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PREPARAÇÃO

FÍSICA GERAL

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


Claretiano – Centro Universitário
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cead@claretiano.edu.br
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Meu nome é Sérvio Antônio Bucioli. Graduei-me em Licenciatura


Plena em Educação Física pelo Claretiano e sou mestre em
Biociências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (USP – Ribeirão Preto), onde desenvolvi pesquisas em
Nutrologia sobre os danos causados pelo exercício excessivo
e sobre a ação de vitaminas antioxidantes na prevenção dos
efeitos oxidativos causados no DNA. Atualmente, faço parte do
corpo docente do Claretiano – Centro Universitário (Ceuclar),
ministrando aulas presenciais das seguintes disciplinas: Medidas
e Avaliações da Atividade Motora, Preparação Física Desportiva,
Cinesiologia, Biomecânica, Estratégias Nutricionais e Suplementação Esportiva. Na
Pós-Graduação, leciono Estudos Avançados em Educação Física e Saúde, Didática
e Prática do Condicionamento Físico em Academias e Treinamento Personalizado,
Fisiologia do Exercício, Fisiopatologias, Populações Especiais e Saúde, Treinamento
Juvenil – Aprendizagem e Desenvolvimento Motor, Planejamento e Periodização do
Treinamento Esportivo, e Suplementação Nutricional voltados ao Esporte e à Estética.
Nos cursos a distância, ministro as disciplinas de Nutrição Aplicada à Atividade Física,
Atividade Física na Terceira Idade, Preparação Física Geral.
Desde já manifesto minha satisfação em dividir com você essa experiência profissional,
colocando-me à disposição para o que for necessário.
E-mail: serviobucioli@claretiano.edu.br
Sérvio Antônio Bucioli

PREPARAÇÃO
FÍSICA GERAL

Batatais
Claretiano
2019
© Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma
e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o
arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação
Educacional Claretiana.

CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia
Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori
Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia
Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Simone Rodrigues de Oliveira
Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus
Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni
• Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgarelli • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa
Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami
Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso
Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

613.7 B934p 
 
        Bucioli, Sérvio Antônio 
             Preparação física geral / Sérvio Antônio Bucioli – Batatais, SP : Claretiano, 2019.  
                 228 p.   
 
                  ISBN: 978‐85‐8377‐586‐7 

       1. Princípios científicos do treinamento. 2. Capacidades físicas. 3. Periodização. 
       4. Preparação técnica. 5. Preparação tática e preparação psicológica. I. Preparação física  
       geral.  
  
 
 
 
 
                                                                                                                                                          CDD 613.7 

INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: Preparação
 
Física Geral
Versão: ago./2019
Formato: 15x21 cm
Páginas: 228 páginas
SUMÁRIO

CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................
9
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS............................................................................. 11
3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE................................................................ 13
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 14
5. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 15

Unidade 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 19
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 20
2.1. CONCEITUAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DE TREINAMENTO.......................... 20
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 69
3.1. PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO....................................... 69
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 70
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 73
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 74
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 74

Unidade 2 – CAPACIDADES FÍSICAS


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 79
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 79
2.1. CAPACIDADES FÍSICAS............................................................................. 79
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 119
3.1. CAPACIDADES FÍSICAS............................................................................. 119
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 120
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 123
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 124
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 124
Unidade 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 129
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 129
2.1. PLANEJAMENTO DA FORÇA.................................................................... 130
2.2. PERIODIZAÇÃO DA FORÇA....................................................................... 156
2.3. APLICAÇÃO DO TREINAMENTO DE POTÊNCIA
ÀS ESPECIFICIDADES DOS ESPORTES..................................................... 169
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 174
3.1. PERIODIZAÇÃO......................................................................................... 174
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 175
5. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 178
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 178

Unidade 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 183
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 183
2.1. PREPARAÇÃO TÉCNICA, PREPARAÇÃO TÁTICA E PREPARAÇÃO
PSICOLÓGICA............................................................................................ 183
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 220
3.1. PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA................................... 220
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 221
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 225
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 226
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 226
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Conteúdo
Este estudo aborda o aprofundamento dos métodos de avaliação das diferen-
tes capacidades físicas no processo de periodização do treinamento desporti-
vo, compartilhadas com a preparação técnica, tática e psicológica dos atletas.
É uma introdução aos estudos das capacidades físicas e das habilidades mo-
toras nas diversas faixas etárias e em condições especiais.

Bibliografia Básica
BOMPA, T. O. A periodização no treinamento desportivo. 4. ed. Barueri: Manole, 2001.
PLATONOV. V. N. Teoria geral do treinamento desportivo olímpico. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
WEINECK, J. Treinamento ideal. 9. ed. Barueri: Manole, 2003.

Bibliografia Complementar
ASTRAND, P. O.; RODAHL, K. Tratado de fisiologia do exercício. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1987.
BARBANTI, V. Aptidão física: um convite à saúde. Barueri: Manole, 1990.
BITTENCOURT, N. Musculação: uma abordagem metodológica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Sprint, 1986.
DANTAS, E. H. M. Flexibilidade: alongamento e flexionamento. 2. ed. Rio de Janeiro:
Shape, 1991.
FOX, E. L. et al. Bases fisiológicas da educação física e dos desportos. 4. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.
MATVEEV, L. P. Preparação desportiva. Londrina: CID, 1996.
TRITSCHLER, K. A. Medida e avaliação em educação física e Esportes. de Barrow &
McGee. 5. ed. Barueri: Manole, 2003.

7
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

POWERS, S. K.; HOWLEY, E. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento


e ao desempenho. 3. ed. Barueri: Manole, 2000.
WEINECK, J. Treinamento ideal. 9. ed. Barueri: Manole, 2003.
ZAKHAROV, A.; GOMES, A. C. Ciência do treinamento desportivo. Rio de Janeiro: Grupo
Palestra, 1992.

É importante saber
Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:
Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá
ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias
à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos,
os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento
ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de
saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente se-
lecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados
em sites acadêmicos confiáveis. É chamado "Conteúdo Digital Integrador" porque é
imprescindível para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referência. Juntos,
não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementares) e a leitu-
ra de "navegação" (hipertexto), como também garantem a abrangência, a densidade
e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigató-
rios, para efeito de avaliação.

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8
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo ao estudo de Preparação Física Geral.
Esperamos que os conhecimentos que vamos compartilhar
sejam úteis em sua formação acadêmica e em suas atividades
profissionais.
Quando falamos de preparação física, buscamos angariar
subsídios que alicercem e solidifiquem esta área de atuação
muito abrangente. Esta não é nossa intenção, e também seria
humanamente impossível explorar todos os conteúdos que com-
põem este material. Por isso, é muito importante que você trans-
ponha os conhecimentos adquiridos em nosso estudo e busque
outras fontes no ramo da Preparação Física com que mais tenha
afinidade.
Com o estudo desta obra, você poderá compreender mui-
tos conceitos imprescindíveis em sua formação e refletir de for-
ma bastante abrangente sobre eles.
Buscamos confeccionar um material de leitura simples e
agradável, com o que temos de mais relevante quando se trata
da Preparação Física Geral. Você é quem determinará o que será
proveitoso, bem como seu comprometimento e sua dedicação.
Conheceremos quais são os princípios científicos da Prepa-
ração Física. Notaremos quão importante é a figura do educador
físico na detecção dos perfis individuais e adaptativos, na mensu-
ração das sobrecargas de treinamento, na especificidade de cada
treinamento, atingindo cada objetivo de maneira singular, assim
como a relação entre o volume e a intensidade do treinamento.
Veremos como a continuidade na preparação física é im-
portante. Estudaremos os princípios relacionados à saúde que

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


9
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

nos levarão a refletir sobre a importância do trabalho multidisci-


plinar em benefício de nosso aluno/atleta. Ele busca em nós seus
resultados e confia em nosso trabalho, projetando seus anseios
naquilo que planejamos durante a realização de nossa prática
profissional.
Verificaremos os componentes das qualidades físicas e a
importância de cada capacidade no desenvolvimento global da
performance, analisando-os de maneira bastante clara e objetiva.
Ao tomar conhecimento de cada uma das capacidades fí-
sicas, ampliaremos o universo de conhecimentos, em especial
sobre os componentes da Preparação Física que versam sobre a
velocidade, a flexibilidade, a resistência e a coordenação e, pos-
teriormente, a força e sua periodização.
Os principais conceitos relacionados à preparação física,
mediante os tópicos específicos elencados ao longo do estudo,
rumam à efetivação da práxis pedagógica por meio da aplicação
desses conhecimentos em seu cotidiano profissional.
Discorrendo sobre a planificação do treinamento, neste
momento do aprendizado já teremos conhecido e entendido
os princípios que regem a Preparação Física Geral e suas capa-
cidades, assim como poderemos entender os ciclos de treina-
mento e como devem ser seguidos os períodos de treinamento
(periodização).
Para melhor compreensão e abrangência, e pela imensa
gama de informações sobre a periodização, estamos seguindo
uma vertente de estudo única, com o intuito de não gerar diver-
gências ou interpretações diversas sobre os distintos métodos
de planificar o treinamento esportivo, deixando cada etapa que
compõe a Preparação Física Geral o mais didática possível.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


10
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Por fim, detalharemos a preparação técnica, tática e psi-


cológica, em que entenderemos cada um desses conceitos e os
princípios de sua aplicação em nosso cotidiano profissional.
Desejamos que cada abordagem aqui realizada seja uma
chave que abra portas em sua formação e que, ao estudar Pre-
paração Física Geral, vocês possam agregar não somente conhe-
cimentos, mas valores que lhe acompanharão por toda a vida
acadêmica e profissional!

2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e
precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domí-
nio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conheci-
mento dos temas tratados.
1) Alterações assintomáticas: são alterações que não
apresentam sintomas evidentes e devem ser detecta-
das por meio do conhecimento entre o professor e o
aluno/atleta.
2) Atividades acíclicas: são as atividades realizadas sem
que o gesto esportivo seja repetido continuamente,
como nos esportes coletivos futebol, voleibol, hande-
bol e todas as modalidades cuja realização não deman-
da repetições.
3) Atividades cíclicas: são as atividades que se repetem
ou são praticadas de forma contínua, com o mesmo
gesto esportivo, como, por exemplo, o ciclismo, a na-
tação, a corrida e o remo.
4) Contração isocinética: ocorre quando a velocidade do
movimento é constante.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

5) Contração isométrica: processo em que há gasto ener-


gético e no qual o comprimento das fibras musculares
não se altera.
6) Contração isotônica: condição em que um músculo se
contrai e realiza trabalho e movimento articular contra
uma resistência.
7) Contração isotônica concêntrica: processo em que há
gasto energético e que resulta no encurtamento das
fibras musculares.
8) Contração isotônica excêntrica: processo em que há
gasto energético e que resulta no alongamento das fi-
bras musculares.
9) Elasticidade muscular: refere-se a capacidade dos mús-
culos em distenderem-se e recuperarem o seu compri-
mento inicial, depois de efetuarem uma contração.
10) Feeling: palavra popularmente que se refere a senti-
mento, porém em preparação física deve ser entendida
como , o ato de tomar decisões embasadas na sensibi-
lidade, com a intuição de colocar em prática os proce-
dimentos a serem utilizados no momento correto.
11) Maleabilidade: literalmente é a qualidade do que é
maleável, flexível, de maneira figurada seria a  capaci-
dade de adaptação, de compreensão; docilidade, flexi-
bilidade, mas esta referência em preparação física deve
ser entendida como as propriedades que permitem
modificações da pele relacionadas a tensões parciais
causadas pelas acomodações do segmento utilizado.
12) Mobilidade: grau de liberdade de movimento da
articulação.

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12
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

13) Núcleo supraquiasmático: localizado no hipotálamo,


é considerado o “relógio” responsável pelo controle e
processamento das informações. É um centro de re-
gulação e estimulação de melatonina pela glândula
pineal.
14) Plasticidade: característica referente ao grau de defor-
mação temporária das estruturas musculares ou arti-
culares para a realização do movimento, restando ain-
da um grau residual de deformação após a aplicação
do estímulo conhecido como histeresis.
15) Ritmos circadianos: correspondem ao ciclo de um dia
do ponto de vista biológico, ou seja, todas as altera-
ções orgânicas de ordem física, mental ou psicológi-
ca que podem ser influenciadas por diversos fatores,
como luz, calor, entre outros. O sono, a digestão e a
temperatura corporal são controlados e também con-
trolam esse ciclo.
16) Somatização: relativo a somar ou acumular. Em nosso
contexto, é a associação a uma sequência de estados
de lassidão que gera o cansaço.
17) Strain: é descrito por alguns autores como um estado
de sobretreinamento; estresse, esforço em excesso.

3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE


O Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos concei-
tos mais importantes deste estudo.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Princípios Científicos da 
Preparação Física 
Preparação Tática Individualidade Biológica, 
Adaptação, Sobrecarga, 
Preparação Técnica 
Interdependência Volume‐
Preparação Psicológica  Intensidade, Continuidade, 
Variabilidade e Saúde 
 

PREPARAÇÃO FÍSICA   
GERAL 
Força, Planejamento e 
Periodização  Capacidades Físicas 
Preparação Física Geral  Velocidade 
Preparação Física Especial Flexibilidade 
Periodização da Força  Resistência  
Coordenação 

Figura 1 Esquema de Conceitos-chave de Preparação Física Geral.


 

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASTRAND, P. O.; RODAHL, K. Tratado de Fisiologia do Exercício. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1987.
BARBANTI, V. Aptidão física: um convite à saúde. Barueri: Manole, 1990.
BITTENCOURT, N. Musculação: uma abordagem metodológica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Sprint, 1986.
BOMPA, T. O. A periodização no treinamento desportivo. Barueri: Manole, 2001.
DANTAS, E. H. M. Flexibilidade: alongamento e flexionamento. 2. ed. Rio de Janeiro:
Shape, 1991.
FOX, E. L. et al. Bases fisiológicas da Educação Física e dos desportos. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1991.
MATVEEV, L. P. Preparação desportiva. Londrina: CID, 1996.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

PLATONOV. V. N. Teoria Geral do Treinamento Desportivo Olímpico. Porto Alegre:


Artmed, 2004.
______. Teoria Geral do Treinamento Desportivo Olímpico. Porto Alegre: Artmed, 2008.
POWERS, S. K.; HOWLEY, E. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condicionamento
e ao desempenho. Barueri: Manole, 2000.
TRITSCHLER, K. A. Medida e avaliação em Educação Física e Esportes de Barrow &
McGee. Barueri: Manole, 2003.
VERKHOSHANSKI, I. V. Força: treinamento de potência muscular. Londrina: CID, 1996.
WEINECK, J. Treinamento ideal. Barueri: Manole, 2003.
ZAKHAROV, A.; GOMES, A. C. Ciência do treinamento desportivo. Rio de Janeiro: Grupo
Palestra, 1992.

5. E-REFERÊNCIAS
DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. 5. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.
Disponível em: <https://docs.google.com/folderview?id=0B02-rtNfmjFOYjg1OWFl
ZGQtMTE4Ny00OGIwLThlNzYtMTU3ZTVhNjhmOTQx&usp=drive_web&hl=pt_BR>.
Acesso em: 16 mar. 2016.
TUBINO, M. J. G. Metodologia científica do treinamento desportivo. 13. ed. Rio de
Janeiro: Shape, 2003. Disponível em: <https://www.worldcat.org/title/metodologia-
cientifica-do-treinamento-desportivo/oclc/77541792>. Acesso em: 12 mar. 2019.

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15
© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL
UNIDADE 1
PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO
TREINAMENTO

Objetivos
• Compreender cada um dos Princípios Científicos do Treinamento e iden-
tificá-los durante a Preparação Física Geral.
• Analisar as diferentes particularidades descritas em cada princípio e con-
seguir empregá-las durante o processo de preparação física.
• Identificar os Princípios Científicos do Treinamento em quaisquer modali-
dades de Preparação Física e entender cada um deles dentro do processo
de elaboração da Preparação Física Geral.

Conteúdos
• Princípio da Individualidade Biológica.
• Princípio da Adaptação.
• Princípio da Sobrecarga.
• Princípio da Especificidade
• Princípio da Interdependência Volume-Intensidade.
• Princípio da Continuidade.
• Princípio da Variabilidade.
• Princípio da Saúde.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Não se limite somente ao conteúdo deste Conteúdo Básico de Referên-


cia; busque outras informações em sites, artigos e revistas confiáveis e/

17
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

ou nas referências bibliográficas, apresentadas ao final de cada unidade.


Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamento pessoal é um fator
determinante para o seu crescimento intelectual.

2) Busque entender e identificar os principais conceitos apresentados sobre


a atividade física na terceira idade, de maneira a integrar este estudo ao
seu cotidiano profissional.

3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no Conteú-


do Digital Integrador.

4) Sempre integre o conteúdo teórico à sua prática profissional, fazendo com


que o aprendizado seja afixado de maneira a contribuir para seu sucesso
profissional.

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18
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

1. INTRODUÇÃO
Quando falamos sobre os Princípios do Treinamento Es-
portivo, devido ao grande número de publicações de estudiosos
sobre as ciências que regem a Preparação Física, podemos nos
deparar com diferentes nomenclaturas desses princípios, com
conceitos muito bem definidos.
Dessa forma, delinearemos nossas definições nas obras
mais referenciadas no estudo destes Princípios de Treinamento.
Pautaremos nosso estudo em Tubino (2003) para elucidar
os primeiros cinco princípios:
1) Princípio da Individualidade Biológica.
2) Princípio da Adaptação.
3) Princípio da Sobrecarga.
4) Princípio da Especificidade
5) Princípio da Interdependência Volume-Intensidade.
6) Princípio da Continuidade.
Após a exploração dos princípios expostos pelo autor su-
pracitado e o entendimento de sua inter-relação, complementa-
remos nosso entendimento sobre os Princípios de Treinamento
com Dantas (2003), acrescentando mais um princípio às defini-
ções de Tubino (2003), o Princípio de Especificidade.
Tubino (2003, p. 93) destaca a importância da inter-rela-
ção entre esses princípios, afirmando que "antes de passar ao
estudo isolado de cada princípio, é importante enfatizar que os
princípios se inter-relacionam em todas as suas aplicações". Pos-
teriormente, Gomes da Costa (1996) complementou os estudos
realizados por Manoel Tubino e Estélio Dantas com mais dois
princípios, o Princípio da Variabilidade e o Princípio de Saúde.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


19
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Assim, após estudarmos os oito Princípios de Treinamento,


a inter-relação dos cinco primeiros expostos por Tubino (2003)
que se relacionam com o Princípio da Especificidade de Dantas
(2003) e, por fim, a inter-relação destes com os dois últimos des-
critos por Gomes da Costa (1996), entenderemos a importância,
para a preparação física, de conhecermos cada princípio e a rela-
ção que têm entre si.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.

2.1. CONCEITUAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DE TREINAMENTO

Para Tubino (2003), os Princípios de Treinamento podem


ser entendidos como referências essenciais na busca do alto
rendimento, dentro da preparação física e do treinamento es-
portivo, uma vez que na comunidade científica estes são aceitos
como ciências do treinamento. Essas regras, ao serem adotadas
durante o período de treinamento, proporcionarão a obtenção
de maior rendimento atlético, visando obter os melhores bene-
fícios possíveis em todos os componentes fisiológicos do atleta.
Os Princípios de Treinamento contemplam particularida-
des na obtenção dos objetivos traçados para o cumprimento
de metas, baseados nas ciências biológicas, psicológicas e pe-
dagógicas. Esses princípios refletem que a teoria e metodologia
do treinamento esportivo têm princípios específicos baseados

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


20
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

nas particularidades do cumprimento de importantes objetivos


do treinamento, ou seja, a elevação dos níveis de habilidade e
desempenho.

