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COLONIALIDADE DO SER E SUSTENTAÇÃO DO RACISMO: ENTENDIMENTO

À LUZ DE NÉLSON MALDONADO-TORRES

Cristina Borges
Universidade Estadual de Montes Claros;cristinaborgesgirasol@gmail.com

RESUMO

O conceito de colonialidade do sociólogo Anibal Quijano ganhou amplitude no pensamento


de Walter Mignolo. Colonialidade do Poder e Colonialidade Epistémica fornecem às refle-
xões de intelectuais subalternos como Quijano, Mignolo e Nelson Maldonado-Torres chaves
para entendimento sobre a manutenção de relações coloniais na pós-modernidade . Nélson
Maldonado-Torres desenvolveu o conceito de Colonialidade do Ser para abordar os efeitos da
colonialidade na experiência vivida dos sujeitos subalternos. Um desses efeitos é o racismo.
A presente comunicação objetiva, à luz desse filósofo, refletir sobre a colonialidade do ser en-
quanto sustentadora do racismo religioso na pós-modernidade. Racismo que tem como vítimas
as religiões marginais. Toma como base teórica Frantz Fanon e Nélson Maldonado-Torres,
ativistas da descolonização. O último, intelectual do colectivo Modernidad/Colonialidad. En-
quanto expressão da colonialidade do ser o racismo, bem como a racialização da fé ,é colocado
além da cultura e visto como parte constitutiva do homem pós-moderno.
Palavras-Chave: Racismo, Colonialidade do Ser, religião.

A presente comunicação, trata da articulação entre racismo e colonialidade empreendi-


da pelo filósofo porto-riquenho Nelson Maldonado-Torres1(2007) em seu ensaio: “Sobre la
colonialidad del ser: contribuiciones al desarrollo de un concepto”. Resultante de conferência
proferida em 2004 sobre “Teoria crítica y descolonización” em várias universidades nos EUA2.
Enquanto uma pretensão de conhecer o pensamento desse filósofo sobre os fundamentos da co-
lonialidade do ser - pensamento que o mesmo desenvolve a partir do aprofundamento à crítica
Lévinasiana à ontologia do filósofo Martin Heidegger –, nossa reflexão se restringe à introdu-
ção e primeira parte da referida conferência, quando Maldonado-Torres relaciona sua trajetória
enquanto pensador da descolonialidade e apresenta seu conceito de colonialidade. Isso, para
preparação e entendimento da permanência do racismo na sociedade atual.
Nelson Maldonado-Torres é bacharel em filosofia pela Universidad del Puerto Rico,
doutorou-se em Estudos da Religião da Universidade de Brown em Rhode Island, Estados
Unidos. Foi introduzido no pensamento de Martim Heidegger pelas mãos de uma de suas tra-
dutoras, a professora Joan Stambaugh, que durante anos havia trabalhado com esse filósofo.
Após, se interessou pela tradição fenomenológica particularmente Sartre, Husserl e Derrida.
1 Integrante do Grupo Modernidade/Colonialidade
2 Entre as universidades que receberam las charlas desse pensador destacamos a Universidade de Duke
onde atua o pensador Walter Mignolo e a Universidade de Chapeel Hill onde atua o antropólogo Arturo Escobar,
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outros dois integrantes do Grupo Modernidade/Colonialidade.
Maldonado-Torres acredita que o que lhe despertou do sono ontológico3 foi o trabalho do filó-
sofo Emanuel Lévinas onde encontrou o que ele denomina de “subversión radical de la filosofia
occidental”, uma vez que Lévinas empreende suas reflexões a partir de fontes judias e não
somente gregas.
Essa subversão permitiu a Lévinas apresentar uma ideia de filosofia singular: a ideia do
começo do filosofar encontrar-se na relação Eu-Outro e não no encontro S-O. A relação Eu-
Outro, uma elação ética, é vocação do ser humano. Esse entendimento de Lévinas permitiu a
Maldonado-Torres perceber que questões como trabalho, ambição pelo poder ou o inconsciente
não poderiam ser tratadas na filosofia apenas como variações ou inovações, mas precisariam ser
tratadas como questões fundamentais. O filósofo pretendia compreender como Lévinas havia
chegado à conclusão de que a relação S-O estava além de ser cognitiva porquanto seria uma
relação ética. Outro aspecto em Lévinas que chama a atenção de Maldonado-Torres era o fato
de ser um sobrevivente do holocausto judeu, vivência que marcou a sua reflexão filosófica. Um
giro então ocorre no interesse e estudos do pensador porto-riquenho: de Heidegger, apoiador
do regime nazista a Lévinas vítima do regime nazista. Tal giro tem concedido a Nelson Mal-
donado-Torres (2007) legitimidade enquanto filósofo e pensador reconhecido nas academias
estadunidenses e europeias.

