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A CRIAÇÃO DO GRUPO DE

PESQUISA INDUMENTA E OS
ESTUDOS SOBRE INDUMENTÁRIA
NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
GOIÁS, 2006-2017.
Rita Morais de Andrade1
Universidade Federal de Goiás
ritaandrade@ufg.br

Em março de 2017 foi concedido o título de Professora


Emérita pela primeira vez na Faculdade de Artes Visu-
ais da Universidade Federal de Goiás. Miriam da Costa
Manso fora a principal responsável pela criação do curso
de Design de Moda na faculdade em 1996. Atendendo a
um pedido da comunidade local, representada por em-
presários da área do vestuário e das indústrias têxteis
do Estado de Goiás, a universidade criou um curso para
formação especializada na área de moda. Os primeiros
professores efetivos do curso eram da área de Artes Vi-
suais da própria instituição, sendo que os primeiros es-
pecialistas foram contratados em regime temporário, os
professores substitutos, para ministrar disciplinas como
modelagem e costura.

1 Professora Associada da Universidade Federal de Goiás. Atua no Bacharelado em


Design de Moda e no Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da
Faculdade de Artes Visuais. É líder do Grupo de Pesquisa INDUMENTA: dress and
textiles studies in Brazil.
Vinte anos depois, o curso Design de Moda da UFG
tem outra configuração. Adaptou-se às demandas do
Ministério da Educação, mudanças de governos e suas
políticas, da própria universidade e da Faculdade de
Artes Visuais que cresceram muito, especialmente nos
últimos dez anos. Novas contratações ocorreram em
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2006 e 2008, e o curso conta atualmente com um cor-


po docente efetivo constituído por sete professores,
quase todos doutores. Desses professores que atuam
na graduação, alguns atuam também na pós-gradua-
ção e cursos de especialização, como os do Programa
de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual (níveis de
mestrado e doutorado) e a Especialização em Proces-
sos e Produtos Criativos (do Programa da Universidade
Aberta do Brasil). Os docentes realizam ainda uma va-
riedade de projetos de cultura e extensão que atendem
a comunidade externa à universidade.
A produção acadêmico-científica do corpo docen-
te cresce acompanhando a área de pesquisa. Neste ano,
pela segunda vez, a universidade hospedará o VII Encon-
tro Nacional de Pesquisa em Moda - ENPMODA -, com
o tema “Moda: diálogos transdisciplinares. A cada ano, o
curso Design de Moda da UFG forma cerca de trinta no-
vos designers de moda que atuarão em diferentes áreas
relacionadas ao processo criativo2.
Com o amadurecimento do curso, de seu corpo do-
cente e da própria universidade, os professores passaram
também a atuar em Grupos de Pesquisa, ampliando seus
diálogos com os pares em âmbito nacional e internacional.
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2 Alguns dos ex-alunos firmaram-se como referência da área no estado, atuando


em diferentes segmentos. Alguns exemplos são: Iara Jerônima Baco, Kleyson
Bastos, Gerson Passos e Lara Vaz e Régis Puppim.
Neste breve texto, faço um relato de parte da produção
acadêmica realizada no período de 2006 a 2017 que cul-
minou na criação do primeiro Grupo de Pesquisa vincu-
lado à UFG e dedicado aos estudos sobre indumentária e
tecidos no Brasil. Falo do INDUMENTA: dress and textiles
studies in Brazil, grupo interessado por estudos interdis-
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ciplinares, cujos principais objetos de pesquisa são roupas