Princípio da Individualidade Biológica


Para Tubino (2003, p. 93, grifo nosso), “chama-se indivi-
dualidade biológica o fenômeno que explica a variabilidade en-
tre elementos da mesma espécie, o que faz com que se reconhe-
ça que não existem pessoas iguais entre si".
Desta forma, podemos entender a afirmação de que cada
pessoa é um ser único e irrepetível, possuindo cada qual sua
própria estrutura e sua formação física e psíquica, o que nos
leva diretamente ao entendimento de que a individualização do
treinamento proporciona melhores resultados, pelo fato de que
cada variável fisiológica tem comportamento individual, com
mecanismos de ajustes e adaptações altamente específicos que
obedecem às características e necessidades de cada indivíduo
(TUBINO, 2003, p. 93).
Ainda conforme Tubino (2003, p. 93),
Cada ser humano possui uma estrutura física e formação psí-
quica própria, que obriga a estabelecer-se diferentes tipos de
condicionamentos para um processo de preparação esporti-
va que atenda às características físicas e psíquicas individuais
dos atletas. Nestes condicionamentos físicos e psíquicos, os
indicadores usados para revelar as possibilidades e as neces-
sidades individuais dos atletas são os testes, que podem servir
como medidas para uma avaliação do treinamento até então
empregada.

Assim, podemos entender a colocação de Tubino (2003,


p. 93) quando afirma que “em termos de preparação esportiva

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


21
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

científica não devem existir classes heterogêneas, mas, sim, pe-


quenos grupos homogêneos com características e índices quase
semelhantes".
A homogeneidade dos grupos de treinamento também
facilita o treinamento desportivo, principalmente em casos em
que o número de treinadores é insuficiente ou existem restri-
ções ou falta de horários disponíveis. Portanto, quanto mais in-
dividualizado for o treinamento, maiores e melhores serão seus
resultados. O treinamento altamente especializado e individual
é um fator de grande favorecimento para a obtenção de grandes
performances esportivas.
Outro fator bastante evidente para o sucesso do treina-
mento é a experiência do treinador, responsável pela identifi-
cação dos pontos fortes (positivos) e fracos (negativos) de seu
atleta. Detectados esses pontos, a elaboração do treinamento
individualizado se tornará bem mais fácil.
O treinador pode, por meio de testes específicos, verificar
as potencialidades de seu aluno/atleta, seus pontos fortes que
devem ser cada vez mais desenvolvidos, para que possa haver o
melhor aproveitamento possível dessas potencialidades durante
o desenvolvimento da performance (desempenho). No entan-
to, as debilidades, necessidades e fraquezas (pontos fracos) do
atleta/aluno deverão ser corrigidos ou melhorados para que se
desenvolvam da melhor forma possível, amenizando, neutrali-
zando ou mesmo suprimindo suas fragilidades.
Para Dantas (2003, p. 47), “podemos dizer que os poten-
ciais são determinados geneticamente, e que as capacidades ou
habilidades expressas são decorrentes do fenótipo". E que "o
campeão seria aquele que nasceu com um "dom da natureza" e,
aproveitando totalmente esse dom, o desenvolve, por meio de
um perfeito treinamento (DANTAS, 2003, p. 48).

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22
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Esse mesmo autor defende que a individualidade (Figura 2)


biológica pode ser entendida como a união dos fatores genéticos
(genótipo) e da interferência do meio (fenótipo) como mostra
a Figura 1. "O indivíduo deverá ser sempre considerado como a
junção do genótipo e do fenótipo, dando origem ao somatório
das especificidades que o caracterizarão" (DANTAS, 2003, p. 47).

Indivíduo Genótipo Fenótipo

Conjunto de
Conjunto de
genes herdados + Influências do
genes herdados
as influências do meio em que o
dos pais contidos
meio em que o indivíduo vive.
em cada célula.
indivíduo vive.

Figura 1 Esquema Indivíduo = Genótipo + Fenótipo.

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© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL
Agir o mais rápido e eficazmente em uma situação
Velocidade de ação dentro das condições técnico-táticos e das
possibilidades do condicionamento.
Velocidade de ação
Ações com a bola em alta velocidade.
com bola

Fonte: adaptado de Dantas (2003, p. 47).


Figura 2 Individualidade genética.
Velocidade de Movimentos de natureza cíclica e acíclica em
movimenação sem bola velocidade máxima.
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Velocidade dos Rápida reação ao perceber um abola, ao confrontar o


Velocidade de reação
jogadores parceiro ou adversário.
Velocidade de decisão Decisão rápida por uma das inúmeras possibilidades.
Velocidade de Capacidade de reconhecimento da situação vivda e de
antecipação previsão das ações dos parceiros ou adversários.
Velocidade de avaliação Capacidade de avaliação rápida da situação atravéz
dos sentidos (visão, audição, etc.).

24
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Desta forma, embasando-nos nas colocações de Dantas


(2003, p. 47), podemos entender que a composição genética é
um fator determinante responsável pelo potencial do atleta em
diversos fatores, como:
1) Composição corporal.
2) Biótipo.
3) Altura máxima esperada.
4) Força máxima possível.
5) Aptidões físicas e intelectuais (potencialidades) como
maior VO2 (possível percentual de fibras musculares
dos diferentes tipos etc.).
Já o fenótipo, segundo Dantas (2003, p. 47), pode ser en-
tendido como tudo aquilo que o indivíduo adquire após seu nas-
cimento, sendo responsável por outras características, como:
1) Habilidades desportivas.
2) Consumo máximo de oxigênio que um indivíduo apre-
senta (VO2 máx.).
3) Percentual observável real dos tipos de fibras
musculares.
4) Potencialidades expressas (altura do indivíduo, sua
força máxima etc.).
Além dessas características individuais, há outras coletivas,
como o sexo, a idade, a etnia (raça) que influenciam na formação
da individualidade, pois são características em comum que
determinam grupos de pessoas.
Como vimos anteriormente, quanto mais individualizado
for o treinamento, maiores serão seus sucessos e resultados.
Assim, em grupos de atletas/alunos numerosos, é muito impor-

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25
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

tante que a individualização seja preconizada, evidenciando-se


o Princípio de Individualidade Biológica. A busca pelo maior ní-
vel de performance estará diretamente relacionada à persona-
lização do treinamento para cada elemento do grupo. Todavia,
quando não existe a possibilidade de individualização, havendo
grande número de atletas/alunos, será indiscutível a necessida-
de de subdividi-los em grupos com a maior homogeneidade pos-
sível (DANTAS, 2003).
Portanto, mesmo com toda a eficiência demonstrada pela
individualização e homogeneidade entre os grupos, a busca pelo
melhor dentro de cada modalidade – o surgimento do "cam-
peão" – está respaldada exclusivamente nos resultados obtidos
com um treinamento personalizado e contínuo a essa individua-
lização, somada ao “dom da natureza”. Esse termo descrito por
Dantas difunde que o atleta já nasce com o dom, e o aproveita-
mento da totalidade desse "dom" só pode ser conseguido com
o desenvolvimento de um perfeito treinamento que envolverá
diversos fatores de forma síncrona e interdependente.
Dantas (2003) explica que os resultados só serão alcança-
dos se houver uma conciliação dos fatores genéticos ao treina-
mento, ou seja, obterá resultado aquele indivíduo que já possua
predisposição genética, motivação, habilidade e personalidade
que correspondam à modalidade esportiva, com a associação de
um treinamento perfeito ou muito próximo da perfeição.
Esses fatores serão diversos e convergirão para a composi-
ção "do melhor", do "campeão", do "primeiro lugar no pódio".
Podemos verificar isso no esquema da Figura 3 a seguir.

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UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Fonte: Dantas (2003, p. 48).


Figura 3 Fatores condicionantes da performance de alto nível.

Podemos então afirmar que o Princípio da Individualidade


Biológica segmenta cada pessoa e unifica os indivíduos com ca-
racterísticas comuns a cada modalidade esportiva. Assim, cada

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27
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

um de nós é uma pessoa diferente, única e irrepetível. Dentro de


cada modalidade esportiva, as semelhanças individuais biológi-
cas determinarão as características comuns àqueles que obterão
sucesso em determinado esporte ou modalidade pelas similari-
dades que apresentam individual e biologicamente.
Ao treinador, a formação de um campeão ou do mais apto
ao sucesso da modalidade está pautada em uma boa seleção ini-
cial, que dependerá da existência de um grande número de prati-
cantes da modalidade desenvolvida. Da mesma forma, conhecer
a individualidade biológica (as características do genótipo e fe-
nótipo) de seu concorrente (adversário) propiciará a exploração
dos pontos fracos de seu oponente, assim como as estratégias
para conter os pontos fortes deste, podendo assim culminar no
sucesso de seu atleta/aluno.

Princípio da Adaptação
Segundo Tubino (2003, p. 94), "este princípio do Treina-
mento Esportivo está intimamente ligado ao fenômeno do es-
tresse”, ou seja, à quebra da homeostase. Estudos que investi-
gam esses eventos, estresse ou rompimentos da homeostase
datam seu início em 1920 com os apontamentos de Cânon e
Hussay, sendo altamente enfatizados no período entre 1950 e
1970, em que praticamente surgiu uma literatura científica bási-
ca sobre esse fenômeno.
O Quadro 1 a seguir aponta a quantidade de estudos que
surgiram sobre a investigação do estresse nesse período.

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28
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Quadro 1 Cronologia dos principais fenômenos do estresse no


período entre 1950 e 1970.
Selye (1950) Selye e Heujer (1956)
Ecler e Luft (1952) Goodall, Stone e Haynes (1957)
Ecler e Hellner (1952) Birke et al (1957)
Selye e Horava (1952) Hsieh e Carlson (1957)
Selye (1952) Sundin (1958)
Dunner (1953) Sutherland e Rall (1960)
Selye (1953) Pekkarinen (1961)
Setaxe (1954) Leduc (1961)
Franksson, Gemzell e Euler (1954) Frankenhaeuser, Sterky e Jaerpe (1962)
Euler e Lundberg (1954) Bloom, Frankenhaeuser e Euler (1963)
Selye e Heujer (1954) Moore e Underwood (1963)
Euler, Heliner-Bjorkmann e Orwen (1955) Carlyle (1963)
Wada, Seo e Abe (1955) Johnson (1966)
Selye e Heujer (1955) Levi (1967)
Karki (1956) Tubino (1969)
Dole (1956) Euler (1969)
Fonte: adaptado de Tubino (2003, p. 94).

Observando essa cronologia, fica evidente a importância


de alguns autores, como o médico austríaco Hans Selye, que des-
creveu a Síndrome de Adaptação Geral (SAG), e o sueco Von Eu-
lera, que classificou o estresse físico, bioquímico e mental. Eles
são as maiores referências nos estudos sobre estresse. No entan-
to, outros autores trouxeram contribuições importantes, como
o francês Claude Bernard, que foi o primeiro cientista a eviden-
ciar a capacidade do organismo humano de enfrentar alterações
ambientais externas pela manutenção de um meio interno em
constante equilíbrio (TUBINO, 2003).

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29
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Dando continuidade aos estudos de Bernard, em 1929, o


fisiologista Cannon demonstrou, por meio de seus experimen-
tos, que as células respondiam aos estímulos estressores por
meio de variações compatíveis com a atividade vital, em um pro-
cesso de equilíbrio dinâmico em que o organismo mantinha seu
equilíbrio interno, surgindo, a partir daí, o termo homeostase.
Para Dantas (2003, p. 48), o Princípio da Adaptação somen-
te pode ser entendido se for associado ao conceito de homeosta-
se: "Homeostase é o estado de equilíbrio instável mantido entre
os sistemas constitutivos do organismo vivo e o existente entre
este e o meio ambiente".
O autor ainda relata que a homeostase pode ser rompida
por fatores internos, geralmente procedentes do córtex cerebral,
ou por fatores externos, como calor, frio, emoções, oscilações na
pressão, esforço físico, entre outros. Dessa forma, sempre que
o estado de balanceamento é rompido, a homeostase é pertur-
bada e o organismo recorrerá a procedimentos compensatórios
para reestabelecer o estado de equilíbrio. Cada estímulo ao qual
o organismo está sujeito desencadeará uma resposta adequada,
conforme notamos na Figura 4 a seguir:

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30
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Fonte: adaptado de Dantas (2003, p. 49).


Figura 4 A todo estímulo do meio ambiente corresponderá uma reação do organismo.

Para Tubino (2003, p. 95-96),


Assim sabendo-se que o equilíbrio homeostático modifica-se
por qualquer alteração ambiental, isto significa que para cada
estímulo haverá uma resposta. E entendendo-se por estímulos
o calor, os exercícios físicos, as emoções, as infecções, e outros
com base num grande número de experiências e observação e
de diversos autores, concluiu-se que:
a) estímulos débeis – não acarretam conseqüências;
b) estímulos médios – apenas excitam;
c) estímulos médios para fortes – provocam adaptações;
d) estímulos muito fortes – causam danos.

Tubino (2003, p. 95) demonstra ainda em seus estudos que


"todos os estímulos atenuantes sobre o organismo podem se
tornar fatores estressantes". Com embasamento nos estudos do
sueco Von Euler, realizados em 1969, “classificou-se o estresse

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31
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

segundo a origem de seus estressores”. Uma vez que os agentes


estressores podem ser de qualquer natureza, foram agrupados
em três tipos clássicos:
• estresse físico;
• estresse bioquímico;
• estresse mental.
O estresse físico pode ser provocado por quaisquer agen-
tes de natureza física, podendo ser desencadeado pela tempera-
tura, pela umidade ou pelo esforço físico, por exemplo.
O estresse bioquímico é desencadeado por quaisquer
agentes farmacológicos de natureza química, tais como analgé-
sicos, anestésicos, calmantes, estimulantes, tóxicos, drogas em
geral.
Dantas (2003, p. 49) cita ainda outros fatores bioquímicos
estressantes, como a insulina, que provoca hipoglicemia; ácidos
e bases, que podem provocar acidose e alcalose, sucessivamen-
te; hormônios que agem conforme suas características especí-
ficas; álcool, que provoca diversos efeitos, entre eles a vasodi-
latação geral; cigarro (fumo), que provoca alterações sobre os
sistemas respiratório, circulatório e digestivo.
Por fim, há o estresse mental, que tem origem na mente e
está relacionado a fatores como ansiedade, depressão, angústia,
preocupações, ou por outros fatores oriundos do córtex cerebral
(DANTAS, 2003).
Tubino (2003), concordando com Dantas (2003), expõe e
relaciona as colocações referentes à estimulação dos diferentes
fatores estressores no organismo, quando este é estimulado, e
imediatamente aparecem mecanismos de resposta e compensa-
ção para equilibrar e suprir um aumento de necessidades fisio-

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32
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

lógicas. Podemos claramente notar a relação existente entre a


adaptação dos diferentes estímulos oferecidos pelo treinamento
e o fenômeno de estresse que este gera no organismo.
Ainda conforme Tubino (2003, p. 96),
Quando o organismo é estimulado, imediatamente aparecem
mecanismos de compensação para responder a um aumento
de necessidades fisiológicas. Assim, após constatar que existe
uma relação entre a adaptação aos estímulos e o fenômeno de
estresse (base do princípio científico da adaptação), é preciso
frisar que o estresse ou síndrome de adaptação geral (SAG),
segundo SELYE (1956) é a reação do organismo aos estímulos que
provocam adaptações ou danos ao mesmo.
A síndrome de adaptação geral (SAG) é dividida em três fases
que podem se suceder até que o agente estressante, na sua ação
sobre o organismo, atinja o limite da capacidade fisiológica de
compensação do mesmo.

A Síndrome de Adaptação Geral (SAG) está dividida em três


fases:
• 1ª Fase: Reação de alarme.
• 2ª Fase: Fase da resistência (adaptação).
• 3ª Fase: Fase da exaustão.
Descrita por Tubino (2003) e Dantas (2003), a fase de alar-
me ou fase de excitação é caracterizada pela mobilização de me-
canismos que causam desconforto e que, para proteger a vida
ou o organismo, o colocam em um “estado de alerta”. Esta fase
pode ser subdividida em duas partes: o choque e o contracho-
que, segundo Tubino (2003, p. 96):
sendo o choque a resposta inicial do organismo a estímulos aos
quais não está adaptado, e pode provocar, por exemplo, a dimi-
nuição da pressão sanguínea, enquanto o contrachoque, neste
caso, ocasionaria uma inversão de situação, isto é, um aumento
da pressão sanguínea.

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33
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

A fase da resistência é a fase caracterizada pela adapta-


ção, ou seja, nesta fase o organismo obtém o desenvolvimento
adequado dos canais específicos de defesa, ele está resistindo à
ação do agente estressor inicial. Esta é a fase que mais interessa
ao Treinamento Desportivo (TUBINO, 2003).
Por fim, a última fase descrita pelo autor supracitado, a
fase da exaustão, é corroborada por Dantas (2003, p. 49), que a
descreve como a fase que "provoca danos temporários ou per-
manentes". Este momento é caracterizado pela disseminação
das reações, em consequência da saturação dos canais apropria-
dos de defesa, apresentando o que os autores classificam como
"presença do colapso", que pode levar inclusive à morte.
O treinamento tem por objetivo provocar adaptações or-
gânicas, fazendo com que o aluno/atleta se torne apto a desen-
volver suas capacidades, atingindo certos níveis de performance.
De maneira geral, os atletas estão submetidos de modo perma-
nente a agentes estressores de várias origens; no entanto, há,
também, no atleta, por mais treinado que esteja, um limite de
adaptação. Assim que os atletas são submetidos a treinamentos
com grandes solicitações, os agentes estressores têm seus efei-
tos acumulativos, que restringem a adaptação (DANTAS, 2003;
TUBINO, 2003).
Dessa forma, os treinadores (educadores físicos) devem co-
nhecer os limites de seus alunos/atletas e se referenciarem nos
indicadores fisiológicos dos agentes estressantes, determinando
cargas de treinamento mensuradas dentro das capacidades de
adaptação. "O treinador dependerá de parâmetros fisiológicos,
e seu feeling, para situar a intensidade do treinamento dentro
de uma faixa que provoque adaptações ao organismo” (DANTAS,
2003, p. 50).

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UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Tubino (2003) explica que um dos principais propósitos do


treinamento é estimular o corpo para que ele chegue à forma
física almejada, sempre por meio de renovadas técnicas de exer-
cícios. Assim, os estímulos estressores aplicados de maneira cor-
reta subsidiarão adaptações positivas ao organismo. Portanto,
os agentes estressantes aos quais o atleta não esteja adaptado
proporcionarão um desgaste físico bem maior, fazendo com que
o atleta/aluno chegue ao estado de exaustão bem mais cedo.
O treinamento deve, então, ser programado de forma que não
ultrapasse a fase de adaptação.
É muito importante estabelecer que a adaptação do orga-
nismo é que determinará o nível de treinamento, e que se for
utilizada uma intensidade fraca ou média, não ocorrerão efeitos
ao treinamento. De maneira inversa, se os estímulos foram mui-
to fortes, provocarão um estado de exaustão.
Segundo Dantas (2003, p. 50),
É natural (e desejável) que o atleta, após uma sessão de treina-
mento, esteja cansado.
Porém, é imprescindível que após um período de repouso, ele
consiga recuperar-se totalmente e esteja em perfeitas condi-
ções para o treino seguinte. Se, no entanto, estiver aplicado es-
tímulos muito fortes, e em um período de recuperação ou ali-
mentação insuficiente, ou na presença de estados psicológicos,
não haverá esta recuperação e o atleta entrará num processo
de exaustão que Carlyle (1967) e diversos autores denominam
como strain.

Segundo Carlyle (apud TUBINO, 2003), em qualquer trei-


namento, poderão surgir agentes estressores negativos que
possivelmente irão gerar um estado indesejável como fadiga,
sobretreinamento, exaustão (estafa). Esse fenômeno é chamado

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35
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

de strain, termo que passou a ser adotado e aceito pela comuni-


dade científica internacional.
Dantas (2003) define os termos utilizados para descrever
este desgaste orgânico que a atividade física provoca:
1) O cansaço pode ser entendido como uma sensação
subjetiva de desgaste provocada pelo exercício ou uma
somatização (estar em um estado psicológico de dor e
sintomas físicos estressantes).
2) A fadiga é descrita como um estado de depleção das
reservas energéticas, a que se associa um acúmulo de
catabólitos no organismo que dificultará a continuida-
de da atividade física ou do exercício, e pode, inclusive,
causar incapacitação temporária para realizá-lo.
3) No sobretreinamento, observa-se que há uma recu-
peração incompleta antes que se possa aplicar novos
estímulos de carga no processo de treinamento, pro-
vocando exaustão e, consequentemente, diminuindo
a capacidade de trabalho.
4) Na exaustão, caracteriza-se um estado em que o orga-
nismo é submetido a uma carga de trabalho muito for-
te e não se recupera de forma conveniente, podendo
ser originária de insuficiência de repouso ou alimenta-
ção inadequada, com caráter progressivo.
Alguns agentes estressantes, segundo Tubino (2003, p.
102), podem levar os atletas a um estado de strain:
a) Esforço físico acima das capacidades individuais.
b) Alimentação inadequada.
c) Falta de aclimatização.
d) Presença de condições patológicas.

