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A FORMAÇÃO E O ORDENAMENTO TERRITORIAL DO TURISMO NO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO A PARTIR DA DÉCADA DE 1970

Aguinaldo César Fratucci

Grande parte dos estudiosos do turismo concorda com o pressuposto de o


ato de viajar ou de se deslocar pelo território ser característico do homem enquanto ser
racional, consciente de si, dos seus territórios e dos seus limites. Na atualidade, a
necessidade de viajar está intrinsecamente relacionada às condições socioculturais da nossa
sociedade:

as pessoas viajam porque não se sentem mais à vontade onde se encontram,


seja nos locais de trabalho ou seja onde morem. Sentem necessidade urgente
de se desfazer temporariamente do fardo das condições normais de trabalho,
de moradia e de lazer, a fim de estar em condições de retomá-lo quando
regressem (Krippendorf, 1989, p.17).

O fenômeno turístico é visto por muitos como um dos indicadores mais


significativos para o entendimento dos movimentos sociais contemporâneos e do fenômeno
da globalização, pelo qual o planeta passa na atualidade. Para VERA et al, o turismo é
parte importante nos processos de “globalização econômica e de mundialização territorial”
(1997, p.11), devendo ser entendido também como fator responsável pela construção de
novos espaços regionais e locais, gerando impactos nas sociedades e nos territórios do final
do século XX.

Enquanto fenômeno típico da sociedade capitalista e industrial moderna, o


turismo apresenta imbricações espaciais e territoriais diversificadas e passíveis de análises
várias, conforme a escala de observação proposta. Na sua essência, ele produz e consome
espaços. Sendo fruto de atividades e práticas sociais diretamente ligadas ao movimento de
pessoas (Moesch, 1998, p.83) e de informações, produz por conseqüência, territorialidades
e territórios. Essencialmente socioespacial, nasce do movimento de pessoas e dos seus
momentos de parada nos lugares turísticos, produzindo aí um tipo de ordenamento
diferenciado, com uma lógica estruturada a partir de um complexo sistema estrutural que o
compõe (Fratucci, 2000).
2

Dessa maneira, o turismo se concretiza através de diversas formas,


modalidades e escalas dentro de um mesmo território. Está subordinado tanto às ações da
iniciativa privada quanto do Estado e, até mesmo, das pequenas comunidades organizadas;
todo esse movimento ocorrendo de forma sincrônica num mesmo estado, região ou país.
Sua velocidade de reprodução está acima da maioria das atividades humanas, alimentando-
se, quase sem escrúpulos, dos mais variados setores do conhecimento humano,
especialmente daqueles ligados aos avanços tecnológicos e informacionais (ibidem).

Pessoalmente, não vemos a possibilidade de circunscrever os estudos do


fenômeno turístico ao campo de uma disciplina específica, seja ela qual for. Somos
partidários de uma postura transdisciplinar que transponha os limites estabelecidos entre
as disciplinas. Isso nos leva a entender o turismo não apenas pelas suas variáveis
econômicas, como tem sido a predominância nos últimos anos. Ao contrário, propomos
entendê-lo enquanto fenômeno social multifacetado, do qual a dimensão econômica é
apenas uma dessas faces, talvez a mais visível e, por isso, mais fácil de analise. Os
indicadores econômicos do turismo, no nosso entender, servem apenas para demonstrar a
sua vitalidade enquanto acontecimento social típico da era moderna de nossa civilização.
Ou seja, estamos propondo trilhar o caminho do entendimento do turismo enquanto
fenômeno social complexo, que:

tem sua origem na industrialização progressiva, nas aglomerações urbanas e


na psicologia do viver cotidiano [...] o turismo não é uma simples forma de
distração, senão que se converteu em um direito adquirido pela sociedade,
para seu crescimento físico, moral e intelectual (Acerenza, 1991.v.1, p.84).

O Rio de Janeiro sempre foi, e continua sendo, o estado brasileiro onde a


atividade turística apresenta dimensões mais marcantes, tanto para a sua economia, como
para sua estrutura sociocultural. Ancorado em um dos principais portões de entrada de
turistas estrangeiros do país, o estado, em sua quase totalidade territorial, tem no turismo
um dos suportes de desenvolvimento mais importante, apresentando sobreposto ao seu
território uma rede bastante ampla de nós/lugares turísticos, interligadas por uma extensa
malha de rodovias, hidrovias, ligações aéreas (a malha ferroviária existente praticamente
não é utilizada pelo sistema turístico) e de uma complexa rede de comunicações.

Entendemos ser no território que o turismo sempre se manifesta e que sem o


seu ordenamento, é impossível garantir que o crescimento do setor seja fator gerador de
um processo de desenvolvimento socioespacial para as comunidades locais. Esse processo
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de desenvolvimento deve ser sustentável, equilibrado, justo e objetivar mudanças em três


direções: do crescimento econômico, do bem-estar social e do exercício da cidadania,
permitindo que as comunidades tenham autonomia sobre os seus territórios e lugares e,
conseqüentemente sobre suas vidas. Ou seja, deve ser um processo de desenvolvimento
que possibilite às comunidades locais a superação dos seus problemas e o avanço no
sentido de obter melhores condições, que lhes propiciem a obtenção de maior grau de
felicidade individual e coletiva.

O desenvolvimento da atividade turística em território brasileiro teve origem


na cidade do Rio de Janeiro, a partir da transferência para a cidade da Corte Portuguesa, na
segunda metade do século XIX. Tal fato gerou toda uma reestruturação sociocultural e
econômica no país e, de maneira mais decisiva, da capital, que viu sua malha urbana
espontânea ser reordenada por diversas ações de planejamento, todas com intuito de torná-
la mais agradável e mais adequada à nobreza que aí se instalou1.

O processo histórico do país do final do século XIX e início do século XX


inseriu a cidade do Rio de Janeiro num mercado ainda incipiente do turismo mundial, fato
que desencadeou as primeiras chegadas de levas de turistas, as quais propiciaram o início
do processo de estruturação do sistema turístico local (Lage e Milone, 1991; Trigo, 2000).

Com relação ao interior do Estado, correspondente ao território do antigo


estado do Rio de Janeiro, o desenvolvimento turístico é bem mais recente e muito pouco
pesquisado, oferecendo escassas fontes de informações: “afora as citações feitas à
Petrópolis, cidade de veraneio da família imperial e, posteriormente, da sociedade carioca,
apenas são encontradas vagas referências ao Parque Nacional de Itatiaia, a Cabo Frio e
Búzios (depois do advento de Brigitte Bardot) e ao Pico Dedo de Deus em Teresópolis.”
(TurisRio, 1999, p.128). Além disso, a cidade de Niterói, por sua condição de capital do
antigo Estado e pela existência do Hotel-Cassino Icaraí (atual prédio da Reitoria da UFF),
apresentava desde a década de 40, alguma atividade turística incipiente, composta
basicamente de fluxos regionais.

A preocupação com a atividade turística em termos institucionais, surgiu no


ano de 1960 com a criação, pelo governo do antigo estado do Rio de Janeiro, da
Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro – Flumitur (Lei n.º 4.221 de 12 de
abril de 1960), com sede na capital Niterói e, da Riotur S/A, pelo governo do antigo estado
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da Guanabara (abril de 1960). No nível nacional, a Empresa Brasileira de Turismo –


Embratur (atual Instituto Brasileiro de Turismo) foi criada pelo decreto-lei n.º 55 de 18 de
novembro de 1966, com sede na cidade do Rio de Janeiro, apesar de a capital federal,
àquela época, já estar transferida para Brasília.