e tecidos naquilo que estes podem revelar da vida social.
Os projetos do grupo são principalmente, mas não ex-
clusivamente, baseados em perspectivas teórico-meto-
dológicas que se aproximam de estudos culturais, da cul-
tura material e visual. Podem também se relacionar aos
estudos de design e moda. Um dos objetivos importantes
para o grupo é discutir indumentária e tecidos relativa-
mente ao patrimônio social e cultural brasileiros. Esta-
mos igualmente preocupados em ampliar o escopo dos
estudos sobre moda e indumentária para incluir entre
eles questões de interesse atual no contexto da ecologia,
da arte, do pós-colonialismo, da pobreza e das desigual-
dades sociais, do racismo e da política. Há três linhas de
pesquisa, a saber:
1. Histórias da indumentária e dos têxteis no Brasil.
Nesta linha, os projetos de pesquisa contemplam
a produção local, o consumo e a circulação social
de objetos, as experiências transnacionais. Há um
interesse particular ​​pelos estudos interculturais a
partir de análises visuais e materiais das roupas. O
intercâmbio de comércio transatlântico, o colonia-
lismo, a escravidão, a indumentária e expressões
culturais afro-brasileiras e indígenas, a roupa e a
moda no contexto da vida cotidiana são alguns dos
temas abordados.
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2. Indumentária, Têxtil e Patrimônio Cultural no
Brasil. Esta linha de pesquisa investiga roupas e
tecidos no contexto do patrimônio cultural. Nosso
objetivo principal é discutir o assunto em relação,
e com base em coleções de museus, patrimônio
cultural material e intangível. Museologia, cultura
material e visual, arqueologia e antropologia são
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algumas das bases teóricas para projetos de pes-


quisa nessa linha.
3. Indumentária, Têxteis e Cultura Visual no Bra-
sil. O objetivo principal desta linha de pesquisa é
investigar e discutir as imagens das roupas como
um caminho para abordar questões sociais, políti-
cas e culturais complexas. Design e arte são áreas
de interesse da linha, mas estamos especialmente
preocupados com os mais variados contextos da
micropolítica, da vida ordinária e cotidiana de in-
divíduos e grupos.

O Grupo de Pesquisa é constituído por pesquisado-


res que atuam em diferentes áreas, a exemplo da Muse-
ologia, Antropologia, Arqueologia e História, e em cur-
sos de graduação e em Programas de Pós-Graduação
no Brasil, Chile, Portugal, Estados Unidos, Inglaterra e
Itália. Em 2017 realizamos do I Seminário do INDUMEN-
TA que reuniu seus pesquisadores e outros convidados
num evento conjunto com o Núcleo de Estudos em An-
tropologia, Patrimônio, Memória e Expressões Muse-
ais – NEAP, e Grupo de Estudo e Pesquisa Museologia
e Interdisciplinaridade – GEMINTER, ambos da UFG3.
Alguns desses trabalhos são apresentados neste livro e

3 O evento aconteceu durante a Semana dos Museus, entre os dias 19 e 22 de


setembro de 2017, no Museu Antropológico da UFG, sob o tema geral “Patrimônio
Cultural e Museus: formação e pesquisa em perspectiva”. Acesse o site do evento
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em: https://neapnofacebook.wixsite.com/iiisneap. Mais informações sobre o


NEAP, acesse: https://neap.cienciassociais.ufg.br/.
compõem o GT Novas Perspectivas de Estudo: roupas,
moda e culturas contemporâneas. A partir deles, é pos-
sível compreender as escolhas temáticas e metodológi-
cas que aproximam esses pesquisadores, que procuram
lidar com seus objetos considerando em boa medida os
problemas sociais atuais.
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Uma das ações mais recentes do Grupo foi a criação


do Projeto de Pesquisa “Nova História da Moda”, associa-
do ao Projeto de Extensão homônimo, ambos com dura-
ção prevista para três anos (2017-2020). A proposta visa
discutir o ensino da disciplina História da Moda e pro-
curar estratégias para colocar em evidência alguns dos
problemas sociais atuais, como a desigualdade social e as
mobilizações populares recentes. Pretende ainda centrar
as discussões em torno de objetos e práticas sociais da
vida cotidiana, como a manutenção doméstica de roupas,
a ética pessoal e social de consumo que levam a determi-
nadas composições de uma ecologia do vestir.
A partir da seleção de imagens, objetos e construindo
uma narrativa que aproxime história às diferentes reali-
dades sociais e pessoais dos alunos, o projeto pretende
desenvolver outras práticas de ensino-aprendizagem.
Como poderá ser visto nos próximos textos dos pes-
quisadores convidados e alunos de graduação e pós-
-graduação que participam do Grupo INDUMENTA, há
uma diversidade de interesses de temas de pesquisa.
De bonecas karajá, as ritxoko, às produções de figurino
do artista Flávio de Carvalho; do uso de imagens nos
museus e da tradição da produção têxtil quilombola aos
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trajes de competição profissional na natação e dos uni-


formes militares do Brasil, os pesquisadores discutem a
produção de sentido a partir de questões sociais atuais
que os incomodam.
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