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36
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

e) Estado psicológico anormal.


f) Ausência de repouso e revigoramento.
g) Mudanças bruscas das rotinas diárias (provoca alterações nos
ritmos circadianos).

Em linhas gerais, o strain pode ser gerado por aplicação


de cargas excessivas dentro de um processo de sobretreinamen-
to. No alto nível, o sobretreinamento assume uma importância
primordial na preparação dos atletas, pois há utilização para au-
mento da performance de cargas de treinamento fortes, sem-
pre tangenciando as muito fortes. Assim, o atleta no alto nível
está sempre em seu limite de adaptação e, consequentemente,
próximo da exaustão, em seu treinamento. Ele deve identificar
a exaustão de maneira precoce, possibilitando a continuação do
treinamento com redução das cargas de trabalho, mesmo que
esta estratégia gere consequências fatais para a performance.
Essa é a escola mais sensata, e é preferível à estagnação e parada
total do treinamento (DANTAS, 2003).
Para Tubino (2003, p. 102-103),
existe uma série de evidências contestáveis, muitas vezes até
visualmente, para diagnosticar atletas que estejam em “strain”:
a) falta de apetite;
b) perda de peso;
e) diminuição do bem-estar geral;
d) dores articulares e musculares;
e) aumento da freqüência cardíaca basal e de repouso;
f) excitabilidade;
g) problemas digestivos;
h) irritabilidade;

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UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

i) diminuição da capacidade de concentração;


j) aumento da tensão arterial;
l) angústia;
m) hipóxia;
n) transtornos no metabolismo;
o) tensão muscular geral aumentada;
p) diminuição da coordenação motora.

Diversos autores, entre eles nossos referenciais de estudo


Tubino (2003) e Dantas (2003), concordam sobre a importância
de se considerar o Princípio da Adaptação, em que qualquer des-
cuido na aplicação das cargas de treinamento (agentes estres-
santes) poderá levar os atletas ao strain. A responsabilidade de
prevenção desse estado é do educador físico (treinador), pois o
bom profissional não se limitará somente em elaborar e acompa-
nhar o treinamento, mas em conhecer seu aluno/atleta. Somen-
te assim o profissional de Educação Física terá condições de de-
tectar alterações assintomáticas em seu aluno/atleta, indicando
nele um processo de sobretreinamento.
Dantas (2003, p. 51) destaca ainda o dilema de que, se o
treinador não estipular volumes e intensidade de trabalho maio-
res possíveis para a fase de treinamento, estará prejudicando
a performance de seu aluno/atleta para as competições. Dessa
forma, o educador físico tem de trabalhar com uma margem de
ação muito restrita e, muitas vezes, inexistente, dedicando-se
“de corpo e alma ao conhecimento de seus atletas”.
O bom treinamento é aquele que é o suficiente para oca-
sionar ajustes e adaptações sem causar danos ao organismo,
sendo capaz de gerar benefícios com consequente aumento da
performance.

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UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Princípio de Sobrecarga
Para Dantas (2003, p. 51), "Imediatamente após a aplica-
ção de uma carga de trabalho, há uma recuperação do organis-
mo, visando restabelecer a homeostase".
O momento exato em que se produz a adaptação após a
aplicação de uma carga de trabalho é o ponto de grande discus-
são quando estudamos a preparação física ou o treinamento. As-
sim, qual seria o período de melhor adaptação após os agentes
estressantes (estímulos) serem aplicados?
Alguns estudos assinalarão que o estabelecimento da
adaptação ocorrerá durante os intervalos intermediários dos
treinos; já outros apontarão que a adaptação será estabelecida
após o último intervalo da sessão de treino. Portanto, nos dois
casos (em ambas as situações), as adaptações ocorrerão; o que
será preponderante para que isto aconteça é o adequado tempo
de repouso (TUBINO, 2003).
Dantas (2003, p. 51) explica que "o tempo necessário para
recuperação é proporcional à intensidade do trabalho realizado".
Assim, com a aplicação de uma carga muito forte, o organismo
será capaz de se reestabelecer e compensá-la, quase em sua tota-
lidade, com quatro horas de repouso, preparando-se para sofrer
um novo desgaste, mais forte que o anterior.
Hegedus (apud TUBINO, 2003) descreve dois fenômenos,
a assimilação compensatória, composta de uma fase de recu-
peração, em que as reservas orgânicas seriam reestabelecidas,
e o período de restauração ampliada, no qual seria assimilada
maior reserva energética para aplicação de novos estímulos.
Ainda segundo Hegedus (apud TUBINO, 2003, p. 103),

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39
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

os diferentes estímulos produzem diversos desgastes, que são


repostos após o término do trabalho, e nisso podemos reconhecer
a primeira reação de adaptação, pois o organismo é capaz de
restituir sozinho as energias perdidas pelos diversos desgastes e
ainda preparar-se para uma carga de trabalho mais forte. Chama-
se este fenômeno de assimilação compensatória. Assim, sabe-se
que não só são repostas as energias perdidas, como também são
criadas maiores reservas de energia de trabalho. A primeira fase,
isto é, a que recompõe as energias perdidas, chama-se período
de restauração, o qual permite a chegada a um mesmo nível de
energia que existia anteriormente ao estímulo. A segunda fase
é chamada de período de restauração ampliada, após o qual o
organismo dispõe de uma maior energia para novos estímulos.

Dessa forma, podemos entender simplificadamente a assi-


milação compensatória:
ASSIMILAÇÃO COMPENSATÓRIA
Período de restauração + Período de restauração ampliada

Dantas (2003) também traz uma representação esquemática


que demonstra que uma carga muito forte (passando da linha
C-D) poderá gerar exaustão (3ª fase da Síndrome de Adaptação
Geral – SGA), fazendo com que não ocorra a assimilação
compensatória, nem mesmo a recuperação metabólica em um
espaço de tempo considerado normal. Em decorrência desse
fato, a próxima carga será menor que a inicial.

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40
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Fonte: adaptado de Dantas (2003, p. 50).


Figura 5 Representação esquemática.

Caso não sejam aplicadas cargas em intensidades crescen-


tes, ou as cargas forem de mesma intensidade, somente ocorre-
rá o período de recuperação ampliada no primeiro período de
recuperação, conforme demonstrado na Figura 6, não havendo
progresso do treinamento (DANTAS, 2003).

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41
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Fonte: adaptado de Dantas (2003, p. 50).


Figura 6 Representação esquemática.

Dantas (2003, p. 52) explica que a "assimilação compen-


satória, ou a supercompensação, que permite a aplicação pro-
gressiva do princípio da sobrecarga", pode ser comprometida
por uma incorreta aplicação das cargas e do tempo de aplica-
ção, como pode ser observado, não ocorre nenhum efeito po-
sitivo ao treinamento; há, inclusive, uma discreta regressão na
capacidade física, quando esta é comparada ao nível inicial de
condicionamento.
Já Tubino (2003) afirma que os estímulos mais fortes sem-
pre deverão ser aplicados ao final da assimilação compensatória,
por ser justamente nesse período que teremos a maior ampli-
tude do período da restauração ampliada, para que seja eleva-
do o limite de adaptação do atleta. O Princípio da Sobrecarga
pode também ser definido como o princípio da progressão gra-
dual, sendo fundamental para qualquer processo de evolução no
treinamento.

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42
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Veja, a seguir, na Figura 7, um gráfico com a representação


do Princípio da Sobrecarga, onde 1 representa o período de res-
tauração, 2 o período de restauração ampliada, (a) a assimilação
compensatória e (x) o melhor ponto ou "ponto ótimo" de aplica-
ção da sobrecarga.

Fonte: Hegedus apud Tubino (2003, p. 104).


Figura 7 Representação gráfica do Princípio da Sobrecarga.

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UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Adaptação Positiva

Fonte: adaptado de Hegedus (apud TUBINO, 2003, p. 104).


Figura 8 Representação gráfica do Princípio da Sobrecarga.

Podemos notar pela seta progressiva (crescente) que a


assimilação compensatória foi positiva. No entanto, caso não
haja uma relação ótima entre a aplicação das cargas e as pau-
sas entre as sessões de treino durante o treinamento, poderão
ocorrer graves prejuízos na evolução da preparação, conforme
representado por Hegedus (apud Tubino, 2003, p. 105), na Figu-
ra 9. Ela explica situações indesejáveis de treinamento, em que
são representadas as consequências negativas causadas pela má
relação entre as aplicações de cargas de treinamento e as pau-
sas entre as sessões de treino, que culminarão na regressão da
preparação.

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44
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Como poderemos notar, as pausas entre as sessões de pre-


paração são extensas demais, fazendo com que as sessões de
treinamento fiquem demasiadamente distanciadas, "o que pro-
voca um período de decréscimo da restauração, não deixando
condições para um aumento de possibilidades do atleta em rela-
ção à absorção de mais cargas".

Fonte: Hegedus (apud Tubino, 2003, p. 105).


Figura 9 Progressão da forma física prejudicada devido a intervalos muito grandes entre
as sessões de treino.

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45
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Fonte: adaptado de Hegedus (apud Tubino, 2003, p. 105).


Figura 10 Adaptação Hegedus (apud Tubino, 2003, p. 105) Progressão da forma física
prejudicada devido a intervalos muito grandes entre as sessões de treino.

Observamos que a adaptação é nula (sem efeitos); porém,


uma situação ainda mais indesejável pode ocorrer quando há
aplicação de novas cargas de treinamento, quando o período
de restauração ainda não se completou, ou seja, o treinamento

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46
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

continua sem que exista um intervalo adequado entre as sessões


de treinamento, criando condições favoráveis ao aparecimento
do sobretreinamento (strain), em que notamos uma adaptação
negativa com a seta apontando na descendente.

Fonte: Hegedus (apud Tubino, 2003, p. 105).


Figura 11 Progressão da forma física prejudicada devido a intervalos muito pequenos
entre as sessões de treino.

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47
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Adaptação Negativa

Fonte: adaptado de Hegedus (apud Tubino, 2003, p. 105).


Figura 12 Adaptação Hegedus (apud Tubino, 2003, p. 105) Progressão da forma física
prejudicada devido a intervalos muito pequenos entre as sessões de treino.

No início, as adaptações que ocorrem no organismo surgem


mais rápidas e consequentemente ficam cada vez mais lentas, à
medida que a performance melhora.
Essas adaptações ocorrem fisiologicamente a partir dos
estímulos produzidos pelo treinamento aplicado (estresse físico).
Portanto, estes princípios estão interligados à intensidade e
principalmente ao tempo de recuperação.
Em linhas gerais, resumindo esse processo, a aplicação de
uma nova carga dependerá basicamente de três fatores:
• intensidade da carga anterior;

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48
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

• período de recuperação (anabolismo);


• período de recuperação ampliada (supercompensação).
Quando somamos o período de recuperação com o perío-
do de recuperação ampliada, criamos uma base compensatória,
surgindo assim o superávit energético.
Dantas (2003) explica que “o equilíbrio entre a carga apli-
cada e tempo de recuperação é que garantirá a existência da
supercompensação de forma permanente". Dessa maneira, po-
dem surgir duas situações de maior dificuldade, como veremos
a seguir.
A primeira ocorre quando temos uma fase de recupera-
ção excessiva para compensação da carga aplicada, e a segunda,
quando a fase de recuperação é insuficiente para a compensa-
ção da carga aplicada.
Na recuperação excessiva, "a aplicação de uma nova carga
de trabalho ocorre após a fase máxima de supercompensação”,
o que gera um desperdício em parte do treinamento anterior,
mas se a recuperação for insuficiente poderá conduzir o aluno/
atleta a um estado de strain, "por não propiciar ao organismo
condições de recuperação antes da aplicação de uma nova car-
ga" (DANTAS, 2003, p. 52).
Podemos entender claramente que as cargas mais intensas
exigirão maior tempo de recuperação e as cargas mais amenas, me-
nor tempo de compensação. Desta forma, a redução da carga deve
corresponder a uma redução no período de recuperação e, se há
acréscimo da carga, deve haver ampliação da fase de recuperação.

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49
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Há um ponto correto para a aplicação de uma nova carga,


conforme demonstra Dantas (2003, p. 53), pois, se o período de
recuperação é insuficiente ou excessivo, não haverá um aprovei-
tamento ótimo do treinamento.

Fonte: Dantas (2003, p. 53).


Figura 13 Ponto de aplicação de nova carga de trabalho na curva de compensação.

Segundo Dantas (2003), pode-se aplicar ao Princípio da So-


brecarga, além do intervalo de recuperação:
• o volume do treinamento;
• a intensidade do treinamento;
• tanto o volume quanto a intensidade.

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50
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

O volume, também chamado de quantidade de treina-


mento, corresponde ao total de carga do treinamento, e a in-
tensidade corresponde à qualidade de treinamento. Ambos
expressam o somatório da carga de treinamento a que o atleta
está submetido. Normalmente, primeiro se aplica a sobrecarga
sobre o volume; após essa carga ser assimilada, sobrecarrega-se
a intensidade (DANTAS, 2003).
Para Dantas (2003, p. 53), na preparação física, a aplica-
ção do Princípio da Sobrecarga deve ser realizada em todos os
componentes:
Preparação técnico-tática
Sobrecarga no volume:
• Aumento do número de repetições do movimento (gesto
desportivo).
• Aumento da duração do treinamento (número de horas).
• Aumento da carga horária semanal de treino, etc.
Sobrecarga na intensidade:
• Crescente dificuldade dos movimentos realizados.
• Aumento da velocidade de execução.
• Diminuição do tempo de repouso, etc.
Preparação Psicológica
Sobrecarga no volume:
• Aumento no tempo dedicado ao treinamento mental.
• Aumento no tempo dedicado ao relaxamento, etc.
• Sobrecarga na intensidade:
• Treinamento sob condições estressantes (ruído da plateia,
apupos, etc).
• Utilização de técnicas de ativação e motivação.

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51
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Princípio da Interdependência Volume-Intensidade


O Princípio da Interdependência Volume-Intensidade
está diretamente ligado ao Princípio da Sobrecarga, “pois o au-
mento das cargas de trabalho é uma imposição para obter uma
melhora da performance” (DANTAS, 2003, p. 53). Esta melhoria
poderá ocorrer pelo aumento do volume ou pela ampliação da
intensidade.
Kashlakov (1970 apud TUBINO, 2003), observando especi-
ficamente a melhoria da performance em atletas meio fundistas,
constatou que o aumento do desempenho desses atletas era de-
vido a quantidades de trabalho maiores e também a um aumen-
to substancial na intensidade dos estímulos de treinamento.
Dantas (2003) lembra que, se o organismo é submetido a
uma intensidade alta de treinamento, este somente será capaz
de suportá-la por um curto espaço de tempo. Por outro lado,
quando há necessidade de um esforço que dure um tempo mais
longo, a carga deverá ser necessariamente moderada, conforme
demonstra a Figura 14 a seguir. Quando uma variável inversa-
mente proporcional é aumentada, outra variável será diminuída.

ade
nsid
Inte

e
Volum

Fonte: adaptado de Dantas (2003, p. 54).


Figura 14 Aumento e diminuição de variáveis.

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52
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Segundo Tubino (2003, p. 108), "Na maioria das vezes, o


aumento dos estímulos de uma dessas duas variáveis é acompa-
nhado da diminuição da abordagem em treinamento da outra".
Quando empregamos esse princípio no alto nível, pode-
mos afirmar que a escolha do volume e da intensidade estará
sempre pautada em dois critérios:
• A qualidade física preconizada (o que se pretende
treinar).
• O período de treinamento (em que fase do treinamento
se encontra o atleta/aluno).
Notamos que o sucesso nas modalidades esportivas alcan-
çado com os atletas "de elite" ou no alto nível, por estarem sem-
pre buscando a maior performance possível no alto rendimento,
independentemente da modalidade esportiva praticada, estão
sempre embasados em grande quantidade (volume) e em alta
qualidade (intensidade) de treinamento.
Dessa forma, podemos dizer que o estímulo do volume
ou da intensidade, mesmo no alto nível, para as atividades de
alto rendimento, deverá estar sempre pautado na característi-
ca da modalidade (qual característica de qualidade física tem a
modalidade treinada) e em qual fase de treinamento está sen-
do aplicada a interdependência entre o volume e a intensidade,
que dependerá de uma série de fatores, pois "qualquer ação de
incremento do volume provocará modificações na estimulação
da intensidade, sendo que a recíproca será sempre verdadeira"
(TUBINO, 2003, p. 108).
As qualidades físicas com características de utilização em
curto espaço de tempo requerem em seu treinamento uma
grande ênfase na intensidade, assim como atividades físicas de

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53
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

características prolongadas exigirão ênfase no volume de trei-


namento, conforme esquematizou Dantas (2003) na Figura 15
a seguir.

Fonte: adaptado de Dantas (2003, p. 54).


Figura 15 Comparação de qualidades físicas.

Essas variáveis entre a intensidade e o volume devem ser


elucidadas pelo treinador (educador físico), pois sua manipula-
ção no momento correto do treinamento é que determinará o
sucesso do treinamento e, consequentemente, a obtenção do
máximo da performance (peak), que deve estar em consonância
com os períodos de competição ou das competições-alvo.
Dantas (2003) coloca que o pico de desempenho durante
as competições se baseia mais no feeling do treinador (educa-
dor físico) do que em qualquer outro parâmetro fisiológico, pois,
por mais que exista uma série de fatores que levará a um maior
ajuste do treinamento, a “sintonia fina” estará na sensibilidade
do treinador.
Para Tubino (2003, p. 109), “o princípio científico da inter-
dependência volume-intensidade é um fator fundamental para
a evolução de processos de treinamento desportivo", sendo im-
portante a apresentação de sugestões e indicações relacionadas
com a aplicação desse princípio.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


54
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

• A interdependência entre o volume e a intensidade é


um dos aspectos do treinamento desportivo em que
ocorre grande número de investigações, pois cada vez
mais os estudiosos chegam à confirmação de que a uti-
lização ótima de estímulos dessas duas variáveis é que
pode oferecer condições funcionais excepcionais para
níveis atléticos mais altos, e também para que se che-
gue ao ápice da forma desportiva no momento certo.
• Em um treinamento, a ênfase no volume (quantidade)
de cargas desempenha um papel de base para resul-
tados futuros, enquanto o incremento na intensidade
(qualidade) tem como propósito levar a condição dos
atletas ao peak da forma desportiva e à assimilação do
volume total de preparação realizada.
• Todo processo de preparação desportiva de alta perfor-
mance deve seguir uma trajetória com ênfase nas va-
riáveis volume e intensidade. "O treinamento deve sair
de uma ênfase na ‘quantidade’ (volume) de trabalho, e
chegar à ‘qualidade’ (intensidade) de preparação" (TU-
BINO, 2003, p. 109).
Finalizando este princípio científico, Dantas (2003, p. 55)
apresenta na prática como ocorre a sobrecarga sobre o volume
ou sobre a intensidade:
Sobrecarga no Volume (quantidade de treinamento)
• Quilometragem percorrida
• Número de repetições
• Duração do trabalho (tempo)
• Número de Séries
• Horas de treinamento, etc.

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55
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

• Horas de treinamento
Sobrecarga na Intensidade (qualidade do treinamento)
• Quilagem utilizada
• Velocidade
• Ritmo
• Redução dos Intervalos (pausas)
• Amplitude de movimentos, etc.

Princípio da Continuidade
A continuidade do treinamento é primordial para que a
condição física desejada seja alcançada. Desta forma, o Princípio
Científico da Continuidade apresenta uma relação direta com a
aplicação de cargas progressivas e suas subsequentes adapta-
ções assimiladas pelo organismo.
Podemos afirmar que o Princípio da Continuidade está di-
retamente relacionado ao Princípio da Adaptação, que se baseia
“na aplicação de cargas crescentes que vão sendo progressiva-
mente assimiladas pelo organismo” conforme verificamos na
esquematização de Dantas (2003, p. 56), na Figura 16, a seguir:

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56
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Fonte: adaptado de Dantas (2003, p. 56).