O processo de interiorização mais sistemático da atividade turística iniciou-


se com a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, no ano de 1974 (Lei
Complementar n.º 20 de 01/07/1974). A Companhia de Turismo do Estado do Rio de
Janeiro – Flumitur2 é transferida de Niterói para o Rio de Janeiro com sede, inicialmente
no bairro da Lapa e, a partir de 1980 na área da Praça XV, passando a desenvolver ações
voltadas, principalmente, para o interior do Estado. Ao longo do tempo, ficou visível que o
seu “território de ação” era composto essencialmente pelos municípios do interior,
enquanto o turismo no município do Rio de Janeiro era deixado a cargo da Riotur, empresa
com maior fôlego financeiro, ligada à estrutura administrativa municipal a partir da fusão.

Essa cisão ajudou a criar um vácuo entre o produto turístico da cidade do


Rio de Janeiro e os produtos turísticos dos demais municípios do Estado, dificultando a
interiorização dos fluxos que já aportavam na capital. Somente após a inauguração da
Rodovia Rio-Santos e da Ponte Rio-Niterói (ambas na primeira metade da década de 70), a
população carioca passou a buscar mais os locais litorâneos das regiões turísticas
atualmente conhecidas como Costa Verde e Costa do Sol, respectivamente.

A partir da década de 80 assiste-se, ainda que de forma tímida, à inserção de


diversos municípios e localidades no cenário turístico do Estado. Na região do litoral sul
(Costa Verde) despontam Itacuruçá, com suas “Ilhas Tropicais” e a Ilha Grande. Na
conhecida região dos Lagos (Costa do Sol) inserem-se Saquarema, Ponta Negra (Maricá) e
Rio das Ostras. Nas regiões serranas o turismo inicia a sua estruturação em Conservatória,
Penedo, Paty do Alferes, Vassouras, Itaipava, Corrêas, Lumiar, dentre outras localidades.

Esse processo quase que espontâneo, acabou sendo apropriado, às vezes de


forma equivocada, pelas ações do poder público estadual, nas suas diversas tentativas de
ordenar o desenvolvimento turístico no território estadual, como veremos a seguir.

1
Conforme texto Machado, Marcello Tomé (????)
2
Em 1988, a marca fantasia Flumitur foi alterada para TurisRio, como parte da estratégia de marketing
proposta pela campanha “Cidades Maravilhosas do Estado do Rio de Janeiro”.
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1 Tentativas de ações de ordenamento territorial do turismo no Estado a partir


de 1970

Historicamente, o processo de planejamento de territórios para uso pela


atividade turística está assinalado pelo desenvolvimento do plano diretor para a região de
Languedoc-Roussillón, localizada no litoral Mediterrâneo do sul da França, no ano de 1961
(Acerenza, 1987). A partir daquela experiência francesa, a prática de elaboração de planos
diretores de turismo espalhou-se pelo mundo e chegou ao Brasil, ainda na década de 1960.

No caso do estado do Rio de Janeiro a prática de ordenamento do território


está marcada por experiências pontuais e assistemáticas, o que dificulta uma análise mais
profunda dos seus resultados, principalmente pela não continuidade nos seus processos de
implantação e pela quase inexistência de dados e documentação escrita3.

Dentro do recorte temporal estabelecido para essa nossa análise,


identificamos diversas dessas tentativas de planejamento do território turístico do Estado, a
maioria delas realizadas sob o comando ou com o apoio da TurisRio, algumas
contemplando todo o território estadual, outras apenas partes dele. Mesmo que algumas
dessas tentativas não tenham sido implantadas ou concluídas, entendemos ser importante a
sua análise, dado que todas, direta ou indiretamente, terminaram por reordenar a atividade
turística, promovendo novos arranjos e (re)estruturando as diversas redes do turismo no
Estado.

Projeto Turis : desenvolvimento turístico do litoral Rio-Santos (1973-1975)

Com a elaboração do projeto de abertura da rodovia BR-101 no trecho entre


as cidades do Rio de Janeiro e Santos (SP), uma parte, até então quase inacessível do litoral
brasileiro foi colocada à mostra, revelando forte potencial para o desenvolvimento
turístico, principalmente pela sua localização entre as duas maiores concentrações urbanas
do país.

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As bibliotecas existentes na TurisRio e na Riotur foram desativadas na década de 90, com seus acervos
sendo dispersados de maneira assistemática. Além disso, o acervo do Centro de Informações Turísticas que a
Embratur mantinha no Rio de Janeiro foi enviado para Brasília, onde ficou esquecido por muitos anos.
Segundo as últimas notícias, aquele acervo finalmente foi doado à Universidade Nacional de Brasília - UNB,
que está realizando um tratamento de recuperação para incorporá-lo à sua biblioteca.
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Preocupado com a preservação desse potencial, o Conselho Nacional de


Turismo - CNTur, com base no decreto n.º 71.791/73, editou a resolução CNTur n.º 413 de
13 de fevereiro de 1973, declarando como Zona Prioritária de Interesse Turístico, “a faixa
litorânea compreendida entre o mar e uma linha imaginária, medida horizontalmente, para
a parte da terra, até 1 (hum) km após o eixo da rodovia BR-101, no trecho situado entre as
localidades de Mangaratiba (RJ) e Bertioga (SP)” (artigo 1º da resolução CNTur 413/73).
Estrategicamente foram excluídos a ilha de Guaíba (RJ), as praias de Itaorna e Jacuacanga
(RJ) e os perímetros urbanos das sedes municipais daquela área. As exclusões das três
primeiras áreas deveu-se ao fato de as mesmas já estarem comprometidas com outros
empreendimentos econômicos estratégicos: terminal portuário de minérios, usina nuclear e
terminal portuário de petróleo, respectivamente.

Podemos afirmar que, naquele momento o Brasil, através da Embratur,


iniciava seu processo de gestão do turismo, tendo sido o Projeto Turis um dos primeiros
projetos de ordenamento territorial desenvolvidos por aquele órgão. Reproduzindo a
tradição da época, foi contratada no exterior a empresa de consultoria italiana SCET –
Internacional, para desenvolver um plano diretor para o litoral Rio-Santos, posteriormente
denominado Projeto Turis. Esse projeto objetivava não só ordenar o território do litoral
Rio-Santos, mas também capacitar os técnicos brasileiros nas metodologias mais modernas
de planejamento turístico. Com ele, “a Embratur logrou nivelar sua tecnologia à dos
centros mais especializados na matéria, ao permitir à sua equipe a adaptação de sistemas à
realidade brasileira, ao capacitá-la à elaboração de futuros planos de aproveitamento
turístico” (Embratur, 1975a, p.2).

Ao definir como base três modelos de desenvolvimento turístico


desenvolvidos na Europa (Côte d’Azur, Languedoc-Roussillón e Côte d’Aquitaine), o
Projeto Turis propôs para a região a adoção do turismo “sol e praia”, tendo como ponto de
referência o estudo da “densificação ocupacional das localidades consideradas de interesse
turístico, sempre dentro dos padrões ditados pela Natureza e pela Realidade Nacional”
(idem, 1975b, p.1), e o “fato de ser a PRAIA o mais importante elemento catalisador das
duas molas mestras: as FÉRIAS e a conseqüente demanda de LAZER” (idem, 1975a, p.1).

É interessante notar que aquele projeto já apresentava, ainda que de maneira


equivocada, certa preocupação com uma questão bem atual, quer seja aquela relacionada à
capacidade de absorção dos locais e áreas turísticas:
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Ocupar adequadamente uma região não significa instalar, em suma, o


contingente, máximo de pessoas que ela comporta. Significa, sim, equilibrar
número de residentes e número de visitantes, de modo que o total dessa
justaposição não venha nunca comprometer em definitivo as condições
naturais e ecológicas da região (idem, 1975b, p.1).

A metodologia proposta via o território apenas como o suporte físico para a


ocupação humana, devendo o mesmo ser “corrigido”, na medida das necessidades básicas
de salubridade e conforto. Essa posição fica clara principalmente nas referências às
planícies litorâneas de manguezais, erroneamente classificadas como pantanais. Essas
áreas, bastante comuns em toda a região, eram vistas como empecilhos à atividade
turística, exigindo por isso “saneamento geral da parte plana e [...] correção dos cursos
fluviais, para contornar os riscos de inundação e de poluição das praias” (ibidem, p.4).

