

“Sinto que a remuneração é a melhor resposta.”

“Bem, não é como se alguém pudesse comer sonhos.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


9 5
“É como diz. Além disso, sem melhores armas, armaduras e outros itens mágicos, será
impossível derrotar monstros poderosos. Esses itens são normalmente muito caros.”

“...Hm. Tem isso.”

A produção em massa poderia reduzir o preço de tal equipamento. No entanto, aventu-


reiros poderosos eram muito raros. Assim, seus equipamentos foram feitos sob enco-
menda, o que naturalmente elevava seus preços. As pessoas capazes de fazer esses itens
eram muito raras, o que só contribuía para o preço. Ele tinha que pensar em uma ma-
neira de lidar com os problemas que se seguiram também.

“Além disso, gostaria de deixar que mais aventureiros — os do Reino e do Império —


saibam deste lugar. Você tem alguma idéia?”

“A Guilda dos Aventureiros que Vossa Majestade pretende estabelecer, é uma coisa ini-
maginavelmente desejável, comparada às Guildas do Reino e do Império. Uma vez que
as notícias forem espalhadas, as Guildas das várias nações podem tentar alguns meios
para interferir, a fim de evitar que seus aventureiros as abandonem. Afinal, cada país
conta os aventureiros como seus trunfos, e eles não ficariam satisfeitos em ver seus
aventureiros debandando para outro país.”

“Exato. E o que você acha que seria uma boa solução para isso?”

“É difícil responder tão prontamente. Me é permitido tempo para pensar?”

“Faz sentido, eu permito. Eu também tenho que traçar um rumo para o futuro...”

O fato era que esse objetivo grandioso era demais para Ainz lidar sozinho. Ele precisava
se acalmar, pensar sobre as coisas e discuti-las com outra pessoa.

Ainz levantou-se.

“Então, com lincen—”

Ainz rapidamente fechou a boca antes que ele pudesse dizer algo rude. Não era assim
que um rei deveria falar:

“Vamos. Discutiremos isso novamente.”

Ainzach se levantou apressadamente e baixou a cabeça.

“Entendido, Vossa Majestade.”

Sem olhar para trás, Ainz saiu da sala pela porta. Fifth a tinha aberto.

Embora ele quisesse suspirar, ele ainda estava na Guilda. Fazê-lo agora seria prematuro.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


9 6
Ainz levou os anjos para fora da Guilda dos Aventureiros. Depois de andar um pouco
mais adiante, ele se permitiu suspirar baixinho.

Ahhhh~ eu estou exausto...

Enquanto Ainz Ooal Gown não poderia dizer que estava cansado, Suzuki Satoru estava
praticamente clamando para seu cérebro superaquecido ter um descanso.

Antes de falar com a Albedo sobre absorver a Guilda dos Aventureiros, devo descansar um
pouco. Eu também preciso encontrar uma maneira de convencer a Albedo sobre os méritos
deste plano... há tantas coisas pra fazer agora...

Ainz andou a passos largos em silêncio. Ele não usou magia de teletransporte, em vez
disso, rezou para que tropeçasse em uma boa idéia antes de chegar em casa.

♦♦♦

A porta da sala adjacente — o escritório de Ainzach — foi aberta e um novo hóspede


entrou. O homem com um corpo excessivamente magro — a ponto de alguns até consi-
derá-lo anoréxico — era o velho amigo de Ainzach, o chefe da Guilda dos Magistas de E-
Rantel, Theo Rakheshir.

“Pluton, aquilo foi uma grande surpresa. Eu não esperava que o Rei Feiticeiro viesse no
meio de nossas discussões. Ele notou alguma coisa?”

“Eu não teria tanta certeza disso.”

Naquela manhã, Ainzach passara a rotina diária de encontrar Rakheshir logo cedo para
trocar informações.

Desde que a cidade caiu sob o domínio do Rei Feiticeiro, eles só se encontraram pela
manhã. A razão para isso foi porque acreditavam que a maioria dos undeads não gostava
do sol. Ainda assim, depois de ver o exército de undeads patrulhar as ruas, eles sabiam
que era pouco mais que uma maneira de tranquilizar suas mentes.

Suas reuniões foram essencialmente realizadas com o propósito de trocar notícias, sem
considerar os futuros movimentos da Guilda dos Aventureiros e da Guilda dos Magistas.
Ou melhor, desde a fundação do Reino Feiticeiro, todos que podiam fugir já haviam par-
tido para o Império e o Reino. A Guilda dos Magistas também transferiu todos os seus
itens mágicos para fora da cidade, com apenas alguns membros ficando para trás. Em
outras palavras, a Guilda dos Magistas dessa cidade estava efetivamente dissolvida.

No entanto, ainda havia muito que precisava ser discutido no campo da análise de in-
formações.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


9 7
Embora os aventureiros não estivessem particularmente ligados aos países, eles ainda
poderiam continuar como antes, agindo de dentro do Reino Feiticeiro? O Reino Feiti-
ceiro enviaria saqueadores atrás dos antigos cidadãos desta terra que estavam ocupados
fugindo? Se conseguissem atravessar a fronteira com sucesso, o Reino Feiticeiro exigiria
a extradição dos refugiados a nível nacional? E o que seria dos magic casters?”

Como eles poderiam lidar com essa situação sem sacrificar Momon, que agora era resi-
dente aqui? Além disso, como a Guilda dos Aventureiros deve tratar Momon? Os templos
permaneciam em silêncio, sentindo que o Rei Feiticeiro também se afastava deles. No
entanto, isso continuaria no futuro? Eles liderariam um movimento de resistência contra
ele?

Cada uma dessas perguntas era desafiadora, o que sobrecarregava seus cérebros até o
limite, sem nada para mostrar pelo esforço. No entanto, seria problemático se não fizes-
sem nada e simplesmente deixassem as coisas acontecerem. Os templos eram particu-
larmente problemáticos nesse aspecto.

Poderiam os templos realmente aceitar seu inimigo mortal, um undead, como seu rei?
Eles mantiveram a paz por enquanto, mas isso, por sua vez, amedrontava ainda mais as
pessoas.

Além disso, havia as facções religiosas dos países vizinhos. Se as coisas corressem mal,
eles poderiam decidir unilateralmente declarar uma guerra santa, com os templos den-
tro do Reino Feiticeiro servindo como uma quinta-coluna. Essa situação teve uma chance
de acontecer.

A razão pela qual não havia ninguém aqui para representar os templos foi porque a sua
posição sobre o assunto não estava clara. Embora fosse fácil chamá-los, seria ruim se
eles acabassem sendo atraídos para outra coisa.

Dito isto, nenhum dos dois achou que os templos seriam realmente capazes de derrotar
o Rei Feiticeiro. O que os incomodava seria o massacre que certamente se desdobraria
depois que tentassem. Ainda pior, eles temiam que isso resultasse em Momon, a Espada
do Rei Feiticeiro, massacrando todos eles. Além disso, como curariam as feridas nos co-
rações das pessoas do país depois que algo desse tipo acontecesse?

Assim que suas cabeças estavam doendo com essa confusão caótica de eventos, o Rei
Feiticeiro havia chegado.

“No entanto, Sua Majestade parece ter sentido a sua presença aqui.”

A melhor prova disso foi o riso do Rei Feiticeiro quando ele olhou para a sala adjacente.

“Se dermos azar, tudo o que conversamos pode ter vazado.”

“O quê? Isso significa...?”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


9 8
“Exatamente o que você pensa. Ele também queria que você ouvisse o que ele tinha a
dizer.”

A acústica desta sala estava sintonizada de tal forma que tudo o que se dizia aqui podia
ser ouvido na outra. Por causa disso, Rakheshir — que estava escondido na sala ao lado
— deveria ter ouvido tudo o que os dois haviam dito.

“Não acha que ele poderia estar enganado?”

“Não, isso é impossível. Até certo ponto, ele deve ter sentido que alguém estava lá. Mas
é possível que Sua Majestade tenha pensado que era alguém dos templos.”

Agora a pouco, ele ficou mais confuso do que chocado devido à quão rápido a situação
se desenrolou. Quando pensou nisso, tudo o que ele sentiu foi arrependimento por suas
ações. Como ele queria rir de si mesmo, alguém que escondeu seu amigo fora do caminho.

Ele deveria ter convidado Rakheshir para fora, para que os três pudessem expressar
seus pensamentos

Claro, o Rei Feiticeiro provavelmente não havia colocado todas as suas cartas na mesa
ainda. No entanto, ele havia declarado suas opiniões a um mero cidadão, com o porte
real de um governante. Como ele se apresentaria em contraste?

Enquanto observava Ainzach franzir as sobrancelhas, Rakheshir perguntou friamente:

“Então, o que fará agora? Não, eu já sei. Afinal, você costumava chamá-lo de o Rei Feiti-
ceiro, mas agora se refere a ele respeitosamente.”

“Não acha que alguém pode estar escutando nossa conversa?”

“Você não acha que é a razão pela qual estou lhe dizendo isso agora?”

“Será que eu estava enfeitiçado?”

“Queria estar mais confiante em dizer isso, mas acho que não. Magias de encantamento
são limitadas por tempo, e mesmo que o Rei Feiticeiro quisesse sustentá-la, ele prova-
velmente não seria capaz.”

“Mas... algo assim pode ser possível para Sua Majestade.”

“Não diga isso nem de brincadeira, velho amigo. Isso seria perturbador. Afinal, essa se-
ria magia do oitavo nível ou mais, um reino pertencente aos deuses.”

Os dois riram brevemente, e então Ainzach retomou sua expressão séria.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


9 9
“Acredito que ajudar Sua Majestade nesse assunto é uma boa idéia.”

“Mesmo que isso resulte em você e a todos cúmplices em invasões a outros países?”

“...Não é natural que as nações fortes subjuguem as mais fracas?”

“Então você sabe que cedo ou tarde vai resultar em tragédia e concordou mesmo assim?”

“As coisas podem não necessariamente se desenvolver dessa maneira. Afinal, já que Sua
Majestade assumiu o controle deste país, quem entre nós está em pior situação?”

Rakheshir ficou em silêncio.

O surpreendente foi que ninguém neste país poderia dizer que eles estavam em uma
situação pior do que antes.

“Não há aventureiros que perderam seus empregos por causa disso?”

“Bem, sim, mas não é uma grande perda... vamos lá, eu mesmo já me demiti.”

“Isso é verdade. Eu falei sem pensar. Ainda assim, dado que foi uma oportunidade tão
rara, por que você não perguntou ao Rei Feiticeiro o que ele pensa dos templos?”

“Vou ter que explicar isso...? Bem, se Sua Majestade decidisse que eles são um incômodo
e destruí-los por causa de algo que eu dissesse, eu teria que viver o resto da minha vida
sabendo que causei um grande massacre. Como você acha que eu poderia viver comigo
mesmo se isso acontecesse?”

“Acha mesmo que o Rei Feiticeiro é alguém que faria uma coisa dessas?”

“Não. Pra falar a verdade, sinto que é o oposto. Sua Majestade é incrivelmente racional,
é bem inusitado. A tal ponto que às vezes me pergunto se aquele rosto de crânio é uma
ilusão mágica. Sim— me lembra quando eu falo com o Momon-dono.”

“Bem, isso seria uma desconsideração para com o Momon-dono.”

Ainzach sorriu fracamente ao ver seu velho amigo com uma expressão descontente no
rosto.

“Bem, isso é verdade. É desrespeitoso comparar um herói da humanidade ao Rei Feiti-


ceiro undead. No entanto, se considerar que ambos são seres de poder sobre-humano,
eles parecem bastante semelhantes. Se eu tivesse que descrevê-lo... sim, posso sentir a
mesma presença ao seu redor, uma que apenas essas entidades extraordinárias podem
irradiar.”

“Sim. Faz sentido quando coloca dessa maneira.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


100
Os dois lembraram a forma daquele grande herói — Momon.

Então, depois daquela breve pausa, Ainzach olhou diretamente para Rakheshir.

“—Rakheshir. Se não deseja ajudar Sua Majestade, posso incomodá-lo para não vir mais
aqui?”

A razão para isso quase não precisava ser dita. Afinal, a sala de Ainzach pode muito bem
ser usado para armazenar dados relativos à administração nacional do Reino Feiticeiro.
Permitir que pessoas de fora entrassem e saíssem de tal sala definitivamente não era
apropriado. Além disso, as palavras do Rei Feiticeiro — que causaram um grande im-
pacto no coração de Ainzach — também foram ditas a seu velho amigo.

A nova visão dos aventureiros de que ele havia falado seria brilhante e gloriosa. No pas-
sado, houve aventureiros que haviam pisado em terras desconhecidas. Entretanto, a
maioria deles morrera longe de suas casas, ou desistiram em face da realidade. Apenas
um punhado de pessoas poderia realmente fazer uma coisa tão perigosa. Mas agora, o
Rei Feiticeiro — um magic caster que exercia o poder absoluto — estava oferecendo seu
total apoio a eles. Isso abriu uma nova perspectiva de possibilidades.

Contida dentro disso estava a possibilidade de se tornarem verdadeiros aventureiros.

Depois de uma breve pausa, Rakheshir finalmente falou.

“Escute, Ainzach. Você sabe que a Guilda dos Magistas nesta cidade está praticamente
dissolvida, certo?”

“Ahh, claro.”

“Então, como um velho amigo, permita-me apoiá-lo com todas as minhas forças.
Quando estiver tudo pronto, por que não vamos explorar o desconhecido também?”

“—Haha”

Ainzach riu:

“Na nossa idade. Huhu— estaria mesmo disposto?”

“Por que não? Lembre-se de falar com Sua Majestade e convencê-lo a não colocar uma
restrição de idade na Guilda dos Aventureiros.”

E assim os dois encheram a sala com uma risada alegre.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


101
Capítulo 02: O Reino Re-Estize

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


102
Parte 1

item mágico no bolso dele vibrou e Climb o tirou.

O Era um relógio de bolso, grande o suficiente para caber na palma da mão,


com três ponteiros — hora, minuto e segundo — que traçava um halo de
doze números.

Existiam grandes relógios mecânicos, mas relógios pessoais só existiam dentro do


Reino como itens mágicos. Como relógios de bolso estavam intimamente ligados à vida
cotidiana, eles ficaram bastante baratos, a medida em que os itens mágicos se populari-
zavam. Dito isto, eles ainda não eram algo que um plebeu poderia pagar.

Climb havia pegado emprestado o relógio de bolso que ele agora usava, e assim ele di-
feria dos itens mágicos regulares, pois possuía uma habilidade mágica. O nome do reló-
gio era “Twelve Magical Power”. Uma vez por dia, quando o relógio chegava a um horário
definido, ele desencadeava sua mágica.

No entanto, seria necessário ter o relógio de bolso por pelo menos um dia inteiro para
aproveitar essa habilidade, então Climb — que acabara de obter esse relógio — não po-
deria usar sua magia.

“Hm? Já é hora? Isso foi rápido...”

Disse a garota que parecia estar olhando sem rumo para o céu azul. Naturalmente, essas
palavras foram endereçadas a Climb.

“Parece que sim.”

Climb respondeu à menina — Tina, um membro do grupo de aventureiras Rosa Azul.

“Hm~ É difícil dizer a hora, quando ficamos esperando.”

Essa afirmação tinham um sentido vago, e poderia ter várias interpretações.

Para começar, Tina não estava simplesmente esperando. Ela estava guardando a porta
principal da edificação atrás de Climb. Quando ela disse coisas como “Já é hora” e “Isso
foi rápido”, o fato era que ela tinha uma percepção muito apurada do tempo.

Havia algumas pessoas na comunidade de aventureiros cuja percepção do tempo era


sobrenatural. Em particular, muitas pessoas na profissão de Ladino treinaram essa ha-
bilidade. Era muito importante para eles, uma vez que muitas vezes precisavam se mo-
ver de forma independente em operações secretas.

“Hm? Queria dizer alguma coisa?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


103
“Não, nada em particular.”

Tina respondeu com um “Certo.” quando ouviu a resposta de Climb e depois olhou para
o céu novamente.

Ela estava escondendo alguma coisa. No entanto, não havia como alguém como Climb
perguntar o porquê ela estava mentindo.

Em primeiro lugar, eles não tinham dinheiro para contratar Tina e as outras; elas sim-
plesmente estavam operando na mesma área por acaso. Dada a falta de mão de obra, ele
não podia fazer nada que pudesse aborrecê-la.

“Então, vou me reportar à Princesa.”

“Te vejo depois~”

Climb foi em direção a edificação que estava vigiando durante todo esse tempo.

Ele a tinha visto durante a construção por diversas vezes, mas esta foi a primeira vez
que ele colocou os olhos depois que fôra concluído. O tamanho da edificação — e a pre-
sença de sua amada dentro dela — encheram as profundezas do coração de Climb com
conforto.

Depois de abrir a porta, o aroma singular de madeira recentemente esculpida atingiu o


nariz de Climb.

Ele continuou em frente e, depois de passar pelo corredor, abriu a porta de uma sala
nas profundezas da edificação.

Dentro daquela sala estava sua amada.

Ela era uma linda princesa, Renner.

Ao redor dela havia várias crianças.

A maneira como ela sorria ternamente para as crianças barulhentas e a postura que ela
tomou para ouvir suas palavras fez com que todos que a vissem pensassem em uma
santa.

Ao contemplar essa cena pitoresca, Climb perdeu a capacidade de falar.

Ele temia arruinar essa visão sacrossanta diante dele. O mesmo se aplicava às mulheres
que ficavam perto da janela, nenhuma das quais ousava fazer qualquer coisa desneces-
sária.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


104
No entanto, alguém dentro da sala não compartilhava seus sentimentos.

“Ei, é o rebeldezinho. Bem, já está na hora.”

Renner levantou a cabeça em resposta à voz fria que vinha de baixo da máscara e olhou
diretamente para Climb.

Climb podia se ver refletido naqueles olhos que o faziam lembrar safiras.

“...Minhas mais profundas desculpas, Renner-sama. É hora de voltar ao palácio.”

“Mas já~ Bem, embora me doa o coração fazer isso, eu devo me despedir.”

As crianças em uníssono falaram “Ehhhhhh~”, em vozes cheias de pesar e relutância.


Eles não teriam feito tal som se ela não tivesse enlaçado completamente seus corações.

Em resposta às crianças, as outras mulheres rapidamente entraram em ação. Elas aca-


riciaram as crianças suavemente e afastaram as crianças que eram mais lentas em en-
tender Renner.

“Posso vir brincar com vocês de novo?”

As crianças responderam afirmativamente, cheias de energia, à pergunta de Renner.

“Então, vamos cozinhar da próxima vez. Climb, vamos, você também, Evileye-san.”

“Hm~ Bem, eu sou sua guarda-costas também, mesmo se não disser isso— não é bem
um pedido, é mais como se estivéssemos passeando juntas. Não se preocupe, eu estarei
atrás de você.”

O grupo saiu da edificação exatamente quando uma carruagem puxada por cavalos pa-
rou nas proximidades.

Tina entrou na carruagem sem se apresentar. Embora parecesse que estava sendo rude,
ela estava simplesmente garantindo a segurança da carruagem. Logo depois disso, Ren-
ner, Climb e por fim Evileye entraram um após o outro, e então a carruagem partiu.

Entre os solavancos, Evileye não pôde deixar de murmurar:

“...Deve ter sido muito difícil construir um orfanato como esse.”

“Muito difícil?”

“Sim. Muitas pessoas estão dizendo isso também. Como conseguiu todo esse dinheiro
para gastar em um lugar como esse?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


105
Renner segurou seu queixo com uma mão, inclinando a cabeça ligeiramente.

“Eu não penso assim... Onii-sama ficou muito feliz em ouvir meu pedido. Além disso, é
porque o mundo é assim que precisamos cuidar bem das crianças, não?”

Evileye ergueu o queixo ligeiramente, como se permitindo que ela continuasse falando.

“Como todos sabemos, o governante do Reino Feiticeiro causou muitas mortes. Como
resultado, acredito que há muitos órfãos que perderam seus pais. Assim, este orfanato
foi construído para proteger esses órfãos. Além disso, aquelas mulheres que perderam
seus maridos também precisarão de um lugar para trabalhar, não acha?”

“O Rei Feiticeiro, huh... bem, vamos falar sobre isso mais tarde. O dinheiro seria melhor
gasto em outras coisas, em vez de gastar com aqueles pirralhos, não? Minha opinião é,
os fracos perderem suas vidas é apenas a maneira como as coisas funcionam no mundo,
não?”

“Creio que não.”

A declaração de Renner foi clara e sucinta. Ao contrário de seu tom de antes, essas pa-
lavras estavam cheias de tremendo poder.

“Salvar os fracos é o que os fortes devem fazer. E...”

Climb sentiu os olhos de Renner se virando de repente para ele.

Possivelmente—

A imagem de si mesmo quando criança apareceu na mente de Climb.

Talvez a Princesa tivesse construído o orfanato porque se lembrava de como ele estava
naquela época. De certa forma, era para evitar que crianças como Climb voltassem a apa-
recer.

Uma onda de calor passou pelo seu peito.

Claro, ele não pôde verificar os verdadeiros pensamentos da Princesa. Mesmo assim,
Climb não duvidou que fosse algo nesse sentido.

“Bem, tenho certeza que algumas pessoas pensariam dessa forma, e parece errado for-
çar meus próprios pontos de vista sobre os outros. Ainda assim, realmente precisava
fazer um tão grande?”

“Sim. Afinal de contas, temos que considerar que vamos receber muitas crianças no fu-
turo, e haverá outras daquelas regiões diretamente administradas pela Coroa. Com isso
em mente, até mesmo um edifício desse tamanho pode não ser grande o suficiente. As

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


106
crianças são meu tesouro e precisamos cuidar delas para garantir que não sigam o ca-
minho errado.”

“Hmmm. Princesa-sama, parece que sua cabeça traz muito mais do que um rosto bonito.”

“O que está tentando dizer, Tina?”

“Eu estava pensando em como as crianças sem seus pais viveriam, Evileye.”

“Ah, sim... eu entendo... não podemos poupar mão de obra preciosa para reabastecer o
número esgotado de tropas, então está usando meios alternativos para manter a ordem
pública... entendo.”

“Pode-se viver uma vida boa e justa sob supervisão. Mas as pessoas acabarão seguindo
seus desejos se não forem astutas. E então, quando cometerem crimes, se afundarão
cada vez mais na maldade. É assim que grandes coisas, tem pequenos começos, como
uma bola de neve colina abaixo, por isso devemos evitar quanto antes. Mas como é algo
difícil, usamos esses métodos para reduzir essas chances.”

“Hm. Então basicamente; nem todo mundo tem uma forte força de vontade?”

“Bem, já disseram isso sobre você antes, Evileye — será que isso te incomoda?”

“Acho que cerca de três vezes, em ocasiões diferentes.”

Mesmo a segunda metade da conversa sendo algo que ninguém além de Evileye e Tina
podiam entender, a primeira metade foi simples o suficiente para que até Climb pudesse
entender.

As crianças que perderam os pais muitas vezes recorreram ao crime para sobreviver.
Se isso acontecesse, até mesmo a enfraquecida organização Oito Dedos logo retornaria
à força total, o que pioraria a segurança da Capital Real.

Em outras palavras, sua amada mestra fez isso para se preparar para o futuro.

No entanto— Renner perguntou a Evileye em um tom curioso:

“—O que isso significa?”

“Ei... será que estamos vendo coisas onde não tem? Ou seria uma atuação dela?”

“Hm~ parece bem genuína essa vontade de ajudar.”

“Bem, se você diz, então deve ser verdade. Eu sinto que fiquei comovida por nada.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


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“Ghum, parece que decidiu diminuir sua opinião sobre mim de repente... mas é verdade.
Eu penso em muitas coisas, sabe? Neste momento, este orfanato está dando a essas cri-
anças um certo grau de educação, e assim que começarmos a identificar indivíduos ta-
lentosos, os outros nobres certamente começarão a nos copiar. Por causa disso, precisa-
mos de uma certa quantidade de crianças... Embora isso não seja realmente algo para se
orgulhar.”

“Não, nesse sentido eu entendo o desejo de reunir esses pirralhos, e é muito admirável
também. Se você puder realmente produzir resultados, seria digno de elogios. É só que
as pessoas vão suspeitar se você fizer algo sem esperar nada em troca.”

“O coração de Evileye está distorcido porque ela trabalha muito.”

“Ei! Você é do mesmo tipo que eu, não é!?”

“Certamente não. Eu sou muito pura. É só você quem foi manchada.”

“Cheh!”

O som de escárnio explosivo veio de baixo da máscara.

“Sim, sim. O Brain-san que me deu a idéia de construir o orfanato.”

“Brain Unglaus, huh. O que aconteceu com ele. Não o vi hoje.”

“Brain-san está ocupado com outra coisa. Vagando pela Capital e coisas assim.”

“Hoh? Poderia haver algo mais importante do que proteger a Princesa?”

“Sim. Ele está fazendo algo para cumprir os desejos do falecido Capitão Guerreiro. E
falando nele... bem, obrigada pela sua ajuda.”

Tina estreitou os olhos, como se escondesse seus sentimentos.

“Sim, isso me deixou muito chateada, já que o rosto bonito da nossa líder diabólica ficou
ferido.”

“Sinto muito por isso. Por favor, permita-me pedir desculpas em nome de meu pai.”

“Eu sei que você já se desculpou diretamente com ela, e é por isso que eu te perdoo.”

“Muito obrigada.”

“...Parece que, às vezes, as palavras dos mortos são mais poderosas do que as dos vivos.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


108
Por um momento, Evileye olhou para fora da carruagem enquanto pensava profunda-
mente. Claro, isso foi só por um momento.

“Falando nisso, o que exatamente o Brain Unglaus está fazendo?”

“Bem, o Capitão Guerreiro disse ao Brain que esperava que ele o sucedesse como Capi-
tão Guerreiro, mas o Brain sentiu que não estava à altura da tarefa. Portanto, ele está
procurando por alguém adequado para se tornar o próximo Capitão Guerreiro e pre-
tende o treinar para isso.”

“Então, está procurando alguém que não seja de uma família nobre... entendo — afinal,
tanto o Gazef quanto o Brain eram plebeus. Então ele planejava isso. E sua inspiração—”

“—Isso mesmo, construir o orfanato. Da próxima vez, irei visitar as crianças com o
Brain-san. Até onde sabemos, pode haver uma criança detentora de Talento entre elas.”

“Bem, eu não sou tão perspicaz...”

Disse Tina, e completou:

“E você, Evileye?”

“Não dá para discernir Talentos de relance. No mínimo, eles precisam passar por vários
treinamentos mágicos antes que eu possa entender mais ou menos se eles podem ou não
usar magia. E sou versada apenas em magia arcana. Se esses pirralhos levarem jeito em
espiritualismo ou na magia divina, não poderei ver nada.”

Renner murmurou “Hmmmm~” em um tom aborrecido, e então um sorriso floresceu


em seu rosto.

“Então, no futuro, acho que deveríamos convidar todo tipo de gente para o orfanato e
fazer com que observem as crianças em busca de Talentos.”

Renner estava olhando para as duas, aparentemente tentando transmitir algo com o
olhar. Até certo ponto, seria mais persuasivo do que falar.

“...Isso é muito ingênuo. Mas se fosse ela, ah—”

“Eu sinto muito, Evileye. Mas nossa líder diabólica—”

“—Sim. Ainda assim, eu não vou concordar tão facilmente, mesmo ela querendo isso.
Afinal de contas, precisamos de uma certa quantia de remuneração por isso — se nos
contratarem, precisaremos de um pagamento mínimo. Além disso, se não coletarmos
nada, será ruim para os outros também. Isso também violará as regras dos aventureiros.
Pois um preço tem que ser pago por técnicas de ensino.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


109
“Eu concordo com tudo o que disse, mas sinto muito. A verdade é que eu não tenho
dinheiro...”

Renner abaixou a cabeça em desânimo quando disse isso.

A Terceira Princesa era uma sobressalente entre as peças de reposição, e ninguém tinha
qualquer expectativa em Renner além de sua capacidade de unir uma família nobre à
linhagem real por meio do casamento. Por causa disso, nenhum nobre a apoiava, e assim
ela não tinha dinheiro para gastar como desejava. Claro, isso não era muito difícil para
Renner, que vivia um estilo de vida simples para uma princesa. No entanto, não havia
como a Primeira ou Segunda Princesa poder tolerar esse tipo de coisa.

Por isso Climb pôde sentir o quanto ela se importava com ele, sua armadura provava
isso.

“Eu ouvi que as princesas usam vestidos bonitos e levam a vida no luxo...”

“A realidade dificilmente é legal. Mas não podemos dizer que não há princesas assim.”

Enquanto observava os olhos da Princesa Renner se iluminarem com admiração, uma


emoção que ele não conseguia expressar com palavras brotou no coração de Climb.

Ele queria dar esse tipo de vida a ela, que era a pessoa mais bela do mundo e que tinha
a alma mais nobre do mundo.

Por outro lado, tudo girava em torno dela. Ele estava de pé aqui agora porque ela o
salvou. Só então, Renner o encarou, e seus olhos brilhantes encontraram os de Climb.

“—Pensando em algo, Climb?”

“Ah, não, não é nada, Renner-sama.”

“Mesmo? Bem, se pensa algo, pode falar. Precisamos nos ajudar mutuamente em tem-
pos difíceis.”

“O-o farei! Muito obrigado!”

“Ei. Desculpe interromper os pombinhos, mas eu realmente não gosto de passar minhas
habilidades de graça. Não importa o que ela diga, ainda vou pedir um pagamento ade-
quado.”

“Vou me esforçar para atender o seu preço.”

Renner abaixou a cabeça.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


110
“Hmm~ mas o que quer saber é se eles têm levam jeito ou não, certo, Princesa-sama?
Se for eu, posso observar os movimentos deles, mas e você, Evileye?”

“...Er. Arg. Não dá para notar as profundezas de uma pessoa apenas observando en-
quanto fazem alguns exercícios. A habilidade mágica é mais interna que externa. Além
disso, eu posso parecer uma gênia quando se trata de habilidade mágica, mas não passa
disso. Não possuo as habilidades daquele magic caster do Império.”

“Então, identificar Talentos—”

“Talentos, huh...”

Renner suspirou e continuou:

“Seria uma grande ajuda se pudéssemos identificá-los durante a infância. Também aju-
daria a suavizar a teimosia dos nobres em relação aos plebeus.”

“Então, que tal criar um sistema universal de identificação de Talentos em crianças?


Existem magias de terceiro nível que podem verificar a presença ou ausência disso. Mas,
se quiser total compreendimento do Talento, é bem provável que precise de uma magia
de nível superior... bem, no fim, isso não passa de conjectura.”

“Mesmo? Você realmente pode identificar Talentos?”

“Eu não sei o porquê desse brilho em seus olhos, mas não tenha tantas esperanças. Eu
ouvi dizer que há uma magia de terceiro nível do tipo espiritualista que o magic caster
pode usar na presença de alguém para verificar a existência de Talentos. Só que, mesmo
se tal magia realmente existir, a parte problemática vem depois disso. Pois será preciso
aprender a desenvolver adequadamente esse Talento. E também é bem provável que
depois de expressar esse Talento, a habilidade desenvolvida a partir dele possa acabar
se tornando inútil.”

“Sendo assim...”

A luz nos olhos de Renner diminuíram.

“Eu acho que seria melhor testá-los de várias maneiras. Peça-lhes que permaneçam em-
baixo de uma cachoeira, ou peça que tragam algumas drogas relativamente seguras para
dormir e entrar em transe. Aparentemente, isso faz você sentir seu próprio Talento na-
tural, misturado com outra coisa.”

“Mesmo? ...Hm, isso é realmente verdade?”

“Ara~, você tem um Talento natural também, Evileye-san?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


111
Com isso, Evileye, até então tagarela, subitamente ficou em silêncio. Parece que alguém
levantou um tópico que ela não queria discutir.

No entanto, sua mestra fôra inocente o suficiente para fazer essa pergunta.

“Poderia me dizer que tipo de Talento é?”

Não que ela gostasse de um questionamento tão incisivo, mas o fato era que ela tendia
a ser assim. Pode-se dizer que ela não sabia ler o fluxo de uma conversa, ou talvez que
ela, sem querer, perguntasse sobre coisas que geralmente eram difíceis de abordar.

Não era porque não se importava; foi simplesmente porque veio de uma família real.

“Que foi? Por que ficou interessada assim?”

“Convivi com pouquíssimas pessoas que possuem Talentos, então fiquei curiosa em sa-
ber qual é o seu, Evileye-san.”

“Então é isso. Bem, já que chegou a isso, eu posso muito bem te contar.”

Evileye inclinou seu corpo para frente e Renner — seu rosto era a imagem da expecta-
tiva — também se inclinou para frente.

Os Talentos naturais às vezes podiam servir de trunfo, e isso era ainda mais importante
para os aventureiros. Embora não achasse que Renner divulgaria esse segredo, Climb
sentiu que isso era algo que não deveria ser compartilhado levianamente.

“Eu não quero que outras pessoas escutem, então poderia aproximar sua orelha?”

“Tudo bem.”

Renner aproximou seu ouvido de Evileye.

E então—

“COMO SE EU FOSSE SUSSURRAR ALGO IMPORTANTE ASSIM!!!”

Sua voz irritada ecoou pela carruagem.

Tina, que parecia ter antecipado isso, havia tapado suas orelhas de antemão.

“Sua malvada! Meus ouvidos estão zumbindo!”

Renner praticamente se jogou nos braços de Climb. Um efeito sonoro adequado para
isso seria *pomf*.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


112
Ela ergueu os olhos do peito dele, os olhos cheios de lágrimas.

Climb imediatamente afastou pensamentos como “Ela é fofa”, “Ela cheira bem” e outras
coisas sem sentido de sua mente. Era proibido ter tais fantasias sobre sua senhora.

“Evileye-sama, eu entendo como se sente, mas eu poderia pedir-lhe para perdoar—”

“―Ah? Rebeldezinho, ela se tornou assim porque você fica mimando ela, não?”

“N-não é nada disso, não é como se eu mimasse a Princesa ou...”

Mesmo que ele quisesse mimá-la, não havia como ele conseguir fazê-lo.

“Sim, sinto que o Climb pode e deve me mimar mais. Eu aprovo o que você disse, Evi-
leye-san.”

“Não, não, isso não está certo, Princesa-sama. Parece meio errado...”

“Claro que não! Se você me mimar mais, eu poderei aguentar as broncas com mais faci-
lidade. Portanto, você deve me mimar mais. Vamos começar cochilando juntos como cos-
tumávamos quando crianças. Vamos, Evileye-san, por favor, continue!”

“Ugh, tudo bem. Eu sou tão idiota... Enfim, eu não pretendo sair por aí dizendo aos ou-
tros o meu Talento, senhoritazinha. Entendeu bem?”

“É realmente tão perigoso?”

“Ah sim. É o meu trunfo. Se eu o usar... sim, seria como se a espada da nossa líder esti-
vesse fora de controle. Poderia facilmente aniquilar uma cidade inteira como aquela.”

Parecia haver um peso terrível na voz de Evileye quando ela disse isso.

Ainda assim, um frustrado “Hm?” veio do peito de Climb. Ele queria olhar para baixo,
mas se o fizesse, isso o tornaria muito consciente da realidade de que Renner estava
muito próximo dele. Não havia como ele fazer isso.

Ele pensou em afastar Renner, mas depois de levar em consideração seu corpo macio e
frágil, ele não sabia quanta força deveria usar.

Enquanto o coração de Climb continuava batendo, a conversa continuou sem ele.

“A espada que a Lakyus carrega?”

“Ah, de acordo com ela, uma vez que perder o controle, isso levará a graves consequên-
cias. Uma cidade— não, uma nação? Aparentemente, será completamente eliminada. Ela
disse alguma coisa sobre ter que usar parte da força dela para suprimi-la.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


113
“Então é isso que estava acontecendo... eu não sabia...”

Climb não havia contado à sua amada sobre essa espada demoníaca ainda.

“Não se preocupe. Nossa líder diabólica não mencionou a vocês pois não queria que se
preocupassem. E eu ficaria feliz se continuassem fingindo que não sabem.”

“...Entendo. Tudo bem. Farei o que você diz.”

“Por falarem nela, o que aconteceu com a Aindra-sama? Eu não a vi recentemente...”

“Hm? Ninguém te disse? Princesa, não contou a ele?”

“...Eu esqueci. Parece que ela está treinando com a Gagaran-san e Tia-san.”

Evileye emendou com a resposta de Renner e continuou:

“As duas morreram durante a batalha com o Jaldabaoth, o Imperador Demônio que ata-
cou o Reino. Elas foram ressuscitadas depois, mas perderam uma grande quantidade de
sua força vital. Então precisam se colocar em perigo, pisando na borda da vida e da morte,
a fim de recuperar essa força.”

“Na verdade, eu gostaria de ter ido com elas.”

“Mas se fizesse isso, acabaria ficando mais fácil para elas. O melhor caminho para ficar
forte é através de batalhas em pequenos grupos.”

“Não tenho tanta certeza.”

“Uhun, parece ser um jeito efetivo de fazer um lair-bellup... Bem, se não confiar nesse
método, pode nem ser capaz de ganhar tempo quando aquele monstro atacar a Capital
Real novamente.”

“Ganhar tempo? Ahh— tempo até que chegue aquele cara que recomendou, Evileye?”

“Claro! Até que o Herói-sama possa chegar!”

O humor de Evileye parecia ter mudado de repente.

Era praticamente tangível sua paixão e excitação através de sua máscara.

“Momon—sa-sama, é isso?”

“Isso mesmo! O grande herói, Momon-sama! O mais poderoso guerreiro de todos os


tempos, que maneja aquelas espadas imensas como se fossem leves como gravetos! Não

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


114
há dúvida de que ele é o mais forte lutador da terra! Mesmo que Jaldabaoth venha de
novo, contanto que o Momon-sama esteja por perto, ele definitivamente o matará! Foi
uma pena que ele conseguiu escapar da última vez. Ainda assim, aquele grande homem
já deve ter inventado alguma maneira de lidar com isso agora!”

Oprimido pelo ardor de suas palavras, tudo o que Climb pôde fazer foi responder fra-
camente:

“Oh, sim.”

“Tem certeza que ele vai vir? Ele não é um lacaio daquele Rei Feiticeiro?”

A expressão de Tina sugeriu que ela estava completamente exausta enquanto falava
com Evileye, que tinha os punhos cerrados.

“Ahhhh~! Momon-sama!!! Merda, aquele maldito Rei Feiticeiro! E pensar que ele real-
mente ousaria assumir o controle daquele grande homem! Mesmo se o céu permitir, eu
não vou! Se eu pudesse derrotá-lo e libertar o Momon-sama! No que ele estava pensando,
afinal? Talvez eu deva ir a E-Rantel e perguntar ao Momon-sama sobre seus pensamen-
tos, que tal?”

“...Pelo menos espere até que as duas se recuperem.”

“Vai ser rápido, e uma vez que eu me familiarize com o lugar, eu posso me teletranspor-
tar de volta. Além disso, se eu usar o 「Fly」 e viajar sozinha, não levará muito tempo!”

“Evileye, você realmente perde a compostura quando se trata do Momon... A nossa líder
diabólica já não disse, que você não pode fazer esse tipo de coisa?”

“Então me ajude a manter isso em segredo!”

“Bem, meus lábios se abrem com faci~lidade, então vão revelar tudo em um instante.”

“Ei, isso seria impossível, dada ao seu trabalho anterior, não?”

“Infelizmente, agora sou Tina da Rosa Azul, também conhecida como “Boca frouxa”.”

Foi então que os olhos de Tina assumiram um brilho sério.

“...Hm, esta é uma boa oportunidade. Me tira uma dúvida, Evileye — você pode matar o
Rei Feiticeiro?”

Evileye congelou. Sua excitação se esvaiu em um instante. Em seu lugar estava a magic
caster de nível mais alto entre as aventureiras.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


115
“Se esses rumores são todos verdadeiros — então ele é mais poderoso que qualquer
outro magic caster. Fiz algumas investigações depois do incidente nas Planícies Katze,
procurei todos os meus contatos — até entrei em contato com a Vovó — e depois analisei
as informações que obtive. É tão ridículo que até perde a graça. É absurdo a ponto de eu
estar seriamente suspeitando se o rebeldezinho ficou hipnotizado por uma ilusão.”

“Aquilo definitivamente não era uma ilusão. E houve muitos mortos...”

O rosto de Renner se torceu em agonia.

“Das duzentas e sessenta mil pessoas que participaram da guerra, cento e oitenta mil
delas estão mortas. Eu também ouvi dizer que há sobreviventes com cicatrizes mentais
e que não podem mais viver uma vida normal. Alguns órfãos tiveram pais que acabaram
assim.”

“...Bem, depois de ouvir o rebeldezinho, posso ver como eles terminariam assim. Se eles
foram perseguidos por tais monstros...”

“...Sim. Aquilo foi um inferno. Felizmente, eu tinha o Brain-san... e o Capitão Guerreiro


comigo, e graças a esses dois homens fortes, eu não sofri nenhuma ferida mental. Mesmo
assim, às vezes eu reflexivamente olho para trás, para ver se algo está me seguindo. Deve
ter sido pior para os camponeses, e não seria estranho que eles se tornassem doentes
mentais.”

“Você realmente precisa agradecer a sua sorte por isso.”

Climb só conseguiu assentir em resposta.

“Então, Tina. Vou te responder com toda a sinceridade. Eu não posso derrotar o Rei
Feiticeiro.”

Essa foi a resposta que ela esperava.

“Como eu pensava...”

“Bem, sim. Eu poderia ser capaz de pensar em uma maneira de lidar com esses mons-
tros que ele invocou. Com certeza, é difícil dizer isso, já que eu não estava no local. Ainda
assim, o Rei Feiticeiro — que pode não apenas invocar vários monstros desse tipo, mas
também os controla — é uma criatura que não deveria existir neste mundo. Alguém as-
sim possui o poder dos deuses.”

“É possível que tenham sido conjurados de um item, e não do poder do Rei Feiticeiro?”

“A possibilidade existe, mas se fosse esse o caso, também seria muito perigoso. Mas, não
temos como verificar.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


116
“Se ao menos ele e o Jaldabaoth se enfrentassem.”

“Esse é um desenvolvimento pelo qual todas estamos ansiosas. Afinal, o melhor cenário
seria o Momon-sama matando o Rei Feiticeiro...”

“...”

“Quem a senhora acha que é mais forte, Momon-sama ou o Rei Feiticeiro?”

A pessoa que fez essa pergunta foi Climb, mas pessoalmente, ele sentia que o Rei Feiti-
ceiro que tinha conjurado poderosos monstros era muito superior. No entanto, a expres-
são pensativa de Evileye o surpreendeu.

“Não tenho certeza. Pessoalmente, sinto que o Momon-sama — que despachou Jaldaba-
oth — é mais forte. Mas o Rei Feiticeiro também possui um poder inimaginável. Ambos
os lados são muito superiores a nós, então não consigo imaginar o resultado.”

“Ainda assim, ter alguém como ele sob a bandeira do Rei Feiticeiro é praticamente o
pior cenário possível. Ninguém ousaria declarar guerra.”

Ela estava certa.

A única pessoa que poderia enfrentar o Rei Feiticeiro em termos uniformes se tornara
seu vassalo. Esse foi um desenvolvimento verdadeiramente preocupante. Qualquer um
que declarasse guerra ao Rei Feiticeiro estaria efetivamente declarando guerra aos dois.

Assim que o humor na carruagem se tornou sombrio, houve uma batida na janela que
separava o compartimento dos passageiros do assento do condutor, e então ela se abriu.

“Chegaremos ao Palácio Real em breve.”

Ao ouvir as palavras do condutor, Renner levantou-se lentamente e encarou as duas


aventureiras sentadas diante dela.

“Hoje, recebi seus cuidados de várias maneiras. Quando a Lakyus voltar, agradeça-lhe
devidamente. Se me permitem, vocês têm algum tempo livre para jantar comigo?”

♦♦♦

Depois que o relatório do retorno de sua irmã mais nova chegou até ele, o Segundo
Príncipe — Zanac Valleon Igana Ryle Vaiself — partiu de seus aposentos para recebê-la
em casa.

A localização de seu irmão mais velho — Barbro Andrean Ield Ryle Vaiself — ainda era
desconhecida. Dado que um longo tempo tinha passado, suas chances de sobrevivência
eram consideradas extremamente baixas. Sendo esse o caso, Zanac era efetivamente o

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


117
herdeiro do trono. Assim, o modo pelo qual ele foi receber sua irmã mais nova foi total-
mente inadequado. Mesmo sendo irmãos, havia uma clara distinção em suas respectivas
posições.

A razão pela qual ele escolheu ir pessoalmente, foi para saber se ela tinha uma proposta
que valeria a pena discutir. Zanac não estava totalmente disposto a fazer, mas como per-
deu seu confidente mais próximo, ele não tinha mais ninguém a quem recorrer.

Logo, sua irmã mais nova apareceu diante dele.

Climb — trajado com sua armadura branca pura — estava por perto. Onde quer que
Renner fosse, Climb frequentemente a seguia. Isso também não era nada fora do comum.

A criança indigente que Renner tinha escolhido nas ruas — Climb.

No passado, ele achava que ela devia ter ficado obcecada e o pegou de um momento de
descuido. No entanto, depois que começou a entender a personalidade estranha de Ren-
ner e seu incomparável intelecto, Zanac começou a pensar que ela poderia ter uma razão
para fazê-lo.

E então, depois que Jaldabaoth atacou a Capital Real, e o Rei Feiticeiro fez seu grande
massacre, ele lentamente começou a entender o significado por trás de suas ações.

Havia poucos guerreiros nesta cidade que fossem mais fortes que Climb. Mesmo entre
os homens do bando guerreiro, escolhidos a dedo por Gazef, podia-se contar o número
de pessoas que eram mais fortes que Climb em uma mão.

Além disso, havia o homem chamado Brain Unglaus, que tinha vindo com Climb, e ainda
havia a amizade íntima com Lakyus, a líder da equipe de aventureiras adamantite cha-
mada Rosa Azul. Não havia dúvida de que sua irmã mais nova agora possuía grande parte
do poder físico da Capital Real.

―Será que ela quer me derrubar com poder militar?

Zanac estava certo em suspeitar dela.

Mesmo que Renner não fosse alguém que recorresse tão facilmente a essas medidas,
ainda assim era preciso tomar precauções. Portanto, Zanac começou a construir secre-
tamente laços com aventureiros orichalcum e mythril.

Zanac agradeceu em voz baixa ao irmão mais velho.

A razão pela qual ele poderia trabalhar tanto nesses assuntos foi porque seu irmão ha-
via desaparecido e praticamente o presenteado com o trono. Outra grande razão era
porque o subsídio anual de seu irmão agora ia para ele.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


118
Dito isto, o fato de que o cadáver do príncipe herdeiro Barbro ainda não havia sido en-
contrado deixou uma sugestão de desconforto em seu coração. Seria muito problemático
se ele tivesse sido preso pelo Rei Feiticeiro ou estivesse escondido em algum vilarejo
enquanto se recuperava de suas feridas.

“Francamente... ele vai me dar problemas até o fim?”

Zanac murmurou, baixo o suficiente para que os membros de sua comitiva não pudes-
sem ouvir.

Era preciso evitar atritar os nobres antes de consolidar sua posição.

Atualmente, o apoio de Zanac ainda não é algo concreto.

Marquês Raeven — que havia se juntado a ele para revitalizar o Reino — havia jogado
tudo nas mãos de Zanac e voltou para suas próprias terras. Era de se esperar, já que ele
havia perdido muitas pessoas de seu domínio, mas no dia em que partiu, havia um clima
ao seu redor que parecia dizer que ele nunca mais voltaria.

Parte da razão para isso deve ter sido a morte de sua antiga equipe de aventureiros,
orichalcum, e a de seu camponês que se tornou estrategista, um homem que Raeven con-
siderava um tesouro.

Zanac sentiu uma ligeira dor nas suas entranhas. Discutir assuntos com sua irmã mais
nova abrandaria essa dor?

Ele estava agonizando sobre um certo problema nas últimas semanas.

Isso seria— ele deveria oferecer um tributo ao Rei Feiticeiro? Se ele fizesse isso, deveria
enviá-los em nome de celebrar a fundação de sua nação? Ou deveria fazê-lo por outro
motivo?

A julgar pelas circunstâncias atuais, não enviar presentes seria a escolha certa. Por que
alguém enviaria presentes para alguém que tivesse tomado o próprio território e fun-
dado uma nação? Os países vizinhos certamente tomariam isso como um sinal de vassa-
lagem. Dito isso, era crucial permanecer em termos de igualdade com o Reino Feiticeiro.

Embora a força de luta do Reino Feiticeiro permanecesse desconhecida, o fato de o Rei


Feiticeiro poder destruir uma nação sozinho já era de conhecimento geral.

Não importava o que tivesse que fazer, era preciso evitar a possibilidade de que os olhos
daquele homem cobicem o Reino novamente.

Justamente por isso, um presente se fazia necessário. Zanac achava que não poderia
evitar isso, mesmo que outras nações acreditassem que fosse um sinal de fidelidade. In-
dependentemente dos meios, ele queria comprar o máximo de tempo possível.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


119
No entanto, os nobres nunca aceitariam isso. Esta foi a parte problemática.

O poder do Rei Feiticeiro ficou amplamente conhecido. Dito isto, não havia como aceitar
uma atitude de submissão do futuro governante do Reino (Zanac), mesmo diante dessa
força.

Os nobres sofreram tremendas perdas, então procuravam bodes expiatórios para de-
sabafar suas frustrações.

Devido à perda de seu confidente Gazef Stronoff, o atual Rei, Ranpossa III, foi tomado
pela dor e pelo desespero, e caiu em um estado de extrema angústia mental. Até certo
ponto, ver o Rei neste estado triste tinha aplacado a ira dos nobres, mas o ódio deles em
relação ao Rei em depressão — e talvez a toda a família real — não desapareceria tão
facilmente.

Se aquele sujeito estivesse por perto, ele provavelmente conseguiria algo bom.

Se possível, ele gostaria de ter chegado a uma conclusão. No entanto, o tempo estava
apertado e ele precisava de um plano de ação quanto antes.

Zanac permaneceu no lugar, enquanto batia as botas ruidosamente.

Renner reagiu ao som e se virou para olhá-lo. Então, ela mudou de direção e se dirigiu
para Zanac. Dessa forma, a dignidade de Zanac como uma das mais altas posições per-
maneceria intacta.

Logo, sua irmã mais nova estava diante dele, mas Zanac não falou primeiro. Momentos
como este eram muito delicados. Ele teve que deixar mais pessoas entenderem quem
exatamente estava na alta hierarquia.

“Eu voltei, Onii-sama.”

“Percebi, querida irmã.”

Diante da saudação respeitosa de Renner, Zanac respondeu com igual generosidade.


Ele viu Climb saudando pelo canto do olho, mas não havia necessidade de devolver a
saudação de um mero soldado.

“Vamos caminhar juntos?”

“Seria um grande prazer, Onii-sama.”

Zanac e Renner foram juntos, lado a lado. Ele ergueu o queixo, indicando que seu sé-
quito deveria manter distância. Se tivesse olhado, ele teria visto Renner indicando para
que Climb mantivesse uma certa distância também.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


120
“Falando nisso, Onii-sama, parece que está bastante preocupado. O que aconteceu?”

Renner sorriu quando gentilmente fez sua pergunta.

“Será que o Reino Feiticeiro enviou um mensageiro?”

Zanac podia distintamente ouvir as rimbombadas de seu coração. Ele tinha estado
muito focado em que ação tomar, mas tinha ignorado completamente o fato de que eles
poderiam tentar iniciar contato com ele.

Em outras palavras, Renner achava que já era hora de o outro lado agir.

Zanac fez uma anotação mental disso e balançou a cabeça.

“Não é bem assim.”

“Isso quer dizer que veio até aqui me ver por algum outro motivo?”

“Ahh. Eu estava ponderando sobre o problema do tributo.”

“Eu acho que uma vez que o emissário deles chegar, seria melhor oferecer o dobro do
que está imaginando, Onii-sama. Metade disso é um sinal de agradecimento por terem
vindo até aqui, enquanto a outra metade— bem, não preciso dizer o óbvio, não é?”

Zanac não disse nada, mas revisou cuidadosamente a proposta de Renner.

De fato, seria uma jogada muito boa.

Certamente, nenhum dos nobres se oporia a apresentar um presente para um convi-


dado que tivesse chegado à sua casa, mesmo que houvesse segundas intenções para fazê-
lo.

O fato de Renner ter resolvido instantaneamente um problema que o incomodava há


muito tempo, tingiu de medo o coração de Zanac, como de costume. Além disso, levando
em conta as pessoas poderosas que Renner se relacionava, até mesmo o assassinato não
seria efetivo. Sendo esse o caso, sua única opção era tentar satisfazê-la.

“...Quando eu me tornar o rei, eu lhe concederei uma terra na fronteira. E você viverá
lá.”

“Compreendo. Eu devo obedecer a todas as ordens que me der, Onii-sama.”

“Depois que eu te enviar para fora, eu não vou convocá-la para a Capital Real novamente.
Pode limitar um pouco a sua liberdade, mas vou escolher um domínio que garanta que
você não sofra com dificuldades. Você deveria passar o resto da sua vida lá.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


121
“Entendo. Meus mais profundos agradecimentos.”

Com toda a probabilidade, Renner já entendia o que ele estava querendo, mas ele tinha
que realmente vocalizá-lo, a fim de deixá-la entender a gentileza que ele estava mos-
trando a ela.

“Você pode pegar qualquer um dos órfãos para serem seus filhos. A esse respeito, você
pode fazer o que quiser.”

“Muito obrigada, Onii-sama.”

O fato de ela responder sem demora era prova de que Renner já sabia o que Zanac diria.

Zanac não conseguia entender o porquê Renner amava Climb, um plebeu. Sua aparência
era muito simples e ele não era particularmente especial. Ele não parecia combinar com
sua irmã mais nova.

...Ah, me lembrei, ela contou seus fetiches aquela vez.

Uma vez que ele recordou aquela lembrança vergonhosa de sua irmãzinha, Zanac co-
meçou a sentir um pouco de pena de Climb.

“Então, espero ansiosamente pelo dia em que se tornará Rei, Onii-sama. Depois de sua
coroação, ficaria feliz se pensasse em mim de vez em quando, enquanto passa seus dias
no país.”

“Oh, eu farei, minha querida irmã. No entanto, seria melhor se eu pudesse procurá-la
para uma discussão de vez em quando— Huuh?”

Zanac olhou para o soldado que estava correndo para eles.

Esse homem era um dos membros sobreviventes do bando guerreiro de Gazef.

Ele havia lutado para proteger o Rei naquele campo de batalha. Agora que o Capitão
Guerreiro não estava mais entre os vivos, ele conseguiu uma boa posição e a confiança
do Rei. Aliás, os dois subordinados de Renner desfrutavam da mesma confiança.

A imagem mental de seu pai desfalecido apareceu diante de seus olhos.

“Meu Príncipe, Sua Majestade deseja a sua presença.”

No instante em que terminou, virou-se para olhar Renner.

“A senhorita também, Princesa.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


122
“O que aconteceu?”

“Acabamos de receber um relatório informando que o Rei Feiticeiro enviará um grupo


diplomático em breve.”

Zanac olhou para Renner, mas ainda conseguiu responder ao homem.

“Compreendo. Notifique-o de que chegaremos em breve. Minha irmã, eu prosseguirei


primeiro. Por favor, prossiga quanto antes assim que estiver pronta.”

“Como desejar, Onii-sama.”

Dado que ela esteve no orfanato até recentemente, as roupas que Renner estava usando
eram simples e desgastadas. Aparecer assim diante dos nobres só iria envergonhar-se.

Com isso, Zanac se afastou com uma expressão severa no rosto.

“Hmph. As coisas sendo como são, essa proposta não será mais atraente. Ah, é tarde
demais, afinal de contas.”

Parte 2

Fôra estimado que os emissários do Reino Feiticeiro levariam cerca de uma semana
para viajar de E-Rantel até a Capital Real.

O sétimo dia chegara. Se tudo corresse de acordo com o planejado, os emissários che-
gariam à Capital Real hoje.

Zanac, trajado com uma armadura que não estava acostumado, estava alinhado com
seus cavaleiros nos portões da Capital Real que levavam a E-Rantel.

O tempo nublado nos últimos dias tinha desaparecido, como se tudo tivesse sido uma
piada, e o céu era a própria imagem da primavera.

No entanto, pôde-se ver uma cobertura pesada de nuvens à distância. Parece que o céu
azul estava limitado ao ar diretamente acima da Capital Real.

Esse tipo de cenário era bastante bizarro. Na verdade, o meteorologista da Capital Real
gritou: “Isso é impossível!”, enquanto coçava a cabeça. Ele trabalhava no Palácio Real há
muito tempo e podia prever o clima do dia seguinte com mais de 90% de precisão. Assim,
quando ele declarou que isso era impossível, isso implicava que esses céus azuis eram
tudo menos naturais.

Zanac suspirou profundamente sob o elmo.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


123
Ele nunca tinha ouvido falar de magia que controlava o clima de seus professores. No
entanto, o supracitado Rei Feiticeiro poderia usar essa magia com uma facilidade desde-
nhosa.

Os homens de Zanac não eram apenas não qualificados na área da magia, mas não ti-
nham conhecimento de outros fenômenos estranhos. Isso fez sua cabeça doer. Mais pre-
cisamente, porque ele tinha confiado demais no Marquês Raeven.

Ele reuniu o conhecimento de seus aventureiros, compilou-o e chamou-o de Pergami-


nho do Tigre. Continha informações sobre vários tipos e aparências de itens mágicos, os
tipos e poderes de monstros, todos os tipos de magias e assim por diante.

Até agora, ele compartilhara livremente aquele pergaminho com Zanac, seu aliado. No
entanto, já que Raeven não estava mais na Capital Real, o Pergaminho do Tigre foi em-
bora naturalmente com ele.

Ele tentou encontrar nobres que haviam aprendido com aventureiros, como Raeven,
mas, infelizmente, não havia nenhum. Isso não foi porque esses nobres eram estúpidos,
mas porque viviam em um mundo completamente diferente daqueles aventureiros.
Mesmo que alguns nobres contratavam aventureiros, era apenas para usar sua força. Os
nobres não estavam interessados no mundo dos aventureiros ou nas notícias que os
aventureiros tinham.

Os nobres tinham sido assim ao longo dos 200 anos de história do Reino. Desse ponto
de vista, Raeven era bastante atípico.

Deve ser difícil encontrar aventureiros aposentados — especialmente mythril e ranques


maiores.

Ele ouviu que os aventureiros odiavam coisas problemáticas como política. De fato, uma
vez que se entrasse no mundo da política, a pessoa perderia a liberdade. Aventureiros
assim gostariam de trabalhar para ele depois de se aposentarem?

O coração de Zanac ficou pesado quando ele pensou sobre isso.

“—Meu Príncipe!”

O grito do cavaleiro ao lado dele trouxe Zanac de volta aos seus sentidos. Ele olhou para
a entrada— e os viu.

Ele poderia começar a distinguir os emissários do Reino Feiticeiro.

Eles haviam exercido pressões antecipadas ao fechar esta rua por hoje, impedindo qual-
quer tráfego. Como resultado, ninguém estaria entrando ou saindo de suas casas. Os por-
tões da cidade também foram bloqueados apenas por hoje.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


124
“Tudo bem, vamos repassar o plano. Devemos tratá-los como dignitários estrangeiros.
Tentar qualquer coisa nos emissários do Reino Feiticeiro é uma ofensa grave. Será pu-
nido por execução sumária.”

“Sim, Senhor!”

A resposta dos cavaleiros foi bastante vigorosa, e as espadas em suas cinturas emitiram
um som claro, nítido e unificado.

“Tudo bem! Então, mostre-lhes o maior respeito e impressione a glória do Reino sobre
eles!”

“Sim, Senhor!”

O grupo permaneceu absolutamente imóvel até os emissários chegarem.

Em pouco tempo, a vanguarda dos emissários chegou até eles.


[Bicórnio]
Era um cavaleiro de armadura negra. Montava um Bicorn de olhos vermelhos que tinha
um corpo negro e ostentava dois chifres na cabeça. Pode-se imaginar que quem estava
em cima da fera não era humano. Emanava uma aura de perigo mortal, tão radiante
quanto o sol. Sua armadura completa pulsava como se estivesse viva.

Zanac podia sentir seu cavalo de guerra tremendo de medo.

Ele fechou sua manopla e bateu no peito.

“Peço desculpas por me dirigir a ti ainda montado em minha montaria! Nós somos da
delegação do Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown!”

A voz era comparável a música retirada de instrumentos apodrecidos. Isso fez o cabelo
de seus ouvintes ficar arrepiado. Zanac reuniu coragem para banir o medo e depois falou.

“Eu sou o Segundo Príncipe de Re-Estize, Zanac Valleon Igana Ryle Vaiself! Por ordem
de Sua Majestade, devo guiar seu grupo para o Palácio Real. Por favor, sigam atrás de
nós!”

“Reconhecido. Então, nos beneficiaremos de sua orientação. Este quem vos fala— per-
doe-me, este aqui não tem nome, então por favor permita que este aqui se apresente
[Cavalier d a M o r t e ]
pelo nome de minha espécie. Este aqui é um Death Cavalier.”

Zanac ficou boquiaberto ao dar o nome de sua espécie, mas reagiu imediatamente para
não o ofender com o atraso.

“Então, posso me dirigir ao senhor como Cavalier-dono?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


125
“Este aqui seria honrado de ser abordado dessa maneira.”

“Entendo. Então, posso saudar o líder dos emissários? Como o Segundo Príncipe, eu
também sou responsável pelas ações do dito líder dentro do Reino. Se possível, gostaria
de explicar as circunstâncias ao seu líder.”

“Reconhecido. Este aqui deve transmitir sua mensagem a nossa Líder-dono.”

“Tens meus mais profundos agradecimentos.”

Com isso, o porta-voz recuou para entregar seu relatório.

Embora todo o processo parecesse risível, ele estava enfrentando o Reino Feiticeiro, não
poderia menosprezar isso. Era uma nação que podia controlar os undeads e fazer uso de
monstros, então seria melhor supor que as formas usuais de fazer as coisas eram inapli-
cáveis aqui. Ele se sentiu estúpido por esperar que o líder dos emissários tivesse uma
forma vagamente humana.

“Atenção, todos vocês, expressões neutras. Não podemos nos dar ao luxo de fazer qual-
quer coisa que os ofenda.”

“Sim, Senhor!”

Quando ele ouviu a resposta dos cavaleiros, Zanac colocou força no abdômen.

Os emissários haviam passado por várias cidades no caminho até aqui, então era como
Zanac já conhecesse a composição do grupo.

