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APRESENTAÇÃO
A década de 1990 foi marcada por importantes políticas econômicas que permitiram a retomada
do processo de crescimento e o controle inflacionário, dentre elas, estavam o Plano Real e o
processo de privatizações. Os resultados foram positivos sobre a economia e a população, com
retomada das condições para o crescimento econômico e a estabilidade do nível de preços,
respectivamente.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará no que consistiu o Plano Real e qual a
importância da concorrência para a economia e para a população, de modo a compreender a
atuação do governo na atuação desse processo, assim como os motivos que levaram ao processo
de privatizações ao longo da década de 1990.
Bons estudos.
DESAFIO
Imagine que você tenha 50 anos e tenha passado pelas instabilidades inflacionárias marcantes da
década de 1980 e do início dos anos 1990. Quais os impactos do Plano Real sobre a sua vida e a
dos demais brasileiros em termos de consumo? Utilize um indicador que permita dar base ao seu
argumento, revelando o antes e o pós-Plano Real.
INFOGRÁFICO
Observe, no infográfico a seguir, os órgãos e suas formas de atuação do Sistema Brasileiro de
Defesa da Concorrência (SBDC).
CONTEÚDO DO LIVRO
Boa leitura!
ECONOMIA
TEORIA E POLÍTICA
Tradução da 5a Edição Espanhola
Tradução
Fátima Conceição Murad
Leila de Barros
Sheila Clara Dystyler Ladeira
Apêndice 7.C
A Defesa da Concorrência no Brasil
liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social
1 Introdução da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao
Examinamos, no capítulo anterior e neste, duas estru- abuso do poder econômico. A Lei no 8.884 veio sistema-
turas mercadológicas distintas: a concorrência perfeita tizar e aperfeiçoar a legislação antitruste. Ela previne os
e o monopólio. Vimos também que as estruturas menos efeitos anticoncorrenciais de qualquer forma de concen-
concorrenciais são setores compostos por poucos produ- tração econômica (todos os atos, sob qualquer forma ma-
tores, de tal modo que cada produtor tem algum grau de nifestados, passíveis de limitar ou de qualquer maneira
monopólio. Com maior poder de mercado, tais setores prejudicar a livre concorrência, ou resultar na dominação
podem prejudicar potenciais compradores, pois estes aca- de mercados relevantes de bens ou serviços). A coletivi-
bam adquirindo bens a preços mais elevados que aqueles dade é a titular dos bens jurídicos protegidos pela Lei.
que prevaleceriam em mercados competitivos (acabam Já em seu Art. 1o fica estipulada a finalidade da lei:
cobrando preços superiores aos custos marginais). Além tratar da prevenção e da repressão às infrações contra a
de pagar mais pelo produto, nas estruturas com menor ordem econômica, orientada pelos ditames constitucio-
concorrência, o consumidor tem uma quantidade menor nais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função
de produto à sua disposição. De fato, os mercados falham social da propriedade, defesa dos consumidores e repres-
na presença da concorrência imperfeita. são ao abuso do poder econômico.
O poder monopólico se reflete em dois grandes gru-
pos de mercados imperfeitos: monopólios naturais e oli- 2.1 Infrações
gopólios. Deve-se, portanto, limitar o poder de mercado, Com relação às infrações, em seu Art. 20 a referida lei
evitando, assim, que ele seja usado de maneira anticon- define que
correncial. Vamos inicialmente expor a Lei Antitruste no
“Constituem infração da ordem econômica, indepen-
Brasil, para em seguida apresentar um esboço do funcio-
dentemente de culpa, os atos sob qualquer forma mani-
namento do SBDC.
festados, que tenham por objeto ou possam produzir os
seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados:
2 A Lei Antitruste no Brasil I – limitar, falsear, ou de qualquer forma prejudicar a
livre concorrência ou a livre iniciativa;
É interessante observar que a base de organização de
II – dominar mercado relevante de bens e serviços;
um sistema de defesa da concorrência está presente na
Constituição Federal de 1988, no Título VII, Da Ordem III – aumentar arbitrariamente os lucros;
Econômica e Financeira, Capítulo 1, Dos Princípios IV – exercer de forma abusiva posição dominante.”
Gerais da Atividade Econômica. Nele encontramos, no
Art. 170, a afirmação de que a ordem econômica, fundada Por posição dominante entende-se quando a empresa
na valorização do trabalho e na livre iniciativa, tem por ou grupo de empresas controla 20% de mercado relevan-
fim assegurar, entre outros princípios, o da livre concor- te, podendo esse percentual ser alterado pelo Cade para
rência (inciso IV) e de defesa do consumidor (inciso V). setores específicos da economia.
