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METODOLOGIAS DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO:

POSSIBILIDADES E ADEQUAÇÕES
Nádia França Teixeira1

Resumo: A produção do conhecimento científico ocorre por meio de pesquisas, que percorrem caminhos
diversificados a fim de alcançar seus objetivos. Este artigo retrata um panorama geral de métodos, técnicas
e análises de pesquisa em educação, discutindo as diferentes possibilidades de metodologias utilizadas
nas abordagens qualitativa e quantitativa, pois a escolha do caminho a ser seguido deve ocorrer mediante
respostas que o pesquisador pretende encontrar. As pesquisas educacionais no Brasil tendem à abordagem
qualitativa, mas veremos que elas também podem ser realizadas de forma quantitativa. O estudo foi
realizado mediante pesquisa bibliográfica, objetivando maior compreensão das estratégias que podem ser
utilizadas em pesquisas na área das ciências humanas, sobretudo, na educação.

Palavras-chave: Pesquisa em educação. Abordagens qualitativa e quantitativa. Estudo de caso.


Observação.

METHODOLOGIES FOR THE RESEARCH IN


EDUCATION: POSSIBILITIES AND ADEQUACIES

Abstract: The production of scientific knowledge occurs through research, these traverse diverse ways
in order to reach your goals. This article portrays an overview of methods, techniques and research
analyzes in education, discussing the different possibilities of methodologies used in qualitative and
quantitative approach, because the choice of the way forward must occur by answers that the researcher
wants to find. Educational research in Brazil tend to a qualitative approach, but we will see that it is also
possible quantitatively. The study was conducted through bibliographical research, aiming to improve
understanding of the strategies that can be used in research in the field of human sciences, especially in
education.

Keywords: Educational research. Qualitative and quantitative approach. Case study. Observation.

INTRODUÇÃO

Os estudos em educação vêm aumentando progressivamente. Da mesma forma,


os temas, enfoques e contextos estão se diversificando cada vez mais. Com o objetivo
de entender como são feitas essas pesquisas e os cuidados que devemos tomar nesse
processo de produção de conhecimento, pretende-se analisar os procedimentos
presentes na pesquisa educacional, a fim de explicitar os critérios e escolhas que

1 Graduada em Letras. Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Lavras.

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devemos fazer visando à realização de pesquisa de qualidade. Segundo André (2007),


os trabalhos devem atender a critérios de relevância científica e social, ou seja, devem
estar fundamentados teoricamente e acrescentar novos conhecimentos aos já existentes.
Além disso, o objeto de pesquisa, os objetivos e os procedimentos metodológicos devem
estar bem definidos e justificados.
A abordagem qualitativa, muito utilizada no contexto educacional, será destacada
neste artigo, assim como o estudo de caso e a observação como técnica de coleta
de dados. Vianna (2003, p.  15) defende que “a observação, como técnica científica,
pressupõe a realização de uma pesquisa com objetivos criteriosamente formulados,
planejamento adequado, registro sistemático dos dados, verificação da validade de todo
o desenrolar do seu processo e da confiabilidade dos resultados”.
Acredita-se que é de extrema relevância entender os critérios que devem ser
observados na produção de pesquisa. Dessa forma, o presente artigo pretende oferecer
subsídios para sua compreensão, contribuindo para a produção de trabalhos científicos
com rigor e qualidade. As análises apresentadas foram realizadas mediante pesquisa
bibliográfica.

FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO


O termo pesquisa é muito utilizado atualmente, mas é necessário entender o que
significa, de fato, esse conceito para que se possa realizar estudos de qualidade e que
favoreçam a construção de novos conhecimentos, viabilizando, assim, estudo complexo
que auxilie na compreensão da realidade.
Segundo Preti (2005 apud MARTINS; RAMOS, 2013, p. 6), “pesquisar vem da
palavra latina perquirere, que significa buscar com cuidado, procurar por toda parte,
informar-se”. Para realizar uma pesquisa é necessário um trabalho intenso e profundo,
é necessário haver um confronto entre os dados, as evidências, as informações, coletas
sobre o assunto e o conhecimento teórico sólido adquirido no processo de investigação.
Em geral isso ocorre a partir do estudo de um problema que surgiu da curiosidade e
necessidade do pesquisador em busca de respostas (LUDKE; ANDRÉ, 1986).
Para responder ao problema investigado são produzidos conhecimentos científicos
que surgem mediante o uso de métodos e técnicas adequados. Esse processo vincula-
se a um paradigma, que representa a visão de mundo que orienta o pesquisador. Esse
paradigma, que indica uma espécie de modelo, de maneira de ver as coisas e explicar
o mundo, relaciona-se ao fato de o pesquisador não ser neutro nesse processo de
pesquisa. Contrariando alguns estudos, não há separação entre o sujeito de pesquisa,
o pesquisador e o objeto de estudo, pois é o paradigma que norteará os estudos do
pesquisador, são seus questionamentos baseados em toda a teoria acumulada a respeito
que vai construir seu conhecimento sobre o fato pesquisado. Seu papel é justamente

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o de mediador inteligente e ativo entre esse conhecimento acumulado na área e as


novas descobertas decorrentes da pesquisa (LUDKE; ANDRÉ, 1986; MARTINS;
RAMOS, 2013).
Os paradigmas mais trabalhados nas pesquisas em educação são o positivismo, a
fenomenologia e o materialismo histórico-dialético. Vários autores e estudiosos unem
esses paradigmas em dois grupos de abordagem: quantitativa e qualitativa (MARTINS;
RAMOS, 2013). Essas abordagens são discutidas a seguir.
Muito se debate sobre os propósitos da pesquisa. Gatti (2001 apud ANDRÉ,
2007), relata suas conclusões decorrentes de balanço da pesquisa em educação nos
últimos tempos. Ela argumenta que a pesquisa está tendendo ao pragmatismo
imediatista, tanto ao escolher o problema como ao realizar aplicação direta dos fatos,
podendo encarar a situação de forma muito simples, sem aprofundamento no estudo.
Segundo ela, a pesquisa não pode visar a solucionar pequenos impasses do cotidiano.
Pela sua própria natureza e processo de construção, não é esse seu objetivo, pois ela não
combina com a necessidade de decisões mais rápidas. Para Gatti (2001), o ponto de
origem de uma investigação científica está na questão que não possui resposta evidente.
Colaborando com essa questão, Martins e Ramos (2013) ilustram que, de acordo com
Collon (2004), as ciências e as pesquisas evoluem e se aprimoram a partir de buscas
metódicas e exaustivas, ou seja, um estudo aprofundado e complexo para explicações de
fatos, fenômenos ou compreensão da realidade.
André (2007) relata que houve uma reunião, em 1991, da Academia Nacional
de Educação (NAE) norte-americana, na qual se formou um grupo a fim de verificar
a situação e as principais questões da pesquisa educacional nos Estados Unidos e de
buscar medidas que possam ser tomadas visando ao seu aprimoramento. Depois de
quase dez anos de estudo, o grupo concluiu que para ter uma pesquisa de qualidade
é preciso estabelecer diálogo entre as universidades, escolas, agências de fomento,
revistas e internet, a fim de propiciar condições para que se possa chegar a concepções
consensuais do que seja uma pesquisa boa ou ruim.

DIFERENÇAS ENTRE A ABORDAGEM QUALITATIVA E A


QUANTITATIVA
Propõe-se que analisemos neste artigo as abordagens qualitativa e quantitativa
pensando que uma pode ser complemento da outra, cada qual com suas particularidades.
Para Martins e Ramos (2013, p.  10), “a pesquisa quantitativa atua em níveis de
realidade onde existe a necessidade de extrair e evidenciar indicadores e tendências
a partir de grande quantidade de dados”. Para os autores, essa abordagem trabalha a
partir de dados que são filtrados, organizados e tabulados e que com o uso de técnicas