Havia cinco carruagens.

Cada uma delas era puxado por um monstro em forma de cavalo que irradiava um ar
pouco auspicioso. Então, havia numerosos Death Cavaliers, que tinham sido encarrega-
dos da segurança do perímetro. Havia também outros monstros ao lado deles.

Zanac não conhecia seus nomes ou quão perigosos eram. Ainda assim, isso não alterava
em nada suas capacidades. Já que foram enviados pelo Rei Feiticeiro, ele não podia per-
mitir que qualquer expressão negativa fosse mostrada.

Um Death Cavalier — provavelmente o mesmo de antes — aproximou-se dele ao lado


dos emissários.

“Perdoe a longa espera. Nossa líder— a mão direita do Rei Feiticeiro Ainz Ooal Gown,
Albedo-sama, concordou em se encontrar com o senhor. Zanac-dono, por favor, venha
por aqui.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


126
Depois de sinalizar aos outros cavaleiros para manterem suas posições, Zanac guiou
seu cavalo atrás do Death Cavalier.

Com toda a honestidade, era bastante aterrorizante. Afinal, Zanac estava se movendo
entre monstros que nunca tinha visto antes.

Mesmo assim, ele ainda tinha seu orgulho como membro da família real. Zanac logo
seria o rei, e já que teria de se encontrar com emissários do Rei Feiticeiro, ele se proibiu
de desgraçar sua imagem. Em vez disso, ele teve que demonstrar sua habilidade neste
momento, e deixá-los levar para casa as notícias das pessoas talentosas no Reino Re-
Estize.

O cavalo de Zanac não conseguiu evitar um suor frio quando se aproximava da carrua-
gem. Zanac desmontou, ficando parado diante da carruagem.

“Pois bem, aqui está a representante do Reino Feiticeiro, Albedo-sama.”

Que tipo de monstro vai aparecer agora?

Zanac desejou que sua expressão não mudasse.

A porta se abriu lentamente e uma figura humana emergiu lentamente.

O que ele viu lá — foi a mais pura expressão da beleza.

Não, Zanac não conseguia pensar em um adjetivo que pudesse descrevê-la melhor. A
única coisa que veio à mente foi “beleza de nível mundial”.

Ninguém neste mundo poderia ter uma aparência comparável à de Renner. Zanac acre-
ditava nisso até agora, mas depois percebeu que estava enganado. Se Renner era uma
beleza radiante e dourada, então Albedo era uma beleza sedutora tingida pela escuridão.

Albedo pisou nos degraus da carruagem. O som fraco de seus saltos altos trouxe Zanac
de volta à realidade.

Zanac imediatamente genuflectiu diante dela e baixou a cabeça.

Pode-se pensar que era embaraçoso para um príncipe de uma família real se curvar
diante de qualquer um, mesmo se fossem para os emissários de outra nação. No entanto,
depois de considerar a diferença de poder entre o Reino e o Reino Feiticeiro, esse foi o
curso correto de ação. O que o Reino precisava agora não era glória, mas benefícios con-
cretos.

“O senhor poderia erguer a cabeça, por favor?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


127
Capítulo 2 O Reino Re-Estize
128
A voz calma e encantadora ecoou por cima dele.

“Imediatamente.”

Quando ele olhou para cima, o rosto da donzela estava sorridente quando ela olhou
carinhosamente para ele.

Essa era uma atuação praticada que homens superiores adotariam— não, ela era
mesmo humana?

Zanac moveu seus olhos para medir seus contornos. Primeiro, havia as asas da cintura,
seriam itens mágicos ou alguma outra coisa? Da mesma forma, os chifres se projetavam
dos lados de sua cabeça?

Se fossem itens mágicos ou se realmente pertenciam a uma criatura heteromórfica não


o incomodou, não parecia particularmente bizarro uma vez que considerou que ela veio
do Reino Feiticeiro.

“Eu sou a emissária do Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown, Albedo. Embora seja apenas
por alguns dias, estaremos aos seus cuidados. Se levante, Príncipe-dono. O senhor cer-
tamente não pode continuar falando a partir desta posição.”

“Tens meus mais profundos agradecimentos.”

Zanac se endireitou, e então um problema se apresentou.

Embora ele tivesse aprendido que o nome dela era Albedo através da conversa, era ape-
nas isso?

No Reino — e no Império — os plebeus tinham dois nomes, nobres tinham três nomes
e pessoas tituladas tinham quatro nomes. Como membros da família real, eles tinham
quatro nomes — contando seus títulos, somavam um total de cinco nomes.

Foi por isso que Jircniv Rune Farlord El-Nix e seus quatro nomes foram ridicularizados
por não serem dignos de membros da realeza. No entanto, um nome como Albedo soava
como um pseudônimo ou um apelido. Então, não se poderia ser tão tolo quanto se dirigir
a um membro da nobreza por tal alcunha.

Embora ele pudesse estar se preocupando desnecessariamente, ele não podia ter cer-
teza de que tal situação não ocorreria.

A razão pela qual ele disse isso foi porque muitos nobres morreram no campo de bata-
lha anterior. Não foram apenas os chefes de família que pereceram, mas até mesmo os
herdeiros primogênitos de algumas famílias. Atualmente, muitas famílias nobres eram
lideradas pelas “peças de reposição”, o segundo ou terceiro filho.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


129
Peças de reposição... Ninguém esperava muito desses nobres. Não só eles não estuda-
vam, mas também não tinham conhecimento. Em suma, nem mesmo tinham uma edu-
cação apropriada.

Em circunstâncias normais, eles teriam sido devidamente educados pelos superiores


em sua facção, mas dada as perdas da guerra anterior significava que eles não tinham
mais a mão de obra para tais esforços. Como resultado, muitas pessoas incompetentes
foram forçadas ao centro do palco, e essas pessoas incompetentes se reuniram para for-
mar uma facção de incompetentes.

Atualmente, a classe da nobreza do Reino despencou, graças a essas pessoas. Neste mo-
mento crucial, poderiam eles tratar uma mulher do porte de Albedo com etiqueta ade-
quada?

“...Perdoe-me, mas posso saber como devo abordá-la corretamente, Albedo-sama?”

Esta foi uma pergunta um tanto desrespeitosa.

Normalmente, ele deveria ter perguntado. “Que título Vossa Excelência mantém entre o
pariato, Albedo-sama, ou talvez qual é a sua posição no Reino Feiticeiro?”

O problema era que ela poderia ter respondido: “Então nem sabe a posição de uma emis-
sária do país vizinho?”

Ainda assim, isso era culpa do Reino Feiticeiro.

Afinal, nenhuma informação sobre o Reino Feiticeiro havia fluído de suas fronteiras.
Embora tivesse declarado sua própria soberania por vários meses, eles haviam se res-
tringido em grande parte aos assuntos internos. Esta foi a primeira vez que eles se en-
volveram em relações diplomáticas por conta própria.

Tudo o que Zanac sabia sobre Albedo era que ela era a líder dos emissários e a mão do
Rei Feiticeiro.

O Império provavelmente saberia... mas eles não nos disseram nada... Bem, qualquer um
que tivesse pedido que aquele tipo de magia fosse usada em nós deve nos odiar até os ossos.

Como se sentisse suas preocupações, Albedo respondeu:

“Embora possa não parecer, fui designada como a supervisora que lidera todos os Guar-
diões de Andar e Guardiões de Área dentro do Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown.”

“Ohh, entendo.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


130
Ele disse isso, mas não fazia idéia do que significava ser a “Supervisora”. Além disso, ele
era completamente ignorante em relação ao “Andar” de que ela falava.

Albedo continuou falando, aparentemente visto através de sua confusão oculta:

“De fato. Eu e Ainz-sama— não, quero dizer, eu sou a segunda em comando do Rei Fei-
ticeiro, a Supervisora Guardiã. Talvez isso seja mais apropriado?”

“Ohhh, compreendo agora!”

“Ainz-sama”, parece que ela está perto o suficiente para se dirigir a ele dessa maneira.
Então ela é uma marquesa, não, uma duquesa, talvez? Eu preciso levar essa informação de
volta para os outros. Mas ainda assim, Supervisora... Guardiã?”

“Então, Albedo-sama, permita-me acompanhá-la ao Palácio Real. Há suítes na Capital


Real, onde rezo para que fique em casa por enquanto. Meu pai — o Rei Ranpossa III, é de
idade avançada, então me atribuiu a tarefa de oferecer-lhes boas-vindas nos portões da
Capital. Eu rezo para que nos perdoe.”

“Tudo bem.”

Seu sorriso não mudou em nada.

Normalmente, ela deveria estar agradecendo ao Príncipe. No entanto, ele podia sentir
claramente quem demostrava a superioridade aqui.

Zanac estava suando frio nas costas. Isso porque ele entendeu que forjar boas relações
com eles provavelmente seria uma tarefa muito difícil.

“Além disso, nós normalmente tocaríamos os sinos em comemoração, mas o infeliz de-
sentendimento entre nossos países levou à tragédia, então, por favor, nos perdoe por
não o fazer. Além disso, o povo comum ainda não sabe de vossa chegada, por isso, leve
isso em consideração.”

“Claro, isso não é um problema.”

Ele não tinha idéia do que o povo faria se soubessem que uma emissária do Rei Feiti-
ceiro tinha vindo conhecê-los. Nesse aspecto, a resposta de Albedo foi um grande alívio.

É melhor pensar que eu devo um favor a ela?

Ele não estava preocupado com o fato de os emissários serem atacados por uma multi-
dão enfurecida. Aqueles Death Cavaliers — de fato, todos os presentes provavelmente
eram muito fortes, mesmo dentro do Reino Feiticeiro. Ele podia facilmente acreditar que
cada um deles era páreo para o finado Gazef Stronoff.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


131
“Então, posso fazer algumas perguntas pessoais?”

“Claro! Eu responderei enquanto estiver dentro do meu alcance.”

“Bem, então, poderia me informar sobre o itinerário depois que chegarmos ao Palácio
Real?”

“Sim! Primeiro, há um jantar marcado comigo e com o resto da família real hoje à noite.
Amanhã, visitaremos os teatros durante o dia para assistir às danças e realizar um jantar
à noite, onde todos os nobres do Reino serão convidados. No dia seguinte, haverá um
concerto da orquestra do palácio — depois disso que iniciaremos as negociações diplo-
máticas.”

“Então é assim que será... então, eu confio que não haverá problemas se decidirmos fa-
zer uma excursão pela capital?”

“Claro. Vamos selecionar cavaleiros excepcionais para servir como seus guardas.”

Embora a palavra em si significasse que os cavaleiros os defenderiam, isso também im-


plicava em observação e até mesmo para restringi-los de suas ações, se surgisse a neces-
sidade.

“Posso saber se algum lugar lhe interessa?”

Eles precisariam bloquear completamente a área quando fosse a hora, para impossibi-
litar que os plebeus se aproximassem daquele lugar.

“Não... não há lugares que particularmente me interessem. Como não sei quais locais
valem a pena visitar na capital, poderia me guiar em uma excursão?”

“Entendido. Farei os preparativos apropriados.”

Albedo sorriu e assentiu.

Parte 3

Nos últimos meses, Philip sentiu que era um dos homens mais sortudos do Reino.

Pessoalmente, ele se sentia como o mais sortudo de tais homens. No entanto, a modéstia
era uma virtude. Além disso, pode haver outros nobres com mais sorte do que ele, então
seria melhor não falar em absoluto.

Nobres — huh.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


132
Philip apertou o sorriso enquanto tirava os amassados das roupas.

Esta foi a segunda vez que ele participou de uma festa nobre como essa. Ainda assim,
talvez ele devesse dizer que isso era esperado de um jantar organizado pela Família Real
— a pura magnificência deste evento ofuscou o que ele havia anteriormente participado.

O traje formal dos outros convidados parecia muito mais caro do que os da festa ante-
rior.

Quanto custaram suas roupas, afinal?

Philip olhou para as próprias roupas e começou a se sentir um pouco frustrado.

Como ele pensava, os nobres da classe alta tinham roupas realmente suntuosas.

As nobres em seus vestidos extravagantes tinham sorrisos em seus rostos, estão rindo
e zombando de mim por causa do meu traje? Philip não pôde deixar de pensar assim,
mesmo sem qualquer base para tais suposições. Quando ele olhou em volta, imaginou
todos os nobres rindo dele.

É tudo porque não tenho dinheiro.

Se seu domínio fosse mais rico, ele teria condições de comprar roupas melhores. Entre-
tanto, o domínio de Philip jamais fôra próspero. Até suas roupas agora tinham sido ajus-
tadas apressadamente do traje formal de seu irmão mais velho. Como resultado, ele
ainda sentia um pouco apertado ao redor dos ombros.

Bem, o dinheiro é escasso porque até agora essa família só teve chefes inúteis. Quando eu
me tornar o próximo chefe, tornarei meu domínio mais rico.

Philip foi o terceiro filho a nascer de uma família nobre.

Semelhante aos plebeus, os terceiros filhos não eram indivíduos particularmente bem-
vindos em famílias nobres. Independentemente de quão rica fosse uma família, dividir
seus ativos de várias maneiras acabaria enfraquecendo-a. Portanto, tudo foi herdado
pelo filho mais velho. A esse respeito, os nobres seguiram o mesmo princípio básico dos
plebeus.

Talvez uma família mais rica pudesse ter dado algum apoio financeiro a um terceiro
filho. Talvez pudessem contar com conexões com outras famílias nobres para apadrinhá-
lo. No entanto, este não foi o caso da família de Philip.

Uma vez que o filho mais velho atingisse a maioridade — em outras palavras, quando
as chances de morrer de doença diminuíam muito — o terceiro filho, Philip, não era mais
necessário para sua família.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


133
Ele receberia um pouco de dinheiro e depois seria expulso da casa da família? Ou talvez
ele fosse enviado para morar com uma família pobre e trabalhasse como um camponês.
Ele só podia ver a tragédia esperando em ambas as opções. No entanto, as coisas não se
desdobraram dessa maneira. Em vez disso, ele estava fazendo sua estreia em um grande
baile da alta sociedade.

Foi por isso que Philip sentiu que teve sorte.

O primeiro lance de sorte foi o irmão mais velho, o segundo filho, morrendo de doença
antes de atingir a maioridade.

Como seu irmão mais velho — o primeiro filho — já era um homem, não havia mais
valor para seu outro irmão mais velho, o segundo filho. Além disso, o domínio deles não
era um feudo rico, só podiam usar ervas ao invés de sacerdotes para tratá-lo. No final, a
condição piorou, e ele se afundou na espiral da morte.

Neste ponto, Philip estava agora elevado à posição de um sobressalente. Seu valor subiu
de um agricultor para o de um mordomo.

Coisas como estas não eram incomuns.

No entanto, o que catapultou Philip para a crosta superior foi o resultado do próximo
golpe de sorte de Philip.

Vários anos depois de atingir a idade adulta, era hora do irmão mais velho de Philip
assumir a propriedade da família. Então, o Império declarou guerra mais uma vez. Se
fosse como nos anos anteriores, deveria ter terminado depois de alguns inchaços e ar-
ranhões. Portanto, era um modo seguro para seu irmão mais velho obter um registro de
batalha, e sua família podia se orgulhar do fato de terem empenhado homens na batalha.

No entanto, seu irmão mais velho não voltou.

Ele havia sido consumido pela magia do Rei Feiticeiro e pereceu com os vinte campo-
neses que foram com ele.

Philip não pôde esquecer o instante de alegria que sentiu quando ouviu essa notícia. Foi
a alegria que ele carregou dentro dele desde que se tornou um sobressalente.

O corpo de seu irmão mais velho estava desaparecido, assim como a armadura de placas
que foi passada desde seus ancestrais. Ainda assim, isso não foi um grande problema.
Uma vez que seu domínio enriquecesse, ele faria uma armadura melhor para si mesmo.
O mais importante era que o título de herdeiro da propriedade passara de inatingível
para praticamente na palma de suas mãos.

O timing para isso foi perfeito.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


134
Se seu irmão tivesse morrido depois de herdar a propriedade da família, Philip teria
que gastar seu tempo esperando que seu sobrinho se transformasse em um homem. No
entanto, seu irmão morreu sem reivindicar sua herança, que por sinal, já estava pratica-
mente como um negócio fechado.

Era como se o Rei Feiticeiro tivesse se dedicado pessoalmente para organizar tudo isso
para Philip.

Por causa disso, Philip até sentiu algo como um bom sentimento para com o Rei Feiti-
ceiro, do qual ele nunca havia visto. Se ao menos ele pudesse transmitir sua gratidão
diretamente ao emissário do Rei Feiticeiro.

Além disso—

Isso mesmo. Eu vou andar no meu caminho de sorte. Como posso deixar uma boa chance
escapar diante dos meus olhos?

O coração de Philip chamejou como uma fogueira.

Ele só conseguia pensar em seu pai e irmão mais velho como idiotas depois de ver o que
eles estiveram fazendo todo esse tempo. Por que vocês não fizeram isso? Isso lhes traria
mais benefícios! Claro, ele nunca lhes disse isso em seus rostos.

Isso foi porque nenhum dos ganhos obtidos iria chegar até ele. Nem o prestígio para
isso seria dele. Portanto, durante muito tempo, Philip havia inventado idéias sobre como
administrar adequadamente seu feudo e armazenou tudo em seu coração.

Vou deixar os lordes próximos saberem que sou eu quem merece esse título. Vou deixar
que papai saiba quão pobre seu gosto estava em escolher meu irmão. Vender o trigo e le-
gumes de boa qualidade para os comerciantes— não, o que devo fazer? Isso chamaria
muita atenção, e se a minha proposta revolucionária fosse roubada por outros? Ainda as-
sim, não há dinheiro sem comércio. Preciso encontrar mercadores confiáveis — em outras
palavras, não pode ser aquele cara.

O rosto de Philip se torceu quando ele se lembrou do rosto daquele comerciante.

A lembrança desagradável daquele homem superou sua alegria por ficar neste salão
luxuoso.

Como ele ousa me menosprezar!? Embora eu tenha que suportar por enquanto, uma vez
que eu encontre um comerciante melhor na Capital Real, eu vou chutar ele dos meus negó-
cios! Eu já tenho conexões próprias!

Philip já havia encontrado suas próprias conexões secretas durante suas poucas sema-
nas na Capital Real. Seu orgulho nisso afugentou a infelicidade em seu coração.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


135
Como esperado de mim, já tenho meu caminho mapeado. Vou tornar meu domínio rico e
obter uma enorme fortuna. Aqueles idiotas que me menosprezaram vão ver quem é o ver-
dadeiro idiota da história.

Enquanto Philip visualizava seu glorioso futuro dourado, uma voz masculina ecoou pelo
corredor.

“Senhoras e senhores! Eu apresento-lhes a líder dos emissários do Reino Feiticeiro, Al-


bedo-sama!”

Nesse momento, a orquestra do salão principal baixou os instrumentos e o clima de


jovialidade no ar diminuiu.

A julgar pelos ruídos, parece que o mestre de cerimônias acabara de anunciar a estrela
do jantar que a Família Real estava realizando.

“Albedo-sama serve como a mão direita da Sua Majestade o Rei Feiticeiro no Reino Fei-
ticeiro, e comanda uma posição equivalente à de uma primeira-ministra, sua posição é a
de Supervisora Guardiã. Albedo-sama vai nos agraciar sozinha esta noite.”

Uma voz suave de mulher disse: “Huh, sozinha?” Um nobre de aparência rica a castigou
com um “Silêncio!”. Philip ficou um pouco surpreso com isso.

Não há problema em vir sozinho. Mas pensar que alguém assim serviria como uma emis-
sária! O Reino Feiticeiro realmente tem grandes esperanças pelo Reino?

Enquanto Philip se perguntava que tipo de pessoa esta emissária seria, ele olhou para
as portas pelas quais o mestre de cerimônias estava de pé.

“Então, vamos receber a líder dos emissários, Albedo-sama!”

Quando as grandes portas se abriram, todo o salão ficou em silêncio.

Uma deusa estava ali. Suas feições perfeitas eram mais belas do que as de qualquer
camponesa, mais bonita que qualquer prostituta dos bordéis do Reino, mais bonita do
que qualquer mulher que Philip já vira em sua vida. Claro, a Princesa era bonita, mas
Philip preferia o que estava vendo agora.

Suas roupas eram belas também. Seu vestido de platina era acentuado com enfeites de
fios dourados, já a metade inferior de seu vestido estava coberta pelo que pareciam asas
de penas negras. Seu reflexo nas luzes mágicas acima fez parecer que ela estava bri-
lhando.

Philip olhou para a mulher que falara antes. Ela estava de pé no lugar com um olhar
retardado em seu rosto.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


136
Olha só, olha só...? É este o tipo de rosto que a acompanhante de algum nobre de renome
deveria ter? Parece uma camponesa à beira da estrada.

A alegria que ele sentiu no triunfo do Reino Feiticeiro — para o qual ele estava inclinado
favoravelmente — fez a alegria da vitória surgir em seu coração.

“Felicitamo-nos com a sua presença, Albedo-dono.”

Ranpossa III levantou-se para dar boas-vindas a Albedo.

“Vossa Majestade, fico lisonjeada por esta recepção.”

Philip só podia ver um lado do rosto de Albedo, mas quando ele viu o sorriso meigo de
Albedo, ele estava bem ciente de uma coisa.

Não há palavras para descrever tanta beleza...

“Espero que me perdoe por ter que me sentar novamente, é devido à minha idade. En-
tão, nobres do Reino. Nossa principal convidada chegou. Esta noite, por favor, divirtam-
se à vontade. Então, Albedo-dono, espero que se divirta também.”

“Meus agradecimentos, Vossa Majestade.”

Um sorriso doce floresceu no rosto de Albedo.

Ele deu uma espiada naquela nobre de antes, e viu que ela estava murmurando algo
sobre “Ela não se curvou” ou algo nesse sentido. Philip ignorou aquela mulher tola e suas
palavras tolas e, em vez disso, banqueteava os olhos com aquela beleza Classe Mundial.

Ele gravou a imagem dela falando de perto com a Princesa Renner em seus olhos.

Se eu pudesse fazer essa mulher minha...

Ele entendeu que seria uma tarefa muito difícil. No entanto, quando se pensava sobre
isso, não era completamente impossível.

Uma vez que meu feudo se torne rico, os outros nobres começarão a apresentar suas filhas
para mim. Quanto mais rico eu for, melhores serão as mulheres. Mesmo a Princesa ou essa
emissária não estão fora de questão!

Philip sentiu uma onda de calor subir de sua parte inferior do corpo.

Bem, os Grandes Nobres geralmente têm uma concubina ou três... o melhor caso seria se
eu pudesse apreciar essas duas belezas ao mesmo tempo.

Philip olhava de um lado para o outro, entre Renner e Albedo.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


137
Philip apressadamente pegou uma bebida de perto antes que suas fantasias crescessem
fora de controle. Seria muito ruim se ele ficasse excitado aqui. A sensação fria da bebida
deslizando pela garganta ajudou-o a recuperar um pouco de calma.

A propósito, como eles fizeram esse gelo? Pode ser magia...

As únicas pessoas na propriedade de Philip que poderiam usar magia eram os sacerdo-
tes. Eles poderiam ajudar a curar doenças e exigiriam dinheiro para isso. Logo, eles pe-
diam um pagamento adequado se tivessem que fazer gelo.

Já que estão no meu domínio, eles vão me curar de graça da próxima vez. Um mero resi-
dente que ousa cobrar dinheiro do seu senhorio, quão ridículo é isso!

Philip fez uma anotação mental dessa nova maneira de lidar com os sacerdotes no fu-
turo.

Ele estava ansioso para começar a trabalhar em seu domínio quando retornasse. Ele
podia imaginar todas as suas idéias brilhantes sendo colocadas em ação, iluminando sua
vida com brilho dourado.

—Oya?

Quando ele olhou de volta para Albedo, ele a viu em pé sozinha.

Havia muitos nobres por perto, mas ninguém sabia como se aproximar dela.

O Reino Feiticeiro, hein... O que será do Reino agora?

Philip não se importava particularmente com o que aconteceu com o Reino, mas seria
problemático se isso afetasse sua propriedade.

Sendo esse o caso—

Philip estremeceu com a idéia que acabara de ter.

—Ei, ei, não pense em coisas tão perigosas. É apenas... bem, não é exatamente uma jogada
ruim, certo? Como eu devo dizer isso... Eu não posso acreditar que eu realmente pensei em
uma idéia dessas...

Ele olhou para o lado do rosto solitário de Albedo.

Não adianta ficar em terceiro. Não há sentido em ser o segundo. O mais importante é ser
o primeiro.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


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A emissária do Reino Feiticeiro parecia que havia sido excomungada, pois ninguém es-
tava falando com ela. Philip lera sobre como as mulheres eram bastante vulneráveis a
esse tipo de coisa.

Você consegue. Você tem que fazer uma aposta para obter um retorno. A chance de subir
chegou porque tudo mudou. Eu sou um homem de sorte, então eu deveria fazer bom uso da
minha sorte.

A família de Philip sempre foi ligada a uma facção, mas eles estavam tipicamente no
final daquela facção. Havia apenas um limite de benefícios que ele poderia obter se con-
tinuasse na facção.

Então, ele se lembrou de algumas palavras que ouvira recentemente. Uma certa senho-
rita muito magra dissera: “Por que não criar uma nova facção?”

Depois de se decidir, Philip bebeu o copo de vinho que estivera segurando durante todo
esse tempo.

Era diferente do vinho aguado que ele bebia em casa. Parecia que sua garganta e barriga
estavam queimando. Como se impulsionado pelo calor que subia de sua barriga, Philip
avançou.

“Albedo-sama, importa se eu me intrometer?”

Graças a sua voz, Albedo virou seu sorriso para ele.

Ele não estava apenas corando por causa do vinho.

“Ara~ como vai—”

As delicadas sobrancelhas se enrugaram por um momento, como se estivessem mergu-


lhadas em pensamentos. Philip imediatamente percebeu o que ela estava pensando.

“Eu sou Philip.”

“Oh? Ah, Lorde Philip— não, Philip-sama. É uma honra conhecê-lo.”

“O prazer é todo meu, Albedo-sama. Nada poderia me encantar mais do que conhecê-
la.”

Philip estava bem ciente de que o ar ao seu redor parecia ter mudado.

Uma rápida olhada na festa revelou que os nobres de alto escalão tinham olhares de
espanto em seus rostos.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


139
Ele não podia conter a alegria dentro dele quando percebeu que todos os olhos no jan-
tar patrocinado pela Família Real estavam sobre ele.

Eu... sou o centro das atenções!

Pensar que ele — que só havia comido refeições frias no passado — era agora o foco
dessas pessoas que se encontravam no pináculo do Reino. Enquanto pensava nisso, uma
excitação inesperada assumiu o controle de Philip.

Isso aí! Eu sou Philip! Me observem! Observem o homem que será a figura central do Reino!

Philip sacudiu a cabeça e depois fez a maior aposta de sua vida.

Isso era como dizer que ele convidou Albedo para um baile que aconteceria em alguns
dias.

♦♦♦

“Seu idiota!”

Essa repreensão extinguiu a excitação de Philip. No entanto, ao mesmo tempo, acendeu


uma chama dentro de seu coração. Era um fogo que parecia consumir todo o combustível
que Philip havia escondido dentro de seu coração a vida inteira.

Philip olhou desdenhosamente para o homem de cabelos brancos diante dele.

“Eu não te enviei para esse tipo de coisa! Você é um imbecil!”

Philip suspirou quando o pai lhe perguntou sobre o jantar no Palácio Real.

“Em primeiro lugar, aquele convite para o jantar organizado pela Família Real nunca
teria chegado a nossa casa. Trabalhei meus dedos até o osso para garanti-lo, para que
pudesse expressar sua gratidão ao Conde e aos outros nobres, para que você fosse reco-
nhecido por eles!”

O jantar da Família Real reuniu pessoas de ambas as facções. Quando isso acontecesse,
o fato de o chefe de uma família ter mudado provavelmente não apareceria. Assim, nin-
guém prestaria muita atenção a esse fato e ele seria prontamente aceito pelos outros.
Depois disso, uma vez que o reconhecessem tacitamente, seria muito difícil para protes-
tarem contra esse fato.

Em outras palavras, o pai de Philip não tinha fé nas próprias habilidades. Ele sentiu que
se ele tivesse tentado se apresentar aos outros membros de sua facção da maneira nor-
mal, ele iria estragar algo.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


140
Quando Philip percebeu isso, esforçou-se para reprimir o aborrecimento dentro dele e
colocou um sorriso falso.

“Não, não, Pai. Não fique tão nervoso. Eu estava fazendo isso pela minha casa—”

“—O que você quer dizer com “minha casa”? O que você fez é um completo absurdo!”

Como assim “absurdo”!?

Philip gritou em seu coração. Todo mundo foi um covarde sem a coragem de fazer um
movimento, então por que ele não deveria dar o primeiro passo?

Eu tenho que fingir ser um covarde igual aqueles outros? Só para ficar nesse lugarzinho
patético pelo resto de sua vida?

“Pai! Pense um pouco! Embora a estrada que una o Reino Feiticeiro e o Reino seja bas-
tante longa, nosso domínio está no meio dela! Se o Reino Feiticeiro fizer guerra ao Reino,
definitivamente seremos arrastados para o caos. Portanto, devemos forjar boas relações
com o Reino Feiticeiro, não?”

“Seu, seu idiota!”

O rosto de seu pai estava ainda mais vermelho do que antes.

“Aqueles desgraçados do Reino Feiticeiro mataram seu irmão! E você quer trabalhar
com eles! Você não vê!? Isso é traição com o Reino!!”

E daí?

Philip pensou.

Já que o Reino Feiticeiro era mais forte, o que havia de errado em trair o Reino? Tudo o
que ele precisava fazer era prometer sua lealdade ao Reino Feiticeiro. O que havia de
errado com os fracos seguindo os fortes? Quem tinha o direito de censurá-lo por isso?

“Mas que maluquice você está pensando!?”

Philip não pôde deixar de se sentir frustrado com a tolice do pai.

O fato de que ele realmente tinha que explicar essas coisas óbvias lhe pareceu terrivel-
mente estúpido. Ainda assim, ele teve que dizer.

“É simples, Pai. Isso é para m—”

Ele engoliu a palavra “meu domínio” no momento em que ele pensou em falar. Mais
cedo ou mais tarde seria verdade, mas, por enquanto, não era inteiramente dele.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


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“Nosso domínio. É para proteger nossos servos. O Reino Feiticeiro é esmagadoramente
poderoso. Muitas vezes mais do que o Reino. Então dificilmente seria estranho se resol-
vessem atacar o Reino. Esta é uma saída para quando chegar a hora.”

“Cheh! O que quer dizer com saída? Acha que os lordes vizinhos vão compactuar com
isso quando ouvirem o que você fez!?”

“Eles não vão nos atacar, não hoje e nem por agora.”

Muitas pessoas dentro do domínio de Philip morreram por causa dessa batalha. O
mesmo se aplicava às propriedades vizinhas. Portanto, eles não teriam o excesso de
força necessária para atacar o domínio de Philip.

“Você considerou alguma outra coisa?”

“Hah?”

Philip respondeu. Ele não tinha idéia do que seu pai estava tentando dizer.

“É por isso que eu digo que seu pensamento é superficial. Você está agindo como se seus
devaneios já fossem realidade. Seu im—”

“—Acho que deveria parar por agora.”

Interrompeu o homem que estivera atrás do pai todo esse tempo.

Ele era o mordomo que havia atendido seu pai todo esse tempo. Philip não gostava da-
quele homem, que era do tipo que nunca deixava ninguém ver seus sentimentos. Ele era
uma das pessoas que Philip pretendia expulsar depois que solidificasse sua posição
como herdeiro da família.

Seu pai forçou o controlar de sua respiração assim que ouviu as palavras do mordomo.
O vermelho em seu rosto recuou, deixando um rosto pálido e anêmico.

“...Haaah. Hah Philip. Me responda com honestidade. Você não tem medo de fazer ini-
migos entre nossos vizinhos, os nobres?”

“Eles não são nada para se ter medo, não?”

Seu pai rodeou os ombros em decepção. Essa resposta provocou frustração e descon-
forto dentro de Philip.

Não era isso que queria ouvir? Ainda assim, ele não conseguia pensar no que poderia ser.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


142
“Muitos jovens morreram na batalha nas Planícies Katze. Isso levará a todos os tipos de
problemas nos próximos anos. Portanto, nossos vizinhos precisarão trabalhar juntos em
um relacionamento cooperativo. Este domínio produzirá alimentos, esse domínio irá te-
cer roupas. Ninguém é grande o suficiente para ser autossuficiente, nem temos muito
dinheiro sobrando. Nestas circunstâncias, quem ajudará uma família que cortejará ati-
vamente o favor do Reino Feiticeiro?”

Suor frio escorreu nas costas de Philip. Seu pai tinha um ponto.

“Você também sabe disso, não é mesmo? Não produzimos nada que seja exclusivo—
não temos bens exclusivos dessa região. Portanto, eles não terão nenhum problema em
nos expulsar da aliança.”

Philip atormentou seu cérebro. Ele era astuto. Ele deveria ser capaz de refutar qualquer
número de afirmações provenientes de seu estúpido pai.

“É por isso que precisamos confiar no Reino Feiticeiro, Pai.”

Seu pai indicou para que continuasse.

“Uma vez que construamos laços com o Reino Feiticeiro, eles nos apoiarão.”

“...Então deixe-me perguntar uma coisa. Se você fosse alguém do Reino Feiticeiro— não,
se você fosse o rei de um certo país, e um vilarejo de um país com quem você estava em
guerra pedisse comida, você daria a eles?”

“Claro. Se fosse eu, eu definitivamente faria isso.”

“—Por quê?”

“Não é óbvio? Ao fazer isso, mostrarei a todos que sou um governante misericordioso.”

“...Além disso?”

“...Nada mais.”

O queixo de seu pai caiu. Ele deve ter ficado impressionado. Ainda assim, esse tipo de
reação foi bem atípica. Afinal de contas, o Rei Feiticeiro certamente desejaria ser conhe-
cido como um governante gentil, isso ficou claro supor desde que o Reino Feiticeiro foi
fundado em E-Rantel e na área em torno daquela cidade. Ele certamente faria algumas
concessões para acalmá-los.

“Então é isso... então é isso que você estava pensando. Bem, se fosse eu, eu certamente
enviaria ajuda também, a fim de criar um casus belli para invadir o outro país. Depois
disso, eu declararia guerra ao Reino, sob o pretexto de libertar tal vilarejo que o Reino
estava oprimindo.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


143
“Impossível. É um pensamento fantasioso. Além disso, esse tipo de causa não vai funci-
onar.”

“Haja paciência... e por que você acha que é impossível?”

“Vamos considerar os fatos. Vamos supor que é realmente como diz, Pai. Isso só não nos
dá mais um motivo para aprofundar nosso relacionamento com o Reino Feiticeiro?”

“Seu—”

Seu pai estava sem palavras.

“Não tem orgulho algum como um nobre do Reino?”

“Claro que eu tenho. Mas se a condição para o ter é a nossa destruição, é melhor não,
concorda?”

“Esse é o rei demônio que matou seu irmão e inúmeras pessoas do Reino com magia
assustadora, esqueceu? Este é o rei que você vai apoiar.”

“Isso foi na guerra, Pai. Que diferença faz se morrem por espadas ou magia?”

“...Por que é que você confia tanto no rei do Reino Feiticeiro?”

Isso não era confiança, embora houvesse alguns bons sentimentos ali. Mais importante,
todos eles foram apenas peões para que Philip fizesse sua jogada para melhorar sua
sorte na vida.

Um peão! Isso mesmo! Para mim, até mesmo o Rei Feiticeiro do Reino Feiticeiro, que é
temido por todo o povo do Reino, é pouco mais que um peão na minha mão!

Philip ficou excitado quando se imaginou jogando um enorme — na escala das nações
— jogo de xadrez.

Ainda assim, é natural que o Pai esteja preocupado. Afinal, se eu puder refutá-lo com tanta
facilidade, isso significa que isso é tudo que ele pode pensar... De todo modo, é melhor dis-
cutir o assunto com a Albedo-sama na próxima vez que nos encontrarmos.

“Eu me cansei disso... Você agradeceu ao Conde pelo jantar? Eu estou perguntando se
ele reconheceu você como o novo chefe de família.”

Essa era a única coisa que Philip não podia aceitar.

Mesmo que ele fosse o chefe da facção, por que ele deveria abaixar a cabeça para um
conde que não era nada além de um estranho?

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


144
Era a prerrogativa do chefe da família decidir quem seria o próximo líder da família.
Não tinha nada a ver com esse Conde. Mas, se o conde o tivesse apoiado quando seu
irmão estava por perto e ele ainda fosse um terceiro filho, levando-o a se tornar o her-
deiro, ele poderia ter sido grato por isso. Entretanto, não foi o caso. Philip alcançara sua
posição atual inteiramente por sua própria sorte.

Em outras palavras, não havia motivo para se curvar e bajular.

Portanto, Philip não tinha ido diante do Conde para se curvar e agradecer. Mas se ele
dissesse isso, seu pai provavelmente ficaria agitado novamente. Isso era uma mentira
em prol da saúde de seu pai.

“Claro.”

“Entendo. Isso é ótimo. Já que fez isso, nem tudo está perdido. Quando chegar a hora,
tudo o que você precisa fazer é pedir ajuda ao Conde.”

Com isso dito, assim que Philip começou a se sentir à vontade, o mordomo interrompeu
novamente por trás.

“—Há mais um problema. O assunto que Philip-sama mencionou no começo ainda não
foi resolvido. Philip-sama disse que estava convidando a emissária do Reino Feiticeiro
para um baile organizado por essa família... O que faremos sobre isso?”

“Isso mesmo, Philip! O que estava pensando? Nossa família não tem lugar para realizar
um baile!”

Todos os senhorios tinham uma propriedade na Capital Real. E havia pequenas man-
sões reservadas para as visitas à Capital.

Claro, não eram tão pequenos quanto os lares dos plebeus. Só podem ser usados um
punhado de vezes por ano, mas também eram um sinal do poder da nobreza. Portanto,
esses lugares tinham que ser grandes o suficiente para acomodar a comitiva que os lor-
des traziam consigo. No entanto, não eram muito maiores do que isso, e o interior não
era grande o suficiente para um baile.

Ainda assim, esse problema já havia sido resolvido.

“Está bem. É verdade que nossa propriedade não pode receber esse evento, mas eu já
consegui alugar outro lugar.”

“Oh, poderia ser o Conde?”

Philip balançou a cabeça com o leve desabrochar de alegria no rosto do pai.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


145
“Não, é um lugar pertencente a alguém que conheço na Capital Real. A proprietária disse
que poderia emprestar para mim. O fato era que eu falei com ela antes de voltar, e ela
me garantiu que tudo ficaria bem.”

“E o que teremos que pagar por isso?”

Philip suspirou internamente à pergunta do mordomo.

Então essa é a primeira coisa que ele pergunta, huh.

“Será gratuito.”

“Gratuito...? Tem certeza?”

“Sim.”

As palavras da proprietária vieram à cabeça de Philip: “Tenho grandes esperanças para


o seu futuro, então vou investir em você. Mas espero que retorne minha gentileza no futuro.”

“Eu não acredito que essa boa sorte sorriria para você... Tem certeza que não está sendo
enganado?”

Raiva brilhou dentro de Philip, mas ele sabia que seu pai confiava no mordomo impli-
citamente, então ele não poderia repreendê-lo ainda.

“Eu recebi um favor, mas já que prometi retribuir esse favor, tudo ficará bem.”

“...Então esse é o local escolhido, mas e os convites? Devemos mandar o Conde distribuí-
los?”

Por que pensou algo assim?

Pensou Philip. Este evento estava sendo administrado por sua família para aumentar
sua reputação. Por que, depois de colocar todo esse trabalho e preparação, ele precisaria
entregar a parte mais benéfica disso para os outros?

Então essa é sua mentalidade de escravo falando. Que triste... eu não quero acabar como
ele.

“Vai ficar bem. Eu pedi à proprietária que me emprestou o local para me ajudar com o
trabalho de preparação. Claro, vou decidir a lista de convidados.”

“... Ainda assim, seria muito rude não deixar o Conde avaliá-los. Não é tarde demais para
pedir ajuda ao Conde. Além disso, você realmente sabe quais famílias convidar que não
causam ofensa?”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


146
“Eu sei, até certo ponto e pretendo convidar algumas pessoas especiais desta vez. A
proprietária já me deu seus nomes.”

“Você...”

A dúvida apareceu nos olhos de seu pai.

“...Você foi manipulado pelas palavras dessa senhoria?”

“Pai! Como ousa dizer isso? Eu trabalhei e fiz isso acontecer! É verdade que tive que
pedir ajuda. Mas a proprietária concordou que meu plano tinha méritos depois que ex-
pliquei — isso significa que, ela viu que meu plano poderia ter sucesso, e sentiu que eu
poderia pagar o preço apropriado! Por que o senhor sempre pensa assim? Em circuns-
tâncias normais, deveria me dar todo o seu apoio, serei o próximo chefe da família!”

Isso era verdade. A dona da casa disse: “Terei prazer em ajudá-lo se permitir que vários
nobres próximos a mim participem”. Foi porque ambos tiveram um relacionamento mu-
tuamente benéfico que ele pediu ajuda. Definitivamente não havia como ela o estar ma-
nipulando.

Ela era completamente diferente do Conde que controlava seu pai, que roubava todos
os ganhos e o deixava sem nada.

Você é quem está sendo controlado...

Philip queria dizer.

“...Me perdoe. Mas pode me dizer o nome dessa proprietária?”

Philip reprimiu sua raiva. Afinal, ele estava conversando com alguém que ainda não ha-
via desagarrado de sua natureza como escravo. Ele teve que abrir seu coração e levar
tudo isso em paz.

“O nome dela é Hilma Cygnaeus. Já ouviu falar dela?”

“Não, eu nunca ouvi falar dela antes. E quanto a você?”

O mordomo negou com a cabeça. Philip se orgulhava de ter conseguido se familiarizar


com alguém que nem mesmo seu pai, que há muito mergulhara em uma sociedade nobre,
não sabia.

“Receberei a opinião da senhoria sobre o assunto do Conde. Pode ser problemático con-
torná-la e pedir ajuda ao Conde. Há mais alguma coisa, Pai?”

Seu pai exausto não o respondeu.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


147
Embora ainda estivesse um pouco insatisfeito, Philip começou a pôr em prática seu
plano. O próximo passo seria enviar um convite a emissária do Reino Feiticeiro, Srta.
Albedo, e depois pensar em como consolidar sua posição a partir daí.

Parte 4

Um grande salão enchia os olhos de Philip, facilmente igual àquele salão de baile do
Palácio Real— não, era ainda melhor do que isso.

Ele não pôde deixar de pensar em como mostrar isso para os outros. Claro, Hilma tinha
organizado os preparativos para este local. No entanto, ela havia lhe perguntado de an-
temão: “Devo organizar um evento comum de um salão de baile ou um espetáculo incom-
parável? Este último exigirá um favor maior em troca.” E Philip escolhera o último sem
qualquer hesitação.

Em outras palavras, este baile foi organizado pelo favor que Philip pagou — em outras
palavras, este foi um evento que correspondeu ao esforço que ele havia colocado. E então,
havia muitos nobres que se reuniram aqui por causa dele.

Estava tudo perfeito. No entanto, foi por causa disso que Philip se sentiu muito infeliz
com um certo detalhe.

Ele decidira a localização do convite — embora tivesse que confiar na sabedoria dos
outros, a decisão final ainda era sua — e o lacre de cera nas cartas pertencia à sua família.
Mais importante, todos estavam aqui para encontrar a emissária do Reino Feiticeiro. E
foi Philip quem convidou a emissária para cá.

Em outras palavras, ele era o anfitrião e aquele que tinha trabalhado para que isso acon-
tecesse, então ele era quem deveria estar recebendo palavras de elogio e sinais de grati-
dão. Eles deveriam ter agradecido a Philip por convidá-los para tal evento. Eles também
deveriam estar elogiando sua coragem em convidar a emissária do Reino Feiticeiro,
aquela que ninguém mais ousou abordar.

Em vez disso, o que estava acontecendo agora?

A primeira pessoa a quem todos falaram quando chegaram aqui foi Hilma. Só depois
disso eles vieram cumprimentá-lo. Além disso, só o fizeram com relutância e isso depois
que Hilma mencionou o nome de Philip. O que eles teriam feito se ela não tivesse men-
cionado isso?

Como ele devia um favor a Hilma, tinha que suportar o fato dela ser mais perceptível do
que ele. No entanto, tudo o que ele sentia em relação a esses nobres era aborrecimento.
Indo pelo básico da sociedade nobre, deveria ter sido óbvio quem eles deveriam ter se
dirigido primeiro.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


148
É por isso que vocês são inúteis. Cheh, parece aceitar que a sugestão da Hilma foi uma má
idéia.

Ele convidou os nobres aqui usando as informações de Hilma.

Os nobres que ele escolhera eram chefes recém-apossados de suas famílias graças à
guerra com o Reino Feiticeiro, ou àqueles que logo se tornariam chefes de suas famílias.
Em outras palavras, essas pessoas estavam em situações semelhantes a Philip.

A razão pela qual ele aceitou as sugestões de Hilma foi porque não havia muitas pessoas
que pensassem como Philip. Portanto, se não houvesse mudança na liderança familiar,
era muito provável que todos pensassem mal do Reino Feiticeiro.

Contudo—

Tem alguém aqui que não seja incompetente?

Ele olhou para os convidados que acabaram de chegar e então caminhou em direção a
Hilma.

Que ridículo...

Pensou Philip.

Aqueles idiotas herdaram suas tolices de suas árvores genealógicas. Foi por isso que
eles ignoraram a pessoa com quem deveriam ter conversado pela primeira vez. Ou me-
lhor, esse seria o único motivo plausível para esse ultraje.

...Ainda assim, isso não é uma coisa boa? Eles não poderão assumir a liderança porque são
idiotas, não? Se houvesse um nobre aqui com um cérebro melhor do que o meu, eu não seria
capaz de assumir o comando da nova facção que pretendo fundar e além disso, lamenta-
velmente minha família não é poderosa o bastante.

Isso pode ser uma chance para ele. Como esse era o erro por parte dos convidados, Phi-
lip considerava que os convidados estariam em dívida por não falar com ele primeiro e
então cobraria isso deles no futuro.

Enquanto ele estava conspirando ansiosamente, Hilma apareceu diante dele.

Uma mulher que era pouco mais que um saco de pele e ossos.

Sua magreza doentia a fazia parecer com uma doença grave. Ela provavelmente teria
sido bonita se tivesse mais carne em seus ossos, mas isso já era coisa do passado.

“Philip-sama, parece que todos os convidados chegaram.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


149
“Mesmo?”

Em outras palavras, todos o viam como o segundo em comando aqui, pensou Philip. Ele
tentou esconder seus sentimentos de inferioridade, mas Hilma parecia ter notado.

Ela gargalhou.

“Parece que está insatisfeito.”

“Não, certamente não.”

Philip sorriu. Ele era um nobre — ele podia lidar com tais intrigas.

“Não há necessidade de mentir. Eu sou sua defensora pois tenho a ganhar com isso,
Philip-sama. Não podemos ter nenhum segredo entre nós.”

Suas palavras estavam tingidas de lisonja.

Então é isso.

O coração de Philip estremeceu.

Essa era a atitude apropriada que um plebeu deveria ter em relação a um nobre.

Ele estava finalmente experimentando a situação pela qual estava ansioso há muito
tempo, e a infelicidade em seu coração desapareceu como se tudo tivesse sido uma men-
tira.

“É algo importante, Philip-sama?”

“Não... bem, pensando nisso, eu não estou chateado, mas sim inquieto.”

“O que te incomoda? Alguma coisa está faltando? Se é assim, devo preparar antes que a
emissária-dono chegue?”

“Não é nada disso...”

Disse Philip, com um pigarro antes de continuar:

“Eu simplesmente não esperava que as pessoas aqui fossem tão... medíocres. Mesmo se
eu reunisse todas essas pessoas em uma facção, eu me pergunto se elas poderiam com-
petir com as outras facções. É isso que me incomoda.”

“Entendo, então é isso.”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


150
Hilma sorriu.

Ela era magra demais para inspirar a luxúria. Mesmo assim, seu charme era tal que o
fez engolir em seco.

“Mas então, não é justamente por serem assim que precisarão de sua cuidadosa lide-
rança, Philip-sama? Desejo chamar a atenção deles para o seu domínio — os camponeses
são muito inteligentes?”

“Não—”

“É por isso que eles precisam de um líder sábio, não?”

“Sim, de fato, isso é verdade.”

“Se realmente és, então Philip-sama, eu tenho certeza que será capaz de orientar bem
essa facção. Eu também vou fornecer tanta ajuda quanto eu puder.”

“Porque você tem a ganhar com isso, estou certo?”

“Mas é claro. Eu estou te ajudando, porque tenho certeza de que vou colher benefícios
disso.”

Hilma sorriu.

A raiva no coração de Philip desapareceu completamente. Tudo o que Hilma disse es-
tava correto.

Philip agradeceu a sua sorte por poder conhecer uma mulher como Hilma.

Ela tinha amplos contatos, grande riqueza e tinha acesso a muitas coisas que Philip não
conseguiu obter na Capital Real. Sua explicação para o porquê alguém como ela gostaria
de agradar a ele também era bastante razoável. Além disso, seus termos de pagamento
também eram muito simples, motivo pelo qual se sentia à vontade para fazer uso dela.

“Se me ajudar, eu te farei mais rica do que qualquer outra mulher.”

Os olhos de Hilma se arregalaram um pouco, e então ela sorriu feliz.

“Isso me agradaria muito. Eu ficaria feliz em poder usar um colar com grandes pedras
preciosas como as nobres. Então, por favor, trabalhe arduamente, Philip-sama.”

“Ah, com certeza eu vou... Então, posso fazer outra pergunta, minha cara patrocinadora?”

“Sim, fique à vontade.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


151
“...Posso saber o porquê é tão magra? Alguma coisa no seu corpo te incomoda?”

Seria problemático se ela não pudesse mais apoiá-lo. Se até mesmo os sacerdotes não
pudessem curá-la, então ele teria que encontrar alguém para substituí-la, ou permitir
que ela recomendasse uma sucessora.

“Oh, não é um problema que vale a pena mencionar...”

“Eu ouvi que algumas herdeiras fazem dieta para perder peso, não é por isso?”

Hilma sorriu. Esta foi a primeira vez que Philip viu um sorriso que transmitiu tal des-
conforto sem palavras.

“Não é por isso. O fato é que eu não posso mais comer comida sólida, então eu só posso
consumir líquidos, não consigo absorver bem nutrientes... é por isso. Por favor, não se
preocupe. Se alguma doença surgir tenho alguém que pode usar magia de cura ao meu
dispor.”

Seu humor voltou ao normal, como se nada tivesse acontecido:

“Definitivamente não vou morrer antes de me beneficiar do nosso trato, Philip-sama.”

“Oh, ohhh, mesmo, então isso é bom. No entanto... por que não pode comer comida só-
lida?”

Isso não tinha sido mais do que uma declaração descartável, mas teve um impacto re-
velador. Parecia que todas as emoções haviam fugido do rosto de Hilma.

A mudança foi maior do que antes e deixou Philip ansioso.

“Eu, eu— eu perguntei algo errado?”

“Ah, ahhh, minhas desculpas. Eu simplesmente me lembrei de algumas coisas.”

Hilma cobriu a boca quando disse isso e ficou muito pálida.

“Ah— minhas desculpas por te lembrar de algo desagradável.”

O que ela tinha passado para torná-la incapaz de comer alimentos sólidos? Embora
agora desfrutasse de amplas conexões sociais e riqueza suficiente para viver em bonança,
deve ter havido uma época em que ela não poderia se alimentar adequadamente. Ele
queria investigar mais, mas provavelmente seria uma péssima idéia fazê-lo.

“Philip-sama, acredito que é hora de convocar a emissária. Acredito que se escoltá-la,


todos o olhariam com olhos diferentes. Isso provaria que és o organizador mais do que

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


152
qualquer número de palavras que eu possa dizer — isso mostraria a eles quem é a pes-
soa mais poderosa aqui.”

“Ohh! Sim, isso mesmo.”

Como ela aparecera sozinha no jantar da Família Real, Philip pensara que esse tipo de
coisa era normal. Isso o envergonhou de saber que não era o caso, e ele fez uma atuação
de ter esquecido, mas que se acabara de lembrar.

“Todos certamente ficarão surpresos. Os muitos que não vieram cumprimentá-lo, cer-
tamente se sentirão ansiosos e inquietos, Philip-sama.”

Uma alegria sádica despertou no coração de Philip. Alguns dos nobres eram mais colo-
cados do que ele e tinham domínios maiores do que ele. Que tipo de expressões eles
mostrariam a ele, aquele que uma vez foi considerado o fardo de sua família—

“Isso mesmo, seria ruim mantê-la esperando. Irei acompanhá-la.”

“Então, ordenarei a um dos meus servos para lhe mostrar o caminho.”

Liderado por um dos servos de Hilma, Philip partiu em direção ao quarto da emissária
do Reino Feiticeiro, Albedo.

Ele bateu na porta e depois abriu.

O que ele viu atrás daquela porta era uma mulher cuja beleza não conhecia igual.

Ela usava um vestido preto, diferente do encontro no Palácio Real. Seus ombros nus
brilhavam como alabastro, e enquanto seu colar consistia em grandes gemas ligadas jun-
tas, não parecia brega, mas em vez disso acentuava sua beleza.

Tão bonita...

Philip corou.

“—Então, vamos?”

“Sim. Por favor, permita-me ser seu acompanhante.”

Philip pegou a mão que estava embainhada em uma luva de renda preta e ajudou Al-
bedo a se levantar.

Uma fragrância veio em sua direção.

Que tipo de perfume é esse, faz meu coração parecer tão leve.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


153
Embora ele subconscientemente quisesse farejar, isso teria sido terrivelmente rude.

Enquanto os dois já estavam andando lado a lado em direção ao salão de baile, prosse-
guir em silêncio fez o clima parecer pesado. Philip lutou para pensar em um tópico apro-
priado para abordar, mas quando chegou a hora de pensar em algo, já estavam perto de
seu destino.

“Há muitos nobres no salão. Todos eles se reuniram para vê-la, Albedo-sama.”

Parecia um pouco imprudente, mas mesmo assim recebeu uma resposta imediata.

“Isso é realmente verdade? Obrigado pela sua ajuda, Philip-sama.”

Albedo sorriu carinhosamente para ele e o coração de Philip bateu forte.

Mesmo isso provavelmente não sendo o caso, poderia ser que ela estava começando a
gostar dele?

Ele era um homem que logo ficaria no topo de uma grande facção. Em contraste, o Reino
Feiticeiro exercia um poder militar esmagador, mas por enquanto, era pouco mais do
que uma cidade-estado.

Quando se pensava dessa maneira, ele era a pessoa certa para tal empreitada.

Sem mencionar que ele também era solteiro.

“A propósito, por acaso és casada, Albedo-sama?”

Albedo ficou sem reação. Ele já tinha visto seu sorriso gentil várias vezes, mas essa era
a primeira vez que ele via aquela expressão nela.

Philip sentiu a vergonha passar por ele quando percebeu que havia feito uma pergunta
inapropriada.

“Que coisa estranha de perguntar, Philip-sama. Lamentavelmente, ainda não tenho um


parceiro nessa capacidade e estou tristemente solteira.”

“Mesmo? Dada a sua beleza, eu esperaria te pedissem em casamento mesmo antes de


dizer uma palavra, Albedo-sama.”

“Fufu — é uma surpresa que nenhum desses pretendentes tenham vindo para mim.
Ainda assim, essas ofertas seriam bastante problemáticas para mim, então, no momento,
estou bem com isso.”

“Então é isso...”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


154
Antes de chegar à porta, Philip colocou a mão no ombro perfumado de Albedo e lenta-
mente a trouxe para perto.

Houve um estranho som de algo rangendo. Philip olhou para a direita para ver de onde
vinha.

“Aconteceu alguma coisa?”

Suas pequenas dúvidas desapareceram quando Albedo lhe respondeu com um sorriso
no rosto.

“Não é nada. Então, por favor, vamos.”

♦♦♦

O que exatamente seus olhos viram?

Como essa cena apareceu para esses nobres fantasiados?

Hilma estava interessada nas respostas a essas perguntas.

Culinária de primeira classe, servos de primeira classe, utensílios de primeira classe,


música de primeira classe, tudo isso sobre esses nobres de baixo escalão.

As pessoas reunidas aqui eram em grande parte inúteis desperdícios de comida, tercei-
ros filhos ou ainda pior, haviam os que eram peças de reposição das peças de reposição.
E por terem sido forçados a curvar suas cabeças para o mundo tantas vezes, agora esta-
vam cheios de ressentimento.

Os olhares em seus rostos disseram tudo.

Muitos deles expressaram a alegria despreocupada da libertação. Muitos outros foram


consumidos pelas chamas do desejo. Para essas pessoas, esse lugar era onde eles podiam
satisfazer sua vaidade.

Então, recapitulando, este lugar foi destinado a ser um campo de alimentação desde o
princípio.

A sociedade nobre no Reino estava agora em estado de caos.

Já se passaram vários meses desde a guerra com o Reino Feiticeiro, mas as cicatrizes
que deixaram para trás foram muito grandes e não puderam se curar completamente.
Várias facções se dissolveram por causa disso e novas se levantaram para tomar seu lu-
gar. As casas nobres de classe alta haviam sido desalojadas pelas famílias que antes eram
de baixa patente. A roda do poder estava sendo girada.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


155
O atual caos no Reino era uma chance incrivelmente boa para todas aquelas pessoas
que estavam desalinhadas com qualquer uma das facções. Não, pode ser sua última
chance. Se as facções se estabelecessem novamente, elas poderiam ser banidas para o
lado de fora mais uma vez.

Por causa disso, esse encontro foi um gigantesco campo de alimentação para eles.

Seria um daqueles que os peixes famintos levariam seus alevinos para suas próprias
barrigas.

Em contraste, os alevinos seriam comidos sem que eles percebessem? Ou eles percebe-
riam algo e habilmente fugiriam? Ou talvez — haveria nobres cheios de desejo que mu-
dariam de lado e se tornariam devoradores?

Depois de estudar essa cena por quase uma hora, Hilma concluiu que não havia nobres
aqui que pudessem ser considerados de primeira linha, o tipo que ela queria enredar
com todas as suas forças.

Mesmo assim, ela não ficou desapontada com esse resultado. Na verdade, ela ficaria
preocupada se houvesse nobres de primeira linha dando as caras em um lugar perigoso
como esse.

Ela tinha sido muito cuidadosa ao enviar seus convites, mas Hilma não achava que fosse
perfeita. Certamente haveria alguém de uma das facções aqui.

Ainda assim, isso seria interessante.

Ela pensou.

Quanto mais tivesse a dizer em seu relatório, mais seu próprio valor aumentaria. Isso
não era uma coisa ruim para ela.

Então, já está na hora, não?

Fazia uma hora e meia desde que o baile começou, então era a hora marcada.

O verdadeiro trabalho de Hilma estava apenas começando.

—Estou apavorada.

Sua arrogância anterior desapareceu como se tivesse sido nada mais do que uma men-
tira.

Talvez um termo gentil como “apavorada” não seria capaz de abranger o terror que
brotou de seu estômago. Ela pensou em fugir com todas as suas forças enquanto imagi-
nava o inferno que a esperava se os desagradasse.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


156
Claro, se realmente fizesse isso, ela seguramente sofreria um destino que faria o inferno
parecer um paraíso feliz.

Como membro da Oito Dedos, ela havia dado muitas ordens de assassinato aos seus
subordinados. Ela também ordenou que as pessoas fossem atormentadas antes de se-
rem mortas. Mas comparado com o que aqueles monstros tinham feito, suas ordens
transbordavam da nata da bondade humana.

“—Hilma.”

A voz de trás a assustou e seus ombros se contraíram.

Quando ela se virou, viu o homem mais estúpido neste salão.

“Hm? Algo está errado?”

“Não, Philip-sama, nada está errado.”

Hilma escondeu suas verdadeiras emoções dentro de um sorriso. Entre essas emoções
estava a raiva de ser surpreendida por um pedaço de lixo como ele.

“Albedo-sama queria descansar por cerca de dez minutos, então vim te encontrar.”

“Isso é bastante razoável, dado que ela estava falando com todos os convidados. Com-
preendo; então, eu acompanharei a Albedo-sama até a sala de descanso.”

“Mesmo? Então eu irei também.”

Você está maluco por acaso? Essa foi a resposta que Hilma quis dar. Não, pode ser que
ele tenha percebido alguma coisa.

Com cautela em seu coração, Hilma continuou com a atuação:

“Eu sinto que seria melhor não fazer isso.”

“Por quê? Eu estava ao lado da Albedo-sama até agora. Não deveria ser estranho para
nós irmos juntos, certo?”

Agora, Hilma tinha certeza de que esse homem não suspeitara de nada.

Em outras palavras, ele era um idiota entre os idiotas, um inútil que não tem nem co-
nhecimento e muito menos etiqueta para ser um nobre.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


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“Temo que, se uma senhorita for acompanhada até a área de descanso por um cava-
lheiro que não é seu marido, isso pode levar à disseminação de... rumores inadequados
para ambas as partes.”

“Ahhh. No entanto, meu plano é retornar imediatamente assim que chegar lá.”

“Mesmo assim, não é muito apropriado. Eu entendo sua preocupação por ela como an-
fitrião deste evento. Mas eu também sou a provedora do local, então, por favor, permita-
me assumir essa responsabilidade e acompanhar a Albedo-sama com segurança para a
área de descanso.”

“Ahh...”

Parecia que ele ia dizer outra coisa, então Hilma esperou em silêncio que ele terminasse.

A verdade era que ela queria acabar com isso o mais rápido possível. Infelizmente, esse
imbecil também foi a força motriz por trás desse encontro. Ela não podia ser muito rude
com ele.

“Tem alguma dica do que eu deveria fazer para me unir a ela em matrimônio?”

“Haaaah!?”

Hilma havia esquecido completamente de permanecer no personagem por causa de


suas palavras.

“Eh? O que acabou de dizer?”

“Sobre ter uma maneira de ter a Albedo-sama como minha esposa.”

Esse cretino tá falando sério!?

Hilma lutou desesperadamente contra o desejo de gritar essas palavras. Ela mal podia
acreditar que alguém pudesse ser tão estúpido. De acordo com a informação de Hilma, a
pessoa que ele estava cortejando era a mão direita do Rei Feiticeiro — em outras pala-
vras, alguém que ocupava uma posição equivalente à de um primeiro-ministro. Era im-
pensável para um nobre de baixa classe de um país vizinho realmente proferir essas pa-
lavras para alguém como ela.