COLONIALIDADE DO SER E RACISMO EM NÉLSON MALDONADO-TORRES:


CONSIDERAÇÕES SOBRE RELIGIÕES MARGINAIS NO BRASIL

O termo colonialidade do ser foi usado inicialmente por Walter Mignolo (2003, 2014,)
mas, é Maldonado-Torres quem busca fundamentá-lo colocando inicialmente a seguinte per-
gunta: ¿qué es la colonialidad? Sua resposta parte da distinção entre colonialismo e coloniali-
dade. O primeiro, enquanto uma relação política e econômica na qual a soberania de um povo
está em poder de outro povo, relação que pode transformar o último em um império ou não. Já
a colonialidade se refere a um padrão de poder mundial resultante do colonialismo e que não se
restringe a uma relação formal ou institucional de poder, pois se refere à forma como trabalho,
conhecimento, autoridade e intersubjetividade articulam-se através do mercado, do capital e da
ideia de raça. Padrão de poder que está presente em livros didáticos, nos critérios dos trabalhos
acadêmicos, na cultura, na autoimagem dos povos, nas aspirações humanas, nas relações entre
homens e mulheres, entre mulheres brancas e mulheres negras e em tantas outras hierarquias
da vida moderna.
Não se pode vislumbrar a colonialidade como um resíduo cultural desconsiderando o
contexto social e histórico em que foi gestada: a conquista e invenção da América. Nesse perí-
odo histórico, o capitalismo inicial conjugou-se com as formas de dominação e subalternização
usadas pelos europeus para manter sujeitos dominados , bem como para justificar tal domina-
ção.
Considerando o século XVI colonialidade se refere aos dois principais eixos do poder 2262
3 Ele se refere ao longo tempo que se dedica a estuda profundamente o pensamento de Martin Heidegger.
que se operou no inicio da construção da América e inauguração da modernidade europeia: a
codificação das diferenças entre conquistadores e conquistados na ideia de raça e a nova es-
trutura de controle do trabalho e seus recursos. Estrutura que associou a raça ao trabalho e aos
papeis sociais. Segundo Maldonado-Torres (2007, p.131),

El proyecto de coloniar a América no tenía solamente significado local.


Muy al contario, este proveyó el modelo de poder, o la base misma
sobre la cual se iba a montar la identidade moderna, la que quedaría,
entonces, ineludiblemente ligada al capitalismo mundial y a un sistema
de dominación, estructurado alredor de la idea de raza. El modelo de
poder está n corazon mismo de la experiência moderna. La modernida-
de, usualmente considerada como el produto, ya sea del Renascimiento
europeo o de la Ilustración, tiene un lado oscuro que le es constitutivo.
La modernidade como discurso y práctica no seria posible sin la co-
lonialidad, y la colonialidad constituye una dimensión inescapable de
discursos modernos.

Mas, como surgiu a colonialidade do poder? Nelson Maldonado-Torres recorre a Aníbal


Quijano que identifica a origem da colonialidade do poder nas discussões sobre se os índios
teriam alma ou não. Discussão que estabelece uma relação vertical – nos diz o filósofo - entre
dominadores e dominados, verticalidade impregnada da suspeita dos últimos não possuírem
totalmente humanidade. A superioridade então passa a ser justificada em relação aos graus de
humanidade atribuídos às identidades raciais. Quanto mais clara a cor da pele mais humano se
é.
Em 1537, o Papa Paulo III declarou que os ameríndios eram humanos. Tal declaração,
longe de ser um avanço para relações éticas entre os povos, deixou a suspeita de que nem todos
os homens possuíam humanidade. Quijano (1992, p.437) nos diz:

Desde entonces, en la relaciones intersubjetivas y en las prácticas so-


cialies del poder, quedó formada, de una parte la idea de que los no-
europeus tienen una estrutura biológica, no solamente diferente de la
de los europeus, sino, sobre todo, perteneciente a un tipo o a un nivel
“inferior”.

