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o mercado carioca de crédito:

da acumulação senhorial
à acumulação mercantil (1650-1750)
Antonio Carlos Jucá de Sampaio

o estudo do sistema de crédito existente no período colonial tem-se


mostrado, crescentemente, de grande importância para a compreensão da socie­
dade da América Portuguesa, dada a relevância de seu papel no interior da mes­
ma. Essa relevância deriva, ao nosso ver, de três fatores fundamentais, sendo que
O primeiro deles é a existência de um controle dos fluxos monetários por parte de

uma pequena elite, profundamente envolta na atividade mercantil. Essa elite si­
tua-se no cume de um sistema creditício que, em sua base, encontra-se extrema­
mente capilarizado, entranhando-se em todos os segmentos sociais.
Deve-se ter em conta, no entanto, que essa não é uma característica ex­
clusiva da nossa sociedade colonial, encontrando-se presente em todas as forma-
,

ções sociais do Antigo Regime. E, por exemplo, a longa e complexa rede de endi-
vidamento existente na Europa que permite a existência, no século XVI, da cha­
mada feira de Plaisance, na qual se dava o encontro das dívidas passivas e ativas
da verdadeira elite mercantil européia de então, formada fundamentalmente

Estudos Históricos, ruo de Janeiro, nO 29, 2002, p. 29·49.

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estlldos históricos - 2002 - 29

por genoveses. Embora os valores envolvidos nas transações fossem bastante


elevados, a quantidade de dinheiro sonante necessário para a liquidação das
contas era relativamente pequeno, graças exatamente às grandes redes de endi­
vidamento em que todos os seus participantes estavam envolvidos (Braudel,
1983: 552-6).
Uma análise mais localizada mostra a permeabilidade dos sistemas de
crédilO europeus em suas respectivas sociedades. Segundo Ulrich Pfister (1994:
1.339-57), na Suíça dos séculos XVI ao XVIII o crédilO era um instrumento fun­
damentaI na dominação que as cidades exerciam sobre as áreas rurais circundan­
tes, sendo o grau de endividamento do campesina 10 bastante elevado. Num le­
vantamenlO de 1690, por exemplo, feilO no vilarejo de Ebikon, nada menos de
90% dos proprietários camponeses possuíam dívidas, cujos juros consumiam em
média 61 % da renda líqüida das propriedades (Pfister, 1994: 1.343).
Também na Inglaterra deparamo-nos com uma grande capilaridade do
sistema de crédito. Trabalhando com 13.586 contas de inventário da região de
Kent, que abrangem o período de 1568 a 1740, Peter Spufford encontrou dívidas
passivas em nada menos de 81 % delas, com uma mediana de três dívidas por in­
ventário (1994: 1.359-73).
Na América Espanhola colonial, a existência de longas redes de endivi­
damento estava na base do sistema comercial mesmo em regiões economicamen­
te periféricas, como o rio da Prata na segunda metade do século XVII (MOUlOU­
kias, 1988: capo 2).
Neste sentido, concordamos com Paul Servais (1994: 1.393-409), quan­
do diz que é exatamente devido ao seu papel primordial na organização e funcio­
namento das sociedades do Antigo Regime que o crédilO merece atenção espe­
cial dos historiadores econômicos dedicados ao período.
No que se refere ao Brasil, o trabalho de Rae Flory (1978: capo 3) foi pio­
neiro na análise do papel do crédito na sociedade colonial. Esrudando a agricul­
rura açucareira baiana, Flory apontou para a grande importância dos emprésti­
mos tanto para a aquisição quanto para a manutenção das propriedades rurais.
Mais ainda, demonstrou que, apesar da forte concentração dos valores empresta­
dos em alguns grupos sociais, notadamente os senhores de engenho e plantado­
res de cana, o acesso ao crédilO era bastante difuso na sociedade local, estando
disponível mesmo para setores sociais subalternos, como os artesãos. Isso IOrna­
va-se possível por conta da existência de uma grande variedade de credores, tan-
10 privados quanlO instirucionais.

O segundo fator a estimular o mercado de crédilO era o caráter agrário da


economia colonial, característica igualmente geral nas sociedades do período.
Esse caráter agrário tinha como uma de suas principais conseqüências um des­
compasso entre o ciclo agrícola, de caráter anual, e as necessidades quase diárias

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o mercado carioca de crédito

de insumos e alimentos para as unidades produtivas. Esse descompasso era com­


pensado pelo sistema de contas-correntes, em que o comerciante adiantava para
o produtor as mercadorias de que esse necessitava, em geral em troca de sua safra
futura. Veremos mais a frente, exemplos desse tipo de relacionamento.
O terceiro fator a revelar-nos a importância do crédi to é a forma de
aquisição da mão-de-obra. Esta é fei ta em sua maior parte através do merca­
do, participando, é claro, do conjunto de necessidades das unidades produ­
tivas e, nesse sentido, podendo ser englobada ao que nos referimos no pará­
grafo acima. Entretanto, merece uma menção à parte dado o seu caráter pe­
culiar, tanto diante do peso que possuía nos investimentos totais das unida­
des produtivas, quanto por se tratar da compra do principal fator produtivo,
ou seja, o próprio trabalhador.
Para os séculos XVII e XVIII faltam-nos dados mais completos sobre a
participaçao dos escravos nos investimentos totais. Tomando um grupo de dez
engenhos avaliado entre 1716 e 1816, Schwartz calcula uma participação de
aproximadamente 20% dos escravos no valor total, representando o segundo
item de investimento e ficando atrás apenas das inversões em terras (1988:
185-9). Esse percentual, entretanto, parece-nos pequeno. Trabalhando com uma
região produtora de alimentos no século XIX, encontramos para as décadas de
1850 e 1860 uma participação dos escravos superior a 50% no valor total dos in­
ventários (Sampaio, 1994: 70). Claro que a comparação não é adequada, sobretu­
do por causa da elevação do preço do cativo após o fim do tráfico. Mesmo assim,
chama-nos a atenção para a importância que a mão-de-obra podia adquirir num
. . .
sistema agrano escravista.
,

Seja como for, o fato de depender do mercado para adquirir parte consi­
derável de sua mão-de-obra contribuía para o aumento do endividamento dos
setores rurais, inclusive (ou principalmente) de sua elite. Além disso, significava
a transferência antecipada de parte do sobretrabalho a ser produzido pelo escra­
vo para o comerciante responsável por sua venda, reduzindo a capacidade de
acumulação do senhor e contribuindo para seu endividamento ainda maior face
ao capital mercantil (Fragoso, 1997: 161-2).
No período aqui estudado, a dependência estrutural de um financia­
mento constante influenciou decididamente a evolução do agrofluminense, es­
pecialmente no que se refere ao setor açucareiro, onde a disponibilidade de cré­
dito e o investimento direto foram fundamentais para a definição de suas diver-
sas conjunturas.

