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LÉVY, P. O Que é o Virtual? Rio de Janeiro: Editora 34, 1996.

Vanessa Castro da Silveira1

No livro, O que é o virtual?, o autor aborda a virtualização, onde deixa claro que
a mesma não afeta apenas o meio da comunicação e da informação, mas
também o meio econômico e político, ele relaciona o termo “virtualização” até
mesmo ao desenvolvimento do intelecto. Lévy analisa a virtualização em um
aspecto antropológico, onde ressalta sua influência e poder. Para Lévy a
virtualização proporcionou uma mudança significativa no meio cultural em uma
escala mínima de tempo. Para ele, a virtualização não é má, nem boa e nem
neutra.

No início do primeiro capítulo, Lévy desmitifica a oposição do virtual e do real.


Onde diz que com frequência o virtual é tido como algo ilusório ou que o virtual
é como o possível, o que não é necessariamente verdade, porém também
afirma que frequentemente o virtual, “não está presente”. O autor também
aproveita para esclarecer o engano que o virtual seria como o possível e diz
que o virtual em nada se assemelha ao possível, pois, o possível é exatamente
como o real só lhe falta à existência. Ele também deixa claro que o virtual se
opõe ao atual, não ao real, e explica que o virtual é uma evolução de algo que
já existe, porém essa evolução existe apenas no ideal. Lévy define a
atualização como a solução de um problema, que não estava contida
previamente no enunciado.

Lévy aborda um tema interessante no início do segundo capitulo A


virtualização do corpo, onde diz: “No prolongamento das sabedorias do corpo e
1
Aluna do 1º semestre de Licenciatura em Computação Do IFBA.
das artes antigas da alimentação, inventamos hoje cem maneiras de nos
construir, de nos remodelar: dietética body building, cirurgia plástica.”. Segundo
Lévy, a virtualização do corpo é uma nova etapa de autocriação que hoje
sustenta nossa espécie. Logo em seguida, é abordada pelo autor, a percepção,
onde é dito que os meios de comunicação que visam uma maior aproximação
do “real”, como o telefone, a televisão, câmeras e outros, são meios de
comunicações no qual podemos experimentar sensações de outras pessoas,
mesmo que de modo superficial. Em seguida ele aborda a projeção da
imagem, onde diz que, a tele presença proporciona uma “quase presença”,
onde nossas ações podem ser transmitidas à distância. No final do capitulo
Lévy deixa claro que a virtualização do corpo não se trata de uma
desencarnação, mas sim de uma reinvenção.

No terceiro capitulo vem A virtualização do texto: “Desde suas origens


mesopotâmicas, o texto é um objeto virtual, abstrato, independente de um
suporte específico.”. Diz Lévy. Segundo ele o texto tem sido atualizado em
diversas versões, sejam em suas traduções, em suas novas edições, ou em
seus exemplares e cópias. O texto já chega ao leitor com diversas
modificações, onde sua leitura tomara um rumo independente, seguindo ou não
a linha ideológica do autor. Lévy prossegue sobre a interpretação, que segundo
ele ao lermos um texto o relacionamos a outros textos, a imagens, a afetos ou
outra qualquer lembrança que pudermos associar aquilo. Para Lévy o
compartilhamento de textos em rede, resultou em novos tipos de leitura e
escrita coletiva, no qual milhões de pessoas têm acesso, e o modificam e
deixam suas observações, anotações e acréscimos, criando assim uma
ferramenta de auxilio, que disponibiliza a hipercontextualização, ampliando seu
sentido e enriquecendo a leitura. O autor continua com o ciberespaço, para ele
a informatização contemporânea condiz a um espaço cuja comunicação foca
na troca de informações, no qual todos têm acesso, e que todos podem
contribuir, modificando ou até produzindo textos. Por fim, o autor diz que com a
virtualização, o texto pareceu revelar sua verdadeira função: “Enfim, é como se
saíssemos de certa pré-história e a aventura do texto começasse realmente.
Como se acabássemos de inventar a escrita.”.
A economia da virtualização é abordada no quarto capitulo, segundo Lévy é na
qual vivemos, podemos chama-la também de economia da desterritorialiozação
física, que visa investir no meio das telecomunicações, e da informática que
são setores que fazem crescer a economia do virtual. Já o setor financeiro,
para Lévy é sem dúvidas a escala mais característica da virtualização, é onde
há o movimento do capital. A moeda é o objeto mais fácil de troca e partilha. E
Lévy atribui a esse mecanismo de troca a degradação do virtual, onde o caráter
destruidor do consumo toma forças. A informação e o conhecimento, segundo
Pierre Lévy é o consumo não destrutivo que é umas das principais fontes de
produção de riqueza, são duas novas fontes que podemos consumi-los sem os
destruir, e se cedemos eles não serão perdidos.

