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Plano real e as Privatizações

APRESENTAÇÃO

A década de 1990 foi marcada por importantes políticas econômicas que permitiram a retomada
do processo de crescimento e o controle inflacionário, dentre elas, estavam o Plano Real e o
processo de privatizações. Os resultados foram positivos sobre a economia e a população, com
retomada das condições para o crescimento econômico e a estabilidade do nível de preços,
respectivamente.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará no que consistiu o Plano Real e qual a
importância da concorrência para a economia e para a população, de modo a compreender a
atuação do governo na atuação desse processo, assim como os motivos que levaram ao processo
de privatizações ao longo da década de 1990.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Reconhecer a importância da livre concorrência para a economia e para a população.


• Identificar as formas de atuação do governo na defesa da livre concorrência.
• Constatar os efeitos do Plano Real e do processo de privatizações da década de 1990 sobre
a economia brasileira e sobre os agentes econômicos.

DESAFIO

Imagine que você tenha 50 anos e tenha passado pelas instabilidades inflacionárias marcantes da
década de 1980 e do início dos anos 1990. Quais os impactos do Plano Real sobre a sua vida e a
dos demais brasileiros em termos de consumo? Utilize um indicador que permita dar base ao seu
argumento, revelando o antes e o pós-Plano Real.

INFOGRÁFICO
Observe, no infográfico a seguir, os órgãos e suas formas de atuação do Sistema Brasileiro de
Defesa da Concorrência (SBDC).

CONTEÚDO DO LIVRO

Durante a década de 1990, deu-se um processo acirrado de privatizações de empresas públicas.


O intuito era promover uma modernização da economia por meio do aumento da
competitividade e da eficiência das empresas, com repercussões positivas sobre a própria
economia e sobre a população do país. Mas, para isso, seriam necessárias bases legislatórias que
pudessem dar o suporte a esse novo funcionamento de mercado. As leis de defesa à
concorrência foram então modernizadas e criou-se o Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência (SBDC). Acompanhe um trecho da obra Economia: Teoria e Política, que
apresenta as principais legislações relacionadas com a defesa da concorrência, assim como as
principais características e funcionamento do SBDC, os principais conceitos relacionados com a
globalização e a sua importância para as economias. Inicie sua leitura pelo tópico "A Defesa da
Concorrência no Brasil" e finalize até o final do tópico "Mudanças no sistema brasileiro de
defesa da concorrência".

Boa leitura!
ECONOMIA
TEORIA E POLÍTICA
Tradução da 5a Edição Espanhola

Francisco MOCHÓN MORCILLO


Catedrático de Teoria Econômica
Facultad de Ciencias Económicas
Universidad Nacional de Educación a Distancia

Tradução
Fátima Conceição Murad
Leila de Barros
Sheila Clara Dystyler Ladeira

Revisão Técnica e Adaptação


Carlos Roberto Martins Passos
Economista com graduação e pós-graduação pela
Universidade de São Paulo – USP
Lecionou nos cursos de graduação da PUC/SP, FMU e UNIP,
na pós-graduação da FASP e da Faculdade São Luís, e no MBA
em Finanças do Ibmec e no IbmesLaw, do Ibmec Educacional

Bangcoc Beijing Bogotá Caracas Cidade do México


Cingapura Londres Madri Milão Montreal Nova Delhi Nova York
Santiago São Paulo Seul Sydney Taipé Toronto
ECONOMIA: TEORIA E POLÍTICA - 139