Mas não só o setor agrário dependia de crédito para sua sobrevivência.


Também o setor urbano, com suas múltiplas ocupações terciárias, inclusive o co­
mércio, utilizava-o em suas atividades cotidianas. De fato, o dinheiro parecia
pouco participar do dia-a-dia dos indivíduos da sociedade fluminense.

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estudos históricos e 2002 - 29

Tabela 1 - Participação dos diversos tipos de credores no valor total dos


empréstimos concedidos nos diversos períodos (1650-1750)

1650-1660 1661-1670 1671-1680

Credores Valor % Valor % Valor %

Juízo de órfãos 1564300 13,4 8296551 40,6 8870897 69,3

S. Casa Misericórdia O 0,0 O 0,0 O 0,0

Outras instituições 500000 4,3 494790 2,4 113350 1,0

Subtotal 2064300 17,6 8791341 43,0 9004247 70,3

Homens de negócio O 0,0 O 0,0 O 0,0

Senhores de engenho 3202400 27.4 3254400 15,9 428369 3,3

OutrOS 6434960 55,0 8376952 41,0 3267454 25,5

Total 11701660 100,0 20422693 100,0 12800690 100,0

1681-1690 1691-1700 1711-1720

Credores Valor % Valor % Valor %

Juízo de órfãos 2072225 16,0 3380790 21,6 16905675 20,2

S. Casa Misericórdia 100000 0,8 850000 5,4 2500000 3,0

Outras instituiçãcs 730039 5,7 340000 2,2 3235477 3,9

Subtoral 2902264 22,5 4570790 29,2 22641152 27,1

Homens de negócio 1506620 11,7 1047000 6,7 17900650 21,4

Senhores de engenho 1520000 11,8 1562563 10,0 2300000 2,8

Dunos 6991640 54,1 8450540 54,1 40761826 48,8

To<al 12920524 100,0 15630893 100,0 =i' 83603628 100,0

1721-1730 1731-1740 1741-1750

Credores Valor % Valor % Valor %

Juízo de órfãos O 0,0 909370 0,8 2619125 1,3

S. Casa Misericórdia 4497066 7,6 O 0,0 15147542 7,2

Outras institui - 5 1500000 2,5 3752320 3,3 16085340 7,7

Subtotal 5997066 10,. 4661690 4,0 33852007 16.1

Homens de negócio 14919160 25,1 65671212 56,9 82595682 39.3

Senhores de engenho 155000 0,3 7603543 6,6 7136000 3,4

Outros 38301285 64,5 37493581 32,5 86634859 41,2

To<al 59372511 100,0 115430026 100,0 210218548 100,0

Fonte: Escriruras públicas dos Cartórios do Primeiro e Segundo Oficios de Notas do Rio de Janeiro
(I65()'1750). Obs: I) Não há escrituras públicas para a primeira década do século XVUJ; 2) valores em
mil-réis; 3) a soma das porcentagens pode ser diferente de cem por causa dos arredondamentos.

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o mercado carioca rle crédito

Tabela 2 - Participação dos senhores de engenho e homens de negócio


no acesso ao crédito nos diversos períodos (1650-1750)

1650-1660 1661-1670 1671-1680

Devedores Valor % VaJor % Valor %

Institucionais O 0,0 O 0,0 O 0,0

Senhores de engenho 5141400 43,9 7709018 37,8 3407740 26,6

Homens de negócio O 0,0 O 0,0 O 0,0

Outros 6560260 56,1 12713675 62,2 9392950 73,4

TOlal 11701660 100,0 20422693 100,0 12800690 100,0

1681-1690 1691-1700 17l1-17Z0

Devedores Valor % Valor % Valor %

Instilucionais O 0,0 O 0,0 2800000 3,3

Senhores de engenho 8487359 65,7 4316103 27,6 17479033 20,9

Homens de negócio O 0,0 310000 2,0 4500000 5,4

OutroS 4433165 34,3 11004790 70,4 58824595 70,4

Total I 29Z0254 100,0 15630893 100,0 83603628 100,0

1721-1730 1731-1740 1741-1750

Devedores Valor % Valor % Valor %

Institucionais O 0,0 4500000 3,9 18700000 8,9

Senhores de engenho 2074917 3,5 12610995 10,9 41108490 19,6

Homens de negócio 11329000 19,1 15689370 13,6 41668568 19,8

Outros 45%8594 77,4 82629661 71,6 108741490 51,7

Total 5937Z5 I 1 100,0 115430026 100,0 210218548 100,0

Fomes: Ver tabela 1.

Assim, o acesso ao crédito em suas diversas formas mostrava-se crucial


o

para absolutamente todos os setores dessa sociedade. E interessante notar que


mesmo escravos podiam conseguir um empréstimo para a compra da tão almeja-
o

da alforria. E o caso, por exemplo, de Elena, parda, que em 1735 tomou empresta-
do o valor de 200$000 a lnácia Rodrigues de Castro para comprar sua alforria
(CSON, I. 47, f. 64v). Logo, evidencia-se a importância do estudo do mercado de
crédito para nossa análise das estruturas socioeconômicas do período.
Com essas tabelas buscamos responder a duas perguntas básicas. A pri­
meira é sobre o caminho percorrido pelo crédito no Rio de Janeiro colonial, ou

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estlldos /tistóricos e 2002 - 29

Tabela 3 - Concentração do valor total de empréstimos


nos 10% maiores (1650-1750)

Período Valor % N %

1650-1660 3700000 31,62 4 9,52

1661-1670 7417883 36.32 8 10,13

1671-1680 3321418 25,95 8 10,13

1681-1690 6864679 53,13 4 9.09

1691-1700 4652453 29,76 9 9,89

1711-1720 29651767 35,47 11 9,73

1721-1730 18148385 30,57 5 10,00

1731-1740 52967502 45,89 8 9,76

1741-1750 1074 39368 5 I ,11 14


+ 9,79

Fomcs: Ver tabela 1.