Figura 16 Esquema de Estímulo × Tempo.

O esquema demonstra a importância de se dar continui-


dade ao treinamento ao longo do tempo, fato este que alicerça
o Princípio da Continuidade. Para Tubino (2003), somente após
alguns anos seguidos de treinamento é que se pode conseguir
uma boa condição atlética. Outro fator destacado pelo autor é
que "existe uma influência bastante significativa das prepara-
ções anteriores em qualquer esquema de treinamento em anda-
mento" (TUBINO, 2003, p. 107).
Podemos pautar o Princípio da Continuidade nas duas di-
retrizes a seguir:
• Pode-se conseguir bons resultados em uma preparação
ou uma boa condição atlética com o treinamento contí-
nuo, interrupto e progressivo, mas somente após alguns
anos de prática.

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57
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

• As preparações anteriores, ou seja, os treinamentos


realizados precedentemente, terão grande influência
no treinamento atual. Podemos dizer que, mesmo que
ocorram algumas perdas, um treinamento jamais é to-
talmente perdido.
Dantas (2003) ressalta dois aspectos do Princípio da Con-
tinuidade: a interrupção e o período do treinamento, em que
se destaca que a interrupção consciente dos programas de trei-
namento, para que se reestabeleça a recuperação, é benéfica e
imprescindível para o sucesso nos resultados. Essa recuperação
pode oscilar de poucos minutos até 48 horas, pois, após esse
período, já se inicia um processo de diminuição do estado físico,
caso não ocorra a aplicação de novos estímulos, o que no alto
nível pode trazer comprometimentos sérios na preparação e ob-
tenção dos resultados esperados.
O mesmo autor (DANTAS, 2003, p. 56) explica ainda o por-
quê de as 48 (quarenta e oito) horas serem consideradas o limite
máximo de recuperação ou repouso:
Matveev (1981) ensina que "a progressão pedagógica do treina-
mento tem como regra geral começar o treino seguinte durante
um estado de recuperação da sessão anterior". Buscando qual
é este tempo médio de recuperação, verifica-se que o repouso,
o sono e o metabolismo da nutrição fazem a restauração das re-
servas energéticas do organismo, em sua quase totalidade em
48 horas, embora haja um fator exponencial da recuperação
que irá se prolongar por até 12 dias.
O grande segredo do princípio da continuidade é a aplicação
de nova carga de trabalho durante o período de recuperação
ampliada, ou seja, antes que o organismo, ao se recuperar to-
talmente, retorne ao nível de homeostase inicial. Além disso,
deve-se fazer uma correta distribuição temporal da aplicação
da carga, pois num treinamento de alto nível procura-se dar

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58
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

dois ou três dias de estímulos crescentes antes de propiciar um


dia de recuperação. Desta forma, consegue-se um efeito multi-
plicador do stress aplicado. O fenômeno da supercompensação
num contexto de treinamento total de alto nível não ocorrerá,
forçosamente, após cada treino, mas sim após uma série de
treinos sucessivos.

Após estas elucidações, Dantas (2003) explica ainda que


um atleta de alto nível com necessidade de treinar durante dois
períodos diários por seis dias semanais estaria submetido a uma
carga de trabalho que só seria assimilável graças à supercom-
pensação ocorrida após uma sequência de treinos, conforme de-
monstra o gráfico da Figura 17, a seguir:

Fonte: Dantas (2003, p. 56).


Figura 17 Gráfico de supercompensação atuando de forma expandida após dois ou três
dias de estímulos sucessivos.

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59
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Tubino (2003) diz que o Princípio da Continuidade com-


preenderá sempre, durante o treinamento, uma sistematização
de trabalho que não permita uma quebra da continuidade. Dan-
tas (2003) complementa, afirmando que treinamentos semanais
inferiores a três dias alternados de trabalho por semana tornam-
-se inúteis (inócuos, nas palavras do autor), dizendo ainda que
qualquer treinamento de alto nível que apresente frequência
superior a doze sessões semanais (duas por dia, durante seis
dias da semana) conduzirá de maneira inevitável ao strain. Por
fim, completa seu pensamento dizendo que pausas superiores
a 48 horas só serão recomendadas se houver um quadro de
sobretreinamento.
Devemos lembrar que os autores supracitados realizam
suas afirmações respaldados em um treinamento de alto nível,
mas Dantas (2003) faz uma ressalva ao que ele chama de "atle-
tas de níveis inferiores", ou seja, aqueles que não treinam para
competições. Para estes, o autor afirma que algumas vezes as
pausas no treinamento ultrapassam 48 horas e, nestes casos, o
treinador (educador físico) não utiliza a última carga, mas a car-
ga correspondente ao período de interrupção. Por exemplo, o
aluno/atleta que interrompe seu treinamento por uma semana,
quando retornar, não deverá utilizar a última carga que usou,
mas a correspondente a de duas semanas anteriores, ou seja,
uma semana antes da interrupção.
Tubino (2003, p. 107) coloca que "a continuidade de trei-
namento evita que os treinadores subtraiam etapas importantes
na formação atlética de um desportista". Dantas (2003) diz que,
quando essa continuidade é interrompida por um período igual
ou superior a quatro semanas, o treinamento deverá partir da
"estaca zero". Embora, conforme já elucidado anteriormente so-

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60
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

bre as preparações anteriores, tenha influência no treinamento


atual, a progressão ao retornar ao treinamento será mais rápida
do que a realizada anteriormente.
Quanto à duração mínima do treinamento evidenciada no
Princípio da Continuidade, Dantas (2003, p. 57) coloca:
Para se obter os primeiros resultados no desenvolvimento das
qualidades físicas visadas, é necessário um mínimo de persis-
tência no treinamento, com o intuito de propiciar uma duração
que permita ocorrerem as alterações bioquímicas e morfológi-
cas necessárias.
Passado este estágio inicial, a constatação da melhora irá forne-
cer um feed-back que incentivará a persistência do atleta. Este
período crítico inicial pode ser bem observado em sedentários
que iniciam o trabalho físico. Normalmente, aqueles que con-
seguem vencer a barreira do terceiro mês incorporam o exercí-
cio como um hábito de vida. Os professores que trabalham em
academias de ginástica já tratam com jocosidade esta faixa e
tempo, que vai dos dois meses e meio aos três meses e meio,
e na qual o indivíduo sem muita persistência abandona o exer-
cício físico, muitas vezes retomando no ano seguinte para uma
nova tentativa.

Quando se trata de qualidades físicas específicas, necessi-


ta-se de uma duração mínima para que os primeiros efeitos se
estabeleçam, devido à diversidade de informações bibliográfi-
cas. Dantas (2003) fez observações empíricas em jovens atletas
brasileiros sobre o período mínimo de treinamento em algumas
qualidades físicas:
1) Força máxima: obtida após 12 a 18 meses de treina-
mento (de 48 a 72 semanas).
2) Força explosiva e força estática: obtenção de resul-
tados após 5 a 6 meses de treinamento (de 20 a 24
semanas).

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61
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

3) Força dinâmica e hipertrófica: resultados após 10 a 12


semanas (aproximadamente 3 meses de treinamento).
4) Resistência anaeróbica: primeiros resultados após 7
semanas de treinamento.
5) Resistência aeróbica: primeiros resultados após 10 a 12
semanas (aproximadamente 3 meses de treinamento).
6) Resistência muscular localizada: resultados obtidos
aproximadamente em 8 semanas de treinamento (2
meses).

Princípio da Especificidade
O Princípio Científico da Especificidade relaciona-se dire-
tamente com o Princípio da Individualidade Biológica, estabele-
cendo limites individuais a esta capacidade de transferência.
Mesmo sabendo que o organismo tem a capacidade de
suportar sobrecargas especificamente impostas durante o trei-
namento para competições, não se supunha que a margem de
transferência adaptativa fosse tão restrita como ela se apresenta
na realidade, o que corrobora na relação entre os princípios da
Individualidade Biológica e da Especificidade. Assim, segundo
Dantas (2003, p. 58), o Princípio da Especificidade coloca que
o treinamento deve ser montado sobre os requisitos específicos
da performance desportiva em termos de qualidade física
interveniente, sistema energético preponderante, segmento
corporal utilizado e coordenações psicomotoras utilizadas.

Ainda para Dantas (2003, p. 57),


A partir do surgimento do conceito de treinamento total,
quando todo o trabalho de preparação passou a ser feito de
forma sistêmica, integrada e voltada para objetivos claramente
enunciados, a orientação do treinamento por meio dos métodos

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


62
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

de trabalho veio paulatinamente perdendo a razão de ser. Hoje


em dia, nos grandes centros desportivos, esta forma de orientação
do treinamento foi totalmente abandonada em proveito da
designação da forma de trabalho pela qualidade física que se
pretende atingir. Associando-se este conceito à preocupação
em adequar o treinamento do segmento corporal ao do sistema
energético e ao do gesto desportivo, utilizados na performance,
ter-se-á o surgimento de um sexto princípio científico do
treinamento desportivo, o princípio da especificidade que vem a
se somar aos já existentes.

O Princípio da Especificidade refletirá em duas amplas ca-


tegorias de fundamentos fisiológicos:
• Aspectos metabólicos.
• Aspectos neuromusculares.
Os aspectos metabólicos compreenderão dois componen-
tes, os sistemas energéticos e o sistema cardiorrespiratório.
Para Matthews e Fox (1983 apud Dantas, 2003, p. 58):
Os sistemas energéticos, como já foi enfatizado repetidamente,
possuem capacidades e potências diferentes. Devido a essas
diferenças, a intensidade e a duração do exercício determi-
nam o sistema energético predominante solicitado (estressa-
do) durante qualquer exercício determinado. Os exercícios de
baixa intensidade e longa duração dependem maciçamente
do sistema aeróbico, e os exercícios de alta intensidade e cur-
ta duração, dos sistemas anaeróbicos. Quanto mais solicitado
for determinado sistema energético, maior será o potencial
de aprimoramento na execução das atividades que dependem
desse sistema. Assim sendo, com os programas de treinamento
é essencial utilizar o tipo de exercício que solicita o sistema ou
os sistemas energéticos primários utilizados durante a realiza-
ção da atividade para a qual o atleta está treinando.

O educador físico (treinador) deverá ter precisão na de-


terminação da via energética predominante. Estando ciente da

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


63
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

duração e da intensidade do exercício, imposto pelo Princípio da


Especificidade, o treinamento visará a uma ou outra qualidade
física, como é mostrado no Quadro 2.

Quadro 2 Correlação entre as qualidades físicas e as vias


energéticas.
Sistema de
Qualidade Física Característica Transferência Via Energética
Energética
Altíssima Trifosfato de
intensidade adenosina (ATP)
Velocidade Anaeróbio alático
Curtíssima Fosforocreatina
duração (CP)

Resistência Alta intensidade


Anaeróbio lático Ácido lático
anaeróbia Curta duração

Resistência Baixa intensidade


Aeróbio Oxidativa
aeróbia Alta duração
Fonte: Dantas (2003, p. 59).

Desta forma, o sistema cardiorrespiratório se integrará ao


sistema aeróbio, atuando sobre a base bioquímica da bioener-
gética. Assim, o Princípio da Especificidade sugere que, além de
treinar o sistema energético e o cardiorrespiratório, deve-se pro-
curar fazê-lo dentro dos parâmetros da prova que se pretende
realizar, especificando o treinamento.
Segundo Dantas (2003, p. 59),
A dosagem certa entre o treinamento específico e o não espe-
cífico só poderá ser dada pelo feeling do treinador, que deverá
balancear entre a necessidade de se realizar um trabalho idên-
tico ao da performance pelo maior tempo possível e a saturação
proveniente de fazer sempre a mesma atividade.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


64
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Quando destacamos os aspectos neuromusculares do Prin-


cípio da Especificidade, também teremos dois componentes, o
tipo de fibra muscular adequado à performance e o padrão de
recrutamento das unidades motoras para a realização do gesto
desportivo.
Os tipos básicos de fibra muscular – fibras do tipo 1 e fi-
bras do tipo 2 – possuem características específicas, dando a
estas, mediante o perfil de desempenho, distinção aeróbia ou
anaeróbia.
As fibras do tipo 1, também chamadas de oxidativas, apre-
sentam especificidade de esforços aeróbicos por sua grande ca-
pacidade oxidativa e pequena capacidade glicolítica; já as fibras
do tipo II, em especial as do subtipo 2 b, possuem capacidade gli-
colítica, evidenciada em atividades anaeróbias (DANTAS, 2003).
Continuando as elucidações de Dantas (2003, p. 59), ele
complementa o Princípio da Especificidade com os cinco primei-
ros princípios apresentados:
o segundo componente dos aspectos neuromusculares é con-
trolado principalmente pelo sistema nervoso central ao nível
de cérebro, bulbo e medula espinhal, e pressupõe que todos os
gestos esportivos, realizados durante a performance, já estejam
perfeitamente "aprendidos" de forma a permitir que, durante a
performance, não se tenha que criar coordenações neuromus-
culares novas, mas tão somente "lembrar-se" de um movimen-
to já assimilado e executá-lo.
A psicologia da aprendizagem ensina que o conhecimento, ou
movimento, uma vez aprendido, fica armazenado no neocórtex
sob forma de engrama (que consiste num determinado padrão
de ligação entre os neurônios). O engrama, que é sempre utili-
zado, fica cada vez mais "nítido" e "forte" ao passo que aquele
que não é utilizado se enfraquece e pode até se extinguir.

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65
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Se um gesto esportivo for repetido com constância, seu engrama


ficará tão forte a ponto de permitir a execução do gesto de forma
reflexa, através de uma rápida comparação, pelo bulbo, entre as
reações neuromusculares e o engrama.

Podemos notar que o aprimoramento da habilidade técnica


e da execução dos movimentos possíveis durante o treinamento,
para a aquisição e o reforço dos engramas solicitados pelo espor-
te praticado, será mais demorado conforme sua complexidade
em termos neuromotores. Então, no treinamento, o educador
físico (treinador) deve solicitar os mesmos grupos musculares
que serão executados no esporte, para melhor desempenho,
estimulando ao máximo os padrões de movimento necessários
para a competição. Para demonstrar de maneira esquemática os
aspectos componentes da especificidade, podemos recorrer ao
esquema da Figura 18, a seguir.

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66
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Fonte: Matthews e Fox (1983 apud Dantas, 2003, p. 60).


Figura 18 Resumo das principais interações fisiológicas no Princípio da Especificidade.

Princípio da Variabilidade e Princípio da Saúde


Estes dois princípios foram apresentados por Gomes da
Costa (1996), complementando os estudos realizados por Ma-
noel Tubino e Estélio Dantas.

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67
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

O Princípio da Variabilidade é também denominado Prin-


cípio da Generalidade e se fundamenta na ideia do Treinamen-
to Total, ou seja, no desenvolvimento global, utilizando-se das
mais variadas formas de treinamento, com métodos, estratégias,
exercícios, intensidades etc. Conforme os objetivos, serão esta-
belecidos previamente por Gomes da Costa (1996, p. 357).
Quanto maior for a diversificação desses estímulos – é óbvio
que estes devem estar em conformidade com todos os concei-
tos de segurança e eficiência que regem a atividade –, maiores
serão as possibilidades de se atingir uma melhor performance.

O Princípio da Saúde, como a própria definição diz, está di-


retamente ligado ao objetivo maior de uma atividade física, que
é a obtenção e manutenção da saúde do indivíduo. Desta forma,
o autor do princípio, Gomes da Costa (1996, p. 358), define:
Assim, não só a Ginástica Localizada em si e suas atividades
complementares possuem grande importância. Também os se-
tores de apoio da Academia, como o Departamento Médico, a
Avaliação Funcional e o Departamento Nutricional assumem re-
levante função no sentido de orientar todo o trabalho, visando
a aquisição e a manutenção dessa Saúde.

Com as leituras propostas no Tópico 3. 1., você vai en-


contrar informações muito importantes sobre os princípios
científicos do treinamento. Antes de prosseguir para o próxi-
mo assunto, realize as leituras indicadas, procurando assimilar
o conteúdo estudado.

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68
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Vídeo complementar ________________________________


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar 1.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique na aba Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, busque pelo nome da disciplina
para abrir a lista de vídeos.
• Caso você adquira o material, por meio da loja virtual, receberá também um
CD contendo os vídeos complementares, os quais fazem parte integrante
do material.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Após o estudo da primeira unidade, em que abordamos os


princípios científicos do treinamento, sugerimos que você realize
a leitura dos conteúdos integradores para a fixação dos conteú-
dos apresentados. Complementando o entendimento sobre os
tópicos e aspectos discutidos, você pode analisar o Capítulo 3
– Os princípios científicos do treinamento do livro Metodologia
Científica do Treinamento Desportivo:
• TUBINO, M. J. G. Metodologia científica do treinamen-
to desportivo. 13. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.
Disponível em: <https://www.worldcat.org/title/
metodologia-cientifica-do-treinamento-desportivo/
oclc/77541792>. Acesso em: 12 mar. 2019.

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69
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

Indicamos também, para consolidar nosso estudo, o Ca-


pítulo 2 do livro A prática da preparação física, em que Estélio
Dantas descreve de maneira simples, porém esclarecedora, os
princípios científicos do treinamento esportivo.
• DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. 5. ed.
Rio de Janeiro: Shape, 2003. Disponível em: <https://
docs.google.com/folderview?id=0B02-rtNfmjFOYjg1O
WFlZGQtMTE4Ny00OGIwLThlNzYtMTU3ZTVhNjhmOT
Qx&usp=drive_web&hl=pt_BR>. Acesso em: 30 mar.
2016.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteú-
dos estudados para sanar as suas dúvidas.
A seguir, responda às questões propostas, a fim de conferir
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Observe a definição a seguir.
Cada ser humano possui uma estrutura física e formação psíquica pró-
pria, que obriga a estabelecer-se diferentes tipos de condicionamentos
para um processo de preparação esportiva que atenda às características
físicas e psíquicas individuais dos atletas. Nestes condicionamentos físicos
e psíquicos, os indicadores usados para revelar as possibilidades e as ne-
cessidades individuais dos atletas são os testes, que podem servir como
medidas para uma avaliação do treinamento até então empregada (TUBI-
NO, 2003, p. 93).
Ao ler este trecho, podemos afirmar que o autor se refere ao:
a) Princípio da Individualidade Biológica.
b) Princípio da Adaptação.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


70
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

c) Princípio da Sobrecarga.
d) Princípio da Interdependência Volume-Intensidade.
e) Princípio da Continuidade.

2) Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas:


Os __________ podem ser provocados por quaisquer agentes de natureza
física, podendo ser desencadeados pela temperatura, pela umidade ou
pelo esforço físico, por exemplo. Já os __________ são desencadeados por
quaisquer agentes farmacológicos, de natureza química, tais como analgé-
sicos, anestésicos, calmantes, estimulantes, tóxicos, drogas em geral.
Por fim, os __________, são os que têm origem na mente e estão relacio-
nados a fatores como ansiedade, depressão, angústia, preocupações ou
por outros fatores oriundos do córtex cerebral.
a) estresses físicos – estresses bioquímicos – estresses mentais
b) estresses físicos – estresses mentais – estresses bioquímicos
c) estresses bioquímicos – estresses físicos – estresses mentais
d) estresses bioquímicos – estresses mentais – estresses físicos
e) estresses mentais – estresses físicos – estresses bioquímicos
Dantas (2003) define os termos utilizados para descrever os diferentes
desgastes do organismo que a atividade física provoca. Leia os trechos e
assinale a alternativa correta nas questões de 3 a 6.

3) “Pode ser entendido como uma sensação subjetiva de desgaste provocada


pelo exercício ou somatização (estar em um estado psicológico de dor e
sintomas físicos estressantes).”
A descrição feita por Dantas (2003) é referente:
a) ao desgaste articular.
b) ao cansaço.
c) à fadiga.
d) ao sobretreinamento.
e) à exaustão.

4) “Caracteriza um estado onde o organismo é submetido a uma carga de


trabalho muito forte, e não se recupera de forma conveniente, podendo

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71
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

ser originária de insuficiência de repouso ou inadequada alimentação com


caráter progressivo.”
A descrição feita por Dantas (2003) é referente:
a) ao desgaste articular.
b) ao cansaço.
c) à fadiga.
d) ao sobretreinamento.
e) à exaustão.