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específicas são transformados em informações a serem analisadas e discutidas a partir


de um referencial teórico e, também, de outras pesquisas relacionadas ao assunto.
Segundo Gatti (2004), há maneiras diferentes de se obter quantificações,
dependendo da natureza do objeto, dos objetivos do investigador e do instrumento de
coleta. De modo geral, a autora divide os dados em três tipos: categóricos, ordenados e
métricos, cada um com possibilidades de tratamento específicas. Os dados categoriais
são aqueles que colocam em classes e verificam suas frequências, permitindo
agrupamento de acordo com alguma característica que diferencie um agrupamento do
outro. Essas categorizações podem ser cruzadas, possibilitando maior detalhamento
da informação. Já os dados ordenados são aqueles que se encontram em uma posição
relativa segundo alguma característica, mas não há relação a um valor numérico nem
um intervalo regular entre uma posição e outra. O terceiro tipo, o métrico, é aquele em
que as observações relativas possuem características que podem ser medidas e expressas
em escala numérica.
Gatti (2004) cita as colocações de Falcão e Régnier (2000, p. 232) que defendem
que a análise de dados quantitativos constitui-se em um trabalho em que “a informação
que não pode ser diretamente visualizada a partir de uma massa de dados poderá sê-lo
se tais dados sofrerem algum tipo de informação que permita uma observação de um
outro ponto de vista”. Os autores também argumentam que a quantificação engloba um
conjunto de procedimentos, técnicas e algoritmos que auxiliam o pesquisador a retirar
de seus dados informações que o auxiliarão na busca de respostas às perguntas que ele
estabeleceu como objetivo do seu trabalho.
Há necessidade de analisar e refletir a adequação das escolhas dos tipos de análise
empregados nas pesquisas educacionais. Essas, atualmente, no Brasil, tendem a excluir
metodologias quantitativas, evitando análises de dados de avaliações de rendimento
escolar em alguns sistemas educacionais do Brasil. Poucos estudos ocorrem mediante
essa metodologia (GATTI, 2004).
Para Gatti (2004), há problemas educacionais que, para sua contextualização
e compreensão, pedem estudos de dados quantitativos. Ela cita como exemplo uma
pesquisa que busque compreender a questão do analfabetismo no Brasil e debater
políticas em relação a esse problema. Seria difícil chegar a uma conclusão sem ter
dados sobre seu volume e sua distribuição, sem levar em consideração os números. A
autora acrescenta que o fato de os educadores, normalmente, rejeitarem a abordagem
quantitativa se deve principalmente à dificuldade em usar os números e realizar leitura
crítica e consciente dos trabalhos que a utilizam, pois os números em si não dizem
nada, mas sim a interpretação dos resultados, mediada pelo conhecimento teórico, feita
pelo pesquisador.
Segundo Vianna (2003), diversas interações na sala de aula podem gerar
questionamentos que pedem respostas quantificadas, mas mais importante que
determinar uma ou outra abordagem é indagar por que se deseja quantificar ou não,

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estabelecendo o elemento central de sua observação. Ao usar a observação como


metodologia de obtenção de dados não se deve considerar o qualitativo e o quantitativo
de forma isolada, pois ambos os tipos de abordagem têm o mesmo objetivo e constituem
procedimentos de pesquisa que muitas vezes se completam.
Gatti discorre muito bem sobre essa questão do uso das abordagens quantitativas
e qualitativas:

Os métodos de análise de dados que se traduzem por números podem ser


muito úteis na compreensão de diversos problemas educacionais. Mais ainda, a
combinação deste tipo de dados com dados oriundos de metodologias qualitativas,
podem vir a enriquecer a compreensão de evento, fatos, processos. As duas
abordagens demandam, no entanto, o esforço da reflexão do pesquisador para dar
sentido ao material levantado e analisado (GATTI, 2004, p. 13).

