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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I

João Espírito Santo


FDL • Ano letivo 2021/2022

GRUPO TEMÁTICO: INÍCIO E TERMO DA PERSONALIDADE JURÍDICA SINGULAR; QUESTÕES CONEXAS

1 1. A, de 30 anos de idade:
a. Doou um automóvel ao primeiro filho que a sua irmã, B, de
20 anos de idade, vier a ter. No dia seguinte, B exige a
entrega do automóvel.
b. Doou um automóvel ao filho que a sua irmã, B, grávida,
vier a ter.
c. Doou um automóvel ao filho que a sua irmã, B, grávida,
vier a ter; todavia, B sofreu um aborto espontâneo ao
terceiro mês da gravidez;
d. Fez testamento a favor do filho que a sua irmã, B, de 20
anos de idade, vier a ter;
e. Fez testamento a favor do neto que a sua filha, recém-
nascida, vier a ter.

Quid iuris?

2 A foi declarado em situação de morte cerebral em 2 de janeiro; no dia 4 de


janeiro, sem o saber, B faz testamento a favor de A.
Quid iuris?

3 A e o seu filho B, seguiram no mesmo automóvel quando sofreram um embate


frontal:
a. B faleceu de imediato e A algumas horas depois, após ter
sido transportado para um hospital; os herdeiros de A
reclamam a herança de B;
b. A e B faleceram ambos de imediato; os herdeiros de A
reclamam a herança de B;
c. A e B faleceram no local, ermo; os bombeiros só chegaram
ao local duas horas depois, existindo evidências de que a
morte de ambos não foi imediata, os herdeiros de A
reclamam a herança de B.
 Quid iuris?

4 A, astronauta, estava a descolar num spaceshuttle em direção à Estação


Espacial Europeia quando o shuttle explodiu na atmosfera; o cadáver nunca
foi encontrado; um amigo da família informou que a partilha sucessória só
poderá ser iniciada com a declaração prevista no art. 114 do CC1966.
 Quid iuris?

GRUPO TEMÁTICO: DIREITOS DE PERSONALIDADE

5 Isilda Flamingo, reputada advogada, tomou conhecimento de que uma sua


prima, abriu recentemente uma loja de trajes de profissões jurídicas com a
designação comercial de I. Flamingo.
 Pode Isilda reagir juridicamente?
6 Maria das Dores, cantora, que usa o nome artístico de Lady Mudda, tomou
conhecimento de que uma sua concorrente pretende lançar um CD com o
título “Fados da Mudda”.
 Pode Maria das Dores reagir juridicamente?
 Admitindo que Maria das Dores havia falecido recentemente, alguém
poderia reagir à pretensão da concorrente?

7 A e B viveram uma “paixão ardente” nos anos 80, que durou 3 anos e que
terminou sem mágoas. Durante esses anos, A recebeu vários bilhetes de B,
nas quais esta fazia confidências sobre o seu gosto por drogas “duras” e pedia
mesmo que A comprasse drogas para consumo em encontros que marcavam.
Vários anos passados, B envolveu-se em atividade política, sendo hoje uma
destacada dirigente de um partido com grande expressão nacional.
O Jornal “Correio da Tardinha” está a realizar um trabalho com vista à
publicação de um artigo biográfico sobre B e descobriu a sua ligação passada
a A, tendo este revelado o teor dos bilhetes, na sequência do que o Jornal
lhe ofereceu uma avultada quantia em troca da autorização de publicação dos
bilhetes, o que o mesmo aceitou.
No dia seguinte, o jornal publicou no seu site o seguinte texto: “Toda a
verdade sobre B: o passado e as drogas. Leia os escritos do seu punho
dirigidos ao amante. Na edição de amanhã”.
 B pretende saber se pode reagir e como
8 Admita agora os dados do caso anterior, com as variantes de que B é uma
bem-sucedida atriz e que se tratou de publicar um diário íntimo que esta
esquecera em casa de A na época em que namorara, sendo que a publicação
chegou a ocorrer.
 B pretende saber se pode reagir e como
9 A vive no 1.º andar esquerdo de um prédio em Lisboa. No lado direito vive
um mediático jornalista televisivo. Há cerca de um mês, o carteiro deixou por
engano na caixa de correio de A uma citação judicial, que este abriu sem
reparar que era dirigida a B.
A tomou, assim, conhecimento de contra B corre uma ação judicial para
cobrança de uma dívida, após o que, durante semanas, comentou com várias
pessoas do seu bairro que “B deve dinheiro a C!”
B já foi abordado por várias pessoas na rua com comentários sobre o assunto,
sentindo-se muito vexado.
Quid iuris?
1 [Dados do caso anterior] Variante: A tomou, assim, conhecimento de contra B
0 corre uma ação judicial para cobrança de uma dívida, após o que, durante
semanas, comentou com várias pessoas do seu bairro que “B está cheio de
dívidas!”.
B já foi abordado por várias pessoas na rua com comentários sobre o assunto,
sentindo-se muito vexado.
Quid iuris?
1 A, estudante de Direito, foi fotografado, sem se aperceber disso, enquanto
1 estudava na biblioteca da FDUL. Alguns meses depois, A deparou com a
imagem captada num site de uma empresa, ilustrando a publicitação do seu
mobiliário de escritório.
 Pode A reagir juridicamente?