O projeto elencou duzentos e cinqüenta locais no continente e sessenta nas


ilhas maiores, os quais foram minuciosamente estudados e classificados, a partir de suas
capacidades turísticas teóricas e, posteriormente agrupados em vinte e três zonas
homogêneas. O conceito de local adotado era completamente empírico, estando
relacionado a um “conjunto geográfico limitado, formado por uma face marítima e por
uma linha de crista ali inscrita” (ibidem, p.8). Ou seja, a presença de uma praia era a
condição primeira para a definição de um local que, após análise físico-territorial era
classificado nas categorias A (voltada para o turismo de qualidade, com proposta de
ocupação de baixa densidade – 15m²/banhista), B (turismo de tipo médio, densidade de
ocupação ente 6 e 15 m²/banhista) ou C (turismo econômico, densidade de ocupação de
5m²/banhista).

A partir dessa categorização foram estabelecidas as normas para ocupação


do território, muito próximas às legislações de uso do solo, às quais previam a modulação
da “área do terreno, o terreno mínimo, o coeficiente de construção, o coeficiente de
ocupação do solo, a altura dos edifícios, a implantação e o estacionamento para
automóveis” (idem, 1975b, p.2).

Como resultado, o projeto chegou à conclusão de que “as possibilidades


reais, em níveis ótimos, do litoral Rio-Santos, se estabelecem em torno de 775.000 leitos,
dos quais 42% devem corresponder aos lazeres e ao turismo econômico, 42% a um turismo
de tipo médio e, finalmente, 16% a um turismo de qualidade” (idem, 1975a, p.28).
Certamente, esses números nunca se concretizaram, uma vez que as propostas do projeto
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foram logo descartadas e, o desenvolvimento turístico de todo aquele trecho do litoral


brasileiro acabou ocorrendo de forma espontânea. Como resquícios daquelas propostas
podemos verificar a existência na região, de um predomínio de empreendimentos turísticos
de médio e grande porte, voltados para o consumidor de maior poder aquisitivo, todos
dotados de infra-estrutura náutica, condomínios de veraneio e grandes áreas de lazer (ex.:
Club Méd Village Rio das Pedras, Hotel do Frade, Hotel Porto Bello, etc.),
correspondentes ao que o projeto classificava como locais de categoria A, voltados para o
“turismo de qualidade”.

Identificação do espaço turístico estadual (1979-1981)

Ação estabelecida pela EMBRATUR a partir de 1979, com o objetivo de


orientar a programação dos governos federal e estaduais, “visando evitar problemas futuros
gerados pela ocupação desordenada do espaço”, através da seleção de “espaços turísticos
imprescindíveis a uma política de descentralização, estabelecendo-se novos núcleos de
apoio à expansão turística, bem como disciplinar a ocupação territorial visando à
preservação e valorização do Patrimônio Turístico Nacional” (Embratur,1979, p.3).

A metodologia do projeto também se baseava em outras experiências


internacionais, principalmente naquelas desenvolvidas pelo grupo de especialistas em
planejamento turístico, dentre eles o arquiteto Roberto Boullón, reunidos no Centro de
Capacitação Turística – CICATUR4. Em linhas gerais, propunha um zoneamento turístico
do território nacional, estabelecendo zonas, centros e corredores com vocação turística, os
quais, numa segunda etapa, seriam hierarquizados de modo a permitir uma tipologia de
tratamento e a definição do grau de prioridade de cada um. Para o zoneamento turístico
foram estabelecidas as categorias espaciais de zona turística efetiva e potencial, centro
turístico, centro de apoio, área turística, núcleo turístico, portão de entrada e corredor
turístico.

No estado do Rio de Janeiro os trabalhos foram desenvolvidos pelos


técnicos da Flumitur, no segundo semestre de 1980 e primeiro semestre de 1981.
Obedecendo à orientação da Embratur, o espaço turístico estadual incluiu, além dos

4
Centro de excelência para formação de técnicos latino-americanos na área de planejamento turístico,
sediado na cidade do México e mantido pela Organização dos Estado Americanos – OEA, durante o período
de 1974 a 1984.
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municípios turísticos de interesse nacional, “aqueles cujos atrativos motivem


essencialmente fluxos intra-regionais” (ibidem, p.4). A metodologia compunha-se
basicamente de um levantamento sistematizado da oferta turística dos municípios, com
ênfase para os atrativos turísticos e para os meios de hospedagem existentes, além da infra-
estrutura de acesso e urbana. Dentre os diversos itens pontuados, um dos mais importantes
para a inclusão ou não do município no espaço turístico nacional, era a oferta de leitos em
meios de hospedagem; para ser incluído, o município deveria apresentar uma oferta
mínima de 250 leitos em meios de hospedagem.

O espaço turístico estadual definido pelo projeto ficou composto de seis


zonas turísticas efetivas: a) Rio de Janeiro e Niterói; b) Mangaratiba, Parati e Angra dos
Reis; c) Resende (ainda incluindo Itatiaia), Barra Mansa, Valença, Vassouras, Paraíba do
Sul e Miguel Pereira; d) Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo; e) Macaé (incluindo
Quissamã e Carapebus), Casimiro de Abreu (incluindo Rio das Ostras), Campos dos
Goitacazes e Itaperuna; f) Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia (incluindo o distrito
de Iguaba Grande) e Cabo Frio (incluindo Armação dos Búzios e Arraial do Cabo), e três
zonas turísticas potenciais: a) São João da Barra (incluindo São Francisco do Itabapoana);
b) Santa Maria Madalena, São Fidélis, Itaocara e Santo Antônio de Pádua; c) Maricá
(Flumitur, 1980).

Os municípios identificados como centros turísticos nacionais pela


Embratur, no Estado do Rio de Janeiro foram: Rio de Janeiro, Petrópolis, Angra dos Reis e
Cabo Frio. Cabe ressaltar que alguns municípios (Maricá, São João da Barra, Santa Maria
Madalena, São Fidélis, Itaocara e Santo Antônio de Pádua) foram incluídos no zoneamento
do espaço turístico estadual, mesmo não atendendo a todos os requisitos mínimos
estabelecidos na metodologia, principalmente aquele relativo á oferta total de leitos em
meios de hospedagem

Esse zoneamento serviu de base técnica para diversos projetos, mas caiu em
desuso e no esquecimento, em virtude das alterações ocorridas na orientação político-
administrativa, tanto no governo federal como no estadual. Entretanto, podemos afirmar
que por ter sido a primeira tentativa de conhecimento e ordenamento de todo o território
estadual sob a ótica do turismo, tornou-se uma importante referência técnica para
compreensão da evolução da atividade turística no Estado.
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Identificação das áreas especiais de interesse turístico do Estado (1981-1985)

Com base na Lei Federal 6.766/79, que estabelecia que todo o parcelamento
de solo em áreas determinadas como de interesse especial, deveria merecer a anuência
prévia dos governos estaduais, o governo do estado do Rio de Janeiro, determinou que a
Secretaria de Estado de Planejamento - SECPLAN e a Fundação de Desenvolvimento
Metropolitano da Cidade do Rio de Janeiro – FUNDREM (órgão extinto em 1991),
realizassem a definição daquelas áreas no Estado. Para isso, foram formados grupos de
trabalho setoriais, cabendo à Flumitur a definição das áreas especiais de interesse turístico.

Para esse trabalho, estabeleceu-se que seriam consideradas “áreas de


interesse turístico as superfícies territoriais do continente e de todas as ilhas marítimas,
lacustres e fluviais que concentrem recursos turísticos que possam ser explorados
turisticamente e cuja proteção é de fundamental importância para a conservação das suas
qualidades ecológicas como para a perpetuação de atividades de recreação e lazer
decorrentes do turismo” (Flumitur, 1985, s.p.).

