SETOR DE

PETRÓLEO

ELABORADO PELA

IMPACTUS UFRJ

www.impactusufrj.com.br
impactusufrj@gmail.com
ENTENTENDO O SETOR DE PETRÓLEO GLOBAL
DO POÇO AO POSTO
PANORAMA HISTÓRICO
Apesar da história moderna do petróleo começar na
segunda metade do século XIX, sua utilização data
de muito antes. No Oriente Médio, por exemplo, o
petróleo que vazava do solo era utilizado como
argamassa, asfalto e remédio. Além disso, existem
registros da existência de poços de petróleo desde
347 D.C. na China. Através de um instrumento de
bambu, os chineses perfuravam o solo e obtinham o
petróleo que seria usado para aquecer a água do
mar e produzir sal.
Nos Estados Unidos, o chamado “rock oil” era
frequentemente utilizado como remédio. No entanto,
na década de 1850, o advogado George Bissel
enxergava no recurso uma oportunidade para suprir
a demanda por iluminação artificial, substituindo o
óleo de baleia, que era pouco acessível. Desta
forma, Bissel e um grupo de investidores fundaram a
Pennsylvania Rock Oil Company. Quando o petróleo
foi encontrado na pequena cidade de Titusville,
pessoas de todo o país começaram a ocupar a
região em busca de riquezas.
IMAGEM 1 : POÇO CHINÊS PARA PRODUÇÃO DE SAL
Fonte: The Annals of Salt Law of Sichuan Province
Vale notar que esta corrida pelo “ouro negro” foi
possível no contexto estadunidense por causa da
regra da captura. A regra da captura determina que a
primeira pessoa a capturar um recurso tem direito de
propriedade sobre este. Isto é uma particularidade
essencial para compreensão do setor no país; visto
que, normalmente, o petróleo seria propriedade da
União. A regra está em vigor até hoje, com algumas
restrições para impedir a superprodução e a
aglomeração nos poços.
Sem estas restrições, a corrida do petróleo na
Pensilvânia resultou em uma exaustão prematura
dos poços, dado o escasso conhecimento geológico
e a voracidade de exploração frente à perspectiva de
enriquecimento rápido e ao risco de exploração do
poço por parte do produtor do campo vizinho.
Como a oferta de petróleo tornou-se mais abundante
do que a demanda, os preços despencaram. Era um
período de intensa concorrência entre os produtores.
No entanto, a vitória do Norte na Guerra da
Secessão (1861-1865) contribuiu para um
crescimento das exportações para a Europa. Mesmo
com a alta volatilidade dos preços do petróleo,
mantinha-se o frenesi.
Entre 1863 e 1865, foram desenvolvidos tubos de
madeira para facilitar o transporte do petróleo da
Pensilvânia para Nova York. Além disso, as
negociações do petróleo tornaram-se mais formais.
Na década de 1870, o petróleo era negociado das
três seguintes maneiras: i) vendas “spot”, com
pagamento e entrega imediata, ii) vendas regulares:
a transação era finalizada em cerca de 10 dias e iii)
venda de “futuros”, em que uma quantidade
determinada seria vendida a um certo preço em uma
data marcada no futuro. A forma iii) era muitas vezes
a utilizada para especulação. Essas diferentes
formas de transação existem, com algumas
modificações, até hoje.
Um empreendedor em Cleveland, John D.
Rockefeller, já ganhava dinheiro com estas
transações de petróleo, quando, em 1863, foi
construída uma ferrovia que tornaria a região atrativa
para o setor petrolífero. Muitas refinarias surgiram
neste contexto. Para destacar-se dos demais
competidores e atenuar os efeitos da volatilidade, a
refinaria de Rockefeller participava de uma grande
parte do processo produtivo: construía barris, tinha
seus próprios barcos e carros tanque para o
transporte. Além disso, por ser provavelmente a
maior refinaria do mundo na época, ela tinha ganhos
de escala, como descontos significativos recebidos
no frete ferroviário, reduzindo seus custos.
Entre 1865 e 1870, a superprodução fez com que os
IMAGEM 2 : CARRO TANQUE STANDARD OIL
Fonte: Photocraft
preços do petróleo despencassem. Rockefeller e seus
colegas decidiram que este era o momento ideal para
consolidar o setor. Assim, em 1870, foi fundada a
Standard Oil Company. A empresa adquiriu diversas
refinarias, mas também fez uso de práticas
anticompetitivas, como espionagem. Essas práticas
tornavam-se cada vez mais conhecidas, tornando a
empresa detestável para o grande público.
Mesmo assim, em 1879, a Standard Oil dominava
90% da capacidade de refino dos Estados Unidos. No
mesmo ano, refinarias independentes desenvolveram
o transporte via oleoduto, substituindo o transporte
ferroviário de longa distância. A Standard Oil, por ser
mais capitalizada, se beneficiou desta inovação
significativamente e construiu diversos oleodutos,
integrando transporte, marketing e refino do petróleo.
Na década de 1880, foram descobertos os campos de
Lima-Indiana. As descobertas encorajaram a empresa
a produzir petróleo. Em 1891, a Standard Oil já era
responsável por ¼ da produção nos Estados Unidos.
Assim, a Standard Oil inaugurou um modelo de
organização empresarial baseado em escala e
eficiência que influenciaria o setor de petróleo
mundialmente, sendo posteriormente chamado de
“integração vertical”.
Este modelo permitiu que a empresa não dominasse
apenas o mercado americano, mas também o
mundial. Entre 1870 e 1880, metade de toda a
produção de petróleo dos Estados Unidos era
destinada à exportação, sendo a Europa sua maior
compradora. Contudo, com a sua presença global, era
inevitável também o aparecimento de novos
concorrentes.
Alguns deles surgiram em Baku. No início da década
de 1870, o fim do monopólio pelo governo russo fez
com que várias novas refinarias emergissem. Destaca-
caram-se duas figuras, Ludwig e Robert Nobel (irmãos
de Alfred Nobel, cujo sobrenome deu origem ao nome
da premiação por causa de uma doação generosa da
sua parte). A empresa dos irmãos Nobel produzia
metade do querosene consumido pelos russos. No
entanto, o inverno intenso tornava partes do território
russo inacessíveis. Para contornar a questão, eles
construíram uma série de ferrovias, alcançando
também o mercado europeu, através de
financiamentos com os banqueiros franceses
Rothschild. Estes banqueiros acabaram criando a
segunda maior empresa russa do setor, a Caspian and
Black Sea Petroleum Company.
Os Rothchild planejavam expandir para um grande
mercado em potencial, a Ásia. Para isso, recorreram
aos conselhos de Marcus Samuel, filho de um
comerciante de conchas e que era conhecido por sua
expertise em exportações. Segundo ele, o sucesso do
plano dependeria do ingresso no mercado
rapidamente, evitando assim uma guerra de preços
desleal com a Standard Oil. O filho do comerciante de
conchas negociou a passagem através do Canal de
Suez, que era proibida até então para navios de carga
petrolífera por questões de segurança, para cortar os
custos de transporte e alcançar a Ásia.
O plano de Samuel foi um sucesso: o Murex foi o
primeiro de muitos navios petrolíferos que
atravessariam o canal de Suez. Marcus Samuel tornou
este seu principal negócio. Assim, em 1897, surge a
Shell Transport and Trading.
IMAGEM 3 : MUREX NO CANAL DE SUEZ
Fonte: site Shell
Com isso, a disputa entre os Rothchild, a Standard Oil
e os Nobel se acirrava ainda mais. Outra empresa
começou a ganhar relevância neste contexto.
Operando em Sumatra, a Royal Dutch se beneficiava
da abundância de petróleo e da proximidade do
mercado asiático. Assim, ela atraiu o interesse da
Standard Oil e da empresa de Marcus Samuel, que
disputavam sua compra. Conhecendo a má fama da tróleo a fim de obter os subprodutos que desejassem.
Standard Oil, o dirigente da Royal Dutch, Henri TABELA 1 : DESCENDENTES DA STANDARD OIL
Deterding, firmou a combinação com a Shell. Seria ele Fonte: Elaboração própria
o diretor executivo da nova companhia, enquanto
Marcus Samuel seria o presidente. Empresas em 1991 Empresas em 2021
IMAGEM 4 : LOGO ROYAL DUTCH SHELL Standard Oil of New Jersey
Esso, Exxon e fusão em
Fonte: Brand History - Shell Global 1999, ExxonMobil.
Mobilgas, Mobil Oil,
Standard Oil of New York
ExxonMobil.
Adquiriu a Standard Oil of
Standard Oil of California Kentucky, a Texaco em
2000 e a Unocal em 2005.
É a Chevron.