Modernidade, portanto, torna-se uma autonarrativa europeia que exalta a cultura branca
afirmada, durante todo o colonialismo, como superior às demais culturas do planeta. A narrativa
ganha amplitude com a supremacia técnica dos europeus e desenvolvimento de processos de se-
dução das outras culturas. Mesmo diante de culturas com técnicas equiparadas às suas, a cultura
europeia ganha notoriedade enquanto cultura ideal na medida em que os europeus se tornam
os gestores do capital mundial. Esse fruto da exploração da América e África: exploração de
recursos naturais, da força de trabalho humana, da subalternização e opressão de seus saberes e 2263
conhecimentos, bem como inibição de seus padrões de expressão. Isso mediante violência físi-
ca e simbólica, aspectos que somados à exploração constituem a colonialidade, a face antiética
da Modernidade.
Entre Modernidade e colonialidade estabelece-se a diferença colonial, ou seja, a di-
ferença racial - com seus desdobramentos - entre colonizadores e colonizados, diferença que
também, segundo Mignolo (2003) é imperial e caracteriza-se pela heterogeneidade colonial:
as múltiplas formas de sub-alterización articuladas e que tem como base a ideia de raça. Isso
significa que se desenvolveram formas de desumanização baseada na ideia raça.
Nelson Maldonado-Torres alerta para as mudanças nas maneiras de desumanizar o ou-
tro segundo o tempo e o lugar. Entretanto, uma característica permanece: o negro e o índio são
categorias preferenciais de desumanização, mais uma sugestão da permanência da concepção
de graus de humanidade.
Idealizar graus de humanidade segundo a raça concede à colonialidade do poder uma
dimensão ontológica: a colonialidade do ser que se refere, segundo Maldonado-Torres (2007),
à experiência vivida de ser tomado como inferior. Para aclarar sobre isso o filósofo lança mão
do texto de Frantz Fanon Pele Negra, Máscaras Brancas (2008). Obra que chama a atenção
para o impacto do racismo na psique dos negros. O racismo, para Fanon, despersonaliza o negro
que persegue o embranquecimento estético e cultural. A busca pela pele branca é resultante da
alienação gerada pelo colonialismo e seu modus operandi, que rebaixava o negro em sua subje-
tividade tornando-o sub-humano, convencendo-o de que seus saberes e costumes são inferiores
e, demonstrando que os valores brancos/europeus devem ser o seu ideal. Afirma Fanon (2008,
p.132):

Subjetivamente, intelectualmente, o antilhano se comporta


como um branco. Ora, ele é um preto. E só o perceberá quando estiver
na Europa; e quando por lá alguém falar de preto, ele saberá que está se
referindo tanto a ele quanto ao senegalês.

Enquanto ideologia transmitida em livros, manuais didáticos e através das mais variadas ex-
pressões artísticas o racismo atinge o próprio negro que acolhe os valores brancos. Esses lhe
parecem evoluídos com a promessa de ascensão a um grau mais alto de humanidade.
Inconformado com a máscara branca assumida pelo negro, enquanto negação da sua
cor de pele, Fanon alerta para as ideologias que ignoram a cor. Essas reforçam o racismo e
“embranquecem” o negro. O embranquecimento é desvio existencial que promove no negro
um deslocamento racial, pois busca aniquilar sua presença negra assumindo comportamentos
e costumes brancos. O auto racismo, estimulado pelos padrões de expressão europeus, reduz
em nível e grau a humanidade negra, principalmente quando comparada ao branco europeu
visto como expressão do ser humano universal. Como nos afiança Fanon (2008, p.28): [...] eu
começo a sofrer por não ser branco no mesmo grau que o homem branco impõe a discriminação
em mim, faz de mim um nativo colonizado, rouba-me todo valor, toda individualidade, diz-me
que sou um parasita no mundo[...]”. As diversas situações de auto racismo trazidas por Frantz
Fanon4 demonstram a violência simbólica da modernidade europeia que promove nos povos 2264
4 Vide seu livro “Pele Negra. Máscaras Brancas”.
negros inferiorizados a não aceitação da cor de sua pele. A não aceitação de si mesmo, a insa-
tisfação de ser negro.
Recorrer à Fanon (2008) foi um recurso de Maldonado-Torres para contextualizar uma
das formas de expressões da colonialidade do ser: a experiência vivida de ser negro e condena-
do à inferioridade pela modernidade. A perseguição ao embranquecimento expressa a dimensão
ontológica da colonialidade.
Mira ,un negro! (Fanon, 2008,) a frase marca o encontro entre sujeito imperial e sujeito
racializado e, a condição social e existencial do sujeito produzido pela colonialidade do ser.
Nesse encontro, não existe a frase: mira, un hombre! Ou mira, una mujer! Acrescenta Fanon
(2008, p.26):