O desenvolvimento da humanidade, segundo Lévy dependera de três


processos de virtualização, o desenvolvimento da língua, a multiplicação das
técnicas e a complexibilidade das instituições, isso é abordado no quinto
capitulo. A começar pela língua, Lévy diz que a linguagem se virtualiza em um
tempo real que mantém o “aqui e agora”, ele também afirma que a partir da
linguagem a humanidade deu inicio ao processo virtual, e como consequência
disso promoveu a evolução cultural. Ele continua com a técnica ou virtualização
da ação. “De onde vêm as ferramentas?”, pergunta Lévy. As funções físicas e
mentais tiveram influências sobre isso, o ato de bater, pegar, caminhar,
calcular, contribuiu para o desenvolvimento das ferramentas. Levy diz que as
ferramentas são mais do que uma extensão do corpo, segundo ele as
ferramentas são a virtualização das ações, ele exemplifica falando que: “O
martelo pode dar a ilusão de um prolongamento do braço; a roda, em troca,
evidentemente não é um prolongamento da perna, mas sim a virtualização do
andar.”. Lévy prossegue com o terceiro processo da virtualização que é a
complexibilidade das relações sociais, que para ele se trata de uma
virtualização da violência, onde os rituais, religiões, leis, normas econômicas ou
políticas são exemplos da virtualização das relações sociais, que para Lévy é
um processo contínuo que motiva o desenvolvimento das culturas humanas.
Por fim, o autor diz que a virtualização acaba por ser uma ferramenta na qual
podemos ir contra a fragilidade, a dor, o desgaste, e continua dizendo que,
perseguimos o virtual por que ele nos dá uma sensação de segurança onde
não há perigo, o que não é verdade.

No sexto capitulo são abordados por Lévy, as operações da virtualização, onde


ele estabelece a hipótese de três vias que envolvem operações empregadas
nos processos de virtualização: a gramática, a dialética e a retorica. Para Lévy,
a gramática, referi- se à articulação, manipulação das ferramentas da língua e
da escritura. E a dialética segundo ele passou a designar a ciência da
argumentação, onde a mesma consiste em uma reciprocidade entre
interlocutores, que envolve o fluxo de informação. E por fim, a retorica, que
para Lévy está relacionada com a arte do “agir” sobre os outros e o mundo,
com o ato de transformar, ou até mesmo criar uma realidade a partir da
linguagem.

Para Lévy, a virtualização da inteligência está ligada a inteligência coletiva,


esse tema é abordado no sétimo e oitavo capítulo. Lévy começa o sétimo
capitulo dizendo que nós seres humanos nunca pensamos sozinhos, ele diz
que para isso precisamos das ferramentas, do mecanismo de linguagem, das
técnicas de comunicação, para ele toda uma sociedade pensa dentro de nós.
Em seguida a inteligência coletiva é definida pelo autor como uma inteligência
distribuída em toda parte, no qual todos podem contribuir ou usufruir das
heranças de pensamentos que nos foram deixadas, infelizmente nem todos
podem contribuir, pois muitos não têm acesso a estes meios. Já no oitavo
capítulo é apresentado por Lévi, o problema da inteligência, que é a
desigualdade da distribuição do conhecimento, onde grandes partes do mundo
não tiveram ou ainda não teve acesso a ciências, a filosofia, a literatura e as
belas-artes que podemos dizer que são artefatos do nosso intelecto, no qual
ficou restrito por muito tempo a um pequeno grupo. Lévy também aborda o
preconceito que faz com que certos conhecimentos sejam desprezados ou
excluídos. Lévy acha que todos os tipos de conhecimento ou cultura podem
contribuir para a inteligência coletiva. É abordada também no oitavo capítulo a
constituição do objeto. Lévi cita outro aspecto da inteligência coletiva que ele
diz ser a circulação do objeto. Para Lévy a moeda, é um dos objetos mais
eficazes em termos de circulação, fazendo com que todos participem do
mercado capitalista.
No nono e ultimo capitulo, Lévy faz uma abordagem mais profunda sobre todos
os temas apresentados, e aproveita para deixar claro que o real, o possível, o
atual, e o virtual são elementos complementares e que possuem valores
equivalentes. Lévy também acrescenta os quatro modos de ser, ele inicia com
o possível e o virtual, onde afirma que ambos são latentes, não manifestos que
demostram antes o futuro ou ideal e depois a presença. Depois aborda o real e
atual onde diz que são duas patentes e manifestos, presentes, por fim Lévy
declara que o possível, real, virtual e atual assumem seus lugares em suas
respectivas casas, e que cada um deles se apresentam de modos diferentes.

Pierre Lévy é um professor, filosofo e escritor francês que estuda sobre os


efeitos da tecnologia de comunicação em nossa sociedade atual.

O livro enfatiza a nossa era virtual, e a influencia da virtualização na nossa


sociedade, no desenvolvimento do nosso intelecto, ou até em nossas atividade,
e produções. Recomendo o livro para os que se interessam pela atualidade, ou
pelo virtual em si, ou para os que estudam nossa sociedade contemporânea e
também para estudantes da área de informática.

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