Apêndice 7.C
A Defesa da Concorrência no Brasil
liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social
1 Introdução da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao
Examinamos, no capítulo anterior e neste, duas estru- abuso do poder econômico. A Lei no 8.884 veio sistema-
turas mercadológicas distintas: a concorrência perfeita tizar e aperfeiçoar a legislação antitruste. Ela previne os
e o monopólio. Vimos também que as estruturas menos efeitos anticoncorrenciais de qualquer forma de concen-
concorrenciais são setores compostos por poucos produ- tração econômica (todos os atos, sob qualquer forma ma-
tores, de tal modo que cada produtor tem algum grau de nifestados, passíveis de limitar ou de qualquer maneira
monopólio. Com maior poder de mercado, tais setores prejudicar a livre concorrência, ou resultar na dominação
podem prejudicar potenciais compradores, pois estes aca- de mercados relevantes de bens ou serviços). A coletivi-
bam adquirindo bens a preços mais elevados que aqueles dade é a titular dos bens jurídicos protegidos pela Lei.
que prevaleceriam em mercados competitivos (acabam Já em seu Art. 1o fica estipulada a finalidade da lei:
cobrando preços superiores aos custos marginais). Além tratar da prevenção e da repressão às infrações contra a
de pagar mais pelo produto, nas estruturas com menor ordem econômica, orientada pelos ditames constitucio-
concorrência, o consumidor tem uma quantidade menor nais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função
de produto à sua disposição. De fato, os mercados falham social da propriedade, defesa dos consumidores e repres-
na presença da concorrência imperfeita. são ao abuso do poder econômico.
O poder monopólico se reflete em dois grandes gru-
pos de mercados imperfeitos: monopólios naturais e oli- 2.1 Infrações
gopólios. Deve-se, portanto, limitar o poder de mercado, Com relação às infrações, em seu Art. 20 a referida lei
evitando, assim, que ele seja usado de maneira anticon- define que
correncial. Vamos inicialmente expor a Lei Antitruste no
“Constituem infração da ordem econômica, indepen-
Brasil, para em seguida apresentar um esboço do funcio-
dentemente de culpa, os atos sob qualquer forma mani-
namento do SBDC.
festados, que tenham por objeto ou possam produzir os
seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados:
2 A Lei Antitruste no Brasil I – limitar, falsear, ou de qualquer forma prejudicar a
livre concorrência ou a livre iniciativa;
É interessante observar que a base de organização de
II – dominar mercado relevante de bens e serviços;
um sistema de defesa da concorrência está presente na
Constituição Federal de 1988, no Título VII, Da Ordem III – aumentar arbitrariamente os lucros;
Econômica e Financeira, Capítulo 1, Dos Princípios IV – exercer de forma abusiva posição dominante.”
Gerais da Atividade Econômica. Nele encontramos, no
Art. 170, a afirmação de que a ordem econômica, fundada Por posição dominante entende-se quando a empresa
na valorização do trabalho e na livre iniciativa, tem por ou grupo de empresas controla 20% de mercado relevan-
fim assegurar, entre outros princípios, o da livre concor- te, podendo esse percentual ser alterado pelo Cade para
rência (inciso IV) e de defesa do consumidor (inciso V). setores específicos da economia.

A legislação que trata desses assuntos é a Lei Em seu Art. 21, a Lei no 8.884 caracteriza o que se
o
n 8.884, de 11 de junho de 1994, que transforma o entende por infração à ordem econômica, ao longo de 24
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) incisos:
em Autarquia, ampliando seus poderes. Ela dispõe so- I – fixar ou praticar, em acordo com concorrente, sob
bre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem qualquer forma, preços e condições de venda de bens ou
econômica orientada pelos princípios constitucionais de de prestação de serviços;
140 - CAPÍTULO 7 - O MONOPÓLIO

II – obter ou influenciar a adoção de conduta comer- XV – destruir, inutilizar ou açambarcar matérias-pri-