Que quer o homem? Que quer o negro? Mesmo expondo-me ao ressen-


timento de meus irmãos de cor, direi eu o negro não é um homem. Há
uma zona de não-ser, uma região extraordinariamente estéril e árida,
uma rampa essencialmente despojada, onde um autêntico ressurgimen-
to pode acontecer. A maioria dos negros não desfruta do benefício de
realizar esta descida aos verdadeiros Infernos.

A colonialidade do ser, portanto, denuncia que relações raciais são relações permeadas
pela ideia de existência de diferentes níveis de humanidade. Muito provavelmente, a certeza de
graus de humanidade explica as mais variadas tentativas históricas de demonstrar sua existência
tanto pela história quanto pela biologia, ou mesmo pela genética.
É verdade, adverte Maldonado–Torres (2007, p.127), que o racismo mudou, mas,

Sin embargo, se puede hablar de una semejanza entre el racismo del


siglo XIX y la actitud de los colonizadores con respecto a la idea de
grados de humanidade. De algún modo, puede decirse que el racismo
científico y la idea misma de raza fueron las expresiones explícitas de
una actitud más general y difundida sobre la humanidade de sujetos co-
lonizados y esclavizados em las Américas y en África, a finales del si-
glo XV y en siglo XVI. Yo sugeriria que lo que nació entonces fue algo
más sutil, pero a la vez más penetrante que lo que transpira a primera
instancia en el concepto de raza: se trata de una actitud caracterizada
por una sospecha permanente.

Direcionando a questão da colonialidade do ser à temática da religião, entendemos a