Standard Oil of Indiana Amoco e aquisição pela BP

em 1998.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, a descoberta da
lâmpada por Thomas Edison fez com que a demanda
por querosene caísse. Por outro lado, a demanda por
automóveis movidos a gasolina aumentava. Além
disso, o óleo combustível ganhava espaço na indústria
e no transporte naval e ferroviário.
Com a descoberta de petróleo em outros estados
americanos, como a Califórnia e o Texas, surgem
também várias empresas: Pure Oil, Union Oil (atual
Unocal), Texaco, Gulf Oil, entre outras.
Estas novas empresas concorrentes, bem como as
matérias jornalísticas, o movimento progressista e o
próprio presidente na época (Theodore Roosevelt)
defendiam que o poder de mercado que a Standard
Oil exercia tinha que ser limitado de alguma forma.
Após uma série de processos judiciais, em 1909, foi
decretada a dissolução da empresa a partir da lei
Sherman de 1890.
Assim, a empresa foi dividida em três, as mais
importantes, sendo em (por ordem decrescente de
tamanho): Standard Oil of New Jersey, Standard Oil of
New York, Standard Oil (California), Standard Oil of
Ohio, Standard Oil of Indiana, Continental Oil e Atlantic
Petroleum.
A divisão teve como efeito para as empresas o
desenvolvimento tecnológico e a valorização de seus
ativos no agregado. A Standard Oil Indiana, por
exemplo, desenvolveu a gasolina sintética, que
dobrou o aproveitamento do petróleo bruto e
contribuiu para a difusão ainda mais generalizada do
petróleo como combustível. Além disso, a descoberta
deu mais flexibilidade às refinarias para que estas
manipulassem a temperatura das moléculas de pe -
The Standard Oil Company Sohio e adquirida pela BP
(Ohio) em 1987.
The Ohio Oil Company Marathon Petroleum
Continental Oil Company Fusão com a Phillips,
(Conoco) ConocoPhillips. Cisão dos
ativos, Phillips 66.
Standard's Atlantic ARCO, Sunoco
A produção em Baku ia mal por algumas razões,
dentre elas a Revolução Russa. Isso seria
compensado pela exploração no Oriente Médio.
Um diplomata britânico, William D'Arcy, decidiu
explorar petróleo na Pérsia para afirmar o domínio da
Grã-Bretanha sobre o território e enfrentar, assim, o
Império Russo; além do potencial de enriquecer com a
atividade. O contrato de concessão destinado à D'Arcy
era de 60 anos. A empresa de D'Arcy era a Anglo-
Persian Oil Company.
A marinha britânica desejava uma fonte segura de
petróleo, tendo em vista que a hegemonia naval
britânica estava sendo ameaçada pela alemã. Dessa
forma, desejava-se fazer a transição dos navios, em
sua maioria movidos a carvão, para o petróleo; já que
o óleo combustível tornava os navios mais rápidos e
as manobras suaves. Questionava-se, qual seria a
principal aliada da marinha britânica: a Royal Dutch
Shell ou a Anglo-Persian Oil Company. A decisão pela
segunda empresa foi motivada pelo temor de que a
Anglo-Persian falisse (era mais frágil financeiramente)
e a marinha tivesse que depender da outra única
grande empresa, a Shell; que poderia fixar os preços
que desejasse sem a concorrência. Além disso, a
Shell não era 100% britânica e Marcus Samuel era ju-
deu, o que não agradava a Marinha. Logo, o governo
britânico adquiriu 51% das ações da companhia,
injetando uma quantia considerável de capital na
Anglo-Persian.
Em 1914, a Primeira Guerra Mundial eclodiu e o
petróleo estava em todos os lugares: nos navios, nos
tanques de guerra, nos aviões. A demanda por
petróleo era imensa. Neste contexto, a Anglo-Persian
se beneficiou de receitas crescentes e comprou uma
das maiores empresas de distribuição de petróleo
britânica, a British Petroleum. Futuramente, a Anglo-
Persian adotaria para si este nome, sendo atualmente
conhecida como BP.
Depois da guerra, os governos europeus acordavam
entre si as concessões de petróleo no Oriente Médio,
deixando as empresas dos Estados Unidos de fora.
Desta forma, começou uma rivalidade entre as
empresas europeias e americanas, em especial, entre
as cinco maiores empresas dos Estados Unidos, a
Royal Dutch Shell e a Anglo-Persian. Esta intensa
concorrência promoveu o desenvolvimento do setor, a
busca por reservas na América Latina, Ásia e Oriente
Médio e guerras de preços.
Os regimes de concessão estabelecidos nestas novas
localidades exploradas eram bastante desfavoráveis
para os países hospedeiros. A compensação
financeira era baixa e os contratos longos. Foi neste
período também que surgem os primeiros consórcios
do setor, em que as empresas estabeleciam regras
para a exploração conjunta das reservas.
Enfim, percebendo os benefícios da atuação conjunta
em detrimento da guerra de preços; a Anglo-Persian,
Royal Dutch Shell, Standard Oil of California, Gulf Oil,
Texaco, Standard Oil of New Jersey e Standard Oil of
New York formam o chamado cartel das "Sete Irmãs".
O apelido foi dado pelo diretor da Eni (empresa
italiana de petróleo) da época, que teve a sua entrada
no cartel negada. No cartel, firmam-se cotas de
produção a fim de controlar os preços no mercado.
Estas empresas em conjunto foram hegemônicas na
produção do petróleo do meio da década de 1940 até
o 1º choque do petróleo, em 1973; controlando, na
década de 1950, 65% das reservas mundiais, mais de
50% da produção de óleo bruto e 70% da capacidade
de refino.
Além das empresas "major" do cartel, existiam
também as empresas estatais, como a YPF na Argen -
tina e a CPF na França, criadas em 1922 e 1924,
respectivamente. No pós-guerra, os Estados notavam
a importância estratégica do petróleo, atuando
também mais intensamente na regulação do setor.
Essa participação maior do Estado era essencial para
controlar a volatilidade dos preços de energia, já que
esta dificultava o planejamento de investimentos e o
crescimento da economia; e blindar as economias
locais das arbitrariedades do cartel.
Em 1960, buscando autonomia frente ao Cartel das
Sete Irmãs e seus contratos de concessão abusivos;
Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela criam