Aquelas áreas foram agrupadas nas seguintes categorias espaciais: faixa


litorânea e ilhas marítimas (definida pela continuidade territorial criada pela presença de
praias, costões, dunas, mangues e outros recursos naturais), áreas de montanha e serra
(definidas pela presença de serras, vales, picos, mirantes, combinados com recursos
hidrográficos e de flora), faixas de entorno de lagos, lagoas e ilhas lacustres, estâncias
hidrominerais e/ou terapêuticas (identificadas pela presença de fontes hidrominerais e/ou
micro-climas peculiares) e recursos pontuais (grutas, cavernas, quedas d’água, etc.)
(ibidem).

Gerado a partir da divisão de responsabilidades sobre a gestão do território


estadual entre a SECPLAN e a FUNDREM, os trabalhos foram desenvolvidos de formas
distintas e em ritmos diferentes naqueles dois recortes territoriais. Disso resultou que, o
território sob responsabilidade da SECPLAN teve seus estudos concluídos e devidamente
regulamentados pela lei estadual n.º 1.130/87, enquanto o território da região metropolitana
do Rio de Janeiro viu o seu processo de regulamentação interrompido e não concluído.

Assim como as outras tentativas de ordenamento do território turístico


estadual, esse trabalho também não foi implementado, apesar de a lei 1.130/87 ter sido
regulamentada por decreto e continuar em vigor até os dias de hoje. Assim como o projeto
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de identificação do espaço turístico estadual, esse trabalho serviu de referência para


diversos outros projetos da TurisRio, inclusive para o atual Plano Diretor de Turismo.

Plano indutor de investimentos turísticos na região dos Lagos (1988-1989)

Também denominado Plano Indutor de Desenvolvimento Turístico para a


Região dos Lagos, foi desenvolvido pela Agência de Desenvolvimento Econômico do
Estado do Rio de Janeiro - AD-Rio, com apoio da TurisRio. Em janeiro de 1989 foi
assinado um convênio de cooperação técnica entre os governos do estado do Rio de Janeiro
e da Catalunha – Espanha, “para desenvolvimento de um trabalho conjunto de
planejamento, visando transferir o qualificado know-how turístico adquirido pela
Catalunha para o Rio de Janeiro” (AD-Rio, 1989, p.1).

Por aquele convênio, o Consórcio de Promoção Turística da Catalunha


deveria desenvolver o projeto na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, não só para
estabelecer “indicações preciosas para o investidor privado como também fornecer
diretrizes para a atuação correta das administrações municipais e estaduais na execução de
obras de infra-estrutura e de projetos turísticos para a região” (ibidem, p.1).

A justificativa para a elaboração desse plano estava calcada em um


diagnóstico do turismo brasileiro da época, que apontava para o fato de, apesar da forte
demanda potencial (nacional e internacional) existente, o Rio de Janeiro não oferecer um
produto turístico coerente e compatível com as exigências do mercado. Segundo relatórios
da época, esse desajuste era causado pela ausência de uma política de turismo específica
para um segmento de mercado, o que demonstrava a ausência de um produto turístico
altamente qualificado e competitivo internacionalmente.

A escolha da Região dos Lagos do Rio de Janeiro baseou-se na sua


proximidade com a cidade do Rio de Janeiro e com o Aeroporto Internacional (média de
60km); nas características fisiográficas locais: grande extensão do litoral, clima tropical,
baixo índice pluviométrico e inverno com temperaturas médias em torno de 20º C; na sua
topografia ideal para implantação de campos de golfe e, nas características culturais dos
seus centros urbanos.

O plano pretendia induzir o desenvolvimento da região, tendo o turismo


como atividade econômica central, sempre orientado por ações de reordenamento do uso
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do solo, preservação do meio ambiente, recuperação da paisagem regional e melhoria dos


sistemas de infra-estrutura, premissas básicas para todo o processo. Na realidade,
compunha-se de uma importação do modelo de ordenamento territorial desenvolvido na
região da Catalunha – Espanha.

Este modelo propõe uma oferta turística concentrada em 35 novos centros


turísticos com diferentes capacidades de ocupação em locais cuidadosamente
selecionados e associados aos recursos naturais e aquáticos. Esses centros se
intercomunicarão através de uma rede básica de circulação e de eixos de
lazer planejados, tais como, corredores náuticos, marinas e zonas verdes
equipadas. Todos os centros serão auto-suficientes com infra-estruturas
básicas dentro dos padrões preestabelecidos (AD-Rio, 1989, p.4).

Os 35 centros turísticos propostos eram hierarquizados em seis tipos


distintos: Tipo A: área média de 400ha.; população máxima de 30.000 habitantes;
densidade de 75hab/ha.; Tipo B: área média de 250ha.; população máxima de 20.000
habitantes; densidade de 80hab/ha.; Tipo C: área média de 125ha.; população máxima de
10.000 habitantes; densidade de 80hab/ha.; Tipo D1: área média de 12,5ha.; população
máxima de 1.000 habitantes; densidade de 80hab/ha.; Tipo D2: área média de 25ha.;
população máxima de 2.000 habitantes; densidade de 80hab/ha.; Tipo D3: área média de
40ha.; população máxima de 3.000 habitantes; densidade de 75hab/ha. No total seriam 4
centros turísticos do tipo A, 3 do tipo B, 6 do tipo C, 3 do tipo D1, 7 do tipo D2 e 12 do
tipo D3.

Todos os centros turísticos propostos previam em suas áreas meios de


hospedagem e residências, campos de golfe, marinas, portos desportivos ou ancoradouros,
equipamentos de lazer, comércio, além dos serviços públicos de saúde, educação e cultura.
Se implantados, representariam um acréscimo populacional de quase 300.000 habitantes
para a região. A previsão do plano era de um investimento total de US$ 1,8 bilhões, com a
geração de 8.100 empregos permanentes e 26.000 empregos no período de implantação,
previsto para 20 anos.

O grande elemento motriz daquela proposta era a criação de um novo acesso


rodoviário, moderno e rápido, entre a cidade do Rio de Janeiro e toda a região. Essa auto-
estrada teria seu traçado paralelo ao litoral, o mais interior possível, visando aumentar a
área de desenvolvimento do projeto. Também previa a construção de um aeroporto na
região voltado para atender vôos charters, a implantação de um sistema de abastecimento
13

de água através da potabilização da água do mar por osmose reversa e o tratamento integral
dos resíduos sólidos em estações de tratamento.

As dificuldades políticas encontradas junto aos municípios abrangidos para


alterações nas legislações municipais de uso do solo (essenciais para a viabilização de toda
a proposta), a não disponibilização dos recursos financeiros necessários e a eleição de um
novo governo estadual, acabaram por inviabilizar o plano, que não teve nenhuma das suas
propostas sequer iniciadas.

Campanha “Cidades Maravilhosas do Estado do Rio de Janeiro” (1988-1990)

Campanha publicitária estabelecida pela TurisRio a partir de 1988. Com a


posse do novo governo estadual, o órgão estadual foi totalmente reestruturado, com uma
redefinição da suas atribuições e da sua missão, além da alteração da sua “marca” de
Flumitur para TurisRio. Apesar de tratar-se de uma campanha de marketing, baseada na
idéia-força de agregar-se à marca Cidade Maravilhosa, o produto de outras cidades
próximas ao Rio de Janeiro, já preparadas para exercerem a função de centros turísticos
receptivos, essa ação acabou provocando um certo reordenamento no território turístico do
estado do Rio de Janeiro.
Não há documentação disponível sobre a metodologia ou sobre os critérios
que determinaram a seleção das localidades incluídas na campanha. A partir de dados
empíricos e da experiência pessoal de alguns diretores da TurisRio, foram selecionadas as
localidades do Estado com condições de funcionarem como centros receptivos de fluxos de
demandas interestaduais e internacionais, de forma complementar à cidade do Rio de
Janeiro: Angra dos Reis, Paraty, Visconde de Mauá, Itacuruçá, Itatiaia, Armação dos
Búzios, Nova Friburgo e Petrópolis.