cial uniforme ou concertada entre concorrentes; mas, produtos intermediários ou acabados, assim como
destruir, inutilizar ou dificultar a operação de equipamentos
III – dividir os mercados de serviços ou produtos, aca-
destinados a produzi-los, distribuí-los ou transportá-los;
bados ou semi-acabados, ou as fontes de abastecimento
de matérias-primas ou produtos intermediários; XVI – açambarcar ou impedir a exploração de direitos
de propriedade industrial ou intelectual ou de tecnologia;
IV – limitar ou impedir o acesso de novas empresas
ao mercado; XVII – abandonar, fazer abandonar ou destruir lavou-
ras ou plantações, sem justa causa comprovada;
V – criar dificuldades à constituição, ao funcionamento,
XVIII – vender injustificadamente mercadoria abaixo
ou ao desenvolvimento de empresa concorrente ou de for-
do preço de custo;
necedor, adquirente ou financiador de bens ou serviços;
XIX – importar quaisquer bens abaixo do custo no
VI – impedir o acesso de concorrentes às fontes de in-
país exportador, que não seja signatário dos códigos
sumo, matérias-primas, equipamentos ou tecnologia, bem
Antidumping e de subsídios do GATT;
como aos canais de distribuição;
XX – interromper ou reduzir em grande escala a pro-
VII – exigir ou conceder exclusividade para divulga- dução, sem justa causa comprovada;
ção de publicidade nos meios de comunicação de massa.
XXI – cessar parcial ou totalmente as atividades da
VIII – combinar previamente preços ou ajustar vanta- empresa sem justa causa comprovada;
gens na concorrência pública ou administrativa;
XXII – reter bens de produção ou de consumo, exceto
IX – utilizar meios enganosos para provocar a oscila- para garantir a cobertura dos custos de produção;
ção de preços de terceiros;
XXIII – subordinar a venda de um bem à aquisição de
X – regular mercados de bens e serviços, estabelecen- outro ou à utilização de um serviço, ou subordinar a pres-
do acordos para limitar ou controlar a pesquisa e o desen- tação de um serviço à utilização de outro ou à aquisição
volvimento tecnológico, a produção de bens ou prestação de um bem;
de serviços, ou para dificultar investimentos destinados à XXIV – impor preços excessivos, ou aumentar sem
produção de bens ou serviços ou à sua distribuição; justa causa o preço de bem ou serviço.
XI – impor, no comércio de bens ou serviços, a distri- Verifica-se, ao longo desses itens, restrições a:
buidores, varejistas e representantes, preços de revenda,
a) práticas que resultem em combinação objetivando
descontos, condições de pagamentos, quantidades míni-
evitar a competição entre empresas que estejam no
mas ou máximas, margem de lucro ou quaisquer outras
mercado;
condições de comercialização relativos a negócios destes
com terceiros; b) práticas que impeçam a entrada de novas empresas no
mercado;
XII – discriminar adquirentes ou fornecedores de bens
ou serviços por meio de fixação diferenciada de preços, c) práticas que tenham por objetivo a expulsão de em-
ou de condições operacionais de venda ou prestação de presas que já estejam no mercado;
serviços; d) imposição de controles ao longo da cadeia produtiva.
XIII – recusar a venda de bens ou a prestação de ser-
viços, dentro das condições de pagamentos normais aos 2.2 Penas
usos e costumes comerciais; O Art. 23 da referida lei sujeita os responsáveis por práti-
cas de infração da ordem econômicas às seguintes penas:
XIV – dificultar ou romper a continuidade ou desen-
volvimento de relações comerciais de prazo indetermi- “I – no caso de empresa, multa de um a trinta por cen-
nado em razão de recusa da outra parte em submeter-se to do valor do faturamento bruto do seu último exercício,
a cláusulas e condições comerciais injustificáveis ou an- excluídos os impostos, a qual nunca será inferior à vanta-
ticoncorrenciais; gem auferida, quando quantificável;
ECONOMIA: TEORIA E POLÍTICA - 141

II – no caso de administrador, direta ou indiretamente da concorrência, baseado na Lei no 8.884/1994, e instruir