a OPEP (Organização dos Países Exportadores de
Petróleo). Posteriormente, ocorreu também a
nacionalização das empresas petrolíferas dos países
da OPEP.
IMAGEM 5 : BANDEIRA OPEP
Fonte: Wikipedia
Além disso, entre 1946 e 1975, houve a
descolonização dos países da África e da Ásia.
As organizações internacionais, como a ONU (1945)
começavam a ter um papel sobre as relações
comerciais e sociopolíticas envolvendo o petróleo.
Esta multiplicidade de agentes (estatais, organizações
internacionais, etc) contribuíram para o
enfraquecimento do Cartel das Sete Irmãs.
Entre 1950 e 1974, a demanda mundial de petróleo
cresceu a uma taxa média anual de 9,5%. Era notável
a dependência de petróleo na matriz energética.
Assim, com a Guerra do Yom Kippur e o apoio dos
países a Israel, os países árabes cortaram a
produção, fazendo o preço saltar de 2,90 dólares por
barril para 11,65. Este foi o 1º choque do petróleo. O
resultado foi uma recessão econômica que duraria até
1976 e uma OPEP consciente do seu poder de fixação
de preços no mercado. Além disso, os países
começaram a buscar alternativas energéticas ao
petróleo e seus derivados. Surge também uma
preocupação em buscar fontes mais limpas
Já os países produtores de petróleo observaram um GRÁFICO 1 : MARKET SHARE OPEP
rápido crescimento de suas receitas e uma valorização Fonte: BP Statistical Review
do câmbio. No entanto, como estes países tinham um 60%
sistema financeiro pouco desenvolvido, as divisas 50%
eram investidas internacionalmente (nos Estados
40%
Unidos, Europa e Japão). Desta forma, os bancos
destes países facilitaram o crédito, baixando as taxas
30%
de juros internacionalmente e facilitando a captação 20%
de empréstimos dos países "em desenvolvimento", 10%
que também serviram, em partes, para desenvolver as 0%
indústrias energéticas locais. Esse cenário foi revertido

em 1979 com o aumento das taxas de juros
americanas.
Neste mesmo período, ocorreu o 2º choque do
petróleo. A Revolução Iraniana interrompeu a
produção de petróleo do segundo maior produtor na
época, bem como a Guerra Irã-Iraque. Os preços só
retomaram ao patamar pré-crise no meio da década
de 1980. Assim, houve a intensificação das políticas
de substituição do petróleo energeticamente nos
países importadores.
Com o tempo, o poder da OPEP em fixar os preços
começou a se deteriorar. A substituição do petróleo
teve um papel nisso, mas as discordâncias internas do
bloco também foram importantes. Enquanto os países
com mais recursos (como a Arábia Saudita) insistiam
nos cortes da oferta; os países mais dependentes da
receita do petróleo sofriam muita pressão econômica
para exportar, descumprindo assim as cotas
acordadas.
Desta forma, para fazer valer as cotas, a Arábia
Saudita decidiu atuar como swing producer, isto é,
cortava mais drasticamente sua produção para
compensar o descumprimento dos outros países-
membro. No entanto, com o aumento do número de
produtores e a menor dependência do petróleo, isso
teve o efeito de reduzir o market share do país.
Percebendo isso, a Arábia Saudita retomou sua
produção, culminando no contrachoque do petróleo
em 1986 (redução dos preços).
Estes novos produtores emergiram posteriormente ao
2º choque com as políticas de valorização do petróleo
nacional na Noruega, Brasil, Grã-Bretanha, México,
etc. A redução da dependência do petróleo citada no
parágrafo anterior veio da substituição deste por
fontes de energia mais limpas através de regulações
ambientais.
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004
2007
2010
2013
2016
2019
Outro fator que levou a redução de share pela OPEP
foi o atraso do bloco no desenvolvimento tecnológico,
que seria capaz de reduzir os custos de produção.
Além disso, posteriormente ao 2º choque, inovações
financeiras possibilitaram que os contratos de longo
prazo de petróleo fossem substituídos pelo mercado
spot. Isso reduziu o poder de barganha dos produtores
que tinham contrato com grandes importadores. A
volatilidade tornou-se mais comum e os agentes
desenvolveram formas inteligentes de reduzir os riscos
associados a ela. Neste sentido, a prática de hedge
tornou-se frequente no setor.
No curto prazo, as oscilações costumam obedecer
certos limites. Isso porque não é mais interessante
para os produtores a valorização excessiva do
petróleo, uma vez que isso resulta no desenvolvimento
de fontes de energia alternativas para a substituição
da commodity. Além disso, os preços atraem permitem
a entrada no mercado de produtores com custos
maiores, tais como os produtores off-shore brasileiros
e o do petróleo não-convencional estadunidense. A
estagnação econômica resultante do alto nível de
preços nos países consumidores também pode
diminuir o nível de importações. Por outro lado, preços
muito baixos inviabilizariam a produção dos produtores
de custos maiores, concentrando a oferta novamente
nos países da OPEP e, assim, forçando o preço para
cima; uma vez que é interessante para esses países
aumentarem suas receitas de petróleo.
 GRÁFICO 2 : PREÇOS DO PETRÓLEO 1861 - 2019 (A PREÇOS DE 2019)
Fonte: BP statistical review, Business Insider
2011
1861-1865 Primavera
140 1980
Guerra Civil Americana
Guerra Irã- Anos 2000 Árabe
Iraque redução da
120 oferta por falta
1865-1890 1978-1979 de investimento
Flutuações, novas 2o choque
100 e aumento da
reservas
demanda
1973-1974 chinesa
80 1986
1o choque do
1920 petróleo Contrachoque,
60 1894 aumento da
Crescimento da
oferta
Descobertas em indústria
automobilística
1931 1947
Baku
40 Grande 2012-2016
Boom pós-
Depressão Aumento da
guerra
produção não-
20
OPEP
1861
1865
1869
1873
1877
1881
1889
1893
1897
1901
1905
1909
1913
1917
1921
1925
1929
1933
1937
1941
1945
1949
1953
1957
1961
1965
1969
1973
1977
1981
1985
1989
1993
1997
2001
2005
2009
2013
2017
O SETOR
O petróleo e seus derivados têm diversos usos no GRÁFICO 4 : USOS DO PETRÓLEO POR SETOR
cotidiano, entrando na composição de combustíveis, Fonte: IEA - 2018