De forma indireta, a campanha acabou alterando o ordenamento do território


turístico estadual. Primeiro, por ter induzido os fluxos turísticos para as áreas escolhidas
como cidades maravilhosas, em detrimento das demais áreas do Estado. Segundo, por ter
despertado nos municípios deixados de fora do processo, um desejo de se tornarem
também uma cidade maravilhosa. Entre críticas e reclamações, alguns municípios
souberam aproveitar-se do momento e passaram a trabalhar o desenvolvimento turístico
local de maneira mais sistemática de como vinha sendo feito até então. Municípios como
Paty do Alferes, Macaé e Vassouras, dentre outros, são testemunhos desse processo; foi
14

graças ao movimento gerado por essa campanha que eles, entre outros, se inseriram de
forma mais marcante no sistema turístico estadual a partir daquele momento.

Plano diretor de desenvolvimento de pólos de turismo náutico (1988-1990)

Paralelamente e, já com base em alguns resultados da campanha de


marketing descrita no item anterior e, acompanhando as tendências de segmentação do
mercado turístico mundial iniciadas em meados da década de 80, a TurisRio, em 1988,
contratou a empresa Tecnosan Engenharia S/A para a elaboração de um plano diretor, com
o propósito básico de reciclar e/ou otimizar os equipamentos náuticos já existentes no
litoral do Estado e estimular a implantação de novos empreendimentos para atender a esse
segmento do mercado turístico.

Segundo o documento que consolida os resultados do trabalho, “o plano


encerra propostas que propiciam o incremento de atividades econômicas decorrentes do
turismo náutico, e oferece, ao mesmo tempo, subsídios para a elaboração de um
zoneamento turístico” (TurisRio, 1990, v.1, p.1.3).

Também com base em argumentos empíricos sobre a importância do


turismo para a economia de países em desenvolvimento como o Brasil, e elencando um rol
extenso de atributos e potencialidades existentes no litoral fluminense, o plano identificou
e hierarquizou todos os pontos desse litoral, de acordo com as possibilidades de cada um
para a implantação de atividades náuticas.

É nesse sentido que o Plano estima a dimensão ideal para cada pólo, em
função do turismo náutico [...] e seus reflexos na estrutura de renda e
emprego. Desse modo propicia uma avaliação de impactos que permite a
adoção de medidas preventivas para a redução e/ou absorção daqueles que se
mostram danosos às estruturas físicas e de ocupação preexistentes e, ao
mesmo tempo, potencializa os fatores que se mostram valiosos para o
desenvolvimento harmônico de toda a zona costeira do Estado do Rio de
Janeiro (TurisRio, 1990, v.3, p.1.4).

Após a sua conclusão, o plano mostrou-se de difícil implantação,


principalmente por não ter contemplado um estudo mais criterioso sobre a legislação de
preservação do meio ambiente, além de praticamente ter ignorado o plano de zoneamento
costeiro do litoral brasileiro, em processo de elaboração àquela época pelos órgãos de meio
ambiente federal e estadual.
15

2 Plano diretor de turismo do Estado do Rio de Janeiro (1997-2001)

Artigo 227: O Estado promoverá e incentivará o turismo, como fator de


desenvolvimento econômico e social bem como de divulgação, valorização e
preservação do patrimônio cultural e natural, cuidando para que sejam
respeitadas as peculiaridades locais, não permitindo efeitos desagregadores
sobre a vida das comunidades envolvidas, assegurando sempre o respeito ao
meio ambiente e à cultura das localidades onde vier a ser explorado.
§ 1º O Estado definirá a política estadual de turismo buscando proporcionar
as condições necessárias para o pleno desenvolvimento dessa atividade.
§ 2º O instrumento básico de intervenção do Estado no setor será o plano
diretor de turismo, que deverá estabelecer, com base no inventário do
potencial turístico das diferentes regiões, e com a participação dos
Municípios envolvidos, as ações de planejamento, promoção e execução da
política de que trata este artigo (Constituição do Estado do Rio de Janeiro,
1989).

Apesar desse dispositivo constitucional ter sido estabelecido em 1989,


somente a partir de 1997, a TurisRio em conjunto com a então Secretaria de Estado de
Planejamento – SECPLAN, iniciou a elaboração do Plano Diretor de Turismo do Estado.
Com a posse do governo de Anthony Garotinho, em janeiro de 1999, foram realizadas
algumas articulações do governo estadual com o Banco Interamericano de
Desenvolvimento - BID, para liberação de recursos financeiros destinados à elaboração de
um plano estratégico de desenvolvimento do turismo do estado do Rio de Janeiro. Para
isso, foi contratada a empresa de consultoria internacional DHVMC – Management
Consultants Ltd., de Portugal, que passou a articular-se com a equipe local para a
conclusão dos trabalhos.

Esse plano foi elaborado como “pressuposto fundamental e dispositivo


privilegiado ao pleno desenvolvimento da atividade turística no território estadual.”
(SEPDET, 2001, p.2). Seus objetivos básicos, além daquele relacionado ao cumprimento
do preceito constitucional são:

a. resgatar e sistematizar as informações e dados sobre a atividade


turística no Estado, em bases consolidadas, no sentido de oferecer aos
investidores e consumidores, alternativas e possibilidades de
desenvolvimento e aproveitamento do setor;
b. consolidar o turismo com um dos principais segmentos econômicos do
Estado, gerando novos empregos, incrementando a captação de receitas e
valorizando as comunidades locais, através da elevação do seu nível de
qualidade de vida (ibidem, p.5).
16

No período de 1997-1998, a equipe de Coordenação formada por técnicos


da TurisRio e da SECPLAN, teve como atribuição levantar, analisar e consolidar os dados,
documentos e programas existentes e intervenientes com a questão turística estadual. Para
isso foram contatos os órgãos estaduais pertinentes e todos os municípios do Estado. O
trabalho de articulação intersetorial do plano foi institucionalizado com a formação do
Grupo Técnico de Acompanhamento do Plano Diretor, instituído pelo Decreto nº 27.283
de 19 de outubro de 2000.

O primeiro relatório elaborado consolidou o Diagnóstico do Plano Diretor


de Turismo do Estado, que foi apresentado também de forma sintetizada em Relatórios
Executivos para cada uma das Regiões Turísticas do Estado. Esses diagnósticos
preliminares foram então, objetos de discussão em quatorze oficinas regionais (Niterói,
Angra dos Reis, Arraial do Cabo, Paracambi, Araruama, Piraí, Itatiaia, Comendador Levy
Gaspariam, Petrópolis, Cachoeiras de Macacu, Macaé, Cantagalo, Itaperuna e Campo dos
Goytacazes) com a participação dos diversos segmentos públicos e privados de todos os
municípios, envolvidos com o setor. Dessas oficinas foram extraídos os subsídios para o
diagnóstico final e para as proposições, materializadas em programas e projetos, os quais
deverão nortear a política estadual para o desenvolvimento turístico nos próximos anos.
Para a operacionalização das propostas foram estabelecidos, segundo eixos temáticos,
macro-programas e programas de ação, os quais foram desdobrados em projetos e ações,
com o objetivo de oferecer um detalhamento capaz de permitir a sua implementação:

MACRO-PROGRAMAS PROGRAMAS
Ação Inter Institucional
Normatização da Atividade
Desenvolvimento Institucional
Conscientização da População, Políticos e
Empresários
Infra-estrutura de Apoio Infra-Estrutura Básica
Equipamentos Turísticos de Apoio

Sistema de Informação Banco de Dados


Informação ao Turista
Gestão dos Serviços Turísticos
Fomento a Atividade Qualificação da Mão de Obra
Captação de Recursos

Consolidação do Produto Turístico Identificação Organização dos Produtos Turísticos


Promoção e Marketing
Figura 1 – Quadro de macro-programas e programas de ação do Plano Diretor de Turismo
do Estado do Rio de Janeiro
Fonte: SEPDET, 2001
17

Com a conclusão do Plano Diretor de Turismo, pela primeira vez o Estado


do Rio de Janeiro passou a contar com um instrumento de política estadual de
desenvolvimento turístico formal, o qual deverá balizar as ações, tanto institucionais
quanto privadas, para o setor turístico.