responsável pela infração cometida pela empresa, multa os processos, principalmente em seus aspectos jurídicos,
de dez a cinqüenta por cento do valor daquela aplicável à para posterior decisão final do Cade.
empresa, de responsabilidade pessoal e exclusiva ao ad-
ministrador. 3.2 Secretaria de Acompanhamento Econômico
III – No caso das demais pessoas físicas ou jurídicas (SEAE)
de direito público ou privado, bem como quaisquer asso-
A Secretaria de Acompanhamento Econômico, do
ciações de entidades ou pessoas constituídas de fato ou
Ministério da Fazenda, aborda as questões de defesa da
de direito, ainda que temporariamente, com ou sem per-
concorrência sob o aspecto econômico da matéria e ela-
sonalidade jurídica, que não exerçam atividade empre-
bora parecer técnico que auxiliará a SDE na instrução
sarial, não sendo possível utilizar-se o critério do valor
do processo e o Cade na sua decisão final. Da mesma
do faturamento bruto, a multa será de 6.000 (seis mil) a
forma que a SDE, tem função analítica e investigativa.
6.000.000 (seis milhões) de unidades Fiscais de referên-
Entretanto, o parecer técnico da SEAE e a nota técnica e
cia – UFIR, ou padrão superveniente.”
o despacho da SDE não são vinculativos, podendo o Cade
Vale dizer que, em caso de reincidência, as multas se- adotá-los em sua decisão ou não.
rão aplicadas em dobro.
3.3 Conselho Administrativo de Defesa Econômica
3 O Sistema Brasileiro de Defesa da (Cade)
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
Concorrência criado em 1962 e transformado, em 1994, em Autarquia
vinculada ao Ministério da Justiça, tem suas atribuições
O objetivo principal do Sistema Brasileiro de Defesa da
previstas na Lei no 8.884, de 11 de junho de 1994. Sua
Concorrência (SBDC) é a promoção de uma economia
finalidade é orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos
competitiva por meio da prevenção e da repressão de
de poder econômico, exercendo papel tutelador da pre-
ações que possam limitar ou prejudicar a concorrência,
venção e repressão desse abuso.
com base na Lei de Defesa da Concorrência.
Ao Cade, última instância decisória na esfera admi-
O Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência
nistrativa, cabe julgar os processos em matéria concor-
é composto pela Secretaria de Acompanhamento
rencial, após análise dos pareceres da SEAE e da SDE.
Econômico (SEAE), vinculada ao Ministério da Fazenda,
As decisões do Cade não comportam revisão no âmbito
pela Secretaria de Direito Econômico (SDE) e pelo
do Poder Executivo, sendo possíveis apenas no âmbito do
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
Poder Judiciário.
ambos vinculados ao Ministério da Justiça.
Para compreendermos o SBDC é preciso conhecer a
3.4 A Atuação dos Órgãos do Sistema Brasileiro de
atuação de cada uma das Secretarias e do Cade, e como a
defesa da concorrência é tratada em nosso País. Defesa da Concorrência
A atuação dos órgãos do SBDC subdivide-se em três tipos:
3.1 Secretaria de Direito Econômico I – preventiva, por meio do controle de estruturas de
A Secretaria de Direito Econômico, do Ministério mercado, via apreciação de atos de concentração (fusões,
da Justiça, subdivide-se em dois departamentos: o aquisições e incorporações de empresas);
Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor II – repressiva, mediante controle de condutas ou prá-
(DPDC) e o Departamento de Proteção e Defesa ticas anticoncorrenciais, que busca verificar a existência
Econômica (DPDE). de infrações à ordem econômica, das quais são exemplos
O DPDC trata de questões pertinentes à Lei no as vendas casadas, os acordos de exclusividade e a for-
8.078/1990, e dispõe sobre a proteção do consumidor, mação de cartel; e
não se confundindo com matéria de antitruste, que fica III – educacional, que corresponde ao papel de difusão
a cargo do DPDE. Este possui função analítica e investi- da cultura da concorrência, via parceria com instituições
gativa. É função do órgão analisar as questões de defesa para a realização de seminários, palestras, cursos e publi-
142 - CAPÍTULO 7 - O MONOPÓLIO

cações de relatórios e matérias em revistas especializa- As funções de investigação de condutas anticoncor-