tecidos, alimentos, cosméticos, plásticos, asfalto e até

giz de cera. É por essa razão que alguns antropólogos
usam a expressão “Sociedade do Hidrocarboneto”,
fazendo referência a nossa dependência deste recurso 16%
não-renovável. O principal uso do petróleo é o
energético, representando cerca de 83% do consumo
49%
total. Além disso, o petróleo é a principal fonte primária
na matriz energética mundial desde a Segunda Guerra
Mundial. T. Rodoviário Não-energético Aviação Indústria
T. Marítmo Outros Residencial T. Ferroviário
GRÁFICO 3: MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL
Fonte: BP Statiscal Review of World Energy 2019
Percebe-se, portanto, a importância estratégica da
commodity para a segurança energética dos Estados.
27% Dada a distribuição geográfica desigual das reservas,
estes Estados devem negociar internacionalmente o
24% petróleo. Países como Venezuela e Arábia Saudita
têm reservas abundantes. É possível que a Arábia
Saudita (SA), por exemplo, tenha mais reservas do
33%
que o valor expresso no gráfico, visto que existem
ainda muitas reservas não-exploradas e que, portanto,
Petróleo Gás Natural Carvão não configuram como "reservas provadas". E, por
Nuclear Hidroeletricidade Renováveis outro lado, os países podem inflar os valores relatados
de reserva para atrair capital de terceiros. Este risco é
atenuado quando tratamos de empresas negociadas
na Bolsa americana, que têm critérios mais exigentes
de transparência. No entanto, este não é o caso para Quanto mais perto de oleodutos e portos, menores
todas as empresas. são os custos com o transporte e maior a renda
diferencial. Outro tipo de renda diferencial que já
GRÁFICO 5 : DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS RESERVAS
mencionamos anteriormente é a de qualidade, que
Fonte: BP Stastical Review of World Energy 2019
contribui para que petróleos mais leves sejam mais
Venezuela 17,5%
SA 17,2% rentáveis. Finalmente, existe a renda tecnológica, visto
Canadá 9.8% que a tecnologia aumenta a eficiência produtiva,
Irã 9.0%
Iraque 8.4% reduzindo os custos. Essas são as rendas possíveis
Rússia 6.2%
Kuwait 5.9%
em um mercado competitivo. Em contrapartida, em um
EAU 5.6% mercado não-competitivo, existem também as rendas
EUA 4.0%
Líbia 2.8% de monopólio.
Nigéria 2.1%
Casaquistão 1.7% CADEIA DE VALOR
China 1.5%
Quatar 1.5% Nesta seção, focaremos na cadeia de petróleo. No
Algéria 0.7%
Brasil 0.7% entanto, é importante saber que a cadeia de valor do
petróleo está interligada com a de gás natural.
Além disso, o petróleo tem diferentes qualidades.
Petróleos mais pesados, como os encontrados no Em um primeiro momento, é realizado um estudo
Canadá e na Venezuela, costumam ter menor geológico aprofundado das jazidas. Quando os
qualidade e são vendidos a preços mais baixos. Já especialistas determinam que existe uma possibilidade
petróleos mais leves são mais caros, visto que são significativa de extrair petróleo de uma forma
mais facilmente refinados. O grau de qualidade é dado economicamente viável de determinada região, a
pela escala API, medida pelo Instituto Americano de perfuração dos poços é iniciada, bem como a extração
Petróleo. Quanto maior o grau, melhor o petróleo. e o armazenamento do petróleo. A exploração pode
ou não resultar em uma descoberta de petróleo
Existem também 2 preços de referência do petróleo no
comercialmente viável. Segundo a Rystad Energy, em
mercado internacional: Brent e WTI. O Brent é
2020, a taxa de sucesso global foi de 17%. Percebe-
adotado no mercado europeu, tendo como base o
se, portanto, que os riscos são muito altos nesta fase,
petróleo extraído do Mar do Norte e do Oriente Médio.
bem como os investimentos. Esta primeira parte do
Já o WTI, sigla para West Texas Intermediate, se
processo, que engloba exploração, desenvolvimento e
refere ao petróleo do Golfo do México e é adotado no
produção, é chamada de upstream.
mercado estadunidense. No geral, os preços de
referência são correlacionados, variando de forma Posteriormente, é feito o transporte até as refinarias,
similar. onde começa o chamado downstream. Nas refinarias,
são retirados diversos combustíveis e matérias-primas
Estabelecidos os preços, os produtores se apropriam
a partir do aquecimento do petróleo bruto, extraído na
de diferentes rendas com base na estrutura de custos
fase de exploração e produção (E&P). Percebe-se,
de cada uma. Os produtores da Arábia Saudita, por
então, que empresas concentradas no refino são
exemplo, se apropriam de rendas significativas.
prejudicadas com o aumento do preço do petróleo,
Existem vários tipos de rendas diferenciais. A renda de seu principal insumo e custo váriavel. Por fim, é feita a
posição refere-se ao grau de dificuldade na extração distribuição e a comercialização dos derivados de
do petróleo. Por exemplo, a extração de petróleo via petróleo.
fraturação hidráulica (“fracking”) é bastante custosa,
Como mencionado anteriormente, a integração vertical
visto que é feita através de uma injeção de água e
inaugurada no setor pela Standard Oil busca conjugar
químicos em rochas com graus de porosidade e de
todas essas etapas dentro da empresa com o objetivo
permeabilidade muito baixos. Para resistir à pressão,
de reduzir custos e aumentar a eficiência.
são necessários equipamentos de ponta, que
encarecem o processo e, portanto, reduzem a renda Percebe-se como a integração pode ser útil quando
diferencial. Processo similar ocorre com a perfuração analisamos uma estratégia de financiamento comum
em águas profundas. A Petrobrás, por exemplo, é do setor. Visto que os maiores riscos do setor
referência nesta modalidade. concentram-se nas fases de exploração e produção:
os bancos, em geral, não estão dispostos a financiar Demanda dos países importadores e relações
essa atividade. Desta forma, as empresas integradas comerciais. As relações comerciais com os
financiam o upstream através das atividades de países importadores de petróleo também são
downstream, em especial, o refino. importantes, bem como sua demanda energética.
As sanções impostas pelos Estados Unidos à
IMAGEM 6: CADEIA DE VALOR
Fonte: Elaboração Própria Venezuela reduziram a produção e exportação do
país. Já a importância da demanda dos
UPSTREAM importadores pode ser exemplificada através do
caso chinês. Em maio e junho de 2020, por
Exploração Descoberta Petróleo exemplo, o país importou um grande volume de
petróleo por questões estratégicas e comerciais e
para usufruir dos preços baixos decorrentes do
lockdown e da guerra de preços entre Rússia e
Produção Desenvolvimento Arábia Saudita. Formaram-se, assim, filas nos
portos chineses para desembarcar todo petróleo
importado. Em setembro, a expansão e construção
Transporte de novas refinarias no país, bem como os feriados
nacionais sustentaram a demanda.