5) “Observa-se que há uma recuperação incompleta antes que possa se apli-


car novos estímulos de carga no processo de treinamento, provocando
exaustão e consequentemente diminuindo a capacidade de trabalho.”
A descrição feita por Dantas (2003) é referente:
a) ao desgaste articular.
b) ao cansaço.
c) à fadiga.
d) ao sobretreinamento.
e) à exaustão.

6) “É descrita como um estado de depleção das reservas energéticas onde se


associa um acúmulo de catabólitos no organismo que dificultará a conti-
nuidade da atividade física ou do exercício, podendo inclusive haver uma
incapacitação temporária de realizá-lo.”
A descrição feita por Dantas (2003) é referente:
a) ao desgaste articular.
b) ao cansaço.
c) à fadiga.
d) ao sobretreinamento.
e) à exaustão.

7) Leia as afirmativas a seguir e posteriormente assinale a alternativa correta:


I - Estímulos débeis: não acarretam consequências.
II - Estímulos médios: apenas excitam.
III - Estímulos médios para fortes: provocam adaptações.

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72
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

IV - Estímulos muito fortes: causam danos.


a) As afirmações I, II e III estão corretas.
b) As afirmações I, II e IV estão corretas.
c) As afirmações II, III e IV estão corretas.
d) As afirmações I, III e IV estão corretas.
e) Todas as afirmações estão corretas.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) a.

2) a.

3) b.

4) e.

5) d.

6) c.

7) e.

5. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, abordamos os Princípios Científicos de
Treinamento. Buscamos angariar subsídios que alicercem e soli-
difiquem uma área de atuação muito abrangente. Assim não é a
nossa intenção e, isto também seria humanamente impossível,
explorar todos os conteúdos que compõem esta disciplina, por
isso é muito importante que você transponha os conhecimentos
aqui ofertados e busque também outras formas e fontes dentro
do ramo da preparação física que mais lhe trouxer afinidade.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


73
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

6. E-REFERÊNCIAS

Sites pesquisados
DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. 5. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.
Disponível em: <https://docs.google.com/folderview?id=0B02-rtNfmjFOYjg1OWFl
ZGQtMTE4Ny00OGIwLThlNzYtMTU3ZTVhNjhmOTQx&usp=drive_web&hl=pt_BR>.
Acesso em: 16 mar. 2016.
TUBINO, M. J. G. Metodologia científica do treinamento desportivo. 13. ed. Rio de
Janeiro: Shape, 2003. Disponível em: <https://www.worldcat.org/title/metodologia-
cientifica-do-treinamento-desportivo/oclc/77541792>. Acesso em: 12 mar. 2019.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASTRAND, P. O.; RODAHL, K. Tratado de Fisiologia do Exercício. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1987.
BARBANTI, V. Aptidão física: um convite à saúde. Barueri: Manole, 1990.
BITTENCOURT, N. Musculação: uma abordagem metodológica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Sprint, 1986.
BOMPA, T. O. A periodização no treinamento desportivo. Barueri: Manole, 2001.
DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. 5. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.
______. Flexibilidade: alongamento e flexionamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Shape,
1991.
FOX, E. L. et al. Bases fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1991.
COSTA, Marcelo Gomes da. Ginastica localizada. 2 ed Rio de Janeiro: Sprint, 1998
MATVEEV, L. P. Preparação desportiva. Londrina: CID, 1996.
PLATONOV. V. N. Teoria Geral do Treinamento Desportivo Olímpico. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
______. Teoria geral do treinamento desportivo olímpico. Porto Alegre: Artmed, 2008.
POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao
condicionamento e ao desempenho. Barueri: Manole, 2000.

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74
UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS DO TREINAMENTO

TRITSCHLER, K. A. Medida e avaliação em Educação Física e Esportes de Barrow &


McGee. Barueri: Manole, 2003.
TUBINO, M. J. G. Metodologia Científica do Treinamento Desportivo. 13. ed. Rio de
Janeiro: Shape, 2003.
VERKHOSHANSKI, I. V. Força: treinamento de potência muscular. Londrina: CID, 1996.
WEINECK, J. Treinamento ideal. Barueri: Manole, 2003.
ZAKHAROV, A.; GOMES, A. C. Ciência do Treinamento Desportivo. Rio de Janeiro: Grupo
Palestra, 1992.

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75
© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL
UNIDADE 2
CAPACIDADES FÍSICAS

Objetivos
• Compreender a aplicabilidade das diferentes capacidades físicas nos mé-
todos de treinamento.
• Analisar as qualidades físicas e suas particularidades.
• Identificar em cada capacidade física sua importância para as diferentes
modalidades de atividades físicas, exercícios ou esportes.

Conteúdos
• Velocidade.
• Flexibilidade.
• Resistência.
• Coordenação.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Procure buscar outras informações sobre os efeitos do envelhecimento.


Seu comprometimento será muito importante para obter sucesso acadê-
mico e profissional.

2) Realize um programa de estudos; crie uma rotina semanal que possa


ser cumprida integralmente; procure entender os conteúdos aqui apre-
sentados e colocá-los em prática, integrando seus estudos à sua futura
profissão.

3) Acesse sempre o Conteúdo Digital Integrador, buscando subsídios para


complementar seu entendimento. Os artigos e vídeos ali selecionados

77
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

foram cuidadosamente destacados para que você transponha o conhe-


cimento do conteúdo básico e realize novas construções conceituais e
práticas.

4) Procure praticar o conteúdo sempre que possível, empregue-o no seu dia


a dia, discuta-o com seus amigos, exponha o que aprendeu como uma
maneira de fixar o aprendizado.

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78
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

1. INTRODUÇÃO
As capacidades físicas são um conjunto de qualidades in-
dividuais desenvolvidas com o propósito de incrementar melho-
rias orgânicas que se refletirão em aspectos musculares e psi-
cológicos, por gerar alterações positivas que serão aproveitadas
durante a atividade física e no desempenho esportivo.
Nesta unidade, trataremos do desenvolvimento da veloci-
dade da flexibilidade e da coordenação. Na próxima, estudare-
mos o desenvolvimento da força e sua periodização, com aplica-
bilidade a todas as capacidades físicas expostas.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.

2.1. CAPACIDADES FÍSICAS

Velocidade
De maneira bem simples, podemos dizer que a velocidade
significa agir no menor espaço de tempo com a máxima intensi-
dade, ou seja, o desenvolvimento desta capacidade está relacio-
nado ao desenvolvimento de propriedades funcionais que per-
mitem a execução de ações motoras em tempos curtos e com
esforços vigorosos.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


79
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Tubino (2003) diz que a velocidade é a qualidade física


do músculo e das coordenações neuromusculares que permiti-
rão executar sucessivos gestos de maneira rápida, constituindo
uma só ação com intensidade máxima e duração breve ou muito
breve.
A velocidade não é somente uma capacidade física que nos
possibilita correr de maneira intensa, mas também é coordena-
da, pois nela há assimilação de movimentos motores que permi-
tem tanto a movimentação como a assimilação de outras capa-
cidades, como coordenação e força, por exemplo. A velocidade
é primordial em diversos esportes, como é o caso do caratê e
do boxe, em que os atletas se destacam pela movimentação por
meio de diversas e específicas formas de velocidade e também
em atividades acíclicas que envolvem maior coordenação, como
saltos e lançamentos, e movimentos cíclicos como patinação,
por exemplo (WEINECK, 2003).
Para Bompa (2001), a velocidade é uma das capacidades
físicas mais importantes do esporte, pois o poder de se mover
rapidamente faz com que se obtenha vantagens esportivas tan-
to em atividades simples quanto complexas. Quando integramos
esse raciocínio com o de Weineck (2003), entendemos que a ve-
locidade é um dos componentes mais importantes do desem-
penho esportivo (Figura 1), relacionada a outras capacidades,
como coordenação e força, por exemplo. Dessa forma, não deve
ser vista como uma capacidade isolada.
Segundo Weineck (2003, p. 379),
A velocidade motora resulta, portanto, da capacidade psíquica,
cognitiva, coordenativa e do condicionamento, sujeitas às in-
fluências genéticas, do aprendizado, do desenvolvimento sen-
sorial e neuronal, bem como de tendões, músculos e capacida-
de de mobilização energética.

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80
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Individualidade
Biológica

Genótipo Fenótipo

Carga genética
transmitida à pessoa e Tudo que é somado ou
que determinará acrescido ao indivíduo
preponderadamente após o nascimento.
diversos fatores.

Fonte: adaptado de Weineck (2003, p. 381).


Figura 1 Características parciais da velocidade para a capacidade de desempenho de
jogadores.

Para Platonov (2004), a velocidade deve ser levada em con-


sideração em todas as formas elementares de sua manifestação,
sendo determinada principalmente por dois fatores: o grau de
ativação do mecanismo neuromotor e a capacidade de mobilizar
o conteúdo da ação motora rapidamente.
O grau de ativação do mecanismo neuromotor é uma ca-
racterística da individualidade biológica relacionada a fatores
genéticos, podendo ser aperfeiçoado com o treinamento de ma-
neira menos eficiente. Como exemplo, o autor cita que o tempo
de reação das pessoas não praticantes de atividades esportivas
pode variar entre 0,2 e 0,3 s. Em atletas de alto nível, esse tempo

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81
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

oscilará entre 0,1 e 0,2 s. Com o treinamento, o tempo de reação


poderá melhorar em aproximadamente 0,1 s.
O segundo fator, ou seja, a capacidade de mobilização da
ação motora, está relacionado à ação do treinamento e dos efei-
tos que este exerce sobre o desenvolvimento das diversas for-
mas de velocidade. Portanto, a capacidade de mobilizar a ati-
vação motora se dá devido à velocidade de uma ação motora,
que é obtida graças à adaptação do aparelho motor às condi-
ções programadas do objetivo e da aquisição de uma coordena-
ção muscular ótima, que auxiliará em uma utilização diversa as
possibilidades individuais do sistema neuromuscular, próprias de
cada pessoa e das características de cada modalidade.
A importância dada ao treinamento de velocidade irá ao
encontro das características de cada modalidade esportiva ou de
cada atividade física que se pretende desenvolver. Por exemplo,
para a população em geral, não atleta, o desenvolvimento da
capacidade física da velocidade pode ser irrelevante quando se
busca um treinamento voltado ao cotidiano e à saúde. Por outro
lado, notamos que, dependendo da especificidade da modalida-
de esportiva que se pratica, ou para qual modalidade esportiva
for o treinamento, e focando-se o desempenho, a importância
do treino de velocidade ganha importância considerável dentro
de requerimentos específicos exigidos por cada modalidade, tor-
nando a velocidade uma capacidade física complexa.
Weineck (2003, p. 379) define que: "A velocidade de joga-
dores é uma capacidade complexa composta de diferentes capa-
cidades psicofísicas secundárias", como veremos a seguir.
A capacidade de percepção em situações relacionadas ao
jogo e de alterações que acontecem em menor espaço e tempo
possível é também entendida como velocidade de percepção.

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82
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

A velocidade de antecipação é a capacidade de antecipa-


ção das ações e dos comportamentos do adversário durante o
desenvolvimento do jogo no menor tempo possível.
A habilidade para realizar ações rápidas e específicas com
a bola, diante de um adversário, em curto espaço de tempo, é
chamada de velocidade de ação.
A velocidade de ação está relacionada com a forma em
que se deve aplicar esta capacidade física em cada modalidade
esportiva, levando-se em consideração fatores espaciais, tempo-
rais, separando-se do aspecto puramente motor, ou seja, saber
em que momento, por qual espaço, com que intensidade deve-
-se empregar a velocidade. Está também ligada a outros fatores,
como percepção e velocidade de decisão, por exemplo.
A capacidade de tomada de decisão no menor tempo pos-
sível, quanto às atitudes potenciais necessárias, também pode
ser descrita como velocidade de decisão.
Já a capacidade de reação a uma situação ou jogada repen-
tina e imprevista no decorrer do jogo é a velocidade de reação
ou o tempo de reação.
A velocidade de reação pode ser definida como a "veloci-
dade com a qual um atleta é capaz de responder a um estímulo
com uma ação adequada" (TUBINO, 2003, p. 185). É uma quali-
dade física indispensável para atletas de velocidade de todas as
categorias, entre as quais destacamos atletismo, natação, fute-
bol (goleiros), lutadores, jogadores de vôlei, esgrimistas, entre
outros.
Para Weineck (2003), a velocidade de reação pode ser divi-
dida em reações simples, como a largada em uma corrida de ve-
locidade, e reações complexas, como as diferentes reações que

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83
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

o atleta deve ter durante um jogo, em que será necessário que


a velocidade de reação se adeque às diferentes situações que
ocorrerem.
Tubino (2003) indica como melhor forma de treinamento
para a melhoria da velocidade de reação a utilização de grande
número de repetições de exercícios de "estímulo-resposta rápi-
da", provocando automatismo nos gestos que exigem velocida-
de de reação aos aguilhoamentos. Essa velocidade poderá ser
mensurada por testes eletrônicos que irão registrar o tempo que
a pessoa leva para responder com uma específica ação desejada
a determinado impulso visual ou auditivo.
Na sequência, temos ainda a capacidade de realizar movi-
mentos cíclicos e acíclicos em ritmo acelerado, podendo-se en-
tender esta qualidade como velocidade de movimento cíclico e
acíclico.
A velocidade de movimento cíclica consiste em uma se-
quência de ações motoras, repetidas de forma rítmica, indepen-
dentemente do fato de se tratar de movimentos das extremida-
des superiores ou inferiores, assim como do tronco. A frequência
com que o movimento é realizado depende da velocidade de
cada segmento (WEINECK, 2003).
Já na velocidade de movimento acíclica, as ações ocorre-
rão de maneira síncrona entre os segmentos, porém não repe-
tida. As ações começam de uma maneira e terminam de outra.
Podemos exemplificar a velocidade acíclica durante um lan-
çamento, um arremesso, durante um salto ou mesmo em um
chute, em que a eficiência da velocidade está correlacionada à
somatória de diversos gestos integrados para culminar em uma
ação sem sucessivas repetições.

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84
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

• A capacidade de se ajustar de maneira rápida às pos-


sibilidades cognitivas, técnico-táticas e condicionais é
conhecida como velocidade de ajuste.
• A capacidade em que há um deslocamento espaço-tem-
poral é definida como a velocidade de movimento ou
velocidade de deslocamento. Podemos entender essa
velocidade como a representação espacial máxima das
capacidades locomotoras das extremidades de desloca-
mento de um ponto até outro.
Dentro das modalidades esportivas, a velocidade de deslo-
camento está representada de forma específica em cada modali-
dade nas provas de velocidade, geralmente mensuradas em um
espaço de tempo por cronometragem.
A capacidade de movimentação de braços e pernas é defi-
nida como velocidade segmentar ou velocidade dos membros,
relacionada à velocidade de movimentação de braços e pernas
da maneira mais incisiva possível, no menor tempo, com a máxi-
ma intensidade.
A velocidade dos membros é essencial em nadadores, cor-
redores, ciclistas de velocidade, lutadores, esgrimistas, entre ou-
tras modalidades, em que a ação rápida e eficiente dos membros
no menor tempo possível é preponderante.
A velocidade segmentar (ou velocidade dos membros)
nem sempre está relacionada à velocidade de deslocamento.
Um exemplo disso é que um corredor pode apresentar uma fre-
quência de passadas com boa velocidade dos membros e não
possuir uma boa velocidade de deslocamento.

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85
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Shiffer (1993 apud WEINECK, 2003, p. 379) define a ve-


locidade diferenciando-a em formas de velocidade “puras” e
“complexas”.
São identificadas como formas de velocidade “puras”:
• Velocidade de reação, ou capacidade de reação a um
estímulo em um reduzido espaço de tempo.
• Velocidade de ação, ou capacidade de realizar movi-
mentos únicos, acíclicos, na maior velocidade contra
pequenas resistências.
• Velocidade de frequência, ou capacidade de realizar
movimentos cíclicos ou movimentos iguais e repetidos
com velocidade máxima contra pequenas resistências.
Já como formas "complexas" de velocidade, temos:
• Velocidade de força ou força de velocidade, que consis-
te na capacidade de resistência à força mais alta possí-
vel, pelo maior tempo determinado.
• Resistência de força rápida, ou a "capacidade de ma-
nutenção de uma velocidade sob fadiga mantendo a
velocidade de contração em movimentos acíclicos sob
resistência crescente" (WEINECK, 2003, p. 379).
• Resistência de velocidade máxima, que é a capacidade
de resistência sob fadiga, mantendo a velocidade em
movimentos de máxima velocidade de contração em
movimentos cíclicos.
Podemos notar de forma esquematizada a velocidade e as
suas subdivisões no esquema da Figura 2, a seguir.

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86
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Fonte: adaptado de Shiffer (1993 apud Weineck, 2003, p. 380).


Figura 2 Velocidade motora.

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87
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

As formas “puras” de velocidade, segundo Shiffer (1993


apud WEINECK, 2003), estão diretamente ligadas às capacidades
do sistema nervoso central e de fatores genéticos, sendo as for-
mas "puras de velocidade" compostas pela velocidade de reação
ou a capacidade em reagir o mais rápido possível.
Uma informação pode ser visual, auditiva, tátil ou acústica.
Podemos mensurar esta variável em uma corrida de velocidade,
por exemplo, por meio do intervalo de tempo entre o estímulo
de start e a realização do primeiro movimento. Já a velocidade
de ação pode ser entendida pela velocidade de realização de
movimentos rápidos, não repetitivos, únicos, chamados de ací-
clicos, com a máxima velocidade e contra pequenas resistências.
Nas formas puras de velocidade, temos a velocidade de
frequência, em que são realizados gestos motores sequenciados
e repetidos, com máxima velocidade.
Já nas formas “complexas” de velocidade há a velocidade
de força, que se relaciona a trabalhos realizados com grande in-
tensidade, contra a resistência. Como exemplo, podemos citar
o momento em que o velocista dá a saída no bloco de partida,
acelerando até atingir a máxima velocidade.
Outra forma complexa de velocidade é a resistência de
força rápida. É a capacidade que caracteriza a manutenção da
máxima velocidade possível em movimentos acíclicos sob fadiga
e resistência crescente.
Finalizando, temos ainda como forma complexa a resistên-
cia de velocidade máxima, que é definida pela capacidade de se
manter a velocidade em movimentos cíclicos em máxima veloci-
dade, durante o maior tempo possível, sob fadiga.

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88
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Flexibilidade
Para Weineck (2003, p. 470, grifo nosso), a “flexibilidade é
a capacidade e a característica de um atleta executar movimen-
tos com grande amplitude de movimento. Sob forças externas,
ou ainda que requerem movimentação de muitas articulações".
Já para Tubino (2003), é a “qualidade física que condicio-
na a capacidade funcional das articulações a movimentarem-se
dentro dos limites ideais de determinadas ações”. Tal afirmação
é complementada por Barbanti (1997), que define a flexibilidade
como a capacidade física de aproveitar todas as possibilidades
articulares de movimento em todas as direções, de maneira mais
ampla possível.
Segundo Zakharov (1992), a flexibilidade é a capacidade
física que o organismo tem de obter grandes amplitudes de mo-
vimento. Frey (1977 apud Weineck, 2003) define ainda alguns
sinônimos de flexibilidade, como os termos “mobilidade”, “arti-
cularidade”, que se referem à flexibilidade articular, e “elasticida-
de”, relacionado à flexibilidade dos músculos, tendões, fáscias e
ligamentos.
Dantas (2005) elucida-nos diversos termos relacionados à
flexibilidade, fornecendo as seguintes definições:
• mobilidade: termo utilizado para designar o grau de li-
berdade de movimento da articulação.
• elasticidade: é quando tratamos do estiramento elásti-
co dos componentes musculares.
• plasticidade: refere-se ao grau de deformação temporá-
ria das estruturas musculares ou articulares para a rea-
lização do movimento, restando ainda um grau residual

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89
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

de deformação após a aplicação do estímulo conhecido


como histeresis.
• maleabilidade: são as modificações da pele relaciona-
das às tensões parciais decorrentes das acomodações
do segmento utilizado.
Todos estes fatores podem ser estimuladores ou restriti-
vos à flexibilidade, assim como os apresentados pelo Quadro 1,
a seguir.

Quadro 1 Fatores que influenciam a resistência à flexibilidade.


ESTRUTURA RESISTÊNCIA À FLEXIBILIDADE
Cápsula articular 47%
Músculo 41%
Tendão 10%
Pele 2%
Fonte: adaptado de Dantas (2005, p. 58).

Platonov (2004) complementa as explanações de Dantas


(2005), dizendo que o nível de flexibilidade pode ser medido pela
eficácia da regulação nervosa da tensão muscular, pelo volume
muscular e pela integridade das estruturas das articulações.
Podemos dizer que a flexibilidade é uma qualidade física
que abrange propriedades morfofuncionais do aparelho motor
que determinarão a amplitude de movimento (ADM). A flexibili-
dade pode ser percebida de maneira integral e é o melhor termo
e o mais adequado para se referir quando se quer determinar a
mobilidade geral das articulações de todo o corpo. No entanto,
a flexibilidade também acontece de modo específico em cada
articulação e, neste caso, o mais adequado é utilizar o termo mo-
bilidade articular (DANTAS, 2005; PLATONOV, 2004).

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90
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Podemos dizer que, se analisarmos a flexibilidade do nosso


aluno/atleta, é possível determinar em parte seu nível de habi-
lidade em diferentes modalidades ou atividades físicas. Restri-
ções na flexibilidade podem trazer prejuízos e atrasos no tempo
de treinamento e na assimilação de hábitos motores, limitando
também os níveis de força, coordenação e velocidade, o que au-
menta substancialmente a probabilidade de lesões musculares,
ligamentares e articulações. Além dos prejuízos físicos, os resul-
tados da performance também são afetados, uma vez que a falta
de flexibilidade afeta a mobilidade articular, não permitindo a
execução devida e total das amplitudes articulares nem a utili-
zação devida das propriedades elásticas musculares, prejudican-
do ainda as possibilidades metodológicas do treinamento que
visam à economia de energia (PLATONOV, 2004).
Barbanti (1997) acrescenta ainda que, com a flexibilidade,
a movimentação global do indivíduo é otimizada em uma ação
conjunta dos segmentos e complexos articulares, musculares e
ligamentares. É clara a ideia de que a mobilidade articular (a fle-
xibilidade é específica de cada articulação ou do conjunto de ar-
ticulações) estará também relacionada às exigências individuais
de cada modalidade esportiva ou atividade praticada.
Para Weineck (2003), podemos diferenciar a flexibilidade
em flexibilidade geral e específica, em ativa e passiva e, ainda,
em flexibilidade estática. A flexibilidade geral refere-se à flexibi-
lidade dos principais segmentos articulares em grande extensão
(quadril, ombro, coluna vertebral). Dantas (2003, p. 87) comple-
menta essa definição dizendo que a flexibilidade geral "é obser-
vada em todos os movimentos da pessoa, englobando todas as
articulações". Já a flexibilidade específica é referente a um ou
alguns movimentos realizados em determinadas articulações.

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91
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Definimos como flexibilidade ativa (Figura 3) a capacidade


de executar movimentos com a maior amplitude de movimento
(ADM) possível, sem ajuda, ou seja, pela contração da muscula-
tura agonista e, naturalmente, pelo relaxamento dos músculos
antagonistas.

Figura 3 Exemplo de flexibilidade ativa.

Para Barbanti (1996) e Platonov (2004), a flexibilidade pas-


siva é
a capacidade de alcançar a maior mobilidade ou a maior ampli-
tude de movimento por meio de forças externas e gerada por
outra pessoa, com sua própria força ou com o peso do próprio
corpo ou ainda com auxílio de aparelhos por exemplo, sendo
sempre maior que a ativa.

Pela Figura 4 podemos observar dois exemplos de alonga-


mento passivo.

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92
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Figura 4 Exemplos de alongamento passivo.

Frey (1977 apud WEINECK, 2003) explica que a diferença


na amplitude de movimento entre a flexibilidade passiva e ativa
é chamada de "reserva de movimento" (Figura 5). Essa diferença
é um indicador que fornece informações sobre as possibilidades
de melhoria na flexibilidade ativa, pela ativação direcionada dos
agonistas e pelo aumento da capacidade de extensibilidade e
elasticidade dos antagonistas.

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93
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Figura 5 Exemplo da reserva de movimento.

A flexibilidade estática é definida pela capacidade de ma-


nutenção de um estado de alongamento por determinado perío-
do de tempo. É realizada pela mobilização dos grupamentos cor-
porais, lenta e gradualmente, por um agente externo buscando
alcançar o limite máximo. Ela difere da flexibilidade passiva pela
velocidade de execução e por ser realizada pouco a pouco, mas
é comum alguns autores não diferenciarem esses dois conceitos,
integrando-os com o nome de flexibilidade estático-passiva.
Dantas (2005) define um tipo de flexibilidade, a flexibilida-
de dinâmica (Figura 6), que é expressa pela máxima amplitude
de movimento (ADM) e pode ser atingida pelos músculos moto-
res sem ajuda, de maneira voluntária, diferenciando da flexibili-
dade ativa devido à rápida forma de sua execução e dificultando,
inclusive, sua mensuração, sendo muito observada em práticas
esportivas. Como exemplo desse tipo de flexibilidade, temos o
goleiro que salta para alcançar a bola durante uma partida, evi-
tando um gol, ou o jogador de vôlei que salta e utiliza sua fle-
xibilidade corporal para atingir o ponto mais eficiente em uma
"cortada". Esses movimentos são realizados de forma abrupta,
isolada, sem ajuda de forças externas.

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94
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Figura 6 Exemplos de flexibilidade dinâmica.

Este mesmo autor (DANTAS, 2005, p. 86) explica que a fle-


xibilidade controlada "pode ser observada quando se realiza um
movimento sob a ação do músculo agonista de forma lenta, até

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95
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

chegar à maior amplitude na qual seja possível realizar uma con-


tração isométrica". A flexibilidade controlada é extremamente
importante para ginastas, atletas, dançarinos e culturistas, "pois
permite ao praticante sustentar um segmento corporal, numa
contração estática realizada em um amplo arco articular".
A flexibilidade controlada (Figura 7) não depende somen-
te da elasticidade dos músculos antagonistas e da mobilidade
das articulações envolvidas, mas também da força isométrica do
agonista.

Figura 7 Exemplo da flexibilidade controlada na ginástica com argolas.

Estudando sobre os diferentes tipos de flexibilidade e


sua aplicabilidade geral ou específica em cada atividade física
ou modalidade esportiva, temos um consenso na literatura – a
importância da flexibilidade.
Dantas (2005) e Weineck (2003) evidenciam a flexibilidade
como requisito primordial para uma boa execução de
movimentos realizados dentro de amplitudes máximas dos
limites morfológicos, dependentes tanto da elasticidade muscular

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96
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

quanto da mobilidade articular sob os aspectos qualitativos e


quantitativos. Seu desenvolvimento promove efeitos positivos
sobre fatores físicos do desempenho esportivo, contribuindo
para maior segurança do gesto motor e consequentemente
uma técnica mais apurada. Com o aumento da flexibilidade, os
exercícios podem ser executados com maior amplitude, maior
força, maior velocidade, de maneira mais harmônica e eficaz, não
somente nos esportes ou nas atividades físicas. A flexibilidade
também é importante nas atividades da vida diária, pois melhora
a qualidade de vida e reduz desde dores articulares até o risco
de lesões.
Dantas (2005) descreve que é com o alongamento que
podemos obter as melhorias e a manutenção dos níveis de
flexibilidade, que fazem com que a aquisição desta qualidade
física seja treinada, entre os diversos tipos de alongamento:
passivo ou estático, realizados por um período com a musculatura
em extensão máxima, ou ativo, dinâmico ou balístico, realizados
com pequenos balanceios rápidos na tentativa de gerar maior
amplitude de movimento. O autor destaca o alongamento por
Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) como o mais
eficiente para aquisição da flexibilidade. Esse alongamento
consiste em uma integração entre o fuso muscular e o órgão
tendinoso de Golgi (OTG) de um músculo e seu antagonista, para
obter maiores amplitudes de movimento.
A sensibilidade proprioceptiva é estimulada pelo
envolvimento dos nervos e músculos que enviam impulsos
nervosos ao sistema nervoso central durante contrações
concêntricas, excêntricas e combinadas que, devido ao efeito de
inibição dos motoneurônios volitivos dos órgãos tendinosos de
Golgi, permitem, a cada emprego da força contra a resistência do
músculo, maior amplitude de movimento.

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97
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Podemos observar na Figura 8 o arco reflexo da medula


espinhal agindo sobre a tensão muscular e, subsequentemente,
na resposta de relaxamento.

Figura 8 Arco reflexo de medula espinhal.

Powers e Howley (2000) explicam que essa técnica de alon-


gamento por Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP)
geralmente é realizada por duas pessoas, em que uma moverá
o segmento a ser alongado passivamente ao longo de sua am-
plitude de movimento (ADM) até o ponto máximo de sua ampli-
tude, atingindo o ponto máximo do movimento. O alongamento
do segmento alongado neste ponto deve ser realizado entre 6 e
10 segundos de maneira isométrica. Em seguida, há um relaxa-
mento muscular com um sucessivo alongamento, "forçando" um
pouco mais a amplitude de movimento:
Para Power e Howley (2000, p. 492),

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98
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

O fundamento fisiológico para o uso do alongamento por meio


da FNP é que o relaxamento muscular segue uma contração
isométrica porque a contração estimula órgãos tendinosos de
Golg, que inibem a contração durante o exercício de alonga-
mento subsequente.

Os testes que mensuram a flexibilidade podem ser dividi-


dos em três grandes grupos: angulares, lineares e adimensionais.
Os testes angulares, como a própria denominação sugere,
são aqueles mensurados por ângulos (goniometria), realizados
geralmente com o goniômetro (ver Figura 9), que é um apa-
relho utilizado para quantificar os graus de amplitude de uma
articulação.

Figura 9 Goniômetro.

Os testes lineares são testes expressos em uma escala de


distância, geralmente fracionada em centímetros ou polegadas.
Como exemplo dessa mensuração, podemos citar a caixa de sen-
tar e alcançar de Weels. Veja uma representação na Figura 10, a
seguir:

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99
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Figura 10 Caixa de sentar e alcançar de Weels.

O teste realizado na caixa de sentar e alcançar de Weels


mensura a flexibilidade do quadril, da musculatura dorsal e dos
músculos posteriores dos membros inferiores.
A caixa de sentar e alcançar de Weels é uma caixa confec-
cionada com uma escala fracionada em sua parte superior. Ao
sentar-se, o avaliado apoia os pés na parte anterior da caixa, ten-
tando alcançar, com a ponta dos dedos das mãos, a maior distân-
cia possível, como na Figura 11, a seguir:

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100
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Figura 11 Exemplo do uso da caixa de sentar e alcançar.

Finalizando os testes adimensionais, a determinação da fle-


xibilidade é feita pela interpretação dos movimentos articulares
com dados de um gabarito predefinido. Estudaremos essa deter-
minação com mais detalhes no Conteúdo Digital Integrador.

Resistência
Podemos definir a resistência como a capacidade física
que permite realizar um exercício ou atividade física de maneira
eficiente, superando a fadiga (PLATONOV, 2008).
Frey (1977 apud Weineck, 2005) diz que podemos distin-
guir dois tipos de resistência: a resistência psíquica, que seria a
capacidade de um atleta/aluno suportar estímulo em seu limite
máximo (limiar) por certo período de tempo, vencendo os fa-
tores psicológicos que o induzem a parar; e a resistência física,
que seria a tolerância do organismo ou dos órgãos de maneira
isolada, para vencer o cansaço.

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101
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Platonov (2008) afirma que o nível de desenvolvimento da


resistência está condicionado ao potencial energético do orga-
nismo do aluno/atleta pelas particularidades da modalidade, ou
seja:
• pelo grau de adaptação em cada modalidade ou ativida-
de específica;
• pela eficácia técnica e tática em cada modalidade de-
senvolvida ou para cada atividade praticada;
• pela capacidade de resistência psíquica de cada aluno/
atleta que pode manter um alto nível de atividade or-
gânica durante os processos de treinamento e competi-
ção, podendo retardar ou anular o processo de fadiga,
ou, por outro lado, quando a resistência psíquica não é
eficiente, gerando antecipação dos estados de lassidão
(cansaço).
Devido à grande diversidade de fatores que determinam o
nível de resistência em diferentes tipos de modalidades esporti-
vas, em esportes coletivos e individuais, nos mais diferenciados
tipos de atividade muscular de resistência, autores e especia-
listas classificam a resistência a partir de vários índices. Dessa
forma, costuma-se subdividir não somente em resistência geral
e resistência específica, mas também em resistência de treina-
mento e de competição, local regional e global, aeróbia e anae-
róbia, resistência muscular e vegetativa, sensorial, emocional,
estática, dinâmica, resistência de velocidade e resistência de for-
ça (PLATONOV, 2004).
É claro que essas são subclassificações e, ao estudarmos ou
analisarmos uma modalidade esportiva, um esporte ou mesmo
uma atividade física de maneira específica, obteremos um apro-
fundamento em cada caso, na determinação e na conceituação

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102
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

da resistência, definindo metodologias de treinamento bastante


peculiares a cada uma das subdivisões, tornando o treinamento
mais eficaz.
Embasado nas diferentes classificações ou subdivisões da
resistência, é feita uma análise dos fatores que especificam o sur-
gimento de determinada qualidade física, criando-se um método
mais eficiente para o desenvolvimento desta modalidade. No en-
tanto, é impossível realizar uma avaliação de todas as modalida-
des da prática física ou esportiva, assim como suas exigências.
É necessário analisar os fatores que são mais incidentes e que
limitam cada modalidade, como seus níveis de manifestação da
resistência em atividades competitivas e não competitivas e toda
sua variação motora e orgânica, como os segmentos que regu-
lam e executam, tornando possível o treinamento da resistência.
O estudo desta unidade não visa explorar totalmente o as-
sunto e, sim, criar um direcionamento para as diversas vertentes
de estudo das capacidades físicas, trazendo à luz conceitos mais
abrangentes e gerais defendidos por autores que se manifestam
para defender esta circunscrição conforme Platonov (2004, p.
348), na subclassificação da resistência:
Essa classificação da resistência permite, em cada caso, realizar
a análise dos fatores que determinam a manifestação da quali-
dade específica e escolher a metodologia mais eficiente. Contu-
do, tais classificações não se adaptam em grau suficiente às exi-
gências específicas planejadas pela atividade de treinamento e
pela competição em uma determinada modalidade desportiva.

Devido à grande abrangência na conceituação da resistên-


cia e as suas diversas subclassificações, para elucidar de manei-
ra pedagógica tais classificações, nos embasaremos nas expla-
nações de Platonov (2008), que divide a resistência em geral e
especial.

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103
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

A resistência geral pode ser entendida como a capacidade


que um aluno/atleta possui de realizar uma atividade física, um
esporte ou um exercício de maneira contínua, com considerável
intervenção do sistema muscular em uma intensidade moderada
(com características aeróbias).
Essa classificação pode ser feita de maneira subjetiva, pois,
mesmo com todo embasamento bibliográfico e os estudos reali-
zados de maneira específica para a determinação da resistência
geral, ainda não há como determiná-la com exatidão, pois em
cada um, devido ao Princípio Científico da Individualidade Bioló-
gica, teremos dentro da resistência geral um limiar de "intensida-
de moderada". Portanto, é totalmente aceita pela comunidade
científica e pelos autores (produtores literários) a determinação
da resistência geral pela produtividade aeróbia, ou seja, em cada
atleta, em cada modalidade, em específicas condições de com-
petição, treinamento ou prática de atividade física, será mensu-
rada de maneira característica.
Somente por essa explanação já podemos entender que
segmentar a conceituação da resistência simplesmente em "re-
sistência aeróbia", por exemplo, pode gerar divergências, pois
a determinação da produtividade de um corredor de longa dis-
tância é diferente da de um nadador em mar aberto ou mesmo
dentro de modalidades esportivas. A eficiência da resistência ae-
róbia de um ciclista montanhista, por exemplo, é diferente da de
um ciclista de estrada (speed).
Devido à tentativa da literatura em especificar cada vez
mais os "tipos" de resistência, fazem com que erros graves acon-
teçam tanto de maneira teórica como também prática, pois em
cada modalidade ou mesmo dentro da mesma modalidade (de-
pendendo das características) como nos explica Platonov (2004,

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104
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

p. 348) fazendo a seguinte colocação para elucidar a dificuldade


de determinação dos diferentes níveis específicos da resistência
e a tentativa de classificar a resistência em sub-blocos:
A ignorância deste postulado tem ocasionado grandes erros,
tanto na teoria quanto na prática desportiva.
O costume de aumentar a resistência geral atingida mediante
um trabalho prolongado de atividade moderada nas modali-
dades desportivas, nas quais as capacidades aeróbias não são
essenciais para determinar o resultado, tem consequências
negativas, geralmente irreparáveis. Isso expressa na supressão
das possibilidades dos desportistas para desenvolverem as ca-
pacidades de velocidade, força, coordenação, na aprendizagem
de um número limitado de procedimentos técnicos e ações e
na negligência perante a necessidade de se criar uma base fun-
cional para desenvolver qualidades necessárias para determi-
nadas modalidades.

Deste modo, determinamos a resistência geral como a ca-


pacidade para executar, de maneira prolongada e eficaz, uma
atividade física ou modalidade esportiva de caráter inespecífi-
co, com efeito positivo em consolidar componentes específicos
de uma prática física, elevando a adaptabilidade aos diferentes
níveis de carga e à transferência dos níveis de preparação de ati-
vidades inespecíficas para fins específicos.
A resistência especial é a capacidade de execução de uma
atividade física, exercício ou modalidade esportiva, superando a
fadiga, mediante as condições exigidas e determinadas pela ati-
vidade competitiva particular de cada modalidade de maneira
específica.
Matveiév apud Platonov (2004) sugere diferenciar o que
ele chama de "resistência especial durante o treinamento" e “re-
sistência especial durante a competição". A resistência especial
durante o treinamento é mensurada nos índices do volume glo-

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105
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

bal e da intensidade de trabalho específico realizado durante o


treinamento, enquanto a resistência especial durante a competi-
ção é avaliada conforme a capacidade de realização da atividade,
pela eficácia das ações motoras e pelas particularidades psíqui-
cas pertinentes a todo processo competitivo.
A resistência especial é uma qualidade de grande comple-
xidade com diversos componentes; a estrutura do treinamento
estará pautada e será determinada mediante a especificidade da
cada modalidade esportiva e a forma específica do desenvolvi-
mento de sua planificação.
Conforme o raciocínio de Platonov (2004), segundo as pe-
culiaridades da modalidade esportiva, do exercício ou da prática
física executada, a resistência especial pode apresentar, dentro
de cada característica, algumas denominações que serão aponta-
mentos distintivos e que sinalizarão um método de aplicação do
treinamento. No entanto, como não serão metodologias exatas,
é inevitável que, quando os fatores que determinam as manifes-
tações específicas da resistência em seu caráter mais individual,
em cada uma das características mais específicas e particulares
em diversas modalidades, surja a necessidade de uma análise
mais apurada da resistência especial, levando em consideração
fatores como:
1) as vias e os mecanismos de consumo energético;
2) as manifestações e as exigências psíquicas de cada
uma das modalidades físicas ou esportivas;
3) as unidades motoras envolvidas particularmente em
cada modelo de atividade relacionada ao movimento
humano;
4) os tipos de fibras e o percentil disposto geneticamente
em cada pessoa e as características destas, correlacio-

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106
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

nadas às exigências únicas de cada desporto, exercício


ou modalidade;
5) a eficiência de trabalho muscular e sua relação com o
organismo como um todo;
6) a eficiência técnica e tática de cada praticante em cada
uma das modalidades esportivas, relacionadas ao or-
ganismo e às funções que geram o trabalho (exercício).
Verificando uma pequena quantidade de fatores, já pode-
mos notar o quanto eles se diferenciam ou se inter-relacionam
nas mais variáveis modalidades, nos mais diferentes esportes,
pelas mais diversificadas atividades esportivas, e mais uma vez
faz-se necessário afirmar que seria impossível (e também não é
esta a nossa intenção) explorar a capacidade física de resistência
em sua plenitude e totalidade de suas características. Portanto,
unicamente sobre o conhecimento dessas bases, já é possível
desenvolver um substancial conhecimento no âmbito das exi-
gências específicas de modalidades, esportes, exercícios ou ati-
vidades dos profissionais envolvidos com a Educação Física e as
áreas da Saúde e performance afins.
Entre tantos fatores, elencamos um que é imprescindível e
que estará latente não somente durante os estudos da resistên-
cia, mas que certamente nos dará subsídios de discussão, além
de qualidades físicas, que é o suprimento energético para as ati-
vidades musculares e as vias de otimização que ampliam as suas
possibilidades de aproveitamento. Para Platonov (2008, p. 349):
na maioria das modalidades desportivas as possibilidades do
sistema de consumo energético e a habilidade para aproveitá-
-las na execução de ações motoras, que constituem o conteúdo
da atividade de treinamento e de competição dos desportistas
especializados em uma determinada modalidade desportiva
adquirem um significado decisivo para atingir elevados índices
de resistência.