A legislação que trata desses assuntos é a Lei Em seu Art. 21, a Lei no 8.884 caracteriza o que se
o
n 8.884, de 11 de junho de 1994, que transforma o entende por infração à ordem econômica, ao longo de 24
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) incisos:
em Autarquia, ampliando seus poderes. Ela dispõe so- I – fixar ou praticar, em acordo com concorrente, sob
bre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem qualquer forma, preços e condições de venda de bens ou
econômica orientada pelos princípios constitucionais de de prestação de serviços;
140 - CAPÍTULO 7 - O MONOPÓLIO
Estrutura A defesa da concorrência no País é feita por três ór- O Cade concentrará as atividades de investiga-
gãos: Secretaria de Acompanhamento Econômico ção, análise e julgamento da área de concorrên-
(do Ministério da Fazenda), Secretaria de Direito cia. A SDE deixa de existir, mas o Departamento
Econômico e Conselho Administrativo de Defesa de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC)
Econômica (ambos do Ministério da Justiça). No permanecerá na estrutura do MJ. A SEAE con-
formato atual, há uma duplicidade de atuação tinuará existindo, porém, passará a atuar princi-
entre SDE e SEAE, principalmente na análise de palmente na advocacia da concorrência.
atos de concentração, já que as duas secretarias
fazem o mesmo trabalho de instrução e precisam
emitir, cada uma, um parecer para cada caso.
Estrutura do Cade Hoje, é formado pelo Conselho, que julga os ca- O Cade passará a ser composto pela Superin-
sos, e pela Procuradoria, que representa o Cade tendência Geral (atuará como uma espécie de
na Justiça. promotoria, investigando empresas suspeitas
de prejudicar concorrentes e fazendo a instru-
ção dos casos), pelo Departamento de Estudos
Econômicos (elaborará estudos e pareceres
econômicos, de ofício ou por solicitação de con-
selheiro relator ou do superintendente-geral),
pelo Tribunal Administrativo (responsável pelo
julgamento) e pela Procuradoria Geral (que terá
sua atuação perante o Judiciário reforçada).
(continua)
ECONOMIA: TEORIA E POLÍTICA - 143
Fusões e aquisições O negócio é aprovado depois de concretizado. A análise passa a ser prévia.
Critério de Todas as operações em que uma das empresas O critério passará a ser mais seletivo e objetivo.
submissão de tenha faturamento acima de R$ 400 milhões ou Especifica-se que será considerado apenas o fa-
atos de que resultem na concentração de 20% do merca- turamento, no Brasil, das empresas envolvidas e
concentração do precisam ser submetidas aos órgãos de defesa deixa de haver critério com base na participação
da concorrência brasileiros. de mercado. Os valores poderão ser alterados
para se adequarem à dinâmica econômica.
Análise simplificada Para todos os casos apresentados ao SBDC, mes- Casos que não representarem risco à concor-
mo os mais simples, SDE e SEAE precisam elabo- rência poderão ser aprovados apenas com uma
rar pareceres sobre a operação e encaminhar para determinação do superintendente-geral. A deci-
julgamento do Cade. são do superintendente-geral será passível de
revisão, se requerida por conselheiros, terceiros
interessados, SEAE, Ministério Público ou agên-
cias reguladoras. Os casos mais complexos con-
tinuarão a ser julgados pelo tribunal.
Possibilidade Há incentivos para que as empresas não passem Será criado o acordo em controle de concentra-
de acordo todas as informações necessárias para a análi- ções, para que empresas e autoridades de con-
se das secretarias e inundem os conselheiros do corrência cheguem a uma proposta consensual
Cade de dados antes do julgamento. Dessa forma, nos casos mais complexos, a qual dependerá de
protela-se a decisão final e cria-se um fato con- aprovação do tribunal.
sumado, mais difícil de desinvestimento, um meio-
termo entre a aprovação e a rejeição da operação,
que é imposta pelos conselheiros e não negocia-
da.
Definição de papéis Não há uma definição explícita sobre os papéis Todo o projeto será estruturado no sentido de
de cada órgão, o que resulta em uma atuação em definir esses papéis. A Superintendência Geral
que ora os órgãos exercem função de juízes, ora exercerá o papel de promotoria e o tribunal é o
promotores. juiz.
Ênfase no combate a Tradicionalmente, o número de atos de concentra- Com a diminuição do número de fusões e aquisi-
cartéis ção submetidos à aprovação dos órgãos fez que ções a serem analisadas, recursos humanos se-
o sistema tivesse como foco a análise de fusões rão direcionados para a investigação de cartéis.
e aquisições, o que passou a mudar a partir de
O programa de leniência, adotado a partir da atual
2000.
gestão da SDE, ganhará um capítulo específico.