Diesel, GLP, Nafta, GRÁFICO 7: SHARE DOS PAÍSES IMPORTADORES 2019

Refino
Querosene etc. Fonte: World's Top Exports

23%
Veículos, indústria, etc. 33%
DOWNSTREAM

12%
DRIVERS IMPORTANTES
Nível de atividade da economia. A demanda por 4%
petróleo tem alta correlação com o emprego dos
fatores de produção na economia. É intuitivo que 4% 10%
uma indústria mais aquecida e viagens de avião 7% 7%
mais frequentes, por exemplo, contribuam para o Outros China Estados Unidos
aumento demanda por petróleo e derivados. Em Índia Japão Coreia do Sul
contrapartida, em 2020, houve uma forte retração
Países Baixos Alemanha
da demanda por petróleo global frente à crise
associada ao coronavírus. Câmbio. O petróleo é transacionado no mercado
internacional com base no dólar. Assim, a
GRÁFICO 6 : REGRESSÃO LINEAR 1971 - 2019 valorização do dólar frente às demais moedas
Fonte: U.S. DOE, U.S. BEA, elaboração própria torna mais lucrativa a exportação para as
economias não-dolarizadas e mais custosa a
importação por estas.
Consumo Petróleo (mil bpd)

20000 Desastres naturais, guerras e greves. Todos

estes fatores forçam a interrupção da produção,
contribuindo para a elevação dos preços do
y = 0.2127x + 16290 petróleo. A região do Golfo do México tem alta
R² = 0.6071 instabilidade meteorológica, sofrendo
15000
frequentemente com furacões, tempestades
5.000 10.000 15.000 20.000 tropicais, etc. O Oriente Médio também concentra
PIB Nominal Estados Unidos (bilhões USD) conflitos armados. Ademais, em outubro de 2020,
uma greve que se estendeu por 10 dias entre os
trabalhadores noruegueses ameaçava cortar 25% da um cenário incerto. No gráfico abaixo, percebe-se
produção do país. Antes disso, o governo conseguiu como XLE, uma ETF que reúne as maiores empresas
firmar um acordo conciliatório. Mesmo assim, todos abertas de petróleo dos Estados Unidos, tende a
esses fatores podem ter efeito nos preços do petróleo variar mais do que as empresas do índice do S&P
e derivados, bem como nas ações das empresas no 500.
curto prazo.
GRÁFICO 9 : PERFORMANCE XLE VS SPY
GRÁFICO 8 : PREÇOS WTI E FURACÃO KATRINA Fonte: Yahoo Finance
Fonte: U.S. EIA, Econintersect 15%
Agosto de 2005, Furacão Katrina. 95% 10%
5%
da produção de petróleo interrompida.
0%
-5%
-10%
-15%
-20%
-25%
XLE SPY
Relações entre produtores. Notícias
relacionadas a acordos de corte de produção entre ANÁLISE COMPETITIVA
os membros da OPEP afetam o preço da Principais players
commodity no curto prazo. Há também o efeito das
guerras de preços e disputa por share. O setor de petróleo tem certa diversidade entre os
players: grandes empresas integradas e exportadoras,
Inovações tecnológicas e descobertas de empresas com importância local, empresas estatais,
novas reservas exploráveis comercialmente. privadas, negociadas na Bolsa ou de capital fechado.
Inovações que permitam a redução de custos da Além disso, elas provém de diferentes países,
exploração do petróleo ou a exploração em possuindo, assim, diferentes estruturas de custo,
regiões antes economicamente inviáveis ou não regulação, dotação de petróleo, etc.
descobertas afetam o preço do petróleo, bem
como o desempenho das ações do setor. Isso vale IMAGEM 7: RECEITA 2019 - PLAYERS GLOBAIS
principalmente quando há uma descoberta muito Fonte: Refinitiv, Elaboração Própria
relevante de reservas por parte das empresas. Por Sinopec (China) BP (Reino Unido)
U$399 bilhões US$ 282 bilhões
outro lado, inovações que reduzam os custos de
fontes de energia alternativa, especialmente as
mais limpas, podem afetar negativamente a PetroChina (China) ExxonMobil (EUA)
US$ 341 bilhões U$256 bilhões
perspectiva de longo prazo para o setor.