Dentre as ações e projetos propostos no Programa de Ações Institucionais


do Macro-Programa de Desenvolvimento Institucional, uma tornou-se o ponto de maior
discussão e atenção de todos os elementos do sistema turístico estadual. Trata-se da
proposta de uma nova regionalização para o território turístico estadual que, no nosso
entender merece ter seu processo histórico analisado com mais vagar, por se tratar de um
dos principais vetores determinantes do ordenamento do território turístico estadual.

2.1 Regionalização turística do território estadual

Com a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, a partir da


edição da Lei complementar nº 20 de 01/07/1974, inicia-se um processo tentativa de
diminuir o desequilíbrio socioeconômico existente entre aqueles dois territórios. No caso
específico do turismo, a busca é por uma mais efetiva e sistemática interiorização dos
fluxos turísticos, através da incorporação da oferta turística potencial existente nos
municípios do interior ao produto turístico da cidade do Rio de Janeiro

Nesse sentido, o Plano de Desenvolvimento Econômico e Social proposto


pelo Governo Estadual para o período de 1980-1983 (governo de Chagas Freitas),
objetivando facilitar os estudos micro-regionais e o planejamento da atividade turística,
definiu uma divisão do território estadual em seis regiões turísticas: Metropolitana, Costa
Verde, Costa do Sol, Norte, Serramar e Serrana, sendo esta última subdividida em Serrana
A e Serrana B.

Essa divisão, resultado de estudos feitos em 1980, baseava-se na


homogeneidade e complementaridade da oferta de recursos turísticos existentes, nas
características geomorfológicas e culturais e nos limites político-administrativos dos
municípios. Interessante notarmos a tentativa de criar nomes que fossem vinculados às
características turísticas de algumas das regiões. Assim, a região do litoral sul do Estado
passa a ser chamada de Costa Verde, dada à coloração esverdeada do seu mar e, a região
das baixadas litorâneas ganha o nome de Costa do Sol, graças ao alto índice de insolação
18

que toda a região apresenta. Outras regiões, entretanto, foram designadas apenas por
referências meramente geográficas.

Apesar de ainda vigente na época da elaboração do atual Plano Diretor, essa


regionalização já não correspondia mais à atual conjunção socioeconômica estadual,
principalmente em virtude do processo de emancipação, quase sem controle, de vinte e oito
novos municípios, ocorrido no período de 1985-1999, fato gerador de uma nova
configuração político-administrativa estadual. Além disso, nos últimos vinte anos vimos
acontecer um processo de expansão e de re-arranjos nas articulações dos núcleos urbanos
do Estado, frutos da nova realidade dos sistemas de comunicação e de transportes, que
estabeleceram novas redes diferenciadas de relações e inter-relações entre os municípios,
conforme sinalizado no diagnóstico do Plano Diretor de Turismo:

Atualmente, o território estadual apresenta uma conjunção diferente daquela


levada em consideração quando da definição da regionalização turística em
vigor [...] Verifica-se ainda a expansão dos núcleos urbanos e sua articulação
e integração, resultantes da evolução dos meios de comunicação e da
expansão do sistema viário, responsáveis pelo encurtamento das distâncias e
pela modificação nas relações intermunicipais” (SEPDET, 2001, p.29).

Além disso, a partir da implantação do processo de municipalização da


gestão do turismo, através do Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT
na década de 1990, observaram-se diversos movimentos, mais ou menos espontâneos,
envolvendo grupos de municípios circunvizinhos, no sentido de se estabelecerem unidades
regionais com características turísticas homogêneas, objetivando a otimização do
desenvolvimento turístico em seus territórios.

É interessante lembrarmos que esses movimentos regionais não estavam


previstos nas diretrizes do PNMT. Segundo os documentos que formatam o programa “a
municipalização é um processo de desenvolvimento turístico por meio da conscientização
da população beneficiária das ações realizadas no próprio Município”, sendo seu objetivo
geral “fomentar o desenvolvimento turístico sustentável nos Municípios, com base na
sustentabilidade econômica, social, ambiental, cultural e política” (Embratur, 1999, p.8 e
9) (grifos nossos).

Entretanto, dado o PNMT ser um programa voltado especificamente para a


conscientização e capacitação das pessoas envolvidas com o turismo nos municípios, o
processo terminou por extrapolar os limites municipais, na medida em que a atividade
turística não está limitada a eles. Pelas próprias características de composição do seu
19

produto, a atividade turística nem sempre pode ser circunscrita aos limites político-
administrativos dos municípios. Sendo a matéria prima desse produto basicamente
composta pela paisagem natural e construída dos lugares, na maioria das vezes, termina
por abarcar territórios de vários municípios, estados e, até mesmo, países (Fratucci, 2000).

Á medida que os agentes locais (secretários e técnicos municipais,


empresários, presidentes de associações, etc.) foram tomando contato com um
conhecimento mais técnico sobre o fenômeno turístico, graças às oficinas de capacitação
do PNMT, foram compreendendo que, salvo raras exceções, só poderiam conseguir
implantar ou estimular o processo de desenvolvimento dessa atividade, se o fizessem a
partir de uma visão mais ampla, uma visão regional.

O exemplo mais concreto desse fato no estado do Rio de Janeiro foi a


formação do CONRETUR – Conselho Regional de Turismo da Região das Agulhas
Negras, composto pelos municípios de Itatiaia, Resende, Quatis e Porto Real,
representados tanto pelos seus órgãos públicos de turismo, como pelos diversos setores da
sociedade civil organizada ligados à atividade turística (hoteleiros, guias de turismo, etc.).
A partir de um processo de planejamento participativo, os seus integrantes perceberam que
os quatro municípios apresentavam uma identidade turística em comum, definida pelas
presenças decisivas do maciço das Agulhas Negras e do Parque Nacional de Itatiaia.

A partir dessa constatação,tomaram a decisão de trabalhar a gestão do


turismo de forma regional e não mais isolada. Todas as suas ações, do planejamento ao
marketing, desde então vêm sendo trabalhadas em conjunto, sem prejuízo da
individualidade político-administrativa de cada município componente do conselho
regional.

O mesmo processo ocorreu com os municípios localizados na região do


médio vale do Paraíba (Piraí, Valença, Vassouras, Barra do Piraí, Miguel Pereira, Rio das
Flores, Mendes, Paty do Alferes, Engenheiro Paulo de Frontin e Paracambi.), onde foi
estruturado o CONCICLO – Conselho Regional de Turismo do Ciclo do Café, com a
identidade turística regional sendo construída a partir da presença de um grande número de
fazendas do ciclo cafeeiro (séculos XVIII e XIX), as quais estão sendo preparadas para
tornarem-se produtos turísticos, especializados em agroturismo e turismo cultural. Esse
processo foi iniciado pela sociedade civil da região, através de uma ONG denominada
20

PRESERVALE, a partir da qual expandiu- se, incorporando outros segmentos do setor


turístico regional, inclusive a TurisRio.

Outro movimento importante desenvolveu- se na região turística da Costa


do Sol onde, há alguns anos, antes mesmo do início da implantação do PNMT, os
municípios daquela parte do território estadual detectaram o fato de estarem interligados
por uma identidade turística única, baseada nos seus elementos naturais (sol, lagoas e
praias), a partir do que passaram a trabalhar a sua divulgação e promoção de forma
conjunta.