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107
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

O autor supracitado complementa seu destaque ao supri-


mento energético, justificando alguns pontos interessantes para
reflexão e discussão, como veremos a seguir.
É a mobilidade dos processos de consumo energético que
determinará a rapidez com que o sistema de consumo é ativado,
de acordo com as características específicas da atividade motora
e da variabilidade do treinamento.
A dinâmica com que os processos energéticos serão mo-
bilizados será de acordo com as alterações na intensidade e ca-
racterística de cada modalidade. O trabalho de resistência será
determinante na relação do suprimento energético e na poster-
gação ou antecipação da fadiga.
Outro fator muito importante relacionado com a eficiên-
cia energética está na economia de energia durante a atividade
ou prática esportiva, em que a planificação correta específica da
resistência resultará em uma utilização racional de energia para
atingir os maiores índices de performance, além da eficácia mo-
tora durante a ação (execução do exercício).

Coordenação motora
A coordenação motora pode ser entendida não somente
como uma capacidade, mas também como uma necessidade
para o ser humano. Ela está presente desde o útero, onde o sis-
tema nervoso central já controla os impulsos que coordenam o
funcionamento do organismo. Os movimentos, mesmo involun-
tários, desde esse momento já iniciam a gênese da coordenação.
A partir do nascimento, notamos as progressões acentua-
das da coordenação. Logo o bebê já começa a coordenar seus
gestos e consegue segurar sua mamadeira, levar o alimento à

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108
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

boca. Ele inicia as progressões relacionadas a uma das mais bási-


cas funções humanas, que é caminhar, coordenando seus gestos
ao arrastar-se, engatinhando até iniciar os primeiros passos. E,
assim, vai refinando seus gestos de maneira coordenativa, elimi-
nando o que Tubino (2003) descreve como "gestos parasitas" e
otimizando o movimento em uma melhor plasticidade e preci-
são, que leva à consciência da execução da coordenação.
Tubino (2003) comenta ainda que, mesmo com a existên-
cia de diversos estudos sobre a coordenação, algumas coloca-
ções são básicas para o entendimento desta capacidade física.
Em primeiro lugar, o autor elucida que a coordenação é
uma qualidade a ser trabalhada e considerada como pré-requi-
sito para qualquer atleta que pense em chegar a um nível mais
alto ou já o tenha alcançado. Outro fato destacado é que, para
que a aquisição da coordenação seja melhor assimilada, seu
desenvolvimento deve se iniciar desde a infância, se possível já
nos primeiros anos de vida, pois dessa forma a especificidade do
treinamento da coordenação ficará mais implícito nas destrezas
específicas de cada esporte.
O autor ainda diz que "a coordenação não deve ser ob-
jetivada especificamente em programas de preparação física de
alto nível, sendo considerada para efeito de treinamento, nos
exercícios técnicos da preparação técnico tática" (TUBINO, 2003,
p. 191). E que o sistema nervoso é variável e se condiciona por
meio de atividades voltadas para coordenação.
Weineck (2003) completa esse raciocínio, defendendo que
a coordenação é a habilidade que permitirá que um movimento
seja realizado com precisão e economia de movimento, resul-
tando em um menor custo energético para as atividades e para
os sistemas, em especial para o sistema muscular, tendo assim

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109
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

maior aproveitamento das capacidades. Dessa forma, notamos


que a coordenação é determinada por segmentos voltados à
orientação, regulação e precisão, que culminará em um gesto,
movimento ou sequência de gestos e movimentos realizados de
maneira a demandar menores gastos energéticos e maior har-
monia e plasticidade de execução.
Ainda sobre esta “economia”, encontramos as contribui-
ções de Barbanti (1990), que descreve a coordenação com mo-
vimentos racionalizados, leve e soltos, realizados com o objetivo
de poupar o esforço e fazendo com que, por meio da capaci-
dade física, a coordenação obtenha no desenvolvimento de um
exercício ou na execução de um gesto a ação ótima dos grupos
musculares.
Com relação à coordenação, um fator de grande importân-
cia é a consciência corporal, principalmente a percepção e a análi-
se dos próprios movimentos como um todo, com a compreensão
das tarefas motoras propostas, o planejamento e a execução dos
movimentos. Quando todos estes componentes estão alinhados
e presentes, é possível garantir impulsos eferentes dos grupa-
mentos musculares e dos músculos, garantindo a alta eficácia
da coordenação. Para a determinação do nível de coordenação,
deve haver controle operacional, análise das características dos
movimentos realizados e de seus resultados (PLATONOV, 2008).
Weineck (2003, p. 514), citando outros autores, expõe:
As capacidades coordenativas (sinônimo de habilidade) são ca-
pacidades determinadas sobretudo pelo processo de controle
dos movimentos e devem ser regulamentadas (HIRTZ, 1981).
Estas capacidades capacitam o atleta para ações motoras em
situações previsíveis (estereótipos) e imprevisíveis (adaptação)
e para o rápido aprendizado e domínio de movimentos nos es-
portes (FREI, 1977).

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110
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

As capacidades potenciais da coordenação devem ser


diferenciadas das capacidades adquiridas: as capacidades
adquiridas referem-se a movimentos já aprendidos e parcialmente
automatizados, enquanto as capacidades potenciais referem-
se a requisitos básicos gerais para o desempenho em diversos
movimentos (HIRTZ, 1981).

De acordo com Meinel (1984), podemos compreender a


coordenação literalmente por “ordenar junto”. Assim, segundo o
autor, a coordenação é definida pelas fases do movimento ou pe-
las aquisições no decorrer da aprendizagem entendida de diver-
sas formas, dependendo do campo de análise da Pedagogia. São
elas que determinarão as etapas a serem alcançadas no decorrer
do crescimento e da aprendizagem motora. Dentro das áreas de
performance, modificamos um pouco esse olhar, direcionando
nossa análise à Cinesiologia, que é o estudo do movimento, à
biomecânica, que estuda as forças que atuam sobre o movimen-
to, ou, de maneira abrangente, às áreas ligadas à Educação do
Movimento, como a Educação Física. A coordenação pode ser
focada nas atividades de contração muscular e sua integração
com o sistema nervoso. Notamos ainda dentro dessa área a im-
portância da consciência e da harmonização da aprendizagem
motora para o sucesso das atividades que exigem coordenação.
Meinel (1984) analisa a coordenação sobre cinco pontos
que vão controlar e regular o movimento:
• analisador cinestésico;
• analisador tátil;
• analisador estático-dinâmico (analisador vestibular);
• analisador óptico (visual);
• analisador acústico.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


111
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

É importante salientar que os analisadores cinestésico e


estático-dinâmico apresentam funções inclusas no circuito inter-
no de regulação. Assim, eles regulam e controlam as informações
por vias internas do organismo e os analisadores tátil, óptico e
acústico realizam suas funções no circuito externo, controlando
informações externas ou parcialmente externas ao organismo.
O analisador cinestésico é um dos mais importantes, por
possuir elevada capacidade de transmissão nervosa. É com-
preendido, inclusive, como um “sensor de movimentos”, por
possuir receptores proprioceptores encontrados em músculos
e articulações, além de tendões e ligamentos, com a função de
apontar imediatamente os processos de movimento do tronco e
das forças que agem sobre eles.
Weineck (2003, p. 525) elucida o analisador cinestésico da
seguinte forma:
Os receptores do analisador cinestésico encontram em todos os
músculos, tendões, ligamentos e articulações. Eles fornecem in-
formações sobre a posição dos membros, tronco e sobre a força
mobilizada. Por esta razão as informações cinestésicas detalha-
das são uma condição primária para a coordenação (temporal e
espacial) de diversos movimentos.

No analisador tátil, os receptores estão localizados sobre a


pele, conforme vão provendo informações por meio do contato
direto com o meio ambiente. “Os receptores do analisador tátil
encontram-se na pele e fornecem informações quanto à forma e
ao tipo de superfície em contato com o corpo” (WEINECK, 2003,
p. 525). O autor ainda estima que grande parte das quedas em
idosos aconteçam devido à perda ou à redução deste analisador.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


112
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Isto se dá, segundo Meinel (1984), pelo fato de que parte


do movimento está relacionado ao contato direto com objetos
de superfícies, trazendo as informações sobre suas formas, o que
criará um sistema de estratégias coordenativas na tomada de de-
cisão sobre a ação dos movimentos, não somente em ambien-
tes sólidos, mas também no meio aquático, onde são perceptí-
veis pelas vias táteis aspectos como temperatura, resistência da
água, impulsão e propulsão.
Meinel (1984) enfatiza a dificuldade de diferenciação entre
as informações táteis e as informações cinestésicas, justificada
pelas ramificações nervosas próximas e pelo fato de as informa-
ções "fluírem de maneira concomitante”.
O analisador estático-dinâmico está localizado no apare-
lho vestibular do ouvido interno. É o responsável por informar a
posição e a mudança de direção da cabeça e, por consequência,
do resto do corpo. Pode apresentar deficiência em movimentos
de esportes, como a ginástica de aparelhos e esqui, em que a
posição errada da cabeça poderá atrapalhar a coordenação do
movimento (WEINECK, 2003; MEINEL, 1984).
O analisador ótico possui receptores, segundo os autores
supracitados, definidos como "teleceptores ou receptores de
operação à distância".
Este analisador é muito importante durante a coordenação
dos movimentos, uma vez que, por meio dele, é possível "identi-
ficar" a própria posição e assim informações sobre o próprio mo-
vimento e também dos objetos e pessoas ao seu redor. Isso per-
mite a programação do movimento para sua execução, avaliando
distância, velocidade, direção de uma pessoa, suporte ou objeto,
permitindo que exista uma programação coordenativa do início,

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


113
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

da execução e do final de uma sequência, tendo os receptores do


analisador ótico a capacidade de fornecer informações centrais
e periféricas que são de suma importância no desenvolvimento
da performance.
Weineck (2003) diz que o avaliador acústico tem um papel
secundário e se justifica relatando que, durante o movimento,
a percepção sonora é bastante restrita. No entanto, devemos
atentar ao fato de que, se correlacionarmos as qualidades físicas,
notaremos na coordenação o "tempo de reação". Se o tempo de
reação caminhar juntamente com a coordenação, enfatizando-
-se o treinamento dado ao avaliador acústico, pode fazer com
que, numa competição de alto nível, o atleta “ganhe" milésimos
de segundos preciosos dentro do esporte. Esses milésimos mui-
tas vezes fazem a diferença entre o campeão e o segundo lugar
no pódio.
Meinel (1984), não concordando totalmente com Weineck
(2003), descreve o avaliador acústico com relativa importância,
justificando que, em determinados esportes, como o remo, por
exemplo, a percepção de cada fase (entrada da pá na água, tra-
balho submerso, retirada e rolamento) transmitirá informações
para a coordenação alternada e para o ritmo grupal.
Além das condições apresentadas por Meinel (1984), en-
contramos uma exposição bastante elucidativa feita por Gomes
da Costa (1998) sobre a capacidade de coordenação motora. O
autor descreve que a aquisição da aprendizagem motora se ba-
seia em mecanismos de absorção, organização e armazenamen-
to de informações, assim como também no nível de complexida-
de da atividade, o que quer dizer que, dependendo do quanto
o aluno ou atleta tem de habilidade para absorver as informa-
ções (cinestésicas, visuais, auditivas, táteis, estático-dinâmicas),

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


114
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

poderá obter maior ou menor sucesso na coordenação e subse-


quentemente no movimento. "Neste processo psicomotor de re-
conhecimento e transformação da experiência de movimentos,
o repertório de movimentos disponíveis desempenha um impor-
tante papel" (GOMES DA COSTA, 1998, p. 135).
Platonov (2008) acrescenta que a capacidade de coorde-
nação se relaciona a manifestações classificadas como anteci-
pações espaço-temporais, em que as condições para um bom
desenvolvimento da capacidade de coordenação também estão
ligadas a precipitar-se a acontecimentos e ações que surgem de
maneira eventual, assim como antever relações espaciais entre
parceiros e adversários, para, no momento certo, iniciar, execu-
tar e finalizar a ação. O desempenho dessa ação dependerá das
seguintes habilidades:
• Diferenciar os componentes relacionados ao espaço e
tempo para aplicá-los no momento da competição.
• Analisar o momento mais propício para a execução dos
movimentos e escolher quando iniciá-los, tendo como
objetivo reagir conforme a ação do adversário e intera-
gir da melhor forma com meu(s) parceiro(s) de equipe.
• Dosar de maneira adequada a orientação, a amplitude,
a velocidade, o ritmo, a profundidade das ações pró-
prias e dos adversários, assim como dos componentes
da equipe.
Tubino (2003) elenca ainda três componentes importantes
que devem ser combinados para o sucesso, para a aprendizagem
da capacidade de coordenação motora que são essenciais, como
veremos a seguir.
O domínio cognitivo é relativo à aquisição dos conheci-
mentos, ou seja, à aprendizagem propriamente dita. O domínio

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


115
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

psicomotor está relacionado às mudanças comportamentais e à


capacidade de adaptação a estas mudanças e, por fim, o domínio
afetivo também se refere às mudanças comportamentais estan-
do sujeito, portanto, à capacidade de assimilação dos treinamen-
tos e sua transposição em competições, ou seja, conseguir repli-
car os aperfeiçoamentos cognitivos e psicomotores dos treinos
durante as competições, sem se abalar com as pressões deste
momento, por exemplo.
Para Platonov (2008, p. 473), é possível destacar alguns ti-
pos de capacidade de coordenação relativamente independen-
tes, como:
1) capacidade de avaliar e regular os parâmetros dinâmi-
cos espaciais e temporais dos movimentos;
2) capacidade de manter o equilíbrio;
3) capacidade de percepção do ritmo;
4) capacidade de orientar-se no espaço;
5) capacidade de relaxar voluntariamente os músculos;
6) capacidade de coordenar os movimentos.
Tubino (2003) complementa essas elucidações sobre a
aprendizagem do movimento, ensinando que a aprendizagem
deve seguir um processo de progressão lógica, obedecendo às
aquisições pedagógicas e seguindo do mais simples para o mais
complexo. No entanto, não há um consenso sobre a vertente
mais importante. Seria mais produtivo desenvolver a capacidade
de coordenação de maneira integral ou segmentada, ou seja, a
aprendizagem desde o princípio pela totalidade do movimento
ou pela decomposição dos movimentos em uma aprendizagem
fracionada em etapas a serem assimiladas e somadas para a se-
quência integral dos movimentos.

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116
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Independentemente das escolhas e estratégias traçadas


pelo treinador, o educador físico deve ter em mente que todas
as capacidades podem ser desenvolvidas em processos de trei-
namento e aperfeiçoamento, em especial as ações coordenati-
vas ou a qualidade física referentes à coordenação (além de os
exercícios poderem apresentar variantes em suas velocidades),
ao ritmo, à amplitude das ações e parâmetros em relação aos
adversários e parceiros. Assim, de maneira bastante irregular, na
preparação da coordenação, inclusive no alto nível, em cada mo-
dalidade, em cada momento do treinamento, para cada atleta,
existem pontos eficientes (fortes) e deficitários (fracos). Segundo
Platonov (2008), os pontos positivos podem suprir os negativos
– ele esclarece sua explicação com típicas variantes de compen-
sação. Nas falhas que são geradas pelo raciocínio tático, poderão
existir compensações relacionadas à rapidez das reações moto-
ras, como no equilíbrio, por exemplo, podendo ainda esta falha
ser suprida durante um movimento pela distribuição da atenção,
percepção do tempo, noções de distância, entre outras.
Já as falhas na distribuição da atenção, ou seja, as falhas na
prévia análise detalhada, podem ser compensadas pela rapidez
na percepção e nas operações racionais, direcionando uma pre-
cisão maior nas ações musculares e motoras.
Falhas geradas pela transferência da atenção, ou seja, ao
se obter uma informação visual, por exemplo, e não conseguir
transpô-la durante o movimento, podem ser compensadas pela
rapidez das reações motoras, alcançando maior capacidade e
objetividade em realizar prognósticos exatos sobre modificações
nas alterações de situações, assim como na percepção do tempo
de reação para realizar, da maneira mais coordenada possível,
um movimento.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


117
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

As deficiências que levam a falhas na rapidez das reações


motoras podem ser compensadas pela capacidade de antever si-
tuações durante o movimento que lhe proporcionarão a capaci-
dade de determinar distâncias e tempo, equidade no equilíbrio,
distribuição da atenção entre os diversos componentes do mo-
vimento, análises táticas, capacidade de raciocínio, entre outros.
A rapidez em diferenciar as ações motoras e as percepções
espaço-temporais suprem as falhas na precisão motora, ou seja,
a prévia capacidade de programar ações dentro de um ambien-
te em determinado tempo pode suprir a falha de determinar o
quanto de intensidade pode ser empregado em cada segmento
durante a ação.
Por fim, conforme já dissemos anteriormente, devido à ex-
tensão dos assuntos relacionados a esta unidade, nossa inten-
ção foi, em todas as discussões relacionadas ao desenvolvimen-
to das capacidades físicas, aguçar o conhecimento de cada uma
das qualidades físicas, estimulando a pesquisa aprofundada de
cada uma conforme o interesse e a área escolhida para atuação
profissional.

Com as leituras propostas no Tópico 3. 1., você poderá


conhecer melhor os efeitos do envelhecimento e, consequen-
temente, propor intervenções mais seguras e eficientes para
a população. Antes de prosseguir para o próximo assunto,
realize as leituras indicadas, procurando assimilar o conteúdo
estudado.

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118
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Vídeo complementar ________________________________


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar 2.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique na aba Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, busque pelo nome da disciplina
para abrir a lista de vídeos.
• Caso você adquira o material, por meio da loja virtual, receberá também um
CD contendo os vídeos complementares, os quais fazem parte integrante
do material.
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3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. CAPACIDADES FÍSICAS

Para consolidarmos o entendimento desta unidade, sugeri-


remos uma série de publicações que vêm ao encontro do estudo
das capacidades físicas. Começaremos indicando o artigo Análi-
se das capacidades físicas em crianças dos sete aos dez anos de
idade, de autoria de Borba et al. (2012), que relata um estudo do
qual participaram 232 crianças de ambos os sexos, com idades
entre 7 e 10 anos. Recomendaremos, na sequência, alguns ví-
deos que falam sobre o assunto.
• BORBA, D. A. et al. Análise das capacidades físicas
em crianças dos sete aos dez anos de idade. Revista
Brasileira de Ciência e Movimento, v. 20, n. 4, p. 84-91,
2012. Disponível em: <https://www.researchgate.net/
publication/254559181_Analise_das_capacidades_
fisicas_em_criancas_dos_sete_aos_dez_anos_de_
idade>. Acesso em 12 mar. 2019.

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119
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

Vídeos
• YOUTUBE. Vídeo de capacidades físicas. 2013. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=SKd-
jdA60kw>. Acesso em: 12 mar. 2019.
• YOUTUBE. FAMA. Faculdade de Macapá. Revisão Enem
– Educação Física – Capacidades Físicas. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=R4PSrtmOd0U>.
Acesso em: 12 mar. 2019.
• YOUTUBE. Capacidades físicas. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=R4PSrtmOd0U>. Acesso
em: 12 mar. 2019.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteú-
dos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Observe as definições a seguir.
I - A capacidade de percepção de situações relacionadas ao jogo e as
alterações que acontecem no menor espaço-tempo possível.
II - A capacidade de antecipação das ações e os comportamentos do
adversário durante o desenvolvimento do jogo, no menor tempo
possível.
III - A capacidade de realizar ações rápidas e específicas com a bola diante
de um adversário, em curto espaço de tempo.
Assinale a sequência correta:
a) I – velocidade de antecipação; II – velocidade de percepção; III – velo-
cidade de ação.
b) I – velocidade de antecipação; II – velocidade de ação; III – velocidade
de percepção.

