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APRECIAÇÃO CRÍTICA DE FREI LUÍS DE SOUSA: EM BUSCA DO DIAMANTE…

Sendo uma perfeita ilustração da sociedade do século XVII, Almeida Garret, através da peça Frei
Luís de Sousa, transporta-nos para uma nação que, já há 21 anos, perdeu a sua independência.
Entre toda esta algazarra, focamo-nos numa única família cujos problemas espelham o tumulto
geral. Além disso, cada uma das personagens reflete uma profunda e diferente dimensão da
realidade que, quão mais analisada e compreendida, permite-nos criar um mais claro retrato dos
seus sentimentos.

Logo no início da peça, deparamo-nos com D. Madalena e Telmo que, referenciando o falecido
D. João de Portugal, por um lado, revelam as suas preocupações e receios e, por outro, as
saudades. Ficamos ainda, durante a primeira parte, a conhecer Maria, uma rapariga frágil, mas
muito inteligente que, influenciada pelos livros e opiniões do seu aio, persiste em acreditar na
ideia criada pelo povo: o iminente regresso de D. Sebastião, o Desejado. Ainda, vimos a conhecer
o marido de D. Madalena e pai de Maria: D. Manuel de Sousa Coutinho. Este, em conjunto com
a sua família, serve para representar o Novo Portugal - o símbolo da esperança portuguesa.

Verificamos, ao longo do texto, que, isolada pelos seus pensamentos e medos, D. Madalena de
Vilhena se vê dominada pelos sentimentos, renunciando, frequentemente, a razão. Os variados
presságios que surgem, acabam por encurralar a família numa grande tragédia cujo culminar está
no reaparecimento de D. João de Portugal. Ora, este acontecimento demonstra ser “a gota de
água” para a desintegração de toda a família – com a morte (física ou simbólica) das personagens
ficamos a compreender que, com eles, morre também a esperança de reconquistar a
independência da Nação. Tal como D. Madalena, mesmo hoje em dia, muitos se deixam levar
pela angústia e tormento do passado, fracassando em viver o presente e colocando em causa o
futuro.

As emoções que vamos encontrando ao longo da leitura da peça, mesmo quatro séculos depois,
demonstram ser predominantes e fulcrais na sociedade em que vivemos. Enquanto que D.
Manuel de Sousa Coutinho e os seus apoiantes procuravam, constantemente, reaver a liberdade
da Nação; atualmente, cada um luta pela liberdade de expressão que, frequentemente, é
comprometida pela incompreensão da informação disponível. Esta evidente semelhança entre
os objetivos pelos quais se luta, permite, também, reconhecer que os pensamentos e visões não
variam tanto.

Para concluir, o drama presente em Frei Luís de Sousa relata, não só, a história de uma família,
mas, de uma nação inteira. As personagens, cujos sentimentos não nos deixam indiferentes,
sugerem uma nova realidade que, apesar de distante no tempo, se assemelha às perspetivas
atuais. Assim, a intemporalidade de uma mensagem é, sem dúvida, o diamante de qualquer
grande joia.

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