Tabela 4 - Concentração do total de empréstimos


nos 50% menores (1650 -1750)

Periodo Valor % N %

1650-1660 2144260 18,30 21 50,00

1661-1670 4565853 22,40 40 50,63

1671-1680 3429900 26,84 40 50,63

1681-1690 1704040 13,20 22 50,00

1691-1700 4144990 26,52 46 50,55

1711-1720 14170301 16,95 57 50,44

1721-1730 10325920 17,39 25 50,00

1731-1740 15020218 1l,01 41 50,00

1741-1750 24761125 11,78 72 50,35

Fontes: Ver tabela 1.

seja, por um lado, quem empresta dinheiro e, por outro, quem recebe o dinheiro
emprestado. Em outras palavras, quais são as fontes da liquidez nessa sociedade e
o destino de tais recursos.
Para que conseguíssemos atingir plenamente tal objetivo, seria necessá­
rio que tanto credores quanto devedores fossem divididos conforme suas ocupa­
ções principais e/ou status social. O problema, porém, era como fazer tal divisão,
tendo-se em vista que a maioria, tanto de uns quanto de outros, não aparecia nas

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o /IIercado carioca de crédito

escrituras com qualquer qualificação. A solução foi o cruzamento com outras


fontes, mas ao realizá-lo percebemos que havia uma sobre-representação de se­
nhores de engenho e homens de negócio, em detrimento de outros grupos so­
ciais, como lavradores e artesãos. Portanto, buscar aquilatar a participação desses
últimos significaria na prática a apresentação de uma imagem distorcida do con­
junto. Além disso, senhores de engenho e homens de negócio constituíam a elite
colonial do período. Assim, analisar em separado as suas respectivas trajetórias
nos ajudaria a elucidar as transformações mais gerais ocorridas nesse mesmo
mercado.
Por fim, cabe ressaltar que não trataremos aqui das possíveis relações
pessoais existentes entre credores e devedores. Sem dúvida tais relações, quando
existiam, podiam distorcer as características não só do mercado de crédito em
particular como da economia em geral. Afinal, estamos diante de uma sociedade
do Antigo Regime, o que nos impossibilita pensar em um mercado impessoal,
movido exclusivamente por critérios econômicos (Polanyi, 1980). Mas dada a
impossibilidade de, nesse momento, reconstiruir num grau razoável o quadro
dessas relações, optamos por uma análise mais geral, mas nem por isso menos
significativa, do nosso objeto.
As tabelas 1 e 2 confirmam, ao nosso ver, o acerto das opções feitas. Por
elas conseguimos visualizar, ao longo da cenrúria estudada, as grandes transfor­
mações ocorridas no mercado carioca de crédito.
Em primeiro lugar, verificamos a importância das instiruições coloniais,
notadamente o Juízo de órfãos, nesse mercado. Pela tabela 1, fica claro o papel
fundamental desempenhado por ele ao longo de toda a segunda metade do Seis­
centos. Embora com variações importantes ao longo das décadas, o Juízo de ór­
fãos pode ser considerado, nesse momento, a principal fonte de recursos da eco­
nomia fluminense. Se tomarmos O período de 1650 a 1700 como um todo, vere­
mos que tal instiruição respondeu por praticamente um terço de rodos os recur­
sos emprestados (32,91%) e esteve presente em praticamente um quarto de todas
as escriruras de empréstimo (Fragoso, 1997: 157).
As variações verificadas em sua participação nesse período estão prova­
velmente ligadas às diferentes conjunruras econômicas. Não nos parece que seja
coincidência o faro de que a participação máxima de tal instituiçao tenha ocorri­
do exatamente na década de 1670, quando responde por mais de dois terços do
valor total emprestado. Acreditamos que tal fato está ligado à crise desse período,
marcado sobrerudo por uma conjunrura desfavorável no que se refere ao merca­
do açucareiro (Sampaio, 2000: capo 1-2). Tal conjuntura desfavorável provavel­
mente gerou um retraimento dos possíveis credores privados, fazendo com que o
papel do Juízo de órfãos aumentasse consideravelmente, transformando-o no
grande responsável pela oferta de recursos e, conseqüentemente, pela liqüidez

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estudos históricos e 2002 - 29

do sistema econômico local. Nos períodos posteriores, a situação econômica o

mais favorável gerou uma maior diversificação das fontes de recursos. E impor-
tante considerar, nesse sentido, que a partir da década de 1680 temos a fundação
da Colônia de Sacramento e, com ela, um acesso mais direto do Rio de Janeiro à
prata espanhola (Sampaio, 2000: capo 3), com um provável aumento da disponi­
bilidade de moeda e, sobretudo, um acentuado desenvolvimento das atividades
comerciais que acabava gerando recursos que podiam ser disponibilizados atra­
vés de empréstimos.
O papel desempenhado pelo Juízo de órfãos no Rio de Janeiro seiscentis­
ta demonstra, como bem apontou]oão Fragoso (1997: 157-8), a importância cru­
cial do controle dos cargos da República nessa sociedade, ou seja, dos ofícios da
administração local. Falando especificamente desse ofício, Fragoso demonstra
que ele era controlado pela elite senhorial local, o que significava o seu acesso pri-
o

vilegiado a tão importante fonte de recursos. E importante lembrar que, dada a


intrincada rede de relações construída a partir dos casamentos entre membros
das diversas famílias senhoriais, bem como o estabelecimento de outros laços de
difícil detecçao (como o compadrio), o controle desse e de outros postos-chave
(como o de capitão-mor) beneficiava não somente uma família específica, mas
diversos grupos familiares a ela ligados.
Para a primeira metade do século seguinte, porém, o quadro mostra-se
bastante diverso. Embora ainda tenha uma presença importante na segunda dé­
cada do Setecentos (e primeira de nossa amostra), oJuízo de órfãos perde todo o
seu significado econômico logo depois, chegando a não figurar em uma única es­
critura da década de 1720. A partir do período seguinte, sua participação pode ser
considerada insignificante em relação ao total.
Poderíamos pensar que tal diferença estaria ligada a mudanças na nossa
própria amostra, já que para o século XVIII ela engloba escrituras tanto do pri­
meiro quanto do segundo ofício de notas, enquanto no período anterior somente
o primeiro encontrava-se representado. Contudo, se tomarmos como exemplo a
década de 1740, para a qual dispomos de dados em grande quantidade para am­
bos os ofícios, veremos que em ambos a participação do Juízo de órfãos é bastante
semelhante. Assim, para o primeiro ofício temos uma participação de 1,3% no
valor total emprestado, enquanto no segundo ofício o percentual é de 1,23%. Por­
tanto, é na própria evolução da sociedade e da economia local que devemos bus­
car a explicação para tal decadência.
De fato, essa perda de importância está ligada ao acelerado processo de
desenvolvimento mercantil por que passa a economia fluminense no Setecentos,
levando ao surgimento de novas fontes de recursos para aqueles que demanda­
vam empréstimos. Tal fato é evidenciado pelo surgimento dos homens de negó­
cio como grandes credores, que analisaremos mais abaixo. Por enquanto, o que