Ficará explicitado que a assinatura de acordos
de leniência impedirá a propositura de denún-
cias criminais, o que dará mais segurança às
empresas e dirigentes que quiserem assinar um
acordo de leniência. A SDE precisará, a cada
caso, conseguir o compromisso dos ministérios
públicos de que não será oferecida denúncia.
Penalidades Apesar de a lei prever penas mais rígidas, como As penalidades previstas para os casos mais
a proibição de fazer contratações com instituições graves tornar-se-ão mais objetivas. A multa pas-
financeiras oficiais e participar de licitações, em sa a variar de R$ 6 mil a R$ 200 milhões.
geral são aplicadas apenas multas de até 30% do
faturamento da empresa.
Mandato dos Os conselheiros têm mandato de dois anos, pror- Os mandatos passarão a ser de quatro anos não
conselheiros rogáveis por igual período. coincidentes, evitando mudanças bruscas na
composição do órgão, e será proibida a prorro-
gação dos mandatos para o período seguinte.
(continua)
144 - CAPÍTULO 7 - O MONOPÓLIO
Quarentena Nada impede que um conselheiro deixe o Cade e Será instituída uma quarentena de 120 dias para
passe a advogar para uma empresa logo de ime- os conselheiros e para o procurador-geral.
diato.
Independência nas Os responsáveis pela investigação de condutas Assim como os conselheiros, o superintenden-
investigações anticoncorrenciais, os secretários da SEAE e da te-geral, responsável pelas investigações, terá
SDE são demissíveis a qualquer tempo. mandato de dois anos, para garantir a indepen-
dência nas investigações.
Carreira Não há carreira e quadro de pessoal permanente Será criado um corpo técnico para o Cade e são
para os órgãos. disponibilizados mais cargos DAS.
Federalização dos A competência é da justiça comum. A competência para processar e julgar crimes
crimes contra a contra a ordem econômica será transferida para
ordem econômica a Justiça Federal.
Fonte: SEAE – Ministério da Justiça.
O Plano Real e o processo de privatizações da década de 1990 foram as políticas mais marcantes
e polêmicas da década de 1990. Seus resultados trouxeram o retorno da população ao país,
repercutindo positivamente sobre o nível de atividade econômica do Brasil. Acompanhe, no
vídeo a seguir, uma breve abordagem sobre esse período.
EXERCÍCIOS
B) A década de 1990 foi caracterizada por uma nova fase de privatizações na economia
brasileira, porém com menor intensidade do que as que ocorreram nas décadas anteriores,
durante o regime militar.
D) Embora Collor tenha dado início a um processo amplo de privatizações, apenas o governo
seguinte criou marcos regulatórios para os novos gestores e aprovou a legislação
necessária para que fosse viável a quebra dos monopólios do Estado e a concessão de
serviços públicos.
E) Desde o princípio da criação de leis sobre a defesa da concorrência, no regime militar, as
preocupações foram de repressão aos crimes econômicos contra a população e o controle
das formações de “trustes”. Mesmo após a intensificação do processo de privatizações e do
acirramento da concorrência, não foram realizadas adaptações nesse sistema.
A) São considerados abusos de poder econômico ações que resultem nos seguintes aspectos:
Domínio dos mercados de bens ou serviços; Atuar de modo abusivo, eliminando a
concorrência; Aumento dos lucros de modo arbitrário.
D) As elevadas taxas de juros nominais estabelecidas pelo governo para atrair capitais
estrangeiros e aumentar a disponibilidade de divisas, necessários principalmente para a
manutenção da taxa de câmbio no nível desejado (valorizado), não influenciou as contas
do governo.
E) O Plano Real foi uma medida que trouxe resultados imediatos sem que o governo
precisasse adotar políticas fiscais restritivas como suporte ao sucesso do Plano.
5)
Marque a alternativa que represente os resultados das principais políticas
econômicas adotadas por FHC.
A) A conquista da estabilidade dos preços como reflexo da queda da demanda que ocorreu
após as crises Asiática (1997) e Russa (1998), que impactaram o nível de atividade
econômica do Brasil.<
NA PRÁTICA
A aceleração inflacionária foi um dos maiores desafios do governos a partir da década de 1980.
Ultrapassar esse obstáculo significaria criar condições para a retomada do ritmo de atividade
econômica do país. Após vários planos econômicos na tentativa de estabilizar o nível de preços,
desde o início dos anos 80, apenas com a implementação do Plano Real essa conquista foi
alcançada de modo permanente, conforme se pode observar no gráfico a seguir.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor: