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VIGILÂNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR: A INSTALAÇÃO DE CÂMERAS

COMO CONTROLE TERRITORIAL


LÍVIA VARGAS DE SOUZA1

Resumo: A escola é analisada por Foucault (1987) como uma instituição disciplinar
onde os mecanismos de poder, capazes de controlar o espaço, se destacam. Tais
controles são facilmente percebidos quando visitamos a maioria das escolas
brasileiras. Diante deste quadro, o presente trabalho tem como objetivo apresentar
qual o papel da vigilância por câmeras no controle territorial do espaço escolar, onde
as câmeras intensificam a dinâmica da vigilância espacial no contexto da sociedade
biopolítica. Este trabalho é fruto das pesquisas iniciais do mestrado que vem sendo
realizada no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal
Fluminense – UFF na linha de pesquisa Ordenamento Urbano-Regional.

Palavras-chave: Espaço Escolar; Câmeras; Vigilância

Abstract: The school is analyzed by Foucault (1987) as a disciplinary institution


where the mechanisms of power, able to control space, stand out. Such controls are
easily perceived when we visit most Brazilian schools. The objective of this work is to
present the role of surveillance by cameras in the territorial control of school space,
where the cameras intensify the dynamics of space surveillance in the context of
biopolitical society. This work is the result of the initial researches of the master's
degree that has been carried out in the Postgraduate Program in Geography of the
Universidade Federal Fluminense - UFF in the research line Urban-Regional
Planning.

Key-words: School space; Cameras; Surveillance

Introdução
1- Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense. E-mail de
contato: professoraliviavargas@gmail.com

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Nas últimas décadas, placas com a informação “Sorria, você está sendo
filmado!” se tornaram comuns nos variados locais das cidades brasileiras: bancos,
shoppings, ruas, praças, condomínios fechados, hospitais. Com a expansão dos
aparatos de vigilância, questões surgem, tais como: a câmera está ligada? Estão me
vigiando agora? E se meu comportamento não for adequado, o que farão comigo?
As imagens ficarão armazenadas? Os questionamentos sobre a vigilância, ampliada
no espaço cotidiano, se voltam aqui para um espaço específico: a escola. E para
além dos questionamentos anteriores, colocam-se outros: o que é a vigilância na
escola? Quando as câmeras fazem parte do espaço escolar? Há um controle sobre
os membros da comunidade escolar a partir das câmeras? A quem ou a o quê
servem as imagens?
A escola é analisada, junto com as prisões e os hospícios, por Foucault
(1987) em sua obra “Vigiar e Punir”, como uma instituição disciplinar onde os
mecanismos de poder, capazes de controlar o espaço, se destacam. Tais controles
são facilmente percebidos quando visitamos a maioria das escolas brasileiras: os
horários rígidos, a disposição das mesas e cadeiras em sala de aula, os sinais
sonoros, os inspetores, a caderneta escolar, o regulamento escolar dentre outros
fatores que variam de acordo com as instituições.
Quando se trata de câmeras na escola, um espaço extremamente
hierarquizado, vigiado e controlado, tais questões apresentam ainda mais
notoriedade e tensionamentos entre os sujeitos que vivem no espaço escolar, e
desdobramentos na dinâmica da escola. Este contexto de aumento da vigilância das
unidades de ensino através das câmeras também está incluída a rede pública de
ensino do estado do Rio de Janeiro.
A rede estadual de educação do estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) é
dividida em 14 Regionais Administrativas e Pedagógicas, além da Diesp, Diretoria
Especial de Unidades Escolares Prisionais e Socioeducativas2. O município de São
Gonçalo forma uma regional única, a Metropolitana II, contando com cerca de 96
escolas, muitas delas em estado precário de funcionamento.

2
Disponível em: Educação. Diretorias Regionais. <http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-
id=375402>. Último acesso: 05 set. 2016.

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Nos últimos anos, nota-se o crescimento de instalações de câmeras dentro
das unidades escolares da regional Metropolitana II. Tal fato surpreende, já que,
normalmente, a instalação desses equipamentos requer alto investimento financeiro
e, no cotidiano das escolas, é nítida a precarização das infraestruturas básicas
influenciando diretamente no processo de ensino-aprendizagem.
Reconhecendo que a instalação de câmeras tem desdobramentos nas
relações de poder na escola, e também, no sentido de ampliarmos o debate sobre o
controle vigilância no espaço escolar, perguntamos: Qual é a relação entre o
controle e vigilância por câmeras em escolas da rede estadual de São Gonçalo/RJ e
os possíveis conflitos territoriais no espaço escolar?

Espaço escolar, vigilância, câmeras e controle territorial: primeiras


aproximações
As escolas estão inseridas dentro de uma sociedade em que a questão da
segurança está em evidência a todo o momento, onde controlar “risco” torna-se cada
vez mais a prática cotidiana dos cidadãos e das instituições governamentais. Para o
sociólogo Ulrich Beck (2010) a sociedade de risco corresponde a uma fase da
moderna sociedade industrial em que a dinâmica de mudança e incerteza é tal que
as instituições de “controle e proteção” não conseguem dar conta da produção de
riscos de todo tipo – políticos, ecológicos, individuais.
O termo sociedade de risco é utilizado para caracterizar nosso tempo, visto
que a grande preocupação com o fato de “correr riscos” e as medidas preventivas
aplicadas para reduzi-los tornam-se prioridade nos investimentos e discursos
públicos (Haesbaert, 2012 p. 75). Para aprofundar a ideia de como a sociedade de
risco está estruturada, buscamos o conceito de “sociedade de segurança” ou
“biopolítica”, proveniente da análise proposta por Foucault (1988), para quem na
sociedade contemporânea estaria ocorrendo o declínio da “sociedade disciplinar” e
do “poder soberano”.
Devemos entender o “poder soberano” como aquele fundado no início da
formação do Estado Moderno, onde o conceito de território aparece correlato ao de
espaço de soberania do Estado-nação e onde o sistema jurídico consistia na criação
de uma lei e no estabelecimento de uma punição para os que a infringirem,

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chamado de mecanismo legal ou jurídico (Foucault, 2008). Já o “poder disciplinar”
(Foucault, 1987), fortalecido ao longo dos séculos XVIII e XIX, é caracterizada por
“microterritórios” disciplinares, onde a figura do indivíduo e seu controle é uma
questão central.
O poder disciplinar é constituído por normas que enquadram por mecanismos
de vigilância e de correção (Foucault, 2008) e está diretamente ligado às instituições
disciplinares, vinculadas aos sistemas prisionais, militares, hospitalares e escolares
onde a realocação dos indivíduos em tais instituições envolve uma lógica de
passagem do indivíduo de um espaço disciplinar para outro, de forma descontínua,
mas integrada, visando a sua disciplinarização. Desta forma:
Esse espaço fechado, recortado, vigiado em todos os seus pontos,
onde os indivíduos estão inseridos num lugar fixo, onde os menores
movimentos são controlados, onde todos os acontecimentos são
registrados, onde um trabalho ininterrupto de escrita liga o centro e a
periferia, onde o poder é exercido sem divisão, segundo uma figura
hierárquica contínua, onde cada indivíduo é constantemente localizado
(...) isso tudo constitui um modelo compacto do dispositivo disciplinar.
(FOUCAULT, 1987, p. 163)
Dentre as diversas perspectivas que podemos compreender a escola, e seus
mecanismos de vigilância, partiremos da abordagem realizada por Foucault, em sua
obra clássica “Vigiar e Punir”. A escola é caracterizada como uma instituição
disciplinar estruturada por mecanismos de vigilância e controle do espaço com o
objetivo do controle dos corpos utilizando a disciplina como formas de dominação
principalmente a partir dos séculos XVII e XVIII (Foucault, 1987, p. 118).
Nas instituições disciplinares, com o foco na escola, a organização e o
controle do espaço têm um protagonismo que será a base para as demais formas de
dominação, “a disciplina procede em primeiro lugar à distribuição dos indivíduos no
espaço” (Foucault, 1987 p. 121). A partir desta dinâmica espacial outros tipos de
controle serão realizados, tais como os das atividades que terão o horário e a
organização temporal regulados de forma que o tempo terá também uma enorme
importância: “o tempo penetra o corpo, e com ele todos os controles minuciosos do
poder” (Foucault, 1987 p. 129), fazendo com que o ritmo, a repetição e a eficiência
das ações tenham uma importante dimensão.

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O controle do espaço e do tempo na escola é realizado através de técnicas de
controle como divisão das turmas em segmentos, estabelecendo séries organizadas
em um tempo evolutivo, onde a realização de uma prova tem a finalidade de verificar
se o indivíduo atingiu o nível, garantir sua aprendizagem e diferenciar as
capacidades de cada indivíduo (Foucault, 1987, p. 134). Atreladas ao sistema
encontra-se também formas punitivas para esses indivíduos que “compara,
diferencia, hierarquiza, homogeniza, exclui. Em uma palavra, ela normaliza.”
(Foucault, 1987, p. 153). Tal característica se perpetua desde o fim da era clássica
nas instituições.
Apesar do número ainda crescente de pessoas inseridas em tais instituições,
podemos notar uma clara ineficácia em cumprir suas funções básicas, já que o
poder de disciplinar o indivíduo não tem atingido os resultados esperados. Desta
forma, nota-se a crise deste tipo de sistema, a partir da metade do século XIX,
segundo Foucault, e passamos a ter como dominante a sociedade biopolítica que
passa a se organizar em torno das novas penalidades através de técnicas que
buscam garantir fatores de segregação e de hierarquização social. Garantindo
relações de dominação e efeitos de hegemonia, possibilitando também o
ajustamento da acumulação dos homens à do capital, a articulação do crescimento
dos grupos humanos à expansão das forças produtivas e a repartição diferencial do
lucro. (Foucault, 1988, p. 154). Desta forma, a principal forma de controle da
sociedade biopolítica é caracterizada pelos dispositivos de segurança:
Dispositivo de segurança que vai, para dizer as coisas de maneira
absolutamente global, inserir o fenômeno em questão a saber, o
roubo, numa série de acontecimentos prováveis. Em segundo lugar,
as reações de poder ante esse fenômeno vão ser inseridas num
cálculo que é um cálculo de custo. Enfim, em terceiro lugar, em vez
de instaurar uma divisão binária entre o permitido e o proibido, vai-se
fixar de um lado uma média considerada ótima e, depois, estabelecer
os limites do aceitável, além dos quais a coisa não deve ir. É
portanto toda uma outra distribuição das coisas e dos mecanismos
que assim se esboça. (FOUCAULT, 2008, p. 9)
Assim, as técnicas de segurança consistem na reativação e na transformação
das técnicas jurídico-legais, das técnicas disciplinares e a segurança está inserida
não só os mecanismos de segurança, mas também as velhas estruturas da lei e da
disciplina. Segundo Foucault (2008) os dispositivos de segurança apresentam quatro

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características principais: os espaços de segurança, o tratamento aleatório, a forma
de normalização e a correlação entre a técnica de segurança e a população. Tais
características são apresentadas sempre correlacionando o biopoder com o poder
soberano e disciplinar.
Para analisarmos de que forma os dispositivos de segurança nos ajudam a
compreender as formas de controle espacial, recorremos à Haesbaert (2014) onde
se faz a análise da forma com que cada poder enfatiza um tipo espacial:
Embora possamos e, em certo sentido, até mesmo devamos
discordar dos termos espaciais expostos, mas pouco desdobrados
por Foucault: “território”, “espaço” (hierárquico e funcional) e “meio”,
sem dúvida é importante a distinção de ênfase proposta por ele em
relação às diferentes técnicas espaciais que estão em jogo. Assim,
se obsevarmos não como estágios sucessivos, mas como
modalidades concomitantes, embora desigualmente articuladas, e
tivermos o cuidado de precisar melhor o sentido geográfico de cada
termo, sem dúvida teremos uma boa referência para o entendimento
da espacialidade contemporânea. Tal como na relação inicialmente
ressaltada entre soberania, disciplina e segurança, trata-se aqui de
trabalhar de forma conjugada “território”, “espaço” (disciplinar) e
“meio”. (HAESBAERT, 2014, p. 168)
Podemos identificar, num primeiro momento, a instalação das câmeras no
espaço escolar como um dispositivo de controle da sociedade biopolítica em busca
do controle territorial na instituição clássica disciplinar. Evidencia-se o caráter
aglutinador do poder soberano, disciplinar e biopolítico. O controle do “espaço
disciplinar” está conectado, desta forma, com o controle do “meio” já que para
Foucault:
Os dispositivos de segurança trabalham, criam, organizam,
planejam um meio antes mesmo da nocáo ter sido formada e
isolada. O meio vai ser portanto aquilo em que se faz a círculação.
(...) Portanto, é esse fenômeno de circulação das causas e dos
efeitos que é visado através do meio. E, enfim, o meio aparece
como um campo de intervenção em que, em vez de atingir os
indivíduos como urn conjunto de sujeitos de direito capazes de
ações voluntárias - o que acontecia no caso da soberania -, em vez
de atingi-los como urna multiplicidade de organismos, de corpos
capazes de desempenhos, e de desempenhos requeridos como na
disciplina, vai-se procurar atingir, precisamente, uma população. Ou
seja, urna multiplicidade de indivíduos que são e que só existem
profunda, essencial, biologicamente ligados à materialidade dentro
da qual existem. O que vai se procurar atingir por esse meio é
precisamente o ponto em que uma série de acontecimentos, que
esses indivíduos, populações e grupos produzern, interfere com

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acontecimentos de tipo quase natural que se produzem ao redor
deles. (FOUCAULT, 2008, P.28)
As câmeras instaladas no espaço escolar funcionarão como dispositivos que
poderão controlar a população que circula naquele “meio”, ou seja: estudantes,
docentes e funcionários da escola. Com o objetivo de checar, quando necessário,
acontecimentos que fugiram a um padrão - normalmente disciplinas – esperado. Tal
técnica de controle no espaço escolar é recente e surge a partir do momento em que
há uma precarização da infraestrutura da escola que pode ser relacionada com o
modelo econômico atual onde:
Vivemos o domínio do capital financeiro, especulativo, que se
desloca do setor efetivamente produtivo, gerador de empregos; uma
economia pautada em setores de alta tecnologia, poupadores de
força de trabalho; o desmonte do “Estado-providência” ou do bem-
estar social (que também atuava como válvula de escape,
empregando em épocas de crise) e a superação do padrão de
acumulação fordista, em nome da globalização neoliberal e seus
processos de “flexibilização” e privatização pós-fordistas. Tudo isso
se agrega para criar uma massa de expropriados que passa a ser
considerada um problema, às vezes por sua simples mobilidade
física e/ou por sua reprodução biológica (a mera “ocupação de
espaços” dessa massa ou “população” vista como perigo ou risco).
(HAESBAERT, 2014, p. 183)
A partir do momento em que a população inserida na rede pública de ensino
está, em sua maioria, vinculada aos territórios precários, a vigilância e o controle
serão cada vez mais colocados como prioridade nos espaços onde elas circulam -
“meio” para Foucault - das mais diversas formas e uma delas será o controle
realizado a partir da instalação de câmeras na escola.
A educação pública, incluindo o recorte espacial deste trabalho (a rede
estadual de educação de São Gonçalo), está sendo atingida pela debilitação do
Estado em aspectos essenciais do seu funcionamento, como falta de professores e
de funcionários de apoio (todas as escolas da rede estadual de educação do Rio de
Janeiro estão sem porteiro desde o início de 20163), diminuição drástica da verba de
manutenção, salários parcelados dos funcionários, dentre outros. Apesar desse

3
Escolas da rede estadual do RJ estão desde o início do ano sem porteiros. Fonte: Disponível em:
<http://cbn.globoradio.globo.com/default.htm?url=/rio-de-janeiro/2016/04/01/ESCOLAS-DA-REDE-
ESTADUAL-DO-RJ-ESTAO-DESDE-O-INICIO-DO-ANO-SEM-PORTEIROS.htm>. Acesso em: 01 set.
2016.