36 -
o merCllllo carioca de crédito

nos interessa reter é a perda de importância de um dos mais proeminentes cargos


da República que até então fora estratégico para o processo de acumulação da eli­
te senhorial. Ou, pelo menos, para garantir sua liqüidez e, com ela, a sobrevivên­
cia a longo prazo.
As demais instituições coloniais têm um papel bem mais errático no
mercado de crédito, aparecendo no mesmo somente esporadicamente. A esse
respeito, merece uma menção especial a Santa Casa da Misericórdia.
Analisando um conjunto de trezentos empréstimos feitos na Bahia no
período 1698-1715, Rae Flory (1978: 73) demonstrou que a Santa Casa possuía
então um papel destacado no mercado de crédito baiano, respondendo por mais
de um quarto do valor total das transações de crédito. Por outro lado, o Juízo de
órfãos sequer aparece em sua amostra.
Situação bem diversa da fluminense, na qual não encontramos qualquer
presença da Misericórdia durante as três primeiras décadas do nosso estudo. So­
mente a partir do século XVIII sua participação ganha maior peso, ainda que na
década de 1730 ela não apareça sequer uma vez nas escrituras. Mesmo se compa­
rarmos os dados de Flory com os que dispomos para a última década do século
XVII e a segunda do XVIII (grosso modo, equivalente ao período estudado por
esta autora), veremos que a Santa Casa carioca ainda estava longe de desempe­
nhar o mesmo papel de sua congênere baiana. Nesse período, a instituição res­
pondeu por tão-somente 3:350$000, ou 3,37% do valor total emprestado.
Por outro lado, a maior importância da Santa Casa no Setecentos está li­
gada a uma série de doações de homens de negócio, feitas no decorrer do período.
Foi o caso, por exemplo, de Antônio Pimentel, falecido em 1711 (AMSB, doc.
1059) e de José de Souza Barros, falecido em 1722 (Vieira Fazenda, 1912: 116-7),
os quais deixaram o valor líquido de suas fortunas para a prestigiosa irmandade.
Em 1738, os também negociantes Inácio da Silva Medella e Romão de Mattos
Duarte fizeram doações, nos valoresde 10:465$000 e 12:800$000, respectiva­
mente (Coaracy, 1965: 228). Além disso, ao falecer, em 1746, Medella deixou par­
te de sua incrível fortuna para a irmandade (Martins, 2000: 172). Portanto, o au­
mento da participação de tal instituição no mercado de crédito está ligado de for­
ma indireta, mas igualmente clara, ao surgimento de uma poderosa elite mercan­
til em solo fluminense.
,

E importante ressaltar que a menor presença da Santa Casa no Rio deJa-


neiro, no que se refere ao mercado de crédito, não guarda qualquer relação com
seu papel social, visto que dela sempre fizeram parte os membros mais destaca­
dos da elite local, com o cargo de provedor sendo ocupado quase sempre por se­
nhores de engenho e, no século XVIII, também por homens de negócio, além de
governadores, o que demonstra o seu prestígio na sociedade colonial (Vieira Fa­
zenda, 1912: 394-7).

37
cSh/dos históricos e 2002 - 29

Portanto, as diferenças entre Rio de Janeiro e Bahia, no que concerne às


principais instituições fornecedoras de crédito, devem-se a estratégias algo dis­
tintas de suas respectivas elites. Mas há uma semelhança fundamental entre os
dois casos: em ambos, a origem do dinheiro utilizado nos empréstimos não esta­
va ligada, ao menos diretamente, à acumulação mercantil.
No caso do Juízo de órfãos, o dinheiro emprestado era parte da herança
dos órfiios, em geral, resultado da arrematação de seus bens em praça pública. Por
isso, nas escrituras, o órfão a quem pertencia o dinheiro emprestado aparecia
sempre identificado (por exemplo, CPON, l. 44, f. 104v, 1662).
Nas Santas Casas, a origem dos valores emprestados era, a princípio,
mais variada. Em geral, eram doações testamentárias de propriedades, de dinhe­
iro, ou mesmo de dívidas ativas, feitas em troca de um certo número de missas
pela alma do doador. Os recursos gerados por tais doações eram repassados a ter­
ceiros sob a forma de empréstimos (Russell-Wood, 1981).
Logo, tanto num como no outro caso era a morte de determinados indi­
víduos que fazia com que parte dos bens por eles acumulados ao longo da vida
fosse transformada em capital e repassada, então, a terceiros. Nada mais distinto
de uma acumulação de capital em seu sentido estrito. Tratava-se de uma forma
engenhosa de colocar em circulação uma riqueza que muitas vezes já se encon­
trava, no todo ou em parte, fora do mercado. Além disso, o fato de que institui­
ções coloniais apareciam como principais credoras nas duas praças aponta para
uma relativa autonomia da economia colonial frente aos grupos mercantis me­
tropolitanos, como já bem observou João Fragoso (1992: 24). Por outro lado, a
importância dessas instituições demonstra a relativa fragilidade do capital mer­
cantil local, ainda incapaz de controlar a oferta de crédito e, portanto, a própria
liqüidez da economia colonial.
Convém lembrar que a existência de instiruições coloniais fornecedoras
de crédito está longe de ser uma especificidade da América Portuguesa. Pelo con­
trário, é no império hispano-americano que encontramos os melhores exemplos
de sistemas institucionais de crédito, quase sempre baseados em órgãos
eclesiásticos.
O quadro geral que emerge das pesquisas relativas a essa área é o de uma
presença esmagadora dessas instiruições, cujos recursos, assim como no caso das
Santas Casas brasileiras, originavam-se quase sempre de doações testamentárias
feitas por particulares (Qui'foz,
Florescano, 1990: 92-121; Burns, 1997: 185-203; Young, 1989). Também aí esta­
mos diante de sociedades coloniais que criavam seus próprios mecanismos de
produção de crédito, a fim de fazer frente à falta de numerário, bem como à cons­
tante necessidade de novos recursos de suas economias, notadamente por parte
de suas elites, as grandes beneficiárias desses sistemas creditícios.

