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INTRODUÇÃO
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O Campus de Serrinha não participou desse processo de elaboração do projeto porque, neste
departamento o curso de Geografia ainda não tinha sido implantado efetivamente no período em que a
reforma foi discutida. Sendo o curso de Geografia de Serrinha o mais recente da UNEB.
2
Segundo o texto-base “Ele é composto por um conjunto de proposições e regulamentações que
redirecionam a formação docente.
denominam como currículo movente capaz de congregar todos os âmbitos do percurso
formativo acadêmico, extinguindo a concepção clássica de pré-requisito disciplinar.
Nesta nova organização, as disciplinas são substituídas pela ideia de componente
curricular, onde o pré-requisito é visto como uma noção equivocada e ultrapassada de
‘grade curricular’. Destacam que a proposta tem a pretensão de ser uma resposta
burocrática-acadêmica e, sobretudo, política, visando atender às demandas e
necessidades de transformação do ensino superior na referida instituição.
Em consonância com as ideias dos idealizadores deste projeto imaginamos que o
currículo há muito tempo deixou de ser apenas um emaranhado de notas, textos
escolhidos ou aglomerados de disciplinas de um programa de formação em qualquer
nível. O seu caráter técnico cedeu lugar para discussões mais aprofundadas de cunho
político, sociológico, cultural e ideológico. Para Moreira (2005), já se pode falar de uma
tradição crítica do currículo guiada por questões sociológicas e epistemológicas. Para
ele, questões do ‘como’ do currículo continuam importantes, com a ressalva de que elas
só adquirem sentido de dentro de um contexto pleo ‘porquê’ das formas de organização
do conhecimento. O currículo é visto, neste sentido, como artefato social e cultural,
colocado em posição de destaque em seu contexto histórico. Ele não é um elemento
inocente ou neutro de uma transmissão desinteressada do conhecimento social.
Como pensar a educação senão um conjunto de formas institucionalizadas de
transmitir cultura. “(...) A elaboração do currículo consiste numa seleção de elementos
da cultura, passíveis (e desejáveis) de serem ensinados/aprendidos na educação escolar”
(SAVIANI, 1998, p. 26). Os processos culturais pelos quais passam a sociedade estão
presentes na educação e no currículo num processo fundamentalmente político, num
movimento, que para a tradição crítica, denomina-se de política cultural, significando
que tanto a produção cultural quanto a sua contestação podem ocorrer simultaneamente.
Não existe uma cultura homogênea, unitária, e unanimemente aceita para ser
transmitida às gerações futuras através do currículo.
Para Pedra (1997), qualquer currículo traz a marca da cultura na qual foi
produzido. Para ele, é importante compreender que no currículo estão contidos muito
mais que os conteúdos que constituem as disciplinas. O currículo também abrange as
concepções de vida social e as relações sociais desta cultura. O campo da cultura e do
currículo se faz através de visões de mundo distintas, contestações, novas concepções
sobre a vida social, luta de classes e conflitos de várias ordens, portanto, não existe uma
separação entre a idéia de cultura e grupos ou classes sociais, pois “o currículo não é o
veículo de algo a ser transmitido e passivamente absorvido, mas o terreno em que
ativamente se criará e produzirá cultura” (MOREIRA, 2005, p.28).
E por último, relacionado às duas outras vertentes, o currículo pode ser
considerado um veículo de transmissão de poder, visto que alguns pensadores da teoria
crítica do currículo destacam como central o seu caráter fundamentalmente político.
Para Moreira (2005), os próprios conflitos gerados no seio da sociedade e nas relações
estabelecidas entre os indivíduos que a compõem, isto é, na forma como determinados
grupos são submetidos a regras, instituições, muitas vezes inerentes à vontade e ao livre
arbítrio em favor ou benefício de um outro grupo dominante, são manifestações claras
de poder. Apresenta-se através de linhas divisórias que separam os grupos sociais a
partir de delimitações, às vezes não tão claras, de classe, etnia, gênero, religião, etc.,
constituindo assim, tanto a origem quanto o produto das relações de poder,
caracterizando-se como a expressão dessas relações sociais. Apple (2005) concorda com
esse posicionamento quando afirma que:
O Currículo nunca é apenas um conjunto neutro de conhecimentos,
que de algum modo aparece nos textos e nas salas de aula de uma
nação. Ele é sempre parte de uma tradição seletiva, resultado da
seleção de alguém, da visão de algum grupo acerca do que seja
conhecimento legítimo. É produto das tensões, conflitos e concessões
culturais, políticas e econômicas que organizam e desorganizam um
povo (APPLE, 2005, p. 59).
