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Óptica Fisiológica

Convergência

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Esp. Marcelo Santana

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Luciene Oliveira da Costa Granadeiro

Revisão Técnica:
Prof.ª Dra. Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Convergência

• Anatomia;
• Convergência e Medidas;
• Componentes da Convergência;
• Pseudoestimulação da Convergência.


OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Aprender sobre a anatomia, os componentes da convergência e a pseudoestimulação
da convergência.
UNIDADE Convergência

Contextualização
Nesta unidade, aprenderemos sobre convergência: função e particularidades. Um
exemplo de convergência: você está convergindo, ou seja, projetando os eixos visuais
de ambos os olhos para esse escrito (se não tiver algum tipo de alteração binocular que
veremos em outra disciplina). Ambos os eixos visuais dos seus olhos estão na mesma
direção (convergindo), coincidindo o mesmo ponto em determinado plano (esta página,
o monitor, a tela de celular etc.).

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Anatomia
Vamos recordar um pouco sobre a anatomia do olho. O bulbo ocular tem inserções
de músculos para a sua movimentação. Internamente, no bulbo ocular, encontram-se ou-
tros músculos: músculo ciliar, dilatador e esfíncter. Os músculos inseridos no bulbo ocular
e que ajudam na movimentação são chamados de músculos extraoculares (extrínsecos).
São eles: retos medial (nasal), temporal, superior e inferior, e ainda os oblíquos superior
e inferior, portanto, são seis músculos que coordenam a movimentação dos olhos.

Os músculos internos ou intrínsecos colaborarão para ajustar e melhorar o foco na


retina. Quando mudamos o ponto de observação no espaço visual, a imagem na retina
se desfoca, ocorre a acomodação e a convergência ajuda a direcionar os eixos visuais
para o objeto de observação. Portanto, o desfoque da imagem na retina que começará
o processo.

Todos os músculos serão inervados pelos seguintes pares de nervos cranianos:

Quadro 1 – Inervação e músculos do bulbo ocular

Reto Superior III par – Oculomotor

Reto Inferior III par – Oculomotor

Reto Medial III par – Oculomotor

Reto Temporal VI par – Abducente

Oblíquo Superior IV par – Troclear

Oblíquo Inferior III par – Oculomotor

Músculo Ciliar III par – Oculomotor

Esfíncter (íris) III par – Oculomotor

Dilatador (esfíncter) III par – Oculomotor

Fonte: Adaptado de SOUZA-DIAS; ALMEIDA, 1993

Os movimentos vergenciais são disjuntivos – permitem observar pontos em distâncias


variadas no espaço visual (KAUFMAN; ALM, 2003). Nessa coordenação existem as
ações chamadas: convergência, divergência e ciclovergência (vergência vertical) (SOUZA-
-DIAS; ALMEIDA, 1993; GROSVENOR, 2004).

Sua velocidade chega a cerca de 21° de arco/segundos (mais lentos que os movimen-
tos sacádicos).
• Convergência: ocorre a adução como movimento dos olhos (ou seja, ambos os
olhos se movimentarão no mesmo sentido);
• Divergência: ocorre a abdução como movimento dos olhos (ou seja, ambos os
olhos se movimentarão em sentidos opostos).

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UNIDADE Convergência

Esses dois movimentos podem ocorrer na mesma velocidade ou não.

Importante entendermos que a vergência estará relacionada diretamente a dois tipos


de repousos nos olhos (AGUILAR; MATEOS, 1994):
• Repouso anatômico: a cavidade orbitária do crânio em seu eixo central não coincide
com o eixo central do bulbo ocular. Se encaixássemos o bulbo ocular no mesmo
eixo da cavidade orbitária, os eixos de ambos os olhos estariam projetados em posi-
ções opostas. Ao observar um cadáver, percebemos que os eixos divergirão uns dez
graus. Também conseguimos observar esse efeito quando alguém está dormindo e
erguemos as pálpebras: observaremos que os olhos divergem (sentido temporal) e
ficam levemente para cima;
• Repouso fisiológico: os músculos extraoculares ajudarão o bulbo ocular a se man-
ter em uma posição equilibrada, podendo ser quebrado caso a fusão não exista
(quando ambas as retinas captam a mesma imagem e no córtex occiptal são trans-
formadas em uma).