38
o mercado carioca de crédito

Contudo, as elites coloniais hispano-americanas não se beneficiavam


somente do acesso privilegiado ao crédito, mas também de condições muito fa­
voráveis de pagamento. William Taylor, em seu trabalho clássico sobre ahaeienda
na região de Oaxaca, chamou atenção para o fato de que os devedores somente
eram obrigados a pagar os juros dos empréstimos (o que, dado o elevado nível de
endividamento, não era pouca coisa), mas não o principal (Taylor, 1978: 71-104).
Kathryn Burns, em estudo sobre a participação dos mosteiros no mercado de
crédito de Cuzco (Burns, 1997), mostra a importância que havia para as famílias
da elite local ter alguma(s) de sua(s) filha(s) como membro(s) desses mosteiros. A
partir delas, sobretudo se ocupassem cargos de direção, era possível não somente
conseguir o acesso necessário ao crédito como também adiar indefinidamente o
seu pagamento.
Situação semelhante verificava-se nos empréstimos concedidos pela
Misericórdia baiana. Segundo Russell-Wood, "muitos devedores descobriam
que a melhor maneira de ocultar suas deficiências no pagamento de dívidas era
serem eleitos para a Mesa" (Russell-Wood, 1981: 82). Com isso, eram freqüentes
não só os atrasos com o pagamento de juros, como também as perdas dos valores
totais emprestados.
Para o Rio deJaneiro não dispomos de quaisquer informações relativas a
possíveis irregularidades no pagamento dos empréstimos concedidos pelo Juízo
de órfãos ou por qualquer outra instituição. De qualquer forma, o acesso privile­
giado dos senhores de engenho a tais recursos durante toda a segunda metade do
século XVII, expresso pela sua participação na tabela 2, deixa claro o grau de con-
-

trole exercido pela elite agrária sobre a então principal instituição creditícia
fluminense.
Contudo, não devemos considerar os dados extraídos das escrituras pú-
,

blicas como retrato fiel da realidade. E importante lembrarmos que em boa parte
os empréstimos não eram formalizados por meio de escrituras, até porque faziam
-

parte das transações cotidianas. E o caso das contas-correntes, que já vimos aci-
,

ma. As vezes os valores devidos nessas contas-correntes tornavam-se muito al-


tos, e acabavam sendo objeto de escrituras de confissão de dívidas, as quais geral­
mente estabeleciam um prazo para o pagamento do valor devido, após o qual pas­
savam a correr juros. Esse é O caso, por exemplo, de Vitória Rodrigues, viúva do
capitão Manuel Cabral de Mello, e seu filho, Fernando Cabral de Mello, que em
1712 fazem uma escritura em que confessam dever 1:247$950 ao negocianteJosé
de Souza Barros. O valor fora utilizado para comprar escravos e gêneros que fo­
ram enviados para as minas (CSON, 1. 16, f. 199). Essa escritura também é inte­
ressante porque mostra a relação de subordinação que se forma no interior da ca­
deia mercantil. Vitória e Fernando não eram comerciantes, e sim membros de
uma das mais tradicionais famílias senhoriais do Rio de Janeiro, cuja origem re-

39
estudos históricos e 2002 - 29

monta pelo menos ao início do século XVII (Rheingantz, 1965: 276). Sua partici­
pação no comércio estava ligada, portanto, à tentativa de participar dos altos lu­
cros proporcionados pelo abastecimento das Gerais, fenômeno de grande ampli­
tude entre a população fluminense da primeira metade do Setecentos (Sampaio,
2000: capo 5). Para isso, no entanto, tiveram que entrar na rede de endividamento
daquele que era provavelmente o maior negociante carioca na virada do século
XVII para o XVllI, como veremos mais abaixo.
Outro bom exemplo da importância dessas contas está no inventário de
Francisco de Seixas da Fonseca (AMSB, doc. 284), onde encontramos um grande
número de dívidas, quase todas de pequeno valor, que se encontravam escritura­
das em seu "livro de razão e contas".
Por sua vez, os empréstimos concedidos por insti tuições como oJuízo de
órfãos deviam, pelo menos a princípio, ser registrados em escrituras públicas.
Portanto, a participação dessa instituição no mercado de crédito, tal como este se
reflete nas escrituras, deve ser vista como um percentual máximo, certamente
superior ao que se verificava na prática. Isso não modifica nossa conclusão mais
geral sobre seu papel na economia fluminense do período, e sobretudo não con­
tradiz sua participação como indicador de uma baixa taxa de acumulação mer­
cantil. Tal fato fica mais claro quando vemos que a queda de sua participação no
conjunto dos empréstimos coincide, não por acaso, com o desenvolvimento do
capital mercantil carioca, ao longo da primeira metade do século XVIII.
Esse desenvolvimento mercantil setecentista evidencia-se ainda mais
quando analisamos a participação de senhores de engenho e homens de negócio
no mercado de crédito, tanto como credores quanto no papel de devedores. Para
essa análise, contudo, é necessário que tomemos cuidado com as tabelas 1 e 2. Os
dados por elas revelados, sobretudo em relação à segunda metade do século
XVII, devem ser analisados com vagar.
Inicialmente, vejamos a ausência de homens de negócio nas três primei­
ras décadas de nossa amostra. Na verdade, o próprio termo "homem de negócio"
aparece em nossa documentação apenas na última década do Seiscentos (Sam­
paio, 2000: cap. l ). Assim, aqueles para os quais utilizamos essa denominação nas
duas últimas décadas desse século somente são assim designados posterior-
mente. •

O melhor exemplo do que estamos falando nos é dado porJosé de Souza


Barros, já referido anteriormente. Entre o final do século XVII e início do se­
guinte, Souza Barros aparece nas escrituras como o maior credor individual. Na
década de 1680, por exemplo, dos pouco mais de 1 :500$000 emprestados por ne­
gociantes, nada menos que I :226$620, ou 81,42% do total, tinham-no por credor.
Na sua última década de atuação, a de 1710, Souza Barros ainda respondia por
52,2% do valor total emprestado pela elite mercantil carioca (9:347$950). No en-