Taxa de juros. O setor de petróleo é intensivo em Shell (Reino Unido) Total SE (França)
capital, logo as taxas de juros têm impacto direto US$ 345 bilhões U$170 bilhões
sobre as decisões de investimento da empresa e
também sobre as condições de financiamento. Saudi Aramco (SA) Chevron (EUA)
Quando há aumento da taxa de juros, o custo de U$330 bilhões U$140 bilhões
capital também se eleva. Além disso, os
Segundo o GlobalData, o setor faturou cerca de 5.768
investimentos precisarão ter retornos
bilhões em 2019, indicando que a Sinopec teria 7% do
consideravelmente maiores do que a taxa básica
share global e as oito empresas em conjunto
da economia para compensarem os altos riscos
representariam aproximadamente 40% da receita total
envolvidos no setor petrolífero.
em 2019. Discutiremos a seguir duas empresas para
Tolerância à risco do mercado. Como o setor de compreendermos como elas podem se diferenciar.
petróleo é de alto risco e os ativos são
British Petroleum (BP)
relativamente voláteis, os investidores tendem a
evitar ações relacionadas ao petróleo em meio a A BP foi a primeira empresa de grande porte a investir
consideravelmente em projetos com fontes renováveis
de energia, fazendo isso desde a década de 1980.
Esta característica foi reafirmada pela empresa
através de um novo posicionamento de marca em que
BP significaria também Beyond Petroleum.
No entanto, em 2010, a BP foi responsável por um
desastre ambiental, o derrame da plataforma Deep
Water Horizon, no Golfo do México. Até hoje, a BP é
alvo de processos judiciais, já tendo pago mais de
US$ 65 bilhões de multas, indenizações, etc.
IMAGEM 8 : DERRAME DEEP WATER HORIZON
Fonte: Wikipedia
Depois de um tempo, a empresa voltou a fazer
investimentos do gênero. Em 2017, ela adquiriu 43%
da maior empresa de energia solar europeia.
Em 2019, a receita da companhia proveniente de
contratos teve a seguinte composição: 65% derivados
de petróleo; 23% petróleo cru; 7% gás natural e
condensado e GNL; e 5% classificados como "outros".
No downstream, a BP se especializa em combustíveis
(gasolina, diesel, combustível de aviação e oferta
também postos com carregamento para carros
elétricos), lubrificantes para a indústria e
petroquímicos.
IMAGEM 9: PARCERIA BP E EDP - CARRO ELÉTRICOS
Fonte: Motor24.pt
Além das atividades de upstream e downstream do
petróleo e gás, a BP tem um segmento relacionado às
atividades da Rosfnet, a maior empresa russa do
setor. A BP detém 19.75% desta empresa.
Mesmo tendo participação em uma empresa russa e
sendo uma empresa britânica, a maior parte de sua
receita é proveniente dos Estados Unidos (32%). Em
seguida, estão o Reino Unido (23%) e a China (10%).
Assim, a empresa atende os dois maiores
consumidores de petróleo mundiais e o seu mercado
local.
ExxonMobil
A Exxon, por sua vez, tem maior exposição ao
mercado estadunidense (35%) e canadense (7.7%).
Suas operações são bastante diversificadas. No
upstream, a companhia extrai o chamado petróleo
"não convencional" (este engloba o fraturamento
hidráulico explicado anteriormente, mas também a
extração nas "tar sands"), o GNL, petróleo pesado e
leve e explora em águas profundas no Brasil e na
Guiana. Essa diversificação contribui para que a
empresa esteja menos vulnerável às flutuações do
preço do petróleo em relação a outras empresas que
atuam no mercado estadunidense, como a
ConocoPhillips, que está mais presente no upstream e
a Valero, no refino.
No downstream, ela se destaca na produção de
lubrificantes e combustíveis. A Exxon tem também um
segmento petroquímico focado em fertilizantes e na
produção e desenvolvimento de plásticos mais rígidos,
leves e biodegradáveis que entram inclusive na
composição de partes de carros e, portanto, têm maior
valor agregado. Além disso, tem uma capilaridade nos
postos de abastecimento considerável com as
bandeiras Exxon, Mobil e Esso.
Concorrência entre as firmas existentes
As empresas do setor de petróleo têm ganhos de
escala relacionados à necessidade de capital para
investir na instalação de todo o equipamento
necessário para a produção, exploração e
desenvolvimento dos poços, na infraestrutura de
transporte e armazenamento, na construção de
refinarias. A fim de participar dos leilões por campos
petrolíferos, por exemplo, é necessário um aporte de
capital equiparável às outras firmas interessadas.
Além disso, para encontrar o primeiro poço de
petróleo, a empresa pode demorar de 7 a 8 anos.
Empresas maiores têm mais conforto financeiro para
arcar com os riscos e custos do negócio, além de
poder investir em tecnologia e capital humano,
tornando o processo mais eficiente.
No gráfico abaixo, percebe-se que a maior parte da
capacidade instalada das refinarias está localizada na
região Ásia-Pacífico, na América do Norte e na
Europa. Só os Estados Unidos detém 18,7% da
capacidade instalada global, enquanto a China 16%.
Isso está em linha com estes dois países também
serem sede de algumas das maiores empresas do
ramo.
GRÁFICO 10: CAPACIDADE DE REFINO POR REGIÃO
Fonte: BP Statistical Review
Ásia-Pacífico América Centr. e Sul
América do Norte
Europa Oriente Médio
CEI África
Além disso, existem economias de escopo, uma vez
que a manipulação da temperatura molecular no refino
do petróleo pode dar origem a uma diversidade de
produtos com diferentes valores agregados.
Assim, as empresas do setor buscam a melhor gestão
do capital investido a fim de produzir o maior volume
de petróleo, de uma forma flexível (para que a
empresa consiga interromper a produção quando os
preços da commodity não estiverem favoráveis) e ao
menor custo.
O menor custo pode ser repassado via preços caso
haja acirramento da concorrência entre as firmas em
um produto pouco diferenciável, como o petróleo cru.
Neste contexto, surgem guerras de preço como a
observada entre a Rússia e a Arábia Saudita em
março de 2020. A competição pode se dar também na
obtenção de licenças governamentais, campos
petrolíferos, etc.
Ameaça aos novos entrantes
As economias de escala citadas servem como uma
barreira significantiva a novos entrantes, pois as firmas
mais consolidadas em geral já dominam o mercado,
têm custos menores e podem recorrer a práticas
anticompetitivas, como abaixar os preços para
impossibilitar as operações do novo entrante.
Os elevados custos e despesas do setor contribuem
bastante para repelir os novos entrantes. A magnitude
e composição destes custos varia de acordo com os
mercados locais. Mas, de qualquer forma, um
investimento no setor não tem garantia de retorno e o
retorno demora a se concretizar. A volatilidade dos
preços de petróleo também gera incertezas.
GRÁFICO 11: CUSTOS POR PAÍS (DÓLAR POR BARRIL)
Fonte: Rystad - 2016
44
35
29 28 27
23 21 21 19
11 99
9
Arábia Sau.
Reino Unido
Brasil
Nigéria
Venezuela
Canadá
EUA trad.
Noruega
EUA shale
Rússia
Iraque
Irã
Impostos Custos administrativos e de transporte
Custos de produção Desembolso de capital
A possibilidade de participação de grandes players
internacionais, com mais capital e mão de obra
especializada, também influencia no nível de
dificuldade de entrada no mercado. Na Arábia Saudita,
por exemplo, o governo tem o monopólio de
exploração e só permite às empresas estrangeiras
prestar serviços à estatal Saudi Aramco.
A regulação local também tem um papel importante no
nível de concorrência. No Brasil, por exemplo, a Lei do
Petróleo de 1997 estabeleceu regras como o livre
acesso das demais empresas à infraestrutura da
Petrobrás e a disponibilização dos dados geológicos
coletados pela estatal até então para os participantes
dos leilões. Essa flexibilização contribuiu para a
entrada de novos players e mais capital para financiar
pesquisas na área. De acordo com o Banco Mundial,
em 2010, empresas estatais controlavam 75% da
produção global e detinham 90% das reservas
provadas. Estas empresas estatais costumam ter
vantagem em relação às privadas por questões
estratégicas.
Existem outras barreiras de entrada como a
dificuldade de acesso às reservas, por fatores
econômicos, mas também por causa de guerras, etc.
 Ameaça de produtos substitutos
Como mencionado anteriormente, o principal uso do
petróleo globalmente é o transporte rodoviário. Neste
sentido, uma alternativa que ganha notoriedade é o