1 B é presidente de um importante clube de futebol, tendo sido fotografado à


2 entrada de uma audiência com o Ministro do Desporto. Um jornal publicou
uma fotografia do evento. B não gostou da fotografia publicada e contactou o
jornal exigindo a recolha de todos os exemplares não vendidos, alegando não
ter autorizado a captação da imagem.
 Quid iuris?

1 B, presidente de um importante clube de futebol, proferiu declarações a


3 alguns adeptos à entrada de uma audiência com o Ministro do Desporto. Um
jornalista de uma rádio gravou as declarações sem que B disso se apercebesse.
B alega que não autorizou a gravação e exige um pedido público de desculpas.
 Quid iuris?

1 B é presidente de um importante clube de futebol. À entrada do estádio para


4 assistir a um jogo do clube, B, avistando ao longe um seu amigo de longa
data, dirigiu-lhe um gesto obsceno, que corresponde a uma “private joke”
entre ambos. Um canal de televisão gravou as imagens e decidiu emiti-las em
horário nobre.
B alega que não autorizou a gravação e exige um pedido público de desculpas,
o que o canal rejeita, alegando ser B uma figura pública.
 Quid iuris?
1 B, presidente de um importante clube de futebol, viúvo, foi fotografado a
5 entrar furtivamente num prédio de Lisboa. O jornal “Correio da Tardinha”
sabe que B mantém uma ligação amorosa discreta com um membro do
Governo, que habita nesse prédio, e publica um texto com a “história”,
ilustrado com a fotografia.
B pretende reagir juridicamente, alegando ter sofrido com a exposição de que
foi alvo.
 Quid iuris?
1 O famoso jogador de futebol David Becas aceitou uma proposta para fazer
6 uma campanha publicitária de uma empresa seguradora, consistente em
fotografias para cartazes, pelo cachet de 25000,00 €, que recebeu antes da
sessão fotográfica. Depois de receber as provas fotográficas, o jogador
informou a empresa de que não aceita a utilização das fotos, alegando que
“pareço gordo”. A empresa alega que pagou a utilização das fotografias e
pretende fazer os cartazes.
 Quid iuris?

1 A é empreiteiro com atividade no Montijo, tendo-lhe sido adjudicada pela


7 Câmara a realização de uma obra de reparação do teto do pavilhão desportivo
de uma escola local. Dada a urgência, A colocou trabalhadores seus em
regime de laboração contínua, de dia e de noite.
A obra, pelas suas características específicas, é bastante ruidosa, causando
muito incómodo aos moradores das redondezas - principalmente durante a
noite -, que, sob a liderança de B, pretendem saber se lhes assiste algum
direito para cuja proteção possam requerer tutela jurisdicional.
 Que conselho lhes daria?

1 [Dados do caso anterior] Admita agora que, ao tomar conhecimento da


8 iniciativa promovida por B, A, passando por ele numa rua movimentada, o
empurrou violentamente conta uma parede, causando-lhe escoriações na cara,
ao mesmo tempo que gritava bem alto que Bernardo era “a vergonha do
Montijo”.
 Quid iuris?

1 [Dados do caso 17] Admita agora que B publicou um artigo de opinião num
9 blogue, no qual afirma que a empresa de A – a Montijense Construções, Lda.
– “… faz muito lucro à custa dos subornos que paga às Câmaras”.
 Quid iuris?

2 Em aberto
0

GRUPO TEMÁTICO: AUSÊNCIA

2 Na noite do seu 77.º aniversário (1 de abril de 2015), Asdrúbal saiu de casa,


11 para comprar cigarros, e não mais voltou, sem que alguém soubesse dele.
A sua mulher e o seu filho, Maria e Júlio, nada fizeram até meados de 2020,
altura em que requereram a declaração de morte presumida de Asdrúbal, o
que, por sentença transitada em julgado em janeiro de 2021, veio a suceder,
tendo o património de Asdrúbal sido repartido pelos requerentes.
O único imóvel existente foi atribuído a Maria, que, passados poucos meses,
o vendeu e casou com Manuel. A Júlio coube, nomeadamente, um automóvel
quase novo, que, pouco tempo depois, ficou gravemente danificado, quando,
1
Autoria: Carlos Lacerda Barata (adaptado).
por manifesta negligência, Júlio o fez embater num muro.
No mês passado – depois de ter passado os últimos anos a viajar pelo Mundo
– Asdrúbal regressou, pretendendo retomar a vida de casado e recuperar todos
os seus bens.
Quid iuris?

GRUPO TEMÁTICO: INCAPACIDADE (PESSOA SINGULAR) E EMANCIPAÇÃO

2 A, no dia em que faz 17 anos pretende vender as suas libras de ouro


22 (recebidas aquando do batismo), avaliadas em 20.000 Euros, para vir a
comprar um sistema informático de 18.000 Euros. Prepara-se para vendê-las,
surpreendentemente, por 22.000 Euros. Pede autorização aos pais. Os pais
autorizaram uma semana mais tarde, exigindo que os 4.000 Euros
remanescentes fossem depositados no Banco. A, logo ali, aceita e celebra
nesse mesmo dia os dois negócios. À noite, os pais recebem os 4.000 Euros
sobrantes e, no dia seguinte, depositam-nos na conta há muito aberta em
nome do filho.
Pronuncie-se quanto à validade dos atos praticados.

2 A, de 15 anos, aparenta 17 anos. Põe barba postiça, fato e gravata


33 (aparentando agora 20 anos) e no El Corte Inglês compra um relógio por
4.000 Euros. Os pais no dia do 17.º aniversário do filho, veem o relógio
comprado no pulso deste. Pretendem reaver o dinheiro, devolvendo o relógio.
Quid iuris?
24 A, de 15 anos, aparenta surpreendentemente 20 anos. No El Corte Inglês
compra um relógio por 4.000 Euros. Os pais, no dia do 17.º aniversário do
filho, vêem o relógio comprado no pulso deste. Pretendem reaver o dinheiro,
2
Autoria desconhecida. Introduzidas adaptações.
3
Autoria desconhecida. Introduzidas adaptações.
devolvendo o relógio.
Quid iuris?

25 No dia do seu 17.º aniversário A casou com B, sem autorização do respetivo


tutor, C, seu irmão. B tinha então 16 anos, mas o casamento foi autorizado
pelo seu pai, D (a mãe havia falecido anteriormente).
À data do casamento, A trabalhava como desenhador num atelier de
arquitetura, para o que tinha sido autorizado, antes do casamento, por C,
tendo de seu dois apartamentos, que havia herdado de seus pais. Após o
casamento, A e B passaram a habitar num dos apartamentos.
Em fevereiro do mesmo ano, B convenceu A a vender o outro apartamento, o
que veio a ocorrer nesse mesmo mês. No mês seguinte, e com os salários de
janeiro e fevereiro, A adquiriu num antiquário uma mesa de jantar Art Deco,
pela quantia de 2.500,00 €.
1. Em que circunstâncias pode ter sido atribuída a C a tutela de A?
2. Aprecie a validade do casamento separadamente em relação a A e
a B.
3. Pronuncie-se quanto à validade da venda do apartamento e da
compra da mesa.

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