40
o me,.cado carioca de crédito

tanto, dispomos somente de um documento, de 171O, no qual o mesmo é referido


como "homem de negócio" (AN, PH n. 7, p. 11). Souza Barros também é emble­
mático por ser senhor de engenho. Segundo Vieira Fazenda (1912: 116ss), ele era
"homem de grande fortuna, senhor de engenho em Iriri, dono de uma das ilhas
de nossa Baía, de pedreiras, de grande chácara perto do morro de Santo Antônio
e de muitas propriedades na cidade, bem como de grande número de escravos".
Logo, se tivéssemos um nível menos acurado de informação, seria como mem­
bro da elite agrária fluminense que ele apareceria em nossa amostra, ainda que
com as devidas ressalvas.
Portanto, ao analisarmos a tabela 1 devemos terem conta que a forte pre­
sença de senhores de engenho como credores é mais provavelmente fruto de nos­
sa desinformação sobre suas demais atividades, ainda que nenhum deles possu­
ísse, isoladamente, uma atuação tão marcante quanto a de Souza Barros. Acredi­
tamos que a maior parte dos senhores de engenho que figuram como credores são
na verdade indivíduos envolvidos também em atividades mercantis, as quais no
entanto não conseguimos identificar através das escrituras ou de qualquer outra
documentação.
Dois fatos fundamentais apóiam tal hipótese. Temos como um dos as­
pectos básicos da elite açucareira colonial o seu endividamento crônico, fruto
das próprias características de sua atividade, sobretudo uma baixa lucratividade
(Sampaio, 2000: capo 2). Tal característica também aparece claramente em nossa
tabela 2, na qual os senhores de engenho despontam como grandes devedores ao
longo de toda a segunda metade do Seiscentos, chegando a responder por dois
terços das dívidas passivas na década de 1680. Esses dados coincidem, grosso
modo, com os de Rae Flory (1978: 75), que apontam os membros da elite açucare­
ira como os principais devedores da sociedade baiana, respondendo sozinhos
por 35% do valor total emprestado. Além disso, ao longo dos cem anos por nós es­
tudados, eles aparecem sempre como devedores líqüidos, ou seja, tomam mais
dinheiro emprestado do que emprestam. Portanto, somente senhores de enge­
nho que, como Souza Barros, estivessem ligados a atividades mercantis teriam
condiçôes econômicas de aparecer nas escrituras como credores.
Em segundo lugar, sabemos que aproximadamente 10% das casas senho­
riais identificadas para o Seiscentos tiveram sua origem no comércio. Por outro
lado, são muito poucos os comerciantes que aparecem como tais nas escrituras.
Segundo João Fragoso, não mais de 11 (3,5%) das 319 escrituras de empréstimo
de sua amostra os têm por credores (Fragoso, 1997: 157-60).
Conseqüentemente, o que as tabelas 1 e 2 nos mostram é que no século
XVII não há uma esfera mercantil específica, distinta das demais atividades eco­
nômicas, no mercado fluminense. A acumulação mercantil está, nesse momen­
to, fortemente ligada à atividade agrária, a qual absorve grande parte dos recur-

41
estudos históricos e 2002 - 29

sos advindos daquela. Não há ainda aquele moto-contínuo em que o capital ini­
ciai investido gera continuamente um volume maior de capital. Por isso mesmo
não havia, até a última década do Seiscentos, uma elite mercantil que se distin­
guisse claramente da elite agrária.
No século XVIII, pelo contrário, se evidencia o estabelecimento de uma
clara diferenciação entre homens de negócio e senhores de engenho. Estes últi­
mos perdem muito de sua importância no mercado de crédito, tanto como credo­
res quanto no papel de devedores. No primeiro caso, sua participação torna-se
extremamente reduzida, chegando quase à ausência absoluta na década de 1720.
De fato, os senhores de engenho deixam, na prática, de ser uma alternativa em
termos de fonte de crédito, e o seu aparecimento como credores dá-se somente
em ocasiões mui to específicas, ligadas a empréstimos a parentes, por exemplo,
ou à regularização de antigas dívidas.
Para melhor demonstrar o que estamos afirmando, tomemos como
exemplo a década de 171O. Nesse período, as participações dos senhores de enge­
nho como credores referem-se a três empréstimos. Dois deles foram concedidos,
na mesma data (01/07/1719), pelo capitão Francisco Araújo de Abreu: um para
seu irmão, o alferes Manuel Alfradique de Souza, e o outro ao capitão Inácio Ran­
gel de Abreu, avô de sua esposa (CSON, I. 28, f. 17 e 17v, respectivamente). O ter­
ceiro empréstimo é do capitão Rodrigo de Freitas Castro aJoaquim de Siqueira.
Trata-se de um reconhecimento de dívida por parte de Siqueira, por terras com­
pradas ao capitão, as quais e que não tinha como pagar. Assume, então, o valor da
dívida (1:100$000) como empréstimo (CSON, I. 28, f. 154, 1719).
Essa enorme queda da participação dos senhores de engenho está ligada
em parte à própria decadência por que passa a produção açucareira fluminense
no início do século XVIII. Entendemos que sua principal causa foi a diferencia­
ção que se estabeleceu no Setecentos entre homens de negócio e senhores de en­
genho; ou seja, entre a elite mercantil e a elite agrária. Não é por coincidência que
-

a decadência de uma ocorre concomitantemente à ascensão da outra. E interes-


sante notar, a esse respeito, que na única década em que a elite açucareira mos­
tra-se mais ativa na concessão de empréstimos, a de 1730, um único indivíduo
responde por metade do valor total. Trata-se de Antônio da Fonseca Vasconcelos
que, no entanto, só aparece como senhor de engenho em um documento de 1752
(AHU-Car. CA, doc. 15.513). O fato de que, no mesmo período, havia um quase
homônimo seu, Antônio da Fonseca (CSON, I. SI, f. 162v, 1739), que era homem
de negócio reforça a hipótese de que estamos diante de um membro da elite mer­
cantil que somente num período posterior converteu-se em senhor de engenho.
Intriga-nos um pouco mais a queda da participação dos senhores de en­
genho como devedores. Já vimos como o seu endividamento crônico aparece
com enOtme freqüência na documentação. Portanto, seria de se esperar que eles