das, visando a um maior interesse acadêmico pela área, renciais e de análise de atos de concentração serão desem-
ao incremento da qualidade técnica e da credibilidade das penhadas pelo Cade, que, com isso, passará a ser compos-
decisões emitidas e à consolidação das regras antitruste to por quatro órgãos: Superintendência Geral (que atuará
perante a sociedade. como um promotor, investigando denúncias para, depois,
submetê-las ao julgamento do tribunal); Departamento de
Estudos Econômicos (que elaborará estudos e pareceres
4 Mudanças no Sistema Brasileiro de Defesa para auxiliar o trabalho dos conselheiros e da diretoria ge-
ral); Procuradoria Geral; e Tribunal Administrativo (res-
da Concorrência ponsável pelo julgamento). Hoje, SEAE e a SDE fazem a
instrução dos casos, que são julgados ao final pelo Cade.
O governo federal enviou ao Congresso Nacional o projeto
de reforma do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência A SEAE passará a responder pela “advocacia da con-
(SBDC). O projeto altera a Lei no 8.884/1994, e traz mu- corrência”, analisando normas setoriais e medidas to-
danças na estrutura e na forma de atuação dos órgãos do madas por outros órgãos de governo de forma a evitar
SBDC. O objetivo das mudanças é tornar o sistema mais distorções no ambiente concorrencial. Pela proposta do
racional, rápido e eficiente. governo, a Secretaria não será mais obrigada a investigar
condutas anticompetitivas ou fazer pareceres sobre fusões
Pelo projeto, o SBDC será composto por apenas dois
e aquisições, mas pode atuar se considerar necessário.
órgãos: Secretaria de Acompanhamento Econômico
(SEAE) e Conselho Administrativo de Defesa Econômico A principal mudança é que a análise de fusões e aqui-
(Cade), deixando de existir as atribuições da Secretaria sições passará a ser feita antes do fechamento do negócio
de Direito Econômico (SDE). As tarefas desempenha- e não depois, como é realizada hoje.
das pelo Departamento de Proteção e Defesa Econômica Após essa breve apresentação a respeito das principais
(DPDE) da SDE, referentes à instrução de processos ad- alterações na estrutura do SBDC, mostraremos, a seguir,
ministrativos e análise de atos de concentração, deverão uma síntese dos principais pontos do projeto, indicando
ficar sob a responsabilidade do Cade. como atua hoje e como ficará após a reestruturação.

Formação atual Após a reestruturação

Estrutura A defesa da concorrência no País é feita por três ór- O Cade concentrará as atividades de investiga-
gãos: Secretaria de Acompanhamento Econômico ção, análise e julgamento da área de concorrên-
(do Ministério da Fazenda), Secretaria de Direito cia. A SDE deixa de existir, mas o Departamento
Econômico e Conselho Administrativo de Defesa de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC)
Econômica (ambos do Ministério da Justiça). No permanecerá na estrutura do MJ. A SEAE con-
formato atual, há uma duplicidade de atuação tinuará existindo, porém, passará a atuar princi-
entre SDE e SEAE, principalmente na análise de palmente na advocacia da concorrência.
atos de concentração, já que as duas secretarias
fazem o mesmo trabalho de instrução e precisam
emitir, cada uma, um parecer para cada caso.

Estrutura do Cade Hoje, é formado pelo Conselho, que julga os ca- O Cade passará a ser composto pela Superin-
sos, e pela Procuradoria, que representa o Cade tendência Geral (atuará como uma espécie de
na Justiça. promotoria, investigando empresas suspeitas
de prejudicar concorrentes e fazendo a instru-
ção dos casos), pelo Departamento de Estudos
Econômicos (elaborará estudos e pareceres
econômicos, de ofício ou por solicitação de con-
selheiro relator ou do superintendente-geral),
pelo Tribunal Administrativo (responsável pelo
julgamento) e pela Procuradoria Geral (que terá
sua atuação perante o Judiciário reforçada).

(continua)
ECONOMIA: TEORIA E POLÍTICA - 143

Formação atual Após a reestruturação

Fusões e aquisições O negócio é aprovado depois de concretizado. A análise passa a ser prévia.

Critério de Todas as operações em que uma das empresas O critério passará a ser mais seletivo e objetivo.
submissão de tenha faturamento acima de R$ 400 milhões ou Especifica-se que será considerado apenas o fa-
atos de que resultem na concentração de 20% do merca- turamento, no Brasil, das empresas envolvidas e
concentração do precisam ser submetidas aos órgãos de defesa deixa de haver critério com base na participação
da concorrência brasileiros. de mercado. Os valores poderão ser alterados
para se adequarem à dinâmica econômica.

Análise simplificada Para todos os casos apresentados ao SBDC, mes- Casos que não representarem risco à concor-
mo os mais simples, SDE e SEAE precisam elabo- rência poderão ser aprovados apenas com uma
rar pareceres sobre a operação e encaminhar para determinação do superintendente-geral. A deci-
julgamento do Cade. são do superintendente-geral será passível de
revisão, se requerida por conselheiros, terceiros
interessados, SEAE, Ministério Público ou agên-
cias reguladoras. Os casos mais complexos con-
tinuarão a ser julgados pelo tribunal.

