Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Yoga A Arte Da Integracao Parte I
Yoga A Arte Da Integracao Parte I
1
Loja Teosófica Liberdade Pág. 2
Loja Teosófica Liberdade Pág. 3
Loja Teosófica Liberdade Pág. 4
Yoga – A Arte da Integração
Vemos nesta obra um dos mais originais comentários da tradução dos Yoga-Sutras de Patanjali,
obra clássica que codificou o Yoga no século VI A.C.
Rohit Mehta participou na campanha para independência da Índia. Filiou-se a Sociedade Teosófica
na Índia em 1924. Foi profundamente influênciado por Jiddu Krishnamurti.
O estudo será dividido em quatro seções:
1ª seção – O estado de Yoga ou Samadhi Pada
2ª seção – Os Instrumentos do Yoga ou Sadhana Pada
3ª seção – As aquisições do Yoga ou Vibhuti Pada
4ª seção – A realização do Yoga ou Kaivalya Pada
A primeira seção dos Yoga-sutras serve como um mapa para o viajante que deseja empreender uma
viagem à região do Yoga. Na segunda e a terceira seção, Patanjali se ocupa com a própria viagem
na nova terra. Já a quarta seção contém a colheita da viagem.
O homem está hoje fragmentado em seu interior, e isto se reflete na desorganização no nível externo
ou social. O problema da integração é essencialmente psicológico.
O sucesso da ciência expôs o homem moderno ao impacto inexorável de um emaranhado
psicológico não resolvido, tanto individual quanto coletivo.
A psicologia tem ficado para trás, de modo que o instrumento subjetivo do homem é totalmente
inadequado para tratar com eficácia os fenômenos em rápido movimento das condições objetivas.
A psicologia moderna parece estar se movendo apenas na periferia, desatenta ao próprio âmago da
essência psicológica do homem. Ela estuda somente o comportamento do homem, e esquece a sua
essência.
A essência do homem não é algo inerte, é palpitante de vida e intensamente dinâmica. A vida não
pode ser compreendida pela somatória de suas partes. A essência do homem é uma totalidade maior
que a soma de suas partes.
Sem dúvida a essência do homem reflete-se nos seus padrões de comportamento, todavia o reflexo
não é igual à substância. Seria o mesmo que entender uma pessoa olhando sua fotografia.
Os fatos relativos ao comportamento estão no presente, mas se olharmos para eles através das
lentes do passado (nossa memória), nossa interpretação fica longe da realidade.
Assim, é preciso trazer para os fatos dos padrões comportamentais uma percepção que seja livre
das normas de interpretação. Somente assim podemos saber o que indicam estes fatos.
Temos de admitir que os fatos reunidos por nossas mentes não são absolutamente fatos, foram
interpretados pela nossa mente. Uma mente interpretativa é sempre seletiva em suas operações.
Uma mente comprometida com esse processo de seletividade obviamente não é livre. É uma mente
acorrentada a certas conclusões representadas por suas normas e modelos de interpretação.
Esta seletividade no mundo dos fenômenos pode não ter importância, porém tem muita importância
quando tratamos dos problemas psicológicos.
No lado psicológico, o campo de pesquisa é muito fluido, não é possível tratá-los com uma
abordagem estática. Além disso, há nosso envolvimento mental e emocional no próprio objeto de
percepção.
Isso nos impede de ver os homens e as coisas como de fato são. Para a reta percepção é imperativo
uma completa eliminação do fator subjetivo oriundo de nossas interpretações e seleções.
A eliminação do fator subjetivo é absolutamente essencial quando tratamos com fenômenos
psicológicos dos relacionamentos humanos.
Na reta percepção, o importante não é uma mudança na escala de observação, importante é a
eliminação do próprio observador, que entra no quadro da observação como interprete e avaliador.
A eliminação do observador implica um ato de observação sem interpretação e sem avaliação.
Uma ação que não surge da reta percepção não tem absolutamente validade. Não é uma ação, mas
sim uma reação. A reta percepção deve proceder à reta ação. A reta percepção precisa ser
completamente objetiva, e isso só é possível sem interpretação e sem avaliação.