veículo elétrico. Atualmente, o produto recebe
subsídios em alguns locais a fim de reduzir as
emissões de carbono derivadas da queima de
combustíveis fósseis no motor dos carros e também a
dependência nacional do petróleo, visto que é não-
renovável e as dotações são desiguais
geograficamente. Entretanto, os veículos elétricos
estão sendo desenvolvidos de uma forma que não
precisarão de subsídios no futuro. Os custos das
baterias já foram reduzidos em mais de 85% desde
2010, segundo a IEA (International Energy Agency). O
consumo deste tipo de produto também cresce,
mesmo que direcionado ao público de maior poder
aquisitivo. O marketing dos carros elétricos da Tesla
fez com que as vendas disparassem em 2018 nos
Estados Unidos, indicando a disposição da população
em substituir os derivados de petróleo neste
segmento.
GRÁFICO 12 : ESTOQUE DE CARROS ELÉTRICOS MUNDIAL
Fonte: IEA - Global EV Outlook
4.8
CAGR:
83,8% 3.3
1.9
1.1
0.7
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
reduzir a dependência nacional do petróleo, visto que
é não-renovável e as dotações são desiguais
geograficamente. Entretanto, os veículos elétricos
estão sendo desenvolvidos de uma forma que não
precisarão de subsídios no futuro. Os custos das
baterias já foram reduzidos em mais de 85% desde
2010, segundo a IEA (International Energy Agency). O
consumo deste tipo de produto também cresce,
mesmo que direcionado ao público de maior poder
aquisitivo. O marketing dos carros elétricos da Tesla
fez com que as vendas disparassem em 2018 nos
Estados Unidos, indicando a disposição da população
em substituir os derivados de petróleo neste
segmento.
Além disso, o óleo combustível pode ser substituído
por biocombustíveis provenientes da soja, do açúcar,
entre outros. No entanto, os preços relativos entre
ambos são decisivos para determinar qual será o
combustível predominante em cada mercado. Esses
preços podem ser subsidiados de acordo com
estratégias nacionais. Outro fator importante é a
proporção de veículos "flex" no mercado.
Outras alternativas são a energia nuclear, solar,
eólica, combustão a hidrogênio, etc.
Enfim, a ameaça de produtos substitutos serve como
limitadora dos preços do petróleo, uma vez que o
aumento destes pode ocasionar, no longo prazo, uma
substituição de máquinas, veículos e equipamentos
movidos a petróleo por outros adaptados para fontes
mais baratas de energia.
Poder de barganha dos clientes
É relativamente baixa. No geral, os preços giram em
torno dos preços de referência para o petróleo bruto.
E, no curto prazo, os agentes ficam vulneráveis aos
aumentos dos preços, já que é um bem essencial (por
estar nos plásticos, combustíveis, etc). Além disso, a
quantidade de ofertantes é baixa em relação aos
demandantes. Os consumidores que têm um poder de
barganha maior são os países com maior nível de
importação, como a China, os Estados Unidos, a Índia,
o Japão e a União Europeia.
Poder de barganha dos fornecedores
As empresas integradas são menos vulneráveis ao
poder de barganha dos fornecedores. As empresas
que atuam só no transporte do petróleo, por exemplo,
dependem de possivelmente poucas firmas produtoras
de petróleo para suas operações.
Mesmo assim, as empresas para-petrolíferas
começam a se fundir: de empresas especializadas
para empresas integradas mais diversificadas, a fim
de obter um maior poder de barganha. Existem vários
tipos de serviços prestados às companhias de
petróleo: MMO (manutenção, modificação e
operações), EPC (engenharia, suprimentos e
construção), SURF (umbilicais, risers e linhas de fluxo
submarinos de petróleo e gás), entre outros.
As maiores empresas de serviços petrolíferos são a
Schlumberger, a Baker Hughes e a Halliburton Energy
Services. As duas últimas empresas tentaram uma
fusão, que foi barrada em 2016 por agentes
reguladores. Mas existem vários casos de M&A's bem-
sucedidos, como a fusão entre Technip e FMC em
2017.
No entanto, as próprias empresas de petróleo
integradas estão em um processo similar de fusões e
aquisições, ganhando também poder de barganha.
Neste sentido, o poder de barganha dos fornecedores
ainda não parece ser preocupante para as grandes
empresas integradas do mercado.
GRÁFICO 13 : M&A'S EM 2019 : VALOR E QUANTIDADE
Fonte: Deloitte - 2020 oil and gas M&A outlook
50 208
$114 $156
58
$19
76
$78
Upstream Midstream
Serviços Petro. Downstream
O QUE ESPERAR PARA 2021?
A flexibilização das medidas de isolamento e o início
da vacinação no mundo apontam para a recuperação
da demanda por petróleo em 2021. No entanto, o ritmo
dessa recuperação depende também do ritmo em que
se alcança uma imunização mais ampla. Mesmo
depois disso, a demanda pode demorar para retomar
aos níveis pré-pandemia, já que as economias foram
bastante abaladas com a crise. Mas até lá, existe
também o risco de novos lockdowns, surgimento de
novas variantes do vírus e mais restrições às viagens
de avião (diminuindo, assim, a demanda por
combustível das aeronaves).
Pelo lado da oferta, a OPEP concordou em relaxar os
cortes em apenas 500 milhões de barris por dia em
janeiro deste ano. Desta forma, os preços não terão
essa pressão baixista, sendo positivo para a receita
das empresas. Contudo, a OPEP vai revisar as quotas
de produção mês a mês, o que pode gerar volatilidade
no mercado. Além disso, a eleição de Biden nos
Estados Unidos suscitou preocupações no mercado
acerca dos acordos nucleares com o Irã. Se houver
uma retirada das sanções ao país, pode haver a
retomada de 1,5 a 2 milhões de barris por dia no
mercado, aumentando a oferta.
Já os produtores não-OPEP, no geral, precisam de
preços do petróleo mais altos para compensar os
custos mais elevados de produção. Com os preços e a
incerteza vigentes, dificilmente o setor vai investir na
exploração de novas reservas. Nos Estados Unidos,
por exemplo, o número de plataformas petrolíferas
ativas teve queda de aproximadamente 65% em
relação a março de 2020. Assim, os produtores devem
terminar de explorar os poços que já estavam sendo
perfurados anteriormente, evitando ingressar em
novas operações mais arriscadas.
Outra estratégia das empresas para diminuir os custos
neste período é a digitalização. Como o setor de
petróleo envolve muitas variáveis geológicas e
econômicas, é essencial uma administração
inteligente dos ativos e um monitoramento rigoroso
dos riscos através da digitalização. Além disso, as
empresas buscam flexibilizar suas operações, de
modo que a produção possa responder rapidamente a
mudanças de preços.
Sem essa redução de custos, muitas empresas não
resistem à crise. Em 2020, muitas empresas de
petróleo decretaram falência, especialmente as
empresas de shale dos Estados Unidos (cerca de 43
operadoras do segmento pediram na justiça proteção
contra falência). Houve redução de 50% do crédito
bancário para estas empresas. Ademais, as empresas
de serviços petrolíferos do segmento também estão
saindo deste mercado, aumentando o poder de
barganha dos fornecedores e, assim, aumentando os
custos das operadoras shale. Em 2020, os M&A’s do
segmento também caíram 45% em relação a 2019.
Assim, este mercado tende a se concentrar nas
empresas verticalmente integradas.
Outro segmento que foi afetado intensamente em
2020 foi o das refinarias não-OPEP. Segundo o IHS
Markit, anunciou-se uma redução da capacidade
global de refino em cerca de 1,4 milhões de barris por
dia. Além do impacto da Covid, a construção e
desenvolvimento de refinarias mais eficientes na Ásia
e no Oriente Médio contribuíram para um acirramento
da competição, reduzindo as margens das
companhias não-OPEP. Esta tendência deve se
manter em 2021.
Por fim, houve uma aceleração da transição
energética para fontes mais limpas, mesmo com a
queda do preço do petróleo. Empresas como a Shell e
a BP reforçaram as políticas de carbono zero, tendo
como metas a redução da produção ou investimento
em petróleo em até 40% para a próxima década. Já as
empresas de serviços petrolíferos estão investindo
mais intensamente em bombas elétricas para
abastecimento de veículos e em outros equipamentos
que não emitem tantos poluentes. Regulações gover -
namentais mais rigorosas ambientalmente e políticas
de incentivo à sustentabilidade também parecem uma
tendência para o ano.