Talvez se ele tivesse pedido para se casar com a Princesa Renner, Hilma poderia ter
ficado menos chocada.

“Ahhh, mas veja, eu sou um homem que conseguiu reunir muitos nobres também. Eu
acho que sou um bom partido, o que acha?”

Sem ela perceber, a garganta de Hilma havia contraído fortemente.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


158
Mesmo sabendo que aquelas coisas não estavam escorregando em sua garganta, o des-
conforto e o terror do trauma que ela sofrera levaram-na a fazê-lo.

Não, isso não era algo que pudesse ser resumido com a palavra “trauma”.

Se ela ouvisse tais palavras tolas, palavras vindas de um homem sem atrativo algum, o
que aconteceria? Ficaria tudo bem se apenas Philip recebesse as consequências. Mas se
ela fosse punida por isso também, aquele inferno negro poderia estar esperando nova-
mente.

“De todo modo, dificilmente é viável. Ouvi dizer que ela ocupa uma posição equivalente
à de uma primeira-ministra no Reino Feiticeiro. Ou seja, ela seria uma duquesa aqui no
Reino.”

“Mas o Reino Feiticeiro não é um pequeno projeto de uma cidade-estado?”

“Nã-não, o senhor não pode falar dessa maneira!”

Aquelas palavras, que pareciam zombar do Reino Feiticeiro, fizeram Hilma explodir em
arrepios.

Era verdade que, em termos de território, o Reino Feiticeiro não era grande, mesmo
com as Planícies Katze sendo consideradas. No entanto, seu poder militar não era esma-
gadoramente superior? Independentemente de quanto esforço se investisse em comér-
cio, diplomacia e outros campos, as relações entre as nações ainda eram decididas por
suas forças militares comparativas. Não importava quão grande fosse o território de
uma nação, porque uma vez que a nação perdesse, tudo seria retirado de seu domínio.

Se ele nem sequer entendia esse fato, então como ela poderia explicá-lo de uma maneira
que até um idiota pudesse entender?

Hilma ponderou profundamente, mas não conseguiu encontrar uma resposta. Afinal, a
sabedoria e a estupidez eram dois lados da mesma moeda.

No fim, ela teve que raciocinar por ele.

“Isso não pode ser feito. Não há chance dessa mulher se casar com o senhor, Philip-
sama.”

“...Mas eu senti que temos uma boa química. Ficamos muito bem juntos, quando entra-
mos no salão, não notou?”

Então é isso que ele estava pensando...

Hilma pensou surpresa.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


159
Será que ele estava tentando colocar as pessoas do lado dele agindo como se tivesse o
apoio do Reino Feiticeiro? Esse cretino é o idiota supremo... sério, me poupe. Estou te im-
plorando. Por favor, não provoque ela.

Hilma sentiu algo azedo subir de seu estômago.

No entanto, ao mesmo tempo, ela queria deixar esse sujeito sentir o gostinho de como
era ter algo se contorcendo em seu estômago.

“...Talvez eu tenha falado demais. Por favor, permita-me escoltar a Albedo-sama. O se-
nhor deveria ficar aqui e se divertir como o anfitrião, Philip-sama.”

“...Bem, já que é assim, não há nada que eu possa fazer. Deixarei a Albedo-sama aos seus
cuidados, então.”

Eu faria isso sem você ter que dizer.

Hilma abaixou a cabeça, mantendo essas palavras em seu coração. Então, para não ouvir
mais as babaquices deste imbecil, ela foi direto para o lado de Albedo.

Albedo estava falando com um nobre. Em circunstâncias normais, Hilma poderia ter
esperado até terminarem. Entretanto, lidar com um idiota a tinha esgotado, então sem
delongas ela se intrometeu na conversa e abordou Albedo:

“Com licença, Albedo-sama, parece que está na hora de seu descanso.”

“Certamente... peço perdão por isso, mas farei uma pequena pausa.”

Tomando Albedo pela mão, Hilma a levou para fora do salão de baile.

“Fu~ ...Ah, que nojento.”

Hilma se virou quando ouviu a voz atrás dela. Se as coisas fossem ruins assim, o que ela
deveria fazer?

Quando ela se virou, viu Albedo enxugando o ombro com um lenço.

Os olhos de Albedo se encontraram com os de Hilma.

“Aquele homem repugnante encostou em mim. Só um homem neste mundo pode tocar
meu corpo de uma maneira luxuriosa... Merda. Aquele pedaço de merda sem cérebro...”

As palavras foram acompanhadas por um ranger de dentes. Pensar que o rosto dela,
que normalmente trazia um sorriso gentil, na verdade mostraria seu desprazer tão aber-
tamente. Isso era um indicador de quão infeliz ela realmente estava?

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


160
Hilma hesitou. Deveria ela dizer algo? Ou isso foi um prelúdio para sua punição?

“...O que foi? Diga algo.”

“Ah, s-sim...”

Hilma respondeu com o coração cheio de um terror incomparável:

“Eu posso entender como se sente, Albedo-sama.”

“Ara~, se esse é o caso... você pode se livrar daquela criatura e depois colocar outro
humano em seu lugar?”

“Se for seu desejo, então eu imediatamente prepararei outra marionete para seus cor-
déis, Albedo-sama.”

Albedo abriu a boca e fechou. Ela repetiu essa ação várias vezes.

Era uma sugestão muito atraente, que faria qualquer um hesitar.

Claro, não importava quem fosse escolhido. Apenas o inferno iria esperá-lo. Ainda as-
sim, o que quer que acontecesse com aquele idiota chamado Philip seria apenas conse-
quências de seus atos.

“Hu... não importa. Ele foi apenas um incômodo passageiro. Graças a tolice dele, conse-
guiu causar uma grande impressão nos nobres do jantar real, então trocá-lo agora seria
um desperdício... Hm, pode ser divertido acompanhar isso. Mas não, provavelmente não.”

Hilma recordou a conversa de antes, as fantasias selvagens e delirantes do louco abso-


luto que queria se casar com Albedo.

O que mudaria se ela dissesse isso?

Não, isso seria muito assustador. Ela não poderia dizer a Albedo. Afinal, ela pode se
envolver nisso também.

“Ele não fez nada, mas acredita que é o escolhido dos deuses. Ele realmente alcançou o
nível supremo de incompetência.”

“Correto. Anseio pelo dia que vou esmagá-lo no chão. Ele deve ser punido pelo crime de
tocar meu corpo, que pertence ao Ainz-sama, com aquelas mãos imundas.”

Elas não falaram depois disso, nem encontraram mais ninguém. Hilma levou Albedo
para uma sala.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


161
Uma vez que chegou à sala, Hilma quase desmoronou devido a suas pernas ficarem mo-
les de alívio. Lidar com aquela mulher sozinha — uma confidente do rei demônio que
poderia até mesmo subjugar Jaldabaoth — havia drenado uma enorme quantidade de
sua energia. No entanto, não ser capaz de permanecer de pé era absolutamente proibido.

Hilma reuniu todas as forças. Em seu coração, ela resolveu dormir por um dia inteiro
depois que tudo isso acabasse.

“Por aqui, por favor.”

Depois que Hilma abriu a porta, homens sentaram-se nas cadeiras com delicadeza como
um só. Todos eles eram tão magros quanto Hilma. Eles eram colegas de Hilma; os cinco
líderes da Oito Dedos e seu presidente, totalizando seis pessoas.

Eles também eram as pessoas que ela mais confiava neste mundo. No passado, eles ti-
nham rivalizado com os lucros, mas agora não pensavam mais nisso. Depois de aprender
sobre a ligação entre Jaldabaoth e o Reino Feiticeiro, seus destinos estavam agora inter-
laçados. Eles não tinham escolha a não ser trabalhar como escravos até que este país
fosse consumido e eles fossem libertados.

Esses amigos íntimos abaixaram a cabeça profundamente enquanto viam a própria en-
carnação do terror, Albedo. O medo que não conseguiam esconder tornou-se visível no
tremor dos ombros.

Hilma fechou a porta da sala e Albedo ocupou o assento mais alto da sala. Os homens e
Hilma se levantaram, permaneceram de pé enquanto esperavam suas ordens.

“Ótimo, repassarei as ordens. Você deve transferir recursos para o Reino Feiticeiro.”

“Entendido, estou ansioso para servir.”

O chefe da Divisão de Contrabando não perdeu um segundo para responder. Como ele
poderia atrasar? Uma vez que eles foram convocados assim, a única resposta possível a
qualquer ordem que lhes foi dada seria “Entendido”. Não havia mais nada que pudessem
fazer além disso.

O líder da Divisão de Contrabando tinha perdido muita influência na Guilda Mercantil


durante a perturbação de Jaldabaoth, muitos de seus recursos foram roubados. Mesmo
assim, havia vantagens em estar em sua posição. Isso porque suas relações com os no-
bres que haviam participado da guerra contra o Reino Feiticeiro haviam sido conduzidas
inteiramente com dinheiro. Ou seja, seu poder e influência estava lentamente voltando
pois os mercadores — que haviam concedido empréstimos aos nobres — estavam co-
brando sua parte do pagamento.

“Eu não estou me referindo a isso. Tudo o que precisa fazer é realizar transações a um
preço adequado. Depois disso, você usará o dinheiro ganho para importar alimentos em

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


162
preparação para a fome vindoura no Reino. Compre as rações que o Exército Real não
poderia mover a tempo— não, comece negociando para os grãos que ainda nascerão.
Afinal, Ainz-sama já iniciou a produção de alimentos em larga escala.”

O futuro de que ela falou certamente aconteceria, dada a queda maciça na força de tra-
balho do Reino.

“Entendido. Vou mobilizar os comerciantes imediatamente.”

“Estes são especialmente importantes. Certifique-se de que eles estejam na primeira


remessa.”

O homem cuidadosa e graciosamente aceitou o pedaço de papel que ela havia oferecido.

“Sim, senhora!”

“Então, quais novidades há sobre itens mágicos?”

Outro homem pareceu saltar no ar.

“Minhas mais profundas desculpas!”

Ele inclinou a cintura e curvou-se com tanta força que bateu a cabeça contra a mesa,
atingindo-a com uma quantidade surpreendente de força.

“Meus subordinados estão atualmente se infiltrando na Guilda dos Magistas para con-
duzir uma investigação profunda sobre eles. Se eu puder ter mais tempo— não, se esti-
ver disposta a aceitar um relatório em andamento, posso fazer um agora mesmo!”

“Não precisa. Apenas acelere suas ações. Além disso... sim. Você já decidiu sobre seus
novos colegas? Nesse caso, precisamos levá-los para o batismo.”

Os colegas em questão deveriam preencher os lugares vazios da Oito Dedos como novos
chefes de divisão.

Assim que recordou exatamente o que batismo implicava, Hilma sufocou a vontade de
vomitar. Expressões semelhantes às dela apareceram nos rostos de seus amigos, que
estavam desesperadamente tentando manter seus nervos faciais sob controle.

Um rito diabólico que quebrava à vontade e apagava completamente qualquer indício


de resistência dentro de seus súditos. Se qualquer uma das pessoas nesta sala fosse in-
formada de que teria que passar por isso novamente, não havia dúvida de que elas co-
meçariam a berrar como crianças.

“Sinto muito, mas ainda não decidimos.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


163
Disse o presidente.

Era verdade e também era uma mentira.

A razão pela qual disse isso foi porque as divisões que os recém-chegados seguiriam
eram irrelevantes. Os assentos vazios pertenciam aos chefes das divisões de segurança
e escravatura. Não havia praticamente nenhum comércio para último, então havia pouco
benefício em ter alguém que preenchesse essa posição. Quanto à primeira posição, a pró-
pria necessidade de sua existência estava em xeque. Além do mais—

“Os senhores que fomos autorizados a pedir emprestado tiveram um ótimo desempe-
nho. Pode não estar fora de questão tê-los como chefes de divisão.”

Os senhores em questão se referiam aos undeads que lhes haviam sido emprestados,
cada um dos quais possuía um poder inacreditável.

Assim que perceberam que os membros do Seis Braços estavam mortos, um grupo de
subordinados — os líderes dos quais haviam sido originalmente Trabalhadores — co-
meçaram a tramar uma rebelião violenta. Como resultado, enviaram uma dessas criatu-
ras undeads. E como resultado, essa entidade eliminou quase 40 pessoas sem deixar es-
capar uma única.

Havia outro motivo para isso; um risível, na verdade. Isso porque ninguém aqui queria
que alguém mais passasse pela mesma coisa que aqueles idiotas passaram. Esses mes-
tres endurecidos pelo submundo, podiam calmamente ordenar a morte de um homem,
mas não queriam que ninguém mais experimentasse o mesmo desespero que sentiam.

Foi o modo que encontraram para os proteger.

“...Compreendo. Tudo ficará bem desde que a organização funcione normalmente. En-
tão, vocês têm algum pedido especial para mim?”

“Temo perguntar, mas descobrimos que os Skeletons produziram excelentes resultados


nas minas que adquiri. Se possível, gostaríamos de mantê-los por mais algum tempo.”

“Hmm, claro. Se você puder pagar a taxa apropriada, não haverá problema.”

“Meus mais profundos agradecimentos.”

A testa do orador começou a suar profusamente. Ele limpou com um lenço que estava
tão molhado que havia mudado de cor. A coisa assustadora sobre o Reino Feiticeiro não
era simplesmente o Chicote que empunhava, mas as Cenouras que ele oferecia.

Eles não tiravam tudo como os fortes fariam com os fracos, mas conduziam negócios
como comerciantes qualificados e jogavam segundo as regras. Enquanto eles não mos-

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


164
trassem nenhum sinal de traição, poderiam até sentir a paz de espírito que viria de se-
rem protegidos por seres poderosos. Claro, se a chance se apresentasse, eles ainda esco-
lheriam fugir aterrorizados.

“Então, não há muito mais para ser dito. Acredito que já mencionei isso antes, mas tra-
balhem ao máximo para ajudar o Reino Feiticeiro a engolir o Reino no futuro. Em prepa-
ração para esse dia, vocês fariam bem em começar a fazer incursões para se tornarem
negociantes de sucesso.”

“Entendido!”

Todos eles nervosamente se inclinaram para ela.

Nenhum deles poderia se opor ao Reino Feiticeiro devorando o Reino. Já que esses
monstros haviam feito essa declaração, era apenas uma questão de tempo até que cer-
tamente ocorresse.

No começo, pensaram em pedir a Rosa Azul, Gota Vermelha e a Escuridão por ajuda. Mas
depois de ouvir sobre o incrível poder do Rei Feiticeiro, que contava com Jaldabaoth
sendo um dos seus lacaios, eles perceberam que não havia esperança. Tudo o que po-
diam fazer era baixar a cabeça e esperar o fim chegar.

“Oh, sim, certo...”

Hilma e todos os outros membros estremeceram.

“Tem mais uma coisa que eu queria dizer. Há um item mágico que eu quero que vocês
usem suas redes de inteligência para localizar para mim. Envie relatórios regulares dos
seus resultados em um pergaminho endereçado a Albedo no Reino Feiticeiro. No entanto,
eu não sei nada sobre sua aparência externa, ou se o item existe.”

“...Que tipo de item mágico seria esse?”

“É um item mágico que pode controlar a mente de um alvo.”

“Controle mental... uma varinha de charme ou algo assim?”

“Não, deve ser algo mais poderoso que isso. Eu estou procurando por algo que não es-
teja em circulação no mercado, um item lendário ou pelo menos notícias sobre ele. Me
informem tudo que encontrar, por mais insignificante que seja. Fui clara?”

O controle mental de que ela falou deveria ter um efeito aterrorizante.

Era óbvio o porquê ela desconfiaria de tal item, e então eles imediatamente mostraram
que entenderam.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


165
♦♦♦

“Pri-Pri-Princesa-sama!”

A empregada abriu a porta e entrou, claramente em pânico.

Ela não havia batido, o que dificilmente era um ato que fosse digno de elogios, mas, em
vez disso, implicava que algo havia acontecido que a deixara nervosa ao ponto de não o
fazer.

Renner imediatamente viu o que estava acontecendo. No entanto, na frente das empre-
gadas, Renner era uma princesa inocente. Por causa disso, ela imprimiu uma impressão
adequadamente sem noção e perguntou com uma voz igualmente ingênua:

“O que foi?”

O olho da empregada se contraiu.

Aquele tique provavelmente tinha vindo de sua raiva interior.

Por que essa princesa é tão estúpida que nem se preocupa?

Renner preguiçosamente colocou a xícara no pires.

O som de fazê-lo pareceu sacudir a empregada de volta à realidade e ela entrou rapida-
mente em ação.

“S-s-sobre isso—”

“Tudo bem, vai ficar tudo bem, acalme-se, respire fundo.”

A empregada fez o que Renner disse, tomando várias respirações profundas para regu-
lar sua respiração ofegante. Depois de recuperar um pouco de calma, Renner perguntou:

“O que aconteceu? São demônios de novo?”

“N-não, não é isso. A Emissária-sama do Reino Feiticeiro diz que quer conhecê-la, Ren-
ner-sama!”

“É uma dama?”

“Sim, uma dama muito bonita!”

A pergunta de Renner deveria ter sido estranha, porque havia apenas uma mulher entre
os emissários do Reino Feiticeiro. Parece que ela queria levar a empregada confusa ao
limite. No entanto, a respondeu seriamente.

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


166
Bem, tudo bem.

Pensou Renner. Quanto mais coisas bobas ela fazia, mais ela construía uma reputação
que podia usar. Não passava de encenação.

Climb estava de pé ao lado dela. Sua armadura tilintou em resposta. Ele não deveria ter
sido capaz de saber o que estava acontecendo.

Suas ações adoráveis, como um filhote inocente, encheram o coração de Renner com
uma onda de ternura.

Não havia como ele descobrir o porquê de a emissária vir aqui para encontrar Renner.
Ele já tinha visto ela trocar cumprimentos com Renner. Sendo esse o caso, falar com a
Terceira Princesa — que era pouco mais que um ornamento — não traria nenhum be-
nefício para o Reino Feiticeiro. Pelo menos, era isso que Climb deveria estar pensando.

Renner sorriu calorosamente em seu coração.

A frase “Quanto mais a criança é retardada, mas ela se torna fofa”, certamente era ver-
dade. Ou melhor, alguém poderia dizer que os amava apesar de suas deficiências. Bem,
provavelmente seria correto, independentemente de como olhasse para essa alegação.

Se alguém além de Climb tivesse feito isso, outras emoções teriam chegado à superfície.

Embora fosse impulsionada pelo desejo de olhar para os olhos brilhantes de Climb para
sempre, ela teve que se contentar com isso por agora. Pelo menos, até o momento em
que fosse envolvida por esse delicioso doce açucarado novamente.

“Por que exatamente a Albedo-sama quer me conhecer?”

Inclinar sua cabecinha delicada era muito importante. Fazer isso induziria uma reação
negativa na parte preocupada. Sua eficácia foi comprovada após vários experimentos.

E com certeza, chamas fracas piscaram nas pupilas da empregada. Eram chamas de
raiva. No mesmo momento, a armadura de Climb tilintou suavemente.

Ele deve ter percebido os sentimentos da empregada e pensado em alguma coisa. Mas
o som logo parou e ele voltou para a posição inerte.

Tão fofo.

Ele era como um cachorrinho que estava confuso sobre se devia ou não dar um passo à
frente, a fim de proteger sua amada.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


167
Isso porque seria melhor permanecer quieto, já que Renner não havia notado. A empre-
gada era a herdeira de uma boa família, e não importava o que Climb dissesse, uma pa-
lavra para seus pais e Renner teria que lidar com diversos problemas. Climb provavel-
mente pensou nisso.

Ele provavelmente estava gritando por dentro, já que confiava muito em Renner. Se
tivesse nascido em berço nobre, esse tipo de coisa não aconteceria. Renner resistiu ao
desejo de se virar para olhar para Climb, que estava de pé atrás dela. Isso porque a em-
pregada intrometida abriu a boca para falar:

“Infelizmente eu não sei o motivo, apenas sei que ela deseja te conhecer.”

“Entendo... Albedo-sama é uma mulher também, então talvez seja conversa de meninas...
será sobre maquiagem?”

Ela fez essa pergunta de maneira inocente— ou talvez digna de alguém completamente
desmiolada.

“Sinto informar, mas não sei também. Então, posso trazê-la?”

“Claro que pode!”

Depois de sua resposta fingida de prazer, Renner se virou para olhar para Climb.

“Hmmm~ Climb, me desculpe, mas já que isso é uma questão entre as mulheres, você
poderia sair por um tempo?”

“Entendido.”

Era uma pena, mas ela não poderia evitar. Climb não precisava saber sobre coisas incô-
modas. Tudo o que ele precisava fazer era olhar para ela com aqueles lindos olhos de
cachorrinho.

♦♦♦

Quando Albedo entrou na sala, havia apenas uma pessoa lá dentro. Albedo tinha quatro
objetivos em vir para a Capital Real.

O primeiro foi o transporte de recursos. O segundo foi criar um casus belli. O terceiro
foi estabelecer as bases para seus objetivos pessoais. O quarto seria fazer negócios com
a dona desta sala. Não, chamar isso de “negócios” não seria totalmente preciso. Isso seria
mais como uma recompensa.

Albedo atravessou a sala e sentou-se sem esperar que a dona da sala lhe desse permis-
são. Então, ela olhou para a garota que estava genuflectindo diante dela com a cabeça
abaixada e disse:

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


168
“Pode levantar a cabeça.”

“—Sim.”

A garota chamada Renner levantou o rosto.

“Você tem feito um excelente trabalho.”

“Muito obrigada, Albedo-sama.”

“Ara~”

Albedo parecia bastante interessada na reação de Renner, que era completamente di-
ferente do que ela havia mostrado até então.

Esta era a Renner de quem Demiurge falara.

Ela havia traído sua família, sua linhagem e seu povo, mas não havia sequer um pingo
de pesar em seu rosto. Ela era humana, mas completamente desumana. Talvez fosse um
heteromorfo espiritual. Sua mente compreendia o bem e o mal, mas isso era tudo. Ela
era do tipo que não estava presa às pequenas restrições da moralidade, mas que calma-
mente trabalhava para avançar em sua própria agenda.

“...Como recompensa por seus esforços, eu lhe trouxe um presente de Ainz-sama.”

Albedo ergueu a mão e retirou o item que seu mestre lhe dera para manter em segu-
rança. Era uma caixa que continha várias camadas de selos. Era impossível abrir sem
preencher condições específicas.

“Isto seria...”

Quando a moça aceitou com gratidão, Albedo a observou com um olhar frio, como se a
menina fosse pouco mais do que uma cobaia. De fato, ela era uma cobaia. Mas por causa
disso, os dois lados compartilhavam os mesmos objetivos.

“A senhora tem minha mais profunda gratidão. Por favor, transmita meus agradecimen-
tos a Sua Majestade, Ainz Ooal Gown-sama.”

“O farei. Eu confio que não preciso desperdiçar palavras no outro item que você quer?”

“Claro. Receberei essa benção quando tiver entregue uma recompensa apropriada. Não
há nada mais delicioso do que isso.”

A garota sorriu. Foi um sorriso muito amável. Foi por isso que ela perguntou:

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


169
“...Embora abrir a caixa possa satisfazer seu desejo, você pode realmente abri-la?”

O que os outros em Nazarick pensariam se vissem Albedo demonstrando preocupação


com um ser humano? Dito isto, se o desejo dela realmente se tornar realidade, então isso
poderia ser considerado como um trabalho preparatório para sua elevação a um status
equivalente ao de um Guardião de Área. Nesse caso, era perfeitamente compreensível
demonstrar preocupação com uma candidata à posição de subordinado.

“Sim, Albedo-sama. Os preparativos já começaram.”

“Compreendo. Depois, verifique se eles terminaram antes de invadirmos.”

“Entendido, Mestra.”

Quando a garota abaixou a cabeça novamente, um par de olhos apareceu em sua som-
bra. Um Shadow Demon se esgueirando para fora que abaixou a cabeça junto com a ga-
rota.

Albedo considerou se devia ou não lhe emprestar reforços extras, mas no final ela deci-
diu não mencionar isso. Se as ações da garota fossem expostas antes que o Reino Feiti-
ceiro invadisse o Reino, isso significaria que não havia valor em levá-la a Nazarick.

Em outras palavras, tudo isso era um teste.

“Então, vamos dispensar as formalidades aqui.”

Parecia haver uma mudança no tom de Albedo, e havia uma expressão de confusão no
rosto de Renner.

“Terminar a reunião neste momento seria muito apressado. Vamos discut— conversar,
então. Tudo bem, sente-se. Pode me contar sobre o seu cachorrinho?”

Albedo foi contemplada com um grande sorriso.

“Eu adoraria, Albedo-sama. Além disso, se puder, poderia me contar sobre Sua Majes-
tade, também?”

Capítulo 2 O Reino Re-Estize


170
Interlúdio

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


171
os interiores mais profundos da Teocracia Slane...

N Pouquíssimas pessoas foram permitidas neste santuário inviolável.

O primeiro foi o membro mais graduado da Teocracia; o Pontifex Maximus.

Em seguida, estavam os Cardeais, os mais importantes detentores das seis seitas dedi-
cadas aos Seis Deuses. A propósito, cada um deles, excluindo aqueles pertencentes à
mesma seita como o atual Pontifex Maximus, era um potencial candidato para ser o pró-
ximo Pontifex Maximus.

A Cardeal do Fogo — Berenice Nagua Santini.

A única mulher entre eles. Ela tinha mais de 50 anos e um pouco gorda, possivelmente
devido à sua idade. Seu rosto bem rechonchudo tinha um sorriso maternal que trazia a
todos os que olhassem uma sensação de serenidade.

O Cardeal da Água — Ginedine Delan Guelfi.

Um velho enrugado. Era tão velho que não se podia dizer sua idade exata, e sua pele era
marrom parda. Embora se preocupassem com sua saúde, nenhuma poderia exceder seu
intelecto.

O Cardeal do Vento — Dominic Ihre Partouche.

Parecia um velho bondoso, mas foi originalmente da Escritura da Luz Solar e extermi-
nou muitos seres heteromórficos durante seu tempo como guerreiro sagrado. Sua ira
era como um incêndio, enquanto sua intenção assassina era como uma geleira.

O Cardeal da Terra — Raymond Zarg Lauransan.

Um homem de olhos perspicazes e o mais novo dentre os presentes. Dito isto, ele ainda
estava na casa dos 40 anos, embora sua avidez tornasse esse fato difícil de acreditar. Ele
era um ex-membro da Escritura Preta que serviu por 15 anos — um herói que havia
defendido sua nação.

O Cardeal da Luz — Yvon Jasna Dracrova.

Seus olhos estreitos e o corpo magro o faziam parecer uma pessoa sinistra, mas defini-
tivamente não era o caso. Todos aqui sabiam o motivo. Como usuário de magia divina,
ele ficava no topo, ou pelo menos bem perto, de todas as pessoas aqui presentes.

O Cardeal da Escuridão — Maximilian Oreio Lagier.

Ele estava cercado por inúmeros livros que flutuavam no ar, sustentados por versões
aprimoradas da magia 「Floating Board」. Ele usava óculos redondos e, originalmente,

Interlúdio
172
foi um sacerdote do Judiciário. Por isso, muitos dos livros que levitavam ao lado dele
pertenciam à lei.

Além disso, havia os chefes do Poder Judiciário, do Poder Legislativo e do Poder Execu-
tivo no governo da Teocracia. Havia o chefe do instituto de pesquisa que lidava com pes-
quisa mágica. Além disso, havia o Grão-Marechal, o mais alto detentor de nomeação nas
forças armadas.

Essas 12 pessoas compunham a mais alta autoridade executiva da Teocracia Slane.

Depois de entrarem na sala, eles pegaram as ferramentas de limpeza e começaram a


limpar o local. Alguns deles se livraram da poeira com espanadores de penas. Alguns
limparam o local com panos secos, enquanto outros foram limpos com panos molhados.
Alguém usou um item mágico para aspirar a poeira.

Não havia descuido em seus movimentos, eles limparam a sala com movimentos bem
praticados.

Nem uma única dessas pessoas — que estava no auge da Teocracia Slane — estava re-
laxando. O suor jorrava de suas testas, suas vestes bonitas e imaculadas estavam man-
chadas de poeira, mas ninguém parou até que a sala ficasse impecável.

A sala já estava razoavelmente limpa antes de começarem, mas agora parecia brilhar.

Nenhum deles pensou em limpar o suor. Em vez disso, eles se alinharam diante das seis
estátuas — que pareciam estar defendendo essa sala — e abaixaram a cabeça.

“Hoje, agradecemos aos deuses por nos permitirem viver mais um dia.”

Depois que o Pontifex Maximus disse aquelas palavras, todos repetiram depois dele.

“Assim, oferecemos nossos agradecimentos.”

Após levantarem as cabeças profundamente abaixadas, todos guardaram o equipa-


mento de limpeza em um canto. Só então lançaram magias 「Clean」, limpando suas
roupas e equipamentos, as toalhas que usavam para enxugar o suor emanavam uma fra-
grância refrescante.

Seria trivial limpar a sujeira e a poeira com uma magia de primeiro nível. Fortalecer
essa magia permitiria que toda a sala fosse limpa com facilidade. No entanto, não havia
ninguém entre eles que fosse herege o suficiente para fazê-lo nesta sala sagrada.

Depois de se limparem, sentaram-se à mesa redonda.

Isto incluiu o Pontifex Maximus da Teocracia Slane.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


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Nesta mesa, todos eram iguais. Não havia superiores ou inferiores. Todos eram colabo-
radores e companheiros. Pois acima de tudo, isso era para a glória da humanidade.

“Então, vamos começar a reunião.”

O organizador deste encontro foi o Cardeal da Terra, Raymond Zarg Lauransan.

“Nosso primeiro tópico é a tomada da Cidade Fortaleza de E-Rantel do Reino e sua área
circundante como o coração do Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown, duas semanas atrás.”

Não havia nada que pudesse ser mais importante do que o súbito advento desta nação
misteriosa.

No entanto, pouquíssimas pessoas conheciam os detalhes da situação. A maior parte do


que eles sabiam era pouco mais que boatos.

Para começar, eles sabiam que o Rei Feiticeiro era uma criatura undead, e também sa-
biam que era um magic caster extremamente poderoso que havia destruído o Exército
Real, que controlava um exército de mortos e que havia Death Knights entre os undeads
e assim por diante.

Raymond, que comandou as Seis Escrituras, relatou esses detalhes em sua capacidade
de organizador da reunião.

Só então, alguém falou:

“Eu sabia que não devíamos deixar aquilo acontecer, deveríamos ter intervindo naquela
guerra!”

“...O que está dizendo? Uma batalha aberta contra um magic caster que controla Death
Knights é extremamente perigosa. Já não concordamos com isso antes? Pode até argu-
mentar ter se oposto, mas não tente invalidar nossa decisão anterior... Mesmo assim, eu
não achava que ele realmente estabeleceria uma nação.”

O grupo assentiu um após o outro.

“O que o Império planeja fazer? Eles são aliados do Reino Feiticeiro e endossaram a
fundação daquela nação, então isso significa que eles são oficialmente colaboradores
agora? Ou estão sendo controlados por magia?”

“Eu duvido. Paradyne está lá.”

“Ou seja, acho que cometemos um erro ao pensar que o Imperador poderia ser confiá-
vel.”

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“... Bem, a questão aqui é, ele é um dos indivíduos mais talentosos de lá, e parece que
não está sendo bem valorizado. Devemos começar o plano para atraí-lo para o nosso
lado?”

“Bem—”

Depois de um breve bater palmas, o debate que estava prestes a se aquecer rapida-
mente arrefeceu.

“—A Astróloga das Mil Ligas observou a batalha entre o Império e o Reino. Mas houve
um pequeno problema, então o relatório foi atrasado. Eu imploro seu perdão.”

O problema em questão provavelmente se referia ao fato de que ela havia se trancado


em seu quarto e estava lá há algum tempo. Pelo menos, foi o que todos pensaram.

“Então, nós distribuiremos os registros do que ela viu. Estes não foram verificados por
terceiros, são apenas o relato dela sobre o que ela viu do exército do Rei Feiticeiro no
campo de batalha.”

Que problemático...

Todos pensaram, embora não tenham dito. Eles pegaram os registros e os estudaram.

Eles pararam na última folha, repassaram a mesma parte repetidas vezes. Todos tinham
as mesmas expressões severas e seus rostos lentamente ficaram pálidos.

Raymond sorriu ao ver as mudanças em suas expressões. Ele tinha passado pela mesma
situação anteriormente e estava feliz porque a doce miséria era visível em todos.

E então, como se os representasse, Maximilian gritou. Sua boca se abriu tão larga que
seus óculos caíram, mas ele não pareceu se importar com isso.

“IMPOSSÍVEL! Como é que algo assim poderia existir!?”

“Eu já te disse, não? Esta é apenas uma descrição do que ela afirmou ter visto.”

Maximilian se calou diante da reação fria de Raymond.

Ele estava ofegando como se tivesse acabado de correr. Enquanto Maximilian lutava
para recuperar a respiração, Berenice decidiu fazer outra pergunta, para ver se alguém
compartilhava suas opiniões.

“Pode afirmar a veracidade disso? Tem certeza que é real?”

“Se todos aqui ainda acreditam na palavra da “Mil Ligas”, então sim.”

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Com olhares de pesar em seus rostos, todos olharam para os papéis que estavam segu-
rando.

Todos pararam no mesmo lugar — a composição do exército do Rei Feiticeiro.

“Centenas de Death Knights, duzentos no mínimo. Centenas de Soul Eaters, trezentos,


no mínimo. Esse exército... Se essas coisas saírem do controle, não importa se é o Reino,
o Império, a Aliança Cidade-Estado ou o Reino Sacro — todos serão obliterados!”

“...Assim como nós. Se essas coisas nos atacassem, precisaríamos de séculos para nos
recuperar dos danos.”

Death Knights. Dificuldade estimada em 100 ou superior. Eles são capazes de criar
Squire Zombies, que poderiam fazer outros Zombies. Os próprios Zombies não tinham
muito poder de combate, mas poderiam levar ao surgimento de undeads mais fortes.

Soul Eaters. Dificuldade estimada em 100 a 150. Undeads com habilidades de efeito de
área. Eles podiam consumir as almas dos falecidos para sustento e se tornavam mais
fortes à medida que devoravam mais almas. Eles irradiam uma aura de medo. Sem pelo
menos um magic caster de 3º nível, até mesmo olhar para eles seria impossível.

Todos eram undeads que poderia destruir uma cidade ou um pequeno país.

“Ela não está enganada? Talvez o Rei Feiticeiro tenha percebido nossa vigilância e
usado ilusões para nos confundir.”

Yvon avançou com essa possibilidade enquanto esticava seus braços esguios e resse-
quidos.

As pessoas ao redor murmuraram. Mas Raymond anulou essa possibilidade.

“A Escritura Preta conhece muitos monstros. Embora seja verdade que ela possa não
ter tido uma noção completa das coisas, a Astróloga das Mil Ligas estava encarregada de
fornecer suporte de inteligência para sua equipe. Não há como ela ter se enganado. Além
disso, verificamos avistamentos de Death Knights e Soul Eaters na capital do Reino Fei-
ticeiro — a antiga cidade de E-Rantel.”

Isso foi respondido por vários suspiros abatidos.

Tudo o que podiam fazer era reconhecer em vozes cheias de cansaço e depois continu-
aram a discutir o assunto.

“O que faremos então? Qual é o melhor curso de ação para nós, como os protetores da
humanidade? O que podemos fazer contra cerca de quinhentos monstros, cada um dos
quais pode destruir uma nação por si mesmo?”

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“Então, as forças deles equivalem a quinhentos países pequenos... isso é insano, não
acham? Quanto caos esse país poderia incutir no equilíbrio entre as nações?”

“A questão é: O que o Rei Feiticeiro pretende fazer com esse poderio militar? Caso só
pretendam defender seu território, não será um problema a curto prazo.”

“Simples assim? Muito poder apenas para se defender. Além disso, o Rei Feiticeiro é um
undead, eles odeiam os vivos, esqueceram? Tenho certeza de que ele usará seu poder
para atacar os países vizinhos.”

“Não importa como o Rei Feiticeiro pretende usar seu poderio militar. O que importa é
o que podemos fazer sobre isso.”

Foi uma opinião válida, e a direção da reunião começou a mudar.

“Então... a Escritura Preta pode lidar com isso? Essa é a coisa mais importante.”

Seus membros eram os ases da Teocracia Slane, uma unidade de forças especiais com-
posta de heróis. Poder-se-ia pensar neles como aventureiros de ranque adamantite, mas
havia uma diferença crítica entre os dois, isso é, seus equipamentos.

Quando os deuses vieram a este mundo, eles haviam deixado equipamentos dignos de
uma divindade para trás, mas os aventureiros precisariam ir em missões épicas, daque-
las vistas em sagas heroicas, tudo apenas para obter uma única peça dessa panóplia.

Em contraste, cada membro da Escritura Preta possuía vários artigos de tal panóplia.

Se nem mesmo eles conseguissem lidar com uma ameaça como essa, então eles ainda
poderiam conduzir um grande ritual para conjurar o anjo mais poderoso para lidar com
o problema.

Certamente o mais exaltado dos anjos seria capaz de triunfar sobre os Death Knights e
Soul Eaters. No entanto, o grande número de inimigos os deixava muito desconfortáveis.

Todos os olhos foram para Raymond.

Ele riu. Algumas pessoas sorriram em resposta ao riso dele, mas aqueles sorrisos con-
gelaram em seus rostos quando ouviram o que ele disse em seguida:

“É impossível. Eu digo isso como antigo Terceiro Assento da Escritura Preta; qualquer
um que espere que enfrentemos quinhentos deles deve ser um louco absoluto. Já seria
ruim o suficiente mesmo se estivessem apenas em números iguais a nós. Não, se não
fosse por isso, por que a Astróloga das Mil Ligas se trancaria em desespero? Contudo...”

A natureza do sorriso mudou.

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“É diferente para os Godkins.”

“Ohh!”

Foi o som de alegria.

“Os dois devem ser capazes de lidar com um exército de Death Knights e Soul Eaters.
Claro, apenas no caso, ainda precisamos dar a eles o máximo de assistência que puder-
mos.”

“É reconfortante saber que aqueles dois darão conta.”

“Bem, isso é um alívio.”

Em meio a esse júbilo, apenas Ginedine fez “hmph”. Sentindo o ar pesado de fadiga ao
redor dele, todos se aquietaram.

“...Você não está nos contando tudo, está?”

“O que está insinuando, Ginedine?”

“A lei não proíbe falso testemunhos e obscurecimento da verdade neste lugar? Mas so-
mos confrades servindo sob o mesmo propósito, sob a mesma bandeira, mentir aqui é
uma heresia grave. Agora que te lembrei disso, vou te perguntar pela última vez; o que
está escondendo?”

“Ginedine... Como assim? Por que está dizendo isso?”

“Dominic, algo não se encaixa aqui. Por que a Astróloga das Mil Ligas se trancou?”

Sabendo que ninguém poderia responder a essa pergunta, ele continuou a falar:

“Ela está desesperada. Ou talvez esteja em choque. É verdade que um exército de mor-
tos é assustador. Mas ela faz parte da Escritura Preta. Você realmente acha que ela iria
se esconder só por causa disso? ...Ou é porque ela viu algo que até mesmo os Godkins
não conseguiram vencer? Admita, este relatório não está completo, não é?”

Todos olharam para Raymond e Ginedine.

“...Onde você quer chegar escondendo isso? Eu confio em você. Eu sei que você não é o
tipo de homem que usaria as Escrituras para ganho próprio. Mas por que não revela toda
a verdade?”

“Muito astuto. Perspicaz como sempre, Ginedine. Eu simplesmente queria explorar as


possibilidades... só então eu diria. Agonizar sozinho sobre esse problema me daria úlcera,
então eu fico feliz em compartilhar com todos os senhores aqui.”

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Raymond olhou para todos.

“O quanto sabem da batalha entre o Reino e o Império— não, entre o Reino e o Reino
Feiticeiro?”

A pessoa que respondeu em seu nome foi o Pontifex Maximus.

“Ouvi dizer que o Rei Feiticeiro usou uma poderosa magia. Como resultado, o Exército
Real enfraqueceu e foi derrotado. Por causa disso, eles obedeceram aos pedidos feitos
antes da batalha e cederam E-Rantel ao Reino Feiticeiro para a fundação de uma nação.
Isso é tudo.”

“E o número de mortes?”

O Pontifex Maximus simplesmente balançou a cabeça para Raymond.

“Eu não sei. Essa notícia ainda não chegou até mim. Creio que o mesmo vale para todos,
correto?”

“Sim. Sacerdotes e comerciantes não vão mais à E-Rantel agora que se tornou o coração
do Reino Feiticeiro, com um rei undead. Então, tudo que ouvimos são rumores de pro-
cedência desconhecida.”

“Precisamos das Escrituras— esse tipo de coisa é mais adequada para as Escrituras da
Água Pura do que a Escritura da Flor do Vento?”

“Sim, e é por isso que somente o comandante das Seis Escrituras — você sabe quem —
conhece a verdade. Tudo o que aprendemos é do pouco que vazou.”

“...Entendo. Então, mostre a versão completa e integral do que a Astróloga das Mil Ligas
viu durante a batalha.”

Depois de ler o resto do relatório, a sala se encheu do silêncio do desespero.

Sentindo que isso não poderia mais continuar, Yvon levantou uma questão:

“Entendi, entendi... Você estava com medo de que nossos corações parassem se vísse-
mos isso de antemão?”

“Na verdade, não. Seus corações são fortes o suficiente para germinar cabelos. Eu estava
simplesmente com medo de que, se eu abrisse com isso, ninguém acreditaria.”

Yvon assentiu, incapaz de refutar.

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“Não vou negar, teríamos duvidado disso até se tivéssemos visto em primeira mão.
Como alguém poderia simplesmente acreditar? Mas depois de aceitar a realidade do
exército do Rei Feiticeiro, não temos outra escolha.”

“Ainda assim... eu não quero acreditar. Com apenas uma magia, ele matou mais da me-
tade do Exército Real. Durante aquela batalha, o Reino mobilizou duzentos e sessenta
mil homens. Metade disso seria pelo menos cento e trinta mil pessoas, certo? Eu ouvi
que o Exército Real foi derrotado, mas isso...”

“Só ela que testemunhou? Não é incomum que o número de mortos e a contagem de
baixas sejam exagerados...”

“Mesmo assim, a descrição de exterminar uma ala inteira do Exército Real com uma
magia significa mais de oitenta mil mortes. Se isso não bastasse, ainda surgiram mons-
tros abissais vindos dos sacrifícios...”

“Eu não posso negar o que ela viu. Isso é magia dos deuses. O Décimo primeiro nível de
magia, eu presumo? Deve ser isso.”

“O advento dos deuses?”

“O que está escrito aqui é semelhante à descrição daquele deus... é possível que Ele te-
nha descido dos céus mais uma vez?”

“Impossível. As tradições orais afirmam que o Deus da Morte, Surshana-sama, foi morto
pelos execráveis Oito Reis da Ganância. Isso deve ser outra coisa. E se Surshana-sama
tivesse realmente descido mais uma vez, aquela pessoa certamente teria nos dito. Afinal,
aquela pessoa é a primeira seguidora de Surshana-sama.”

“Então, finalmente chegou a hora?”

“Provavelmente sim. Depois de duzentos anos.”

“Creio que sim, a julgar pelas tradições orais. Pode ter aparecido em algum lugar do
continente.”

“O poder nacional aumentou tão lentamente porque aqueles imprestáveis estragaram


o plano.”

“Aqueles idiotas no Reino...”

Todos tinham olhares de ódio em seus olhos quando ouviram essas palavras.

O Reino era o país mais geograficamente seguro de todos. Por causa disso, a Teocracia
Slane os ajudou na esperança de que o Reino se tornaria a nação que salvaria a humani-

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dade. Criando grandes quantidades de seres humanos em terras seguras e férteis, mui-
tos indivíduos talentosos também apareceriam, que poderiam ser criados como heróis
que poderiam resistir contra invasões não-humanas. No entanto, paz e prosperidade fi-
zeram com que eles caíssem em degeneração, e o Reino apodreceu por dentro.

O que foi mais preocupante foi como eles produziram narcóticos e os exportaram para
o outro país promissor, o Império.

Assim, a Teocracia havia mudado seu plano.

Seu plano de apoio era permitir que o Império devorasse o Reino e então educasse os
talentosos indivíduos dentro do Império.

A razão pela qual a Teocracia não conquistou o Reino foi porque se tornariam vizinhos
do Conselho Estadual, o que poderia levar a uma perigosa conspiração interna para des-
truir o Conselho Estadual.

O princípio básico da Teocracia era que a humanidade fôra escolhida pelos deuses e
todas as outras raças tinham que ser exterminadas.

Assim, eles incutiram nas pessoas de que estavam cercados por inimigos e que eles não
tinham escolha a não ser trabalhar juntos. Essa foi a única maneira pela qual puderam
concentrar seu poder nacional e se tornar um país forte. No entanto, caso se tornassem
vizinhos do Conselho Estadual, havia uma chance de que sua filosofia pudesse levá-los a
uma direção perigosa.

Todos aqui entendiam que só podiam planejar o futuro da Teocracia Slane conhecendo
a força de seu país, assim saberiam quais países deveriam tomar cuidado. No entanto, o
povo comum iria gritar por guerra com o Conselho Estadual, a fim de destruir os inimi-
gos da humanidade.

Isso seria desastroso.

O Conselho Estadual ainda estava muito forte.


[Soberano Dragão d e P l a t i n a ]
Para ser preciso, o perigo estava com um dos conselheiros, o Platinum Dragonlord, filho
do Imperador Dragão. Se eles lutassem contra ele, o mais poderoso dos Dragonlords,
eles corriam o risco de seu país ser reduzido a cinzas. Mas e as pessoas que não sabiam
disso? O que pensariam? Eles veriam os inimigos vindo para destruí-los, mas tudo o que
podiam fazer era roer as unhas e esperar.

É claro que todos aqui poderiam facilmente eliminar esse ressentimento pela força de
vontade, mas isso produziria reações que enfraqueceriam seu poder nacional. Além
disso, eles não podiam negar a possibilidade de uma guerra no futuro.

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Assim, a Teocracia não poderia compartilhar uma fronteira com o Conselho Estadual,
nem poderia controlar diretamente o Reino. Mesmo se quisessem governá-lo das som-
bras, o Reino era muito grande.

“Vamos considerar o Rei Feiticeiro primeiro. Para começar, ele deveria ter sido aquele
que destruiu a Escritura da Luz Solar, algum tempo atrás.”

O ar pareceu crepitar e congelar.

“Um magic caster com esse nome apareceu em um vilarejo próximo quase ao mesmo
tempo. Não deve ter erro aqui, concordam?”

“E a tal Vampira que a Escritura Preta encontrou? Uma lacaia do Rei Feiticeiro?”

“É bem possível, mas acho que é mais provável que seja alguém como o Rei Feiticeiro,
assim como aqueles seres. Caso contrário, não há como explicar tamanho poder.”

“Tem razão, já que estamos no tópico de aparições múltiplas, Jaldabaoth deve ser um
também? Isso explicaria o poder que ele exerceu no Reino, bem como a razão para um
monstro com esse tipo de poder aparecendo de repente.”

“Então, e o tal do Momon? Ele parece estar perseguindo um Vampiro, mas se essa pre-
visão estiver correta, esse Vampiro deve ser uma entidade semelhante ao Rei Feiticeiro.
Isso também explicaria o porquê ele é tão forte quanto o Jaldabaoth. A questão é se ele é
ou não um aliado do Rei Feiticeiro...”

“Momon matou uma Vampira e ficou contra Jaldabaoth. Dado que eles podem ser da
mesma laia, mesmo assim se opondo um ao outro... será possível que eles ainda possam
ser inimigos? Quem sabe, ele pode ter negociado uma trégua com o Rei Feiticeiro e se
tornou um aliado.”

“Então há apenas a questão do porquê ele matou a Vampira e se opôs ao Rei Feiticeiro.
Talvez ele a tenha matado por ela ter sido controlada pelo Tesouro Supremo. Ainda as-
sim, por que se oporia a Jaldabaoth? ...Se o Momon fosse um amigo do Rei Feiticeiro, em
que tipo de cenário ele seria inimigo de Jaldabaoth?”

“...Talvez a Vampira e Jaldabaoth estivessem trabalhando juntos. Nesse tempo, o Rei


Feiticeiro e Momon se tornaram aliados. Ou pode ser que a Vampira, Jaldabaoth, o Rei
Feiticeiro e Momon são inimigos. Existem também outras possibilidades. Mas há pou-
quíssima informação para chegar a alguma conclusão.”

“O pior cenário é que todos os quatro estão do mesmo lado, mas a probabilidade disso
é muito baixa. O Momon é muito humilde. Normalmente, alguém com tanta força seria
muito mais petulante. Sim, assim como os Oito Reis da Ganância. Ou talvez, como nossos
Deuses.”

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“Concordo. Então a razão pela qual ele não fez isso foi porque estava à procura de ou-
tros. Não, talvez ele estivesse atento aos outros no mesmo nível que ele.”

“Então, já que o Rei Feiticeiro deu às caras e começou a construir sua nação, algum outro
monstro achar isso uma afronta e fazer o mesmo. Se as palavras de Momon são confiá-
veis, a Honyopenyoko tem um companheiro. Precisamos tomar cuidado, o mesmo vale
para o Jaldabaoth.”

“Isso tudo é apenas conjectura. Mas precisamos pensar em fazer contato com o Rei Fei-
ticeiro ou o Momon.”

“É muito arriscado. Muito mesmo. Em vez disso, deveríamos ir ao Império e obter in-
formações dos povos de lá, e depois fazer contato com o Imperador.”

“Ao meu ver, tudo bem. Claro, contanto que o Imperador não abane o rabo para o Rei
Feiticeiro.”

“Em todas as apostas existem riscos. Se não fizermos nada além de nos escondermos,
acabaremos tendo de lidar com um daqueles monstros.”

“Mas, quando sugere uma aposta... O que seria apostado? Se errarmos, será um casus
belli para nos atacar, não? Devemos tentar entender a posição do Imperador sobre o
assunto antes de fazer contato.”

Quando todos concordaram com essa proposta, alguém fez uma pergunta razoável.

“...Ainda assim, não houve revoltas em E-Rantel, aquela cidade governada pelos unde-
ads? Todos foram mortos? Ou há um reinado perfeito de terror no lugar?”

Depois de ouvir essa pergunta, dificilmente alguém poderia acreditar na resposta de


Raymond.

“De acordo com nossos relatórios, parece ser um governo pacífico.”

“Hahh!?”

Este som não se encaixava nessas pessoas, mas não puderam evitar.

“Hmhm. Na minha idade, acabo ouvindo coisas erradas, mas parece que minha audição
está cada vez pior. Raymond, você realmente disse pacífico?”

“Agora só falta dizer que o Sol vai nascer do norte amanhã.”

“...Tudo bem, chega de piadas. Se o Raymond está dizendo a verdade, isso seria uma
visão verdadeiramente inimaginável. O nosso informante é maluco ou um piadista?”

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“O relatório afirma que os Death Knights são usados como guardas da cidade, Elder Li-
ches como funcionários públicos, enquanto os Soul Eaters são usados para puxar vagões
de carga.”

Todos os queixos caíram diante de Raymond.

“Não, nãonão, calma. Quê? Poderia repetir?”

Em face de Maximilian e seus óculos caídos, Raymond não mudou suas palavras en-
quanto se repetia.

“Haaah!?”

Mais uma vez, aquele mesmo som inadequado escapou deles.

Cada um deles era um tipo de undead de poder avassalador. Mas agora, cavaleiros do
submundo mantinham a ordem pública como bons soldadinhos, mestres de labirintos
insondáveis sentavam-se à mesa controlando o fluxo de mercadorias, monstros que po-
deriam dizimar uma cidade inteira faziam o trabalho de burro de carga.

E tal país existia do outro lado de suas fronteiras.

“Mas que droga é essa? De qual buraco do inferno isso veio?”

Undeads passeavam pelas ruas e administravam a cidade. Tudo o que eles podiam ima-
ginar era que todos os humanos estavam mortos.

“Não. Os antigos moradores de E-Rantel — os cidadãos atuais do Reino Feiticeiro estão


vivendo vidas comuns lá. Houve alguma confusão no começo, mas é pacífica agora.”

“...Parece que temos subestimado o Reino todo esse tempo.”

“Pois é... o quão fortes são os espíritos deles?”

Imaginar o ato de caminhar ao lado de uma criatura undead que odiava os vivos fez com
que todos os presentes tremessem de medo.

Isso seria como viver ao lado de um monstro faminto. Seria normal que uma pessoa
normal tivesse medo.

“Deve que só estão aguentando isso pois confiam no grande guerreiro, o aventureiro e
herói, Momon, O Negro.”

Raymond disse o relato do que aconteceu no primeiro dia do reinado do Rei Feiticeiro
sobre E-Rantel.

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Todos ouviram atentamente.

“Como eu pensava. É impossível que o Momon tenha sido amigo de antemão do Rei
Feiticeiro.”

“Ara~, não é mais uma prova de que esse tal de Momon e o Rei Feiticeiro estão em
conluio? Eles apareceram praticamente na mesma hora, não foi?”

“Mmm...”

Todos apoiaram suas cabeças em contemplação.

Eles sentiram que a chance disso não era insignificante, mas honestamente não havia
como saber.

“Existe uma maneira de colocar o Momon contra o Rei Feiticeiro? Talvez se usássemos
o povo de E-Rantel, poderíamos—”

“Isso é perigoso, perigoso até demais. Se der errado, nós seremos inimigos do Momon
e Rei Feiticeiro ao mesmo tempo.”

“Exatamente isso. Já sofremos perdas consideráveis ultimamente. Embora os mortos


tenham sido ressuscitados, a Escritura Preta ainda está com membros em falta, já a Es-
critura da Luz Solar está efetivamente dissolvida. A Coroa foi roubada, a Princesa Miko
e Kaire-sama estão mortas. Levará pelo menos dez anos para recuperar nossa força. Não
podemos sair por aí assando carne sob o nariz de um Dragão adormecido, ainda mais no
estado das coisas.”

“Sim. Precisamos evitar abrir dois frontes de batalha ao mesmo tempo.”

Neste momento, a hostilidade na sala pareceu inchar.

“Aqueles traidores imundos.”

“Aqueles Elfos desgraçados.”

A Teocracia estava atualmente em guerra com os Elfos da Grande Floresta de Evasha.


Originalmente, a Teocracia e os Elfos tiveram um relacionamento cooperativo. Mas essa
relação havia sido quebrada, e a Teocracia estava agora lutando contra os Elfos com seu
próprio poder.

Eles haviam construído uma base avançada no Lago Crescente, sede da Capital Élfica.
De acordo com o plano, a Capital deveria ter sido destruída em poucos anos, mas esse
plano estava lentamente saindo do roteiro.

“Que tal um cessar-fogo com eles por enquanto?”

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“Não seja tolo. Quanto sangue acha que já foi derramado em combate? E se pararmos,
nunca seremos capazes de nos vingar por ela.”

“Aquela criança...”

Depois de dizer isso, o velho sorriu amargamente.

Ele a tratava como criança por causa de sua aparência, mas na verdade ela era mais
velha do que qualquer um nessa sala.

“...Onde ela está?”

“Naquela sala aqui perto, como sempre.”

“Uhun, precisamos dar a ela a chance de vingar a mãe dela.”

“Sim, senão seria muito desumano. O coração dela deve se acalmar depois de se vingar,
é no que acredito.”

Expressões de pesar apareceram nos rostos de todos os presentes.

“...Francamente, me sinto ofendido com a atitude dos sacerdotes da época. Eles criaram
uma pobre menina com uma personalidade assim.”

“Já que disse isso, gostaria de lembrar em também culpar aqueles selvagens da floresta.
Os Cardeais não acharam bom tirá-la do lado da mãe.”

“...É um tema deveras espinhoso.”

“Mas o X da questão, é que se implantarmos aquela garota, talvez aquele Dragonlord


desperte.”

“O poder dos deuses, Keiseikeikoku, provavelmente não funcionará naquele sujeito que
[Soberano Dragão d a C a t á s t r o f e ]
pode usar Magia Selvagem, ao contrário do Catastrophe Dragonlord. Que tal usá-lo no
Rei Feiticeiro?”

O silêncio recaiu sobre a sala de reuniões. Era uma proposta que eles estavam pensando,
mas não podiam falar.

“...Não é uma má idéia, mas não sabermos que tipo de poder os subordinados do Rei
Feiticeiro possuem, isso me deixa desconfortável.”

“...Se ao menos pudesse enfeitiçar sem limite de alvos, não haveria problemas.”

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“Como ousa!? Os deuses deram suas vidas para proteger a nós, a humanidade! E pensar
que ficaria insatisfeito com os tesouros secretos que eles deixaram? Quanta audácia!”

Depois da repreensão, o velho inclinou a cabeça profundamente.

“Eu me expressei mal.”

“Controle sua língua!”

“Então, voltemos ao assunto. Todos aqui são contra o uso do Keiseikeikoku no Rei Fei-
ticeiro?”

“Seria muito perigoso.”

“Se o Catastrophe Dragonlord aparecer, poderíamos controlá-lo e usá-lo como uma


vanguarda...”

Não havia sentido em esperar pelo que não estava lá.

“É inevitável. Deveríamos enviar um mensageiro para conversar com aquele Dragon-


lord sobre os Elfos?”

“Quem sabe o que eles vão pedir?”

“Podemos aceitar se for um pedido justo. Afinal, é pela paz da alma daquela garota.”

Não houve objeções. Todos aqui estavam mergulhados em introspecção.

“Huhu—”

Uma risada silenciosa soou e os olhos de todos foram para a pessoa que fez o som.

“Huhu. Tão compassivos... Mesmo hoje em dia, onde todos que sabiam do que aconteceu
estão mortos.”

Essas palavras podem ter parecido insultantes, mas o tom era diferente.

“...Nosso objetivo é defender toda a humanidade das outras raças, e toda a humanidade
inclui aquela garota. Acho que podemos ser perdoados por um pequeno abuso de nossa
autoridade, se quisermos salvar uma confreira.”

“...Eu não tenho motivos para objetar se isso não resultar em nenhuma morte.”

Ao ouvir isso, o Grão-Marechal sorriu amargamente.

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“Seria melhor distribuir esse conhecimento por escrito em vez de passar boca a boca,
não? Se fosse outra coisa, tudo bem, mas será perigoso perder mais alguém. Espalhar
esse conhecimento também facilitará a coleta de informações.”

Esta foi uma sugestão feita com bastante frequência ao longo dos séculos. Naturalmente,
sempre foi rejeitada.

“Nosso mundo é tão frágil quanto um pequeno barco à deriva no oceano. Quanto menos
pessoas souberem disso, melhor. Afinal, todo século tem sua tempestade que entra para
a história, podemos estar testemunhando uma neste exato momento. Como alguém dor-
miria tranquilo sabendo disso? O fato é que a sombra não banha os poderosos por muito
tempo. Eles sempre se destacam, mesmo que tentem viver uma vida normal.”

“Se esse é o caso, o que você acha que o Ex-Cardeal-dono fará?”

Todos eles tinham expressões complexas em seus rostos.

“Não sei, mas há uma chance muito alta de alguma jogada... Talvez haja algum tipo de
trunfo ainda não revelado.”

“Ou talvez a Ex-Nono Assento, a Passos de Vento, possa saber de alguma coisa...”

“Apenas mais problemas. E sabe o paradeiro dela por acaso? Nada é mais problemático
que isso...”

Houve vários suspiros audíveis.

“Que tal pedir ajuda aos membros aposentados da Escritura Preta? Dessa forma, pode-
mos restaurar nossa força de combate— não, manter nossa vigilância. Podemos enviá-
los para o Reino Dragonic como reforços. Diminuirá, e muito, as chances de baixas.”

A Escritura Preta era comumente atribuída a tarefas muito perigosas, devido a pericu-
losidade e atrito entre seus integrantes, alguns morriam. No entanto, enquanto os cadá-
veres permanecessem, eles poderiam ser trazidos de volta à vida. O problema era que as
ressurreições drenavam a força vital e precisariam treinar por um longo tempo para re-
cuperar a força que tinha antes de morrer. Assim, algumas pessoas optaram por se apo-
sentar. Havia também outros que haviam se aposentado devido à idade.

Qualquer que fosse o caso, os aposentados tinham prioridade em qualquer cargo que
quisessem. Também havia aqueles que se contentavam em viver um estilo de vida dege-
nerado e sem trabalho, mas felizmente eram poucos. A maioria não seria capaz de su-
portar os olhares de desprezo de suas esposas e perguntas como “Até quando vai ficar
sem arrumar um trabalho, Querido—?”, e por isso voltavam ao trabalho.

Interlúdio
188
Levaria algum tempo para treinar essas pessoas até conseguirem seu senso de combate
de volta, e havia aquelas mais velhas que não podiam mais se mover como faziam no
auge. Ainda assim, eram pessoas extremamente confiáveis para outros cargos.

“Apenas explique a situação para eles e faça nosso pedido. Mas não espere que todos
meneiem armas.”

“Com certeza. Será apenas um convite. E precisamos preparar compensações para agra-
ciar aqueles que aceitarem, especialmente se pedirem algo.”

“Sim. Não custa nada perguntar. Mas caso alguém concorde, pague uma quantia acima
da qual que estejam esperando.”

“Isso, paguem eles o mesmo que recebemos.”

Risadas autodepreciativas ecoaram pela sala. Queixar-se da falta de salários era uma
piada interna para eles.

Na Teocracia, os salários diminuíam depois que o indivíduo ascendia além de uma certa
hierarquia. Essa era uma forma de autopurificação, a fim de garantir que as pessoas não
fossem motivadas a subir na vida por ganância. Assim, muitos dos que ocupavam altos
cargos o fizeram porque escolheram servir sua nação.

Depois que o riso parou, o Pontifex Maximus falou novamente:

“Então, irmãos e irmãs, vamos ao próximo tópico. Raymond, prossiga.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


189
Capítulo 03: O Império Baharuth

Interlúdio
190
Parte 1

lbedo partiria para o Reino num dia claro e ensolarado, e Ainz foi vê-la no

A
pátio de sua residência.

Havia cinco carruagens de luxo estacionadas lá. Uma delas era para Albedo
e outra para sua bagagem. Uma das carruagens restantes continha presen-
tes para o Rei, para impressionar-lhes com a diferença entre o poder do Reino Feiticeiro
e do Reino Re-Estize. Ao redor dessas carruagens havia 20 Death Cavaliers que Ainz ha-
via criado.