O impulso da convergência é independente em ambos os olhos, ocorre na região


pré-tectal, no mesencéfalo, em um centro da região subcortical específico. Inervado pelo
III PNC (Par de Nervo Craniano), no núcleo de Edinger Westphal, que ativará os retos
mediais, inibindo os retos laterais (que são inervados pelo abducente VI PNC).

Convergência e Medidas
Peça para alguém segurar um lápis na Distância de Harmon. Depois, oriente-o a
olhar para o mais distante e, após segundos, olhar para perto. Você conseguiu ver que,
quando a pessoa estava olhando para longe, os olhos estavam no centro das pálpebras
e, quando olhava para perto, os olhos se direcionaram para o nariz? Nós chamamos
essa ação de convergência. A convergência é definida pela relação entre o centro de
rotação do olho (que pode variar de um olho para outro) e o plano das lentes dos óculos
(GROSVENOR, 2004).

Fazemos a convergência quando olhamos para perto, principalmente em uma leitura,


como você está fazendo agora.

Quando estamos olhando para o horizonte, os nossos olhos estão alinhados, ou seja,
os eixos visuais estão paralelos. Quando algum objeto está entre esses eixos visuais (olho
direito e esquerdo) e se aproxima, os eixos visuais se encontram no objeto, até o limite,
próximo ao que conseguimos enxergar, sem desfocar ou duplicar (Ponto Próximo de
Convergência – PPC), assim, os eixos visuais estarão na direção nasal.

Tanto por reflexo quanto por ação do lobo frontal, a convergência deve estar presente
para uma eficiente ação de trabalho para perto (ONDATEGUI et al., 2004; ELDER’S,
1997). Para medir a convergência, usamos a dioptria prismática (DP) ou o ângulo mé-
trico (AM). O AM é inversamente proporcional à distância de observação. Com isso,
quanto mais se afasta esse ponto de observação, menor será o ângulo. A uma distância
de 2 metros, teremos 0,5 AM, sendo 33 cm, a convergência será 3 AM. Duane faz o

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cálculo de convergência usando como dados: distância pupilar (DP) e distância do ponto
de fixação (DPF), gerando como resultado graus de arco. Quando o paciente está no
foróptero, devidamente corrigido, colocamos a haste com uma tabela na medida de 40
cm. Vamos levar em consideração a distância dos planos das lentes (óculos ou o foróptero)
até o centro de rotação do olho, que será de 2,7 cm (27 mm). A distância de observa-
ção do paciente até a tabela que está nas hastes do foróptero será de 40 cm (400 mm).
Somando ambas as distâncias, teremos uma distância de 42,7 cm (427 mm). Contudo,
a distância entre as pupilas será relevante. Paciente com 6,4 cm (64 mm). Com esses
dados, calcularemos quanta convergência cada olho requer:
• DP: 6,4 cm (como calcularemos cada olho, usaremos o seguinte valor: 3,2 cm);
• DO: 0,427 mm de distância de observação e centro de rotação do olho;
• DP x 1/DO = 3,2 x 1/0,427 = 7,49 DP.

Multiplique por dois (dois olhos) o valor de 7,49 DP, teremos cerca de 15DP requeri-
das na convergência.

A convergência relativa está diretamente ligada à alteração vergencial e sua relação


com a acomodação. Existem duas convergências relativas: positiva (que estimulamos
com prisma de base temporal) e a negativa (que estimulamos com prisma de base nasal).
Com essa prática, trabalharemos apenas a vergência (convergente ou divergente) sem
afetar a acomodação.

Além da Convergência Relativa Positiva (CRP) ou a Convergência Relativa Negativa


(CRN) existem a Convergência Fusional Positiva (CFP) e a Convergência Positiva Nega-
tiva (CPN).