Possibilidade Há incentivos para que as empresas não passem Será criado o acordo em controle de concentra-
de acordo todas as informações necessárias para a análi- ções, para que empresas e autoridades de con-
se das secretarias e inundem os conselheiros do corrência cheguem a uma proposta consensual
Cade de dados antes do julgamento. Dessa forma, nos casos mais complexos, a qual dependerá de
protela-se a decisão final e cria-se um fato con- aprovação do tribunal.
sumado, mais difícil de desinvestimento, um meio-
termo entre a aprovação e a rejeição da operação,
que é imposta pelos conselheiros e não negocia-
da.

Definição de papéis Não há uma definição explícita sobre os papéis Todo o projeto será estruturado no sentido de
de cada órgão, o que resulta em uma atuação em definir esses papéis. A Superintendência Geral
que ora os órgãos exercem função de juízes, ora exercerá o papel de promotoria e o tribunal é o
promotores. juiz.

Ênfase no combate a Tradicionalmente, o número de atos de concentra- Com a diminuição do número de fusões e aquisi-
cartéis ção submetidos à aprovação dos órgãos fez que ções a serem analisadas, recursos humanos se-
o sistema tivesse como foco a análise de fusões rão direcionados para a investigação de cartéis.
e aquisições, o que passou a mudar a partir de
O programa de leniência, adotado a partir da atual
2000.
gestão da SDE, ganhará um capítulo específico.
Ficará explicitado que a assinatura de acordos
de leniência impedirá a propositura de denún-
cias criminais, o que dará mais segurança às
empresas e dirigentes que quiserem assinar um
acordo de leniência. A SDE precisará, a cada
caso, conseguir o compromisso dos ministérios
públicos de que não será oferecida denúncia.

Penalidades Apesar de a lei prever penas mais rígidas, como As penalidades previstas para os casos mais
a proibição de fazer contratações com instituições graves tornar-se-ão mais objetivas. A multa pas-
financeiras oficiais e participar de licitações, em sa a variar de R$ 6 mil a R$ 200 milhões.
geral são aplicadas apenas multas de até 30% do
faturamento da empresa.

Mandato dos Os conselheiros têm mandato de dois anos, pror- Os mandatos passarão a ser de quatro anos não
conselheiros rogáveis por igual período. coincidentes, evitando mudanças bruscas na
composição do órgão, e será proibida a prorro-
gação dos mandatos para o período seguinte.

(continua)
144 - CAPÍTULO 7 - O MONOPÓLIO

Formação atual Após a reestruturação

Quarentena Nada impede que um conselheiro deixe o Cade e Será instituída uma quarentena de 120 dias para
passe a advogar para uma empresa logo de ime- os conselheiros e para o procurador-geral.
diato.

Independência nas Os responsáveis pela investigação de condutas Assim como os conselheiros, o superintenden-
investigações anticoncorrenciais, os secretários da SEAE e da te-geral, responsável pelas investigações, terá
SDE são demissíveis a qualquer tempo. mandato de dois anos, para garantir a indepen-
dência nas investigações.

Carreira Não há carreira e quadro de pessoal permanente Será criado um corpo técnico para o Cade e são
para os órgãos. disponibilizados mais cargos DAS.

Federalização dos A competência é da justiça comum. A competência para processar e julgar crimes
crimes contra a contra a ordem econômica será transferida para
ordem econômica a Justiça Federal.
Fonte: SEAE – Ministério da Justiça.