Agora será analisada a abordagem qualitativa, que é muito utilizada em pesquisas


educacionais. Bogdan e Biklen (1994) defendem que a investigação qualitativa possui
cinco características básicas, não sendo necessário possuir todas para ser considerada
pesquisa qualitativa. Pode ocorrer de uma pesquisa não ter uma ou mais características,
o que a determina como qualitativa é o seu grau de utilização. As cinco características
apontadas pelos autores são:
• a fonte direta dos dados é o ambiente natural, dessa forma, o investigador é o
instrumento principal. Os pesquisadores gastam grandes quantidades de tempo
em escolas, com famílias, em bairros, entre outros locais, buscando compreender
questões educativas. Os dados são obtidos de diversas maneiras, por meio
de áudio, vídeo ou anotações. Os investigadores têm a consciência de que o
comportamento humano é influenciado pelo contexto. Dessa forma, sempre que
possível, deslocam-se ao local do estudo;
• os dados recolhidos são descritivos. O investigador analisa-os de forma
minuciosa, preocupando-se com os detalhes. As transcrições de entrevistas,
as fotografias, as anotações, os vídeos e os documentos fazem parte dos dados
obtidos. O pesquisador busca analisar esses dados em toda sua complexidade,
respeitando ao máximo a forma como foram registrados ou transcritos;
• o interesse maior na pesquisa está no processo e não no resultado. Importantes
questões são explicitadas no decorrer da investigação, sendo elas fundamentais
para a pesquisa;
• há tendência em analisar os dados de forma indutiva. Os conceitos são
construídos a partir dos dados que são recolhidos e agrupados, de forma que
eles não são obtidos com o objetivo de confirmar ou não hipóteses construídas
previamente;

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• o significado é de suma importância nesse tipo de abordagem. Leva-se


em consideração o ponto de vista do informante, atribui-se importância à
interpretação, à realidade, ao contexto e à visão de mundo dos sujeitos envolvidos
na pesquisa de forma mais fiel possível.
A pesquisa qualitativa, de acordo com Minayo (2010 apud MARTINS; RAMOS,
2013, p. 10), “busca questões muito específicas e pormenorizadas, preocupando se com
um nível da realidade que não pode ser mensurado e quantificado”. Acrescenta também
o autor que ela age com base em significados, razões, desejos, crenças, valores, atitudes
e outras características subjetivas próprias do ser humano que não podem ser limitadas
a variáveis numéricas.
Segundo Bogdan e Biklen (1994), a investigação qualitativa só foi reconhecida
no final dos anos 1960, mas possui longa e rica tradição, pois os investigadores em
antropologia e sociologia já utilizavam essa abordagem há um século. Os autores
acrescentam que a expressão “investigação qualitativa” é um termo genérico usado
para se referir a um conjunto de estratégias de investigação que possuem características
comuns. A pesquisa qualitativa tem suas origens no século XIX, quando, nos Estados
Unidos, eventos relacionados à vida cotidiana estavam na base da investigação social.
Nessa época, os problemas sociais foram levantados e encontravam-se a meio caminho
entre a narrativa e o estudo científico, objetivando ações que promovessem mudanças
sociais.
Nos últimos 20 anos observa-se crescimento considerável das pesquisas em
educação. Da mesma forma, ocorrem muitas mudanças nos temas, nos enfoques, nos
referenciais teóricos, nas abordagens metodológicas e nos contextos de produção dos
trabalhos científicos. “Os estudos que nas décadas de 60-70 se centravam na análise
das variáveis de contexto e no seu impacto sobre o produto, nos anos 80 vão sendo
substituídos pelos que investigam sobretudo o processo” (ANDRÉ, 2007. p. 121).
André e Ludke (1986) apontam que começaram a surgir métodos de investigação
e abordagens diferentes daqueles empregados tradicionalmente devido à necessidade de
obter respostas aos problemas educacionais atuais. Os métodos tradicionais citados eram
aqueles que tendiam a aproximar daqueles utilizados pelas ciências físicas e naturais.
Dessa forma, surgiram novas propostas de abordagem: pesquisa participante, pesquisa-
ação, pesquisa etnográfica, estudo de caso e história de vida. Dentre as abordagens
citadas analisamos em especial o estudo de caso qualitativo.