Esse processo de reunião desses municípios foi provocado pela elaboração


do plano indutor de investimentos turísticos na região dos Lagos (já abordado no item
anterior desse trabalho). Apesar da sua não implantação, aquele plano acabou por envolver
e despertar os municípios daquela região para o fato de possuírem um produto turístico
homogêneo, que poderia e deveria ser trabalhado em conjunto por todos e não de maneira
individualizada, como vinha ocorrendo até aquele momento.

Inicialmente, os secretários municipais de turismo de Maricá, Saquarema,


Araruama, , Arraial do Cabo, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, São Pedro da Aldeia e Rio
das Ostras (na ocasião os atuais municípios de Armação dos Búzios e Iguaba Grande ainda
não tinham sido emancipados), formaram a “TurisLagos”, entidade intermunicipal voltada
para a divulgação do produto turístico regional. Aquela entidade, por motivos político-
partidários, na prática não conseguiu atingir seus objetivos plenamente, apesar de ter
desenvolvido diversas ações com relativo sucesso, antes de ser “esvaziada” politicamente.

Atualmente, encontra-se estruturado e em atividade o Fórum de Secretários


Municipais de Turismo da Região da Costa do Sol, que busca organizar o desenvolvimento
turístico regional, discutindo questões que vão desde a qualidade dos seus serviços até a
divergência do nome da região, chamadas por alguns de região dos Lagos e de Costa do
Sol por outros. O Fórum oficializou o nome da região como sendo Costa do Sol, por
entendê-lo mais coerente com as características turísticas regionais. Outra decisão
importante daquele Fórum foi a incorporação dos municípios de Macaé, Quissamã e
Carapebus na composição da região, estendendo os limites regionais até o litoral norte do
Estado.

Também através de discussões regionais, outra parcela do território do


Estado reuniu-se e articulou-se enquanto região turística, tendo como diferencial o slogan
21

“do outro lado da serra”, originado pelo fato estarem localizados na vertente norte da Serra
do Mar. Nesse grupo estão os municípios de Sumidouro, Duas Barras, Carmo, Cantagalo,
Bom Jardim, Cordeiro, Macuco, Trajano de Moraes, Santa Maria madalena e São
Sebastião do Alto. A princípio, a identidade dessa região espontânea esta concentrada na
possibilidade do desenvolvimento do segmento do turismo rural.

Do mesmo modo, ainda que de maneira tímida, os municípios da região


noroeste do Estado, desde março de 1999, vêm se reunindo e procurando também articular
um fórum regional de desenvolvimento turístico, envolvendo os municípios de Natividade,
Varre-Sai, Porciúncula, Itaperuna, Bom Jesus do Itabapoana, Aperibé, Santo Antônio de
Pádua, São José do Ubá, Cambuci, Itaocara e São Fidélis. Nesse caso específico, essa
articulação fica prejudicada pela ausência mais clara de uma identidade turística regional e
pela falta de infra-estrutura básica em toda a região, reconhecidamente a mais carente de
todo o território estadual.

Partindo do fato de ser o território do turismo definido pela existência de


recursos naturais e culturais, capazes de motivar correntes de demanda de visitantes
oriundos de outros locais (Boullón, 1990), podemos perceber que essas novas unidades
regionais dão ao Estado do Rio de Janeiro uma outra configuração territorial para a
atividade turística, na qual existem vazios, representados por aquelas áreas que não
possuem características e potencialidades para a atividade turística ou, que ainda não a
priorizam como opção de desenvolvimento local e regional.

Esses movimentos espontâneos, mesmo que induzidos indiretamente pelo


processo de municipalização do turismo proposto pelo PNMT ou por outras ações da
TurisRio, geraram um re-arranjo na organização territorial do turismo no Estado, o qual
não pode ser ignorado pelos órgãos públicos estaduais e federais, uma vez que os
municípios têm autonomia para se organizarem e se agruparem de acordo com os seus
interesses e afinidades regionais.

Dessa forma, na elaboração do diagnóstico do Plano Diretor de Turismo


esses fatos e movimentos foram observados e considerados, uma vez impunham “a
necessária revisão da regionalização turística estadual, não só no sentido de adequá-la à
atual realidade social, econômica, política e administrativa do Estado, mas também
reconstruí-la na perspectiva de uma agregação adequada aos objetivos do Plano, que
22

incorpore uma visão mercadológica assentada num desenvolvimento ambientalmente


equilibrado e economicamente sustentável” (SEPDET, 2001, p.97, v.II).

Partindo do entendimento de ser a região turística um instrumento


primordial para a organização territorial e para a gestão da atividade turística, enquanto
estância intermediária de articulação entre o Estado e os municípios (ibidem), o Plano
propôs um novo recorte regional (Figura 2) composto de 13 regiões, “que guardam,
internamente, um sentido de homogeneidade e complementaridade, que traduzem sua
identidade geográfica, paisagística, territorial e da oferta de infra-estrutura e serviços”
(ibidem, p.98, v.II). Para tanto foram observados três critérios: a) identificação,
características e extensão dos recursos turísticos; b) tipologia, dimensão e categoria da
oferta de equipamentos e serviços turísticos, e condições da infra-estrutura de apoio; e c)
incidência espacial da oferta turística atual, tendo em atenção aspectos relacionados
(ibidem).

Paralelamente, com o objetivo de nortear as ações de promoção e marketing,


o Plano propõe uma divisão do território estadual em Áreas de Desenvolvimento
Estratégico – ADE, que, ora coincidem com o recorte de uma das regiões turísticas
propostas, ora agrupa duas ou mais regiões. As ADE foram delimitadas a partir da análise
das potencialidades de produtos em termos das motivações e preferências dos
consumidores e da identificação de conjuntos de atrativos e serviços, que compõem a
diversidade da oferta do território estadual e que possam estar ancorados em determinados
produtos turísticos regionais (ibidem).
Varre-Sai

Porc iúnc ula

Natividade

Bom Jesus
Itaperuna do Itabapoana
Laje do
Muriaé

São José São Franc isc o


Miracema de Ubá de Itabapoana
13 Italva

Cambuci Cardoso Moreira


Santo Antônio
de Pádua

Aperibé
12
São Fidélis
Itaocara São João
da Barra
Campos dos Goytacazes

Cantagalo
Carm o São Sebastião
do Alto

Com. Levy Santa Maria Madalena


Gasparian Sapucaia Mac uc o
Duas Barras
Cordeiro
8 Quissam ã
Três Rios Trajano de Morais Conc eiç ão
Rio das Flores de Macabu
Paraíba do Sul S. José do Vale Sumidouro
Bom Jardim Carapebus
do Rio Preto
Valença
6 Areal

11
3 Paty do Alferes Mac aé
Resende Quatis Teresópolis Nova Friburgo
Vassouras
Petrópolis
Itatiaia Porto
Real Volta Barra do Piraí
Engº Paulo
7 Rio das Ostras
2 Redonda
Pinheiral Mendes
de Frontin
Miguel Pereira Cachoeiras
de Macac u
Casimiro de Abreu
Barra Mansa Guapimirim
Paracambi Silva Jardim
Piraí Nova Duque Magé
Japeri Iguaçu de Caxias

Belford 10
Queimados
Roxo Itaboraí Tanguá Rio Bonito 9
Rio Claro Seropédic a 5 S. João
de Meriti
Araruama
S.Pedro
da Aldeia Armaç ão dos Búzios
Itaguaí Nilópolis Iguaba
São Gonç alo
Angra dos Reis Mangaratiba
Rio de Janeiro Saquarema Grande Cabo Frio
Maricá
1 4 Niterói
Arraial do Cabo

Parati

0 10 30 50 Km

Figura 2 - Mapa da regionalização turística do Estado do Rio de Janeiro


Fonte: Plano Diretor de Turismo, SEPDET-TurisRio, 2001
Como dissemos anteriormente, essa nova regionalização turística proposta
tem sido a ação mais discutida pelos diversos componentes do trade turístico estadual. Tal
discussão ganhou espaço nas reuniões do Fórum Estadual de Secretários de Turismo do
Rio de Janeiro, entidade que reúne todos os representantes dos órgãos públicos municipais
responsáveis pela gestão do turismo. Segundo a atual presidente do Fórum, depois de
diversas reuniões os municípios encaminharam à TurisRio, ainda no ano de 2002, uma
proposta de reformulação naquela regionalização indicada no Plano, onde são alteradas a
composição de algumas delas e são indicados denominações para todas elas, já que o Plano
não o faz (Figura 3).