A abordagem da psiquiatria e da psicoterapia modernas somente pode proporcionar um paliativo
para a vida psicológica do homem, mas jamais pode ocasionar uma transformação fundamental no
reino psicológico do individuo.
Elas podem retardar o crescimento da enfermidade, mas jamais trazer ao homem uma experiência
de verdadeira saúde, lembrando que saúde não é apenas ausência de enfermidade, é algo positivo.
Para achar este lado positivo, precisamos explorar todo o problema da reta percepção. A Yoga é
uma resposta a esta busca. É no Yoga que o problema daquele que percebe e de quem é percebido
é discutido profundamente.
É no Yoga que encontramos a maneira de eliminar aquele que percebe, de modo que a reta
percepção possa ocorrer.
12. A dissolução dos centros reativos da mente é alcançada pela prática e pelo desapaixonamento.
A prática (Abhyasa) e o desapaixonamento (Vairagya) devem sempre estar juntos, e não um após o
outro. A prática denota esforço enquanto o desapaixonamento denota o não esforço. O segredo da
libertação da mente de todos os Vrttis jaz em sua coexistência.
Só praticamos o desapaixonamento quando não existe mais paixão, já esgotamos toda a nossa
energia. Tal desapaixonamento não tem valor algum. O desapaixonamento deve ser praticado
durante a paixão, quando estamos repletos de energia.
13. Prática denota um esforço com o propósito de se estar firmemente estabelecido em um estado
livre de todas as tendências reativas.
É preciso um tremendo esforço para se ter uma experiência espiritual como o Yoga. É uma atividade
com propósito e que se move em uma direção particular.
14. A prática deve ser prolongada, ininterrupta e plena de ardor ou entusiasmo.
Não se pode esperar resultados rápidos nesse caminho. Deve haver veemência ou entusiasmo.
Yoga não é uma senda de pesar, é na verdade um caminho de alegria. Deve haver alegria na prática
do Yoga, o esforço precisa conter um elemento de paixão.
Sem essa paixão, o esforço prolongado e ininterrupto parecerá exaustivo. Normalmente nosso
esforço torna-se mecânico ou monótono, e a alegria do esforço desaparece. Só continuamos a
pratica porque fizemos um compromisso ou um hábito.
Qualquer esforço por dever ou hábito é frustrante. Somente com a qualidade da paixão superaremos
estas frustrações. Sem desapaixonamento existindo juntamente com a prática, o esforço será
sempre frustrante.
34. A tranquilidade da atenção unidirecionada torna-se possível, em parte, por meio de uma
respiração regular.
Patanjali diz que através da exalação e da retenção da respiração pode-se chegar à tranquilidade. O
tema de controle de respiração é parte de Pranayama, e será discutido extensivamente na segunda
seção.
Lembremos que o cérebro físico e a mente não são idênticos, o cérebro é apenas um instrumento da
mente. Por meio de uma regulada respiração, o cérebro torna-se livre de tensão e capaz de chegar a
um estado de quietude.
O cérebro coordena os dados dos sentidos transformando-os em percepção, e ao mesmo tempo
deve responder às intimações da mente. É no intervalo entre estas duas funções que o cérebro
alcança seu estado de maior eficiência.
A regularização da respiração tende a criar este intervalo. O controle da respiração cria uma pausa
na atividade do cérebro e o cérebro se renova nesta pausa.
No momento de controle da respiração a porta de comunicação entre os sentidos e o cérebro é
temporariamente fechada.
No controle respiratório, o cérebro funciona com um suprimento limitado de oxigênio. Em função
disso ele não está pronto para receber novos dados dos sentidos. Esta pausa dá um pequeno
descanso ao cérebro.
35. A estabilidade da mente é também possível através da mudança dos sentidos do sensual para o
sensório.
No sutra anterior falamos sobre como a porta de comunicação entre os sentidos e o cérebro é
fechada. Falaremos agora de uma nova porta que se busca fechar, a porta entre o cérebro e a
mente.
É uma pausa entre a formação de percepção e a formulação de conceitos. A mente quase sempre
interfere antes que o cérebro tenha completado sua percepção, o que ocorre é indulgência dos
sentidos.