5 Glossário Básico de Defesa da Agente econômico: qualquer pessoa física ou jurídica


(empresa privada ou pública, com fins lucrativos ou não,
Concorrência* indústria, comércio, profissional liberal etc.) que partici-
Acordo de exclusividade: ocorre quando compradores pa, independentemente, como sujeito ativo na atividade
de um determinado bem ou serviço se comprometem a econômica.
adquiri-lo com exclusividade de determinado vendedor (ou Averiguação Preliminar: investigação que a SDE pro-
vice-versa), ficando assim proibidos de comercializar os move, de ofício ou à vista de representação escrita e fun-
bens dos rivais. O efeito econômico é similar ao efeito da damentada de qualquer interessado, quando os indícios
restrição territorial. Em ambos os casos a competição via de infração à ordem econômica não são suficientes para a
preços é limitada. O estabelecimento de um acordo de ex- instauração de um Processo Administrativo.
clusividade pode elevar os custos de entrada de competido-
Aquisição (incorporação): Aquisição do controle de um
res potenciais ou elevar os custos de rivais efetivos no mer-
agente econômico por outro, no qual o agente econômico
cado do provedor, aumentando a possibilidade de exercício
adquirido desaparece como pessoa jurídica, mas o adqui-
de poder de mercado no setor correspondente. Os acordos
rente mantém a identidade jurídica anterior ao ato.
de distribuição exclusiva aumentam o poder de mercado do
provedor na medida em que conseguem restringir o acesso Barreiras à entrada: Qualquer fator em um mercado que
de rivais potenciais ou efetivos aos sistemas de distribuição, ponha um potencial competidor eficiente em desvanta-
obrigando-os a constituir canais próprios. gem com relação aos agentes econômicos estabelecidos.
Entre os fatores que constituem importantes barreiras à
Acordo de Leniência: programa de redução de penas para
entrada, destacam-se: a) custos fixos elevados; b) custos
os infratores à ordem econômica que se apresentarem es-
pontaneamente às autoridades antitruste, instituído pela
afundados; c) barreiras legais ou regulatórias; d) recur-
Lei no 10.149/2000 e regulamentado pela Portaria MJ no
sos de propriedade das empresas instaladas; e) economias
849/2000. Mediante o programa, aqueles que cooperarem de escala ou de escopo; f) grau de integração da cadeia
com o Governo, identificando os demais co-autores da infra- produtiva; g) fidelidade dos consumidores às marcas es-
ção e apresentando provas concretas, poderão ser poupados tabelecidas; e h) a ameaça de reação dos competidores
de processo administrativo ou ter as suas penas reduzidas instalados.
de um a dois terços. A Lei no 10.149/2000 garantiu sua ex- Barreiras legais ou regulatórias: As barreiras legais e
tensão à esfera penal, significando que o cumprimento do regulatórias são exigências criadas pelo governo para a
acordo de leniência extingue a punibilidade criminal das in- instalação e o funcionamento de uma empresa, tais como
frações à ordem econômica, caso se constituam em crime de
as licenças comerciais. As barreiras legais podem repre-
ação penal pública.
sentar, na prática, um incremento nos custos afundados,
quando sua superação implicar custos elevados ou quan-
* Fonte: SDE – Ministério da Justiça.
DICA DO PROFESSOR

O Plano Real e o processo de privatizações da década de 1990 foram as políticas mais marcantes
e polêmicas da década de 1990. Seus resultados trouxeram o retorno da população ao país,
repercutindo positivamente sobre o nível de atividade econômica do Brasil. Acompanhe, no
vídeo a seguir, uma breve abordagem sobre esse período.

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EXERCÍCIOS

1) Sobre o assunto relacionado com as privatizações e defesa da concorrência, assinale a


alternativa correta.

A) As privatizações ocorreram para que o governo reduzisse as suas responsabilidades


financeiras e gastos, transferindo esse ócio para a iniciativa privada.

B) A década de 1990 foi caracterizada por uma nova fase de privatizações na economia
brasileira, porém com menor intensidade do que as que ocorreram nas décadas anteriores,
durante o regime militar.

C) Apesar do processo acirrado de desestatização ao longo da década de 1990, não foram


criados órgãos que fiscalizassem as atitudes das empresas em relação aos objetivos
propostos pelo governo ao promover a privatização.

D) Embora Collor tenha dado início a um processo amplo de privatizações, apenas o governo
seguinte criou marcos regulatórios para os novos gestores e aprovou a legislação
necessária para que fosse viável a quebra dos monopólios do Estado e a concessão de
serviços públicos.
E) Desde o princípio da criação de leis sobre a defesa da concorrência, no regime militar, as
preocupações foram de repressão aos crimes econômicos contra a população e o controle
das formações de “trustes”. Mesmo após a intensificação do processo de privatizações e do
acirramento da concorrência, não foram realizadas adaptações nesse sistema.