Região Turística Municípios


01 – Costa Verde Angra dos Reis, Paraty, Mangaratiba, Itaguaí e Rio Claro
02 – Agulhas Negras Itatiaia, Resende, Quatis e Porto Real
03 – Vale do Paraíba Barra mansa, Volta Redonda, Pinheiral
Barra do Piraí, Piraí, Valença, Rio das Flores, Vassouras, Mendes,
04 – Ciclo do Café Paracambi, Engº Paulo de Frontin, Miguel Pereira e Paty do
Alferes
05 – Metropolitana Rio de Janeiro e Niterói
Rio-Niterói
Seropédica, Japeri, Queimados, Nova Iguaçu, Belford Roxo,
06 - Baixada Fluminense Mesquita, São João de Mereti, Nilópolis, Duque de Caxias e Magé
Paraíba do Sul, Comendador Levy Gasparian, Três Rios, Areal,
07 - Serra Tropical São José do Vale do rio Preto e Sapucaia
Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Guapimirim e Cachoeiras
08 - Serra Imperial do Macacu
Sumidouro, Carmo, Duas Barras, Bom Jardim, Cordeiro, Macuco,
09 - Serra Norte Cantagalo, São Sebastião do Alto, Trajano de Morais, Santa Maria
Madalena e Conceição de Macabu
São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá, Rio Bonito e Silva Jardim
10 – Rota do Sol
Maricá, Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, São Pedro d’
11 – Região dos Lagos – Aldeia, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Armação dos Búzios,
A Costa do Sol Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Macaé, Carapebus e Quissamã
Campos dos Goytacazes, São João da Barra, São Francisco do
12 – Norte – Costa Doce Itabapoana, São Fidélis e Cardoso Moreira
13 – Noroeste – Doces Itaocara, Aperibé, Santo Antônio de Pádua, Miracema, Laje do
Águas do Noroeste Muriaé, Itaperuna, natividade, Porciúncula, Varre-Sai, Bom Jesus
Fluminense do Itabapoana, Italva, Cambuci e São José do Ubá.
Figura 3 – Proposta de Regionalização Turística do Fórum Estadual de Secretários
de Turismo – RJ
Fonte: Fórum Estadual de Secretários de Turismo – RJ/2003
25

O que podemos perceber é que as alterações propostas em alguns casos


alteram significativamente a proposta original. Essas alterações são: a) o desmembramento
da Região Turística 3 em duas, fazendo surgindo a Região Vale do Paraíba composta pelos
municípios de Barra Mansa, Volta Redonda e Pinheiral; b) a incorporação de todos a
Região Turística 11 (Macaé, Quissamã e Carapebus) à Região 9, aumentando
consideravelmente o território da região dos Lagos, c) a incorporação dos municípios de
São Fidélis e Cardoso Moreira à Região da Costa Doce, com a sua conseqüente
desincorporação da Região Turística 13 e, d) a transferência do município de São Gonçalo
da Região Turística 5 para a Região 10 – Rota do Sol.

Esta proposta do Fórum Estadual de Secretários de Turismo – RJ está em


análise pelos técnicos da TurisRio, que ainda não deu sua posição final, apesar de ter sido
garantido ao Fórum que a mesma seria levada em consideração.

3 Considerações Finais

A recuperação da história recente do processo de ocupação e ordenamento


do território turístico do Estado do Rio de Janeiro ainda deve merecer pesquisas mais
aprofundadas que, aliada ás analises multidisciplinares permitirão um entendimento de
como essa atividade turística vem consumindo e transformado esse território.

Trata-se de um árduo trabalho de recuperação de informações que estão


dispersas de forma assistemática, mas que precisa ser feito para possibilitar um uso mais
equilibrado e sustentável do patrimônio natural e cultural do Estado com base no
desenvolvimento turístico. Atualmente, junto com a indústria do petróleo, o turismo se
apresenta como o setor econômico com maior potencialidade de desenvolvimento para o
Estado. Entretanto, muitas ações e correções precisam ser estabelecidas para garantir a
sustentabilidade de todo o sistema.

Ainda é cedo para fazer-se uma análise crítica sobre a implementação do


atual Plano Diretor de Turismo, elaborado pela SEPDET e pela TurisRio. Aparentemente
algumas das ações e projetos estratégicos previstos estão sendo iniciados. Uma delas levou
a reativação e reformulação do Conselho Estadual de Turismo – CET, através dos decretos
33.334 de 05 de junho de 2003 e 33.461 de 25 de junho de 2003, os quais deram uma nova
composição para aquele conselho, tornando-o mais paritário e participativo e, com
natureza consultiva e propositiva em relação à política de turismo do Estado.
26

Entendemos que o CET poderá dar um novo rumo para o turismo estadual,
na medida em que poderá acompanhar mais de perto as ações dos órgãos responsáveis pela
gestão e execução da política estadual de turismo, não permitindo que o setor continue a
ser tratado de forma não prioritária, como vem ocorrendo há várias décadas.

O entendimento de que o turismo pode alavancar o desenvolvimento


sustentável do Estado passa por uma decisão política que, até hoje não foi assumida por
nenhum dos governantes que ocuparem o mais alto cargo executivo estadual após a fusão
dos antigos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. Essa afirmativa pode ser
comprovada por uma breve análise nos recursos direcionados para investimentos no setor
pelos orçamentos estadual, nesse recorte temporal referido. Com o argumento de que
outros setores eram mais prioritários, tanto a TurisRio como os órgãos da administração
direta a quem aquela empresa esteve ligada, nunca foram contempladas com recursos
financeiros suficientes para que pudessem colocar em prática uma política estadual de
turismo consistente e continuada que levasse a um desenvolvimento sustentável do setor.

Tal fato pode ser visto na descontinuidade das diversas tentativas de ações
de ordenamento da atividade turística que foram iniciadas para, logo a seguir, serem
descartadas. Claro que temos que levar em conta também a cultura da descontinuidade
política-administrativa característica do governo estadual. Os governos eleitos quase
sempre preferem descartar os projetos e ações do governo anterior e, fazendo surgir os
vácuos administrativos que levam ao desperdício dos poucos recursos disponibilizados
para o setor.

Além da reformulação e reativação do Conselho Estadual de Turismo, vale


ressaltar as iniciativas de implantação do Observatório de Turismo, ação indicada pelo
Plantur como prioritária e, que vem sendo articulada entre as secretárias estaduais de
Trabalho, Desenvolvimento Econômico e Turismo, TurisRio e Embratur. A coleta e a
divulgação de dados sobre o turismo estadual é de extrema prioridade para que o setor
possa crescer com responsabilidade e sustentabilidade. O conhecimento do momento
presente, em bases científicas, pode permitir uma otimização dos parcos recursos
disponíveis e levar a um processo de longo prazo, onde o setor possa trazer crescimento
econômico aliado á melhoria da qualidade de vida da população fluminense, à preservação
dos seus patrimônios naturais e culturais, permitindo que o Estado atinja um estágio de
27

sustentabilidade política, social, cultural, ambiental e econômica equilibrado e duradouro


baseado no setor turístico.

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