Teria sido simples o suficiente para se teletransportar para o Reino, mas eles haviam
escolhido não o fazer.

Albedo e seu grupo eram responsáveis por demonstrar o poder do Reino Feiticeiro.
Parte disso estava em usar monstros no lugar de cavalos para puxar as carruagens; pra-
ticamente uma ameaça implícita, por assim dizer.

“Então, Ainz-sama, por favor, cuide-se enquanto eu estiver fora.”

“Unhun, tenha cuidado. Ainda não encontramos as pessoas que fizeram lavagem cere-
bral na Shalltear. Assim, não podemos descartar a possibilidade de que eles possam ten-
tar controlá-la e, em seguida, usá-la como parte de uma grande aposta para infligir dano
massivo em Nazarick.”

“Claro. Eu terei cuidado e nunca deixarei isto ficar longe de mim.”

Albedo estava abraçando um item World-Class entre seus seios.

“Acredito que possuindo isso deve eliminar o risco de sofrer lavagem cerebral por um
Item World-Class. Mas a oposição pode não se limitar apenas a tal item. Além disso, em-
bora seja um item World-Class mais poderoso contra objetos físicos, não se esqueça de
que não é muito útil contra alvos individuais.”

“Mesmo? Minha arma principal é a versão transformada disso...”

“É mais fraco que um item divine-class especializado. Mesmo assim, ainda é muito forte,
pois nunca será destruído ou danificado. Tudo que eu quero dizer é: Não se descuide
apenas por ser muito forte. Claro, eu não acho que cometerá um erro como esse...”

Pensando aqui... Albedo nunca passeou fora de Nazarick até hoje.

Ela sempre ficara em Nazarick e quando saiu, fôra para ser sua retaguarda. Por causa
disso, Ainz se sentiu preocupado, como se estivesse deixando uma criança sair de casa
sozinha pela primeira vez.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


191
“Permaneça alerta e não seja descuidada. Se você sentir que há perigo, retire-se imedi-
atamente. Já tem algum item de teletransporte? Alguns deles precisam de tempo para
entrar em vigor, já testou se funciona? Alguns inimigos também podem impedir o tele-
transporte antes de atacar, pensou em uma maneira de lidar com eles? Também pode
haver inimigos que a distraiam com isca antes de te emboscar. Não se deixe enganar pela
força dos seus inimigos, entendeu? Embora eu tenha ouvido que você passou por um
treinamento de combate para melhorar sua flexibilidade, estudar um pouco mais não
fará mal. Além do mais—”

Teria sido bom se eu tivesse ensinado a Shalltear assim.

Pensou Ainz.

Ainz pensava sobre as táticas que usaria para o PKing. Ao mesmo tempo, ele inundava
Albedo com um fluxo de palavras à velocidade de uma metralhadora.

Quanto tempo ele gastou em pensar em todos os tipos de ataques? Ainz só voltou ao
normal depois que percebeu que Albedo estava olhando para ele com uma expressão de
prazer no rosto.

Isso foi terrivelmente embaraçoso.

Ainz tossiu.

“Bem, é isso. Eu acredito que de dentre todas as pessoas, você, Albedo, não vai ignorar
os preparativos e contramedidas. Desculpe por te atrasar. E fique atenta durante a via-
gem.”

“Entendido, Ainz-sama.”

“Embora possa não ser apropriado perguntar logo antes de ir, sobre o Demiurge— não,
não importa.”

“Ele deve estar bem, não?”

Se tivesse recebido alguma comunicação de Demiurge, ele não teria uma pilha enorme
de perguntas para perguntar. Por exemplo, Albedo não se opusera à formação da Guilda
dos Aventureiros, mas talvez fosse melhor perguntar pessoalmente quando ele voltasse.
Albedo pareceu surpresa, mas depois que ela percebeu que Ainz não tinha a intenção de
responder, ela retomou sua expressão gentil habitual.

“Então, Ainz-sama. Como Supervisora Guardiã, mostrarei resultados que não envergo-
nharão meu ofício.”

“Suas ações nunca insultaram sua posição.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


192
Claro, logo em seguida, ele se lembrou de Albedo o jogando no chão e tentando cavalgar
como uma vaqueira, mas esse não era o tipo assunto apropriado para uma despedida.

“Há mais uma coisa que tenho a dizer. Você é imune a doenças, mas neste mundo pode
ter doenças que podem contornar até mesmo essa imunidade, então tenha cuidado. Ouvi
dizer que é excepcionalmente fácil ficar doente na virada de estações.”

A transição entre as quatro estações não era muito clara no mundo de Suzuki Satoru.

Um pensamento lhe ocorreu:

—O que o Blue Planet-san faria se estivesse aqui? Ele provavelmente teria a mesma ex-
pressão de olhos brilhantes, assim como os da Albedo... Claro, com aquela forma, se ele
conseguisse fazer uma expressão assim seria bem inusitado.

Então, Albedo ofereceu uma sugestão, com uma expressão no rosto como uma flor re-
cém florescida:

“Ainz-sama! Eu sei de um remédio que funciona muito bem contra doenças!”

“Hoh...?”

Isso foi uma surpresa e tanto. Ele não esperava que ela soubesse de medicação que era
única neste mundo.

Nfirea, o herborista, não deveria ter entrado em contato com Albedo. Sendo esse o caso,
poderia ter vindo do conhecimento dentro de YGGDRASIL, ou talvez algo que Tabula
Smaragdina programou nela? Sua curiosidade agora despertou, Ainz ansiava pelo que
ela diria em seguida.

“Um beijo!”

“...Um beijo?”

“Sim, beijar alivia o estresse e ativa o sistema nervoso parassimpático. Uma vez que a
eficiência do sistema nervoso parassimpático aumenta, o desempenho do sistema imu-
nológico melhora com isso. Em outras palavras, se eu for beijada, não ficarei doente!”

“O que você disse parece meio familiar...”

Ele se lembrou de alguém mencionando algo sobre o sistema nervoso parassimpático


em alguma de suas jogatinas em YGGDRASIL. Deve ser isso. No entanto, ele não sentiu
que seria eficaz neste mundo também.

“Portanto, eu quero um beijo~”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


193
Albedo fechou os olhos e franziu os lábios.

Tudo o que ele podia ver agora era um polvo.

Essa descrição poderia soar como se estivesse difamando uma grande beleza, mas a
verdade era que sua aparência não havia diminuído muito. Afinal, uma mulher bonita
permanecia bonita, não importava a expressão que tivesse no rosto.

Esse pensamento prematuro passou pela mente de Ainz.

Ainz considerou fugir neste momento.

Ele queria dizer: “Certamente não”, mas era óbvio que ela estava esperando por um
beijo. Além disso, foi o desejo de alguém que estava prestes a executar uma missão de
trabalho, então até certo ponto, ele queria ajudar a cumpri-lo. Ignorar isso, faria seu co-
ração doer por ignorar os desejos da filha de Tabula Smaragdina.

Ainz segurou na mão de Albedo, depois tocou seu queixo suavemente e deu um beijo
em sua bochecha. Dito isso, Ainz não tinha pele e, consequentemente, não possuía lábios,
então o beijo que Ainz deu foi pouco mais do que pressionar os dentes da frente contra
ela. Além disso, como ele não tinha saliva, tudo o que ela deveria ter sido capaz de sentir
seria apenas algo seco e duro encostando.

Embora isso fosse terrivelmente embaraçoso, ele teve que se impor a ela.

Estou feliz por ter escovado os dentes, apesar de não ter comido nada.

Depois que a mão deixou seu queixo, ele encontrou Albedo o encarando com olhos ar-
regalados.

“O que está errado? Além disso, teria sido demais beijá-la nos lábios, então a bochecha
deve servir. Não estava certo!?

“...Eu não achei que o senhor teria pensado nisso.”

Antes que Ainz pudesse perguntar sobre o que ela realmente queria dizer, lágrimas
brotaram no canto dos olhos de Albedo.

“Fueeeen~!”

Albedo chorou. Essas não eram lágrimas de crocodilo. Ela estava chorando de verdade.

Depois que o tão esperado choque de sua supressão emocional tomou conta dele, Ainz
apressou-se a fazer alguma coisa. Dito isto, ele não tinha idéia de como proceder.

Capítulo 3 O Império Baharuth


194
No passado, quando fizera Albedo chorar na Tesouraria, ele pensara em algo reconfor-
tante para dizer. No entanto, nada veio à mente agora que Ainz a fez chorar depois de
beijá-la.

O que aquele Imperador garanhão faria em um momento como este?

Embora ele tenha pensado sobre esse assunto, parece que nenhuma das cenas que Ainz
testemunhou jamais cobriu uma situação como essa.

“Albedo, por favor, não chore.”

Ele queria desesperadamente olhar para a empregada do dia atrás de si, pedindo ajuda,
mas ele já havia se envergonhado bastante. Ele não poderia se desonrar ainda mais.

“Albedo, não chore.”

Ainz puxou Albedo em seu abraço e gentilmente acariciou suas costas.

Eles ficaram assim por um tempo, e então Albedo fungou. Parece que as lágrimas para-
ram.

Ainz soltou as mãos de Albedo quando percebeu que ela estava mais aliviada.

“Você está bem, Albedo?”

“Sim, Ainz-sama. Sinto muito por deixar o senhor ver esse meu lado vergonhoso.”

Embora manchada de lágrimas, ainda mantinha um sorriso muito bonito.

Havia apenas uma razão para ela estar chorando.

Seu estômago inexistente começou a doer depois que percebeu o quão cruel ele tinha
sido. Naquela época, ele achou que estava tudo bem, porque o jogo terminaria em breve.
Se não tivesse pensado daquela maneira, ela não teria chorado assim.

“Entendo... Bem, já está na hora. Você deve se recompor já que está bem.”

“Entendido, Momonga-sama!”

♦♦♦

As cortinas das janelas da carruagem se abriram e, através delas, viu Albedo acenando
para ele. Em resposta, Ainz acenou de volta para ela.

Essa era uma cena de despedida tipicamente vista em filmes onde havia despedida em
um trem.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


195
A carruagem avançou lentamente e as sentinelas começaram a se mover também.

Ainz assistiu até que não podia mais ver a carruagem de Albedo, e enquanto ele olhava
para a distância, ele emitiu um comando em timbre grave e sombrio.

“Esqueça tudo o que aconteceu aqui.”

“Entendido.”

Ainz passou pela empregada, cuja cabeça estava baixa. Ainz não tinha como ver o tipo
de olhar que ela tinha em seu rosto.

Parte 2

O Imperador Sangrento, Jircniv Rune Farlord El-Nix agarrava sua própria cabeça.

Isso não era uma mania nova. Ele já fazia isso há algum tempo.

No passado, ele havia expurgado todos os tipos de nobres, escutado traições que pode-
riam abalar o Império e aprendeu sobre a deterioração das relações com os países vizi-
nhos. Durante tudo isso, esse homem não entrou em pânico nem caiu em confusão. No
entanto, em face de um problema insolúvel, até mesmo este homem não podia fazer nada
além de amargamente agarrar a própria cabeça.

“Droga! Seu filho da puta! Morra! Morra e apodreça!”

A magia poderia amaldiçoar alguém até a morte, mas Jircniv não tinha esse tipo de po-
der. Portanto, ele estava simplesmente falando palavras ofensivas. Se ele pudesse real-
mente matar aquele homem odioso que tinha causado tal devastação em sua mente e em
sua úlcera nervosa nos últimos meses, ele alegremente procuraria tais técnicas.

“Não, espere. Seria melhor dizer a ele para “viver”, não? Ou talvez “ser destruído” seria
mais apropriado? Eu ouvi falar de alguns sacerdotes destruindo undeads com poder sa-
grado.”

Ele estava até pensando em coisas sem sentido.

O estômago de Jircniv doía e os fios do cabelo caído adornavam seu travesseiro todas
as manhãs. O culpado, o homem responsável por tudo isso era o Rei Feiticeiro, Ainz Ooal
Gown.

Não houve solução satisfatória para os problemas apresentados pelo Rei Feiticeiro.

Capítulo 3 O Império Baharuth


196
O primeiro problema dizia respeito às baixas entre os Cavaleiros Imperiais na Batalha
das Planícies Katze.

Houve apenas 143 mortes; um número trivial, para um confronto direto com o inimigo.
No entanto, as perdas na Planície Katze foram inteiramente auto-infligidas.

Além disso, 3.788 pessoas manifestaram o desejo de deixar o Corpo de Cavaleiros


quando retornaram à Capital Imperial. Em outras palavras, mais de 6% dos 60.000 ho-
mens do Corpo de Cavaleiros Imperiais perderam a coragem.

E então, havia milhares de pessoas que se queixavam de desconforto e terrores notur-


nos. Segundo os relatórios, havia pelo menos 200 pessoas mentalmente instáveis tam-
bém.

Cavaleiros eram guerreiros profissionais, e treinar até mesmo um deles implicava gas-
tos consideráveis.

Nem era apenas uma questão de dinheiro. O tempo de treinamento também seria es-
sencial. Não se pode simplesmente pegar alguém nas ruas e dizer: “A partir de amanhã,
você será um cavaleiro”.

O Império precisaria gastar muito para preencher o déficit no número de cavaleiros.


Mas onde ele conseguiria os fundos para essas despesas?

Neste momento crítico, era muito arriscado eliminar os nobres e aproveitar seus ativos
para compensar a quantia necessária.

A razão para isso foi por causa do segundo problema — saber das petições que os pró-
prios Cavaleiros Imperiais haviam submetido a Jircniv.

O Corpo de Cavaleiros foi autorizado a fazer propostas ao Imperador Jircniv. Isso por-
que havia algumas coisas que só os veteranos já calejados pela guerra podiam entender,
e também reduzir os conflitos entre oficiais militares e oficiais burocráticos. Ao mesmo
tempo, foi também para dar a impressão de que Jircniv — que tinha interesse belicoso
— gostava especialmente do Corpo de Cavaleiros.

É claro que não se pode esperar que tais propostas sejam sempre positivas, mas as pe-
tições recentes foram realmente duras.

Essas petições, dos altos escalões da estrutura de comando do Corpo de Cavaleiros, ex-
pressavam seu desejo de evitar a guerra com o Reino Feiticeiro.

Jircniv poderia entender esse tipo de coisa, mesmo que eles não mencionassem.

Qualquer um que ousasse enfrentar esse Reino em combate aberto estaria muito além
de um mero tolo; seria considerado um louco absoluto. Afinal, foi uma nação que poderia

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


197
abater 200.000 soldados inimigos com uma única magia. Não havia como Jircniv conse-
guir uma briga com tal inimigo.

Mesmo assim, a razão pela qual o Corpo de Cavaleiros havia feito tal petição, foi porque
eles perderam a fé em Jircniv.

Antes da batalha nas Planícies Katze, Jircniv havia proposto ao Rei Feiticeiro: “Espero
que use sua magia mais forte”. Os altos escalões do Corpo de Cavaleiros sabiam disso e
culpavam Jircniv por aquela cena dantesca.

Em outras palavras, eles o estavam usando como bode expiatório.

Quando Jircniv soube disso, ele ficou furioso e frustrado ao extremo.

Se ele soubesse que tal magia existia, ele nunca teria dito tal coisa.

Além disso, a razão pela qual Jircniv pediu que o maldito Rei Feiticeiro usasse a magia
mais forte, fôra para verificar quão poderosa era a extensão de sua magia.

Originalmente, deveria ter sido o contrário. “Obrigado por extrair parte do poder do Rei
Feiticeiro. Agora sabemos melhor do que agir de forma imprudente em torno dele”, deve-
riam ter dito, expressando sua gratidão. Afinal, se as coisas tivessem corrido mal, essa
magia poderia ter sido desencadeada em uma cidade.

No entanto, o Corpo de Cavaleiros não via as coisas assim. Isso porque sentiram que
Jircniv, o Imperador esplêndido que eles acreditavam, tinha pedido pelo uso daquela
magia, sabendo muito bem o que ela fazia. Assim, muitos olhares desconfiados agora
caíram sobre Jircniv.

Esta foi a primeira vez que Jircniv ficou extremamente aborrecido com sua própria re-
putação.

No entanto, chorar e reclamar não melhoria as coisas. Se alguém pudesse fazer algo em
seu lugar, Jircniv alegremente choraria, gritaria e descansaria até que suas dores de es-
tômago fossem embora. Claro, ninguém poderia fazer o trabalho de Jircniv em seu lugar,
então ele tinha que lidar com isso sozinho.

“Maldito seja o Rei Feiticeiro! É tudo culpa sua!”

Ele pressionou contra a dor que irradiava de seu estômago, Não— Jircniv parou para
pensar em algo.

Isso não foi “Culpa do Rei Feiticeiro”. Esta foi “A conspiração do Rei Feiticeiro”.

Era muito possível que o estado do Império pudesse ter sido orquestrado por ele.
Quando ele se acalmou e considerou, a possibilidade disso era muito alta.

Capítulo 3 O Império Baharuth


198
Jircniv pegou uma chave e abriu uma gaveta. Ele retirou uma garrafa de dentro.

Então, ele pressionou o anel de prata que ele usava na mão esquerda contra ela.
[ A n é l d o Unicórnio]
O Ring of Unicorn — um item que pode detectar venenos e que aumenta a resistência a
veneno e doenças, que também pode curar feridas uma vez por dia. Depois de confirmar
que o líquido estava imaculado, ele engoliu em seco.

Jircniv colocou a garrafa em sua mesa e franziu a testa.

Ele tomou um gole da água de uma garrafa sobre a mesa, para lavar o gosto agora fami-
liar e adstringente que se espalhava pela boca. Depois disso, Jircniv pressionou a área ao
redor de sua barriga novamente.

Foi apenas um efeito placebo ou sua ferida foi realmente curada? Embora não houvesse
como saber com certeza, pelo menos as dores no estômago haviam diminuído por en-
quanto.

“Haaah...”

Depois daquele suspiro anormalmente pesado, como se tarefas pesadas o esperassem,


ele continuou seu trabalho. Primeiro, ele teve que começar com aquela pilha acumulada
de documentos.

Uma batida silenciosa soou pelo recinto, como se estivesse esperando o momento certo.

O homem que entrou foi um escriba. Todos os escribas escolhidos a dedo por Jircniv
eram excelentes trabalhadores. No entanto, este homem era facilmente igual a Loune.

Aliás, não havia mulheres entre os escribas. A única mulher que Jircniv confiava para
lidar com esse tipo de trabalho era uma de suas concubinas.

“Vossa Majestade—”

Jircniv acenou para interromper uma saudação que demoraria muito tempo.

“—Não há necessidade disso, poupe-me das saudações. Não perca tempo, vá direto ao
assunto.”

“Sim Vossa Majestade. Os comerciantes daquela nação finalmente nos responderam.


Eles parecem ter um bom estoque com eles, e visitarão a Capital Imperial em breve.”

“Espero que não demore!”

Jircniv sorriu para isso, a melhor notícia que ouvira nas últimas semanas.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


199
A nação em questão era a Teocracia Slane. Escusado dizer que os comerciantes em ques-
tão eram emissários deles.

Mesmo esta sala sendo protegida contra espionagem, depois de testemunhar o poder
do Rei Feiticeiro, ele passou a acreditar que todas essas contramedidas eram pouco mais
do que perda de tempo. Ultimamente ele chegara a sentir que alguém o estava espio-
nando.

Ainda assim, não importa quantas pessoas ele tenha enviado para investigar, eles não
encontraram observadores. A única conclusão que eles conseguiram foi que isso era uma
ilusão paranoica por parte de Jircniv. Claro, seus nervos tinham sido duramente desgas-
tados, então realmente pode ser o caso. No entanto, ele não conseguia se livrar da sen-
sação de mau presságio que vinha de ser observado.

No passado, ele poderia ter deixado Fluder estabelecer medidas anti-espionagem, mas
ele não podia fazer isso agora. Por tudo o que sabia, Fluder já poderia tê-lo traído. Assim
sendo, Jircniv tinha que operar sob a suposição de que espiões já haviam se infiltrado na
Capital Imperial.

Portanto, todas as políticas referentes a assuntos importantes precisavam de suas pró-


prias palavras de código. Claro, houve alguns pequenos problemas que surgiram em um
resultado, mas ainda era melhor do que deixar a aliança contra Ainz Ooal Gown ser ex-
posta.

“Então, quando será?”

“Acredito que chegarão nos próximos dias.”

Normalmente, ele os convidaria abertamente para a Capital Imperial, mas isso seria ób-
vio demais.

É melhor ir encontrá-los fingindo ser obra do acaso. Mas que tipo de lugar evitaria sus-
peitas?

Ele estava sem opções, mas mesmo se fosse esse o caso, ele não poderia desistir como
alguém faria em um jogo trivial. Lançar aquela magia de extrema crueldade estava es-
sencialmente dizendo a Jircniv: “Eu sou undead, então matar os vivos é apenas natural”.
Ele não poderia ignorar um ser assim.

Era dever do Imperador do Império Baharuth melhorar as chances de vitória, mesmo


que fosse apenas um pouco.

Para alcançar esse objetivo, uma das medidas que ele tomou foi forjar uma aliança se-
creta com a Teocracia Slane. A Teocracia era um país com uma história mais longa que o
Império, e também contava a magia divina como um dos pilares de sua nação. Não havia

Capítulo 3 O Império Baharuth


200
dúvida de que era a melhor nação que se poderia apelar para maneiras de lidar com os
undeads.

No entanto, seria muito ruim se o Reino Feiticeiro soubesse de seu contato com a Teo-
cracia.

O Império era agora um aliado do Reino Feiticeiro e um dos que ajudaram a garantir
sua soberania. A razão pela qual o Império fez isso foi para entender a força e organiza-
ção do Reino Feiticeiro, bem como tudo o mais dentro dele. Se fosse descoberto que es-
tavam trabalhando contra o Reino Feiticeiro, o Império seria, sem dúvida, o primeiro
alvo para o poder do Rei Feiticeiro.

“Permissão para falar, Vossa Majestade.”

Jircniv levantou o queixo, indicando que o homem deveria continuar.

“O ato de abrir margem para hostilidades com o Reino Feiticeiro não é um curso de ação
muito tolo?”

Jircniv olhou para o escriba pensando; Até você, huh.

Ele jogou uma caixa de pergaminho em uma lata de lixo especialmente designada, en-
quanto o observava.

Não esmague meu coração, por favor... Mas...

“Então, o que sugere que façamos?”

“Bem, sobre isso...”

Jircniv sorriu ao ver o escriba engolir em seco.

“Relaxe. Eu não vou te censurar por nada que disser. Vamos, fale o que pensa.”

“Sim, então, peço desculpas antecipadamente por qualquer ofensa que eu possa causar.”

Com uma tosse, o secretário compartilhou seus pensamentos:

“Acredito que devemos continuar fortalecendo nosso vínculo de aliança, e se o Reino


Feiticeiro tiver algum pedido... devemos ceder a eles.”

O rosto do escriba ainda estava pálido apesar do salvaguardado concedido por Jircniv.

Dentro de seu coração, aquela declaração traidora guerreou com o medo de que sua
própria vida pudesse se extinguir.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


201
Jircniv mais uma vez sorriu amargamente.

“Você está certo.”

“—Hah?”

Por saber a personalidade deste homem, ele sentiu que sua reação havia sido bastante
cômica. Jircniv sorriu de um jeito diferente do que antes e continuou falando:

“Eu sinto que, o que você está dizendo é correto. Na sua posição, poderia muito bem
fazer a mesma proposta. Não, seria estranho se alguém que eu nomeasse como escriba
não sugerisse tal coisa.”

Simplificando, o Reino Feiticeiro era poderoso demais.

Embora eles pudessem apenas julgar do ponto de vista militar, estava claro que o Reino
Feiticeiro estava em um nível que eles nem poderiam esperar lidar.

O poder pessoal do Rei Feiticeiro, Ainz Ooal Gown sozinho, já era muito arriscado de
enfrentar. Depois havia o exército dos mortos que ele havia trazido para o campo de
batalha, cada um dos quais havia rumores de ser capaz de rivalizar com uma nação por
si mesmos.

Eles estavam em dimensões completamente diferentes. Quando se pensava nisso, a pró-


pria idéia era risível.

“Embora eu ache que é a melhor escolha, isso significa que não devemos nos preparar
para tomar alguma outra ação? Por exemplo, se o Rei Feiticeiro pretende destruir o
Reino, acha que dobrar o joelho para ele será suficiente para nos poupar?”

Ele ainda não ouvira falar de nenhum massacre em E-Rantel.

Será que os undeads não viviam lá? Depois de tentar reunir algumas informações, ele
descobriu que os undeads ocupavam abertamente a cidade, transformando E-Rantel em
uma cidade demoníaca.

Pode ser que ele pretendesse governar os moradores da área sem abatê-los, mas isso
seria tomar conclusões precipitadas. Afinal de contas, havia a notícia de como ele subju-
gou aquele aventureiro adamantite, Momon, então apenas a partir desse ponto, era pe-
rigoso pensar que as tenras misericórdias do Rei Feiticeiro se estenderiam ao Império.

“É como diz. Parece que eu estava tão intimidado pelo poder esmagador do Rei Feiti-
ceiro que eu não poderia nem mesmo tomar uma decisão tão racional. Minhas mais pro-
fundas desculpas.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


202
“Não precisa se desculpar. Afinal, o pensamento veio à mente baseado no passado... de
volta ao ponto, onde os comerciantes daquele país escolheram descansar?”

“Parece que eles estarão hospedados no maior do segundo dos quatro.”

O segundo dos quatro se referia a um santuário do Deus do Fogo. A palavra “maior” não
era código, então provavelmente se referia ao maior santuário do Reino — o Templo
Central.

Deste ponto em diante, Jircniv começou a conversar despreocupadamente sobre ques-


tões aleatórias, com algumas mentiras espalhadas em meio à conversa.

Às vezes, ele costumava falar de coisas inventadas. Mesmo que alguém ouvisse, inves-
tigar a verdade dessas palavras seria um processo tedioso. Por enquanto, ele deveria
continuar esse trabalho de esforço cerebral. Enquanto pensava sobre isso, ele percebeu
que eles estavam conversando por vários minutos.

Jircniv decidiu então chegar ao assunto principal.

“Como está sua família? Eles ainda estão bem?”

“Hah? Ah, sim. Eles estão muito bem.”

“Mesmo? Isso é ótimo. Boa saúde é a coisa mais importante, afinal. Eu não vou mentir;
a verdade é que meu corpo tem estado muito mal ultimamente. A medicina só me alivia
por um tempo. Acha que eu deveria trazer um sacerdote?”

“Parece que os templos não estão muito felizes com as ações recentes de Vossa Majes-
tade. A aplicação de muita pressão pode resultar em retrocesso. Por que não visitar pes-
soalmente, Vossa Majestade?”

“Que idéia maravilhosa.”

Os templos lutaram contra os undeads. Assim, para os sacerdotes, a fundação de um


país vizinho que era governado por um poderoso undead era algo sobre o qual eles es-
tavam muito cautelosos. Assim, eles enviaram muitos pedidos para se encontrarem com
Jircniv.

No entanto, Jircniv recusou a todos.

Jircniv estava agora em um estado onde ele aceitaria qualquer ajuda que pudesse obter,
mas ele tinha suas razões para não aceitar. Uma delas era porque ele não confiava na
capacidade deles em afastar espiões. A outra era porque Jircniv temia que, se lhes dis-
sesse as coisas que sabia, ele poderia perder o controle da situação.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


203
Se ambos os lados chegassem a um acordo, e os sacerdotes decidissem declarar guerra
ao poderoso Rei Feiticeiro simplesmente “porque ele é um undead”, as consequências
dificilmente precisariam ser declaradas. Isso resultaria no Império se envolvendo em
um conflito suicida.

Em resumo, Jircniv temia que, uma vez que fizesse contato com os templos, o Rei Feiti-
ceiro assumiria que o Império era hostil a ele.

Jircniv suspirou profundamente.

Embora acreditasse que esperariam pelo momento certo, pareceria que eles não enten-
diam sequer esse ponto. No entanto, o partido diplomático da Teocracia havia secreta-
mente alcançado a Capital Imperial. Talvez se ele esperasse que eles fizessem contato
com os templos e então poderia haver uma chance de virar o jogo ao seu favor.

“Então, eu terei um tempo livre nos próximos dias para visitar os templos e deixá-los
dar uma olhada no meu corpo.”

“Isso parece um curso sábio de ação. Então, farei os arranjos para isso.”

“Agradeço. Então, o que faremos em relação à arena? Eu lembro que havia uma partida
de exibição marcada para breve; vamos deixar isso continuar como planejado? Eu não
vou ser parado por palavras como “você disse que estava indo em uma consulta, então não
pode ir lá”, essas coisas. Se algum de vocês quiser assistir a luta comigo, podem se juntar
a mim na minha sala VIP.”

Os olhos do escrivão se arregalaram e brilharam enquanto tentava adivinhar o verda-


deiro significado daquela afirmação.

Sim, isso mesmo. Você está certo em suspeitar de mim. Vamos, veja o que eu realmente
quero dizer.

Jircniv queria evitar encontrar os emissários da Teocracia nos templos.

Os templos continham conhecimento sobre cura e vários outros tipos de sabedoria. Se


eles fossem escolhidos como alvos para um ataque preventivo, muitas coisas seriam per-
didas, seria demasiadamente ruim em um momento como esse, onde o conhecimento
acumulado era mais importante do que qualquer outra coisa.

“Entendido. Então deixe-me lidar com a arena. Eu acredito que o senhor estava progra-
mado para visitar os feridos de guerra no hospital neste dia também, correto?”

Jircniv não recebeu essa notícia, então isso provavelmente foi um blefe.

Em outras palavras, ele sugeriu a Jircniv que o hospital poderia ser um local melhor do
que a arena.

Capítulo 3 O Império Baharuth


204
Jircniv escolhera a arena porque ouvira dizer que muitas vezes sacerdotes eram con-
tratados para curar os feridos. Com isso em mente, ele estava pensando em trazer os
emissários da Teocracia Slane sob o disfarce de tais sacerdotes.

“Atrase as visitas. Vamos seguir o cronograma que acordamos anteriormente.”

Com isso, toda a informação sobre os mercadores fôra dispersada no meio da conversa.
Se houvesse algum bisbilhoteiro, o que eles pensariam disso? O que eles poderiam
aprender com a frase “segundo dos quatro”?

Por mais diabólico que fosse o intelecto do Rei Feiticeiro, ele não poderia fazer planos
sem qualquer informação para trabalhar. Além disso, nem todos os subordinados do Rei
Feiticeiro poderiam ser tão inteligentes quanto ele. Afinal, quanto mais espiões houvesse,
maiores as chances de serem expostos. Como nenhuma informação sobre esses espiões
havia sido encontrada, provavelmente não havia muitos espiões. Ou melhor, ele espe-
rava que fosse o caso.

O espectro da magia absoluta e inegável do Rei Feiticeiro assombrava sua mente. Parte
dele constantemente pensava: “Já que são os servos do Rei Feiticeiro, eles devem ser ex-
cepcionais também”. Na verdade, ele tinha visto muitos seres incrivelmente poderosos
dispostos diante do trono, o que implicava que esses espiões poderiam ser do mesmo
calibre que eles.

Se realmente for isso, então não temos nenhuma chance... se jurar vassalagem a ele resol-
verá as coisas, então não seria o melhor curso de ação?

Ele tinha acabado de beber uma poção de cura, mas Jircniv sentiu uma pontada de dor
em seu estômago novamente.

♦♦♦

Duas semanas depois, uma carruagem com Jircniv a bordo partiu para a arena.

Na superfície, ele parecia estar indo para a Arena para assistir a uma luta, mas na ver-
dade, ele estava lá para entrar em acordo com os emissários da Teocracia Slane e os
sacerdotes de alto escalão do Império.

Ele não trouxera consigo nenhum dos seus guardas imperiais para evitar se destacar,
mas dois dos Quatro Cavaleiros Imperiais — Relâmpago e Vendaval Feroz — estavam
no veículo como guardas de Jircniv.

Se possível, ele teria gostado de usar todos esses excelentes guerreiros para protegê-lo.
No entanto, Explosão Pesada não era confiável, então ele a deixou para trás sob o pre-
texto de guardar a Capital Imperial. Não, dizer que ela não era confiável não era exata-
mente correto. Para ser preciso, ele já poderia dizer dado a atitude dela que ela queria

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


205
se tornar vassala do Reino Feiticeiro. Assim, a fim de evitar vazar qualquer informação
que ela pudesse oferecer ao Reino Feiticeiro como um presente, Jircniv decidiu manter
uma distância dela.

Ela tinha originalmente dito: “Eu farei qualquer coisa para remover minha maldição, até
mesmo apontar esta espada para Vossa Majestade”. Jircniv entendia isso, mas ainda de-
cidira fazer uso dela. Portanto, ele não poderia repreendê-la, mesmo que ela decidisse
trair o Império. No entanto, ele ainda não podia permitir que ela transmitisse informa-
ções críticas do Império.

Dito isto, se ela realmente tivesse conseguido escutar os segredos de estado do Império,
Jircniv precisaria que ela fosse presa. No entanto, ela era uma das pessoas mais fortes do
Império, então precisaria enviar pessoas no nível dela para eliminá-la. Em termos de
esgrima, apenas Relâmpago e Vendaval Feroz estavam à altura da tarefa. Enviar qual-
quer outra pessoa só resultaria em um massacre unilateral. Além disso, suprimi-la com
números significava que a Capital Imperial e os detalhes de segurança do Imperador se-
riam reduzidos.

Sendo esse o caso, ele teria que recorrer aos discípulos de Fluder, Trabalhadores ou
talvez assassinos, representados pelo grupo Ijaniya, os quais possuíam habilidades além
do combate corpo a corpo. No entanto, não importa qual opção ele escolhesse, ele teria
que estar preparado para pagar caro por isso.

Os discípulos eram pagos anualmente — embora desde a traição de Fluder, se ele con-
fiscasse as terras que pertencem a Fluder e as deixasse a disposição dos nobres — então
não haveria muitas despesas adicionais neste caso. No entanto, despachá-los exigiria que
parassem seu trabalho, o que incorreria em perdas invisíveis a olho nu. Porém, se fossem
realmente mortos, o dano causado seria maior do que o preço necessário para contratar
as duas outras opções.

Portanto, a melhor opção era negar a Explosão Pesada qualquer chance de obter infor-
mações valiosas e deixá-la ir de mãos vazias para o Reino Feiticeiro. Essa pode ser a so-
lução mais satisfatória para todos os envolvidos.

Mesmo com Jircniv insinuado muitas coisas sobre a Explosão Pesada.

Explosão Pesada ainda estava na Capital Imperial. Ela apenas respondia coisas do tipo:
“Vou permanecer até eu poder retribuir a bondade que Vossa Majestade me mostrou”.

Ele queria entender isso, mas isso era impossível.

Explosão Pesada pode ser uma das integrantes dos Quatro Cavaleiros Imperiais, mas o
Reino Feiticeiro provavelmente classificaria o poder de luta dela como risível. Todos e
cada um dos muitos undeads diretamente leais ao Rei Feiticeiro eram mais fortes que
ela. Por causa disso, ela estava procurando uma maneira de aumentar seu valor pessoal.

Capítulo 3 O Império Baharuth


206
O estômago de Jircniv começou a doer de novo quando ele pensou sobre a realidade
sem esperança, realidade onde o Rei Feiticeiro comandou milhares de undeads que eram
individualmente mais fortes do que a Explosão Pesada, uma das mais poderosas guer-
reiras do Império — e isso sem contar o poder do próprio Rei Feiticeiro.

O que devo fazer sobre isso!?

“Uma única pessoa forte não pode mudar o curso de uma batalha”, assim diziam. No en-
tanto, a realidade provou o contrário.

Gazef Stronoff do Reino foi um homem que podia fazer exatamente isso. Também havia
o magic caster chefe do Império, Fluder Paradyne, um ser capaz de abalar uma nação
inteira.

Cada um deles era uma figura comparável a um exército ou a um país.

Em outras palavras, mesmo sem considerar o poder assustador do “Rei Undead”, o


Reino Feiticeiro já exercia o poder de mil exércitos.

Não há nada a ser feito, é isso? Se... bem, não dá para detê-lo mesmo com mil exércitos,
certo? ...Como eu pensei, desistir é melhor...

Claro, ele não podia dizer isso na frente de seus subordinados, mas a idéia já havia apa-
recido na mente de Jircniv várias vezes. Na verdade, esse foi seu primeiro pensamento
quando ouviu falar da infame “Batalha das Planícies Katze”.

“Então, Vossa Majestade. Depois de nos encontrarmos com o pessoal da Pássaro Fio-
Prateado, vamos sair. Isso vai ficar bem?”

Jircniv desviou o olhar para ver o homem sentado à sua frente.

Diante dele era um dos Quatro Cavaleiros, Relâmpago, Baziwood Peshmel.

Jircniv assentiu em silêncio.

Eles haviam contratado uma equipe de aventureiros adamantite como segurança para
hoje. Eles estavam ostensivamente lá como um detalhe de segurança, seu principal ob-
jetivo era procurar quaisquer espiões do Reino Feiticeiro. Lamentavelmente, ele não
conseguiu se encontrar com os Ijaniya, que havia sido considerado como uma das alter-
nativas. Isso também fez Jircniv perceber que os induzir ao Império seria muito difícil.

“Vossa Majestade, embora os aventureiros adamantite possuam a maior força de luta


de toda a humanidade, eles ainda não podem ultrapassar os limites da habilidade hu-
mana. Eu rogo para que não abaixe a guarda.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


207
Jircniv estava dolorosamente ciente daquelas palavras que o Vendaval Feroz, Nimble
Arc Dale Anoch, estava tentando dizer a ele. De fato, tendo visto as fileiras de monstros
dentro daquela sala do trono, ele entendia essas palavras melhor que Nimble, que assis-
tira aquele grande massacre com seus próprios olhos.

“Claro. Mas eles podem muito bem ser capazes de aguentar. Considere o aventureiro
adamantite do Reino, Momon. Ele apontou a espada para o Rei Feiticeiro e defendeu o
povo com sua força. Uma vez que os membros da Pássaro Fio-Prateado também são
aventureiros adamantite, será um problema se eles não puderem fazer o mesmo.”

Quando ele disse isso, Jircniv sorriu tristemente.

“E se nem mesmo eles... se nem eles conseguirem, e então?”

A pergunta de Jircniv trouxe expressões dolorosas para os rostos de ambos os cavalei-


ros. Esse olhar foi uma resposta melhor do que qualquer coisa que eles poderiam ter
dito. Inconscientemente, Jircniv começou a espelhar suas expressões.

“Vossa Majestade, por favor, não faça essa cara. Podemos não ser fortes, mas ainda va-
mos dedicar nossos corações e almas para completar nossa tarefa.”

“Isso mesmo, Vossa Majestade. Por favor, adote aquela atitude confiante e arrogante de
novo. Este estado frágil em que está agora não combina com sua presença.”

Essas palavras gentis perfuraram o coração de Jircniv, e ele não conseguiu dizer: “Isso
não se aplica a vocês também?” Mas decidiu aceitá-las sem reclamar. Aquelas palavras
poderiam ter tido tanto efeito quanto regar um deserto, mas de fato, essas palavras ha-
viam mergulhado no deserto de seu coração.

“...Me perdoe. Obrigado pela sinceridade. Então... já que só vocês dois estão aqui, se im-
portariam de ouvir meus pensamentos tolos por um tempo?”

Os dois cavaleiros assentiram sem palavras.

“O que acham que eu deveria fazer? Por que um monstro daqueles apareceria ao lado
do Império? Por quê? Que pecado cometi contra o céu e a terra para justificar isso? O
que devo fazer para matar aquele monstro— ou não, selá-lo? Agora que o trunfo do Im-
pério foi roubado pelo inimigo, realmente existe alguma maneira de mudar a situação?”

Ele não planejara contar isso.

Se Jircniv se descontrolasse, seu povo não seria capaz de segui-lo. Aquele que se colo-
cava acima dos outros precisava adotar uma atitude apropriadamente superior. Isto era
especialmente verdadeiro para o Imperador Sangrento, que havia expurgado muitos no-
bres.

Capítulo 3 O Império Baharuth


208
O imperador não podia se dar ao luxo de demonstrar fraqueza. Essa foi uma lição que
seu respeitado pai lhe ensinara.

No entanto, todos os seres humanos tinham um limite para o que eles poderiam supor-
tar.

O lado humano de Jircniv era um que ele só mostraria para suas concubinas. Mas agora,
essa parte dele estava chorando.

“É verdade que pedi a ele para nos lançar uma magia. Mas não pude fazer nada quanto
a decidir qual! Não podemos planejar nenhuma contramedida se não tivermos idéia de
suas habilidades! Eu sou culpado por isso? Devo assumir a responsabilidade por tudo
que deu errado? Parece que todos pensam assim!”

Jircniv mordeu o lábio e agarrou o cabelo.

A verdade era que isso era apenas a ponta do iceberg. Se Jircniv tivesse se entregado
completamente aos sentimentos em seu coração, ele provavelmente estaria chorando,
gritando e rolando pelo chão. Mas ele estava simplesmente tentando proteger a imagem
do Imperador.

Ainda assim, ele tinha algum senso de autoconsciência sobre o curso de ação das coisas.

Parece que isso estava se tornando um hábito, então Jircniv voltou ao normal.

“Me perdoe. Parece que fiquei um pouco descontrolado. Eu estive sob muito estresse
recentemente.”

Ele olhou para baixo e viu fios de cabelo em seus dedos.

A julgar pelos retratos, nenhum de seus ancestrais tinha cabelos finos. Jircniv não pôde
deixar de pensar que ele poderia ser o primeiro imperador na história do Império a ficar
careca.

Ele acenou com a mão para impedir que seus subordinados notassem. Às vezes, a pena
é mais do que uma repreensão, e o mesmo se aplica à questão da queda de cabelo.

“Eu sei, pode não ser muito convincente depois que vocês viram este meu lado. Mas
vocês não precisam se preocupar. Eu vou cuidar disso, de alguma forma... Não vou deixar
que ele faça o que bem entender com o Império.”

Aquele sorriso confiante pareceu suavizar os rostos de seus subordinados.

Porém nenhum deles estava realmente à vontade.

Eles também entenderam que as palavras de Jircniv eram apenas um alívio temporário.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


209
Independentemente de como pensassem, eles não conseguiam encontrar uma maneira
de lidar com aquele monstro.

Na verdade, Jircniv achava que seria impossível a menos que houvesse uma arma que
pudesse matar permanentemente os undeads, ou a menos que outro ser humano muito
poderoso aparecesse.

É por isso que precisamos confiar na Teocracia Slane. Eles têm uma história mais longa
que a nossa, então eles podem encontrar uma arma capaz de matar os undeads de uma só
vez. Não, apenas compartilhar informações com eles nos permitirá continuar lutando!

Tudo o que ele podia fazer agora era rezar para que isso acontecesse.

A carruagem continuou em frente, e com ela foram as últimas esperanças de Jircniv.

♦♦♦

A arena era de forma circular. Havia uma grande entrada em um dos lados através da
qual a carruagem entrava. Essa entrada levava às salas VIPs e pouquíssimas pessoas fa-
ziam uso. As outras entradas eram usadas para a entrada e saída dos frequentadores
regulares ou para o transporte de carga. Estes foram os três principais tipos de entradas
para a arena.

Os primeiros a descer da carruagem foram, naturalmente, os dois cavaleiros servindo


como guarda-costas. Depois de verificar a segurança do local, Jircniv saiu.

Cinco homens esperaram por eles lá.

A vestimenta deles parecia totalmente fora de lugar para a entrada VIP.

Jircniv podia avaliar o valor de qualquer obra de arte em particular com um olhar, mas
ele não podia adivinhar tais informações de seus equipamentos ou armaduras. Isso foi
porque o que eles estavam vestindo era roupas cotidianas e ao mesmo tempo equipa-
mento de guerra. Não eram a roupa dos guardas da casa de um nobre, mas a panóplia de
veteranos endurecidos pelas batalhas.

Pelas regras normais de etiqueta, a parte inferior deveria ter se apresentado primeiro.
No entanto, alguns aventureiros não se importavam com status ou posição, e esses eram
aventureiros.

Ainda assim, ele era o governante do Império. Seria realmente apropriado que ele abai-
xasse a cabeça para os aventureiros?

Em meio a esse constrangimento, o homem em pé no centro do grupo de cinco falou:

Capítulo 3 O Império Baharuth


210
“Vossa Majestade, o Imperador Jircniv Rune Farlord El-Nix. Eu acredito que esta é a
primeira vez que nos encontramos, me sinto honrado. Somos a equipe de aventureiros
Pássaro Fio-Prateado, somos os adamantites que aceitaram o pedido de prestação de
serviços de segurança. Eu sou o líder da equipe, Freivalds. Prazer em conhecê-lo.”

Sua voz digna ecoou pelos arredores.

Ele tinha um alaúde nas costas e um florete na cintura. Ele usava uma cota de malha
que envolvia seu corpo em luzes estranhas.

Todo o seu equipamento não refletia apenas a luz, mas emitia um brilho mágico por
dentro. Cada pedaço de sua panóplia parecia um item mágico de primeira categoria, es-
pecialmente o alaúde, que também era conhecido como Star Symphony.

Ao observar a atitude completamente confiante do homem, Jircniv recordou-se de vá-


rios meses atrás, e não pôde deixar de sentir alguma inveja.

“...Eu ouvi sobre os feitos de vocês, o grupo de aventureiro de mais alto nível do meu
país. A saga heroica de como mataram um Radiant Crawler realmente fez meu sangue
ferver. Portanto, eu sei sobre todos vocês até certo ponto. No entanto, como esta é uma
oportunidade rara, posso incomodá-lo pessoalmente para apresentar os heróis do meu
país para mim?”

“Então, permita-me, como o bardo—”

“—Vai falar essa coisa? Disculpa a sinceridade, mas meu ouvido num é pinico não, isso
me irrita. Espadas curtas brilhantes e essas firulas... de qualquer forma, só pula essa
parte, né não? É, ou num é, Seu Majestade. Disculpe, eu falo assim desde que nasci. Tudo
bem, né?”

O homem ao lado de Freivalds deu um passo à frente e inclinou a cabeça gentilmente.

Ele era um homem atarracado de cabelo curto. Embora tivesse um sorriso no rosto,
aqueles olhos desproporcionalmente pequenos não tinham alegria neles.

Ele era Keila No Södersten, um “Planejador”, aparentemente uma variante de Ladino.

Não havia muita informação sobre o que um “Planejador” fazia, então havia muito que
permanecia desconhecido sobre ele. Ele provavelmente estava mais perto do submundo
e mais envolvido em emboscadas e assassinatos do que um ladino comum.

Jircniv indicou que não deveria se preocupar com isso, e então Baziwood riu.

“Haha. Sem problemas. Sua Majestade está acostumado a isso.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


211
“Ohh, então é... o tal do Ralâmpego-san, um dos Quatro Cavaleiros. Nasceu naquelas
bandas também, parceiro?”

“Hm? Ah, não, provavelmente em um lugar diferente. Eu saí de um pequeno beco sujo.
Você deve ter saído de um lugar mais profundo e escuro do que eu.”

“Ah, certo. Seu cheiro é diferente... disculpa. Achei que era.”

“Está tudo bem, Nuvem Negra.”

“Eu num me chamo dessa coisa de “Nuvem Negra” não... ah, isso aí chefe, é invenção seu.”

Freivalds simplesmente arqueou os cantos da boca quando Keila olhou para ele.

“É melhor nos deixar nos apresentar em vez de usar apelidos estranhos. Minhas des-
culpas, Vossa Majestade. Primeiro foi o Keila, nossos olhos e ouvidos. Em seguida é o
nosso lutador. O senhor pode ficar um pouco surpreso quando o vir, mas posso garantir
que é forte.”

“Não, claro que Sua Majestade não duvida dele. Afinal, sinto que ele pode ser mais forte
que eu.”

“Bem, fico feliz em ouvir isso de um homem forte. Este é o Fan Long.”

A pessoa que estava sendo apresentada era um macaco de pêlo vermelho, com cerca de
170 centímetros de altura. Ele estava trajando uma armadura que parecia ser feita de
peles brancas, e ele tinha machados de batalha em ambos os lados da cintura.
[Homem-besta - S í m i o ]
Pertencia a uma subespécie dos Beastmen, um A p e -Bestman, bem como aquele que
canalizava o espírito dos macacos através do poder de sua profissão guerreira, Senhor
das Feras. Ele havia lido sobre isso em um relatório antes, mas realmente ver com seus
próprios olhos foi um choque.

E, de fato, apenas pelas aparências, ele parecia mais forte do que Baziwood, o mais po-
deroso dos subordinados de Jircniv.

Fan Long levantou a mão direita e acenou para Jircniv e os outros.

“Então, o próximo é aquele que cura nossas feridas.”

Freivalds começou apressadamente a próxima introdução. Isso porque ele estava pre-
ocupado que Jircniv pudesse ficar descontente.

Desta vez, o homem da esquerda de Freivalds deu um passo à frente.

“Perdoe-me.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


212
Disse ele enquanto o estranho cajado que ele segurava fazia um barulho. Essa arma era
aparentemente chamada de “Shakujou”.

“Este humilde monge atende pelo nome Unkei. Este monge é um seguidor de Buda. Pra-
zer em conhecê-lo.”

Embora ele estivesse vestido estranhamente, ele parecia um pouco mais civilizado do
que o “Senhor das Feras” de antes.

Depois que ele tirou o chapéu bizarro e grande — chamado de fukaamigasa — a cabeça
assim revelada não tinha pêlos sobre ela. Se não soubesse que o homem havia raspado
tudo sozinho, Jircniv poderia ter sentido pena dele. Afinal, ele era bem jovem.

Ele usava um estranho manto de batalha chamado kasa. Ele era um soryo, um magic
caster espiritual que sabia um pouco sobre magias de cura, mas que mostrava um poder
excepcional quando lutava contra os undeads.

O Buda que ele seguia veio do extremo sul e tinha poucos seguidores. Alguns o viam
como um dos seguidores dos Quatro Deuses. Pouco se sabia sobre ele e não havia inte-
resse em construir um templo para tal deus dentro da Capital Imperial. No entanto, Jir-
cniv sabia que a existência deste homem era considerada uma espécie de perturbação.

Basicamente, os templos definem o preço para o uso da magia de cura. No entanto,


quando um usuário solitário e não afiliado de magia de cura aparecesse, como lidariam
com ele? O que fariam se o dito homem fosse também um aventureiro da mais alta or-
dem — um aventureiro adamantite?

Não havia nenhum elo particular entre o governo do Império e a religião. O fato de Jir-
cniv não ter laços com eles poderia ser considerado boa sorte.

Ele não queria mais se envolver em questões problemáticas.

No entanto, ao verificar através do registro do homem, fôra descoberto que ele apre-
sentou um desempenho excepcional contra os undeads, o que chamou imediatamente a
atenção de Jircniv. Se necessário, poderia até mesmo precisar aplicar uma certa pressão
nos templos. Claro, isso só acontecia se suas habilidades fossem realmente efetivas.

“Entendo. Então, o último deve ser Powapon.”

“É como diz, Vossa Majestade.”

O homem que Freivalds guardara para o final era mais estranho que os anteriores. Ele
era indiscutivelmente o mais bizarro dos cinco homens e abaixou a cabeça para Jircniv.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


213
Sua parte superior do corpo estava bronzeada de preto com estranhos padrões brancos
pintados em cima dele. Isto foi provavelmente porque ele era um membro da profissão
estranha chamada Totem Xamã.

“...Não está com frio?”

“Eu já tenho um item mágico que protege contra mudanças na temperatura, então não
há nenhum problema.”

Jircniv não pôde deixar de se sentir surpreso com a resposta, que foi mais normal do
que ele esperava. Ele havia recebido relatórios sobre sua aparência esquisita, bem como
a notícia de que era uma pessoa normal apesar de tudo. Ainda assim, a absoluta disso-
nância o encheu de surpresa. Olhando mais de perto, ele parecia bastante bonito e bas-
tante jovem também.

Por que ele escolheu essa profissão?

Parte dele queria saber, mas ao mesmo tempo agora não era hora para isso.

Jircniv considerou os membros da Pássaro Fio-Prateado diante dele.

Esta era uma equipe estranha composta de membros estranhos. A única coisa que eles
tinham em comum era que eles carregavam uma pena de prata em algum lugar acima
do peitoral (no caso do Totem Shaman, estava na cintura).

Aquelas penas brilhavam com luz prateada, como se tivessem acabado de ser polidas.

“Entendido, senhores. Então, eu estarei sob seus cuidados hoje.”

“Será uma honra, Vossa Majestade. Pense nisso como vindo a bordo do nosso navio.”

Jircniv não pôde deixar de sorrir ironicamente ao ouvir as palavras de Freivalds, e de-
cidiu ir embora. Contudo—

“—Guenta aí, Seu Majestade.”

Disse Keila em uma voz maçante.

“Nóis aqui fomos contratados para proteger o Seu Majestade, então, faiz favor, fica perto
da’gente. Certo?”

“Não é uma questão de certo ou errado. Vocês foram contratados para me proteger,
então farei o que julgar necessário. Além disso, se achar que precisa usar sua força, sinta-
se à vontade para fazer pedidos. Mas gostaria de solicitar que fiquem perto de mim o
máximo possível.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


214
“Ah, tá. Então, a’gente pode ordenar Quatro Cavaleiros se for assim. É, acho que isso é
coisa de peixe grande agora. Então rapaziada, fica ao lado do Seu Majestade. Mas se acon-
tecer alguma coisa, corram quando a’gente disser. Isso deve servir. Então, solta esse som,
chefe.”

“Certo. Minhas desculpas pelo tom de Keila, Vossa Majestade. Não importa quantas ve-
zes eu diga a ele, ele sempre acaba fazendo isso...”

“Não precisa se preocupar. Dito isto, pode ser problemático se ele fizesse isso em uma
área pública...”

Talvez Freivalds tivesse entendido a mensagem, e assentiu levemente. Isso implicava


que ele sabia a hora e o lugar certos para esse tipo de coisa.

E então, ele cantou. Não era bem uma música, mas um arranjo bizarro de sons. Isso
porque havia algumas partes que ele podia ouvir, mas não entendia. Parou depois de
alguns segundos, mas a estranha música permanecia em seus corações. Então, Keila fez
seu movimento.

Se alguém tivesse que anexar alguma forma de efeito sonoro a seus movimentos, tanto
“lento” quanto “viscoso” poderiam vir bem a calhar de modo a descrevê-los. De todo
modo, Jircniv não tinha capacidade de fazer tais movimentos.

“Então, faiz favor, fica uns dez metros atrás de mim e me siga.”

Eles fizeram como disse Keila, mantendo dez metros de distância antes de seguir em
frente. Jircniv aproveitou a oportunidade para perguntar Freivalds sobre a música de
agora a pouco.

“O que foi isso, afinal?”

“Vossa Majestade não sabe? Essa foi uma habilidade de bardo, uma magia. Difere de
usuário para usuário e pode ser executada com vários instrumentos, mas no meu caso,
eu evoco seus efeitos através da música.”

“Então é isso, huh.”

Freivalds não pôde deixar de sorrir ao ver Jircniv resmungar para si mesmo. Nesse
exato momento, Jircniv se lembrou de algo que queria aprender, mas não teve chance de
acompanhar. Ele decidiu aproveitar esta oportunidade e perguntou:

“...Eu tenho algo para lhe perguntar. Esse cântico mágico pode controlar pessoas?”

“Cânticos mágicos podem transmitir um efeito de sugestão, assim como as magias po-
dem. Isso deveria ser possível. Além disso, eles devem ser capazes de encantar as pes-
soas, mas até certo ponto.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


215
Jircniv olhou para Freivalds.

“Entendo... este é o caso...”

“Bem, basicamente é isso.”

Então aquele monstro tinha o poder de um bardo, a menos que—

“Então, o que você sabe de monstros que se parecem com sapos?”

—A menos que fosse uma habilidade inata como um monstro. Essa possibilidade não
pode ser completamente descartada. Era muito importante ter certeza disso.

“Sapos? Quer dizer daqueles gigantes?”

“Não, não desses. Algo mais inteligente. Estou falando de um monstro que anda sobre
duas pernas e pode ativar instantaneamente algo parecido com essa magia.”
[Homem-sapo]
“...Um Toadman? Um Toadman bardo se encaixaria na sua descrição... mas, se bem me
lembro, os Toadmen não são particularmente demi-humanos. Talvez se fosse um patri-
arca, algum com profissão focada em liderança... Eu ouvi que eles podem usar habilida-
des especiais para confundir o inimigo.”

O que aconteceu lá não foi parecido com confusão.

Ele havia lido sobre os demi-humanos conhecidos como Toadmen, mas suas aparências
diferiam ligeiramente do monstro chamado Demiurge. Poderia ele ser um mutante de
um Toadman, ou talvez um Rei Toadman ou um Toadmanlord? Essas possibilidades não
poderiam ser descartadas, mas era mais provável que esse não fosse o caso.

“Parece não ser o caso, não é. Minhas mais profundas desculpas, Vossa Majestade. Há
simplesmente pouca informação. Talvez, se pudesse me contar mais sobre a criatura em
questão, eu poderia ser capaz de resolver este mistério para o senhor.”

Isso foi como um salva-vidas para um homem que se afogava.

“Perfeito. Então, vou falar sobre a aparência do monstro. Se possível, poderia usar sua
sabedoria para me ajudar? Além disso, você poderia me contar em detalhes sobre cânti-
cos mágicos?”

No Império, provavelmente não havia ninguém que soubesse mais sobre monstros do
que aventureiros adamantites.

“Vossa Majestade, isso seria abusar de mais. Estes são os seus meios de subsistência de
que está falando.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


216
Freivalds riu em resposta às palavras de Baziwood.

“Bem, é verdade que não podemos falar muito sobre nossos trunfos. Ainda assim, res-
ponder a essa pergunta não trará problemas. Ainda assim... não seria melhor perguntar
àquele grande magic caster? Tenho certeza que ele saberia mais do que nós...”

Jircniv se esforçou para não mostrar nenhuma informação quando surgiu o tópico de
Fluder.

Ele já havia emitido uma ordem restrita sobre a traição de Fluder, então nenhuma in-
formação vazou. Por enquanto, Fluder ainda estava em sua posição de chefe, embora
seus privilégios e poderes estivessem sendo lentamente arrancados para que ele não
percebesse. Ao mesmo tempo, ele estava procurando uma maneira de preencher a la-
cuna que Fluder deixaria.

Percebendo tal lacuna de poder, Jircniv entendeu exatamente a grande benção que Flu-
der fôra para o Império, mas agora era tarde demais.

“Não podemos continuar dependendo do velho. Isto é como lição de casa para um aluno.
Se simplesmente esperarmos por todas as respostas apenas por ter tido um bom profes-
sor, no fim, ele que acabará sendo repreendido por isso.”

As palavras de Jircniv foram recebidas com várias risadas.

“De fato, Vossa Majestade tem razão. Compreendo. Bem, as taxas para esse pedido es-
tavam bem acima da média, dada a tarefa que fomos contratados para realizar. Então,
resumirei a questão das magias para o senhor mais tarde.”

“Entendo. Conto com você, então.”

Havia várias salas VIPs na arena. Uma foi reservada para os investidores da arena. Uma
foi reservada para nobres de alto escalão. Então, havia uma reservada para o Imperador,
um total de três. Eles estavam se dirigindo para a sala que havia sido reservada para os
imperadores através das gerações. Talvez Keila tivesse explorado a rota antes, mas ele
não perguntou o caminho embora estivesse liderando o grupo.

Finalmente chegaram, mas na esquina antes que pudessem ver a porta da sala, Keila
estendeu a mão para Jircniv, indicando que ele deveria parar.

“Não vi ninguém, mermo assim, vai que, né!? Pode guentar neste canto por um tempo?”

Ele não esperou por uma resposta às suas palavras sussurradas, mas virou a esquina
como se estivesse indo dar uma volta. Com a curiosidade despertada por isso, Jircniv
tinha um olhar de curiosidade em seu rosto enquanto tentava espionar a situação.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


217
Ele se aproximou da porta sem emitir nenhum som e, depois de fazer alguma coisa,
abriu a porta lentamente. Embora ele mal tivesse aberto, isso pareceu ser suficiente para
ele entrar, e seu corpo inteiro desapareceu na sala.

Depois de um tempo, a porta se abriu e eles puderam ver o rosto de Keila.

“Tudo tranquilo. Tá seguro.”

O grupo entrou na sala, que havia sido verificada como segura.

Jircniv olhou em volta.

Era um pouco pequena, mas a mobília requintada era toda de primeira classe. A sala
fôra imaculadamente limpa para o imperador, que dificilmente a visitava.

Uma grande janela tinha sido aberta no lado da sala que dava para a arena, permitindo
uma visão panorâmica das cenas abaixo. Se olhassem um para o outro, eles seriam capa-
zes de ver fileiras e mais fileiras de assentos totalmente ocupados, lotados de uma pla-
teia que estava empolgada e festejando loucamente.

A razão para a grande multidão era porque o Senhor Marcial fôra anunciado em cima
da hora para uma aparição.

O rei do ringue — o Senhor Marcial — era esmagadoramente poderoso. Não havia nin-
guém com quem ele pudesse lutar a sério. Portanto, fazia muito tempo que não havia
uma batalha com o Senhor Marcial.

E justamente por causa de uma batalha tão esperada com o Senhor Marcial que a mul-
tidão chegou, atraída pela antecipação da figura heroica que iria combatê-lo.

Como esperado, uma grande razão para isso foi a admiração pela força. Já que o Império
tinha seus guerreiros profissionais chamados Cavaleiros, o campo de batalha era como
outro mundo para os moradores comuns da Cidade Imperial. Por isso esperavam ansio-
samente o espetáculo de uma batalha de vida ou morte.

Não, ele tinha ouvido falar que havia cavaleiros que gostavam da arena também.

Em outras palavras, eles esperavam um espetáculo e uma demonstração de brutalidade.

Assim que Jircniv ficou distante enquanto pensava nisso, os membros da Pássaro Fio-
Prateado completaram a inspeção da sala.

“Havia algum sinal de magia de adivinhação sendo utilizada aqui?”

“Não descobrimos nenhum vestígio de tal magia, Vossa Majestade. Isso está certo?”

Capítulo 3 O Império Baharuth


218
“Er, bem ver se tais magias foram conjuradas é muito difícil para mim, então eu dei uma
olhada por aí, verifiquei qualquer item mágico, mas nada apareceu. Ainda assim, espero
que não se esqueça que eu não tenho a percepção de um ladino. Por favor, não pense que
é absolutamente seguro... bem, nosso chefe aumentou nossa capacidade de detecção com
a música horrível dele, então não deve ter problemas.”

“Com relação ao campo da magia, esse humilde monge usou uma adivinhação para in-
vestigar os arredores. No entanto, não havia vestígios de magias. De qualquer forma, eu
criei uma barreira mágica que deve impedir magias de adivinhação, então pode-se supor
que deve ficar tudo bem”

Unkei bateu seu shakujou no chão, e um tinido agudo ecoou pela sala.

“Então, posso fazer outro pedido? Existe magia que detecta a presença de pessoas pró-
ximas? Seria melhor se fosse uma magia que pudesse detectar até mesmo uma pessoa
invisível.”

“Lamentavelmente, esse humilde monge não conta tais magias entre seu repertório. No
entanto, acredito que nosso líder tenha essa magia.”

Freivalds, cujo nome havia surgido, sinalizou que entendia e saiu da sala.

“E agora? Que medidas tomará se o inimigo quiser nos espionar?”

Jircniv se esforçou para pensar no que poderia fazer contra Ainz Ooal Gown. No entanto,
era impossível imaginar o que estava além do imaginável. O fato era que o homem pare-
cia tão imenso em sua mente que tudo o que ele conseguia visualizar parecia insignifi-
cante contra ele.

“...Sendo sincero, sem neura, deve ficar tudo na boa. É o que penso. Então num dianta
me encarar assim, certo? Já até ganhamo os aprimoramento de magia, né não?”

“Basicamente é isso mesmo, Vossa Majestade. Este humilde monge já usou magia anti-
adivinhação e a configurou para que qualquer tentativa de investigação mágica me en-
viasse um alerta. Por favor, fique à vontade.”

Keila e Unkei falaram assim, um após o outro.

Eles achavam que ele estava obcecado? Ou eles acham que ele ficou um pouco louco
porque estava preocupado com assassinato?

Ainda assim, o que esses dois pensariam se lhes dissesse que estavam indo contra o Rei
Feiticeiro? Isso era o que realmente interessava Jircniv. Eles diriam: “Não podemos nos
preparar o suficiente contra ele?” Ou diriam: “Se soubéssemos disso, não teríamos aceitado
por essa quantia desprezível”?

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


219
Naturalmente, o melhor cenário era não lhes contar nada sobre o Rei Feiticeiro e fazê-
los se preparar contra todas as ameaças da melhor forma que pudessem.

Ainda assim, não importava o quanto ele tentasse censurar as informações sobre o Rei
Feiticeiro, ele não conseguiu conter 60.000 bocas.

Notícias provavelmente haviam vazado. Sendo esse o caso, uma vez que os aventureiros
tendiam a passar mais tempo coletando informações de alto nível, havia uma chance
muito grande de já terem ouvido falar das habilidades do Rei Feiticeiro.

Não seria difícil para eles descobrirem o porquê eu realmente os chamei aqui, não?

Depois de pensar em várias possibilidades, Jircniv decidiu blefar com um sorriso calo-
roso.

Os dois perceberam que Jircniv não podia aceitar o que haviam dito. Nem eles tinham
mais nada a dizer além disso.

Um grande aplauso surgiu da arena.

De onde eles estavam, parece que uma das batalhas entre os gladiadores teve um ven-
cedor.

No passado, os derrotados foram condenados à morte, mas não mais. Ainda havia casos
de mortes em batalhas, mas não haveria mortes depois que o vencedor fosse determi-
nado.

Aparentemente, um gladiador havia sido poupado porque suas repetidas derrotas eram
divertidas. Isto permitiu-lhe despertar o seu verdadeiro poder e tornou-se campeão,
após isso, essa restrição foi abolida. Esta decisão foi tomada pois poderia haver outra
pessoa como ele algum dia.

Qual Senhor Marcial foi ele? Embora ele não seja comparável com o atual Senhor Marcial,
ele era até um cara bem forte. Mas essas pessoas não são fiéis a nenhum país. Eu preciso
pensar em como colocá-los do meu lado...

“Em todo caso, nós terminamos aqui, Vossa Majestade.”

Jircniv se virou quando ouviu a voz de Freivalds.

“Obrigado.”

Ele provavelmente deveria ter sido mais sincero em seus agradecimentos a esses aven-
tureiros adamantite. No entanto, ele simplesmente descartou a apreciação habitual.

Capítulo 3 O Império Baharuth


220
“Não por isso. Ainda assim, fomos contratados para proteção, então devemos ficar aqui
nesta sala?”

Eles foram contratados como guarda-costas. Com isso em mente, foi uma sugestão ra-
zoável.

Mas seria realmente correto ter conversas secretas com eles na sala?

Claro, pode haver méritos em envolvê-los nisso. No entanto, uma vez que eles percebe-
ram o que Jircniv estava almejando, o risco de fazer inimigos desnecessários cresceria.

Ainda assim, eles não são nada comparados àquilo— o que estou pensando? Estou com-
parando todos os desafios que encontro a aquele monstro, isso prova que estou começando
a enlouquecer, no mínimo. Além disso, seria estúpido continuar fazendo inimigos.

Jircniv sacudiu a cabeça.

“Sinto muito, mas haverá conversas importantes acontecendo neste recinto. Seria
muito problemático ter vocês esperando aqui.”

“Mas será muito difícil protegê-lo dessa maneira, Vossa Majestade.”

“Há dois homens em quem confio nesta sala. Eles devem poder comprar tempo sufici-
ente até que vocês cheguem aqui.”

“Bem, isso é verdade...”

Disse o silencioso Fan Long, então completou:

“No entanto, se o inimigo for assassino no nível do Keila e se as coisas derem errado,
eles podem acabar fazendo uma bagunça.”

“Quando manda esse papo de assassino do meu nível, cê provavelmente fala daquela
menina lá dos Ijaniya. Ela é sinistra, pode usar ninjutsu pra atacar das sombras.”

“Bem, com esses dois guerreiros por perto, um inimigo empunhando espada não deve
apresentar nenhuma dificuldade. Mas e quanto a magia? É precisamente esse ponto que
deixa este humilde monge inquieto. Além disso, sinto que estaremos mais interessados
na partida do que qualquer conversa que Sua Majestade esteja realizando, não?”

Todos acabaram tentando persuadi-lo a deixá-lo ficar, mas como Jircniv estava deter-
minado a não deixar a informação vazar, não pôde aceitar suas sugestões.

“Suas dúvidas são bem fundamentadas, senhores. No entanto, não posso me compro-
meter neste ponto, seja como homem ou como Imperador deste Império.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


221
Os membros da Pássaro Fio-Prateado olharam para seu líder, que suspirou profunda-
mente.

“Se é assim que deseja, assim será. Tenho certeza de que Vossa Majestade deve ter suas
razões particulares. Então, vamos ficar do lado de fora. Poderia nos dizer exatamente
quem está vindo?”

“Uma pergunta razoável. Mas peço para fingirem que não viram nada. Vocês podem?”

“Claro. Nós não revelaremos nada, não importa quem venha. Se a informação vazar, te-
remos prazer em arcar com as consequências.”

“Ótimo. Primeiro são os Sumos Sacerdotes do Deus do Fogo e do Deus do Vento. Haverá
quatro outros sacerdotes com eles.”

“Entendo. Então, ficaremos de guarda para alguém além dessas pessoas.”

“Ah, por favor faça. Esta sala VIP foi separada das outras salas VIPs durante a constru-
ção. Duvido que alguém se perca e vagueie aqui por acidente.”

“Entendido... Além disso, tudo bem se quebrarmos a fechadura das portas, Vossa Ma-
jestade?”

“Você pode destruí-las se achar melhor.”

Fan se adiantou. Um som áspero veio de suas mãos, que apertavam os cabos de seus
machados de batalha com uma força que nenhum humano poderia igualar. Parecia um
pouco excessivo apenas quebrar uma fechadura, mas Jircniv não era guerreiro e não ti-
nha espaço para opinar.

No entanto, os dois membros dos Quatro Cavaleiros tinham olhares surpresos em seus
rostos enquanto falavam baixinho um com o outro. Isso chamou a atenção de Jircniv.

Fan lentamente levantou seus machados de batalha.

“—Ah, você não pode quebrar as portas.”

Fan parou no meio do caminho quando ouviu Freivalds falar. As sobrancelhas de Jircniv
se franziram.

“Por que não? O plano não é “Oh, nós estávamos planejando quebrar a fechadura, mas
estragamos a porta também, que pena, porque não aproveitamos e ficamos aqui agora?”,
ou algo assim?”

“Não faça isso dessa vez. Eu não quero me envolver nesse complexo assunto político.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


222
“Certamente. Este humilde monge não deseja ser ainda mais odiado pelos templos.”

“Certo. Então isso deve ser o suficiente.”

Fan gentilmente balançou o machado de batalha e quebrou sem esforço a fechadura.

Jircniv ficou sem ter o que falar. Ou talvez devesse estar descontente. Talvez devesse
estar sentido muitas coisas, mas tudo o que fez foi ficar impressionado. Isso o fez pensar:

Como esperado de um aventureiro adamantite.

Ele não ficou impressionado com a facilidade com que quebrou a fechadura com um
machado de batalha, mas com a enorme audácia de dizer abertamente essas coisas di-
ante da mais alta autoridade deste país. Além disso, havia a arrogância necessária para
declarar que eles estavam dispostos a ignorar os desejos de seu cliente — que também
era o homem mais poderoso do país — para fazer o melhor trabalho possível.

Essas eram as coisas que Jircniv agora não tinha.

“...Eu poderia arrastar todos eles na lama da burocracia até que não possam escapar.”

Assim que Jircniv resmungou baixinho, os membros da Pássaro Fio-Prateado saíram


como coelhos assustados, como se tivessem combinado isso desde o começo.

As únicas pessoas que restaram com Jircniv foram os dois cavaleiros, que se entreolha-
ram.

“Isso foi impressionante. Eles trabalham em sintonia sem qualquer forma de comuni-
cação... Talvez isso seja apenas esperado? Por eles pertencerem a posição adamantite
que podem fazer isso.”

“...Bem, eu não sei o que dizer. Não sei se é certo admirá-los... Vossa Majestade, devemos
fazer bebidas?”

“Sim. Terão que fazer isso. Podem me ajudar com os preparativos?”

“Como desejar. Então, venha ajudar também, Baziwood-dono.”

Baziwood franziu a testa diante da sugestão.

“Eh? Eu também? O Vossa Majestade, deveríamos ter trazido uma empregada, não?
Nossos convidados acharão as bebidas mais saborosas se uma garota servir eles. Quero
dizer, eu sei como funciona.”

“Sim, sim. O reclamão de sempre. Baziwood-dono, por favor, e tenha muito cuidado.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


223
“Faça, Baziwood. Não faz sentido desejar o que não podemos conseguir. Temos que tra-
balhar com o que temos. Assim como o Império.”

“Essa analogia nem faz sentido, Vossa Majestade...”

Baziwood falou enquanto se ocupava com os preparativos.

Gritos de encorajamento soaram na arena abaixo, e houve uivos que soaram ligeira-
mente diferentes dos das feras selvagens.

A próxima partida já havia começado.

Jircniv procurou suas memórias.

As partidas antes dos Senhores Marciais era aparentemente entre aventureiros e mons-
tros. As partidas em que os aventureiros lutavam eram bastante populares entre os es-
pectadores, pois era mais provável que fossem eventos chamativos com explosões má-
gicas e coisas do gênero.

Jircniv se sentiu muito emocionado quando olhou para a intensidade aquecida abaixo
dele, e disse:

“Que visão pacífica.”

“Tem certeza, Vossa Majestade?”

Enquanto se perguntava o porquê alguém estava respondendo aos seus murmúrios au-
todirigidos, Jircniv se virou para ver Baziwood parado diante dele. Nimble tinha uma
expressão de aborrecimento no rosto enquanto cuidava de parte do trabalho que deve-
ria ser de Baziwood

“Não parece tão pacífico assim não. Olha lá.”

Um dos aventureiros foi atingido pela garra de um monstro bestial e o sangue esgui-
chou pelo ar. A plateia lamentou e gritou para encorajá-lo.

“Eu não quis dizer a luta, eu quis dizer o público.”

Jircniv olhou para a multidão que gritava alto.

“Não acha que é uma visão pacífica, se comparada com a situação em que o Império
está? Se as pessoas soubessem o tipo de monstros que espreitam sob aquela fina e frágil
camada de pele, acha que eles poderiam se divertir assim?”

“Mas a paz não é boa? Não adianta deixar as pessoas andarem de barriga doendo, não
é?”

Capítulo 3 O Império Baharuth


224
Baziwood estava certo.

Jircniv lamentou profundamente as palavras inúteis que ele havia falado.

“É como diz, Baziwood. Então, está quase na hora. E quanto aos preparativos?”

“Sim, Vossa Majestade. Eu estava um pouco preocupado que não conseguiríamos a


tempo, porque um certo alguém não ajudou direito, mas as bebidas e papeis estão pron-
tos. Assim como a tinta.”

A quantidade impressionante de tinta e papel era para o caso de alguém estar espio-
nando a sala VIP. Embora ele sentisse que os aplausos eram altos o suficiente e esta sala
fosse distante o suficiente das outras para que isso não fosse um problema, e espionar
por conta própria não traria muita coisa. Mas não fazia mal algum ser redundantemente
preparado.

Ele sabia que era muito problemático. Ele havia feito isso antes na Cidade Imperial, mas
isso foi realmente muito cansativo.

A razão pela qual foi tão difícil foi porque o poder do Reino Feiticeiro estava em uma
escala desconhecida.

Se ele soubesse o que poderia e não poderia fazer, suas ações poderiam ser diferentes.

Ele tinha planejado usar a guerra para montar uma investigação, mas terminou de uma
maneira verdadeiramente horrível, levando a uma terrível tragédia. Ainda assim, ele não
poderia desistir completamente de suas investigações. Ele pensou em outros métodos,
mas se eles não estivessem tão seguros quanto antes, então só restaria tremer diante da
sombra do inimigo. Mas mesmo se ele obtivesse algum resultado, mesmo se ele desco-
brisse quaisquer métodos acionáveis, ele poderia acabar sendo paralisado pela mesma
sombra a ponto de desistir.

Não, ele não podia esquecer o calor que passava por sua garganta.

“Ainz Ooal Gown— se eu soubesse os limites do poder do Rei Feiticeiro, eu não preci-
saria ir tão longe.”

Naquele momento, ele o pedira para que o ajudasse como colaborador, mas agora que
ele era um Rei e um igual, pedir-lhe tal ajuda era quase impossível. Melhor dizendo, ele
ainda podia perguntar, mas pensar no preço potencial de tal ajuda fez sua cabeça doer.

“Não é só o Rei Feiticeiro, Vossa Majestade. É ruim pois não sabemos o que seus vassa-
los podem fazer, né?”

“Correto.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


225
“...E se os subordinados forem mais fortes que o próprio Rei Feiticeiro?”

“Como poderia? Isso é impossível, não?”

Jircniv começou a suar frio com essa resposta.

Quando refletiu sobre o fato de que os Quatro Cavaleiros eram mais fortes do que ele
— sendo estes seus subordinados —, ele não conseguiu dizer que era impossível. Aquele
que estava acima dos outros não precisava de força física pura, mas sim de outras coisas.

E se Ainz Ooal Gown fosse assim?

“—Não, não pode ser. Ouça, Nimble. Você entendeu tudo errado. Entendido?”

“Sim! Desculpe Vossa Majestade.”

Se isso fosse realmente o caso, então não havia futuro para ninguém. Ele esperava que,
no máximo, aqueles subordinados fossem iguais ao Rei Feiticeiro — e Jircniv estava re-
zando desesperadamente para os deuses que eles seriam mais fracos que ele.

Como pensava, não tinham informação suficiente.

Eu acho que devemos continuar esse plano de tentar aprender algo com aquela garota
Elfa Negra, com o conhecimento de que poderia ser perigoso. É verdade que não podemos
comprar muitos escravos da Teocracia, mas talvez esse método pudesse... Ou talvez tentar
aquela que parece um menino seria melhor. Será que ela gosta de mulheres? Não, ela pa-
rece muito jovem, então usar as mulheres nela provavelmente não funcionará. Além disso,
ela parece bastante decidida.

Assim que Jircniv se acomodou para uma longa contemplação, uma batida veio da porta.

Os três homens se entreolharam e Nimble foi abrir a porta.

Como esperado, Freivalds estava lá.

“Vossa Majestade, os convidados chegaram. Há seis pessoas no total e conheci os Sumos


Sacerdotes de antemão, então acredito que são eles.”

“Então, por favor, deixe—”

Assim que ele disse isso, Keila apareceu.

“Oopaa, guenta aí, os da parte de trás. Os números se somam, mas algo num me cheira
bem, não é? Os dois atrás sabem do que falo. Então, cês é do esquadrão de punição dos
templos — aqueles que mata sacerdotes renegado? Achei que era rumor.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


226
“Este humilde monge também está bastante surpreso.”

“Quem são as pessoas?”

“Minha nossa, quão problemático. Seria melhor nos deixar passar sem delongas... Antes
de tudo, parece que está enganado. Eu— perdão, nós temos uma boa razão para estar
aqui. Ou seja, o Imperador nos convidou. Hostilizar-nos, é o mesmo que hostilizar os de-
sejos do Imperador.”

“Hmmm. Ah tá. Seguinte, guenta aí um pouco? Vô confirmar pra ver se isso é verdade.”

Ele deixou Jircniv ver seus rostos. Havia o Sumo Sacerdote do Deus do Fogo, o Sumo
Sacerdote do Deus do Vento, assim como quatro outros que ele não havia visto antes.
Eles usavam capuzes de cor escura que o impediam de ver seus rostos por completo, e
essa era a parte mais suspeita.

Como esta foi a primeira vez que se encontraram, não havia garantia de que eles real-
mente eram emissários da Teocracia. No entanto, como os sumos sacerdotes também
estavam lá, as coisas não poderiam progredir se não acreditasse neles. O Rei Feiticeiro
seria o único que se beneficiaria de quaisquer disputas internas que resultassem.

“Eles são os convidados que eu estava esperando. Desculpe, mas poderia deixá-los en-
trar?”

Os membros da Pássaro Fio-Prateado tinham olhares chocados em seus rostos, mas


eles ainda deixaram passar.

Mesmo depois que as portas foram fechadas, eles não retiraram os capuzes.

Jircniv não disse nada sobre este comportamento indelicado. Eles provavelmente eram
tão cautelosos quanto Jircniv, e o objeto de sua cautela mútua era o Rei Feiticeiro.

“Parece que meus guardas te incomodaram. Peço desculpas.”

“Por favor, não se preocupe. A verdade é que aqueles aventureiros adamantite estavam
certos sobre as duas pessoas de trás.”

Os dois emissários sentaram-se, enquanto as outras duas pessoas estavam em posição


de atenção atrás deles.

Jircniv escreveu a palavra “Escritura” na folha de papel que ele tinha. Sua resposta foi
um leve sorriso, mas falou mais do que qualquer palavra. As forças especiais da Teocra-
cia eram conhecidas como as Escrituras, então eles devem ter vindo de uma das Seis
Escrituras.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


227
“Então, por que não assistimos a luta primeiro? O evento principal está prestes a come-
çar, não é?”

Jircniv acenou com a cabeça para essa pergunta.

O evento principal seria quando a empolgação da multidão atingisse o ápice, tirando


proveito do barulho intensificado. Isso tornaria a espionagem muito difícil, e foi por isso
que ele escolheu esse lugar, neste evento.

O emissário produziu um documento e entregou-o a Jircniv.

Jircniv revelou cuidadosamente o documento, para não deixá-lo ser visto pelas costas
ou pelos lados, e viu várias perguntas por lá.

Simplificando, eles estavam perguntando o porquê ele pediu ao Feiticeiro Rei para usar
aquela magia.

Então, eles perguntaram sobre a opinião do Imperador sobre o assunto.

Sobre o quanto eles sabiam em relação ao Reino Feiticeiro.

Foi redigido nos termos mais diplomáticos, mas ainda era um questionário.

Eles poderiam ter simplesmente enviado para ele, mas a razão pela qual ele conseguiu
trazê-los até aqui foi porque eles temiam o alcance dos braços do Reino Feiticeiro. Ou
talvez fosse porque eles não confiavam no Império.

Insatisfação brotou no peito de Jircniv. No entanto, quando se lembrou de seu relacio-


namento com o Reino Feiticeiro, era natural que não confiassem nele.

Jircniv preencheu suas respostas exatamente quando uma rodada de aplausos subiu.
Parece que a luta estava prestes a começar.

“Antes desta grande luta, deixe-me chamar vossa atenção para a Sua Majestade
Imperial El-Nix, que veio para assistir a batalha! Senhoras e senhores, por favor,
olhem para a sala VIP acima de vocês!”

Era a voz do locutor, amplificada por um item mágico.

“Com licença, será rápido.”

Jircniv se levantou, para que o público abaixo pudesse ver seu rosto.

As pessoas aplaudiram como uma para Jircniv. Ele virou o rosto bonito para as pessoas
e sorriu silenciosamente para elas. As mulheres começaram a gritar por ele, e Jircniv
sentiu-se bastante satisfeito por sua popularidade ainda não ter diminuído.

Capítulo 3 O Império Baharuth


228
“Muito obrigado! Então, a seguir, senhoras e senhores, a tão esperada batalha
com o Senhor Marcial! Os preparativos vão demorar um pouco, então, por favor,
tenham paciência.”

“O Senhor Marcial, huh...”

Murmurou Jircniv.

Jircniv uma vez perguntou para Baziwood sobre deixar todos os Quatro Cavaleiros lu-
tarem contra o Senhor Marcial. Ele riu e disse que eles não tinham chance de ganhar. A
resposta o preocupou, então ele deixou Fluder reunir algumas informações sobre o Se-
nhor Marcial. Os resultados mostraram que o Senhor Marcial era um ser tão poderoso
que era até injusto.

“Ainda assim, com quem o Senhor Marcial lutará, Vossa Majestade?”

A pergunta do emissário era óbvia. O fato era que Jircniv não tinha uma resposta para
ele.

“Eu não tenho certeza. Esta partida com o Senhor Marcial parece ter sido decidida
apressadamente e também não apareceu na programação, por causa do sigilo.”

“Entendo...”

O emissário respondeu.

“Bem, qualquer um que possa entrar em contato com o Senhor Marcial deve ser um
aventureiro adamantite. No entanto, o pessoal da Pássaro Fio-Prateado está aqui, deve
ser alguém das Oito Ondas. Da minha parte, eu realmente não aprovaria partidas de exi-
bição com a chance de matar um dos raros aventureiros adamantite.”

“Não posso refutar completamente isso, mas o fato é que a força é atraente. Este lugar
é provavelmente o mais adequado para permitir que as pessoas vejam um exemplo de
poder avassalador e lhes dê um sonho de um dia conseguir o mesmo.”

O homem que interrompeu foi o Sumo Sacerdote do Deus do Fogo — em outras pala-
vras, o membro mais graduado da fé do Deus do Fogo.

“É como diz, depois de considerar a condição atual do Império, é possível que ele acabe
reduzindo sua força militar. O Senhor Marcial é o ser mais poderoso do Império. Por que
não o alistar em suas forças?”

“...É inusitado sugerirem isso, cavalheiros.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


229
A Teocracia Slane era um país antropocêntrico. Não, seria melhor dizer que eles me-
nosprezaram os países de outras raças.

Mas uma nação que ainda poderia existir em um mundo com várias raças poderosas,
provava sua força. Era algo digno de reconhecimento. Ou melhor, pode-se dizer que unir
uma espécie era uma condição para construir uma nação forte.

“Essa é apenas minha opinião pessoal. Não reflete no meu país. Mas chega de bate-papo
por agora, Vossa Majestade. Posso ter sua resposta?”

“De fato. Então—”

“—A espera acabou, senhoras e senhores! Apresentaremos nosso desafiante!”

A mão de Jircniv parou quando estava prestes a escrever a resposta para a primeira
pergunta. Isso porque ele estava curioso sobre o desafiante, que era corajoso o suficiente
para desafiar àquele Senhor Marcial. Ser reconhecido como um desafiante significava
que ele deveria ser capaz de lutar bastante. Alguém assim ainda existe no Império?

Se ele fosse excepcional o suficiente e estivesse disposto a servir o Império, ele o em-
pregaria mesmo se ele perdesse. Dependendo de como as coisas acontecessem, ele po-
deria acabar dando a ele o lugar nos Quatro Cavaleiros que “O Intangível” deixara vazio
após sua morte.

“...O nome do desafiante pode ser conhecido por muitos na plateia. Esse grande
homem veio para nos agraciar hoje! Eu vos apresento, o Rei Feiticeiro do Reino
Feiticeiro, Sua Majestade! Ainz! Ooal! Gown!”

“—Haaaah!?”

Aquele som de total estupefação escapou de Jircniv.

Ele não entendeu as palavras do locutor que lentamente afundavam em seu cérebro.

Confusão encheu a arena, e a sala VIP estava mortalmente silenciosa.

Jircniv olhou em volta e ele tinha certeza de que todos tinham ouvido a mesma coisa.

“Ainz Ooal Gown?”

—Impossível.

Claro que era impossível. O líder de um país não poderia aparecer em um combate de
gladiadores em outro país. Isso era óbvio para qualquer um com bom senso. Não era
possível que ele fosse um bárbaro.

Capítulo 3 O Império Baharuth


230
Em primeiro lugar, eles estavam de olho nos movimentos do Reino Feiticeiro. Se o Rei
Feiticeiro tivesse entrado no Império, esse assunto teria alcançado os ouvidos de Jircniv
imediatamente. Teria sido um assunto de absoluta prioridade. Ele providenciara para
que as notícias lhe chegassem, mesmo se ele estivesse em seu harém ou em algum outro
lugar.

Se aquela notícia não lhe tivesse chegado apesar de todos esses esforços, isso signifi-
cava:

Ele entrou secretamente no país? Por que ele faria isso? E ele veio para a arena? Que
merda ele está pensan— Será? Poderia ser? É assim que vai ser? Isso... como isso é possível?

O corpo de Jircniv estremeceu incontrolavelmente.

Então, ele mudou sua linha de visão para olhar para os emissários da Teocracia Slane.

Havia olhares penetrantes naqueles olhos sob seus capuzes, e o olhar naqueles olhos
dizia apenas uma coisa. Não, com toda a probabilidade, Jircniv teria chegado à mesma
conclusão se estivesse no lugar deles.

Eles estavam pensando: Jircniv convidou o Rei Feiticeiro aqui.

“Por favor, espere. Isso é uma armadilha!”

De fato.

Tudo isso foi uma conspiração de Ainz Ooal Gown. Se eles não entendessem isso— não,
se eles não pudessem aceitar isso, a situação se tornaria muito terrível.

“Uma armadilha colocada pelo Reino Feiticeiro? Ou por outra pessoa? Afinal, este é o
lugar que o senhor especificou, Vossa Majestade, e nós só fomos informados há algumas
horas.”

Isso estava correto. Ele mantinha tudo oculto até o último momento para reduzir o risco
de vazamento de informações.

Jircniv tentou desesperadamente lembrar quem sabia sobre o assunto. O número era
muito pequeno e todos eram pessoas confiáveis. Ou será que?

Argh...

“—É possível que a informação tenha sido extraída por meio da dominação mágica. Isso
definitivamente não faz parte do meu plano. Esta é a prova. Se eu tivesse colocado essa
armadilha, por que eu estaria em pânico com isso?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


231
“E espera que acreditemos nisso? Estava fazendo isso para nos atrair? Ou talvez para
nos denunciar?”

Eles não confiavam nele de forma alguma.

Não, isso era de se esperar. Jircniv faria o mesmo no lugar deles.

Onde foi o vazamento? Não, será que realmente vazou? Eu, eu apenas dancei na mão dele
como uma marionete? Ele soltou a isca e esperou que eu pegasse o anzol.

De repente, um vento frio soprou em suas costas.

Quantas de suas ações o Rei Feiticeiro já havia previsto?

Era muito possível que tudo o que acontecera até agora fizesse parte do plano.

O Rei Feiticeiro é este tipo de oponente.

Concluiu a brilhante mente de Jircniv.

Quão elaborado foi o esquema dele, afinal? Não, agora não é hora de ter medo de sua
astúcia! Se eu não agir rapidamente—!

“Não é bom, temos que sair agora—”

No entanto, já era tarde demais.

A voz do intruso foi como a de um caçador que viu sua presa cair em uma armadilha
cuidadosamente colocada.

“Jircniv Rune Farlord El-Nix-dono. Há quanto tempo.”

Enquanto lutava para controlar sua respiração em pânico, ele viu a forma do Rei Feiti-
ceiro, que subia do centro da arena até a mesma altura da sala VIP.

Aquele rosto odioso estava em plena exibição. Deve ter sido para deixar que todos sou-
bessem que era o próprio homem.

“Oo, o— Mme. O mesmo para o senhor, Gown-dono. Não achei que te encontraria em
um lugar como este.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


232
OVERLORD 10 O Governante das Conspirações
233
Ele não tinha idéia do que dizer. Qualquer coisa que ele dissesse poderia ser contra ele.
No entanto, os lábios de Jircniv não se abriram, como se tivessem sido colados.

“O sentimento é mútuo. Que coincidência!”

Kuku~, o Rei Feiticeiro riu maldosamente. Ele obviamente não achou que fosse uma
coincidência.

E realmente não era.

Jircniv tinha certeza de que tudo isso fazia parte do esquema de Ainz Ooal Gown.

Assumindo o controle das negociações secretas com a Teocracia, ele simultaneamente


pressionaria tanto Jircniv e a Teocracia, e os impediria de se aliarem um ao outro.

Isso foi obra de uma genialidade verdadeiramente distorcida.

Ele limpou as palmas das mãos suadas em suas roupas.

Muita informação deve ter vazado. A questão era quanto ele sabia?

Assim que Jircniv lutava para pensar, as luzes odiosas nas órbitas do Rei Feiticeiro se
fixaram nos emissários da Teocracia.

“Amigos seus, Vossa Majestade?”

Jircniv não tinha como responder à pergunta de Ainz.

Esta não foi uma questão simples.

Foi um teste de suas intenções.

Ele mentiria para proteger as pessoas da Teocracia ou as venderias, para fortalecer as


relações com Reino Feiticeiro?

Era um esquema tão malicioso que Jircniv começou a sentir náuseas.

Aquele crânio sem emoção parecia estar distorcido pelo mal. Provavelmente estava
zombando de Jircniv, que não podia falar.

“O que está errado? El-Nix— não, Jircniv-dono. Parece pálido. O senhor está bem?”

O fato foi que ele pareceu genuinamente preocupado, primeiro desgostoso, e depois
aterrorizado. Ele se sentiu como um pequeno animal, se contorcendo dentro de uma mão
amorosa. Como ser humano, era natural sentir o terror envolvido naquela alegria.

Capítulo 3 O Império Baharuth


234
“T-tudo bem, não é nada. Parece que fiquei um pouco tonto por levantar tão de repente.”

“Então é isso. Bem, dizem que seu corpo é seu melhor tesouro, é melhor cuidar disso.”

A desculpa de Jircniv soava pouco natural, mas pelo menos ele estava fora do anzol por
agora. Ele estava esperando o momento certo para acabar com sua presa, ou ele estava
sendo envolvido em um amado passatempo de sadismo? Ou talvez—

“Então, cavalheiros, gostariam de se apresentar? Eu sou o Rei Feiticeiro, Ainz Ooal


Gown.”

—Era isso que ele queria?

Como ele, o líder de um país, já havia declarado seu nome, o outro lado não podia recuar
sem dizer uma palavra. Se eles dessem um nome falso e o Rei Feiticeiro soubesse seus
nomes verdadeiros, como ele reagiria?

Pare de brincar com a gente!!!

Sua expressão não havia mudado, afinal, seu crânio sem pele e sem carne não poderia
fazer expressões. Ele não só não tinha olhos, mas as órbitas vazias de seus olhos eram
ocupadas apenas por chamas carmesins, das quais nenhuma emoção poderia ser lida.
No entanto, Jircniv podia sentir um sorriso maligno se ampliando.

“Muito obrigado e, na verdade, teríamos nos apresentado também. Mas uma emergên-
cia extrema aguarda nossa atenção, por isso devemos sair imediatamente. Tenho certeza
de que Sua Majestade ficará feliz em lhe contar sobre nós mais tarde.”

Os emissários se levantaram de seus assentos.

“É mesmo? Que pena. Espero que nos encontremos novamente. Por favor, vão em paz.
Bem, ainda há a questão da partida, então vou indo, até outro dia.”

Com essas palavras de zombaria (provavelmente), o Rei Feiticeiro desceu.

Quando sua forma desapareceu abaixo, os emissários olharam para Jircniv.

“Como ousa armar isso.”

“N-não, eu não fiz!”

“Não fez? Não importa qual desculpa use, ele sabia tudo. Tudo o que ele fez foi clara-
mente zombar de um bando de tolos que estão se movendo exatamente como ele previu...
Quanto disso contou a ele? Quantas pessoas traiu para salvar seu próprio país? Você
deve ter pedido a ele para usar aquela magia ilogicamente destrutiva também, não é?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


235
Jircniv olhou desesperadamente para os sacerdotes, procurando ajuda.

No entanto, ele não viu suspeita e dúvida em seus olhos, mas hostilidade e decepção.

O Rei Feiticeiro havia dado um golpe magnífico no momento mais oportuno. Do tipo
que aleijaria totalmente o Império. Ele disse ao Império que eles não tinham escolha a
não ser trair a humanidade.

“Acreditem em mim, por favor! Eu não vendi essa informação para ele—”

“...Mesmo se acreditássemos nisso, não há como negar o fato de que toda a sua operação
foi comprometida. Majestade, estou triste em dizer que jamais nos encontraremos no-
vamente.”

Depois de dizer isso, os emissários partiram, seguidos pelos sacerdotes.

“Espere! Eu te proíbo de deixar esta sala até que ouçam minhas opiniões!”

Nimble e Baziwood sacaram suas armas e se prepararam para fazer o movimento.

Quando Jircniv lutou para restaurar alguma vida ao seu coração despedaçado, ele olhou
para os dois Sumos Sacerdotes. Os emissários nem sequer olharam para trás quando
saíram.

“Digam o que os templos pensam? O que você acha do Rei Feiticeiro?”

“...O Rei Feiticeiro é um undead maligno, e não vamos permitir que ele se chame de Rei.”

Antes que Jircniv pudesse responder, o Sumo Sacerdote do Deus do Fogo continuou:

“No entanto, não podemos derrotá-lo em batalha, por isso devemos encontrar alguma
maneira de destruí-lo.”

“Sua traição foi prevista, Imperador, pois foi seduzido pelo poder das trevas.”

Essa declaração, feita pelo Sumo Sacerdote do Deus do Vento, ilustrou claramente sua
hostilidade em relação a Jircniv.

Isso foi extremamente ruim.

Os templos não podiam influenciar o governo. No entanto, eles podem decidir exco-
mungar um Imperador que estava em aliança com o inimigo universal, os undeads.

Ele não podia expurgá-los, porque os templos estavam encarregados da cura, assim
como os salvadores das almas das pessoas.

Capítulo 3 O Império Baharuth


236
Se ele fizesse isso, o Império se desmoronaria por dentro.

Para Jircniv, aquele único movimento de Ainz Ooal Gown parecia um golpe da gadanha
de um Ceifador. Mesmo se ele não fizesse nada, o Império entraria em colapso. Então, o
Reino Feiticeiro encontraria algum motivo para o contato.

Se fosse Jircniv fazendo isso, ele usaria uma desculpa ao longo das palavras de “O país
de nosso aliado está em caos, então estamos enviando tropas para ajudar a manter a or-
dem pública”.

A julgar pela reação deles, a Teocracia Slane não criticava o Reino Feiticeiro por fazer
tal coisa. O Reino não teria forças para fazer nada a respeito, enquanto o Conselho Esta-
dual levaria um tempo para fazer tal declaração.

Que tipo de incentivo ele poderia oferecer para remover as dúvidas de seus corações?
Ou melhor, manter seus compromissos, mesmo que tivessem dúvidas?

Jircniv sempre colocou esse assunto em primeiro lugar em seu coração quando falava
com outros em sua capacidade de Imperador. A maneira mais simples de levar as pes-
soas a agir era apelar para seus desejos. Jircniv crescera sabendo que esse era o jeito
certo de ver as coisas. Havia muitos humanos que eram governados pelo desejo por um
rosto bonito, isso não era surpreendente.

No entanto, neste momento, Jircniv não conseguiu encontrar uma resposta.

Agora que os outros pensavam que ele havia traído os vivos para trabalhar com os mor-
tos, não havia nada que ele pudesse oferecer a eles.

Tudo o que ele pôde fazer foi ser honesto e sinceramente contar o seu lado da história.

“Por favor, permita-me dizer uma última coisa. A astúcia daquele sujeito supera a mi-
nha. Tudo que está acontecendo aqui e agora pode muito bem ser coisa dele... Eu mesmo
não acreditaria tão facilmente se fosse eu no lugar dos senhores... Eu realmente não os
vendi. E, embora também não acredite nisso, como ser humano, quero lhe dizer uma
coisa. O reinado do Rei Feiticeiro é muito misericordioso. O povo de E-Rantel ainda vive
em paz.”

“Mas não temos idéia de quanto tempo isso vai durar, não é?”

“Possivelmente. Mas por enquanto, pelo menos, eles estão seguros. Se iniciarmos uma
guerra que não podemos vencer, o nosso país começará a percorrer o caminho da ani-
quilação. Então, espero que pensem com cuidado e não façam movimentos bruscos.”

Os dois Sumo Sacerdotes se entreolharam.

Então, sua hostilidade anterior em relação a Jircniv pareceu suavizar um pouco.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


237
“...Parece que podemos ter sido muito emocionais. Se essa criatura undead realmente é
como dizem os rumores, não podemos descartar a possibilidade de que tudo isso possa
ter sido parte de seu plano. Sendo assim, podemos nos encontrar de novo em algum lu-
gar, se for o caso.”

“Obrigado. E antes disso, um último pedido. Não importa onde, por favor, observem a
luta na arena. Se puderem ver uma maneira de derrotá-lo, por favor, me diga.”

Jircniv abaixou a cabeça.

Conspirações incluídas, não havia como derrotar Ainz em uma batalha de inteligência.
O coração humano era o único trunfo deixado para aqueles que desejavam combatê-lo
igualmente.

Aplausos vieram do andar de baixo, e Jircniv se virou para olhar.

“...Boa sorte, Senhor Marcial. Oh, céus!”

Jircniv orou seriamente pela vitória do Senhor Marcial.

Parte 3

A tão esperada Capital Imperial.

Enquanto olhava através da pequena abertura que ele abriu na janela da carruagem,
Ainz sentiu uma terrível sensação de derrota.

Vida e energia abundavam aqui.

Os rostos das pessoas eram brilhantes. Era uma cidade movimentada, completamente
diferente do Reino Feiticeiro, onde a vivacidade não era vista.

E então, a sensação de derrota logo desapareceu. Afinal, sua cidade havia sido anexada
recentemente. Quando uma cidade fosse tomada por um novo governante, a vida muda-
ria. Era natural que as pessoas se sentissem desconfortáveis, levando a um estado tem-
porário depressivo.

Punitto Moe já havia ensinado Ainz sobre jogos de estratégia. Quando alguém conquis-
tasse um território durante uma guerra, o valor de felicidade das pessoas despencaria.
Além disso—

—O que ele disse sobre partisans aparecendo? Era isso? Por que uma grande quantidade
de armas apareceria de repente?

Capítulo 3 O Império Baharuth


238
A primeira parte foi completamente sem relação com a segunda. Ele tinha a sensação
de que ele havia entendido algo errado quando ouviu a explicação de seu antigo cama-
rada.

Como o jogo não tinha nada a ver com YGGDRASIL, ele perdera o interesse no meio do
caminho. Mas deveriam ter sido vagamente relacionados, pelo menos.

Ele provavelmente estava falando sobre algum tipo de traição. Ou talvez tenha sido al-
guma forma de gíria de jogador, huh... Partisans... parece ser uma espécie de arma de fogo.
Então, quando ele falou sobre armas sendo vendidas em grandes quantidades, ele estava
falando sobre um motivo para lutar? Recrutamento de cidadãos, talvez? Hm? Talvez eles
lutariam contra o novo governante, mas isso seria uma revolta, certo? Então deveria ter
sido chamado de rebelião desde o começo. Por que “partisans”? Bem, isso não importa...

A razão pela qual não houve rebelião em E-Rantel foi porque os Death Knights estavam
patrulhando para manter a ordem pública. Ou foi porque a persona de Momon teve um
efeito calmante sobre eles? Não, talvez a raiz tenha sido por causa de suas políticas soci-
ais benevolentes.

Nada é melhor que um reinado pacífico. É maluquice matar a galinha dos ovos de ouro.
Eu acho que eu preciso fazer uma concessão ocasional como retornar itens dropados para
um oponente depois do PKing, quem sabe.

Enquanto recordava o conteúdo do “PKing para Bobos”, Ainz percebeu que ele tinha se
distraído, e apressadamente colocou seus pensamentos de volta aos trilhos.

Espere, acho que estava pensando sobre a vivacidade. Bem, não importa como eu compare,
eu domino apenas uma cidade, e esta é a capital do Império, que tem muitas cidades, então
a diferença em seus níveis de vivacidade é inevitável. Até mesmo as populações são diferen-
tes... Então, acho que quando o número de pessoas aumentar, o Reino Feiticeiro também se
tornará mais vívido... Eu acho que preciso me concentrar em políticas que encorajem o
aumento da população. Albedo pode colocá-las em pratica.

Depois que Ainz se consolou, ele decidiu tomar uma nova direção, em sua capacidade
de governante.

“A-ah, Vossa Majestade...”

O homem que estava olhando pela janela também falou com ele, e trouxe Ainz de volta
de seus pensamentos.

“Eu, eu temo perguntar, Vossa Majestade, mas esta não é a Capital Imperial, Arwintar?”

O homem — que praticamente havia sido sequestrado — fez essa pergunta com voz
trêmula.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


239
“Realmente é. Como esperado do Chefe da Guilda dos Aventureiros, reconheceu esse
lugar rapidamente.”

“Obrigado, muito obrigado— não, um momento! Não me lembro de passar por nenhum
ponto de verificação! Isso não seria imigração ilegal?”

Isso foi, na verdade, o que aconteceu. Já que eles usaram a magia 「Gate」 para transi-
tar diretamente para a Capital Imperial, eles não teriam passado por nenhum ponto de
controle.

“—Detalhes, apenas detalhes.”

“Não são apenas detalhes! Um rei atravessando ilegalmente a fronteira para outro país
é um incidente internacional!”

Jircniv fez a mesma coisa quando veio a Nazarick...

Ainz não disse isso, é claro. O bom senso ditaria que o Chefe de Guilda estava certo e
Ainz estava errado.

Depois de pensar o máximo que pôde, ainda não conseguia pensar em uma explicação
que Ainzach aceitasse. Em vez disso, ele acabou suspirando com a surpreendente teimo-
sia do homem. Ele havia pensado que Ainzach seria o tipo de homem que se comportaria
assim: “Bem, contanto que você não seja pego, tudo bem”.

Sua opinião sobre o homem mudou um pouco.

“...Chefe de Guilda, eu tenho um relacionamento muito bom com o El-Nix-dono. Eu até


acedi aos seus pedidos no passado.”

Ainz lembrou o que aconteceu durante a guerra.

“Bem, sei que a ocasião agora é diferente, mas tenho certeza de que ele aprovaria com
prazer se eu apenas o perguntasse. Claro, seria depois de eu já ter feito isso... mas estaria
tudo bem se o próprio imperador permitisse isto, não?”

“Se, se colocar dessa maneira...”

“O mais importante é, nem você nem eu trouxemos nada de ilegal. Isso não significa que
está bem?”

“Muun...”

Ainzach meditou.

Capítulo 3 O Império Baharuth


240
Ainz sorriu em seu coração, acreditando que ele havia convencido o homem.

Na verdade, havia duas razões para a travessia clandestina da fronteira.

Se o Jircniv soubesse disso, é certo que ele faria uma recepção para mim. Ele pode ser
cauteloso com Nazarick, mas já que eu sou o rei de um país aliado, ele teria que me receber
na porta da frente. Isso seria muito ruim.

O Imperador certamente iria sediar algum tipo de cerimônia para receber o rei de um
país aliado. Isso era algo que Ainz, que não estava familiarizado com os costumes da so-
ciedade nobre, portanto, tinha que evitar a todo custo.

Caso se tornasse motivo de riso por causa disso, ele não seria capaz de olhar nos olhos
dos Guardiões — que estavam trabalhando sem parar para o bem do Reino Feiticeiro.

Havia também outro motivo.

Agora, preciso pensar em como envolver o Ainzach nisso. Talvez eu devesse pedir a ajuda
dele como fiz naquele papo lá na guilda?

A outra razão foi porque ele queria pressionar o Chefe de Guilda Ainzach em seus es-
quemas.

O objetivo de Ainz ao vir aqui era recrutar aventureiros.

Ele já havia incorporado a Guilda dos Aventureiros como uma organização nacional. No
entanto, mesmo que a união estivesse pronta, o preenchimento demoraria muito tempo.
Isso foi muito ruim para o Reino Feiticeiro, já que controlava apenas uma cidade e o
número de aventureiros que eles podiam atrair era completamente insuficiente. Usando
aventureiros de outras raças — como Lizardmen, por exemplo — era uma questão para
mais tarde. Agora era preciso aumentar o número de aventureiros humanos.

Foi por isso que ele teve que vir aqui para fazer uma averiguação de talentos. Se não
bastasse, ele também poderia recrutar dos países vizinhos.

No entanto, esse tipo de recrutamento não era fácil, especialmente porque o que Ainz
faria, poderia ser resumido em vender de porta em porta — um dos tipos mais difíceis
de trabalho no negócio de vendas.

Segundo Ainzach, aventureiros eram supostamente trabalhadores autônomos, mas na


verdade, eles eram uma forma de defesa nacional contra monstros. Uma caçada agres-
siva levaria a uma reação diametralmente igual de agressividade.

Obviamente Ainz não achava que perderia, mesmo que as Guildas de Aventureiros de
cada nação individual montassem uma campanha em larga escala contra ele. Entretanto,
isso reduziria o moral de qualquer aventureiro que conseguisse recrutar. Era muito fácil

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


241
ver como eles perderiam sua motivação ao ver um conflito entre sua nova lealdade e sua
antiga casa.

Foi por isso que ele teve que envolver Ainzach — que entendia os objetivos e conceitos
de Ainz — em tudo isso. Certamente as coisas correriam bem se ele fosse o intermediário.
Ele considerou que Ainzach recusaria se tivesse sido informado em E-Rantel, e por isso
o arrastou para isso desse modo.

Além disso, ele também estava considerando o fato de que Ainzach teria algo em co-
mum com o outro lado.

Isso era um segredo entre vendedores. Os iguais tendem a gravitar em direção aos seus
semelhantes.

Ainz— ou melhor, Suzuki Satoru viu seus colegas aproveitarem o fato de terem nascido
no mesmo lugar ou que apoiaram a mesma equipe como possíveis clientes para fechar
uma venda.

Tendo sido Momon, Ainz conseguiu entender a vida de um aventureiro, até certo ponto.
Mas ele subiu de ranque tão rapidamente que não pôde dizer que realmente conhecia as
dificuldades de ser um aventureiro. Assim, ele teve que deixar Ainzach — que era um
aventureiro veterano e também o Chefe de Guilda — falar o que pensava para melhorar
a proximidade com os futuros aventureiros.

Em outras palavras, o sucesso de sua pequena expedição ao Império dependia da per-


formance de Ainzach.

Ainda assim, a questão é: como posso realmente motivar o Ainzach a ajudar?

Se fosse uma questão de dinheiro, ele certamente poderia pagar. Ainda assim, ele não
acreditava que tais meios fariam com que Ainzach desse tudo de si.

“Vamos.”

Depois de ordenar ao condutor, a carruagem começou a se mover em silêncio. O con-


dutor em questão era uma criatura que Ainz havia convocado com o pouco de ouro que
tinha sobrado, um monstro cujo nível era acima de 80, chamado Hanzo.

Hanzo era um monstro humanóide do tipo ninja que possui habilidades em combater
alvos especializados em furtividade. Havia outros de aproximadamente o mesmo nível,
como Kashin Koji, que era hábil em ilusão. O Fuuma, que era habilidoso no combate
corpo a corpo e técnicas especiais, Tobi Kato, que era habilidoso com armas, e assim por
diante.

O interior da carruagem batia ruidosamente enquanto viajava para frente.

Capítulo 3 O Império Baharuth


242
Ainz considerou que usar uma carruagem altamente encantada seria muito suspeito.
Assim, ele havia escolhido uma diligência mais comum.

“...Então, Vossa Majestade. Já que chegamos à Capital Imperial, pode me dizer o que vi-
emos fazer aqui?”

Ainzach franziu as sobrancelhas.

“Nós recrutaremos aventureiros para o nosso país.”

Uma expressão amarga cruzou o rosto de Ainzach. Ficou claro que ele estava tendo pro-
blemas para aceitar isso.

“...Será que pretende convencer os aventureiros do Império a se juntarem ao senhor?”

“Exatamente. Viemos para caçar.”

Apesar do ocorrido durante a guerra, o fato de Ainz ter matado muitos soldados do
Reino Re-Estize tornou muito difícil atrair os aventureiros vindos do Reino. Além disso,
Albedo estava visitando o Reino, então ele não podia dificultar as coisas para ela. Sendo
esse o caso, o país aliado, o Império, era a opção ideal.

De acordo com a inteligência de Fluder sobre os países, a Aliança Cidade-Estado estava


a alguma distância daqui. Depois de consultar Demiurge e Albedo, ele decidiu que inter-
vir lá não seria sábio.

“De que maneira pretende fazer isso? Eu—”

Ainzach respirou fundo.

“—Vossa Majestade, eu gravei suas opiniões sobre os aventureiros no fundo do meu


coração. E por isso desejo ajudar Vossa Majestade com todas as minhas forças. Mas eu
ainda sou um homem ligado ao sistema, na maior parte. Eu sinto que ter aventureiros
abandonando tudo que eles conheciam até agora será muito difícil. Isto é particular-
mente verdadeiro para os aventureiros do Império.”

Uma sensação de alegria nova e fresca brotou no peito de Ainz.

Era exatamente isso, Ainz queria opiniões assim.

Não que os Guardiões dessem más opiniões, mas eles tomavam tudo o que Ainz dizia
como um pronunciamento divino e correriam para fazer virar realidade. Assim, Ainz es-
tava frequentemente desconfortável sobre se ele havia ou não dado as ordens certas. Por
causa disso, ele desejava ouvir alguém se opor a uma de suas declarações. Dessa forma,
ele saberia onde estavam os problemas.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


243
A opinião de Ainz sobre Ainzach subiu por um entalhe.

Ainda assim, ele não podia aceitar completamente seus pontos de vista.

Apenas o céu sabia o porquê, mas todos os seus subordinados pareciam pensar que o
Rei Feiticeiro Ainz Ooal Gown era um gênio. E com isso, Ainz não poderia dizer ou fazer
qualquer coisa para trair essa fé. Ele não pôde desapontá-los.

“...Quão desconcertante. Os benefícios devem compensar as desvantagens. Eu não en-


tendo. Parece que não sei o suficiente sobre aventureiros.”

Seu rosto — que não mostrava emoção — foi de grande ajuda, porque ninguém sabia
que ele estava mentindo. A cara de poker perfeita.

Neste ponto, Ainz parou por um momento e olhou Ainzach diretamente nos olhos. Ele
não podia sugerir que ele estava esperando pela resposta do homem.

“O que faria se dependesse de você? Existe uma proposta que seria atraente o suficiente
para fazer com que os aventureiros que já escolheram uma base, mudem de idéia?”

“...Vossa Majestade, devemos começar com isso agora?”

“Como assim?”

“Vamos começar a tentar atrair imediatamente os aventureiros da Capital Imperial?”

Ainz segurou o queixo com uma mão enquanto pensava.

Se possível, ele gostaria de fazê-lo o mais rápido possível. Claro, se não fosse possível,
ele não se importava de esperar. Afinal, o objetivo era espalhar os louvores do Reino
Feiticeiro.

Os seres heteromórficos não possuíam o conceito de expectativa de vida. Nesse sentido,


havia tempo mais do que suficiente.

“Sim, não é particularmente urgente.”

“Então, não deveríamos estabelecer uma base sólida primeiro? Devemos construir a
organização desejada dentro do Reino Feiticeiro, e depois fazer várias outras prepara-
ções, conforme necessário. Quando o exterior estiver sólido, podemos preencher o inte-
rior a vontade, isso está errado?”

“Essa é uma excelente sugestão, cheguei a considerar anteriormente. Mas isso repre-
senta um problema por si só. Se não estimarmos o conteúdo antes de construir, o conte-
údo que preencherá pode acabar sendo muito grande ou muito pequeno... Você gostaria
de tentar?”

Capítulo 3 O Império Baharuth


244
“Na verdade, essa tarefa está além de mim. Afinal, não tenho certeza de como Vossa
Majestade deseja nutrir os aventureiros, e não entendo a extensão de seus planos para
o Reino Feiticeiro.”

“Exato. Sendo sincero, ainda estou analisando onde isso tudo terminará. Em particu-
lar— eu sei que você está interessado em minha proposta, mas eu não sei quantos cora-
ções ela pode tocar. Para observar suas reações, eu vim ao Império para tentar um re-
crutamento de teste e ver o resultado.”

“Entendo... como esperado de Vossa Majestade, já planejou tão longe. Tenho vergonha
do meu pensamento superficial.”

“Claro que não. Você e eu somos seres diferentes. Por causa disso, posso cometer um
erro quando se trata das reações dos seres humanos. Pelo que sei, posso dizer algo que
incomoda os outros. Por favor, me diga se tal situação ocorrer. Nesse aspecto, precisarei
de você como um ajudante... Ainzach.”

“Sim!”

“Então, contarei com você no futuro.”

Ainzach parou para pensar por um segundo e depois inclinou a cabeça profundamente.

Parecia exatamente como os Guardiões de Nazarick faziam isso.

Ainz graciosamente assentiu enquanto refletia sobre suas palavras anteriores.

Enfim, posso realmente deixar a tarefa de apelar aos aventureiros do Império apenas para
o Ainzach?

Este foi um ponto muito importante.

Ele poderia fazer a apresentação se fosse necessário, mas não porque gostava. Se al-
guém fosse mais adepto de uma tarefa e mais capaz, esse alguém deveria ser o respon-
sável por tal tarefa. Contudo—

—Eu não posso deixar tudo em cima dele. Se surgir um problema, eu devo lidar com isso,
já que sou seu superior.

Ele não queria ser um chefe deplorável. Ainz se apegou a essa determinação. Só então,
ele percebeu que Ainzach parecia ter caído em contemplação.

“Algo está errado?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


245
“...Vossa Majestade, será que o senhor não pretende se limitar à atual safra de aventu-
reiros, mas sim incorporar os aventureiros do futuro à sua organização e fazê-los explo-
rar o mundo desconhecido?”

“Essa é a minha intenção.”

“Com isso em mente, sinto que tentar persuadir o presente grupo de aventureiros será
muito difícil. No entanto, pode ser possível que as pessoas que desejam se tornar aven-
tureiros venham ao nosso Reino Feiticeiro. Ou seja, vamos coletar os filhotes e depois
criá-los.”

Aventureiros não conheciam fronteiras, mas as pessoas que se tornaram aventureiros


pertenciam a um determinado país. Ainz tinha pensado neste ponto também, mas já que
este homem — estava mais familiarizado com este mundo do que Ainz — compartilhou
sua opinião, então isso certamente era um curso sábio.

“Faz sentido. Então, o que devemos fazer?”

“Os fortes sempre foram admirados. Assim, posso perguntar como Vossa Majestade se
sentiria mostrando seu poder como forma de propaganda?”

E isso realmente ajudaria?

Ainz pensou.

Afinal, a publicidade era muito importante. Pois a razão pela qual ele estava fundando
sua própria Guilda dos Aventureiros foi para espalhar o nome do Reino Feiticeiro de
Ainz Ooal Gown.

“...Então eu tenho que mostrar meu poder e fazer o que os aventureiros fazem?”

Tudo o que tenho que fazer é ser um tipo de Momon para o Império, então...

Pensou Ainz. No entanto, Ainzach negou com a cabeça.

“É quase isso, Vossa Majestade. Estamos na Capital Imperial. Então como o senhor se
sentiria em exibir seu poder na arena?”

“Hoh...? Isso parece interessante. Elabore.”

♦♦♦

A carruagem parou em um pátio espaçoso.

Capítulo 3 O Império Baharuth


246
Momon e Nabe tinham andado pelas ruas da Capital Imperial no passado, mas Ainz
nunca tinha visto uma casa tão grande naquela época. Nem mesmo em E-Rantel ele havia
visto uma mansão mais impressionante do que essa.

“Esta é a casa do dono da arena? É um lugar bastante impressionante.”

A resposta de Ainzach à pergunta de Ainz foi ao longo das palavras de: “Isso é apenas o
começo”.

“A arena em si é propriedade estatal. As pessoas alugam para eventos, então chamá-los


de “promotores” pode ser mais preciso. A pessoa que mora aqui é uma das pessoas mais
poderosas.”

“Entendo... um amigo seu?”

“Quem dera se esse fosse o caso...”

Ainzach balançou a cabeça em lamentação e continuou:

“Há muitos eventos na arena e, às vezes, os aventureiros acabam lutando contra mons-
tros. Eu só encontrei essa pessoa algumas vezes, quando capturei tais monstros e os en-
viei para cá.”

“Compreendo. Ainda assim, acabou sendo bastante útil, então devo agradecê-lo pela sua
conexão. Por falar nisso, que tipo de monstros você capturou nos arredores de E-Rantel?”

Ainzach tinha uma expressão desconfortável no rosto.

“Nós capturamos os undeads das Planícies Katze. Os undeads não precisam de comida,
por isso não incorreriam despesas adicionais depois que os capturamos.”

“Hoh. Foi bem astuto. Você sabe fazer bem seu trabalho, afinal.”

“Mesmo? Eu não me vejo como uma pessoa assim... ainda, Vossa Majestade. Temo
ofendê-lo, mas está tudo bem em falar em capturar os da sua espécie?”

Ainz olhou diretamente para Ainzach.

O que você está falando?

“Porque eles são undeads...”

“Ahh, claro— bem, existem muitas variações da minha espécie. Eu não considero todos
os undeads como meus parentes.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


247
“Perdoe meu desrespeito... Então, posso perguntar qual é o tipo de undead que Vossa
Majestade seria? Se não te ofender, é claro.”

“Eu sou um Overlord. Você já ouviu falar deles antes?”

“Minhas mais profundas desculpas, mas não. Nunca fui muito dedicado a meus estudos,
então não sei.”

Bem, isso é de se esperar...

Ainz pensou.

Em YGGDRASIL, havia vários tipos de monstros na família Overlord: o Overlord Wise-


man, que era habilidoso em magia, o Overlord Kronos Master, que podia usar habilida-
des especiais relacionadas ao tempo, o Overlord General, que era perito em controlar os
exércitos undeads, entre outros. Mesmo o mais fraco deles era pelo menos nível 80.

Ele tinha uma compreensão aproximada da força deste mundo e da quantidade de força
que alguém precisava para ser considerado poderoso. Sendo esse o caso, a aparição de
um undead como um Overlord causaria uma enorme perturbação, particularmente por-
que o undead não envelhece, então continuariam governando a terra por toda a eterni-
dade até que fosse derrotado.

Em outras palavras, o fato de nada disso ter acontecido implicava que não havia Over-
lords aqui.

“Certo. Bem, pretendo enviar aventureiros para os confins do mundo para coletar in-
formações desse tipo. Seria muito problemático se outros da minha espécie estivessem
por perto, ainda mais se tiverem ódio pelos vivos. Você entende?”

Os olhos de Ainzach se arregalaram e ele assentiu.

“É como diz. Agora entendo completamente a verdadeira natureza dos aventureiros.”

“Sim. Considere-me um undead que é uma exceção às regras. Eu entendo o valor da


humanidade, então não vou me envolver em abates sem sentido. Mas outros Overlords
podem não pensar da mesma maneira, entende?”

“Esse é realmente o caso?”

“É ver para crer. Não sei se sou a exceção ou se minha espécie é uma exceção em si. No
entanto, não devemos assumir o pior cenário e nos preparar adequadamente?”

“...É como diz, Vossa Majestade. Vou gravar isso em meu coração.”

Ainzach assentiu.

Capítulo 3 O Império Baharuth


248
Se houvesse vestígios de alguém assim ter aparecido e ter sido derrotado— se for o caso,
será que tem algum envolvimento com quem fez lavagem cerebral em Shalltear? Não, não
se pode descartar um Overlord sendo dominado da mesma forma que a Shalltear foi.

“Então, eu vou garantir uma consulta para a reunião.”

“Seria ótimo.”

Ainzach desceu da carruagem. Depois que Ainz o assistiu sair, ele tirou a máscara e co-
locou. Ele podia andar por E-Rantel sem usá-la, mas esta era a Capital Imperial — e ele
cruzara as fronteiras ilegalmente para estar aqui — então, no mínimo, era melhor es-
conder sua verdadeira face. Seu manto também era algo mais modesto.

Embora isso significasse que seu equipamento pessoal ficaria uma classe abaixo do nor-
mal, mas não poderia evitar. Afinal, Ainz só tinha um conjunto de vestes divine-class.
Mesmo ele ainda mantendo as coisas deixadas para trás por seus amigos, no final, as
armaduras foram personalizadas para combinar precisamente com seus atributos. Por-
tanto, não era que ele não pudesse equipá-las, mas sim que não poderia exercer todo seu
potencial, e com isso não poderia fazer uso das grandes quantidades de dados que foram
usados para beneficiar habilidades individuais de cada uma. Considerando isso, ainda
era melhor para Ainz usar os itens que haviam sido feitos para ele, mesmo que fossem
um pouco mais fracos.

Depois de trocar seu equipamento, uma batida veio da porta da carruagem, seguida
pela voz de Ainzach.

Parece que menos de cinco minutos se passaram.

“Minhas mais profundas desculpas, Vossa Majestade.”

“O que aconteceu?

“Lamento dizer que hoje não parece conveniente. A outra parte espera que possamos
voltar amanhã. Mas acredito que podemos forçar o caminho para transmitir as palavras
de Vossa Majestade aos ouvidos deles. Alguma sugestão?”

“Não há necessidade disso.”