ESTUDOS DE CASO QUALITATIVOS


É muito importante na produção de uma pesquisa ter em mente que as conclusões
a que ela chegou devem contribuir para a construção de novos conhecimentos e teorias.
Dessa forma, é essencial utilizar abordagens adequadas aos objetivos que se pretende

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alcançar. Para apresentar um trabalho como estudo de caso é fundamental conhecer


suas especificidades a fim de não comprometer sua qualidade.
Alves-Mazzoti (2006) cita os apontamentos de dois estudiosos no que se refere
aos estudos de caso: Stake (2000) e Yin (1984). Para Stake, essa estratégia de pesquisa
se caracteriza pelo interesse em casos individuais, mas alerta que nem todos podem
ser considerados estudo de caso. Trata-se de uma unidade específica que possui um
conjunto de elementos delimitados cujas partes se integram, mesmo considerando
que sofrerá influências de diferentes aspectos que se relacionam a esse conjunto,
apresentando relações complexas, contextualizadas e problemáticas. O autor divide
essa proposta de pesquisa em três tipos, a partir de suas finalidades: o intrínseco, o
instrumental e o coletivo. O primeiro caracteriza-se por buscar melhor compreensão de
um caso que possui todas as suas particularidades, mas representa interesse particular
para o pesquisador. Já no instrumental o interesse se deve ao fato de acreditar que o
assunto pode contribuir para a compreensão de algo mais amplo. No estudo de caso
coletivo o pesquisador investiga um determinado fenômeno a partir do estudo de um
conjunto de casos. Stake defende que essa divisão foi feita com o objetivo de destacar
a variedade de preocupações e orientações metodológicas que norteiam esse estudo,
salientando que normalmente as pesquisas não se encaixam em nenhum desses tipos.
Yin (1984 apud ALVES-MAZZOTTI, 2006), em suas conclusões sobre o
estudo de caso apresenta ideias que convergem e outras que divergem das de Stake
(2000). Para Yin as características principais de um estudo de caso são: o caso deve
ser completo, atribuindo importância na diferença entre o fenômeno pesquisado e o
seu contexto, o estudo é planejado de forma que os dados obtidos produzam fortes
evidências para sustentar as conclusões, além de aceitar perspectivas ou hipóteses que
vão contra às adotadas no estudo; e, por fim, destaca que o relato deve ser atraente e
objetivo, despertando a atenção do leitor.
Sobre a generalização dos resultados obtidos no estudo de caso, Yin e Stake
apresentam propostas que possuem pontos comuns. Para Yin (1984 apud ALVES-
MAZZOTTI, 2006), o resultado de um caso não pode ser usado para fazer
generalizações, mas a partir de um conjunto particular de resultados o autor afirma que
é possível produzir propostas teóricas que sejam aplicáveis a outros contextos, que ele
denomina de “generalização analítica”. Já Stake (2000 apud ALVES-MAZZOTTI,
2006), defende a “generalização naturalística”, conceito introduzido por ele em um
artigo publicado em 1978. Esse conceito consiste em acreditar que um caso singular
possui semelhanças e diferenças com outros casos, mas eles podem ser analisados
pelo leitor a partir daquele caso em particular, fazendo comparações e associações e
relacionando ao seu próprio contexto. Mas, para isso, é essencial que o estudo seja
escrito de forma bem detalhada. Contudo, os dois autores concordam que, com base
nos estudos de caso, não é possível fazer generalizações estatísticas, mas aceitam que
os resultados obtidos em um estudo de caso produzem conhecimentos que podem