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contexto, de intensa precarização da educação estadual, diversas escolas estaduais
do município instalaram câmeras nos últimos anos.
O controle por câmeras na escola provoca transformações nas relações de
poder na instituição. A partir da vivência dos atores das escolas com câmeras
instaladas buscaremos identificar as táticas de resistência frente a esse controle
exercido por quem tem acesso às imagens das câmeras e controla o seu uso. A
forma como ocorre a utilização das imagens capturadas pelas câmeras nas escolas
é a peça-chave para identificarmos as relações de poder entre quem controla estas
imagens e quem é controlado por elas e, a partir de que tipos de ações os atores,
principalmente estudantes e professores, buscam contornar esse controle.
A abordagem metodológica da pesquisa contará inicialmente com um
levantamento bibliográfico de trabalhos que envolvam a temática sobre a vigilância,
controle territorial, biopolítica, espaço escolar e resistências no campo de estudo das
ciências sociais com o objetivo de contextualizar e reinterpretar a vigilância por
câmeras no espaço escolar. Consultaremos também matérias publicadas em
periódicos na internet, jornais e revistas a respeito do processo de mudanças que
estão ocorrendo nas escolas modernas, principalmente sobre o controle exercido
por novas tecnologias.
Também levantaremos dados sobre a existência de uma legislação estadual
acerca da regulamentação da instalação e utilização das imagens das câmeras nas
unidades de ensino com pesquisa no Diário Oficial e trabalho de campo à Regional
Metropolitana II com o objetivo de identificar as escolas que tem câmeras instaladas
em suas dependências através de entrevistas abertas com os funcionários
administrativos.
Após a identificação de todas as unidades escolares que possuem câmeras
instaladas realizaremos uma cartografia da vigilância por câmeras nas escolas da
rede estadual de São Gonçalo, utilizando dos softwares Google Earth e ArcGIS, com
objetivo de realizar uma análise multiescalar da relação dessa forma de controle
espacial com a cidade de São Gonçalo.
A partir da realização dessa cartografia, será realizado estudos de casos em
duas escolas. Pretende-se selecionar escolas que o sistema de câmeras foi

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instalado em momentos distintos: uma escola com sistema instalado há mais tempo
– de preferência a primeira em que as câmeras foram utilizadas - e, a segunda
escola escolhida será onde a autora trabalha há 5 anos, o CIEP 513 George Savalla
Gomes “Palhaço Carequinha”.
Os estudos de caso contarão 4 etapas: caracterização das unidades
escolares; levantamento de análise documental interna que tenham relação com o
controle e vigilância da escola a partir das câmeras; elaboração de entrevistas
semiestruturadas com os atores a fim de compreender como o mecanismo de
vigilância através das câmeras é exercido nos espaços escolares; e, por fim, após
análise das entrevistas preliminares, construir entrevistas semiestruturadas para
identificar como os estudantes e professores se relacionam espacialmente com a
vigilância no espaço escolar, principalmente a partir das câmeras instaladas, e quais
seriam as possíveis táticas de resistência a esse controle territorial.

Resultados Preliminares e Considerações Finais

Pesquisa encontra-se na fase inicial, já há um levantamento prévio realizado


com docentes e funcionários da rede estadual que trabalham no município de São
Gonçalo, onde foram levantados dados de 28 das 96 escolas e identificadas 21
escolas com câmeras instaladas. Este levantamento inicial está sendo organizado
em uma tabela que está sendo preenchida a partir com encontros com demais
docentes e funcionários nos diversos espaços de diálogo: na própria escola (sala
dos professores, corredores, salas de aula, copa, refeitório), em paralisações dos
funcionários da educação e em assembleias do sindicato.
O projeto de pesquisa foi elaborado em Setembro de 2016, quando não havia
nenhuma informação acerca da instalação de câmeras na escola onde a autora
trabalha. Na primeira reunião geral do ano letivo de 2017 a direção anunciou que a
contratação do sistema de câmeras já havia ocorrido, incluindo seu pagamento,
porém, empresa contratada pela direção da escola, até Junho de 2017, não havia
realizado o serviço. A partir desse fato, a reação dos funcionários e professores seus
discursos e as relações de poder entre os atores no espaço escolar tornou-se um

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rico cenário para a pesquisa pretendida, fazendo com que a escola seja uma das
escolhidas para o estudo de caso, utilizando a metodologia da pesquisa participante.
Por fim cabe ressaltar que a escola é estudada tradicionalmente pelos
pesquisadores das ciências da educação, como a didática, pedagogia, a sociologia
da educação e outras. A abordagem através do espaço escolar é negligenciada
pelos estudos dos geógrafos e professores de geografia. Ter como objeto de estudo
o espaço escolar e de que forma a vigilância por câmeras impacta as dinâmicas
espaciais existentes é proporcionar uma leitura geográfica de relevância científica
para esse recorte espacial, ampliando o domínio de estudo da ciência geográfica
para uma área usualmente pouco explorada.

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