Forçar uma reunião não solicitada durante um período movimentado não favoreceria
nada a ele. Pelo contrário, quando se olha para isso do ponto de vista de um negócio, o
próprio fato de terem vindo sem serem convidados e não terem sido expulsos, e ainda
assim conseguirem um horário para visita já pode ser considerado uma grande con-
quista.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


249
“Tudo bem, voltaremos amanhã. Ainda bem que tem havido muito tempo livre ultima-
mente— o que há de errado?”

Ainz percebeu que Ainzach estava arregalando os olhos para ele, e então ele perguntou
o porquê.

“Não é nada. Eu só senti que Vossa Majestade é um ser verdadeiramente generoso...


afinal, existem nobres que desprezam os mercadores...”

“Acreditou mesmo que eu insistiria em uma reunião?”

O fato foi que Ainz não respondeu com “Eu pensei que conseguiria”, e não houve arro-
gância alguma em suas palavras.

Isso seria a coisa certa a fazer do ponto de vista de um governante...?

Ainz se perguntou. Embora parecesse um pouco tarde demais para pensar nisso, Ainz
Ooal Gown se tornou um rei. Se isso era o que um governante deveria fazer, então ele
precisava fazer isso, mesmo que parecesse estranho para Suzuki Satoru.

“Esta é minha primeira vez regendo humanos. Não devo fazer isso se for apropriado?”

Um olhar desconfortável apareceu no rosto de Ainzach novamente:

“Eu não tenho certeza, Vossa Majestade. Eu nunca me encontrei com o Rei, então não
posso dizer se é verdade ou não. Embora, pessoalmente, prefira o ponto de vista de
Vossa Majestade. Mesmo assim, os nobres de alto escalão podem considerar tal compor-
tamento como apropriado.”

“A sociedade humana é muito complicada.”

Por alguma razão, Ainzach sorriu calorosamente para os murmúrios de Ainz.

“Pode muito bem ser como Vossa Majestade diz. Existem muitas coisas complicadas de
fato.”

Sua risada encheu a carruagem.

Ainz cerrou o punho direito, onde ninguém podia ver. Parece que Ainzach não estava
mais tão tenso. Ele estava certo disso.

“Então, chegou a dizer a eles que eu os visitaria amanhã?”

“Não, eu não o fiz. Eu queria ouvir sua opinião sobre isso, Vossa Majestade. Devo usar
seu nome, Vossa Majestade?”

Capítulo 3 O Império Baharuth


250
“...Tudo bem, desde que não sejam humanos fofoqueiros. Já que eles são amigos seus,
deixarei a seu critério.”

“Entendido. Então eu não revelarei isso por enquanto.”

Depois de discutir detalhes como o tempo e assim por diante, Ainzach desceu da carru-
agem novamente.

Ainz se sentiu um pouco culpado por usá-lo como menino de recados. Embora soubesse
que este não era um mundo onde a idade importasse, Suzuki Satoru foi um homem tra-
balhador, e incomodava-o ordenar uma pessoa mais velha.

Agora eu entendo o porquê as pessoas não gostam de ter subordinados velhos.

Ele não teria tido problemas em encomendar alguém de uma empresa completamente
diferente. Por exemplo, se Ainzach fosse do Império, ele poderia apontar e ditar sem
nenhum problema. A razão pela qual Ainz não pôde fazê-lo foi porque ele chegou a ver
Ainzach como um de seus subordinados.

Eu preciso recompensá-lo adequadamente. As pessoas de Nazarick não pedem pagamento,


mas são uma exceção. Se eu esquecer isso, eles vão pensar que sou um governante terrível.
Eu não devo me tornar o chefe de coração negro.

Ainz jurou isso para a voz do Herohero em sua mente.

Embora, quando se trata da recompensa do Ainzach... quanto devo pagar a ele? O mesmo
que um aventureiro mythril? Não, deveria haver um subsídio de dever também... então ou-
tros cinco porcento em cima disso? Existe alguém que eu possa perguntar sobre o quanto
é apropriado?

Ele poderia discutir isso com Demiurge ou Albedo, mas não ficou claro se os dois tinham
alguma idéia de que tipo de pagamento era apropriado. Ele tinha a sensação de que eles
responderiam com algo do tipo “Ele deveria estar feliz em servi-lo, Ainz-sama”.

Como esperado... eu preciso encontrar um humano sábio. Fluder disse que estava muito
confiante em seu conhecimento mágico, mas que não sabia quase nada sobre outros assun-
tos.

Nazarick era indiscutivelmente invencível, mas ele se sentia desconfortável com sua
falta de conhecimento sobre a sociedade humana.

...Então eu vou começar a usá-lo até que alguém melhor venha? Eu acho que concordar
com a proposta do Demiurge foi a escolha certa. Claro, eu não tinha intenção de negar
quando ele falou...

Quando Ainz se afastou em contemplação uma vez mais, alguém bateu na porta.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


251
“Perdoe o atraso, Vossa Majestade.”

Não é como se eu estivesse contando os segundos...

No entanto, Ainz decidiu permitir que Ainzach continuasse, com uma atitude magnâ-
nima que melhor se adequava a um governante.

“Como o senhor desejou, a nomeação foi feita para se reunir às dez da manhã de amanhã,
Vossa Majestade.”

“Uhum. Então, há apenas a questão de esperar até amanhã... Logo mais, usarei magia de
teletransporte para enviar você para E-Rantel. Relaxe e aceite a magia. 「Greater Tele-
portation」.”

O corpo de Ainzach desapareceu em um instante.

A magia 「Greater Teleportation」 o transportaria com segurança até a entrada de E-


Rantel. Mesmo se houvesse alguém no destino, a magia iria depositá-lo no local seguro
mais próximo, de modo que não havia necessidade de verificar o destino com alguma
outra magia.

“Então, eu devo contatar aquele cara com 「Message」.”

Ainz murmurou para si mesmo. Esta foi uma tarefa desagradável, então ele fez isso para
se recompor.

Ele estava enviando a 「Message」 para Fluder, que havia oferecido tudo para ele. A
razão pela qual estava enrolando para dar ao homem o que havia prometido, era porque
Ainz não se sentia confiante em dar exatamente o que àquele velho desejava.

Fluder queria que Ainz lhe ensinasse tudo o que sabia sobre magia.

No entanto, o poder de Ainz não veio do estudo da magia.

Talvez se fosse em YGGDRASIL, ele poderia estar qualificado para falar sobre magia.
Infelizmente, o sistema mágico deste mundo funcionava um pouco diferente do de
YGGDRASIL.

Como eles aprenderam as mesmas magias de maneiras diferentes? Ele havia se feito essa
pergunta muitas vezes, mas não conseguiu encontrar uma resposta. Além disso, havia
uma verdadeira montanha de outras perguntas não respondidas. Na pior das hipóteses,
ele teve que considerar que ele não poderia usar seus poderes vindos dos tempos de
YGGDRASIL.

Capítulo 3 O Império Baharuth


252
Talvez ele pudesse encontrar a resposta usando a opção de drenagem de nível da magia
de Super-Aba 「Wish Upon A Star」. Neste mundo, essa magia poderia alterar a própria
realidade e, ao drenar vários níveis, poderia realizar um grande desejo.

No entanto, essa seria uma aposta muito arriscada.

Não se sabia se ele encontraria a resposta, mesmo que a usasse. Era muito provável que
ele estivesse perdendo esforço. Mais importante, ele estava com medo de usar uma ma-
gia que se qualificava como um trunfo. Naturalmente, seria uma questão diferente se
tivesse uma maneira de obter grande quantidade de experiência, mas, infelizmente, ele
não havia descoberto tal coisa até agora.

Embora ele não tivesse pulmões, Ainz fez “Haaah~” enquanto suspirava. Ele tinha a ati-
tude de um vendedor que estava preparado para se desculpar por não entregar as mer-
cadorias solicitadas a um cliente enquanto conjurava a magia 「Message」.

“Fluder Paradyne. Sou eu, Ainz Ooal Gown.”

Uma vez que a mensagem chegou, ele continuou falando as palavras pré-arranjadas.

“Você nasceu no Vilarejo Belmous. Seu primeiro contato com a magia foi através de um
místico de seu vilarejo.”

『Ohhhh! És tu, Professor! Por muito tempo eu esperei isso!』

Ele podia sentir a gratidão de Fluder.

Essas palavras pré-arranjadas eram uma forma de código, porque Fluder dissera que
não havia como saber se a pessoa do outro lado da 「Message」 era uma amiga ou uma
estranha. Assim, eles conseguiram verificar sua identidade mencionando o nome (com-
binado previamente) deste vilarejo e de uma história do passado.

Ainda assim, mesmo depois de fazer isso, as dúvidas de Fluder sobre a magia 「Message」
permaneceram.

Ele deve ter entendido tudo errado.

Dito isto, não havia muito que Ainz pudesse fazer sobre isso.

Ainz fez sua resposta, sentindo-se um pouco intimidado pela intensidade ardente do
entusiasmo de Fluder.

“Perdoe o pequeno atraso. Eu acredito que é hora de te ensinar magia, como nós con-
cordamos. Você está livre agora?”

『Claro! Eu farei com que o tempo seja necessário para seus desígnios, Professor!』

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


253
Ainz queria dizer: “Você não precisa se esforçar tanto”, mas o entusiasmo de Fluder com
a magia era a expressão mais verdadeira da personalidade dele. Diante desse louco de-
sesperado pela magia. Por ter sido uma pessoa normal, Ainz não pôde deixar de se sentir
um pouco tonto.

Enquanto considerava essa grande tarefa, que parecia ser uma reivindicação de um cli-
ente difícil, seu estômago começou a doer.

...Meu estômago deve doer mais do que qualquer um aqui na Capital Imperial.

Ainda assim, ele não poderia atrasar mais.

Antes de se teletransportar para os aposentos de Fluder, Ainz decidiu verificar seu des-
tino com uma magia de adivinhação.

“Tudo bem. Vou agora conjurar 「Greater Teleportation」 para chegar aos seus apo-
sentos.”

『Ohhh! Não é 「Teleportation」, mas sim 「Greater Teleportation」! Atrevo-me a


perguntar, mas a qual categoria de magia ela pertence?』

“...Vamos deixar isso para mais tarde. Afinal, 「Message」 não durará para sempre.
Nem tenho níveis em profissões do tipo Comandante... Ainda assim, gostaria de lhe per-
guntar uma coisa antes disso. Que tipo de contramedidas anti-adivinhação você tomou?
Que magias você lançou? Como você as lançou? Você fez alguma coisa contra o teletrans-
porte?”

『Nenhum, nada disso, eu não tomei tais medidas.』

As sobrancelhas inexistentes de Ainz se contorceram quando Fluder respondeu.

“Isso não é descuidado da sua parte...?”

Em outras palavras, tudo o que ele disse no quarto de Fluder poderia muito bem ser
vazado para um terceiro.

『Minhas sinceras desculpas. Mas não sou adepto nesse campo de magia.』

“Nesse caso, você deve usar itens mágicos para substituir isso, não? Eu vi muitos itens
mágicos na Capital Imperial, todos supostamente feitos por você.”

Ainz lembrou o que viu quando veio pela primeira vez à Capital Imperial. Ele ficara sur-
preso pelo fato de que eles tinham coisas como refrigeradores à venda.

Capítulo 3 O Império Baharuth


254
『É como o senhor diz, mas como certamente deve saber, é preciso conhecer uma ma-
gia relacionada para fazer um item mágico. Por exemplo, é preciso conhecer a magia
「Fireball」 para fazer uma arma flamejante. E acontece que apenas algumas pessoas
estão dispostas a aprender magias anti-adivinhação...』

“Entendo...”

Ainz murmurou.

Em YGGDRASIL, normalmente só se pode aprender três magias por nível. Um persona-


gem de nível 20 seria capaz de aprender no máximo 60 magias. Seria muito difícil incor-
porar magia anti-adivinhação numa seleção tão limitada de magias.

Talvez aqueles que tinham conhecimento poderiam pensar que 60 era uma soma con-
siderável, mas se Ainz estivesse limitado a 60 magias de 3º nível, ele provavelmente teria
que passar o dia todo se preocupando com suas escolhas.

Isso porque ele tinha que considerar usos futuros, se ele mudaria ou não sua profissão
e assim por diante. Havia muitas coisas que precisavam ser planejadas e antecipadas.

Desse ponto de vista, sua repreensão a Fluder foi doce e triste.

“Na verdade, eu me expressei mal. É como você diz. Magia de adivinhação seria neces-
sariamente uma prioridade menor quando se estuda magias ofensivas e defensivas.”

No jogo, ele poderia dizer: “Eu aprenderei, então trate de aprender também” e resolveria
facilmente as coisas. No entanto, a escolha de magias era uma decisão de mudança de
vida para as pessoas deste mundo. Seria preciso uma pessoa muito corajosa para apren-
der uma magia impopular.

Além disso, os estudos de adivinhação de magia eram bastante profundos. Era necessá-
rio antecipar os meios que o inimigo usaria para coletar informações.

Simplificando, tornar-se um especialista em adivinhação era algo em que alguém esta-


ria disposto a dedicar a vida inteira estudando.

“Bem. Então eu lhe darei o item anti-adivinhação que possuo. Use isso para se proteger
no futuro.”

『Sim!』

Mesmo sem ver, ele poderia dizer que a cabeça de Fluder estava profundamente abai-
xada. Por tudo que ele sabia, ele poderia até estar se ajoelhando.

『Eu certamente recebi suas palavras amorosas, Mestre!』

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


255
Relaxa... é só um item... Ainz queria dizer, mas continuar pensando isso só incomodaria
a paz de seu coração.

“Ah, ahhh... Então eu vou observar o cômodo que está.”

Ainz conjurou sua magia nos aposentos de Fluder.

Ele olhou para baixo, para a genuflexão de Fluder.

Então, ele decidiu verificar auras mágicas, e como esperado de Fluder, havia muitas co-
res diferentes no ambiente. No entanto, nenhuma delas parecia uma cor perigosa que
impedisse o teletransporte. Depois de verificar isso, ele lançou 「Greater Teleporta-
tion」.

Seu campo de visão mudou, mostrando que ele havia se teleportado com sucesso para
os aposentos de Fluder. Embora não houvesse atrasos, nem tivesse sentido que alguém
o espionasse, ele tinha certeza de que não havia entrado em alguma base inimiga, mas,
ainda assim, ele deu uma rápida olhada em volta de si mesmo.

Na verdade, não havia necessidade de ficar tão preocupado. Mas o breve período de
vulnerabilidade após o teletransporte era o momento mais oportuno para ser atacado.
Essas ações de proteção — para se defender contra PKed — foram feitas há muito tempo,
quando era o mero assalariado Suzuki Satoru.

“Eu ofereço-lhe boas-vindas, meu Professor.”

“...Levante sua cabeça.”

Ainz ordenou a Fluder. Com toda a honestidade, não havia necessidade de ele ir tão
longe.

Esse tipo de lealdade — ou melhor, sede de conhecimento que levava ao desejo de obe-
decer — era anormal.

Foi muito semelhante ao modo como as pessoas de Nazarick agiram. Embora Ainz ti-
vesse finalmente começado a se acostumar com esse tipo de coisa, ver isso de alguém
que ele mal conhecia o fez querer se afastar.

“Sim!”

“Falar em pé não é bom. Eu vou me sentar.”

“Sim! Tudo o que tenho é seu, Professor. Por favor, sente-se em qualquer lugar que de-
sejar!”

Capítulo 3 O Império Baharuth


256
Sentimentos complexos de se acostumar ou não a isso corriam pelo coração de Ainz
quando ele se sentou no sofá. No entanto, Fluder não se sentou em frente a ele. Em vez
disso, permaneceu como estava, no chão com a cabeça erguida.

“Está bem. Sente-se.”

“T-tem certeza? Isto é, para eu me sentar da mesma maneira que o senhor, Professor?”

“...Você deve ter discípulos também, ou estou enganado? Você os trata assim também?”

Esse tipo de atitude esportiva alarmou Ainz, o que provocou essa pergunta. Em resposta,
Fluder sacudiu a cabeça.

“Não é assim, mas a diferença entre o senhor e eu é maior que o céu e a terra, Professor.
Temo até mesmo comparar meus meios com os seus—”

“—Está bem. Eu concedo a você permissão para se sentar. Vamos, sente-se.”

“Sim!”

Após se certificar de que Fluder estava sentado, Ainz pensou:

Minha barriga realmente dói quando ele fala assim.

“Primeiro, como está a questão do meu pe—”

Ele mudou de idéia na metade da palavra “pedido”.

“—Que eu ordenei para você juntar? Quero dizer, fazer um registro escrito das infor-
mações confidenciais do Império sobre vários países.”

“Sim! A maioria das informações relativas aos países vizinhos já foi concluída. Con-
tudo—”

“O que aconteceu? Existe algum problema?”

“Sim! Ou melhor, devo dizer, como esperado do Imperador.”

Um olhar de orgulho cruzou seu rosto. Era a expressão que um professor pode ter em
relação a um excelente aluno.

“Ele parece ter notado minha traição.”

Era natural que os funcionários jurassem não revelar os segredos de sua antiga em-
presa antes de pular para outra empresa. Com isso em mente, Ainz era um vilão por fazer
Fluder alimentar-lhe com informações confidenciais sobre o Império.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


257
Claro, Ainz sabia que ele não administrava uma empresa, mas sim um país. Nada estava
fora dos limites em prol da prosperidade de sua nação — para a felicidade das pessoas
que pertenciam à Grande Tumba de Nazarick.

Ainz não guardou rancor contra Jircniv. No entanto, isso não significava nada em com-
paração com o bem-estar de seu próprio país. Se a desgraça dele fizesse o Reino Feiti-
ceiro prosperar, ele simplesmente o faria sofrer.

Dito isso, Ainz ainda preferia a coexistência e a prosperidade mútua em relação ao con-
flito.

Punitto Moe disse uma vez algo sobre as condições de Sr. Nash sendo prisioneiro e algo
nesse sentido, mas a essência era que, se as oportunidades fossem ilimitadas, a coope-
ração colheria os maiores benefícios para todas as partes envolvidas.

Ainz sabia que as relações internacionais eram basicamente uma questão de exploração
mútua de ambas as partes envolvidas, mas ele queria manter um bom relacionamento
com Jircniv.

Eu mantive o número de vítimas Imperiais no mínimo em troca da servidão de Fluder,


então provavelmente estamos em empate. Eu sinto uma sensação de proximidade com ele
agora. Deve ser por causa de todas as vezes que eu espiei ele.

“...Precisa de algo, Professor?”

“Er, hum, nada. Apenas pensando em certos assuntos.”

“Mesmo? Minhas mais profundas desculpas por interromper seus pensamentos, Pro-
fessor!”

“Não há necessidade de se desculpar. Estou aqui hoje por sua causa.”

“Ohhh! Muito obrigado Professor!”

Por que ele está me agradecendo tão vigorosamente?

Embora Ainz estivesse intrigado, ele finalmente conseguiu colocar o tópico de volta nos
trilhos.

“Ah— sim, o fato de você ter sido descoberto. Bem, tudo bem para você ser exposto,
mas há um problema. Isto é, sua segurança.”

“Ohh! E pensar que estaria realmente preocupado com a segurança de alguém como eu,
Professor!”

Capítulo 3 O Império Baharuth


258
Por que esse velho precisa reagir a tudo? O dever básico de um chefe é cuidar do bem-
estar de qualquer pessoa que não pretende descartar. Ou eles fazem as coisas de maneira
diferente no Império? Se for isso, seria bem assustador... Bem, eu poderia matar pessoas
que me atrapalham, mas matar alguém que já foi meu subordinado ainda é...

“Fluder, é como diz. Mas não fique muito animado. Seria estranho se alguém ao seu re-
dor percebesse.”

“Isso não será um problema. Este andar é exclusivamente para o meu uso. Ninguém
mais está por perto.”

Ele veio aqui antes. Dito isto, esta torre era bastante grande, por isso não era de admirar
que o maior magic caster do Império tivesse recebido um andar inteiro para si mesmo.

“De volta à questão de sua segurança pessoal. Alguém tentou te matar depois que sua
traição veio à tona?”

“Nada do tipo. No entanto, minhas responsabilidades diminuíram constantemente e,


embora o Imperador tenha me consultado com frequência no passado, ele não me con-
vocou desde que voltou do glorioso domínio que governa, Professor.”

“Entendo... Então, Fluder. Você quer vir para o meu lado?”

“Ohhh! Com prazer!”

Ele respondeu sem nem pensar...

“Então, depois de considerar sua profissão— não, antes disso, há algo que devo fazer.
Isso diz respeito à sua recompensa.”

Depois de dizer isso, Ainz expirou e depois enfiou a mão na dimensão de bolso. Ele en-
saiara o fluxo da conversa que se seguiria muitas vezes, zombando das palavras en-
quanto as corrigia.

Embora Ainz não tivesse como ter certeza se Fluder reagiria como imaginou, ele já ha-
via treinado bastante.

“Conforme combinado, vou agora transmitir uma parte do meu conhecimento para
você. Aceite e estude este livro.”

Ainz entregou um livro chamado “The Book of the Dead” para ele.

Era um volume bastante antigo, que emitia um cheiro de mofo. Surpreendentemente, o


livro em si era muito robusto, sem vestígios de ser comido por traças.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


259
Fluder — com mãos trêmulas — aceitou o livro que Ainz ofereceu. Ainz estava feliz por
ser undead. Se ele ainda fosse humano, o livro poderia estar tremendo sem parar pelo
nervosismo.

O objetivo de Fluder era vasculhar o abismo da magia, mas Ainz não sabia qual era o
abismo da magia. Ele poderia ensiná-lo sobre YGGDRASIL, mas o abismo da magia ou
algo parecido já era outro assunto inteiramente diferente.

Dito isto, não dar a ele seria uma traição de sua lealdade. Era preciso retribuir o bem
para o bem e recompensar o serviço leal. Assim, Ainz havia lhe dado um livro de sua
coleção, que parecia ser o mais provável de conter os segredos do conhecimento mágico.
As partes que ele havia folheado pareciam conter algo sobre magia que ele não conseguia
entender.

“Eu rogo para que perdoe.”

Fluder estendeu a mão para o livro, e essa expressão encantada logo se transformou em
desespero depois de folhear algumas páginas.

“—Qual o problema? Não é isso que procurava?”

Ainz suprimiu seu desconforto quando fez essa pergunta. Tudo bem, mesmo que não
fosse o que ele queria. Ele já havia praticado para essa eventualidade.

“Não, não é nada disso. Eu simplesmente não consigo ler.”

“Ah, entendo.”

Ainz pegou o livro de Fluder, folheou e parou em uma determinada página.

“Este capítulo diz respeito à transformação dos mortos em almas; especificamente, essa
seção sobre heterogeneidade.”

Estava escrito em japonês, então obviamente Fluder não conseguia entender. Con-
tudo—

Isso parece mais um livro de referência para um mundo de fantasia do que um romance
de fantasia. E que droga seria essa coisa de “heterogeneidade”? E há algo sobre almas como
nuvens e assim por diante. Parece muito difícil e eu não consigo envolver meu cérebro com
isso. Parece que eu posso apenas arranhar a superfície... Será que eu não consigo entender
este livro, mesmo que eu possa ler?

Os livros eram como o ocultismo, ou melhor, este livro era praticamente um volume
sobre ocultismo. Para Suzuki Satoru, que não tinha conhecimento neste campo, tudo o
que viu foi uma coleção de coisas sem sentido. Ainda assim, tudo isso parecia ter sido

Capítulo 3 O Império Baharuth


260
retirado de algum tipo de mitologia. Se Tabula Smaragdina estivesse por perto, ele pro-
vavelmente seria capaz de explicar isso a ele.

“Ohhh!”

O sentimento de culpa no coração de Ainz cresceu enquanto observava Fluder olhar


para ele com olhos alegres.

“De fato... Bem, eu não posso dar isso a você porque eu só tenho um conjunto, mas ex-
perimente isso.”

Ainz colocou um par de óculos sobre o livro e devolveu. Fluder colocou e rapidamente
folheou as páginas.

“Is-isto é! Está dizendo que as almas são entidades como a espuma deixada pelas ondas
deste grande mundo e, portanto, sejam grandes ou pequenas, elas são fundamental-
mente as mesmas. Isso signifiiiiiiiica!!!”

Hieh~ ele ficou maluquinho.

Até mesmo Ainz ficou surpreso ao ponto de quase se encolher.

A maneira como os olhos de Fluder estavam bem abertos e vermelhos, e com uma res-
piração como a de uma fera selvagem, fazia parecer que ele estava prestes a atacar al-
guém.

“O, o que achou?”

Os olhos de Fluder se alargaram e olharam diretamente para Ainz.

“Isso, isso é incrível, Professor! Este é o conhecimento que eu buuuscooooo! Hyaaaaah!”

A surpresa que sentiu da mania do velho ultrapassou um limiar predeterminado, e Ainz


rapidamente se acalmou novamente.

“—Mesmo. Então, me devolva os óculos.”

“Quê! Mas isso...”

“Considere a tradução desse livro para ser seu treinamento. Uma vez que possa enten-
der e digeri-lo, você será capaz de colocar os pés em um domínio maior. Seria inútil você
usar esses óculos.”

“Como isso poderia ser... Então, posso ter a permissão para dar uma olhada superficial
no livro usando os óculos?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


261
“Uma página já foi o suficiente. Mas se você continuar depois disso, isso afetará negati-
vamente o seu crescimento.”

Fluder fechou o livro com um *patan* e fechou os olhos.

Depois de alguns segundos, ele abriu os olhos e falou. A voz voltou ao normal.

“Entendido. Eu vou respeitar seus ensinamentos, oh Professor. Posso buscar sua ajuda
se houver assuntos que eu não entenda?”

“U-uhum. Desde que esteja ao meu alcance responder.”

“Muitíssimo obrigado!”

Fluder removeu os óculos e os devolveu para Ainz.

Excelente! Eu não vou ouvir nada de Fluder por um tempo agora. Ah, eu preciso instruí-lo
sobre isso primeiro. Isso... como direi isso...?

Ainz lutou para abrir os cofres de sua memória. Então, em tons solenes e pesados —
que faziam pensar na voz que um líder teria — Ainz falou:

“Fluder.”

“Sim!!”

“Eu confiei a você este livro arcano pois tenho confiança em ti. Tenha a certeza de nunca
deixar que caiam nas mãos de terceiros. O mesmo se aplica a todas as notas que você
fizer para estudá-lo. Nada sobre este livro pode se espalhar.”

“Sim!!!”

“Não há necessidade de lhe dizer a razão disso, mas este é o conhecimento que supera
o que os humanos podem compreender. Seria muito problemático se outros soubessem
disso... Embora alguém com suas habilidades seja bem difícil de falhar. Eu não quero ter
que limpar sua sujeira daqui dez anos.”

“Mas é claro. Eu não vou vazar nenhum conhecimento que eu tenha obtido do senhor
para os outros. Eu juro.”

“—Eu confio em você, Fluder. Não me desaponte.”

“Sim!!!!”

Fluder se levantou da cadeira e se ajoelhou no chão.

Capítulo 3 O Império Baharuth


262
Ainz queria dizer que não havia necessidade de chegar a esse ponto, mas isso também
era prova de quão eficaz foi seu comportamento majestoso. Ainz não pôde deixar de se
sentir orgulhoso por suas horas de atuação e vocalização terem sido bem aproveitadas.

“Já chega. Já que entende, não há mais nada a dizer. Volte para o seu lugar. Lembre-se,
será muito difícil para você decifrar uma linguagem desconhecida sem qualquer ajuda.
Possui alguma maneira de superar isso?”

“Sim! Eu posso usar uma magia de tradução, embora sua eficácia seja muito limitada.
Acredito que, com isso, posso decifrar o texto lentamente.”

“Oh. Surpreendente! Maravilhoso.”

Essa resposta foi exatamente o que Ainz queria ouvir. Lentamente dando a ele a prática
apropriada, ele seria capaz de ganhar tempo para si mesmo. Além disso, um problema
como esse não seria suficiente para fazer Fluder desistir.

“Então deixarei em suas mãos— não, há mais uma coisa. Vou lhe emprestar uma caixa
para guardá-lo. Não acho que você será descuidado, mas alguém pode querer roubá-lo
de você.”

Ainz retirou uma caixa da dimensão de bolso. Era o mesmo tipo de item que ele usava
para armazenar seu caderno de anotações.

“Depois de armazenar o livro aqui, mesmo que essa caixa seja roubada, levará algum
tempo para abri-la. É claro que tudo será em vão se alguém ouvir a palavra chave... então
tenha cuidado.”

“Claro, Professor! Eu nunca farei nada assim!”

“Ótimo.”

Ainz desviou o olhar de Fluder — que estava acariciando o livro em deleite — para o
teto. Agora, do que ele falaria a seguir?

“Ah, isso mesmo. A questão de sua traição veio à tona, sendo assim, virá para meu do-
mínio. Quando você pode sair?”

“Se assim deseja, Professor, posso sair a qualquer momento. Eu não tenho apegos a este
país.”

Ainz mentalmente franziu as sobrancelhas.

Ele não tinha idéia do que dizer para alguém que pudesse descartar casualmente sua
posição de confiança. Pois ele poderia fazer o mesmo com Ainz no futuro.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


263
Ainz fez várias anotações de alerta sobre Fluder com uma caneta vermelha no livro em
seu coração.

“...Então, Fluder. Desejo que você participe da pesquisa mágica do Reino Feiticeiro. No
entanto, suas magias não serão colocadas em circulação. Elas só serão compartilhadas
comigo e aqueles em quem confio. Pode suportar isso? Você pode abandonar seu desejo
pela fama?”

“Não haverá problema algum. A única coisa que desejo é vislumbrar os segredos da ma-
gia. Eu não desejo mais nada.”

Ainz observou Fluder a sério, um homem que poderia fazer tal afirmação.

Ainz não tinha capacidade de avaliar o caráter de uma pessoa. Como seres humanos,
era óbvio que Fluder — um sábio genial que havia vivido muito além do alcance de um
ser humano normal e que estava profundamente envolvido nas operações da vasta na-
ção chamada Império — era superior a ele. Não havia como ele ver através de qualquer
tentativa de Fluder de enganá-lo.

No entanto, sendo incapaz de ver através de tais coisas e, não tentar ver através de tais
coisas, eram dois assuntos diferentes. Com essa atitude em mente, Ainz olhou para Flu-
der e, no final, ele simplesmente disse:

“Ótimo. Eu lhe confio todos os poderes e privilégios do seu escritório assim que chegar
ao Reino Feiticeiro. Eu também pretendo ajudá-lo com a pesquisa mágica, tanto quanto
possível. Então—”

Agora, haveria mais uma pessoa ajudando Nazarick, além dos Bareares. Se ele pudesse
obter a mulher que Demiurge e Albedo haviam recomendado, Nazarick seria ainda mais
fortalecida.

Ele tinha que aumentar seu poder tanto quanto possível, já que não sabia a verdadeira
face do inimigo.

O inimigo possuía um Item World-Class, então ele precisava obter um poder além dos
de YGGDRASIL o mais rápido possível. Ele tinha que assumir que qualquer coisa que
pudesse fazer, o inimigo também poderia.

No entanto, havia mais um problema.

Isso seria, como ele protegeria o Império?

Demiurge sentia que o Império era um inimigo em potencial, mas Ainz não achava isso.

Embora o futuro não fosse claro, o uso da força bruta na conquista mundial não seria
uma decisão sábia. Se o Reino Feiticeiro fosse pintado como uma nação que aniquilasse

Capítulo 3 O Império Baharuth


264
todos que se opusessem, países que poderiam ser amigos provavelmente acabariam
sendo inimigos.

Sendo esse o caso, por que não formar uma amizade profunda com seu colega ditador,
Jircniv, e enviar essa mensagem para os subordinados?

Dessa forma, poderei minimizar a força que o Demiurge e os outros querem usar na con-
quista do mundo. Que plano brilhante. Mais do que a aliança de nações, ou a aliança de
guildas... amizade?

As formas de seus amigos heteromórficos apareceram na mente de Ainz.

Mas como devo fazer amizade com ele? Comprar as pessoas com objetos não é o jeito certo
de fazer amigos, certo... Então, proteger o Império é a coisa mais preciosa para Jircniv, esse
deve ser o melhor caminho. É bem provável que meus inimigos voltem suas atenções para
isso.

Ele se colocou no papel das pessoas que fizeram lavagem cerebral em Shalltear. Se eles
usassem os métodos usados por Ainz, então—

Na pior das hipóteses, eles podem usar o 「Iä Shub-Niggurath 」 na Capital Imperial.
Todo mundo pensaria que sou o responsável, independentemente do verdadeiro culpado...
Então, eles espalhariam essa notícia em todo o mundo. Isso diminuiria muito a influência
do Reino Feiticeiro.

Ainz lembrou seus dias de YGGDRASIL.

Era tolice lutar diretamente contra uma guilda poderosa, então era bastante comum
instigar guerras com outras guildas para enfraquecer a influência da poderosa guilda.
Esses métodos provavelmente seriam aplicáveis aqui. Ainz provavelmente faria isso se
colocado nessa situação, e assim era muito provável que seu inimigo fizesse a mesma
coisa.

A fim de evitar que esse tipo de coisa acontecesse, Ainz considerou permitir que Fluder
espalhe rumores de que ele não poderia usar essa magia novamente, claro, era tudo
mentira. No entanto, Fluder não podia mais ser usado, então ele teve que considerar al-
gum outro método.

Isso é praticamente proibir o transporte de objetos perigosos do tamanho da palma da


mão... Como esperado, precisarei discutir o assunto com o Demiurge, talvez ordenar que
ele pense em uma maneira de lidar com isso. Será que ele não acharia estranho? Ah, que
problemático, não consigo achar uma saída.

Se ao menos ele pudesse entregar tudo para aqueles dois. No entanto, se ele fizesse isso,
prejudicaria sua imagem como um governante absoluto. Ele teve que pensar em uma
maneira de resolver seus problemas, mantendo sua posição.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


265
“Professor, o que está errado?”

“...Fluder, pretendo proteger o Império por algum tempo. Você tem alguma idéia?”

“...Posso saber o porquê pergunta, meu senhor?”

“Conquistá-lo seria fácil, mas não tenho interesse em ficar no topo de uma pilha de es-
combros. Desejo manter o Império intacto e, por isso, gostaria de evitar a perda do poder
de luta que resultaria quando eles o perderem.”

As rugas de Fluder se aprofundaram.

“É difícil responder a essa pergunta imediatamente. Eu acredito que não haverá proble-
mas por um tempo, mesmo que eu não esteja por perto. Ainda assim, também é verdade
que ninguém pode preencher o vazio que eu deixarei... Se estiver bem, então ficarei por
enquanto.”

“Está disposto a fazer isso? Então, entrarei em contato com você amanhã, depois que as
discussões estiverem concluídas.”

“Sim!”

“Certo, há mais duas coisas que quero te perguntar. Primeiro, gostaria de saber os de-
talhes do Senhor Marcial. A segunda questão diz respeito aos Death Knights...”

♦♦♦

Quando o tempo marcado se aproximava, Ainz lançou uma magia de detecção. Normal-
mente, ele teria acumulado numerosas magias defensivas em si primeiro, mas seria
muito cansativo gastar muitos pergaminhos valiosos. Ao contrário de como as coisas fo-
ram no cemitério, quando ele tinha certeza de que havia hostis presentes, Ainz simples-
mente conjurara sua magia.

Dito isto, ele escolheu um lugar onde qualquer contra-ataque não atingiria os outros.

Uma cena diferente apareceu em seu campo de visão. Esse era o interior de uma carru-
agem. Ainz manipulou o ponto de vista flutuante e observou o exterior da carruagem.

Então, Ainz conjurou 「Greater Teleportation」.

O teleporte aconteceu sem incidentes, e Ainz abriu a porta. Ainzach, que estava sentado
lá dentro, teve uma expressão de choque no rosto. No entanto, Ainz despreocupada-
mente embarcou, fechou a porta e dissipou a magia de invisibilidade que ele havia lan-
çado sobre si mesmo.

Capítulo 3 O Império Baharuth


266
“Como eu pensava, era Vossa Majestade. Embora eu entenda a necessidade de sigilo, o
senhor poderia, por favor, não usar magia de invisibilidade na próxima vez?”

“Se eu não usar invisibilidade, serei visto, não?”

“Apenas a máscara de Vossa Majestade já resolveria isso, estou errado?”

“Na verdade, pode ter razão, mas eu usei uma magia de teletransporte. Eu gostaria de
evitar ser arrastado para assuntos problemáticos.”

“De fato...”

“Bem, já que você entende, vamos sair?”

“Tudo bem. Vamos partir.”

A carruagem passou pelo portão aberto e chegou ao local designado pelo porteiro. Esta
era uma área de estacionamento que poderia acomodar várias carruagens.

“Então, vamos prosseguir.”

Ainz saiu da carruagem após Ainzach.

Um senhor de idade em um uniforme de mordomo esperava por eles lá. Ele estava
acompanhado por uma empregada.

Embora parecesse um mordomo, não se portava de forma tão firme quanto Sebas. Ele
parecia um homem muito comum, embora bem-educado. O mordomo era humano, mas
o mesmo não poderia ser dito da empregada.

Um par de orelhas adornava o topo da cabeça da empregada; não ouvidos humanos,


mas ouvidos de algum tipo de animal. Embora fosse difícil ter certeza, uma vez que es-
tavam obscurecidos por cabelos, não havia qualquer relevo no local onde os humanos
normais tinham seus ouvidos. Ela tinha um rosto bonito, mas não o mesmo tipo de be-
leza de humanos — mais como um animal fofo.

“Bem-vindo, Ainzach-sama e— Vossa Majestade o Rei Feiticeiro, eu acredito. O mestre


os espera. Por favor, permita-nos liderar o caminho. Posso pedir que siga atrás de nós?”

“Qu—!?”

Depois que ele ouviu o discurso do mordomo, um grito estrangulado de surpresa esca-
pou da boca de Ainzach.

Ainzach havia dito na conversa de ontem que ele não traria a verdadeira identidade de
Ainz, então ele deve ter ficado chocado porque eles conseguiram adivinhar quem era

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


267
Ainz. Para Ainz, no entanto, isso não era nada para se alarmar. Sua máscara poderia ter
escondido seu rosto, mas ele não havia mudado de roupa. Qualquer pessoa com uma boa
rede de informações teria ouvido falar dele. Nestas circunstâncias, não responder seria
grosseiro.

“Obrigado. Então, por favor, mostre o caminho.”

“Com sua licença, Majestade.”

O mordomo abaixou a cabeça. Um segundo depois, o mesmo aconteceu com a empre-


gada.

Depois que os dois começaram a andar, Ainzach disse calmamente a Ainz:

“Muito obrigado, Vossa Majestade.”

O agradecimento foi porque Ainz havia respondido ao mordomo.

Ainz queria dizer, Não há necessidade disso, mas no final ele aceitou o agradecimento
em silêncio.

Para Suzuki Satoru, um superior deveria cobrir seus subordinados se este cometesse
um erro. O agradecimento de Ainzach foi uma reação natural. Foi um passo inevitável
em seu crescimento futuro como um dos subordinados de Ainz.

Mais uma vez, Ainz percebeu que ser um chefe não era nada relaxante.

De repente, Ainz percebeu que ele nunca havia dito “Obrigado”, enquanto no papel de
um governante.

Eu preciso encontrar um tempo para agradecer aos Guardiões e a todos os NPCs. Eu pre-
ciso mostrar meu apreço por todo o trabalho que fazem.

O objetivo de Ainz era administrar a Grande Tumba de Nazarick como uma companhia
benevolente. Mesmo quando ponderava ociosamente o assunto, ele não parou de se mo-
ver, mas continuou caminhando em direção à onde ele estava sendo conduzido.

“Queria ressaltar que, foi bastante surpreendente encontrar uma Rabbitman, Vossa Ma-
jestade.”

Não seria melhor discutir esse tipo de coisa depois que a pessoa em questão fosse embora?

Ainz pensou isso, mas o tópico o interessou, então ele decidiu seguir com o fluxo.

“Então não deveria ser uma Rabbitwoman?”

Capítulo 3 O Império Baharuth


268
“É... bem... o nome da espécie dela é Rabbitmen.”

“Ainzach, foi apenas uma piada. Não precisa levar isso tão a sério.”

“...Pode ser que ela tenha vindo mais ao leste da Aliança Cidade-Estado. Que exótica.”

“Hm...”

Ainz não tinha idéia do quão longe ficava “mais ao leste da Aliança Cidade-Estado”. Suas
informações ainda não abrangiam regiões tão distantes.
[Homem-Coelho]
Ainda assim, ele não tinha visto nenhum no Reino, e ela era a única Rabbitman que ele
encontrou na Capital Imperial.

Deve ser difícil viver em um lugar sem outros membros da mesma espécie, mesmo sem
considerar a discriminação de outras raças.

Ainz estava curioso e queria fazer-lhe algumas perguntas, mas ele não podia fazê-lo.
Seria problemático se tocasse algum assunto delicado durante a conversa.

Em pouco tempo, eles chegaram a uma casa.

“O mestre os espera. Por favor.”

O interior da casa era decorado com muitos artigos de armas e armaduras bem cuida-
das e oleadas para prevenir corrosão. Estavam limpos, livres de poeira e expostos em
fileiras organizadas.

Após uma inspeção mais detalhada, muitas das armas estavam arranhadas e amassadas.
Ficou claro que essas armas haviam sido usadas em combate real.

Em vez de exibir uma loja de armas, parecia que o dono da galeria exibia as armas de
seu glorioso passado.

Depois de um rápido olhar, Ainz ficou analisando uma espada.

Era a mais bela de todas as armas na sala.

Não havia sinal de dano na espada. Aparentemente o dono da galeria tinha um grande
apreço por ela, a julgar pela forma como foi colocada para ser a primeira coisa que al-
guém veria quando entrasse na sala.

“Isso te agrada?”

“Ah, realmente uma excelente coleção.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


269
Assim Ainz respondeu ao dono sentado no sofá — em outras palavras, o dono desta
galeria. O proprietário era corpulento e seu cabelo era cortado tão curto que se podia
ver o couro cabeludo.

Eles não se incomodaram com saudações, mas continuaram falando sobre armas.

“Então, qual a parte que o senhor mais gosta— ah, essa. Todos que entram aqui dizem
isso.”

Ainz atravessou a sala e parou diante da espada.

“Posso pegá-la?”

“Claro, faço questão.”

Ainz agradeceu e pegou a espada. É claro que cairia se ele realmente tentasse empunhá-
la seriamente, mas segurá-la estava bem.

Ele admirou a espada e então percebeu os caracteres gravados na lâmina. Essas letras
bizarras eram vagamente familiares para Ainz. Ele procurou suas memórias e finalmente
encontrou a resposta.

“Runas?”

“Ohhh! Como esperado de Vossa Majestade. O senhor conhece esses caracteres!”

O quê? Sério? ...As runas são comumente usadas neste mundo?

Runas eram um alfabeto que aparentemente tinha sido usado no passado do mundo de
Suzuki Satoru. O fato de que tais letras existiam neste mundo significava que era muito
provável que alguém do mesmo mundo como Suzuki Satoru os tivesse as espalhado aqui.
Assim, Ainz respondeu cuidadosamente:

“...Provavelmente, creio eu. Eu só conheço de relance. Não consigo criar itens com runas
encravadas. Posso saber qual ferreiro fez isso?”

“Ohhh, pergunta astuta. Essa espada foi forjada por um ferreiro rúnico do Reino Dos
Dwarfs na Cordilheira Azerlisiana. Tem cerca de cento e cinquenta anos. A lâmina pode
acumular eletricidade e há uma marca do fabricante na empunhadura. O senhor viu?”

O dono da galeria estava ao lado de Ainz.

O cheiro irresistível de colônia assaltou seu nariz.

“Esta é uma peça feita pelo mais famoso ateliê Dwarf, Stonenail.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


270
Um ateliê Dwarf? ...Parece que vou ter que aprender mais sobre isso.

“Hoh. Isso realmente parece algo digno de tal fama. Há mais algum exemplo de seu tra-
balho aqui?”

Ainz olhou ao redor e o homem riu com vontade.

“Hahahaha. Não, não aqui. Eu os guardo em outro lugar. No entanto, esta é a única peça
que tem um encanto tão poderoso.”

“Hoh.”

Ainz escondeu sua decepção enquanto ele discretamente se emocionava.

Dito isso, ele ainda aprendeu algo sobre o artesão chamado Stonenail. Ele tinha que ver
se havia um jogador lá.

“Ouvi dizer que as armas feitas pelos Dwarfs raramente circulam no mercado. E você
realmente tem mais coisa deles no estoque?”

Ainz mentalmente deu a Ainzach um joinha por fazer essa pergunta.

“Isso mesmo, Ainzach.”

O homem sorriu e continuou:

“Eu os arrebato sempre que acho em leilões. Recentemente, houve um aventureiro re-
almente persistente tentando me superar. Acabei pagando três vezes o que planejei ori-
ginalmente.”

Ainzach balançou a cabeça incrédulo, enquanto Ainz assentiu em aprovação. As coisas


funcionavam exatamente assim para um colecionador. Um estranho nunca seria capaz
de entender. Às vezes, até mesmo Ainz não entendia suas ações do passado.

Ainz queria continuar perguntando, mas no final ele decidiu devolver a espada ao seu
lugar original.

“Parece que fiquei encantado com a sua maravilhosa coleção sem cumprimentá-lo. Per-
doe minha falta de respeito.”

O homem ficou sorrindo de orelha a orelha.

“Vossa Majestade tem jeito com as palavras. Então, permita-me me reintroduzir. Eu sou
Osk, um mero comerciante.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


271
“Você certamente irritará os outros mercadores do Império se considera a si mesmo
como um mero comerciante. Eu continuo sendo o Rei Feiticeiro, Ainz Ooal Gown.”

“Não passa um dia sequer sem que eu ouça algo sobre seu poderoso nome. Por favor
sente-se. Farei com que os servos preparem bebidas.”

“...Embora seja uma oportunidade rara... não há necessidade de preparar minha parte.”

Os olhos de Osk não pareciam muito proporcionais à sua cabeça. Ele estudou Ainz com
aqueles olhos.

“Vossa Majestade, eu ouvi os rumores... mas eu poderia incomodá-lo para remover essa
máscara?”

“...Como este é um pedido do dono da casa, eu devo obedecer.”

Ainz tirou a máscara, revelando seu rosto nu.

Não houve surpresa no rosto de Osk. Seus olhos eram muito pequenos, então uma vez
que ele estreitou os olhos para sorrir, não havia como dizer se ainda estavam abertos.

“Ohhh... entendo, entendo...”

Osk assentiu várias vezes antes de falar novamente.

“Para falar a verdade, eu estava preocupado que eu não seria capaz de preparar o chá
capaz de satisfazer os gostos do renomado Rei Feiticeiro, mas parece que foi um esforço
desperdiçado da minha parte.”

Depois daquelas palavras alegres, a barriga de Osk tremeu de tanto rir.

“Diga, Osk. Como sabia que Sua Majestade viria comigo?”

“Ahhh, não foi difícil. Veja bem, E-Rantel está sob o controle de Sua Majestade. Quando
soube que o Chefe da Guilda dos Aventureiros de E-Rantel estava visitando, na compa-
nhia de alguém mais importante do que ele, apenas uma pessoa veio à mente. É verdade
que poderia ter sido algum outro confidente do Rei Feiticeiro, mas meus instintos me
disseram o contrário.”

“Então, é a minha vez de fazer perguntas agora? Você já usou as armas exibidas aqui?”

Osk riu da pergunta de Ainz.

“Como eu poderia? Vossa Majestade, considere meu corpo! Eu posso manejar um ábaco,
mas nunca uma vez eu manejei uma espada. Isso é apenas um hobby... Desde que eu era
criança, sempre admirei os fortes, além de espadas e outras armas.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


272
“Entendo...”

“Parece que o senhor entende. Agora eu tenho uma pergunta minha. Eu ouvi falar do
poder incontrolável de Vossa Majestade; foi que, devido ao longo tempo que viveu—
bem, suponhamos que conte como viver, certo?”

“Isso é correto. Claro, em comparação com a expectativa de vida de vocês, humanos.”

Assim que Ainz disse isso, ele pensou em algo. Que tipo de ser era o Rei Feiticeiro Ainz
Ooal Gown?

Obviamente, ele não poderia dizer: “Certamente que não, vocês dois são mais velhos
que eu”. Mesmo que dissesse isso, eles não acreditariam nele. Então ele deveria falar
enquanto estava na persona do Rei Feiticeiro. No entanto, se ele não bloquear os deta-
lhes exatos de sua persona, como Rei Feiticeiro, as coisas podem acabar dando errado.

Enfim, mas é um fato que os undeads vivem muito tempo. Se alguém perguntar o porquê
não sei certas coisas apesar de minha longa vida, posso responder que estava focado em
pesquisar magias. Usarei isso como um detalhe básico para o personagem do Rei Feiticeiro.

“Sendo esse o caso, o senhor possui armas das antiguidades?”

A julgar por essa pergunta, Osk não pretendia esconder sua curiosidade.

“Claro que sim. No entanto, não posso simplesmente dá-las a você, não é mesmo?”

“Por um valor adequado— não, vou tentar pagar três vezes o valor de mercado.”

Ainz não pôde rejeitar imediatamente. Isso porque ele se lembrava do estado precário
de suas finanças pessoais. No entanto, dificilmente seria digno para o governante de um
país dizer “Claro, vamos fechar negócio.”

“...O dinheiro não é exatamente atraente para mim.”

“Eu sinceramente peço desculpas. Dizer isso a Vossa Majestade — que é o governante
de um país — foi terrivelmente rude de minha parte... Então, o que posso oferecer para
estreitar os laços da troca?”

Então, ele quer dizer que recebeu uma recompensa pelo serviço meritório ao meu país, ou
algo assim? Hm? Bem, nesse caso...

Ainz pegou uma espada curta. Estava envolvida em um efeito de neblina ondulante. A
lâmina azul levemente translúcida era feita de metal cristalino de cor azul, e continha
pouca mana. Dito isto, a sua capacidade global classificou-a como um item High-class em

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


273
YGGDRASIL, e certamente seria mais poderoso do que o item mágico mediano neste
mundo.

“M-mas isso é—!”

Duas vozes gritaram essas palavras.

Os olhos de Ainzach se arregalaram quando ele olhou para a espada curta.

“Uhum...”

Ainz murmurou, antes de colocá-la na frente de Ainzach.

“Pegue.”

“Hah!?”

Mais uma vez, essas palavras foram ditas por duas vozes.

“Ainzach, isso é um presente pelo seu bom trabalho. Dito isto, isso não é um prêmio,
nem é para simbolizar sua posição, eu simplesmente senti que esse tipo de coisa é seme-
lhante à recompensa que gostaria de distribuir em minha nação ideal, então eu dou isto
a você. Se precisar de dinheiro, não há problema em vendê-la.”

Esta espada curta não continha dados suficientes para prejudicar Ainz. Nem era uma
das armas feitas por seus antigos companheiros de guilda e, portanto, não trazia consigo
lembranças.

“Eu— como eu poderia ousar aceitar tal...”

O corpo de Ainzach estremeceu incontrolavelmente.

“Isso não é nada incrível. Bem, se você não quiser, eu posso mudar para outra coisa
quando chegar a hora. Uma poção de cura, talvez. Isso deveria estar bem. O que você
acha?”

Ainzach hesitou por um tempo, mas no final decidiu manter a espada curta.

“Eu aceito de bom grado. Muito obrigado, Vossa Majestade! Eu continuarei servindo a
Vossa Majestade com toda minha força, com esforço que não será ofuscado por esta es-
pada!”

“Parabéns, Ainzach. Se você tiver algum problema, lembre-se de pensar nesse seu
amigo aqui.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


274
Osk olhou para a espada curta quando disse isso. Ainzach tinha uma expressão no rosto
como uma mãe ursa protegendo seus filhotes.

“Isso não vai acontecer. Nunca.”

Ainz decidiu mudar de tom.

“Bem, então. Vamos passar para o verdadeiro negócio.”

Osk relutantemente afastou os olhos do lenço que Ainzach usara para enrolar a espada
e respondeu:

“...Entendido. Posso perguntar o porquê o senhor agraciou minha humilde propriedade


com vossa presença?”

“Uhum... eu não pretendo ficar com verborragias. Deixe-me chegar ao ponto... Eu gosta-
ria que você organizasse uma luta com o Senhor Marcial da arena.”

Osk arregalou os olhos, mas logo eles voltaram à sua forma normal.

“Ouvi dizer que o Senhor Marcial não faz parte do pessoal da arena, mas sim um gladi-
ador que você criou desde que era criança. Ainzach me disse que você pode rapidamente
colocar uma luta em andamento se concordar em ter o Senhor Marcial lutando, e é por
isso que eu vim fazer esse pedido a você.”

“Fuhahahaha. Está falando sério, Vossa Majestade? O senhor sabe que o Senhor Marcial
é o homem mais poderoso da arena, com um corpo de monstro e excelentes habilidades
de luta? Ele pode ser o mais forte da história. Talvez Vossa Majestade também conte
indivíduos fortes entre seus seguidores, mas derrotá-lo é...”

Osk sacudiu a cabeça com orgulho.

“...Ele é mais forte que o Fluder?”

“Não, isso é da perspectiva de um guerreiro. Não é aplicável a um magic caster. Tudo o


que eles têm que fazer é voar e atacar repetidamente com magia e assim acabam com
tudo.”

Osk resmungou um pouco, talvez perturbando Ainz, e então Ainzach entrou na con-
versa:

“Uma vez, uma equipe de aventureiros subiu ao céu e venceu usando uma chuva de
magias e flechas contra ele à distância. Aquela luta foi muito decepcionante. Desde então,
a arena proibiu o teletransporte e a magia de voos.”

Então, Osk olhou para Ainz. Ele parecia ter se recuperado.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


275
“Ghrum! Bem, isso foi rude da minha parte, Vossa Majestade. Eu me lembrei de algumas
lembranças amargas... Então, voltando ao assunto, Vossa Majestade. Posso perguntar
quem pretende lutar contra o Senhor Marcial? Serão humanos?”

Ainz e Ainzach se entreolharam. Então, Ainz respondeu:

“Neste caso, seria eu mesmo.”

“...Eh!?”

“Eu, Ainz Ooal Gown, serei o oponente.”

Após um breve período de silêncio, Osk perguntou em pânico:

“M-mas, mas, mas o senhor não é o governante de um país, Vossa Majestade?”

“De fato, eu sou. E daí?”

“Eh? Não, isso é correto, mas... isso...”

“Ahh, eu entendo o que te preocupa. Você deve estar pensando, o que aconteceria se eu
me machucasse?”

“Seria ótimo se fosse apenas uma questão de se machucar...”

Osk murmurou baixinho. Ainz fingiu não notar.

“Não se preocupe. Não haverá problema, independentemente do que aconteça comigo.


Vou deixar uma prova escrita disso.”

“Mas se esse tipo de coisa acontecer, não vou mais poder fazer negócios. Ouvi dizer que
o Império é um aliado do Reino Feiticeiro. Se eu permitir que o Rei de um país aliado seja
gravemente ferido, o estado imporá restrições graves a mim.”

“Eu prometo a você — você não será incomodado por isso.”

“Mesmo se disser...”

Osk fez uma pausa para pensar, e então perguntou novamente:

“Essas palavras podem ser desagradáveis aos ouvidos, mas o senhor poderia oferecer
algo como garantia?”

“Uma garantia? Como o quê?”

Capítulo 3 O Império Baharuth


276
“...Por favor, me dê algo parecido com o que deu a Ainzach mais cedo. Se alguma coisa
acontecer, tudo ficará bem, desde que eu possa manter tal item.”

“Se isso é o que é preciso para satisfazê-lo, então farei essa promessa. Mas não posso
providenciar isso imediatamente. Eu prometo que terá algo até amanhã.”

“Muito obrigado, Vossa Majestade... Há também outro assunto que gostaria de discutir,
mas eu tenho medo de ser inapropriado.”

Ainz acenou, indicando que Osk deveria continuar.

“Como promotor, eu coleciono muita informação. Muitas dessas informações são rela-
tivas a seres poderosos que podem aparecer na arena ou monstros. Há também rumores
sobre Vossa Majestade— ouso perguntar se é verdade que Vossa Majestade matou de-
zenas de milhares de pessoas do Reino com uma única magia?”

“GHRUM!”

Ainzach tossiu de maneira muito artificial. Ele estava olhando para Osk com olhos re-
provadores, mas isso não era nada que tivesse que ser escondido, nem era algo para se
envergonhar.

“De fato, isso é verdade. Eu os matei com minha magia. Pretende me censurar por isso?”

“Não, eu estava simplesmente pedindo para avaliar a extensão dos poderes místicos de
Vossa Majestade. Afinal, se usasse aquela magia dos rumores, seria... muito ruim. Pois a
arena está dentro da Capital Imperial.”

“Não, não, eu não vou lançar uma magia como aquela.”

Mesmo Ainz não tinha intenção de usar tal magia no meio de um país aliado. Que tipo
de terrorista faria esse tipo de coisa?

“Claro, sinto o mesmo também. Ao contrário da imagem comum dos undeads, Vossa
Majestade é um homem nobre e racional. Eu não acredito que o senhor decretaria um
grande massacre por algum ódio aos vivos. Ainda assim, fazer suposições e deixar de
confirmar essas coisas pode levar ao fracasso.”

Ainz concordou com esse ponto também. Esse foi um dos perigos que surgiram ao per-
mitir que uma nova pessoa participasse. Na verdade, Suzuki Satoru já falhou assim no
passado.

“Suas preocupações são válidas. Permita-me ressaltar; não vou usar aquela magia.”

“Por que isso? É porque tem algo a ver com o alinhamento das estrelas?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


277
“Não está relacionado a—”

Uma lâmpada se acendeu na cabeça de Ainz.

“Bem, aquela magia é um dos meus trunfos mais poderosos. Como El-Nix-dono o dese-
java, eu fiz uma exceção, mas só posso usar uma vez a cada dez anos. Assim, devo con-
servar minha força.”

“Hoh!”

Um brilho estranho iluminou os olhos de Osk, e ele falou:

“Tem certeza que pode me dizer isso? Afinal, isso pode ser considerado uma fraqueza
de Vossa Majestade...”

“Está bem. Eu posso não ser capaz de usar uma magia destrutiva como aquela, mas aba-
ter todos os tolos que se opõem a mim ainda é fácil. Afinal, isso não significa que eu não
possa usar outras magias.”

“Como esperado de Vossa Majestade. Em outras palavras, o Senhor Marcial também


será um adversário fácil; é isso que está implicando?”

Depois que Ainz assentiu com confiança, um sorriso iluminou o rosto de Osk. No en-
tanto, quando Ainz o estudou, ele não podia ter certeza se o sorriso era genuíno.

“Entendo. Por fim, permita-me mais uma pergunta. Por que o senhor deseja lutar contra
o Senhor Marcial, Vossa Majestade?”

“Porque ouvi dizer que ele é um oponente poderoso... desejo saber quem é mais forte,
ele ou Gazef Stronoff. O finado Gazef, pertence ao Reino, então talvez a maior razão seja
porque eu quero saber quem é o equivalente dele no Império.”

Claro, não foi por isso que Ainz estava lutando. No entanto, essa era a razão pela qual
ele e Ainzach haviam concordado depois de discutir o assunto.

Teria sido bom afirmar o verdadeiro motivo, mas Osk não era uma pessoa confiável. Na
verdade, ele parecia o tipo que priorizava ganhos pessoais. Ainz sentiu que ser honesto
com ele seria problemático.

“Compreendo. Muito obrigado... Então, vou agendar a luta com o Senhor Marcial. Con-
tudo—”

Osk levantou a mão para interromper o agradecimento que brotava de Ainz.

Capítulo 3 O Império Baharuth


278
“Espero que cumpra as regras da arena. Além disso, mesmo que Vossa Majestade possa
levar a sério a partida com o Senhor Marcial, tudo ainda é uma espécie de entreteni-
mento para nós. Assim, uma luta excessivamente unilateral seria terrivelmente chata.
Com isso em mente, eu gostaria de pedir que Vossa Majestade não use magia, mas sim
uma espada — uma arma — para lutar contra o Senhor Marcial. Eu afirmo que essas
condições devem contribuir para uma boa luta.”

“O que você está dizendo!?”

Ainzach se levantou da cadeira. Seu rosto estava vermelho de raiva.

“É mesmo possível!? Vossa Majestade é um magic caster! Como você espera que ele ga-
nhe!?”

“Hoho. De fato, esse é o caso. Não haveria maneira do Rei Feiticeiro ganhar uma vez que
sua magia fosse selada. Ora ora, e pensar que eu realmente trouxe uma questão tão sen-
sata. Bem, eu não esperava ouvir essas palavras da sua boca. Cheguei a pensar que de-
sejava ver Sua Majestade perdendo. Parece que minha opinião sobre você mudou.”

“Seu—!”

“Ainzach, não se esforce tanto. Está bem.”

“...Vossa Majestade, como assim?”

Ainz riu, afinal, Osk e Ainzach estavam olhando para ele de uma maneira surpresa. No
entanto, seria ruim se essa risada fosse interpretada como zombaria, então Ainz tentou
mascará-la com um bufo.

No entanto, isso era impossível para alguém que tivesse apenas um buraco no lugar do
nariz.

Ainz decidiu não desperdiçar sua energia e decidiu tentar blefar com palavras.

“Você parece ter interpretado mal minhas palavras. Eu disse que está bem.”

Não houve mudança na expressão de Osk, mas sua mente estava trabalhando em alta
velocidade. Isso era óbvio.

“...Então, vai jurar em o nome do Rei Feiticeiro, Vossa Majestade?”

“Jurar pelo meu nome? ...Compreendo. Eu, Ainz Ooal Gown, juro pelo meu próprio nome
que não usarei nenhuma forma de magia durante a batalha com o Senhor Marcial.”

“Um momen—! Vossa Majestade! Como pode fazer um juramento sem ver a força do
Senhor Marcial?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


279
As palavras de Ainzach foram muito sensatas. No entanto, se as informações de Ainz
sobre o Senhor Marcial estiverem corretas, não haveria problemas em tal juramento.

“Bem, vai dar certo de alguma forma.”

“O senhor realmente acha que vai dar certo!?”

Ainz ficou vagamente comovido pela réplica de Ainzach. Ninguém declarara suas opi-
niões assim desde que começara seu reinado como governante de Nazarick. Isso tinha
surgido um pouco durante seu tempo como Momon, mas mesmo isso desapareceu de-
pois que ele subiu nos ranques.

“Assim espero! Se o rei de outro país morrer na arena do Império, haverá um verda-
deiro caos de pagamentos!”

Claro...

Ainz pensou enquanto ele encarava Osk.

“É apenas esperado. O que fará, Vossa Majestade? Não é tarde demais para aceitar o
conselho do seu leal servo e desistir agora.”