BIBLIOGRAFIA
Pinto Jr. e alli, Economia da Energia: fundamentos
econômicos, evolução histórica e organização
industrial, Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2016

Yergin, D., O Petróleo: uma história de ganância,

dinheiro e poder, Editora Srittad, 1990.

CorthouseDirect. Everything you need to know about

the rule of capture. Disponível em: shorturl.at/fzDHR

CSEG Recorder. Ancient chinese drilling. Disponível

em: shorturl.at/qQW18

Wikipedia. Oil well. Disponível em: shorturl.at/oLWX8

Business Insider. An Annotated History Of Oil Prices

Since 1861. Disponível em: shorturl.at/hpCN9

EIA. Petroleum & Other Liquids. Disponível em:

shorturl.at/nIO39

Reuters. Norway oil strike ends after wage agreement.

Disponível em: shorturl.at/wxFOR

The Motley Fool. 880 Million Reasons to Like

ExxonMobil's Business Model. Disponível em:
shorturl.at/ckEKX

SibResearch. DETERMINANTS OF ECONOMIES OF

SCALE AND THEIR INFLUENCE ON THE OIL & GAS
SERVICES: A DISCUSSION. Disponível em:
shorturl.at/isAR9

BBC News. Estatal, privado, misto: os diferentes tipos

de exploração de petróleo, e qual o impacto da opção
brasileira. Disponível em: shorturl.at/qxzU8

IEA. Global EV Outlook 2020. Disponível em:

shorturl.at/opquJ

Reuters. U.S. oil producers on pace for most

bankruptcies since last oil downturn. Disponível em:
shorturl.at/gRU24

Deloitte. 2021 oil and gas industry outlook. Disponível

em: shorturl.at/iwBEM

ING. Commodities Outlook 2021: Let the good times

roll. Disponível em: shorturl.at/kGIPV

BP. Statistical review of world energy. Disponível em:

shorturl.at/cwFT3