Aquilo que é sensual é o produto da indulgência dos sentidos. Nesta autoindulgência, o vilão é a
mente, não os sentidos. É a entrada da mente que induz a atividade de segurar ou aderir aos objetos
ou neles permanecer.
A mente assume as funções do cérebro, não lhe permitindo completar sua ação de gerar a
percepção. Por isso o cérebro fica agitado e excitado devido à sua frustração por ser interrompido
em sua atividade normal.
Como o cérebro é interrompido sem completar suas percepções, a formação de conceitos pela
mente é também incompleta, equivocada e defeituosa. Quando os sentidos são levados à realização
de conceitos defeituosos, surge o estado de indulgência.
A mente força o cérebro a dar instruções para a ação antes que a percepção seja completada. A
mente só deveria transmitir após recepção do relato completo dos sentidos.
É a transmissão prematura, realizada sob o comando da mente, que cria o problema da indulgência
dos sentidos, trazendo o que é conhecido como atividade sensual.
A meditação é o âmago da escola de Yoga chamada Raja Yoga, da qual Patanjali é o grande
compilador e expositor.
A grandeza dos Yoga-Sutras de Patanjali está no fato de que todo o problema da meditação é
colocado no plano de fundo geral da vida e busca o desenvolvimento harmônico de todas as partes
do ser humano. É realmente a Yoga integral.
Já que a mente é o fator determinante, tornar a mente livre e incondicionada é de importância
fundamental nesta prática. Todavia, antes que a mente possa se tornar livre é necessário conhecer
como ela é condicionada.
40. Com a remoção dos obstáculos surge o domínio da cognição e da ação que se estende do
menor até o maior.
Obstáculos e obstruções são os fatores condicionantes da mente, que precisam ser eliminados. Ao
serem removidos através da meditação, ocorre uma tremenda liberação de energia da mente.
A mente alcança um estado onde não existem fronteiras para restringir seus movimentos.
41. No caso de alguém cujas tendências reativas (Vrttis) tenham sido quase completamente
eliminadas, surge uma fusão do conhecedor com o conhecido e com o conhecimento, do mesmo
modo que a joia transparente funde-se com a cor da superfície em que repousa.
Quando há uma fusão do conhecedor com o conhecido e com o conhecimento, ocorre uma
experiência de absoluta não dualidade. O conhecimento é de fato um relacionamento entre o
conhecedor e o conhecido.
Nessa experiência finda o conhecimento acumulado pelo conhecedor, finda também o conhecimento
acumulado sobre o conhecido. Neste estado há um conhecimento puro, conhecimento do que é, não
o que parece ser ao conhecedor.
Não há um relacionamento sujeito objeto, é totalmente transparente e reflete o mundo como ele é.
É a natureza adquirida que busca permanecer invulnerável. A natureza intrínseca prefere
permanecer completamente vulnerável, pois nada tem a proteger porque não tem acumulações ou
acrescentamentos.
A mente que é livre de todas as acumulações é uma mente transparente. Nada adere a ela e ela não
adere a nada. A mente que teme tal fusão falta caráter, uma vez que teme perder algo que tenha
adquirido.
Enquanto permanecer a dualidade do conhecedor e do conhecido, o conhecimento acumulado é
totalmente corrompido. O observado que consideramos como nosso é o produto de um
relacionamento sujeito objeto.
Deve-se lembrar que os três fatores condicionantes da mente são Tamas, Rajas e Sattva. Somente
quando eles tornam-se inoperantes que pode surgir um estado de total liberdade.
42. No Savitarka Samadhi, uma experiência que tem como centro a modificação-pensamento,
observa-se uma confusão mental, porque a mente alterna-se entre pensamento verbal e
conceitual.
A mente alterna-se entre o pensamento verbal e o conceitual, o que gera muita confusão. O verbal é
o tradicional e o conceitual é o projetado. Consideramos a palavra ou a imagem como a coisa.
Ao mover-nos entre a palavra e a imagem, considerando às vezes uma como real e outras vezes a
outra, A mente perde o conteúdo real da coisa. A mente se move entre os significados habituais e
modificados das coisas.
Estes são os pontos de continuidade e continuidade modificada. O significado verbal é aquele que
surge com o uso, mas o homem introduz no mesmo seus significados projetados afim de modificar
conotações geralmente aceitas.