Ainz deu de ombros em resposta. Ele podia entender as preocupações de Ainzach. Afi-
nal de contas, esse plano foi originalmente idéia dele. Claro, ele estava operando sob a
suposição de que poderia usar magia quando ele surgiu com esse plano. No entanto, ele
realmente achava que Ainz sem magia era tão fraco assim?

“Vai tudo ficar bem. Ainzach, ficar gritando assim é um pouco vergonhoso. Então, Osk.
Eu não sei muito sobre este assunto, mas que bem a minha morte faz?”

Osk piscou surpreso. Uma reação como essa não era nem um pouco bonitinha em um
homem de meia idade como ele.

“Parece que Vossa Majestade está enganado. Eu não ganharia nada com isso. Como o
Chefe de Guilda diz, seria um obstáculo muito maior para mim.”

Não parece haver nenhum motivo oculto por trás da proposição dessas condições des-
vantajosas para Ainz. Com toda probabilidade, nascera de seus pensamentos como pro-
motor.

“—Compreendo. Então, vamos proceder como planejado...”

“...Vossa Majestade, o senhor tem um jeito de derrotar o Senhor Marcial — que é mais
forte que o Gazef Stronoff — sem magia?”

Capítulo 3 O Império Baharuth


280
“...Stronoff, huh. Verdadeiramente um homem de força invejável.”

Ainz notou o olhar de surpresa no rosto de Ainzach, mas Ainz não disse uma palavra
quando se lembrou do antigo Capitão Guerreiro.

“Se o Senhor Marcial for mais forte do que aquele homem, então obviamente, terei que
ficar em guarda. No entanto, a força de que falo se refere ao seu espírito e não à sua
capacidade de lutar. Agora, se comparássemos a força dos braços da espada do Senhor
Marcial e do Stronoff, certamente o primeiro mataria o último em um instante.”

“Entendo. Por falar nisso, devo continuar respondendo à pergunta que fez antes, Vossa
Majestade.”

Osk levantou as duas mãos. Seus braços eram musculosos e desprovidos de flacidez.

“Eu amo o choque da espada contra a espada e o punho contra o punho. Lamentavel-
mente, não tenho talento para habilidades de luta, talvez nem todos os meus esforços
podem me garantir a vitória. Foi por isso que pensei em fazer um guerreiro que pudesse
me substituir e que ele alcançasse a vitória em meu lugar.”

Osk zombou. Esta não era a atitude do comerciante que ele vinha mostrando até agora,
mas seu rosto como ser humano.

Esta foi a primeira vez que Ainz encontrou uma pessoa tão estranha, embora soubesse
que os fetiches variavam de pessoa para pessoa. Em outras palavras, esse cara tem um
fetiche bizarro. Ainz fez um compartimento mental chamado “Pervertidos” e arquivou
Osk nele.

“Por isso... seria muito bom que Sua Majestade perdesse para o Senhor Marcial que trei-
nei.”

“Então é isso.”

Osk e Ainzach olharam para Ainz, surpresa escrita em todos os rostos.

Ainz queria perguntar: Vocês dois estão mais estranhos agora do que antes.

“Não me dê esse olhar idiota. Se você tem algo a dizer, diga.”

“N-não, isso é tudo que tenho a dizer.”

“Eu não tenho idéia qual reação espera de mim, Osk... Humanos são criaturas realmente
complicadas. Então? Se isso é tudo, então significa que você espera que eu preencha a
lacuna? ...Hm, que tal isso. Você está realmente feliz em me derrotar enquanto eu não
posso usar minha magia?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


281
Por alguma razão, Osk tropeçou em sua resposta.

“Eh, ah, isso... é só que eu não gosto muito de magia...”

“Entendo. Então, vamos deixar o assunto morrer nisso.”

Osk e Ainzach se entreolharam.

Vamos, fala logo!

Pensou Ainz. Ainda assim, era como no mundo corporativo. Se alguém que não tem per-
missão para falar desnudasse seu coração, esse alguém teria problemas.

“Nós tornamos nossas verdadeiras intenções conhecidas, portanto não vamos perder
tempo com pequenos enganos e continuar com as coisas. Como pretende organizar o
cronograma para a luta com o Senhor Marcial? Se possível, gostaria de fazer um grande
evento.”

“Então, eu anunciarei oficialmente um desafiante ao Senhor Marcial depois dos eventos


de hoje. É melhor eu me envolver pessoalmente. No entanto, pretendo manter o fato de
que o desafiante, Vossa Majestade, seja um segredo até o início da partida.”

“Eu não entendo suas razões para isso. Isso não seria um desperdício, do ponto de vista
de um promotor?”

“A lógica dita que o rei de um país aliado aparecendo em uma partida de arena é... oya?
Pensando bem sobre isso, eu não ouvi falar de uma cerimônia de boas-vindas. Está pro-
gramado para mais tarde?”

Ainz não pôde deixar de desviar o olhar.

Droga.

Ainz deu graças que ele não tinha coração, e então balançou com força seu crânio vazio
e undead. Então, ele deu de ombros impotente.

“Eu vim para o Império por conta própria. El-Nix-dono não sabe que estou aqui.”

A expressão de Osk desapareceu. Ele deve ter cheirado algo suspeito. Como comerci-
ante, fazia sentido que ele fosse muito sensível ao lucro potencial. Em outras palavras,
se não houvesse ganhos a serem feitos, não haveria sentido em participar.

“Compreendo.”

Eh?

Capítulo 3 O Império Baharuth


282
“Anunciar publicamente o desafio de Vossa Majestade certamente atrairia comentários
de todos os lados. Naturalmente, a identidade do desafiante deve ser mantida em se-
gredo. Então, posso supor que lidará com todos os problemas que resultarão disso,
Vossa Majestade?”

“Claro. Deixe essa parte das coisas para mim.”

“Compreendo. Então, posso tomar um pouco mais do seu tempo? Eu gostaria de finali-
zar o cronograma para o dia da partida.”

♦♦♦

“Ele já foi?”

“Sim, Mestre.”

O mordomo havia retornado do envio do Rei Feiticeiro, e essa era a sua resposta à per-
gunta de Osk.

“Perfeito.”

Respondeu Osk, e então ele olhou para a empregada que estava atrás do mordomo.

“—Coelhinha Caçadora de Cabeças.”

Que foi?

O homem diante dele pensou enquanto inclinava sua cabecinha delicada.

Sim, “homem”. Ele era um homem, vestido com uma roupa que melhor se adaptava a
uma empregada.

Segundo ele, fez isso porque se vestir como uma mulher fazia com que outros o subes-
timassem e se tornassem descuidados, e também porque as pessoas não vasculhariam a
virilha.

Parece que foi por essas duas razões, e não por preferência pessoal. No entanto, dado
que ele mostrou movimentos adoráveis como os de agora mesmo na vida cotidiana, era
bem certo que ele gostava desse tipo de coisa até certo ponto.

O fato de que seus pensamentos tinham realmente vagado tão longe era um sinal de
que ele estava pensando muito sobre isso.

Não incomodou Osk de nenhuma maneira particular, então ele não se importou.

Então, houve a questão de seu pseudônimo, “Coelhinha Caçadora de Cabeças”.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


283
Não combinava tanto assim com um homem de aparência fofa, mas, novamente, ele era
um mercenário que veio de uma nação a leste, da Aliança Cidade-Estado, uma famosa
“guerreira-assassina”.

Osk assinalou um contrato equivalente a uma fortuna. Ele havia contratado equipes de
trabalhadores e gladiadores também como guarda-costas, mas ninguém mais recebia
salários tão altos quanto ele.

Sua força correspondia ao seu preço — acima de um aventureiro classificado orichal-


cum, no mínimo. O fato era que ele não se envolvera em nenhum assunto problemático
desde que o empregara.

“Diga-me o que você acha de Sua Majestade, o Rei Feiticeiro?”

Ele tinha outra habilidade, além de ser um lutador-assassino de primeira classe.

Essa foi a capacidade de analisar seus oponentes. Através da longa experiência em tra-
balhos envolvendo mortes e por ser um guerreiro e um assassino, ele alcançou a capaci-
dade de avaliar as pessoas — para ver se elas eram fortes.

“Altamente foda.”

Até o momento, havia apenas uma outra pessoa sobre quem ele havia declarado uma
opinião semelhante. Essa pessoa era o próprio Senhor Marcial. Em outras palavras, esta
foi a segunda pessoa que ele não pôde derrotar.

A propósito, ele havia classificado como um nível abaixo de “Foda” quando viu os Qua-
tro Cavaleiros Imperiais.

“Sua Majestade é um guerreiro forte?”

“Não tenho certeza. Julgando pelo modo que anda, ele não é tão forte. Ele não anda como
alguém que foi treinado como guerreiro ou assassino. Até aquele tio do lado dele parece
mais um guerreiro. Ainda assim— é foda. Quando eu fiquei atrás dele, queria fugir o mais
rápido possível.”

Depois que ele disse isso, ele estendeu os braços.

Os olhos de Osk estavam fascinados pelos seus punhos.

Eram punhos redondos.

Seus punhos tinham sido remodelados ao perfurar objetos duros as dezenas, talvez cen-
tenas de milhares de vezes, até que se tornaram em uma forma redonda e esférica.

Capítulo 3 O Império Baharuth


284
Mãos feitas para a batalha.

Um calafrio percorreu Osk, seguido por uma excitação incontrolável.

“—Onde você está olhando, seu pervertido.”

“Eu só estava pensando que essas são boas mãos.”

Era verdade que gostava muito dessas mãos, mas, infelizmente, Coelhinha Caçadora de
Cabeças não fazia seu tipo.

O gênero do indivíduo não era um grande problema para ele. No entanto, a parceira
ideal de Osk era a guerreira da Rosa Azul do Reino. Claro, Coelhinha Caçadora de Cabeças
seria um bom partido, mas Osk sentia que ele era muito magro, se comparado a Gagaran.
Em contraste, o Senhor Marcial era musculoso demais.

“...Então não vai querer que eu renove meu contrato com você no próximo ano?”

“Isso seria muito preocupante! Dificilmente alguém pode se igualar a você... Bem, a her-
deira do Ijaniya à parte. Perdão, parece que saímos do assunto. Então—”

Os olhos de Osk deixaram os punhos redondos e olharam para cima. Arrepios eclodiram
na pele de Coelhinha Caçadora de Cabeças.

“Eu ainda não consegui me acalmar. É muito ruim.”

“Então ele não é algo comparável com um guerreiro, mas ainda é um adversário extre-
mamente perigoso...”

“Ele é como outro Senhor Marcial.”

Osk percebeu o que Coelhinha Caçadora de Cabeças estava tentando dizer. Ele estava
se referindo àquele Senhor Marcial.

Havia raças fracas e poderosas neste mundo.

Os humanos tipificaram as raças fracas, sendo pouco mais do que carne sem visão no
escuro, sem carapaças duras para proteger seus corpos, ou outras habilidades especiais.

Em contraste, havia as poderosas raças, como Dragões, por exemplo. Seres protegidos
por escamas duras, eles eram graciosos e poderosos, eram equipados com garras e den-
tes que poderiam facilmente cortar aço, possuíam uma respiração abrasante ou conge-
lante e outras habilidades especiais, e eram equipados com asas que eles poderiam usar
para voar para o céu.

Uma raça que era forte, mesmo sem treinamento de guerreiro.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


285
O que Coelhinha Caçadora de Cabeças estava tentando dizer era que o Rei Feiticeiro
pertencia a uma raça comparável a essa.

Um undead apresentava atributos físicos ruins. Isso era o que Osk sabia ser verdade.
No entanto, não parece ser o caso do Rei Feiticeiro.

“Osk-sama, por que aceitou fazer a partida? Sua Majestade sabe sobre o Senhor Marcial,
mas não sabemos sobre suas habilidades. Eu sinto que será uma partida muito desfavo-
rável.”

“...Aran? Você não entende!?”

Coelhinha Caçadora de Cabeças respondeu com uma voz cansada:

“Eu não penso sobre essas coisas inúteis...”

O mordomo olhou para Osk de um jeito surpreso. Assim, Osk respondeu:

“Por acaso um campeão foge dos adversários?”

“E o que mais?”

“Isso é tudo. Justamente por isso que é tão importante. Não há necessidade de apenas
matar um ao outro. Mas se esse for um desafio oficial, feito através de uma carta enviada
assinalada, não há como evitar. O Senhor Marcial pensaria da mesma maneira também.”

“Que idiota—”

“Talvez. Ainda assim, é assim que ele é. Aliás, sinto que Sua Majestade é o tipo que revela
a verdadeira força na batalha, e não durante uma partida competitiva. Agora, considere
uma luta regulamentada e uma luta até a morte, sem restrições. Em que circunstâncias
você preferiria enfrentar o Rei Feiticeiro?”

“Nenhuma. Coloco o rabo entre as pernas e corro.”

Osk riu, porque essa era a escolha mais sábia.

“Então, considerando isso. O que você acha do Rei Feiticeiro?”

Essa frase não foi dirigida ao seu mestre, mas ao mordomo que esperava na retaguarda,
que não mudou sua expressão.

No passado, ele poderia ter expressado seu descontentamento silenciosamente, para


indicar que essa não era a atitude apropriada que um homem deveria ter em relação ao
mestre contratante. Ainda assim, esse desgosto havia desaparecido em algum lugar ao

Capítulo 3 O Império Baharuth


286
longo do caminho. Talvez tenha sido quando Coelhinha Caçadora de Cabeças matou um
pretenso assassino.

“Ele tem uma personalidade muito charmosa.”

“Ho~n.”

Coelhinha Caçadora de Cabeças meditou de uma maneira estranhamente fofa.

Ainzach não parecia estar sob coação. Em outras palavras, o Rei Feiticeiro tinha algo
que lhe permitia garantir a cooperação dos residentes da cidade dentro de alguns meses
após conquistá-la.

“Você viu seu porte real? Seja em trazer apenas o Ainzach, ou concordar em não usar
magia em sua batalha, ele irradiava o orgulho dos poderosos. Além disso, ele é um ho-
mem muito inteligente. Parece que ele está muito acostumado com esse tipo de negoci-
ação.”

Até ele sentiu que era surpreendente.

Osk era um comerciante, mas o Rei Feiticeiro o via como um igual. Em circunstâncias
normais, alguns nobres gostariam de estabelecer quem estava no topo, esperar que um
rei fosse mais arrogante seria sensato.

Isso foi o que o desconcertou.

Ele aceitaria caso Ainz fosse um negociante no passado, mas isso era impossível. Em
outras palavras, Ainz simplesmente era adepto de negociações.

“Em termos de capacidade geral, ele é comparável aos nossos imperadores.”

Claro, ele não havia lido profundamente tais intenções. Era simplesmente que o Rei Fei-
ticeiro o surpreendeu muito.

“Não, eu deveria dizer que ele é equivalente ao Imperador Sangrento, no mínimo.”

Então, no mínimo, ele era igual ao maior imperador da história. Que pesadelo.

Osk sacudiu a cabeça. Ele ficaria paralisado pela contemplação se isso acontecesse.
Claro, ele não queria olhar para o abismo do Grande Rei Feiticeiro. No entanto, havia uma
coisa que ele tinha que fazer agora.

“...Eu devo informar o Senhor Marcial disso, e mantê-lo em condição privilegiada a par-
tir de agora.”

“Ele vai concordar?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


287
“Ele é um guerreiro. Não vai fugir de um desafio.”

“Ho~n. Bem, seria bom se ele pudesse ganhar~”

Parte 4

No dia da partida com o Rei Feiticeiro, Osk fez a pergunta usual:

“Como estão as coisas?”

“Problemas não há. Ótima forma estou eu.”

Um monstro gigantesco respondeu-lhe.

Era um membro das espécies de monstros, um Troll, mas havia uma grande disparidade
entre eles.

Esse seria o ar de um guerreiro que o rodeava, um manto que ninguém, a não ser aque-
les que sobreviveram a incontáveis batalhas intensas, seriam capazes de assumir.

No entanto, isso era apenas esperado. Ele era um Troll que se adaptou à luta e se espe-
cializou em batalha. Ele era um indivíduo notável, mesmo entre as diversas espécies de
Trolls, e era conhecido como um Troll de Guerra.

Ele era o Senhor Marcial, o mais forte gladiador da arena.

Osk olhou com ternura para aquele corpo.

Era verdade que havia muitas pessoas que podiam vencer o Senhor Marcial em termos
de proezas marciais (força). A maioria dos aventureiros vanguardas, classificados como
prata, poderia fazer isso. No entanto, a razão pela qual o Senhor Marcial poderia facil-
mente derrotar essas pessoas era muito simples.

Isso porque os corpos dos Trolls de Guerra eram muito superiores aos dos humanos,
seja em termos de força ou resistência, ou no enorme raio de ataque que seus enormes
braços lhes concedem.

Além disso, havia as habilidades raciais que ele possuía que os humanos não possuíam.

O primeiro deles era a pele. Vestir uma armadura por cima daquela couraça grossa era
suficiente para fazer com que a maioria dos ataques direcionados a ele simplesmente
resultassem em nada. Claro, pode-se visar as articulações móveis e de aparência macia,

Capítulo 3 O Império Baharuth


288
mas sua regeneração apresentava outra barreira formidável para qualquer um que ten-
tasse incapacitá-lo por esse caminho.

Um ataque que certamente mataria um ser humano normal não mataria um Troll. Sua
capacidade regenerativa surpreendente só poderia ser interrompida por fogo ou ácido.

Com esta imensa vantagem biológica do seu lado, o Senhor Marcial atual se classificava
verdadeiramente como o mais forte da história.

O guerreiro que Osk elogiou como o mais poderoso vestia uma armadura diante dos
olhos do homem.

Ele havia contratado aventureiros adamantite para reunir os componentes para aquela
armadura, e então como resultado surgiu uma obra-prima aprimorada com magia. Na-
quela época, ele havia investido cerca de 20% de seus ativos nesse projeto em particular.
A clava que carregava também fôra feita de uma poderosa liga mágica e, aprimorada de
forma semelhante.

O Senhor Marcial colocou seus anéis mágicos, amuletos e os outros componentes de sua
panóplia.

“—Estou pronto.”

Essas palavras pareciam muito mais inteligentes agora do que como ele havia falado
antes.

Toda vez que Osk via essa majestosa estrutura, um calor emanava de seu peito. Foi ele
quem o criou nesse estado.

“Então, Senhor Marcial, vamos.”

Eles caminharam juntos até a entrada da arena. Este foi um ritual que eles sempre rea-
lizaram.

O Senhor Marcial permaneceu em silêncio depois de sair de sua sala.

Outrora seu silêncio fôra por estar animado e ansioso para lutar contra seus inimigos.
Em algum lugar ao longo do caminho, isso se transformou em desapontamento nas ha-
bilidades de seus oponentes. Como seria agora?

De repente, o Senhor Marcial parou no meio do caminho.

Osk não se lembrava de nada acontecendo assim antes.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


289
Ele começou a entrar em pânico com essa ocorrência sem precedentes e olhou para
cima para perguntar o que estava acontecendo. O Senhor Marcial levantou lentamente a
viseira de seu elmo, revelando seu rosto.

“Sou eternamente grato...”

Parecia que ele estava forçando aquela voz.

Osk piscou.

Esta foi apenas a quarta vez que ele ouviu aquelas palavras de agradecimento. As três
vezes anteriores foram quando ele recebeu sua arma, sua armadura e, em seguida,
quando lutou contra seu melhor oponente, o anterior Senhor Marcial “Lobo Corrosivo”,
Krelvo Palantynen.

“P-pelo que, Senhor Marcial?”

Seus olhos olhavam para o corredor diante dele.

“Huu, huu.”

O corpo do Senhor Marcial estremeceu quando ele riu.

Deve estar tremendo de emoção.

Era nisso que Osk acreditava, mas não parecia ser o caso.

“Que tipo de... Que tipo de desafiante é esse? Não, eu sou o desafiante?”

“O-o quê?”

“Huu, huu... que assustador. Osk, estou tremendo de medo.”

Osk não pôde deixar de duvidar de seus ouvidos.

“Isso, isso deve ser o que os seres vivos chamam de instinto. Minhas pernas não se me-
xem... É como se me dissessem que, se eu for, eu morrerei, Huu, huu...”

Isso não era uma risada. Ele estava simplesmente tentando acalmar sua respiração per-
turbada.

“Ouvi dizer que o meu adversário é o Rei Feiticeiro, e me perguntei que tipo de inimigo
ele seria... Parece que minha arrogância veio para dar o bote.”

“O que está dizendo, Senhor Marcial? Você nunca foi alguém com arrogância.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


290
“Eu sou forte.”

Osk queria responder que não havia nada de errado com a declaração do Senhor Mar-
cial, mas o Senhor Marcial continuou antes que ele pudesse dizer.

“Não, minha força é uma mentira. Vem das minhas habilidades raciais e não é força real.
Ainda assim, existem pouquíssimas pessoas que podem lutar comigo. Em particular,
desde que aprendi a usar técnicas de guerreiro, nunca tentei entender as habilidades ou
o equipamento de meus desafiantes, a fim de criar uma situação desfavorável para mim.
Não há outro jeito de me treinar. Mas no final, eu encontrei um inimigo que meus instin-
tos estão gritando para eu fugir. Muito obrigado. Você cumpriu completamente o acordo
que fizemos quando me conheceu.”

“Senhor Marcial... Go Gin.”

Ele conheceu o Senhor Marcial há 10 anos.

Houve um boato nas ruas sobre um monstro nos arredores do Império. Tal monstro era
muito racional e não mataria um inimigo que abaixasse suas armas. Osk estava interes-
sado, e apressadamente partiu do Império para encontrar tal monstro bizarro. Isso por-
que ele ouviu que o maior poder do Império, Fluder Paradyne, estava a caminho de des-
pachar o monstro.

Ele estava com medo no começo. Isso foi apenas natural. Afinal de contas, os humanos
que o encontraram só sobreviveram por acaso.

No entanto, o Senhor Marcial deu uma olhada em Osk e bufou desinteressado, prepa-
rando-se para sair.

Foi por isso que ele esqueceu seu medo e perguntou: “Por que você está fazendo isso?”

A resposta que recebeu não foi tão articulada como era agora, mas foi ao longo das pa-
lavras “Treinando estou, para mais forte ficar”.

Osk teve a sensação de ver um novo mundo se abrindo diante dos olhos.

Osk tinha um sonho. Esse sonho era fazer um lutador forte. Foi um sonho de criar o
guerreiro supremo, a fim de substituir seu eu sem talento. No entanto, nesse ponto, ele
percebeu que não precisava se limitar aos seres humanos. Não, já que as espécies não-
humanas normalmente eram fortes desde nascença, não seria esse o caminho — o único
caminho — para se tornar o guerreiro supremo?

Nesse ponto, Osk não estava pensando em criar um monstro. Ele estava procurando
alguém que bem poderia ser o guerreiro supremo, o tirano da arena, o futuro Senhor
Marcial.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


291
Fazia quase 10 anos desde aquele fatídico encontro. E agora, pela primeira vez, ele tes-
temunhou o Senhor Marcial tremendo de medo.

“Senhor Marcial—”

Várias coisas surgiram na mente de Osk. A primeira foi: “Quer desistir desta partida?” O
risco de morte existia dentro desta luta, e Osk não podia suportar perdê-lo, o Senhor
Marcial que ele havia criado até agora.

No entanto, ele não conseguia falar essas palavras.

Para os fortes, ter alguém mostrando preocupação por eles era como um insulto. Por
tudo que sabia, essas palavras poderiam quebrar a amizade que ele construiu com o Se-
nhor Marcial.

Havia apenas uma coisa que ele poderia dizer aqui.

“—Não perca, Senhor Marcial.”

“Hmph. O que está dizendo? Não tenho intenção de perder. Todos os meus adversários
sentiram o mesmo. Todos estavam diante de mim na esperança de alcançar a vitória.
Agora é simplesmente a minha vez.”

“É assim que se fala!”

Osk deu um tapa nas costas do Senhor Marcial.

“O Rei Feiticeiro é um magic caster, mas isso seria muito chato em uma competição.
Então, eu decidi que ambos os lados não podem usar magia. Você não vai perder para
um inimigo assim.”

“...Sem magia? Ele concordou em lutar comigo, mesmo nessas condições?”

“Isso mesmo, ele fez isso com uma atitude que nem sequer considerou a possibilidade
de sua derrota.”

“Hoh...”

O Senhor Marcial fechou o punho. Foi um punho que lembrava a imagem de uma mar-
reta gigante.

“Os fortes são muitas vezes orgulhosos. O ensinarei a loucura de sua decisão.”

“Esse é o espírito! Mas não vá ficar convencido. O Rei Feiticeiro é o tipo de homem que
pode doar armas de cair o queixo por mero capricho. Com toda a probabilidade, ele pos-
sui itens mágicos de incrível poder.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


292
Restringir o uso de itens mágicos provavelmente aumentaria as chances de vitória do
Senhor Marcial. Mas isso seria muito desvantajoso.

“Vai ficar bem. Eu agora possuo a mentalidade de um desafiante. Eu não vou ser exces-
sivamente confiante. Não vou perder porque não usei minha força total.”

O Senhor Marcial deu um passo à frente com sua perna musculosa, e Osk se esforçou
para segui-lo.

“A propósito, poderia considerar seriamente aquilo que falamos antes?”

O Senhor Marcial de repente parou, um olhar de desgosto tatuava seu rosto.

“Aquilo que falamos antes... você quer dizer aquilo?”

“Sim, a questão da sua esposa.”

“Por que agora... Huhaha.”

O Senhor Marcial riu e Osk franziu as sobrancelhas enquanto corava.

Se você entende, não aja assim!

“É sério, você não pode me animar de outra maneira? Quantas vezes devo dizer isto...
Se um dia eu quiser uma esposa eu volto para a minha aldeia. Você quer que minha par-
ceira seja humana, é isso? Agradeço, mas vou negar todos os seres humanos ou similares.
Eu não gosto dessas coisas pervertidas. Melhor ainda, qualquer humano que realmente
queira dormir comigo seria repugnante. Que tipo de fetiche doentio seria, afinal? Além
disso, você quer treinar um herdeiro meu, não é? Eu não posso fazer isso com humanos.”

Embora fosse possível para os humanoides se reproduzirem, ter filhos com demi-hu-
manos era o tipo de coisa que só existia nos contos.

“Bem, isso é verdade... Se é assim que pensa, por que não trazer uma esposa de volta
com você? Se você precisar de alguma coisa para voltar em triunfo, me avise que eu con-
sigo para você.”

“...Preciso esclarecer as coisas. Nós, os Trolls, pensamos nos humanos como alimento.
Se eu tiver uma esposa, ela pode acabar calmamente comendo os humanos, pelo que sei.”

Para Osk, tudo bem se ela só comesse humanos desnecessários. No entanto, ele não
disse isso.

“Certo. Então traga seu filho antes que ele conheça o sabor da carne humana. Se o trei-
narmos mais intensamente, ele certamente será mais forte do que você é agora.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


293
O Senhor Marcial enrugou o rosto com um sorriso.

“Bem, isso seria interessante. Tudo bem, vou considerar isso seriamente.”

♦♦♦

“Vossa Majestade, o senhor pode realmente ganhar?”

Ainz respondeu à pergunta de Ainzach com a resposta que ele deu inúmeras vezes:

“Vai ficar tudo bem.”

Alguém que enfrentasse uma batalha sem expectativa de vitória, ou era a epítome da
coragem, ou a síntese da tolice. Este não foi um encontro aleatório; a batalha fôra deci-
dida nas fases de planejamento.

Em sua mente, Ainz reviu o que tinha aprendido.

Se o Senhor Marcial estivesse apenas no nível do Gigante do Leste, ele certamente seria
capaz de vencer. Dito isto, se ele tivesse a mesma força que um guerreiro como Gazef,
depois de somar seus níveis raciais e profissionais, ele seria um inimigo muito compli-
cado.

Contudo—

Bem, pra começo de conversa, as regras não foram favoráveis. Fiz bem em pedir um favor
ao Fluder.

Ainz tinha a capacidade de negar completamente os ataques fracos. Ele não achava que
o Senhor Marcial seria capaz de violar essa defesa. Portanto, Ainz havia desativado essa
habilidade particular.

A vitória não estava garantida para ele.

Naquele campo de batalha, Ainz havia matado mais de 100.000 pessoas com magia. Em
YGGDRASIL, a quantidade de pontos de experiência ganhos era reduzida de acordo com
a diferença de nível entre ambas as partes, para um mínimo de um ponto. Em outras
palavras, ele deveria ter ganhado mais de 100.000 XP. Juntamente com a experiência
acumulada de antes de vir para este Novo Mundo, ele deveria ter conseguido o suficiente
para subir de nível. No entanto, Ainz não sentiu que ele havia subido de nível, nem pre-
senciou algum fenômeno relacionado.

Em outras palavras, Ainz não poderia ficar mais forte.

Ainda assim— ele não poderia se contentar com isso.

Capítulo 3 O Império Baharuth


294
Se o nível 100 fosse o limite, então não restava mais nada a fazer. No entanto, ele foi
obrigado a utilizar plenamente o poder desses 100 níveis e aperfeiçoar suas habilidades.
Se por ser o mais forte ele relaxasse, alguém poderia superá-lo um dia.

Ainz sabia que tinha uma certa força por ser um magic caster. As habilidades e destrezas
que ele havia aperfeiçoado em YGGDRASIL também foram eficazes aqui. No entanto, ele
não tinha praticado suas habilidades como uma vanguarda nos tempos de YGGDRASIL.

Eu aprendi muito com a batalha contra aquela mulher.

Ele não sentiu nada além de gratidão por aquela mulher, que lhe ensinara como ele era
incapacitado como lutador de linha de frente.

Aquela batalha provocou o desejo em Ainz de melhorar sua capacidade de combate fí-
sico. Agora, Ainz estava confiante de que em atributos, habilidades e até táticas, ele era
o equivalente a um guerreiro de nível 33, se comparável aos níveis de YGGDRASIL.

Esta batalha com o Senhor Marcial seria a prova disso. Ainz esperava ansiosamente.

Ainz olhou para si mesmo.

Não teve utilidade alguma usar aquele colar. Durante o encontro com os Trabalhadores,
não senti ter ganho XP, nem aprendi técnica alguma. Honestamente, esforço e tempo joga-
dos fora.

Enquanto pensava sobre isso, Ainz recordou um problema mais urgente.

Ah~ Jircniv vai assistir essa luta, não é? Por que ele virá? Ele não estava por perto quando
eu verifiquei. Parece que minha travessia ilegal da fronteira será exposta... Bem, eu acho
que posso apenas pedir desculpas por isso. Se ele fizer uma tempestade em copo d’água, eu
simplesmente o pergunto como ele conseguiu a permissão do Reino quando foi a Nazarick,
assim resolvo o problema... Não fará mal se eu subir e dizer um oi para ele. Eu acho que
não cumprimentá-lo pode denegrir minha imagem.

“V-vossa Majestade, está na hora de entrar.”

O homem da arena disse ao entrar na sala para avisar Ainz.

Eles se encontraram várias vezes, mas ele congelava toda vez que via a verdadeira face
de Ainz.

Devo lutar usando máscara?

Ele considerou isso. Ainz ganhou permissão para fazer um discurso depois de derrotar
o Senhor Marcial. Até onde ele sabia, poderia haver pessoas na plateia que quisessem se

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


295
tornar aventureiros no Reino Feiticeiro. Com isso em mente, seria melhor deixar as coi-
sas claras.

Tudo o que ele podia fazer era confiar em suas próprias escolhas.

Ainz lentamente avançou.

Em termos normais, a pessoa mais graduada deveria entrar mais tarde. No entanto,
Ainz estava como desafiante nesta arena, portanto, ele era o inferior. Assim, foi obrigado
a entrar primeiro. Claro, Ainz viu isso com naturalidade e não questionou isso.

Ainz sorriu para o muito preocupado Ainzach.

Parecia estranho que ele estivesse mais preocupado do que aquele que estava prestes
a entrar na batalha.

“—Não me faça repetir, Ainzach. Eu não vou perder.”

♦♦♦

Depois de cumprimentar Jircniv, Ainz voltou para a arena.

Ele prometeu não usar magia durante a luta, mas a luta ainda não havia começado. Cer-
tamente seu oponente não iria discutir sobre algo assim.

Ele não parecia muito bravo, apesar do fato de eu ter cruzado a fronteira ilegalmente.
Será que vai reclamar depois? Ou ele achou que eu entrei normalmente? Se esse fosse o
caso, eles poderiam acabar fazendo algum tipo de boas-vindas para mim, ou talvez eu es-
teja sendo muito autoconsciente... Ele ficará zangado porque eu me dirigi diretamente a
ele como Jircniv?

Ainz zombou de seus pensamentos e então voltou os olhos para a entrada.

O Senhor Marcial ainda não havia aparecido.

Então...

Ainz olhou ao redor para a plateia na arena.

Um silêncio sepulcral de espanto dominava a cena. Até mesmo o menor movimento era
claramente audível.

Bem, era de se esperar... Não, pessoal, isso aqui não é uma máscara.

Ainz pensou em seu rosto suave e brilhante. Agora ele entendeu. Qualquer um que pu-
desse olhar para esse rosto com indiferença deve ser bastante corajoso.

Capítulo 3 O Império Baharuth


296
Por causa disso, minha popularidade aumentará quando eu tiver o público animado.

Embora seu objetivo não fosse aumentar sua popularidade, era melhor ter, do que não
ter. Além disso, se acabasse levantando a opinião geral de todos os undeads, provavel-
mente melhoraria a opinião deles sobre o Reino Feiticeiro, que controlava muitos unde-
ads.

Ainz agarrou o cajado em sua mão com força.

Como puramente um magic caster, a seleção de armas de Ainz era muito limitada, em
grande parte por bastões, adagas e coisas do gênero. Desta vez, ele selecionou um cajado
usado para ataques físicos. Era uma arma que ele havia feito como protótipo em
YGGDRASIL, mas que acabou não sendo usada. Por ser algo que ele usara há muito tempo,
não era muito forte. Hoje em dia, Ainz provavelmente poderia fazer uma arma melhor.

Mas dito isto, Ainz não havia feito tais preparações.

Depois de considerar a diferença de força entre ele e o Senhor Marcial, Ainz decidiu
lutar contra ele com sua arma atual, para ver como ele — e a luta — se comportaria.

Este seria um ato de extrema tolice para o jogador de YGGDRASIL Suzuki Satoru, um
lapso imperdoável de descuido. Se seus amigos estivessem por perto, eles poderiam re-
preendê-lo com um “Tá maluco; isso não vai dar...”.

No entanto, ele já havia estudado sobre todos os itens mágicos do Senhor Marcial atra-
vés de Fluder. Assim, ele teve que se sujeitar a essas circunstâncias desfavoráveis para
usar isso como treinamento.

Ele não queria fazer um massacre unilateral. O objetivo de Ainz era uma vitória esma-
gadora, porém na medida certa.

“Senhoras e senhores! Da entrada norte! O! Senhor! Marcial!”

Ao contrário de como eles o trataram antes, toda a arena estourou em aplausos. Ainz
podia ouvir a voz de Jircniv da sala VIP onde ele mostrara seu rosto mais cedo. O homem
estava gritando como se fosse rasgar a garganta.

...Ele parece muito animado. Jircniv realmente gosta tanto assim do Senhor Marcial? O rei
do ringue parece ser um tipo de ídolo, então esta deveria ser uma reação normal, né? Em
YGGDRASIL era assim também — os lutadores mais fortes em jogos de PVP eram muito
populares entre os espectadores.

Quando ele relembrava seus dias em YGGDRASIL, Ainz começou a sentir um pouco de
pena de Jircniv.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


297
Ele ficará chocado quando eu ganhar. Como um cliente cuja equipe esportiva perdeu...

Pesava em seu coração, mas ele não podia desistir desta partida.

Uma sombra enorme apareceu da entrada oposta.

Os aplausos que ele achava que não poderiam ficar mais altos aumentaram ainda mais,
e agora soava como uma explosão.

Com toda a honestidade, ele queria uma parte dessa torcida para si, mas ele simples-
mente teria que reivindicar através de sua própria força.

Em YGGDRASIL, as vozes dos apoiadores se voltariam lentamente para o desafiante se


eles se saíssem bem. Em outras palavras, se Ainz lutasse bem contra o Senhor Marcial,
mais e mais pessoas começariam a apoiar Ainz.

Então, parece que condições como estas, onde eu quase não tenho qualquer apoio, são
muito boas para me anunciar, não?

Ele poderia ver a forma do Senhor Marcial aparecendo lentamente.

Ele usava uma armadura completa e carregava uma gigantesca clava.

Enquanto observava essa fortaleza ambulante diante dele, os olhos de Ainz — as cha-
mas vermelhas cintilando dentro das órbitas vazias de seu crânio — se estreitaram em
pequenos pontos.

Hm... Ele parece o mesmo que a descrição. Sendo esse o caso— não, isso seria imprudente.
É melhor eu ter cuidado.

De acordo com as informações fornecidas por Fluder, ele não possuía nenhum equipa-
mento particularmente letal.

No entanto, em YGGDRASIL, algumas pessoas preparavam um conjunto de equipamen-


tos idênticos, equipados com cristais de dados completamente diferentes. Nas partidas
de PVP, pequenos truques como esse melhoraram as chances de vitória. Embora o equi-
pamento de reserva fosse tipicamente mais fraco do que uma panóplia principal, ser ca-
paz de surpreender um inimigo tinha efeitos além dos meros valores de dados.

Ele não podia garantir que o Senhor Marcial não faria isso.

Ainz levou isso em consideração enquanto continuava analisando o Senhor Marcial.

Ele tinha ouvido falar dele antes, mas vendo a coisa real o fez pensar, “não é de se admi-
rar”. Isso provavelmente era o que eles quiseram dizer com o ditado “é ver para crer”.
Pelo que Fluder lhe dissera, a criatura sob aquela armadura parecia muito semelhante

Capítulo 3 O Império Baharuth


298
ao Troll de Guerra que ele havia “Zombieficado”, mas o Senhor Marcial tinha uma aura
completamente diferente ao seu redor.

Pode-se dizer que foi a diferença entre um porco domesticado e um javali.

“Isso é... interessante... Interessante?”

Ainz franziu as sobrancelhas para sua própria animosidade. Ele se sentiu da mesma
maneira em ocasiões passadas; que isso seria uma boa luta. Talvez ele estivesse se tor-
nando um maníaco de batalha, dada a forma como ele gostava de combate.

Isso não foi um bom sinal.

A distância entre eles diminuiu. Seu adversário foi o primeiro a falar.

“Eu sou o Troll de Guerra Go Gin, conhecido como Senhor Marcial.”

“Eu sou—”

Ainz estufou o peito:

“O Rei Feiticeiro, Ainz Ooal Gown, um undead da mais alta ordem, um Overlord.”

“Compreendo. Então vamos lutar com todas as nossas forças.”

“...Oya?”

Ainz ficou bastante surpreso.

Havia duas coisas sobre as quais ele estava curioso, e ele decidiu começar com a maior.

“Não vai tirar sarro do meu nome?”

“Por quê?”

“Você está perguntando o porquê...?”

Ainz inclinou a cabeça para a pergunta. Ele trouxe algo do passado.

“Eu me lembro de que nomes longos são algo desprezível na cultura Troll não...?”

“Entendo. Parece que conhece bem minha espécie, Vossa Majestade. De fato, minha es-
pécie considera que aqueles com nomes curtos são fortes. Mas tenho vivido neste país
há muitos anos. Durante esse tempo, aprendi que os humanos usam nomes longos. As-

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


299
sim, não vou tirar sarro de tais coisas. Além disso, sinto que o senhor está muito orgu-
lhoso desse nome, Vossa Majestade. Insultar os nomes dos fortes é vergonhoso para um
guerreiro.”

“Então é isso... Parece que preciso rever minha opinião sobre Trolls de Guerra agora.”

“Huuhahahaha. Não é preciso. Eu sou meramente um estranho. Além disso, diferentes


espécies têm membros com opiniões diferentes. Isso é tudo.”

“...Hahahaha! De fato. Eu gostei de você, Senhor Marcial... Se eu ganhar, que tal ficar com
você?”

Ainz estendeu a mão direita.

Embora tenha sido rejeitado na época, as circunstâncias atuais eram diferentes. O Se-
nhor Marcial considerou o assunto e respondeu:

“...Bem. Se eu perder, me tornarei seu subordinado. E se eu ganhar?”

“Bem, essa é uma pergunta complicada. O que você quer? Nomeie seu desejo.”

“...Comer Vossa Majestade.”

“...Hah?”

“Até hoje, não encontrei ninguém que valesse a pena matar por uma refeição. Mas se eu
puder comê-lo, que é mais forte que eu, eu obterei seus poderes, Vossa Majestade.”

Ainz se acalmou um pouco. Ele ouvira uma conversa de um colega de guilda sobre a
cultura dos canibais. Embora eles comessem pessoas, o motivo por trás disso era o
mesmo que o Senhor Marcial, para obter o poder da alma do inimigo. Havia também
outras razões para isso, como fetiches e assim por diante.

Pelo menos não é sexual. Tenho certeza que não vou perder, mas seria muito nojento se
alguém estivesse olhando para mim dessa forma durante uma briga.

“Bem. Afinal, o direito de viver e morrer estará nas mãos do vencedor. Então, mesmo
que eu te mate, você não deve rejeitar a ressurreição.”

Ainz deu um passo à frente. O Senhor Marcial assumiu uma posição de luta por um mo-
mento, mas depois relaxou imediatamente.

Ainz avançou com a mão direita estendida. O Senhor Marcial devolveu o gesto, esten-
dendo sua mão direita maciça.

Capítulo 3 O Império Baharuth


300
Isso foi apenas um aperto de mão, em que a mão do Senhor Marcial englobou a de Ainz.
Estrondosos aplausos surgiram da plateia.

“Então, eu tenho outra pergunta. Por que se dirige a mim respeitosamente?”

A atitude do Senhor Marcial não era como um campeão reinante cumprimentando um


desafiante.

“Para mim, é sensato abordar os fortes com respeito.”

“Percebi... Tudo bem, eu entendo. Essas são todas as perguntas que tenho. Vamos co-
meçar. Quão longe devemos estar? Como a distância de antes— cerca de dez metros ou
mais? Vou me esforçar para cumprir as regras desta arena.”

“Não há regras para a distância, mas isso não importa. O senhor logo estará dentro do
alcance de meus golpes.”

“Isso é uma desvantagem, uma desvantagem e tanto.”

O Senhor Marcial não falou, mas acenou para mostrar que entendia.

Seu rosto não podia ser visto, mas sua respiração e ações estavam calmas.

Teria ele visto através da provocação, ou isso não era suficiente para perturbá-lo?

Ainz mentalmente estalou sua língua.

Que inimigo problemático. Se demostrasse emoções vulneráveis, ele poderia jogar com
isso, mas não se podia desprezar um inimigo atento, mesmo que fossem de um nível
inferior.

O Senhor Marcial virou as costas para Ainz e se afastou.

Ele se virou novamente depois de andar cerca de 10 metros.

“Então, vamos começar quando a campainha tocar, Vossa Majestade.”

“Certo... diga, Senhor Marcial, eu lutei com um do seu tipo antes, mas você já lutou con-
tra o meu tipo antes?”

“Overlords? Não, será a primeira vez. Eu nunca ouvi falar dessa espécie... de undead.”

“Então é isso... Bem, isso é verdade. Se tivesse encontrado alguém da minha espécie,
você não estaria vivo para ficar aqui. Overlords são os undeads de mais alto escalão...
Mas quanto aos outros tipos de undeads?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


301
“Não, eu nunca lutei com os undeads. Afinal, os undeads que eles trazem aqui obvia-
mente não são páreos para mim.”

“Não duvido... Então não posso nem dizer; não pense que eu sou como os outros undeads
que você lutou. Eu sou várias vezes mais poderoso que um Elder Lich... Que pena.”

O Senhor Marcial riu.

Ainz deu de ombros e ergueu o cajado como uma grande espada. Ainzach deveria estar
olhando por trás, mas ele não havia mostrado sua postura de luta como Momon, então
deveria estar tudo bem.

O Senhor Marcial ergueu a gigantesca clava também.

O sino tocou.

Naquele instante, Ainz foi engolido por uma enorme sombra negra.

Tch! Ele é rápido!

Essa foi a sombra de uma clava sendo manejada para baixo.

Bloquear o golpe com o cajado— Ainz queria fazer isso, mas imediatamente abandonou
a idéia. Ele não sabia o suficiente sobre o inimigo, a melhor coisa a fazer em face de um
grande movimento — que era altamente prejudicial — foi se esquivar.

Assim, não se importando se ele perdesse o equilíbrio, Ainz se jogou em evasão.

Ainz conseguiu se esquivar por um triz. A clava bateu no chão, liberando um impacto
estrondoso que até produziu um eco. A fumaça e a poeira resultante se expandiram como
uma explosão.

Preocupado com quaisquer golpes subsequentes, Ainz recuou vários passos.

Depois que a poeira baixou, a sombra do Senhor Marcial, com a clava na mão, apareceu.

Um grande grito subiu da arena.

Foi uma Arte Marcial? Ainda assim... isso é muito emocionante.

Ele podia claramente ouvir Jircniv gritando seu apoio em meio aos aplausos ensurde-
cedores. “Pegue ele! Ele está bem aí!” E outros gritos infantis.

Ainz não pôde deixar de rir quando ouviu esses gritos de Jircniv, que eram completa-
mente diferentes do habitual. Ele não poderia imaginá-lo agindo assim de todas as vezes
que o espionou na Cidade Imperial.

Capítulo 3 O Império Baharuth


302
...Ele é um sujeito inesperadamente interessante...

A opinião de Ainz sobre Jircniv subiu rapidamente. No começo, ele acreditava que ele
era um homem perfeito com o ar de um Imperador. No entanto, agora que ele viu como
ele estava apaixonado sobre o jogo, ele sentiu que poderia se dar bem melhor com ele. O
coração de Ainz se encheu de uma sensação de proximidade.

Então, Ainz voltou sua atenção para o Senhor Marcial.

O Senhor Marcial apontava aquela gigantesca clava para ele, sugerindo que seria inter-
ceptado se chegasse perto e que seria perseguido se recuasse. Era uma postura bem ade-
quada para prender seus oponentes.

Uma postura defensiva que fazia uso total do comprimento de sua arma, praticamente
transformando-a em um escudo.

Com toda honestidade, Ainz não tinha idéia de como quebrar essa postura.

Eu... não sei o que fazer... Parece que ser incapaz de usar magia contra um adversário
blindado é bastante difícil. Bem, eu sou um magic caster, afinal...

Sendo esse o caso, havia apenas uma coisa que ele poderia fazer.

“Bem? Você não vem? Ou você vai se esconder como uma tartaruga?”

“Vossa Majestade, eu não vou baixar minha guarda. Mesmo que as regras o impeçam de
usar magia, o fato de ter desviado daquele golpe não pode ser ignorado.”

“Então, você quer que eu tome a ofensiva? Nesse caso, se importaria em mudar essa
clava de lado? Com ela no meio do caminho fica difícil atacar.”

O Senhor Marcial não respondeu. Seu olhar aguçado permaneceu afixado em Ainz atra-
vés das fendas da viseira do seu elmo.

“Bem, então... Nesse caso, eu vou.”

Ainz bateu selvagemente o cajado na ponta da clava. A clava bateu com força no chão,
quando o Senhor Marcial grunhiu “Ggh!”.

O impacto deveria ter sido transmitido para as mãos do Senhor Marcial e as entorpe-
cido. Em contraste, Ainz não tinha funções biológicas para tais coisas.

Em um instante, Ainz fez sua investida dentro do alcance do Senhor Marcial.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


303
Ainz enviou um comando mental para seu cajado, e chamas foram expelidas. Dito isso,
essas “chamas” significavam simplesmente uma camada de fogo que cercava o cajado.
As chamas não constituíam um ataque próprio. No entanto, Ainz sentiu a atenção do Se-
nhor Marcial indo em direção ao cajado.

Correto. Vocês, Trolls, têm poderes regenerativos. Assim, é perfeitamente racional ter em
mente as armas que negam sua regeneração, como aquelas que podem causar dano de
fogo ou ácido. No entanto, isso é um erro fatal.

Ainz tocou a armadura do Senhor Marcial com a mão esquerda vazia. Naquele momento,
o Senhor Marcial estremeceu como se tivesse sido eletrocutado, fazendo-o balançar a
clava sem pensar.

“Kuh!”

Ainz não conseguiu se esquivar, e os sons de rachaduras vieram de seu corpo quando
ele foi jogado longe. Já que ele havia desativado sua 「High Tier Physical Immunity」,
ele ficou vulnerável a ataques de impacto, aquele ataque causou muitos danos. O corpo
de Ainz voou vários metros, não, mais de 10 metros pelo ar, como uma bola chutada por
um esportista.

Então, ele bateu no chão, quicando várias vezes.

Os aplausos estrondosos irromperam da multidão.

Ainz ouviu Jircniv gritando de prazer quando ele rolou pelo chão, e a onda de boa von-
tade que ele tinha em relação ao homem caiu rapidamente.

Droga, somos países aliados, não somos? Você não deveria estar mais preocupado com o
fato de um rei aliado estar no chão?

Embora ele tivesse sofrido danos, Ainz não sentia mais dor, e ele olhou para o Senhor
Marcial da posição onde havia caído.

Não houve ataque subsequente.

Os sons de aplausos diminuíram gradualmente, substituídos por uma sensação de in-


quietação que cobria toda a arena. Por que o Senhor Marcial não pressionou o ataque?
Não, por que o Senhor Marcial se curvou? O que estava desacelerando os movimentos
do Senhor Marcial.

Ainz graciosamente se levantou, limpando a poeira. Ele não parecia se incomodar em


ser enviado voando.

Em contraste, os movimentos do Senhor Marcial estavam extremamente lentos.

Capítulo 3 O Império Baharuth


304
Ainz riu.

Esta foi a melhor maneira de fazer um grande espetáculo.

Ainz retornou à sua posição original, em meio a uma cacofonia de barulho. O Senhor
Marcial perguntou em dúvida:

“O-o que é isso? Veneno... não, o que fez comigo?”

“Eu não quebrei as regras. O contexto faz sentido. Bem, isso está muito além da palavra
veneno. Meu toque pode infundir energia negativa no corpo de um oponente. No entanto,
a regeneração de um Troll deve ser capaz de curar isso.”

Ainz fez o mesmo gesto que ele usou ao tocar o Senhor Marcial, abrindo e fechando os
dedos.

“No entanto, tenho outra habilidade além dessa. Eu posso infligir danos físicos por to-
que. Com isso, sua força e destreza foram reduzidas. Eu não acho que você pode curar
isso, não é?”

Pelo que Ainz sabia, a regeneração Troll só podia curar danos, mas não o enfraqueci-
mento do corpo.

“Em outras palavras, Senhor Marcial, quanto mais eu te tocar, mais fraco ficará, até você
acabar como uma lagarta.”

Naturalmente, isso era mentira.

Ele podia infligir penalidades de habilidade a um inimigo, isso era verdade, mas mesmo
isso tinha limite. Ele não conseguia reduzir os atributos para zero. Claro, seu oponente
não poderia saber disso.

No entanto, havia outros undeads com habilidades semelhantes, então ele não podia
concluir que seu oponente realmente não sabia. Ele poderia estar blefando sobre não
lutar contra os undeads, e ele poderia saber algo relacionado a eles.

Foi por isso que Ainz declarou abertamente o nome de sua espécie.

Os Overlords são uma espécie muito poderosa, e sobre a qual você não sabe nada. Uma
vez que ele deixasse essa impressão na mente do Senhor Marcial, ele sentiria que o poder
de Ainz seria misterioso e insondável. Ainz havia mencionado que ele era da mais alta
ordem e com isso, reforçava ainda mais essa sensação de desconforto.

O mais importante era que ele havia dado uma explicação desnecessária ao Senhor Mar-
cial. Isso também era para confundi-lo com informações falsas.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


305
—Basicamente, toda guerra é baseada em decepção.

Ainz calmamente estudou o Senhor Marcial, que não parecia estar se recuperando das
penalidades de sua habilidade.

Isso era para ver se o Senhor Marcial estava tentando blefar com suas ações.

Ele pode ter a capacidade de se recuperar, mas optou por não usar, a fim de criar uma
falha fatal na defesa de Ainz. Ele também pode ter um Talento ou alguma outra habili-
dade oculta sobre a qual Ainz não sabia.

Só se podia aniquilar um inimigo em uma luta aberta quando havia uma enorme dife-
rença de força.

“...As penalidades de habilidade que eu infligir não se curarão com o tempo, sabia? Eu
vou raspar seus atributos físicos pouco a pouco, até dar o golpe final com meu cajado,
entendeu? Bem, se entendeu, então vamos continuar.”

Ainz deu um passo à frente e o Senhor Marcial lentamente assumiu uma postura.

Ele não podia ver o rosto do Senhor Marcial por causa do elmo. Ele estava rindo para si
mesmo ou estava ficando ansioso?

Que seja ansiedade, assim espero...

Ainz moveu sua mão esquerda, a que não segurava o cajado. O Senhor Marcial mudou
em resposta. Parece que ele estava muito cauteloso com isso.

O Senhor Marcial provavelmente pensava que tudo o que precisava fazer era se preo-
cupar com a mão esquerda.

Dito isso. Durante os experimentos de Ainz, ele descobriu que podia iniciar ataques de
toque com qualquer parte de seu corpo. Se ele quisesse, ele poderia até usar uma cabe-
çada para fazê-lo.

Quando Ainz se aproximou, o Senhor Marcial se afastou.

Ainz riu suavemente.

De seus movimentos, ficou evidente para o público quem tinha a vantagem aqui.

Você sabe qual é a diferença entre nós, Senhor Marcial? De fato, você pode ser melhor que
eu como guerreiro. Mas há algo que decisivamente nos diferencia.

A maior diferença entre ele e o Senhor Marcial era o HP.

Capítulo 3 O Império Baharuth


306
Ainz tinha o HP de um personagem de nível 100. Mesmo que ambas as partes abando-
nassem a defesa e se envolvessem em uma disputa, Ainz sairia vitorioso.

No entanto, o problema estava nas Artes Marciais, aqueles ataques que Ainz não conhe-
cia.

“Eu estabeleci outra restrição sobre mim mesmo, além de não usar magia. Isso diz res-
peito aos meus itens mágicos. Eu não usei itens mágicos durante essa luta com você —
em outras palavras, eu me dei uma restrição de equipamento. Ainda assim, isso é com-
pletamente benéfico para mim.”

Ainz possuía numerosos itens mágicos de seu tempo em YGGDRASIL. Todos e cada um
deles era um tesouro inigualável neste mundo. Assim, se Ainz tivesse usado algum, ele
poderia facilmente vencer sua batalha com o Senhor Marcial. No entanto, Ainz não
achava que esse era o jeito certo de lutar.

Portanto, Ainz estava equipado com itens de baixo nível.

“Limitei-me a usar armas que alguém do seu nível pode usar. Por outro lado, sinto que
esta é uma excelente oportunidade para testar uma nova aquisição.”

Ainz mergulhou seu cajado no chão e retirou dois dos quatro stilettos embainhados em
sua cintura. Ele agarrou-os com força.

“Vamos testar essas armas que peguei emprestadas do Momon.”

O Senhor Marcial provavelmente não entendeu a tagarelice de Ainz. Ainz não tinha in-
tenção de esclarecê-lo. Ele estava simplesmente falando para si mesmo.

“Então— aqui vou eu.”

Ainz não podia imitar a postura bizarra daquela mulher — aquele estranho agacha-
mento para uma investida. No entanto, depois do treino, ele aprendeu a correr de ma-
neira semelhante. Ele se disparou como uma flecha solta em direção ao Senhor Marcial.

A distância era muito curta. Ainda assim, mesmo na breve abertura antes do ataque de
seu oponente, a clava do Senhor Marcial varreu o ar na direção dele. O golpe foi mais
lento, pois sua força havia sido minada pelas penalidades da habilidade, mas era um
golpe que deveria ter efeito.

Ainz não podia executar uma esquiva magnífica como aquela mulher. No entanto, Ainz
poderia fazer algo que aquela mulher não conseguia.

Ele ativou a habilidade, e os movimentos do Senhor Marcial pararam por um momento.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


307
Ainz encurtou a brecha entre eles e enfiou o stiletto, apontando para o ombro. Esse
golpe com força total, impulsionado pela aceleração durante a corrida, perfurou o Se-
nhor Marcial como uma flecha perfurando madeira.

Quando aquela mulher acertou Ainz, ela conseguiu danificar a armadura que Ainz criara
magicamente, que era mais dura que adamantite. Este golpe estava no mesmo nível que
aquele, e o stiletto perfurou a armadura do Senhor Marcial e além, penetrando no corpo
do Senhor Marcial.

—No entanto, neste momento—

“《Reforço de Couraça》, 《Aumentar Reforço de Couraça》!”

O Senhor Marcial ativou suas Artes Marciais.

Era como se ele tivesse liberado algo de dentro de seu corpo, isso empurrou para trás
a ponta do stiletto.

O mais surpreendente era que o impacto total que Ainz infligiu foi apenas uma pequena
quantia — o valor de um arranhão — de dano. Com a regeneração Troll, esse tipo de
dano seria curado em segundos.

Capítulo 3 O Império Baharuth


308
O Senhor Marcial deve ter se sentido seguro com isso. A clava balançada em direção a
Ainz ainda foi muito rápida, e ele só tinha tomado um arranhão do ataque total de Ainz.
Pode-se dizer que a vitória estava na mão do Senhor Marcial.

No entanto, isso seria uma coisa muito tola de se dizer.

“—Ativar.”

“Goh! Gowaaaaaaaaah!!”

Ainz liberou a magia, canalizando uma 「Fireball」 que Fluder tinha conjurado na arma,
a explosão de chamas se formou onde ele havia perfurado o Senhor Marcial, queimando
o corpo no interior da armadura. Ainz pensou em mergulhar o outro stiletto no ombro
oposto, mas ele não era forte o suficiente, e a armadura defletiu o ataque.

Enquanto pensava em mirar uma fenda em sua armadura, Ainz sentiu o movimento do
Senhor Marcial e avançou para o lado sem olhar.

Um vendaval soprou atrás dele. Deve ter sido a pressão do vento daquela clava.

Depois de afastar por cerca de 10 metros, Ainz se virou.

O Senhor Marcial estava agarrando o ombro com o braço que segurava a clava. Seu ou-
tro braço estava como um pêndulo, provavelmente imóvel. Parece que a magia do Fluder
foi forte até demais. Acho que teria sido melhor ter pedido a um magic caster mais fraco
para infundir magia no stiletto.

Depois de perceber que o Senhor Marcial estava em dificuldade, a multidão gritou em


solidariedade.

Ainz olhou ao redor da arena.

Não importava onde ele olhasse, ele não podia ver ninguém torcendo por ele.

Que estranho... Em YGGDRASIL, não seria incomum alguém começar a torcer por mim
neste momento... Acho que as partidas aqui são difíceis.

“Bem, faz parte. Eu acho que vou ter que abandonar o plano de aproveitar o coração do
público. Então, Senhor Marcial... hora de morrer.”

Ainz embainhou o stiletto cuja magia foi gasta e sacou outro. Este novo stiletto estava
imbuído de uma magia de ataque elemental ácida de 3º nível. Ele havia preparado isso
para o caso de o Senhor Marcial ter se tornado imune ao dano de fogo.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


309
Claro, o Senhor Marcial parecia que tinha sido ferido por aquela magia elemental de
fogo, mas isso poderia ter sido uma atuação. Monstros em regeneração não podiam re-
sistir completamente a ataques que desligavam sua regeneração, mas isso era apenas
para YGGDRASIL.

Por tudo o que ele sabia, algo assim poderia ser possível neste mundo.

Se fosse esse o caso, seu plano era matá-lo ativando a habilidade quando o público —
quando todos — pudessem ver que a vitória já havia sido decidida.

“Se você admitir a derrota agora... vou terminar as coisas aqui.”

“Não... Vossa Majestade. Não... ainda não. Eu ainda sou o Senhor Marcial. Eu ainda sou o
Rei desta arena. Vou lutar até a morte.”

“Então, tire seu elmo e me deixe ver seu rosto.”

Foi um pedido surpreendente, mas o Senhor Marcial concordou e mostrou seu rosto.

Suor frisado em sua testa, e seu rosto estava retorcido pelo que provavelmente era uma
dor intensa. No entanto, havia muita força naqueles olhos.

“Esses são bons olhos. Eles me lembram de Gazef Stronoff.”

“Obrigado. Ser louvado por um ser poderoso como o senhor mesmo me enche de ale-
gria.”

“...Me diga; você tem alguma técnica que possa me vencer? Algo que possa inverter a
situação atual?”

“—Não. Mesmo assim, ainda desejo lutar.”

Foram palavras muito honestas.

Ainz sentiu vergonha de usar tantos blefes nessa luta. Além disso, havia todas as habi-
lidades que ele tinha selado para fazer uma boa partida.

Como seu oponente estava lutando a sério, Ainz foi obrigado a responder com tudo o
que podia, dentro do alcance do que lhe era permitido fazer.

O Senhor Marcial, que viera direto para Ainz, parecia ter chamas nos olhos.

“O que os Guardiões pensariam da luz naqueles olhos...”

Ainda assim, ele sabia que eles iriam desprezar qualquer ser que não fosse de Nazarick.
Se esse era o caso — inquietação e solidão enchiam Ainz.

Capítulo 3 O Império Baharuth


310
Ainz deixou de lado essas emoções e lentamente ergueu seus stilettos.

O Senhor Marcial limpou o suor com o antebraço e colocou o elmo de volta.

“—Venha para mim, Senhor Marcial.”

“GOOOOHHHHHH!”

Com um rugido, seu vasto corpo avançou em Ainz.

Ele foi mais rápido do que antes. Talvez ele tenha ativado uma Arte Marcial.

Aquela incrível velocidade juntamente com aquele corpo imenso se uniram para pro-
duzir uma esmagadora sensação de opressão que congelaria qualquer inimigo no lugar.
Não, isso se aplicaria a pessoas normais, mas os undeads eram imunes a tais efeitos men-
tais.

Ainz calmamente estudou o Senhor Marcial.

Ele era rápido — mas isso era tudo.

Seu equilíbrio estava ruim, provavelmente porque o ombro perfurado pelo stiletto não
conseguia se mexer.

—Ele realmente é inferior àquele cara.

Mais importante—

Você sabe a verdade por trás de como eu diminuí a sua velocidade? Se você não sabe, vai
acabar para você, não?

Ainz ativou a mesma habilidade a partir de antes.

「Despair Aura I」 Essa habilidade possui cinco efeitos.