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auxiliar na compreensão de outros casos em outros contextos, desde que não fuja das
suas características principais e seja tratado com toda a sua natureza e complexidade.
A fim de explicitar com maior profundidade os fundamentos de um estudo de
caso, destacam-se as concepções de Ludke e André (1986) sobre esse tipo de pesquisa.
Para os autores, trata-se de investigação de um caso bem delimitado que se destaca por
fazer parte de um sistema mais amplo. Ele pode ser parecido com outro, mas ao mesmo
tempo é diferente por possuir um interesse próprio e singular. Os autores apontam
algumas características desse tipo de pesquisa:
• o investigador inicia suas pesquisas a partir de um quadro teórico, mas busca
constantemente novas descobertas, está sempre buscando novas respostas
e indagações. “Essa característica se fundamenta no pressuposto de que
o conhecimento não é algo acabado, mas uma construção que se faz e refaz
constantemente” ( p. 18).
• os estudos de caso atribuem grande ênfase ao contexto em que se insere o objeto
de estudo, buscando tratar a realidade de forma completa e profunda utilizando
técnicas variadas de coleta de dados. Além disso, esses estudos consideram os
diferentes pontos de vista dos sujeitos envolvidos na pesquisa e procuram em
seus relatórios utilizar linguagem acessível e objetiva.
Analisando os variados posicionamentos acerca do estudo de caso é importante
refletir que se trata de um tipo de pesquisa complexa, que consiste no estudo
aprofundado de um caso singular que necessita de maior compreensão para que possa
ser discutido pelos pares proporcionando o avanço do conhecimento.

A OBSERVAÇÃO COMO MÉTODO DE COLETA DE DADOS


A observação como método de coleta de dados é uma importante fonte de
informação nas pesquisas em educação. Ela deve ser tratada com muito cuidado, pois
exige técnicas específicas para ter valor científico e ser capaz de alcançar os objetivos
definidos pelo pesquisador.
Vianna (2003) argumenta que a observação casual é muito diferente da científica,
embora aceite que importantes observações casuais podem surgir em um processo
de pesquisa. Segundo o autor, a observação científica busca coletar dados válidos
e confiáveis, requer permanência prolongada nos locais em que ocorre o trabalho
de campo. O estudo exige planejamento e apoio em fundamentos teóricos para ter
significado científico, possibilitando a não identificação de elementos desnecessários
para o estudo definido e minimizando a influência do observador durante as análises,
pois não é possível eliminá-la por completo pelo fato de existir uma presença naquele
espaço.

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Para Vianna (2003), a reatividade, ou seja, os sujeitos modificarem seus


comportamentos devido ao fato de saber que estão sendo observados, pode ser atenuada
de diversas maneiras, como, por exemplo, ocultar o instrumento utilizado na observação
ou até mesmo o observador procurar despertar o mínimo de atração dos observados e,
também, ficar tempo considerável no ambiente, pois, assim, no desenrolar do processo,
sua presença já passa a ser rotina e não provoca tantas modificações. Outra estratégia
que pode ser usada consiste no fato de os sujeitos saberem que estão sendo observados
mas não terem conhecimento do momento em que as observações ocorrem. Essas
estratégias são importantes porque a reatividade pode comprometer as percepções do
observador e influenciar toda a pesquisa, comprometendo sua validade.
De acordo com Patton (1997 apud VIANNA, 2003), o observador vai além
do simples olhar. Ele deve saber ver, identificar e descrever as variadas interações
e os processos humanos. O autor também cita McMillan e Schumacher (2001),
que argumentam que a qualidade dos dados obtidos depende, em grande parte, do
observador, que deve ter capacidade de observar, analisar, além de ser paciente e
sensível para poder realizar descrições detalhadas de acontecimentos, pessoas e objetos
em determinado contexto. Vianna destaca que o pesquisador, para possuir todas essas
características, necessita de treinamento adequado e intenso a fim de produzir resultados
válidos e confiáveis. Além disso, cita Crabtree e Miller (1999), que afirmam que a
observação como técnica científica consiste em um trabalho planejado, com objetivos
muito bem delimitados, registro sistemático dos dados e verificação da validade e
confiabilidade durante todo o processo da pesquisa.
Uma observação pode ser estruturada ou não estruturada. A diferença está que
na primeira há a procura de determinar a frequência com que um comportamento
ocorre ou coisas são ditas e, na segunda, o observador não busca um comportamento
específico, ele apenas observa e registra os diferentes acontecimentos. Qualquer uma
das observações citadas pode ocorrer mediante a observação participante ou não –
participante, no primeiro caso, o observador procura ser membro do grupo, faz parte
da atividade do objeto de pesquisa; já no segundo caso o observador não participa das
atividades dos membros do grupo nem procura fazer parte dessa equipe (VIANNA,
2003).
Selltiz et al. (1967 apud VIANNA, 2003, p. 20), destacam que, independente dos
objetivos e finalidades da observação, há quatro questões importantes que devem ser
consideradas durante todo o processo:

O que deve ser efetivamente observado?


Como proceder para efetuar o registro dessas informações?
Quais os procedimentos a utilizar para garantir a validade das observações?
Que tipo de relação estabelecer entre o observador e o observado, qual a sua
natureza e como implementar essa relação?

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A observação com o objetivo de pesquisa requer organização e orientação. As


observações devem ser concretas e a maneira usada para registrar os dados também deve
estar definida, podendo esse registro ocorrer por meio de narrativas e/ou gravações,
que podem ser de áudio ou vídeo. No caso das narrativas é importante que os relatos
ocorram no momento dos acontecimentos, evitando distorções das interpretações.
Durante esse processo é fundamental que o pesquisador se pergunte se está deixando
de inserir algo importante ou se elementos desnecessários estão sendo destacados, ou
seja, deve-se atentar para não perder o foco e preocupar-se com elementos que possuam
realmente significado para o contexto da observação. Outro ponto importante é que a
análise das informações obtidas por meio da observação deve se estabelecer pela relação
entre teoria e dados coletados, mas sem a intenção de modificar os dados pela teoria,
pois, no contexto de uma pesquisa, a observação visa a gerar novos conhecimentos e
não necessariamente confirmar ou negar teorias (VIANNA, 2003).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas análises apresentadas neste artigo, pode-se salientar que pesquisa
envolve produção de conhecimento e deve ser tratada com toda sua complexidade e
potencialidade. Trata-se de um trabalho que requer muito estudo, planejamento e
organização. A incerteza e a inquietação do pesquisador geram questionamento sem
resposta evidente. Esse é o ponto que origina uma investigação científica. O caminho
escolhido pelo pesquisador para obter respostas ao seu questionamento consiste na
metodologia de pesquisa utilizada, que inclui métodos, técnicas e toda a atuação do
pesquisador.
A produção de uma pesquisa visa a contribuir para o avanço do conhecimento.
Dessa forma, é essencial que seja realizada de forma consciente e responsável, para que,
de fato, concretize sua relevância científica e social, que é o seu verdadeiro papel. Para
alcançar esse objetivo, o pesquisador deve ter bem delimitados qual o seu problema
de pesquisa e o que pretende alcançar com ela. A partir daí, de acordo com os seus
objetivos é que se analisa qual metodologia é adequada para o trabalho.
Tanto a abordagem qualitativa como a quantitativa exigem do pesquisador
sensibilidade, raciocínio e determinação para poder desenvolver estudo exaustivo e
complexo em busca de um resultado que se apoie em fundamentos teóricos e que traga
evidências concretas que comprovem as conclusões obtidas com a pesquisa.
O presente trabalho apresentou panorama geral das pesquisas em educação,
evidenciando que há diversos caminhos a serem seguidos no processo de investigação,
mas esses requerem estudos aprofundados a fim de que o pesquisador seja capaz de
realizar trabalho adequado à sua pesquisa e, assim, se aproprie das metodologias com
exatidão, aproveitando todas as suas potencialidades. Dessa forma, surgirão trabalhos

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cada vez mais ricos e úteis, capazes de trazer contribuições a questões educacionais da
nossa sociedade.

REFERÊNCIAS
ALVES-MAZZOTI, Alda. Judith. Usos e abusos dos estudos de caso. Cadernos de
Pesquisa. v. 36, n. 129, set./dez. 2006.

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