Convergência Fusional está ligada diretamente ao aspecto fusional (fusão da imagem


no córtex), portanto, para calcular precisaremos das medidas da CRP ou CRN, e ainda
da foria do paciente.

Tabela 1 – Dioptria prismática de convergência


Tipo de Convergência Fusional Foria Cálculo
Exoforia CRP + Foria
Positivo
Endoforia CRP – Foria
Endoforia CRN + Foria
Negativa
Exoforia CRN – Foria
Tipo de Convergência Fusional Foria Cálculo
Exoforia CRP + Foria
Positivo
Endoforia CRP – Foria
Endoforia CRN + Foria
Negativa
Exoforia CRN – Foria
Fonte: Adaptada de ONDATEGUI, 2004

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UNIDADE Convergência

Componentes da Convergência
Os estímulos que acionarão os movimentos de convergência são:
• Quando as imagens da retina ficam borradas, por conta da mudança de interesse
dos objetos que estão no espaço visual, com isso ocorrerá a convergência acomo-
dativa (KAUFMAN; ALM, 2003);
• Muito parecido com o primeiro, quando as imagens na retina periférica, que esta-
vam na fovéola, induzem a uma mudança da distância de forma aparente do objeto
observado (vergência fusional). (KAUFMAN; ALM, 2003).

Quando há ação de convergência, a acomodação e a miose agem também. Isso é


extremamente importante de ser observado, pois clinicamente será utilizada desde uma
avaliação funcional, retinoscopia, avaliação ocular e visual.

Assim como a acomodação, a convergência possui os seus componentes.

São eles:

Quadro 2 – Tipos e definições de convergência

Movimento do olho desde a posição anatômica de re-


Tônica pouso até a mais convergente. Afetada por sono, álcool
e anestesia. Suas deficiências originarão as forias.

Acomodativa Associado à acomodação.

Evita a diplopia, pois ambas as retinas devem acompa-


Fusional nhar o estímulo da mesma forma.

Proximal (voluntária Consciente do objeto que está próximo, ou seja, cons-


ou psíquica) ciente da proximidade.

Fonte: Adaptado de ONDATEGUI, 2004; KAUFMAN; ALM, 2003

Pseudoestimulação da Convergência
No dia a dia usamos a convergência. Como podemos provar isso? Esta subunidade
pretende usar artifícios para desestimular ou hiperestimular a convergência, e mostrar
como dependemos dela. Portanto, com as atividades em sala de aula que terão simula-
ções da realidade, você entenderá a teoria experimentando algumas simulações.

Para provocarmos ou anularmos a acomodação, usaremos lentes negativas ou posi-


tivas. Porém, para entendermos a realidade da convergência, como estimular ou anular,
usaremos o prisma.

Prisma desviará a luz para a base, porém a imagem será direcionada para o ápice.

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Com isso, desviaremos a luz (eixo visual) que incide na fovéola para a outra região do
olho, ao colocar o prisma de base temporal ou nasal. Provocaremos uma disparidade
retiniana (em decorrência do desvio de luz).

Essa simulação da realidade mostrará na prática o quanto precisaremos do sistema de


convergência para andar, locomover-se ou até pegar algo na mesa.

Para dissociar (ou seja, separar) a acomodação da convergência, podemos usar ape-
nas lentes negativas para perto.

Na convergência tônica, um experimento seria levantar as pálpebras de alguém que


esteja dormindo e observar o comportamento dos olhos (tomar muito cuidado para não
causar nenhum constrangimento, susto ou problemas a essa pessoa). Esse experimento
é de inteira responsabilidade sua, caro aluno.

Na convergência proximal, basta pedir que alguém coloque algo em torno de 33 cm,
e pedir que ele olhe para longe e depois para o objeto posto a 33 cm. Observe o com-
portamento do olho dele.

Ápice
Imagem

Luz
Base
Figura 1 – Comportamento da imagem e da luz

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UNIDADE Convergência

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