• I - Medo.
• II - Pânico.
• III - Confusão.
• IV - Insanidade.
• V - Morte Instantânea.

Medo: referia-se a um estado anormal de medo, que infligia uma penalidade a todas as
ações.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


311
Pânico: era uma versão mais severa do Medo, causada pelo empilhamento de efeitos
adicionais de Medo uns sobre os outros. Qualquer pessoa afetada por esse status dese-
jaria fugir do usuário a todo custo — em outras palavras, não seria capaz de tomar ne-
nhuma ação relacionada ao combate contra essa pessoa.

Confusão: era como o nome sugeria. Sem quaisquer medidas de recuperação, o alvo
estaria num estado de confusão.

Insanidade: era um status ruim extremamente irritante, sendo uma versão perma-
nente do Confusão. Não pode ser removido sem magia de terceiros.

Morte Instantânea: é óbvio que causava morte.

Os efeitos mudavam conforme o nível aumentava.

Ainz usou o efeito Medo primeiro, e depois cancelou quase instantaneamente. Ao fazer
isso, haveria um momento em que as ações que se imaginavam não correspondiam às
ações reais tomadas e, assim, o corpo se sentiria paralisado.

No entanto, o Senhor Marcial previu que isso aconteceria se ele tentasse um ataque
frontal. Mesmo depois que sua mente e corpo ficaram fora de sincronia, ele ainda balan-
çava a clava.

Depois de levar em conta as penalidades combinadas, o toque de Ainz e o status de


medo, fugir do ataque do Senhor Marcial deveria ter sido uma brincadeira de criança.
Contudo—

“《Pancada Forte》! 《Centelha Singular Divina》!”

Ainz pensou ter visto um flash de luz.

Naquele instante, dor intensa — imediatamente suprimida a níveis toleráveis — e uma


sensação de flutuação o encheu.

“《Fluxo Acelerado》!”

Um grande impacto veio de cima, seguido por uma explosão de dor no momento se-
guinte.

Embora ele estivesse brevemente confuso com a situação, Ainz rapidamente caiu em si.

Este foi provavelmente um combo duplo. A primeira parte lançou Ainz no ar, enquanto
a segunda o esmagou no chão.

Se ele fosse Suzuki Satoru, ele poderia não ter conseguido entender a situação e se con-
fundido. No entanto, Ainz Ooal Gown estava imune a esses status negativos.

Capítulo 3 O Império Baharuth


312
Ainz sabia que estava no chão, e que a clava estava caindo sobre ele.

“Cheh!”

Ainz se afastou assim que a clava atacou. Talvez tenha sido por causa de uma Arte Mar-
cial, mas o impacto fluiu através do chão para o corpo de Ainz.

No entanto, isso não causou nenhum dano adicional.

Quando Ainz saltou, a clava que se enterrou no chão foi puxada de volta. Esse movi-
mento, como retirar algo das profundezas, parecia dizer “Eu vou acabar com você”.

Ainz tomou uma decisão em uma fração de segundo para bloquear o golpe com seu
stiletto, e o corpo de Ainz navegou pelo ar mais uma vez. Os aplausos da plateia ecoaram
pela arena, mas o Senhor Marcial amaldiçoou amargamente:

“Droga!”

Ele estava esperando acabar com Ainz com aquele ataque combinado.

Depois de ser derrubado vários metros pelo ar, Ainz caiu algumas vezes no chão e então
rapidamente recuperou sua postura enquanto ele murmurava sobre si mesmo.

“Nada para inverter a situação, hein? Ele me enganou. Punitto Moe me repreenderia
por isso.”

Muito parecido com Ainz, o Senhor Marcial salvou seu trunfo — suas Artes Marciais —
até o momento final. Isso provou que ele era um guerreiro de primeira classe.

Ainz embainhou um dos seus stilettos, liberando uma mão.

A arrogância e pressa para conquistar a vitória lhe rendera um duro golpe — não, dois
deles na verdade. Era hora de descartar o pensamento ingênuo. Ele cortaria os atributos
de seu oponente antes de terminar as coisas.

Esses caras são barulhentos...

Os gritos do público estavam realmente irritantes. Tamanha a intensidade de gritos se


transformou em regozijo. Especialmente—

―Jircniv, seu desgraçado! Como assim, “Finaliza ele”!? Ah, fala sério...

Ainz se moveu devagar. Ele não tinha sido gravemente ferido, mas ele havia sido punido
por seu descuido, então ele não cometeria esse tipo de erro novamente.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


313
Ainda assim, eu realmente não entendo Artes Marciais. Estas são habilidades que não exis-
tiam em YGGDRASIL... alguém as desenvolveu para combater os jogadores de YGGDRASIL?
Ou estou apenas tentando forçar uma teoria aqui...? Espera, aquela Arte Marcial deveria
ter sido algo que aumentasse a velocidade de ataque. Ele provavelmente tentará isso de
novo, então é melhor eu preparar meu corpo para isso, não?

Ainz entrou no alcance do Senhor Marcial e o Senhor Marcial desceu o braço atacando.
No entanto, Ainz não evitou.

Ele avançou, recebendo os ataques do Senhor Marcial.

A pressão e a dor o enchiam, mas ele podia aguentar, dada a enorme diferença em seu
HP. Não havia problema. Além disso, seu corpo undead imediatamente suprimia sua dor,
para que ele pudesse suportar a agonia que os vivos não poderiam.

Deste modo, Ainz tocou o corpo do Senhor Marcial. Tendo acabado de terminar um ata-
que — e estando sob a influência do status de medo da aura de Ainz — seria muito difícil
evitá-lo.

Então, ele manteve contato com o corpo do Senhor Marcial e circulou para suas costas.
Claro, ele estava continuamente infundindo a energia negativa através de sua armadura,
isso causava debilidades de habilidades físicas.

“Uoooooogh!”

Desta vez, foi o Senhor Marcial que se afastou dele, como se estivesse rolando pelo chão.

Ainz estava intrigado sobre se deveria ou não prosseguir, mas decidiu ficar parado, no
caso de algum movimento oculto.

O Senhor Marcial levantou a arma ponderadamente. Sua respiração estava irregular, e


seu comportamento imponente de quando eles se conheceram não mais existia.

Ainz agarrou seus stilettos com força.

As preparações estavam completas. Este seria o ataque final.

Talvez ele sentisse a mudança no ar, mas o Senhor Marcial removeu o elmo e o jogou
de lado.

Quando a surpresa começou a encher Ainz, o Senhor Marcial desatachou o resto de sua
armadura também. Por ele estar enfraquecido no momento, não parecia estar em um
nível em que ele era incapaz de se mover devido ao peso de sua armadura.

No entanto, depois de ver a determinação na face do Senhor Marcial, Ainz entendeu seu
plano.

Capítulo 3 O Império Baharuth


314
Entendo. A armadura protege contra os stilettos, mas não faz nada contra as penalidades
de habilidade. Ele deve se sentir bastante ameaçado por isso, e é por isso que ele está apos-
tando que o HP de seu oponente está baixo e aliviando a carga em seu corpo, só assim ele
pode continuar atacando.

Este seria o ato final — e também uma aposta muito desvantajosa.

“Me diga... Eu sou fraco?”

“O quê?”

“Vossa Majestade, eu sei que não revelou uma fração do seu verdadeiro poder até agora.
Mesmo sem as asas poderosas de sua magia, isso claramente não te sobrecarrega. Eu sou
realmente... tão fraco assim?”

Ainz fechou os olhos em pensamento, e então os abriu novamente.

“Sim, você é fraco.”

“..........Então é isso.”

A arena ficou em silêncio.

A voz de Ainz não os alcançou. No entanto, a vitória já foi decidida.

“Durante esta batalha, me proibi o uso de muitos itens mágicos e uma sorte de habili-
dades que possuo.”

“Caso contrário, o senhor teria terminado isso em um instante?”

Ainz assentiu em confirmação.

“Apenas isso. No entanto, eu sabia sobre você, então—”

Ainz balançou a cabeça. Isso não foi feito para confortá-lo:

“Bem, você acabou de ter um adversário ruim. Se você é o mais forte do Império... eu
posso muito bem ser o homem mais forte do mundo.”

“Posso perceber... Ainda assim... estou feliz. Saber que existe alguém que é melhor do
que eu, me leva a melhorar.”

“Eu entendo isso, até certo ponto.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


315
Havia alguns de seus amigos — por exemplo, Touch Me — que ele nunca havia vencido
em PVP. Mesmo assim, ele olhou para trás com carinho sobre como tinha ponderado
sobre as maneiras de vencer suas táticas e equipamentos.

Ainz sorriu para o Senhor Marcial e o Senhor Marcial sorriu para Ainz.

“...Então, faça o seu movimento.”

“Vossa Majestade, Rei Feiticeiro Ainz Ooal Gown. No final, por favor, mostre-me —
mesmo que seja apenas uma fração — do seu verdadeiro poder. Permita-me experimen-
tar o zênite do poder!”

O Senhor Marcial brandiu vigorosamente sua arma.

“Já que é assim... muito bem. Então revelarei o pináculo do poder para você.”

Ainz ativou sua habilidade e avançou.

Ele entrou no alcance de ataque do Senhor Marcial. O Senhor Marcial atacou.

Era completamente diferente da velocidade com que ele havia mostrado. Ele poderia
ter usado Artes Marciais para acelerá-lo. Ainda assim, não foi nada comparado à veloci-
dade antes de ter suas habilidades penalizadas. Estava muito mais lento.

A Clava balançou para o corpo de Ainz, mas Ainz não prestou atenção.

O ataque não pode mais prejudicar o corpo de Ainz.

Ainz continuou avançando, como se acariciado por um vento suave.

Ele fez golpe após golpe, mas Ainz continuou avançando, olhando diretamente nos
olhos do Senhor Marcial.

O Senhor Marcial sorriu, como se desistisse. Ainz mergulhou o stiletto no peito do Se-
nhor Marcial sem nenhuma resistência, e então liberou a magia imbuída dentro dele.

♦♦♦

Ainz olhou para baixo no cadáver do Senhor Marcial.

Então, ele ativou um item mágico emprestado. Era um simples megafone.

“Ouçam-me! Povo do Império! Eu sou o Rei Feiticeiro, Ainz Ooal Gown!”

Sua voz pareceu ecoar eternamente no silêncio da multidão, o que só o enervou. Assim,
Ainz decidiu encerrar isso rapidamente.

Capítulo 3 O Império Baharuth


316
“Eu pretendo estabelecer um programa para treinar e criar aventureiros no meu
país. Isso porque considero vantajoso para meu país cultivar e proteger aventu-
reiros e enviá-los para os confins do mundo. Muitos aventureiros precisam sobre-
viver com seus próprios recursos. Mas quantos já foram mortos antes de chega-
rem ao auge?”

Ainz relembrou a equipe de aventureiros com quem viajou por um curto período de
tempo.

“...É por isso que pretendo incorporar a Guilda dos Aventureiros à minha nação.
Há aqueles que temem perder sua liberdade e serem algemados uma vez que a
Guilda dos Aventureiros se torne uma organização nacional. Eu não posso descar-
tar completamente isso. Mas como acabei de mostrar, minha força é mais que su-
ficiente. Não pretendo usar vocês como ferramentas de guerra. O Reino Feiticeiro
anseia por aqueles que realmente buscam aventura! Todos vocês que desejam ex-
plorar o desconhecido, que desejam entender o mundo e assim sonham em se tor-
nar aventureiros, venham a mim! Eu vos ajudarei a andar com suas próprias per-
nas, os ajudarei com o poder que vocês não podem imaginar. Agora contemplem
uma fração desse poder!”

Ainz caminhou até o Senhor Marcial.

“O Senhor Marcial está morto! Quem vai verificar sua morte?”

Não houve resposta.

“A morte é o fim de tudo. No entanto— como alguns aqui podem saber, a morte
pode ser combatida!”

Ainz retirou uma varinha e apontou para o peito do Senhor Marcial.

Seria terrivelmente embaraçoso se ele não voltasse à vida. Seu coração inexistente ba-
teu em seu peito.

“Testemunhem!”

A varinha foi ativada, e então o Senhor Marcial ofegou. Então, seu peito começou a se
mover.

“A magia da ressurreição é a província dos sacerdotes de alto nível. No entanto,


isso não é um desafio para mim! Claro, um pagamento apropriado em ouro ainda
deve ser feito! Eu, que venci a morte, vos apoiarei! Venham para a minha nação,
vocês que procuram se tornar aventureiros de verdade!”

Em meio à comoção, Ainz lançou uma magia 「Fly」.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


317
Seu destino era a sala VIP de Jircniv.

Olhando ao redor, ele notou que apenas Jircniv e seus dois guarda-costas restavam. Os
outros pareciam ter saído cedo. Ainz ficou encantado por ter menos com o que se preo-
cupar, mas ele não disse nada.

“Bem, desculpe por isso, Jircniv-dono. Oya, seu rosto parece melhor agora. Que alívio.”

Sua tontura quando se levantava parecia genuína. No entanto — Já que ele estava tor-
cendo tão energicamente, deve ter sido apenas por um momento.

“Peço desculpas por te preocupar, Gown-dono.”

“Ahhh, não se importe. Qualquer um ficaria preocupado se visse alguém conhecido pas-
sando mal.”

“Obrigado por sua preocupação. Ainda assim, foi uma partida emocionante. Como es-
perado do senhor, Gown-dono. Pensar que poderia triunfar tão facilmente sobre o guer-
reiro mais forte do Império. Não há palavras para isso se não magnífico.”

“Certamente não. Esta foi uma boa luta. Mas o resultado ainda estava incerto; eu sim-
plesmente tive a sorte agindo do meu lado.”

Dada a maneira como Jircniv estava torcendo pelo Senhor Marcial, ele deve ter sido um
grande fã. Sendo esse o caso, ele não poderia errar ao louvar o Senhor Marcial.

Ou melhor—

—Seu desgraçado, você não torceu por mim em momento algum. Eu ouvi aquilo!

Claro, ele não podia expressar esses pensamentos. Quando alguém pensava calma-
mente sobre isso, em uma batalha entre os guerreiros de sua própria nação e a de outro
país, era natural alguém torcer pelos próprios compatriotas.

Bem, se ele realmente torcesse por Ainz, seu medidor de afeto — uma frase que Pero-
roncino frequentemente usava — provavelmente teria atravessado o telhado.

“Embora estranhos possam não saber, tenho certeza de que o senhor não é um homem
de incertezas, Gown-dono. Então, vejamos— me perdoe. Vamos conversar assim?”

“Ah, sim.”

Ainz concordou. Em outras palavras, ele não queria conversar com Jircniv por tanto
tempo em um lugar como este.

Capítulo 3 O Império Baharuth


318
Ele queria evitar a noção de que Ainz Ooal Gown era apenas um homem comum.

Embora Ainz pensasse que seria repreendido por promover o Reino Feiticeiro na arena
e por sua passagem ilegal na fronteira, Jircniv não parecia querer repreendê-lo. Sendo
esse o caso, era melhor para ele rapidamente fazer a sua saída.

“Bem, neste instante—”

Ainz engoliu as palavras informais que ele estava prestes a falar. Isso seria como cavar
seu próprio túmulo.

“Foi legal, vamos deixar assim por enquanto. Venho te visitar outro dia, Jircniv-dono.”

Pessoalmente, Ainz queria escapar com magia de teletransporte, mas ele precisava pe-
gar Ainzach primeiro. Então ele voltaria ao chão, e só então se teletransportaria — então,
enquanto ponderava sobre o assunto, Ainz percebeu que Jircniv estava olhando para ele,
com um olhar sério no rosto.

Tenho certeza que ele vai dizer algo estranho.

Essa situação era familiar para qualquer assalariado. Ainz se virou para olhar para Jir-
cniv.

“Vossa Majestade. Eu tenho uma proposta. Posso te incomodar a ouvir isso?”

Não.

Quão maravilhoso seria o mundo se ele pudesse dizer isso?

Ainz decidiu não fugir da realidade. Ele sorriu — embora seu rosto não se movesse —
e respondeu com um “Prossiga”.

“Então, eu espero— não, o Império Baharuth gostaria de se tornar um estado vassalo


do Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown.”

“......Hah?”

Ainz não pôde deixar de exclamar daquelas palavras completamente inesperadas.

Seu cérebro ainda não havia analisado o que acabara de ouvir.

“Vas— um estado vassalo?”

Seus guardas — ambos os quais ele tinha visto antes — também estavam olhando em
choque.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


319
Por alguma razão, Ainz sentiu vontade de pôr a mão na testa de Jircniv.

Por que ele de repente pediu para ser um vassalo? Pensando sobre isso, que tipo de
relacionamento os estados vassalos têm, afinal? Ainz conhecia o termo, mas o que exa-
tamente significava? Então havia todos os termos políticos envolvidos nisso e assim por
diante.

Ainz não conseguia decidir algo importante como isso por si mesmo. Ele precisaria dis-
cutir esse assunto com Demiurge e Albedo antes de dar uma resposta.

“...Jircniv-dono, fazer sua nação como um estado vassalo...”

Então o plano de formar um laço de amizade entre reis é... eh?

O que ele deveria dizer sobre a questão do estado vassalo? Estaria tudo bem em dizer:
“Eu não tinha considerado isso”?

No entanto, Demiurge e os outros talvez pretendessem vassalizar o Império. Ele não


queria dar corda para se enforcar, e ainda assim seria problemático deixá-lo sem solução.

Parece que a melhor opção seria blefar, ou algo assim.

Depois de decidir sobre a direção que suas palavras tomariam, Ainz fez sua resposta.

“É muito perigoso concordar verbalmente com esses assuntos. Não posso responder
imediatamente, mas acredito que tais questões devam ser propostas por escrito.”

“Então, isso significa que uma vez que eu entregar o documento, o senhor vai aprovar
isso?”

Eh? É sério que vai fazer isso?

Ainz pensou em perguntar, mas ele conseguiu engolir essas palavras. Provavelmente
foi porque se acalmou um pouco. A verdade era que ele não estava mais perturbado
como estivera antes. Apenas agradecer aos benefícios desse corpo não seria suficiente.

Ainda assim, o problema ainda estava por resolver.

Não é isso que eu quis dizer, só quero ganhar tempo.

Como ele não podia falar essas palavras, ele tinha que pensar em algo que Jircniv pu-
desse aceitar. Não havia outra maneira.

“...Certamente. Envie uma cópia da petição de vassalagem, bem como um rascunho da


condição futura e tratamento do Império para minha residência no Reino Feiticeiro, Jir-
cniv-dono. Quando o fizer, planejaremos detalhadamente.”

Capítulo 3 O Império Baharuth


320
“Então eu farei isso. Vou me esforçar para finalizar rapidamente e entregá-lo às mãos
de Sua Majestade. —Então, por enquanto, permita-me falar com o senhor como rei —
como igual. Eu estarei sob seus cuidados.”

Embora seu estado emocional tivesse se acalmado, Ainz ainda não tinha idéia do que
estava acontecendo e o porquê a situação acabara assim. Ele simplesmente assentiu em
resposta.

Então, tentando não aparecer muito em pânico, Ainz desceu para a arena.

“Como as coisas acabaram assim? Ou melhor, o que o Demiurge e a Albedo farão...?

Ainz rodeou seus ombros, como uma criança que tinha certeza de que ele seria repre-
endido por seus pais assim que chegasse em casa.

♦♦♦

O ar na sala VIP ficou em silêncio depois da partida do Rei Feiticeiro. Como se para
quebrar esse silêncio, Nimble gritou:

“Vossa Majestade!”

Jircniv franziu as sobrancelhas de maneira exagerada enquanto olhava para Nimble.

“Por que está gritando? Ainda não estou surdo.”

“P-perdão. Mas, mas eu posso saber o que aconteceu!?”

“Você quer saber o porquê tomei uma decisão assim?”

Nimble assentiu em resposta. Jircniv olhou para Baziwood, que tinha uma atitude se-
melhante.

“Entendo... Então, o que mais sugere que eu faça?”

Jircniv riu de si mesmo.

“Já que ele subiu até aqui— ah! As negociações com a Teocracia Slane foram quebradas.
Os templos me desprezam. Quanto tempo levaria para trazer de novo a questão dessas
negociações? Isso é um problema que pode ser resolvido com tempo?”

Jircniv pensou no que faria se fosse um dos superiores da Teocracia Slane. Se outro país
desse uma desculpa tão patética quanto “Isso era apenas Ainz Ooal Gown vendo através
do nosso esquema, não pretendíamos fazer nada disso”, eles certamente pensariam que

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


321
não havia valor em se aliar àquele país e o abandonaria. Não, eles podem acabar usando
esse país como combustível para algum tipo de trama no futuro.

Parece que uma aliança com a Teocracia Slane estava praticamente fora de questão.

“Já que não há chance alguma de nos aliarmos com a Teocracia, ele simplesmente suge-
riu que lutássemos sozinhos? Hm? Ora ora, como esperado de Sua Majestade, o Rei Fei-
ticeiro Ainz Ooal Gown. Eu tenho que tirar meu chapéu para ele. Seu alcance é realmente
mais longo do que eu poderia imaginar. Primeiro, ele deixa seus inimigos se orgulharem
e, em seguida, os destrói usando um golpe assim que baixam a guarda.”

Embora Ainz fosse um inimigo, Jircniv não pôde deixar de elogiar esse esquema perfeito.

Foi tão perfeitamente calculado que ele não teve escolha senão admitir a derrota. Não
havia sinais de reforços para o Império, enquanto Ainz já tinha uma prova sólida das
ações do Império. Em outras palavras, Ainz conquistou o poder da vida e da morte sobre
o Império.

Baziwood sacudiu a cabeça. Parece que eles entenderam a situação em que estavam.

“Ahh, isso é realmente... como vou dizer. Ele realmente o deixou sem ação. Ele acertou
em cheio no ponto fraco. Algo parecido.”

“Exatamente. Não consigo pensar em nada que resolva isso. Eu acho que estou que-
brado em mente e corpo. Parece que tudo ficará bem se for assim.”

“Vossa Majestade...”

Nimble olhou para Jircniv, falando baixinho.

“Ele está mais para um demônio do que para um undead. Parece que ele sabe como
quebrar completamente a mente de um homem.”

“Ainda assim, tornando-se um estado vassalo...”

Jircniv olhou gentilmente para Nimble, que ainda parecia incapaz de aceitá-lo.

Ele podia entender os sentimentos do homem.

No entanto, ele teria preferido uma solução racionalmente considerada para esse pro-
blema, ao invés de uma revelação infantil de seus sentimentos. Se nem mesmo Jircniv
poderia resolver esse problema, quem dirá Nimble.

“...Preste bastante atenção. Nós não podemos vencer. A única opção que temos é, como
eu disse anteriormente, nos subverter para subordinados. Não consigo imaginar outro

Capítulo 3 O Império Baharuth


322
jeito de se opor a ele. Como pode ter se sentido naquela guerra, está claro que ele é mais
poderoso como um magic caster.”

Os dois cavaleiros concordaram com a cabeça.

“Mas e ele agindo como guerreiro? Algum de vocês pode matá-lo com uma espada?”

Jircniv encolheu os ombros e continuou:

“Você deveria saber, não? Mesmo como guerreiro, o Senhor Marcial não pôde vencê-lo.
E o que foi aquilo? Ele recebia os ataques do Senhor Marcial e permaneceu ileso? Ele
usou magia?”

“Não tenho certeza, mas pode ser possível.”

“Enfim. Em outras palavras, ele pode tornar qualquer ataque ineficaz com magia, então?
Então o assassinato é impossível. Ele poderia ser invulnerável?”

“Bem, ele tem um corpo físico, então eu duvido que ele seja invulnerável.”

“Então por que ele estava ileso?”

Nimble ficou perplexo e olhou para Baziwood a seu lado, em busca de ajuda. No entanto,
Baziwood manteve os lábios apertados em uma linha reta.

“...Então, vamos fazer isso por agora. Reunir toda a informação possível sobre as armas
do Senhor Marcial e, em seguida, reuniremos todos os magic casters e aventureiros que
podemos encontrar para perguntar-lhes o porquê ele não foi ferido. Felizmente, esse
pronunciamento deveria colocá-lo contra a Guilda dos Aventureiros, com isso, ficarão
felizes em nos ajudar.”

“Então, não deveríamos ter oferecido vassalagem depois de tentar isso? Já que feliz-
mente, ele recusou no ato.”

Jircniv estava um pouco irritado com isso, mas ele reprimiu seu descontentamento e
não demonstrou. Em vez disso, ele olhou para Nimble com uma expressão preocupada
no rosto.

“Felizmente? Você realmente pensa assim? Eu acho que é o contrário. Não é melhor
forçar a vassalização o mais rápido possível?”

—Perguntou Jircniv a Nimble, que tinha uma expressão perplexa no rosto.

“Por que você acha que ele recusou de imediato nossa oferta de vassalagem?”

“Eu, eu... este seu servo não tem certeza...”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


323
“Talvez ele seja incompetente, inseguro de como lidar com a mudança de situação —
talvez ele pensou algo assim. No entanto, o nosso adversário é aquele homem, lembra?
A julgar pelo seu intelecto, ele já deve ter elaborado um plano para o futuro no breve
período após propormos a vassalagem. Se ele recusasse a oferta depois de analisá-la,
isso indicaria algo sobre esse curso de ação que não combinava com seus objetivos.”

“E o que seria?”

O rosto de Jircniv ficou amargo com a pergunta de Baziwood.

“Eu não sei. Ainda assim, é quase certo que não será bom para nós. Caso contrário, ele
não ficaria tão perturbado com a oferta de vassalagem. Pelo que sabemos, os objetivos
que ele tem em mente são coisas que não pode realizar em seu próprio país. Nesse
caso—”

Jircniv deixara seu cérebro tão sobrecarregado de trabalho que logo sairia fumaça.

Seu oponente era Ainz Ooal Gown. Ele certamente deve ter algum objetivo em mente.

O que eu faria se fosse o Rei do Reino Feiticeiro, o que eu desejaria? O que eu odiaria?

O suor escorria em sua testa e Jircniv se esforçava para pensar.

“—A Guilda dos Aventureiros? Será que ele quer fazer alguma coisa para a Guilda dos
Aventureiros, e é por isso que ele se opôs à vassalagem?”

“E aquela declaração? ...Permitir aquilo é uma boa idéia, Vossa Majestade? Daqui a al-
guns anos, muitos dos melhores e mais brilhantes do Império podem acabar saindo do
país.”

“...Eu não entendi seu ponto. Diga como chegou a isso?”

“Fazer o que ele diz significa que a liberdade de alguém pode ser restrita, tendo o incri-
velmente poderoso Rei Feiticeiro como apoio é uma proposta muito atraente. Traba-
lhando como aventureiros, muito mais pessoas morrem do que conseguem fazer um
nome para si mesmas. Agora temos alguém forte nos apoiando... bem, pelo menos é o que
as pessoas sem autoconfiança pensarão. Além disso, já que temos cavaleiros, não há mui-
tas tarefas para aventureiros de baixa classificação.”

“Um fluxo de talentos... Embora eles possam não ter fé em si mesmos, isso não significa
que não sejam capazes.”

Havia pessoas que eram habilidosas, mas careciam de autoconfiança. No entanto, seria
preciso uma pessoa muito confiante para explorar um novo mundo.

Capítulo 3 O Império Baharuth


324
“Se for isso, já não temos todas as razões para se opor à vassalização? Ainda assim... não
seria mais conveniente nos tornarmos um estado vassalo? Dessa forma, ele pode englo-
bar a Guilda dos Aventureiros diretamente... Ah! Ainz Ooal Gown! Por que seu intelecto
supera tanto o meu? Seus planos são tão diabólicos que nem posso começar a compre-
endê-los!”

“É possível que ele não tenha planejando nada disso?”

Jircniv olhou com ódio ao comentário de Baziwood.

“Que bobagem é essa!? Ele antecipou nossos movimentos a este nível... não, é impensá-
vel. Também precisamos considerar os efeitos de seus sentimentos incognoscíveis que
o levam a odiar os vivos...”

Talvez supondo que pensar em Ainz como um dos undeads seria um erro.

Talvez Ainz já tivesse antecipado que agonizariam e suporiam sobre isso, assim, fez
esse plano de antemão. Ele poderia estar esperando de braços abertos por um Jircniv em
pânico para acelerar o processo de vassalização.

“O que devemos fazer agora?”

Perguntou Nimble. Ele estava se referindo às futuras ações do Império.

“...Pretendo divulgar as notícias para os países vizinhos. Primeiro, reunirei os escribas


e direi a eles, em termos gerais, que o Império escolhe a submissão e se tornará um es-
tado vassalo do Reino Feiticeiro, e que não temos mais nada a discutir. Anunciaremos as
notícias rapidamente para os países vizinhos e deixaremos que se espalhe, então o Reino
Feiticeiro não terá escolha senão reconhecer.”

“Vossa Majestade...”

Os dois abaixaram a cabeça. O fato de que mesmo Baziwood tivesse uma expressão
como essa em seu rosto fez com que Jircniv se perguntasse se era uma piada.

Ele apagou o sorriso amargo do rosto e falou de maneira amigável.

“Por que as caras tristes? Existem todos os tipos de estados vassalos. Se nos for permi-
tido governar a nós mesmos na maior parte do tempo, então podemos continuar vivendo
como sempre fizemos. Não— se o Reino Feiticeiro nos defender com seu incrível poder,
então não estaríamos mais seguros do que antes?”

Quando ouviram sobre um futuro um pouco mais brilhante (provavelmente), um pouco


de cor retornou aos seus rostos.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


325
“Portanto, precisamos lidar com qualquer insatisfação interna. Se o Reino Feiticeiro não
nos permite governar a nós mesmos, o Império pode começar a se fragmentar. Pode ha-
ver facções que não fiquem satisfeitas com a vassalagem e, com isso, podem fazer seus
joguetes.”

Jircniv começou a pensar sobre a disposição das facções dentro do Império.

Os mais importantes seriam o Corpo de Cavaleiros. No entanto, eles não mudariam para
a facção anti-vassalagem. Mesmo se eles se opusessem, seria apenas conversa fiada. Di-
ficilmente agiriam seriamente.

Em seguida haviam os nobres. Suas jogadas poderiam ser inusitadas. Embora houvesse
poucas pessoas que se queixariam da decisão de Jircniv, esses poucos poderiam estar
almejando uma chance de depor o Imperador Sangrento. Estas eram pessoas que pode-
riam tentar qualquer coisa para se tornarem os novos governantes do Império vassali-
zado.

Os plebeus poderiam ser enganados. Para eles, enquanto a vida continuasse normal-
mente, não se importariam em se tornar um estado vassalo.

“—Os sacerdotes serão um problema.”

Os templos nunca reconheceriam isso. E seria pior se os templos não apenas se opuses-
sem, mas proibissem toda a atividade de cura. Ele precisaria conversar com eles repeti-
damente e levá-los a pensar.

“...O senhor ficará bem, Vossa Majestade?”

“Quem sabe? Pretendo dizer que a transição para estado vassalo será suave, e que es-
perem para ver os resultados... mas talvez não seja bom dizer isso.”

Por que eu...?

Ele pensou.

Ele havia herdado esse dever de seu pai, e com isso o Império se tornara cada vez mais
forte. Ele não deveria ter errado em nenhum momento durante esse processo.

Mas então aquele monstro apareceu e tudo saiu do controle.

Provavelmente não havia nada de errado na maneira como ele negociava com aquele
monstro. Foi simplesmente porque Ainz Ooal Gown era um ser cujos processos de pen-
samento transcendiam os da humanidade.

Em apenas um mês, tudo mudou.

Capítulo 3 O Império Baharuth


326
Jircniv suspirou profundamente.

“Eu devo ser o homem mais azarado do mundo...”

Embora isso fosse apenas tagarelice, as notícias sobre a Pássaro Fio-Prateado mudando
sua base natal do Império para a Aliança Cidade-Estado logo alcançaram o desmotivado
Jircniv. Nos próximos dias, Jircniv viria a lamentar isso como “As bênçãos não vêm em
pares, mas as calamidades não vêm sozinhas.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


327
Epílogo

Capítulo 3 O Império Baharuth


328
emiurge andava alegremente pelo 9º Andar da Grande Tumba de Nazarick.

D A sensação de voltar depois de muito tempo era provavelmente uma ilu-


são de algum tipo. Afinal de contas, ele voltava a este lugar de vez em
quando, e o maior período de tempo que ele estivera longe foi uma quin-
zena no máximo. Assim, a razão para sua percepção equivocada foi claramente devida à
alegria que ele sentia ao caminhar por este lugar.

Seu humor se elevava quanto mais perto ele chegava de seu objetivo.

Demiurge não prestou atenção aos guardas que Cocytus havia colocado em ambos os
lados das portas enquanto ajustava sua gravata e inspecionava sua aparência. Natural-
mente, ele prestava atenção em sua aparência em todos os momentos, mas não queria
que seu mestre o visse senão em um estado imaculado.

Depois de uma inspeção muito séria de sua aparência pessoal, Demiurge bateu na porta.

Uma das empregadas a abriu, colocando a cabeça para fora e verificando quem estava
chamando.

Demiurge queria tentar espiar um vislumbre de seu mestre através da brecha, mas ele
não podia fazer nada tão vexatório.

“Posso saber se o Ainz-sama está?”

“Minhas sinceras desculpas, Demiurge-sama. Ainz-sama não está.”

Seu humor despencou, mas ele não deixou transparecer em seu rosto.

“Entendo. Então, para onde o Ainz-sama foi?”

“Minhas mais sinceras desculpas, eu não sei... No entanto, Albedo-sama pode saber algo
sobre isso.”

Ela estava certa.

“Compreendo. Então, onde está a Albedo agora?”

“Ela está aqui.”

Demiurge sabia que Albedo tratava a sala de seu mestre como sala pessoal de trabalho.

Você não pode simplesmente usar a sala que lhe foi designada?

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


329
Ele sempre pensou, mas depois de considerar a personalidade de sua colega, ele acabou
ficando quieto. O que importava era a aprovação de seu mestre. Com isso, não havia mais
nada para ponderar.

“Ela está trabalhando? ...Poderia perguntar se esta é uma hora conveniente para visita?”

“Como desejar.”

A porta diante dele se fechou. Um momento depois, se abriu novamente.

“Por favor, entre, Demiurge-sama.”

Demiurge agradeceu à empregada e depois entrou. Ante seus olhos estava a Guardiã,
sentada em uma cadeira em frente à mesa de seu mestre.

A linha de visão dela antes abaixada se moveu até Demiurge.

“Há quanto tempo, Albedo.”

“Ah, Demiurge. Fez um trabalho exemplar no exterior. Em que posso ajudá-lo hoje?”

“Ah, isso diz respeito ao assunto no Reino Sacro. Eu estava planejando obter permissão
para os estágios finais do plano. Vou precisar de um Doppelgänger... onde está o Ainz-
sama?”

“Ele está um pouco longe. Duvido que seja capaz de retornar rapidamente...”

Em outras palavras, ele não está em E-Rantel. Caso contrário, ela não descreveria de ma-
neira tão estranha.

“Isso é um pouco inconveniente. Então, vou realizar o trabalho de preparação no Sétimo


Andar até o retorno do Ainz-sama.”

“Se for urgente, não seria melhor se comunicar usando 「Message」?”

Demiurge franziu a testa e observou a expressão de Albedo. Ela tinha seu sorriso habi-
tual, mas Demiurge perceptivo como sempre, detectou alguma outra emoção dentro dela.

Se ela estivesse apenas brincando com ele, tudo bem.

Demiurge tentou estudá-la rapidamente, mas não pôde ler isso profundamente.

Era um pouco frustrante, mas novamente, isso nem sequer era uma disputa.

Epílogo
330
Entre todas as pessoas de Nazarick, as únicas duas pessoas que ele não sabia ler eram
seu mestre e Albedo. Ele deixava isso de lado como raras exceções para não abalar sua
paz interior.

Demiurge encolheu os ombros.

“Não é tão urgente. Se o Ainz-sama voltar amanhã, eu mesmo o informarei.”

“Ainz-sama não mencionou quanto tempo ficará fora. Pode demorar muito tempo.”

“Já que é assim, eu mesmo irei informá-lo, Albedo. Não é uma questão que requer o uso
de 「Message」.”

“Ara~? Por que isso? Se é realmente importante, não seria mais leal informá-lo quanto
antes?”

O contexto do sorriso de Albedo havia mudado. Mais cedo, era seu sorriso falso habitual,
mas agora era um sorriso perverso e ameaçador. Ela está tramando alguma coisa.

Parece que havia algo que ela queria dizer, não importando as circunstâncias.

Que cansativo...

Pensou Demiurge ao afirmar suas razões.

“Eu desejo mostrar minhas realizações para o Ainz-sama, por isso não desejo usar tais
métodos para contatá-lo. Embora eu possa receber seus elogios através de uma 「Mes-
sage」, no fim, eu ainda preferiria ouvir sua voz pessoalmente. Isso é tudo... Esse não é
o sonho compartilhado de todos em Nazarick?”

“Mm, com certeza, Demiurge. É como você diz. Qualquer um se sentiria assim.”

“Então, para onde o Ainz-sama foi?”

“Ele foi visitar o Reino Dos Dwarfs, sobre o qual poucos fizeram contato diplomático até
agora. Assim, não sabemos quanto tempo vai demorar.”

“Quem o acompanha?”

“Shalltear e Aura.”

Isso bastaria em termos de combate. No entanto, outros aspectos eram mais preocu-
pantes.

A Aura deve dar conta de qualquer coisa que surgir. Tudo o que ela precisa fazer, é apenas
não ser um inconveniente para o Ainz-sama. Mas—

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


331
O rosto da outra pessoa apareceu na mente de Demiurge.

“Ainda assim, levar a Shalltear junto... ele pretende destruir o Reino Dos Dwarfs?”

Mare teria sido uma escolha muito melhor para negociações verbais. Então a escolha
atual foi feita por outros motivos.

“—O que os outros Guardiões estão fazendo?”

“Cocytus está administrando o lago. Mare está construindo uma dungeon fora de E-
Rantel. Sebas está desempenhando suas funções em E-Rantel. Embora eu não saiba o
que o Ainz-sama pretende, o fato de não ter levado um exército, sugere uma visita pací-
fica, não?”

“...Não há informação suficiente para isso. Por que o Ainz-sama desejou ir para o Reino
Dos Dwarfs?”

“Demiurge. Não podemos prever os pensamentos do Ainz-sama.”

Foi como Albedo disse.

Seu mestre, Ainz Ooal Gown, o governante supremo de Nazarick, aquele que era o so-
berano dos estratagemas, aquele que incutia várias jogadas dentro de um único movi-
mento de uma peça de xadrez. Demiurge — que tinha sido criado com talentos notáveis
— não poderia sequer esperar tocar nas solas de seu brilhantismo, mesmo com suas
mãos estendidas. A tentativa de ler as motivações de seu mestre era um erro tolo.

Dito isso, sentir os desejos de seu mestre e se preparar para isso era uma marca da
verdadeira lealdade.

Se eu não der tudo de mim em minhas tarefas...

Enquanto Demiurge reconstruía sua convicção mais uma vez, Albedo pegou um pedaço
de pergaminho da mesa.

“Isso veio do Império ontem. Eu abri depois de receber a permissão do Ainz-sama via
「Message」. Contém uma oferta de vassalagem do Império. Os detalhes exatos da vas-
salização serão finalizados mais tarde.”

Demiurge ficou chocado. Isso foi muito mais cedo do que ele havia antecipado.

“Como assim? De acordo com minhas previsões, o Império só deveria ter se oferecido
como vassalos depois que o Reino fosse destruído...”

“Esse é o resultado da visita de Ainz-sama ao Império.”

Epílogo
332
“Mas... Como esperado de Ainz-sama...”

“Diga Demiurge. Você realmente achava que o Império só se tornaria um vassalo depois
do Reino?”

“Claro. Foi assim que havia planejado.”

“Independentemente de quais métodos pensou?”

“...O que está tentando dizer?”

“Ainz-sama frequentemente mencionou seu nome. Surgiu no contexto de “Você ouviu


isso do Demiurge? Então deve ficar tudo bem.” Em outras palavras, havia algo em você —
sobre o seu plano que ele não podia aceitar.”

“O que está dizendo... Albedo, por que você não me contou mais cedo? Se esse é o caso—”

“Se for o caso?”

Demiurge não podia falar.

“...Deixe-me perguntar de novo. Não havia como tornar o Império um vassalo antes do
Reino?”

“...Havia. No entanto, teria exigido que o próprio Ainz-sama agisse. Seria um curso de
ação vergonhoso para um subordinado aconselhar. Além disso, senti que exigiria a exe-
cução de vários métodos — exigindo pelo menos um mês — para causar uma sublevação
violenta em uma grande cidade. Sendo esse o caso, eu acreditava que teria sido melhor
começar subjugando o Reino e então aplicando pressão em outras áreas... quanto tempo
ele levou?”

“Eu estava no Reino, então não tenho certeza, mas acho que foram três dias no máximo.”

Os olhos de Demiurge se arregalaram.

Isso foi muito rápido.

Como ele demonstrara sua subjugação? Como ele quebrou a vontade do imperador, que
procurou aliar-se com outras nações?

Embora Demiurge tivesse preparado um plano perfeito que tornaria o Imperador inca-
paz de agir, seu mestre parecia ter criado um esquema que superava até mesmo isso.

“Três dias? Como ele fez isso...?”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


333
“Aliás, ouvi dizer que tecnicamente não houve vítimas.”

Sua boca aberta parecia ter sido costurada. Tudo o que ele sentia era um fluxo incon-
trolável de admiração e respeito por seu governante absoluto. Ele era como a própria
morte, silenciosamente de pé atrás do Imperador e, em seguida, esmagando seu coração.

O tremor que ele sentia agora se espalhava do topo de sua cabeça para todo o seu corpo.
Deliciamento selvagem de admiração, medo e respeito se misturavam dentro dele, e essa
complexa mistura de emoções fez Demiurge estremecer sem parar.

“Como esperado de Ainz-sama. Alguém como eu não podia esperar sequer se aproximar
dele. Ele é verdadeiramente um mestre inigualável e perfeito. Ninguém mais poderia ter
liderado os Seres Supremos. Não posso deixar de invejar o Pandora’s Actor, mesmo que
seja um pouco.”

Albedo fez “kuku~”, seu sorriso estava cheio de superioridade.

Deve ter sido o sentimento de superioridade que uma mulher sentia quando recebia a
ordem de um homem tão maravilhoso, de seu amado.

“Além disso, Ainz-sama nos ordenou a decidir como lidar com a vassalagem do Império.”

“Nos ordenou? Por quê?”

“Isso não é óbvio? Muitos dos desenvolvimentos neste campo foram devidos ao uso do
seu plano, Demiurge. Mesmo assim, Ainz-sama não disse nada a você e impulsionou a
vassalização do Império com um plano próprio. Ele ficou preocupado!”

Demiurge não conseguia entender. Talvez seu mestre estivesse descontente com a pró-
pria incompetência de seu vassalo, se fosse o caso, ele poderia entender. Mas não era o
caso.

“...Por quê? Eu não entendo.”

“Hah~”

Albedo suspirou de cansaço.

“É porque ele confia em você. Em outras palavras... como devo colocar isso. Você deve
ser capaz de compreendê-lo usando sua mente, provavelmente é isso. Não seguir seu
plano equivale a duvidar de suas habilidades. Ainz-sama aguardava sua comunicação
porque não queria fazer isso. Mas o Ainz-sama sentiu que você estava muito preocupado
com ele. Assim, agiu independente para lhe dizer não se preocupe tanto, eu acredito ser
isso.”

Epílogo
334
Era uma resposta que ele poderia aceitar. Não, seria melhor dizer que não poderia ha-
ver outra resposta a não ser essa.

“Isso realmente é...”

Demiurge baixou o rosto de vergonha. Ao mesmo tempo, ele ficou cheio de alegria de-
pois que percebeu como seu mestre tinha pensado nele.

“Demiurge. Temos que trabalhar para retribuir a gentileza do Ainz-sama.”

“Mas é claro, Albedo.”

Demiurge estava animado.

“Para cumprir as expectativas do Ainz-sama, vamos concluir um plano de vassalagem


antes que ele retorne!”

“Sim. Ainz-sama viajou pessoalmente, então deve haver muitos esquemas prontos. Ele
certamente estará ocupado quando voltar do Reino Dos Dwarfs.”

Demiurge sorriu.

“É exatamente como diz, Albedo.”

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


335
Posfácio

Epílogo
336
“Um homem não deve dar desculpas”. Eu ouvi essas palavras uma vez, foi em uma certa
circunstância que não vem ao caso. No entanto, só quero dizer uma coisinha — se a mi-
nha memória ainda está boa, então estamos no 17º mês de 2015, né?

Além disso, lembro de ouvir alguém dizer: “Quando os patamares são incertos, resulta-
dos finais são imprecisos”. Ah, que frase charmosa! É bem romântica até!

...Eu sinto muito.

O Volume 11 não será assim. Não tive a intenção de fazê-los esperar, então espero que
todos possam encontrar em si mesmos um lugar para me perdoar. Além disso, o próximo
volume é— bem, quem leu esta história até aqui, não pode evitar ficar decepcionado
caso o que eu escreva seja...

Além disso, o Volume 11 contará com uma edição especial muito aguardada. Qualquer
um que tenha visto o anime vai entender. É um novo episódio de 30 minutos de Ple-Ple-
Pleiades, não é surpreendente!?

Então pessoal, como se sentem depois de ler o Volume 10? Quão diferente é administrar
um país em comparação a administrar uma organização?

Ainz começou a ampliar seus interesses, mas como vocês fariam isso? Estou muito in-
teressado na resposta. Se eu fosse ele, faria isso, ou faria aquilo. Eu ficaria muito feliz em
ouvir as opiniões de todos sobre esse assunto. E se acontecer de alguém criar uma fanfic,
ou até mesmo outra light novel original, eu ficaria ainda mais feliz. É assim que eu sou.

E então, terá uma votação de popularidade. Votem nos personagens que mais gostam.
Ao contrário das pesquisas de popularidade comuns, o primeiro lugar já está decidido, é
algo que nunca foi visto antes. Não vai passar a aparecer mais por ser popular. É sim-
plesmente para ver quais personagens todos gostam mais.

Em seguida, as pessoas a quem quero agradecer: Desculpe por arruinar sua agenda, So-
bin-sama. Muito obrigado por isso. Meus sinceros agradecimentos a Ohaku-sama, o re-
visor, aos designers, ao Chord Design Studio-sama e a editora, F-da-sama. Honey tam-
bém, meu amigo dos meus dias de estudante, obrigado como sempre.

Mais importante ainda, obrigado a todos vocês leitores. A história agora está completa-
mente divorciada da WN, então eu ficaria muito feliz se você gostasse deste volume.

Maruyama Kugane
Glossário
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Ilustrações
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Glossário
-Magias, Habilidades & Passivas- Cavalier:Eram a cavalaria dos Realistas. Realista é o par-
Tradução livre de seus nomes tidário de um monarca ou casa real. Em D&D, são cavalei-
ros que se destacam em combate montado quanto na ora-
Armageddon - Good: ............................ Armagedom - Bom. tória.
Aura of Death and Decay: .. Aura de Morte e Decadência. CEO:É a sigla inglesa de Chief Executive Officer, que sig-
Clean: ...............................................................................Limpar. nifica Diretor Executivo.
Create Undead: ......................................... Criar Morto-Vivo. Cross-dressing:Ou Transformismo, é um termo que se
Despair Aura: ......................................... Aura do Desespero. refere ao ato de alguém se vestir com roupa ou usar obje-
Fireball: ............................................................... Bola de Fogo. tos associados ao sexo oposto.
Floating Board: ....................................... Prancha Flutuante. Dakimakura:(抱き枕) “travesseiro para abraçar” tam-
Fly: ........................................................................................ Voar. bém chamado de love pillow no ocidente é um tipo de tra-
Gate: ................................................................................... Portal. vesseiro do Japão, considerado um brinquedo sexual por
Greater Teleportation: ................... Maior Teletransporte. alguns, geralmente possui a foto de algum personagem.
High Tier Physical Immunity:. Imunidade Física de Alto Dungeon:O termo é usado em jogos de RPG para desig-
Nível. nar cavernas ou labirintos repletos de monstros, armadi-
Message: .................................................................. Mensagem. lhas e tesouros. Uma Dungeon normalmente é composta
Nibelung I: .............................................................Nibelungo I. por salas e corredores que as conectam, podendo haver
Pandemonium:...................................................Pandemônio. também passagens secretas. Com etimologia na palavra
Pantheon: ..................................................................... Panteão. francesa donjon. Substantivo significando calabouço ou
Rite of Darkness: ......................................... Rito das Trevas. masmorra.
Teleportation: ............................................... Teletransporte. Fogo Amigo:Ou também fogo aliado, do inglês, Friendly
Undead Lieutenant: ........................... Tenente Morto-Vivo. fire, é uma expressão eufêmica utilizada militarmente no
Wish Upon A Star: ............................. Desejo a Uma Estrela. que tange os aspectos de ataques aliado a aliado, ou ini-
migo a inimigo.
Fukaamigasa:É um chapéu de palha associado aos mon-
-Itens- ges.
Tradução livre & Curiosidades Gadanha:Ou gadanho (também podendo ser denomi-
nado alfange) é uma ferramenta utilizada na agricultura
Avarice and Generosity: ........... Avareza e Generosidade. para ceifar cereais ou para o corte de erva. Também é o
Exchange Box: ............................................ Caixa de Cambio. tipo de arma associada ao ceifador da morte.
Keiseikeikoku:Do japonês “傾城傾国” é uma analogia a HP:Acrônimo para Hit Points ou mesmo Heath Points.
uma mulher tão bela que pode trazer ruína para um Rei e Pontos de Vida.
seu País, em tradução livre seria “Queda do Castelo e seu Kasa: ............... São batinas associadas a monges budistas.
País”. Algo como femme fatale do francês, mulher fatal em Keynesiana:A escola Keynesiana ou Keynesianismo é a
português. teoria econômica consolidada pelo economista inglês
Ring of Sustenance: ..................................Anel do Sustento. John Maynard Keynes em seu livro General theory of em-
Ring of Unicorn: ...................................... Anel do Unicórnio. ployment, interest and Money, que consiste numa organi-
Star Symphony: ...................................... Sinfonia da Estrela. zação político-econômica, oposta às concepções liberais,
The Book of the Dead: ............................ Livro dos Mortos. fundamentada na afirmação do Estado como agente in-
Twelve Magical Power: ...................... Doze Poder Mágico. dispensável de controle da economia, com objetivo de
conduzir a um sistema de pleno emprego. Tais teorias ti-
veram uma enorme influência na renovação das teorias
-Termos & Terminologias- clássicas e na reformulação da política de livre mercado.
Lair-bellup:É a versão distorcida da palavra “level up”
(subir de nível) que é usada no novo mundo.
Armagedom:Em hebraico: ‫ ;הר מגידו‬transl.: har məgiddô;
Nibelungo:Nibelung (alemão) ou Niflung (nórdico an-
“Monte Megido”, é identificado na Bíblia como a batalha
tigo) é um nome pessoal ou de clã com vários usos con-
final de Deus contra a sociedade humana iníqua, em que
correntes e contraditórios na lenda heroica germânica.
numerosos exércitos de todas as nações da Terra encon-
Tem uma etimologia pouco clara, mas está frequente-
trar-se-ão numa condição ou situação, em oposição a
mente conectada à raiz nebel, que significa neblina. O
Deus e seu Reino por Jesus Cristo no simbólico “Monte
termo, em seus vários significados, dá nome ao épico he-
Megido”. Segundo Jeremias (46,10) essa guerra será
roico da Média Alta Alemanha, o Nibelungenlied.
perto do rio Eufrates.
Overacting:“Overacting” é quando um ator exagera de-
Blitzkrieg:Vem do alemão, basicamente é um ataque rá-
mais seu papel. Basicamente o Nicolas Cage atuando.
pido e surpresa. No Brasil, parte da palavra ainda é utili-
Panteão:Em grego clássico: πάν; transl.: pan, “todo”; e em
zada, ex: “Blitz de trânsito”.
grego clássico: θεον; transl.: théos, “deus”) significa lite-
Casus Belli:Na terminologia bélica, casus belli é uma ex-
ralmente o conjunto de deuses de determinada religião.
pressão latina para designar um fato considerado sufici-
Partisans:Pode ser referente aos partisans iugoslavos ou
entemente grave pelo Estado ofendido, para declarar
partisans jugoslavos. Um movimento de resistência cujo
guerra ao Estado supostamente ofensor.
principal objetivo era combater e desestabilizar as forças
do Eixo na Jugoslávia de 1941 até 1945. Mas também

Glossário
360
pode ser referente a uma arma parecida com uma ala- culo XVI durante o período Sengoku, no Japão, que tam-
barda. bém era conhecido como Kato voador, ou seja, 飛び加藤
PKED: ................. O ato de ser morto por outros jogadores. Tobi Kato.
POP:É abreviação de “Repopulation”, Monstros que nas-
cem automaticamente em dungeons.
PVP: ............................................................ Jogador vs Jogador. -Raças & Monstros-
Quinta-coluna:Quinta-coluna é uma expressão usada
para se referir a grupos clandestinos que atuam, dentro Ape-Beastman: .................................... Homem-Besta Símio.
de um país ou região prestes a entrar em guerra. Beastmen: .........................................................Homem-Besta.
Shakujou:Em português: Cajado de monge. É um cajado Bicorn: .......................................................................... Bicórnio.
budista com um anel, usado primariamente na reza ou Cherubim Gatekeeper:Querubim Porteiro - Querubim é
como uma arma. O número de anéis é determinado pelo uma criatura sobrenatural, espiritual, mencionada várias
status do usuário apesar de que a maioria dos shakujo vezes no Tanakh, em livros apócrifos e em muitos escritos
possuírem 6 anéis que representam os seis estados da judaicos.
existência (humanos, animais, inferno, fantasmas famin- Crypt Lord:................................................... Senhor da Cripta.
tos, deuses e deuses ciumentos). Death Cavalier: ......................................... Cavalier da Morte.
Soryo: ............. É um termo japonês para monges Budistas. Death Knight: ..........................................Cavaleiro da Morte.
XP: ................... Experience Points - Pontos de Experiência. Dryads:Na mitologia grega, as dríades (em grego:
Δρυάδες, Dryádes, de δρῦς, drýs, “carvalho”) eram ninfas
associadas aos carvalhos. De acordo com uma antiga
-Nomes- lenda, cada dríade nascia junto com uma determinada ár-
vore, da qual ela exalava. A dríade vivia na árvore ou pró-
Brightness Dragonlord: . Soberano Dragão Brilhante. Os xima a ela. Quando a sua árvore era cortada ou morta, a
kanjis de seu nome abaixo do furigana são de 七彩 (Na- divindade também morria.
nasai), significa “sete cores”. Dwarf: ................................................................................. Anão.
Catastrophe Dragonlord: ..... Soberano Dragão da Catás- Eight-Edge Assassin: .............. Assassino dos Oito-Gumes.
trofe. Os kanjis abaixo do Furigana de “Catástrofe” são Elder Lich: ............................................................. Lich Ancião.
de 破滅 (Hametsu), significa: ruína, destruição. Pode Eternal Death: .................................................. Morte Eterna.
também ser interpretado como “cair em ruína”. Eyeball: ................................................................ Globo ocular.
Fuuma:O nome da criatura em OVERLORD é escrito Godkin: ................................................. Descendente de Deus.
como フウマ, mas por curiosidade, o nome Fuuma Kotarō Overlord Kronos Master: ....Overlord Mestre de Cronos.
(風魔 小太郎) foi o nome adotado pelo líder do clã ninja Overlord Wiseman: ..................................... Overlord Sábio.
Fuuma (風魔一党) durante a era Sengoku do Japão feudal. Rabbitman: .................................................... Homem-Coelho.
Radiant Crawler: ................................ Rastejador Radiante.
Em alguns folclores, ele costuma ser uma figura não-hu-
Shadow Demon: ........................................Demônio Sombra.
mana. Em cenas de ficção, Fuuma Kotarou é frequente-
Soul Eater: ............................................... Devorador de Alma.
mente descrito como o arquirrival de Hattori Hanzo.
Toadman: ........................................................... Homem-Sapo.
Além disso, o nome Fuuma significa literalmente “demô-
nio do vento”.
Hanzo:O nome da criatura em OVERLORD é escrito como
ハンゾウ, mas por curiosidade, o nome “Hanzo” pode ser -Honoríficos & Tratamentos-
uma alusão ao samurai e ninja Hattori Hanzo 服部半蔵.
Kashin Koji: O nome da criatura em OVERLORD é escrito Chan:ちゃ ん - O sufixo “chan” é um termo carinhoso
como カシンコジ, mas por curiosidade, o nome Kashin usado geralmente para crianças ou pessoas que temos
muita intimidade. O “chan” é usado após o nome inteiro
Koji quando escrito assim 果心居士 faz alusão a um mago
ou abreviado.
folclórico no qual se acredita ter vivido no Período Muro-
Dono:殿 | どの - O sufixo “dono” vem da palavra “tono”,
machi, a historicidade disso ainda é muito debatida. É
normalmente descrito como um homem idoso de cabelo que significa “senhor”. Seria semelhante ao termo “meu
branco, de barba e túnica, no qual dizem ter utilizado ilu- senhor”. Na época dos samurais, costuma-se denotar um
sões para enganar governantes poderosos. grande respeito ao interlocutor.
Kronos:Ou Cronos, em grego: Κρόνος, transl.: Krónos. Na Kun:君 - O sufixo “Kun” é bastante utilizado na relação
mitologia grega, é o mais jovem dos titãs, filho de Urano, “superior falando com um inferior”, mas apenas se hou-
o céu estrelado, e Gaia, a terra. Alternativamente. Cronos ver um certo grau de intimidade e amizade entre ambos.
era o rei dos titãs, sobretudo quando é visto em seu as- Sama:様 | さま- O sufixo “Sama” é uma versão mais res-
pecto destrutivo, o tempo inexpugnável que rege os des- peitosa e formal de “san”. A traduções mais próxima do
tinos e a tudo pode devorar. termo “sama” para o português seria “Vossa Senhoria”.
Nurunuru:Em japonês ヌルヌル (Escrito em Katakana), No Japão, é importante referir-se a pessoas importantes
o nome pode ser interpretado como ぬるぬる (Escrito em ou a alguém que admira e é muito importante, no império
Hiragana) e se interpretado assim, pode significar; vis- antigo era muito usado para se referir a rainhas.
coso; escorregadio; pegajoso. San:さん - O sufixo “San” é um honorífico que pode ser
Tobi Kato:O nome da criatura em OVERLORD é escrito usado em praticamente todas as situações, independente
como トビカトウ, mas por curiosidade, o nome remete à do sexo da pessoa. Normalmente é usado para pessoas
que temos pouca ou nenhuma intimidade. Também usado
Kato Danzo (加藤 段蔵), um famoso mestre ninja do sé-
quando a pessoa considera o interlocutor como um de
igual hierarquia.

OVERLORD 10 O Governante das Conspirações


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Notas de Tradução:
Cenoura & Chicote. No original, Maruyama usa a variação alemã do ditado, que é “pão
doce e chicote” (Zuckerbrot und Peitsche).
Nimble. A profissão de Cavalgador no caso dele vem de Rider.
A cena da Albedo chegando na festa. Como no japonês e inglês substantivos não tem
gênero, fica em suspense sobre qual o sexo da Albedo, mas como o português não é assim,
isso meio que se perde na tradução.
Keila. Quando o chamam de planejador, a palavra é usada da mesma forma que “Assas-
sino”.
Ainda nele, por ser tão severamente repreendido por seus companheiros sobre seu
modo de fala e dada a sua origem em um local miserável, tomei a liberdade de tentar
passar isso em seu modo de fala. Pois se eu traduzisse 1:1, perderia o sentido da repre-
ensão.
Ainz, o eterno interpretador de frases erradas. ...Então eu vou começar a usá-lo até
que alguém melhor venha? Esta parte é bastante complexa; Ainz usa um ditado aqui que
se refere a dar o primeiro passo com algo em segundo plano. No entanto, Ainz errou uma
palavra, indo de 隗より始めよ para 貝より始めよ - By Nigel.
Na outra parte quando é mencionado o “Sr. Nash”. Novamente está confundido as pala-
vras de Punitto— veja O Equilíbrio de Nash e o Dilema do Prisioneiro.
17º mês de 2015. Nossos meses a partir de Setembro vem do latim, ou seja:
• Setembro >> Septem >> 7;
• Outubro >> Octo >> 8;
• Novembro >> Novem >> 9;
• Dezembro >> Decem >> 10.
Sim, antigamente o último mês do ano no calendário era o mês 10, mas um cara cha-
mado Pompílio mudou isso. Então, para quem não entendeu essa Dezembroseptem de
2015, foi uma tentativa de nomeação do 17º mês baseado no latim decem et septem. Ma-
ruyama fez um trocadilho com isso em japonês usando 十七月. Pois geralmente lança 2
volumes de OVERLORD por ano e como não conseguiu lançar dois no mesmo ano, ele
usou dessa artimanha para dizer que ainda é um mês de 2015. A data real de lançamento
foi 30 de Maio de 2016.
VIVA. Nessa parte “Embora Ainz não soubesse o que ele queria dizer com “viva”, no fim,
pensou ser algum tipo de ênfase.” O que acontece, é que esse amigo do Ainz usou a se-
guinte palavra em japonês ビバ, que se traduz como Viva. No caso, esse tal amigo usou
uma palavra de língua latina. Meio que perde o sentido para nós.
Lair-bellup. Detalhando mais a fundo. Level Up é escrito assim em japonês レベルア
ップ (Raberuappu), e a palavra Lair-bellup é assim なれべるあっふ (Nare Beruaffu).
Ranque de dificuldade do Coelhinha. Ele usa uma palavra que não tem tradução certa
para qualificar, que é やばい yabai, essa palavra pode ser traduzida tanto para algo ne-
gativo, quanto positivo, depende muito do contexto. Naquele contexto é bem ambíguo,
então para tentar manter isso, usei o “foda”, que para nós, é algo que pode ser usado para
positivo ou negativo e é bem ambíguo.

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“O Soberano dos Estratagemas”
“Abismo do Grande Rei Feiticeiro”

Depois de sua coroação, Ainz decidiu transformar seu reino em uma utopia,
um mundo de sempre prosperidade, com as várias raças que se submete-
ram a ele.

Como primeiro passo, Ainz se volta para o Império com a intenção de forta-
lecer a Guilda dos Aventureiros e nutrir os aventureiros.

Enquanto isso, os governantes de cada país ficaram surpresos com o súbito


surgimento do Reino Feiticeiro e planejam suas próprias contramedidas.

Como que Ainz, o governante imortal do país, os influenciaria com suas


ações?

ISBN 978-4047340893

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