42
o mercado carioca de crédito

continuassem aparecendo com freqüência como tomadores de empréstimos. A


explicação está, em primeiro lugar, na própria diversificação da estrutura social.
Há agora um incremento da demanda de crédito por parte de outros grupos,
como lavradores, artesãos e sobretudo comerciantes.
A esse respeito, é bastante ilustrativa a participaçao dos homens de ne­
gócio na tomada de empréstimos. Embora em todas as décadas do Setecentos os
membros da elite mercantil carioca apareçam como credores líquidos (ou seja,
na soma geral emprestam mais do que recebem emprestado), são sempre muito
mais presentes como devedores do que os próprios senhores de engenho. Essa
maior presença não está ligada a um maior número de escrituras envolvendo os
negociantes, mas ao maior valor daquelas em que eles participam.
Na década de 1720, por exemplo, o número de senhores de engenho e de
homens de negócio que aparecem como devedores é igual (cinco para cada gru­
po), embora o valor devido pelos últimos seja quase seis vezes maior do que o dos
primeiros. Já na década seguinte, temos dez escrituras envolvendo os membros
da elite açucareira e sete relativas aos negociantes, enquanto a diferença de valor
médio entre as escrituras dos respectivos grupos é de quase duas vezes.
Além disso, os proprietários de engenhos passam a ir menos ao mercado
em busca de crédito ao longo da primeira metade do século XVIII. Se na década
de 1660 eles apareciam em praticamente um quarto das escrituras (24,05%), na
década de 1730 esse percentual cai para a metade (12,2%).
A tabela 2 nos mostra que as décadas de 1720 e 1730, sobretudo a primei­
ra, formam um "vale" na participaçao desse grupo na tomada de recursos. Esse
retraimento reforça a idéia, defendida em minha tese de doutorado, de uma forte
crise da produção açucareira no período (Sampaio, 2000: capo 2). A década de
1740 representaria, então, um período de relativa recuperação, sem que, no en­
tanto, o setor açucareiro voltasse aos níveis seiscentistas.
A trajetória dos homens de negócio, por sua vez, é bastante distinta. Ao
longo do Setecentos, eles aumentam constantemente sua participação como cre­
dores, chegando no final do período a responder por praticamente 40% do valor
total emprestado. Aqui, é importante lembrar que estamos nos referindo a per­
centuais mínimos, dado que não podemos garantir que identificamos todos os
negociantes do período. Além do que, não se deve confundir a participação do se­
tor mercantil no mercado de crédito com o de sua elite. Embora os demais co­
merciantes tivessem, provavelmente, urna participação pequena nesse mercado,
é inegável que se os levássemos em conta em nossos cálculos esses percentuais so­
freriam um inevitável aumento. Seja como for, o que os dados nos mostram é que
essa elite se torna parte fundamental do sistema de crédito colonial. Não somen­
te por sua participação no total emprestado, como pelo fato de aparecer sempre
corno credora em termos líqüidos.

43
estudos históricos e 2002 - 29

Repare-se que isso não ocorre nem com os senhores de engenho, que
sempre tomam muito mais dinheiro emprestado do que emprestam, ou ainda
com os "outros", como denominamos todos aqueles que não conseguimos iden­
tificar como senhores de engenho ou negociantes. Com exceção da década de
1680 (quando, como vimos, os senhores de engenho controlam pesadamente o
acesso ao crédito), os "outros" sempre aparecem como devedores líqüidos. A
conclusão, portanto, é que são os homens de negócio, junto com as instituições
coloniais (como o Juízo de órfãos) que controlam a liqüidez da economia coloni­
al. Mais ainda, há uma transformação fundamental entre a segunda metade do
século XVII e a primeira do seguinte, já que os credores institucionais perdem
espaço para a nova elite mercantil, que torna-se entao a mais importante fornece­
dora de capital da capitania fluminense. Conseqüentemente, essa elite passa a
responder praticamente sozinha por essa mesma liqüidez. As conseqüências
desse fato são maiores do que a princípio podem parecer, inclusive definindo o
aparecimento de uma nova elite colonial.
Ao controlar o crédito, os homens de negócio definem as novas feições
das relações econômicas no interior da sociedade fluminense. E isso porque ele é
estratégico numa sociedade com baixa liqüidez, como era a colonial. Nessa situa­
ção, aquilo que João Fragoso e Manolo Florentino (1993: 89-100) denominaram
de cadeia de adiantamento/endividamento possui um papel evidentemente cru­
cial para o estabelecimento da hierarquia nas relações entre os diversos grupos
sociais. Na primeira metade do século XVIII, os negociantes sediados no Rio de
Janeiro controlavam essa cadeia no que se refere às vinculações da praça carioca
com outras regiões do império português (Sampaio, 2000: capo 5). Pelos resulta­
dos apresentados acima, torna-se evidente que também no interior dessa praça
eram esses mesmos homens de negócio que se encontravam no vértice superior
da pirâmide e em condição de arbitrar que grupos, e em que condições, teriam
acesso ao crédito, o verdadeiro "sangue" do sistema colonial. Em outras palavras,
essa nova elite mercantil passa a controlar a própria reprodução da economia co­
lonial, ditando seus ritmos e sua evolução a longo prazo.
Essa perda de controle do crédito por parte da antiga elite senhorial flu­
minense, que no século XVII expressava-se na importância do Juízo de órfãos e,
secundariamente, dos próprios senhores de engenho como fontes de recursos,
ajuda-nos a entender um pouco melhor a decadência da produção açucareira no
Setecentos. Essa perda estava ligada, entre outros fatores, ao fim do acesso privi­
legiado, quase imediato, ao crédito disponível. Privilégio tanto maior quanto
-

esse crédito era muito mais escasso no século XVII do que no seguinte. E verdade
que a elite açucareira continua com o privilégio, constantemente renovado, de
não ser penhorada em suas "fábricas" e escravos. Isso, contudo, está longe de ser
suficiente. A necessidade constante de novos recursos, típica da atividade, colo-

44
o mcrcado carioca dc crédito

cava-os sempre nas mãos dos negociantes, e fragilizava a própria existência de


seus engenhos.
,

E bem verdade que essa fragilidade não é nova.João Fragoso demonstra


que já na segunda metade do século XVII algo em torno de 20% dos engenhos
fluminenses trocou de mãos através de arrematações ou de transações de venda
(Fragoso, 1997: 162). Portanto, o que ocorre no século XVIII é sobrerudo uma
potencialização, por assim dizer, dessa fragilidade estrurural. Quando o controle
do crédito fugiu de suas mãos, os senhores de engenho perderam de fato o domí­
nio sobre uma das principais chaves de sua reprodução social.
Para finalizar nosso esrudo do mercado de crédito carioca, buscamos
analisar o grau de concentração existente na concessão de crédito. Com este in­
ruito, criamos as tabelas 3 e 4. Optamos por trabalhar com porcentagens das es­
criruras, ao invés de valores fixos, devido à grande variação do valor mérlio dos
empréstimos ao longo do período 1650-1750. Para atestar a grande discrepância
existente entre os diversos períodos, não precisamos recorrer aos pontos extre­
mos de nossa tabela. Comparemos,por exemplo, a década de 1690 com a de 1710.
Enquanto na primeira o valor médio dos empréstimos era de 171$768, na segun­
da alcançou a marca de 739$855. Uma variação de 330,73% em aproximadamen­
te duas décadas. Na década seguinte, o valor médio subiu ainda mais, alcançando
1:187$450.
A comparação, portanto, somente pode dar-se a partir de um corte verti­
cal das escriruras, período a período, baseado em seus respectivos pesos em cada
um dos momentos. As porcentagens escolhidas (as 10% maiores e as 50% meno­
res) são arbitrárias, mas não totalmente. Baseiam-se numa série de resultados já
obtidos nas mais diversas pesquisas que apontam algo em torno dos 10% mais ri­
cos (ou dos valores mais altos), representando sempre uma elevada proporção da
amostra, enquanto o extrato mais numeroso, mas também o mais baixo, tem que
se contentar com uma participação percentual bastante reduzida (Sampaio,
1994: capo 2; Fragoso, 1990: 597; Fragoso e Florentino, 1993: 73; Monteiro,
1994: 194). São sobrerudo os resultados obtidos que nos mostram a pertinência
de nossas escolhas.
A primeira grande característica do mercado de crérlito carioca aponta­
da por essas tabelas é seu aspecto claramente concentrado. Em todas as décadas,
com exceção da de 1670, os empréstimos maiores tiveram uma participação mais
elevada do que a do conjunto dos menores. O que é uma diferença considerável,
dado o fato de que o grupo dos maiores empréstimos é sempre um quinto do gru­
po dos menores. Por outro lado, a exceção representada pela década de 1670 é de
fácil explicação, já que ela foi caracterizada, como vimos, por um forte retraimen­
to de credores e devedores, sobrerudo dos maiores entre estes últimos, como fica
claro pela menor participação dos senhores de engenho.

