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Ao originar outro signo, o interpretante abre uma cadeia semiósica única para cada
intérprete, justamente por estar atrelado ao campo de memória do sujeito e à sua forma
particular de experimentar o mundo. Em outras palavras, um mesmo objeto, observado
por indivíduos diferentes, evoca significados distintos a partir das vivências de quem o
percebe.
Para Dewey, há uma diferença essencial entre o ter e o fazer uma experiência. O
primeiro caso pode ser comparado à primeiridade peirceana, na medida em que o sujeito
é afetado, mas não passa do estágio de pura afetação, atendo-se à percepção inicial (não
reflexiva). Para que seja possível fazer uma experiência, é necessário um esforço por
parte do indivíduo, que deve readequar sua conduta para conhecer o mundo de outra
forma. Como o ritmo do fazer uma experiência não é o ritmo da rapidez do cotidiano, a
pessoa deve estar disposta a manter-se engajada pelo tempo necessário para a
contemplação ativa dos incidentes. Este trabalho árduo constitui o padecer de uma
experiência, ou seja; há, ao longo do caminho, um elemento de sofrimento ou choque
que é essencial para a busca da consumação da experiência. Em outras palavras, a
trajetória rumo ao fim da experiência não é linear e contínua, mas sim entrecortada por
pausas que permitem que o sujeito absorva material e se empenhe para produzir sentido
sem invalidar as etapas anteriores. Os obstáculos, nesse sentido, não são prejudiciais,
mas sim um instrumento essencial para o avanço.
Para Mead, a interação social não se dá por meio de reações estímulo-resposta - como
colocado por correntes behavioristas -, mas sim por um trabalho reflexivo do sujeito,
que constrói sua presença cooperativamente, desempenhando papéis em sociedade.
Como exemplo, podemos analisar a seguinte cena de Harry Potter e a Ordem da Fênix,
que mostra uma discussão entre a professora Minerva McGonagall e Dolores Umbridge,
Secretária do Ministério da Magia. O enquadramento é constituído inicialmente por um
embate profissional, que se reconfigura por não estar em um local esperado - em uma
sala particular para docentes, por exemplo -, mas sim em um espaço comunal ocupado
por diversos alunos. Em um primeiro momento, as duas sobem as escadas no mesmo
ritmo, o que coloca Minerva acima de Dolores por causa de sua altura. Quando sente
que sua autoridade está sendo questionada, Umbridge sobe um degrau na escada,
igualando sua altura; ao mesmo tempo em que chama a professora por seu primeiro
nome - ação que pode ser interpretada como desrespeito ou afronta. McGonagall rebate,
também usando o primeiro nome de sua oponente, enquanto sobe um degrau e recupera
sua vantagem. Dolores, então, usa sua influência no governo como argumento para
reforçar sua superioridade e ameaça Minerva ao acusá-la de deslealdade - o que faz com
que esta volte para o degrau abaixo, reconhecendo sua derrota e perdendo a face. Por
fim, Umbridge dá outro passo para cima, consolidando seu poder, e se dirige aos alunos
no patamar inferior. Esta atitude final dá a entender que ela tinha consciência das
imediações da interação e que usou a presença dos alunos, enquanto espectadores, para
solidificar sua soberania perante a professora.