2) Sobre o Sistema de Defesa da Concorrência no Brasil, assinale a alternativa correta.

A) São considerados abusos de poder econômico ações que resultem nos seguintes aspectos:
Domínio dos mercados de bens ou serviços; Atuar de modo abusivo, eliminando a
concorrência; Aumento dos lucros de modo arbitrário.

B) Apenas os agentes privados estão sujeitos às penalidades sobre o abuso de poder


econômico.

C) Os agentes que realizarem infrações estão sujeitos apenas a penalidades relacionadas ao


pagamento de multas.

D) O moderno sistema de defesa da concorrência, criado no regime militar e formado pelo


Cade e a SDE, foram fundamentais para o alcance dos objetivos de FHC, que era a prática
de preços moderados, na promoção de um ambiente competitivo.

E) O sistema de defesa da concorrência não criou as condições necessárias para a eliminação


de práticas de intervenção sobre os preços durante o governo FHC.

3) No que tange ao Plano Real, assinale a alternativa correta.

A) O governo valorizou a taxa de câmbio, assim como continuou o processo de abertura da


economia por meio da redução de tarifas à importação, para evitar a escalada de preços
internos, tornando o Plano Real uma política eficiente no combate à inflação.

B) A abertura comercial, juntamente com a valorização da taxa de câmbio, como fatores


essenciais para o sucesso do Plano Real, acabou por contribuir também para o alcance de
crescentes superávits na balança comercial.

C) Para a efetivação do Plano Real, as políticas monetárias restritivas fundamentais para o


controle inflacionário permaneceram durante os dois mandatos de FHC.

D) As elevadas taxas de juros nominais estabelecidas pelo governo para atrair capitais
estrangeiros e aumentar a disponibilidade de divisas, necessários principalmente para a
manutenção da taxa de câmbio no nível desejado (valorizado), não influenciou as contas
do governo.

E) O Plano Real foi uma medida que trouxe resultados imediatos sem que o governo
precisasse adotar políticas fiscais restritivas como suporte ao sucesso do Plano.

4) Como o governo FHC pode ser caracterizado?

A) Um governo autoritário, baseado na substituição de importações para desenvolver o parque


industrial do Brasil.

B) Um governo autoritário, cujas políticas levaram o Brasil à recessão no final da década de


1990.

C) Um governo centralizado, que estimulou o desenvolvimento econômico, principalmente na


região sudeste.

D) Um governo que buscou a descentralização do Estado e a modernização da economia por


meio de processos de desestatização de empresas e da continuidade do processo de
abertura comercial.

E) Um governo descentralizado, intervindo apenas nas questões sociais do país.

5)
Marque a alternativa que represente os resultados das principais políticas
econômicas adotadas por FHC.

A) A conquista da estabilidade dos preços como reflexo da queda da demanda que ocorreu
após as crises Asiática (1997) e Russa (1998), que impactaram o nível de atividade
econômica do Brasil.<

B) Redução do endividamento mobiliário brasileiro em função do aumento das arrecadações


provenientes do processo de desestatização.

C) Modernização dos processos produtivos apoiada na continuidade do processo de abertura


comercial e das desestatizações, que levaram ao aumento da competitividade entre as
empresas.

D) Melhorias na infraestrutura do país, apoiando-se em recursos estatais, principalmente, e


estrangeiros.

E) Sucesso do Plano Real em decorrência da melhoria das condições do mercado


internacional, que impulsionaram a confiança dos agentes econômicos e aceleraram o
ritmo de atividade econômica do país.

NA PRÁTICA

A aceleração inflacionária foi um dos maiores desafios do governos a partir da década de 1980.
Ultrapassar esse obstáculo significaria criar condições para a retomada do ritmo de atividade
econômica do país. Após vários planos econômicos na tentativa de estabilizar o nível de preços,
desde o início dos anos 80, apenas com a implementação do Plano Real essa conquista foi
alcançada de modo permanente, conforme se pode observar no gráfico a seguir.
SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

Fórum - Lei de defesa da concorrência

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Especial 20 anos do Plano Real

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Perguntas gerais sobre defesa da concorrência


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