45
estudos históricos e 2002 - 29

Caso tomemos os dados por décadas, correremos o risco de não apreciar


uma tendência mais geral ou, melhor dizendo, uma diferença bastante clara en­
tre a segunda metade do século XVII e a primeira da centúria seguinte. De fato,
ao analisarmos esses dois períodos como totalidades distintas, surpreenderemos
um evidente aumento da concentração dos valores emprestados nas escrituras de
maior valor, com a correspondente diminuição da participação daquelas com va­
lores mais modestos. Em números: entre 1650 e 1700, os maiores valores (10%)
concentraram 35,33% do valor total transacionado, enquanto os menores (50%)
responderam por 21,76% de participação. No Setecentos, esses números trans­
formaram-se consideravelmente. Os maiores empréstimos passaram a controlar
44,43% do valor total, enquanto os menores ficaram com tão-somente 13,72%.
Além disso, há uma grande diferença na variação dos valores médios dos em­
préstimos. Ao passo que os maiores vêem seu valor médio aumentar 421,46% en­
tre 1690 e 1710, o valor médio dos menores sofre uma variação de "somente"
175,89%. Logo, é por demais evidente a ocorrência de um claro processo de con­
centração dos valores emprestados. Resta-nos explicar o porquê.
A causa fundamental é, sem sombra de dúvida, a grande transformação
ocorrida na estrutura de oferta de crédito. No mercado seiscentista, o principal
credor, o Juízo de órfãos, tinha uma atuação pulverizada, realizando di versos
empréstimos de pequeno e médio valor. Tivemos uma pista disso quando vimos
que ele aparece como credor em nada menos que um quarto das escrituras. Se to­
marmos os 33 maiores empréstimos seiscentistas, presentes na tabela 3, veremos
que o Juízo de órfãos está presente em somente seis deles (18,2% do total).
Já no século seguinte, a situação mostra-se bastante distinta. A elite mer­
cantil, que controla então o mercado creditício carioca, encontra-se fortemente
presente nos empréstimos mais elevados. Dos 38 maiores empréstimos setecen­
tistas, 18 (47,37%) apresentam homens de negócio como credores e respondem
por 58,05% do seu valor total. Portanto, a atuação desse grupo estava marcada por
uma intensa concentração dos empréstimos concedidos. Isso demonstra tanto
uma estratégia de aruação, que busca minimizar a pulverização dos empréstimos
concedidos, quanto a própria capacidade de acumulação da nova elite, capaz de
mobilizar com relativa facilidade grandes somas de recursos.
O melhor exemplo dessa enorme capacidade de mobilização de recursos
é, exatamente, o maior empréstimo que encontramos nas escriruras. Em 1744,
José Bezerra Seixas, um dos principais negociantes da praça do Rio de Janeiro,
emprestou a Paulo Vicente Cristianos, também ele négociante, a elevadíssima
soma de 33:868$568 (CSON, l. 56, f. 216). Para que se tenha uma idéia da dimen­
são do empréstimo, com esse valor era possível adquirir na mesma década apro­
ximadamente quatro engenhos de açúcar na capitania fluminense (Sampaio,
2000: 93). A origem do empréstimo foi a sociedade que ambos fizeram para arre-

46
o mercado etl1iocll de crédito

matar, por quatro anos, o fornecimento ao "Estado do Brasil" do sabão de pedra,


cujo monopólio pertencia ao conde de Castelo Melhor. O pagamento seria em
parcelas anuais de 4:000$000 até o quarto ano, e, a partir do quinto, o valor subi­
ria para 9:000$000, até completar o valor total. Repare-se que a Casa dos Condes
de Castelo Melhor era das mais importantes de Portugal (Monteiro, 1996). A ca­
pacidade demonstrada por comerciantes sediados no Rio de Janeiro de se articu­
lar com a mais alta nobreza da Corte aponta para a existência de importantes la­
ços interatlânticos, que eram sem dúvida de grande significado estratégico na
atuação desses homens.
Tanto pelo valor envolvido quanto pelas próprias condições de paga­
mento, fica evidente que somente membros da elite mercantil tinham condições
de participar em uma transação de tais proporções. Num paradoxo que é apenas
aparente, é o controle dos fluxos monetários que permite a tais indivíduos apare­
cer não só como os maiores credores mas também como importantes devedores.
Em outras palavras, o surgimento de uma autêntica elite mercantil no Rio de Ja­
neiro setecentista, com uma atuação nitidamente imperial (Sampaio, 2000:
cap.5), redefine a própria escala do mercado de crédito, ao mesmo tempo que O
torna ainda mais concentrado.
Por tudo isso, não é incorreto afirmar que a elite mercantil setecentista
não é distinta daquela do século anterior somente por possuir uma esfera própria
de atuação, mas também porque demonstra uma vitalidade impensável para o
período anterior. Os homens de negócio passam a controlar o mercado de crédito
desde pelo menos a década de 1730, quando retiram qualquer significado econô­
mico do antes poderosoJuízo de órfãos. O fato de que tenham sido capazes de ali­
jar uma instituição até então fundamental fala-nos muito do poder econômico
desse novo grupo. Sobretudo, indica uma capacidade de acumulação, bastante
. superior à de sua congênere seiscentista. De fato, os negociantes do início do sé­
culo XVIII encontram-se mais próximos de seus pares do final do mesmo século
e início do seguinte (Fragoso, 1992) do que dos grupos mercantis que os pre­
cederam.

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estudos históricos e 2002 - 29
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