hierarquia social entre seres religiosos cristãos e seres religiosos não cristãos, em particular,
neste texto, aqueles que cultuam divindades do panteão religioso das raças inferiorizadas pela
modernidade europeia a partir do século XVI.
Como vimos, a colonialidade do poder é fomentada pelo padrão de poder global onde
as relações de dominação, exploração e conflito são geradas em torno da raça, do trabalho, da 2265
subjetividade, da autoridade e também do sexo. Em outras palavras, é a hierarquia entre brancos
e negros, brancos e índios, brancos e outras raças, hierarquia entre os trabalhos desses e hie-
rarquia entre seus sistemas de crenças. As religiões afro-brasileiras, por exemplo, são religiões
periféricas. Alocam-se na periferia das cidades onde encontram maior adesão aos seus rituais.
Apesar da tendência em atrair pessoas da classe média – em geral artistas, poetas, professores
e intelectuais – é hegemônica a quantidade de pessoas de nível sócio-econômico baixo. São
pessoas que sofrem em sua existência a colonialidade do poder.
No que se refere à colonialidade do saber , dimensão epistémica da colonialidade do
poder expressa na hierarquização de conhecimentos e formas de produzi-los, os conhecimentos
que são aplicadas em rituais religiosos indígenas e afro-brasileiros são considerados ilegítimos
porquanto não científicos. A visão de mundo presente nas religiões indígenas e afro-brasileiras,
mesmo quando estudadas, são desconsideradas ou vislumbradas como folclóricas. Seus conhe-
cimentos religiosos são tomados como inferiores frente às teologias cristãs.
No caso das religiões afro-brasileiras, percebe-se o embranquecimento dos conheci-
mentos e, consequentemente, o embranquecimento dos seus sujeitos. Tem crescido, nessas tra-
dições, a adesão pelo não sacrifício de animais em rituais. Cada vez mais surgem umbandistas
e candomblecistas que criticam os terreiros que realizam o sacrifício/sacralização. Reafirmam
a moral judaico-cristã colocando o sacrifício como prática africana primitiva. Estabelece-se,
portanto, no próprio campo religioso uma hierarquia racial e epistémica que denota a colonia-
lidade do saber.
À luz de Nelson Maldonado-Torres (2007), percebemos que a colonialidade do poder
tem sua face mais violenta na colonialidade do ser enquanto suspeita permanente que a so-
ciedade moderna dirige ao negro, ao índio e suas religiosidades. A dimensão ontológica da
colonialidade é a experiência vivida neste sistema de proporções mundiais. É a naturalização
da violência simbólica e física.
Pela intersubjetividade, os saberes afro-brasileiros e indígenas são demonizados. Sabe-
res herdados pela oralidade e adquiridos na lida diária nos terreiros através de ritos, interpreta-
ção de símbolos, tradução da linguagem dos antepassados acabam sendo desqualificados pela
sociedade moderna via escola, mídia, redes sociais, livros didáticos e discursos religiosos. Pela
intersubjetividade a resistência às religiões afro-brasileiras é marcada por uma permanente ati-
tude de suspeita em relação aos especialistas e adeptos dessas religiões.
Suspeita dirigida à sua capacidade intelectual, aos seus valores morais e éticos, etc. Tal
suspeita impede o acesso à uma vasta gama de saberes herdados pelos antepassados e que se
encontram no intelecto, nos gestos, na danças, nas cantigas , na manipulação das ervas, nos mi-
tos e ritos dos sujeitos afro-brasileiros. Seus sacerdotes e sacerdotisas são verdadeiros arquivos,
memória e bibliotecas de conhecimentos milenares.
Finalizamos o presente artigo pontuando que o pensamento de Nelson Maldonado-Tor-
res segue o curso do pensamento descolonial, ao se colocar enquanto critica às epistemologias
ocidentais que omitem a colonialidade. Promove o que de fato os pensadores da critica descolo-
nial afirmam fazer: o giro epistemológico, uma vez que coloca em primeiro plano a experiência
vivida dos silenciados pela colonialidade do poder.
Na diferença imperial, Nelson Maldonado-Torres se inscreve na tradição filosófica não 2266
apenas por discutir autores como Heidegger, Lévinas e Dussel, mas, sobretudo, por empreender
crítica ao racismo do primeiro – acompanhando Lévinas que associa a ontologia heideggeriana
ao poder imperial5 - ; ao segundo pela omissão da colonialidade e, por assumir como o terceiro
a militância que deve caracterizar o intelectual nativo e subalterno.
Mas, ao recorrer ao pensamento do intelectual caribenho Frantz Fanon, Maldonado-
Torres demonstra não se prender apenas às especulações filosóficas. Pragmático, confirma a
colonialidade do ser enquanto experiência vivida do negro que sofre o racismo e por tabela a
colonialidade do ser na experiência vivida daquele que inflige o racismo. Seu pensamento é
desobediência epistémica - como apregoa Walter Mignolo (2010) - frente às epistemologias
ocidentais. Seu pensamento é marginal e como tal integra a epistemologia marginal latino-ame-
ricana, pois comprova a capacidade epistémica do subalterno em enunciar. Capacidade negada
pelas colonialidades do poder, do saber e do ser.

REFERÊNCIAS

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Vozes, 2007.
_________________.Europa, modernidade e eurocentrismo. Disponível em: http://biblio-
teca.clacso.edu.ar/gsdl/collect/clacso/index/assoc/D1200. dir/5_Dussel.pdf > Acesso em: 16
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MIGNOLO, Walter. Histórias locais/projetos globais. Colonialidade, saberes subalternos
e pensamento liminar. Trad. Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2003.
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Carballo con Walter Mignolo. Buenos Aires: Ediciones del Signo: Buenos Aires, Coleçción
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______________. Desobediência epistêmica: Retórica de la modernidad, lógica de la co-
lonialiadad y a gramática de la descolonialidad. Colleccion razón política. Ediciones del
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FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.
MALDONALDO-TORRES, Nelson . Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desar-
rollo de un concepto. In: CASTRO-GÓMES, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón. El giro de-
colonial. Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá.
Siglo del Hombre Editores; Universidad Central; Instituto de Estudios Sociales Contemporá-
neos y Pontificia Universidad Javeriana; Instituto Pensar; 2007.
______________. A topologia do Ser e a geopolítica do conhecimento. Modernidade, império
e colonialidade. Revista Crítica de Ciências Sociais, 80, Março 2008.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidad y modernidade-racionalidad. In: BONÍLIA, Heraclio
(Compilador). Los conquistados. 1492 y la población indígena de las Américas. Bogotá:
Tercer Mundo Editores, 1992.

5 Questão que não abordamos com a profundidade necessária neste texto, uma vez
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que não é sua temática.
_______________. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: A colo-
nialidade do saber, Eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas Latino-americanas.
Buenos Aires: GLACSO, 2005.
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