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Ministério da Educação. Conselho Nacional da Educação, 2004. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/res012004.pdf. Acesso em: 15/03/2013 às 10h51.
Gallo (2003) chama a atenção para a excessiva compartimentalização do
conhecimento no ensino na atualidade. Para ele, a organização curricular atual tem
proporcionado uma visão da realidade estanque, sem interconexão, isto tem dificultado
a compreensão do conhecimento com um todo integrado, como parte de um conjunto de
saberes produzidos pela humanidade. Propõe se pensar a educação pautada e organizada
em disciplinas de modo que o currículo permita a integração entre elas, a fim de
favorecer a compreensão da totalidade dos saberes produzidos pela humanidade
historicamente. Não crê que o prolema da discplinarização seja algo estritamente
pedagógico, apontando caminhos para uma discussão de uma epistemologia do
currículo para compreendermos tal complexidade.
Este teórico se vale discussões de Deleuze & Guattari (1995), utilizando a
metáfora da ‘árvore do saber’ para explicar como a ciência se estrutura e como o
conhecimento, tal qual o conhecemos está organizado a partir dessa concepção, onde o
tronco seria a prórpia filosofia e as outras ciências seriam as ramificações. Mas para ele,
não há, neste caso, o processo de integração dos saberes e do conhecimento, uma vez
que as ciências, apesar de se relacionarem-se todas com seu ‘tronco comum’, não
consigam se relacionar umas com as outras no contexto do paradigma em questão.
Trata-se do paradigma arborescente que implica na hierarquização do saber.
Deleuze & Guattari (1995), acreditavam que o conhecimento não pode ser estruturado,
entendido e organizado como uma árvore nos moldes da ciência moderna.
Apresentaram a ideia de rizoma para combater a compartimentalização do
conhecimento, acreditando que os saberes são adquiridos de maneira mais complexas e
menos hierarquizadas como se pensava até então. O rizoma como um emaranhado de
coisas, de possiblidades, de caminhos e de interconexões seria o oposto às formas
tradicionais de construção do conhecimento. Para eles:
O rizoma nele mesmo, tem forma muito diversas, desde sua extensão
superficial ramificada em todos os sentidos até suas concreções em
bulbos e tubérculos. Há rizoma quando os ratos deslizam uns sobre os
outros. (...) Um rizoma não cessaria de concectar cadeias semióticas,
organizações de poder, ocorrências que remetem às artes, às ciências,
às lutas sociais (DELEUZE & GUATTARI, 1995, p. 22-23).
Gallo ajuda-nos a compreender melhor a questão, afirmando que a imagem do
rizoma se difere da árvore pois não se presta nema a uma hierarquização nem a ser
tomada como um paradigma, porque não existe um rizoma, mas rizomas. Contrapõe o
paradigma, que é fechado, que paralisa o pensamento, o rizoma que está sempre aberto,
fazendo proliferar o pensamento. Deleuze & Guattari adotam seis princípios básicos que
regem o rizoma, dentre eles, destaca-se o princípio da multiplicidade. Segundo os
autores, as multiplicidades são rizomáticas, o que inevitavelmente acaba por evidenciar
uma pseudo-multiplicidade do paradigma arborescente (1995, p.23). “No rizoma são
mútliplas as linhas de fuga e portanto múltiplas as possibilidades de conexões,
aproximações, cortes, percepções etc.” (GALLO, 2003, p.95). É nesta busca e nestas
conexões, nestas formas de trânsito que podemos falar em transdisciplinaridade.
Diante das discussões aqui expostas é possível relacionar ou mesmo afirmar que
o currículo de Geografia da UNEB é rizomático ou apenas apresenta pressupostos e
açgumas características desta concepção, estando pautado muito mais nos moldes do
paradigma arborescente da ciência tradicional? Ainda é cedo para encontrar respostas
para todas estas indagações, mas uma coisa é clara e evidente até aqui: este currículo se
difere dos currículos anteriores, tanto no que diz respeito ao seu constructo teórico-
epistemológico quanto nas suas características estruturais. Se ele pode ser considerado
um currículo rizomática, ainda não podemos afirmar com toda veemência pelo pouco
tempo de aprofundamento da pesquisa. O importante é pensar como esta proposta de
reforma tem contribuído para a formação docente, para atender às demandas da própria
universidade, evidenciando os conflitos, os dabates, a retórica acerca de um projeto que
consiga dar conta dos anseios da comunidade acadêmica.
3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
4. BIBLIOGRAFIA