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120
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

c) I – velocidade de percepção; II – velocidade de ação; III – velocidade


de antecipação.
d) I – velocidade de percepção; II – velocidade de antecipação; III – velo-
cidade de ação.
e) I – velocidade de ação; II – velocidade de percepção; III – velocidade
de antecipação.

2) Podemos entender como velocidade de reação:


a) a capacidade de reação a um estímulo em um reduzido espaço de
tempo.
b) a capacidade de realizar movimentos únicos, acíclicos, na maior veloci-
dade, contra pequenas resistências.
c) a capacidade de realizar movimentos cíclicos ou movimentos iguais e
repetidos, com velocidade máxima, contra pequenas resistências.
d) a capacidade de saltar na maior altura durante um tempo
predeterminado.
e) a capacidade de correr em linha reta durante um tempo predetermi-
nado, com a amplitude do passo o mais elevada possível.

3) Podemos entender como velocidade de frequência:


a) a capacidade de reação a um estímulo em um reduzido espaço de
tempo.
b) a capacidade de realizar movimentos únicos, acíclicos, na maior veloci-
dade, contra pequenas resistências.
c) a capacidade de realizar movimentos cíclicos, ou movimentos iguais e
repetidos, com velocidade máxima, contra pequenas resistências.
d) a capacidade de saltar na maior altura durante um tempo
predeterminado.
e) a capacidade de correr em linha reta, durante um tempo predetermi-
nado, com a amplitude do passo o mais elevada possível.

4) Podemos entender por velocidade de frequência:


a) a capacidade de reação a um estímulo em um reduzido espaço de
tempo.
b) a capacidade de realizar movimentos únicos, acíclicos, na maior veloci-
dade, contra pequenas resistências.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


121
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

c) a capacidade de realizar movimentos cíclicos ou movimentos iguais e


repetidos, com velocidade máxima, contra pequenas resistências.
d) a capacidade de saltar na maior altura durante um tempo
predeterminado.
e) a capacidade de correr em linha reta durante um tempo predetermi-
nado, com a amplitude do passo o mais elevada possível.

5) Entendemos como flexibilidade ativa:


a) a capacidade de ativar o Sistema Nervoso Central através dos Órgãos
Tendinosos de Golgi.
b) a capacidade de alcançar a maior mobilidade ou a maior amplitude de
movimento por meio de forças externas a gerada por outra pessoa,
com sua própria força ou com o peso do próprio corpo, ou ainda com
o auxílio de aparelhos, por exemplo.
c) a capacidade de executar movimentos com a maior amplitude de mo-
vimento (ADM) possível sem ajuda, ou seja, pela contração da mus-
culatura agonista e, naturalmente, pelo relaxamento dos músculos
antagonistas.
d) a capacidade de executar movimentos com a maior amplitude de mo-
vimento (ADM) possível sem ajuda, ou seja, pela contração da mus-
culatura antagonista e, naturalmente, pelo relaxamento dos músculos
agonistas.
e) a capacidade de executar movimentos com a maior amplitude de mo-
vimento (ADM) com ajuda, ou seja, pela contração da musculatura an-
tagonista e, naturalmente, pelo relaxamento dos músculos agonistas.

6) Leia a os dados a seguir:


I - Possui uma elevada capacidade de transmissão nervosa, sendo enten-
dido inclusive como um “sensor de movimentos”.
II - Possui receptores proprioceptores encontrados em músculos e articu-
lações, além de também estar nos tendões e ligamentos com função
de apontar imediatamente os processos de movimento do tronco e
das forças que agem sobre ele.

Trata-se do:
a) analisador cinestésico.
b) analisador estático dinâmico.
c) analisador ótico.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


122
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

d) avaliador acústico.
e) analisador tátil.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) d.

2) a.

3) c.

4) b.

5) c.

6) a.

5. CONSIDERAÇÕES
Ao final desta unidade, esperamos que você tenha conse-
guido entender a importância e a aplicabilidade das Capacida-
des Físicas. Devido a abrangência deste assunto orientamos para
que não se atenha somente ao que foi aqui explanado, apesar
de sempre buscarmos trazer o que de mais evidente e relevante
temos, clara é a ideia de que não esgotaremos o assunto. Des-
ta forma, como em uma estrada representaremos as placas de
sinalização que indicarão um caminho, porém, o seu esforço e
dedicação trilharão seus objetivos.
Esperamos que esteja gostando. Vamos a próxima unidade?

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


123
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

6. E-REFERÊNCIAS

Sites pesquisados
BORBA, D. A. et al. Análise das capacidades físicas em crianças dos sete aos dez
anos de idade. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 20, n. 4, p. 84-91, 2012.
Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/254559181_Analise_das_
capacidades_fisicas_em_criancas_dos_sete_aos_dez_anos_de_idade>. Acesso em 12
mar. 2019.
<http://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/viewFile/3314/2343>. Acesso
em: 3 maio 2016.
FAMA – Faculdade de Macapá. Revisão Enem – Educação Física – Capacidades Físicas.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=R4PSrtmOd0U>. Acesso em: 3
maio 2016.
VÍDEO de capacidades físicas. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=SKd-jdA60kw>. Acesso em: 3 maio 2016.
YOUTUBE. Capacidades físicas. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=R4PSrtmOd0U>. Acesso em: 16 mar. 2016.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Guanabara Koogan, 1987.
BARBANTI, V. J. Aptidão física: um convite à saúde. Barueri: Manole, 1990.
______. Teoria e prática do treinamento esportivo. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher,
1997.
______. Treinamento físico: bases científicas. 3. ed. São Paulo: CLR Balieiro, 1996.
BITTENCOURT, N. Musculação: uma abordagem metodológica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Sprint, 1986.
BOMPA, T. O. A periodização no treinamento desportivo. Barueri: Manole, 2001.
DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. 5. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.
______. Flexibilidade: alongamento e flexionamento. 5. ed. Rio de Janeiro: Shape,
2005.

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124
UNIDADE 2 – CAPACIDADES FÍSICAS

FOX, E. L. et al. Bases fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1991.
COSTA, Marcelo Gomes da. Ginastica localizada. 2 ed Rio de Janeiro: Sprint, 1998
MATVEEV, L. P. Preparação desportiva. Londrina: CID, 1996.
MEINEL, K. Motricidade: teoria da motricidade esportiva sob o aspecto pedagógico.
Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1984. (Educação Física Série Fundamentação).
PLATONOV, V. N. Teoria Geral do Treinamento Desportivo Olímpico. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
______. Teoria Geral do Treinamento Desportivo Olímpico. Porto Alegre: Artmed, 2008.
POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao
condicionamento e ao desempenho. Barueri: Manole, 2000.
TRITSCHLER, K. A. Medida e avaliação em Educação Física e Esportes de Barrow &
McGee. Barueri: Manole, 2003.
TUBINO, M. J. G. Metodologia Científica do Treinamento Desportivo. 13. ed. Rio de
Janeiro: Shape, 2003.
VERKHOSHANSKI, I. V. Força: treinamento de potência muscular. Londrina: CID, 1996.
WEINECK, J. Treinamento ideal. Barueri: Manole, 2003.
ZAKHAROV, A.; GOMES, A. C. Ciência do treinamento desportivo. Rio de Janeiro: Grupo
Palestra, 1992.

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125
© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL
UNIDADE 3
PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA
FORÇA

Objetivos
• Compreender a Periodização da Força.
• Analisar cada uma das fases do planejamento e da periodização.
• Identificar os períodos de planejamento e periodização da força para a
aplicação na Preparação Física.

Conteúdos
• Planejamento dos programas de treinamento.
• Preparação Física Geral e Especial.
• Periodização.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Nesta unidade, precisaremos que você retome alguns ensinamentos so-


bre Fisiologia e Antropometria, pois eles serão imprescindíveis para que
você entenda como se dá o envelhecimento do corpo e dos sistemas, e
como outros componentes físicos são afetados pelo passar do tempo.

2) Caso tenha dificuldades de entendimento, não se limite somente ao con-


teúdo desta obra; faça pesquisas em sites, artigos e revistas confiáveis e/
ou nas referências bibliográficas para complementar seu aprendizado.

127
© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

1. INTRODUÇÃO
Nesta unidade, poderemos observar os principais aspectos
do planejamento e a periodização da força.
Tomaremos conhecimento da composição da força, que é
a base das capacidades físicas. A força está relacionada a todos
os métodos de treinamento, por isso todas as áreas afins à Edu-
cação Física estudam de maneira a aprimorá-la e a alcançar os
resultados esperados.
Destacamos também que, devido à extensão do assunto,
abordaremos nesta unidade a periodização colocada por Olivei-
ra (2009), que, em seus diversos estudos, sintetiza o assunto de
maneira clara e pedagógica, privilegiando não somente a escolha
dos caminhos que seguiremos, mas também a oportunidade de
já iniciarmos nossa explanação, tomando como base de nossas
reflexões a pertinência e o aprofundamento já pesquisados pelo
autor.
Conforme já foi dito, nossa intenção não é esgotar o assun-
to, mas dar subsídios a novas e mais profundas investigações.
Bom estudo!

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


129
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

2.1. PLANEJAMENTO DA FORÇA

Encontraremos entre os autores diversas definições para


força: "Por força, devemos entender a capacidade do indivíduo
em superar uma resistência ou agir contra ela em uma atividade
muscular" (PLATONOV, 2008, p. 428).
Podemos verificar a manifestação da força em um regime
de trabalho muscular estaticamente, através da isometria, em
que não há alteração do comprimento dos músculos no momen-
to do esforço; dinamicamente, através das contrações isotônicas
que geram alterações no comprimento dos músculos, encurtan-
do nas contrações concêntricas ou alongando, voltando ao seu
estado inicial devido à resistência pelas contrações excêntricas
(PLATONOV, 2008). Podemos encontrar ainda as contrações iso-
cinéticas, quando a velocidade de movimento é constante, feita
por equipamentos especiais projetados para gerar uma contra-
ção de velocidade constante, não importando a carga (BOMPA,
2001).
Devido à extensão deste assunto, mais uma vez pautare-
mos nossos estudos nesses dois autores, que elucidam o assunto
de maneira objetiva.
Destacaremos primeiramente os três tipos básicos de for-
ça: a força máxima, a força de velocidade e a força de resistência.
Podemos definir a força máxima como a máxima capacida-
de de produção de força durante uma contração muscular volun-
tária máxima. A força máxima refere-se à maior força que pode
ser executada pelo sistema neuromuscular e se reflete em algu-
mas modalidades esportivas, como é o caso do halterofilismo,
do lançamento e do arremesso no atletismo, além de encontrar-

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


130
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

mos benefícios no desenvolvimento da força máxima em espor-


tes como natação de velocidade, remo, patinação de velocidade,
por exemplo (PLATONOV, 2008; BOMPA, 2001).
Ainda sobre a força máxima, Bompa (2001, p. 26) descreve
que "é refletida pela carga mais pesada que um atleta pode er-
guer, em uma tentativa expressa como 100% do máximo ou uma
repetição máxima".
Nos centros de treinamentos, nas academias, nas pistas
de atletismo é muito comum a determinação de 1RM ou uma
repetição máxima para a elaboração dos métodos de treina-
mento. Poderemos verificar no Conteúdo Digital Integrador al-
guns meios de determinação desta carga máxima, sendo mais
explorada nos materiais de Medidas e Avaliações da Atividade
Motora. Verificaremos o método de desenvolvimento da força
máxima dentro das fases que compõem os métodos de desen-
volvimento de força.
A força de velocidade é definida como a capacidade do sis-
tema neuromuscular em mobilizar um potencial funcional para
atingir altos índices de força em pouco tempo.
Alguns esportes de alto nível apresentam resultados defi-
nidos pela influência direta da força de velocidade em seus re-
sultados, como é o caso dos 50 metros na natação, ciclismo de
velocidade (contrarrelógio), 500 metros na patinação, esgrima,
saltos e lutas como o boxe, por exemplo.
A força de resistência, do ponto de vista metodológico,
também pode se enquadrar dentro da qualidade física resistên-
cia. Ela é, inclusive, indicada por alguns autores como Platonov
(2008) e Weineck (1999) como uma variante conceitual da resis-

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131
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

tência e não da força. Para evitar conflito nas informações e se


sobressaírem os aspectos pedagógicos de classificação sobre os
metodológicos, adotamos esta classificação.
Portanto, a força de resistência pode ser entendida como a
capacidade de se manter um estado de força, conservando seus
indicadores por um período prolongado, ou seja, o nível de força
de resistência se manifesta pela capacidade de superar a fadiga
realizando-se um elevado número de repetições no movimento,
com eficácia na sua realização. Esta característica de força traz
benefícios em esportes cíclicos, na ginástica, em alguns tipos de
lutas em que a duração do esforço se mantém por tempo prolon-
gado e é preciso manter a força, por exemplo.
Cabe lembrar que a manifestação das características da
força não ocorre de maneira isolada, mas intercambiada, ou seja,
o desenvolvimento de uma característica da força pode, deve e
provavelmente vai beneficiar uma ou outra atividade esportiva,
dependendo das características e exigências de cada esporte.
Portanto, o sucesso nas modalidades de competição se dá pelo
desenvolvimento e treinamento dos diferentes tipos de força.
Em algumas modalidades, há exigência de alto nível da for-
ça máxima ou da força de velocidade; por outro lado, em alguns
outros esportes, o atleta deve apresentar maior força de resis-
tência. É importante ainda lembrar que existem modalidades
esportivas ou esportes em que é necessário o desenvolvimento
equilibrado da força máxima, da força de velocidade e da força
de resistência. Por isso, é preciso avaliar bem tanto os efeitos po-
sitivos quanto os negativos do trabalho orientado para o desen-
volvimento de uma capacidade de força sobre o nível de outras
qualidades.

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132
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Para Atha (1981), Hartman e Tiunnemenn (1988), citados


por Platonov (2008),
Na prática, é comum a noção de que músculos fortes, capazes
de manifestar alto índice de força máxima, não podem atingir
indicadores elevados de velocidade dos movimentos e, além
disso, podem afetar negativamente o rendimento do atleta em
exercícios que exigem alto nível de desenvolvimento da força
de velocidade. Pesquisas especializadas, assim como a prática
desportiva avançada, contradizem essa concepção. Existe uma
relação positiva bastante estreita entre o nível de força máxima
e da força de velocidade. No entanto, esta relação manifesta-
-se precisamente nos casos em que o trabalho de velocidade
está relacionado com a necessidade de vencer uma grande re-
sistência externa (mais de 25 a 30 % da força máxima). Além
disso, quanto maior for a resistência, maior será a importância
do nível da força máxima para o desenvolvimento de altos in-
dicadores de força de velocidade. Por outro lado, a superação
de resistências pequenas com alta velocidade (por exemplo,
os movimentos do tênis de mesa) não exige alto nível de força
máxima. E mais ainda, nesses casos, pode ser observada uma
relação negativa entre força máxima e a força de velocidade.

Os primeiros métodos relacionados à preparação física se


pautavam em esquemas de tentativas e erros, ou seja, não exis-
tiam planificações ou periodizações. Eles dependiam das expe-
riências práticas.
Poderemos notar no Conteúdo Digital Integrador cada pe-
ríodo da ótica evolutiva. Especificamente no período pré-científi-
co começam a surgir os planejamentos elaborados com os ainda
restritos, mas já importantes, dados da Ciência em diversas áreas
do conhecimento.
Novas descobertas da Ciência devem ser incorporadas e
estudadas pelos profissionais que buscam sucesso em seu trei-
namento, em uma via de mão dupla. Para os cientistas, também

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133
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

faz-se necessário uma inter-relação com educadores, físicos, nu-


tricionistas, fisioterapeutas, médicos, psicólogos esportivos para
que os avanços científicos não se restrinjam aos tubos de ensaio,
mas representem aplicabilidade nos esportes, nas atividades fí-
sicas e nos exercícios em geral.
Em um dos grandes refletores das principais obras que ver-
sam sobre periodização, Oliveira (2009) faz uma releitura em sua
obra Planejamento e Metodologia do Treinamento Desportivo,
que nos servirá de referência para a elaboração desta unidade.
Atualmente, fica claro ser quase inimaginável pensar em
quaisquer programas de treinamento sem um planejamento e
uma periodização. Dificilmente poderemos também, sem conhe-
cimentos científicos, chegar ao sucesso de elaborações de pro-
gramas de treinamento eficientes, uma vez que a especificidade
de cada modalidade esportiva ou mesmo do cotidiano das acade-
mias, os diferentes públicos e as mais distintas individualidades
biológicas deixam evidente que as exigências do dia a dia exigem
cada vez mais constante aperfeiçoamento e aprendizagem sobre
a periodização em cada uma de suas fases, em consonância com
as ciências que nos auxiliam (Nutrição, Medicina, Fisioterapia,
entre outras). Isso torna a preparação física mais eficiente e a
cada dia mais personalizada a cada indivíduo, esporte ou moda-
lidade esportiva, fazendo com que cada momento do treinamen-
to (microciclo) nos proporcione resultados ou metas a serem al-
cançadas a médio (mesociclo) ou longo (macrociclo) prazo.
Podemos notar que grande parte do treinamento não ob-
tém o devido sucesso pela dificuldade de entendimento sobre a
periodização do treinamento. Entender o momento correto de
cada intervenção, saber respeitar os intervalos de descanso, pro-

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134
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

gramar e planejar dentro de um calendário as competições-foco


e as secundárias é de grande importância na formação profissio-
nal daqueles que visam trabalhar com treinamento.
Seria ter um pensamento bastante limitado se raciocinás-
semos que somente aqueles que estarão em contato com o alto
nível é que devem se debruçar sobre os estudos que envolvem
os conhecimentos sobre periodização. Podemos afirmar que
qualquer atividade física, exercício ou esporte depende de pla-
nejamento e que o resultado de nossos objetivos pode ser posi-
tivo ou não, dependendo daquilo que planificamos e do quanto
de nossos planos conseguimos cumprir.
Outro fator relevante que deve ser levado em considera-
ção é sobre as planificações que não culminam nos resultados
esperados, fato este que torna o programa de treinamento de-
sestimulante para o professor e para seus alunos/atletas.
É claro que, conforme vimos anteriormente, devido a diver-
sos fatores, em que o principal deles é a individualidade biológi-
ca, estamos sujeitos a realizar prognósticos e subsequentemente
termos de remodelá-los, pois no decorrer do programa de trei-
namento podem acontecer diversas situações a se considerar,
desde adaptações distintas daquelas inicialmente programadas,
até respostas orgânicas que não podem ser previstas, como a
queda da resistência a patologias, retardando o andamento dos
resultados e desajustando a relação global da periodização.
O aprimoramento profissional certamente será um dife-
rencial entre aqueles que pretendem se destacar no mercado de
trabalho. Saber discernir a seleção adequada das estratégias e
ter a ciência de escolher os exercícios e selecionar os métodos
mais adequados a cada aluno/atleta, dentro de cada possibili-

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135
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

dade, respeitando cada individualidade, é um mérito a qualquer


profissional que almeje alcançar seus objetivos e transmiti-los
aos seus alunos.
Não é redundante lembrar que, para cada aluno ou atleta,
em cada fase do treinamento, dentro de cada meta traçada, o
profissional deve elaborar o treinamento de maneira a obter a
maior especificidade possível para que o desenvolvimento das
capacidades físicas descritas na unidade anterior possa ser po-
tencializado e as deficiências, sejam elas de aprendizagem do mo-
vimento, por fatores genéticos ou não, possam ser suprimidas.
Nossa ferramenta é o movimento através de contrações
que são manifestadas das mais diversas formas, seja nas salas
das academias, nas corridas nas ruas, em cima de uma bicicle-
ta, dentro d'água através de braçadas, o que responderá dire-
tamente a modificações orgânicas para melhor, quando bem
orientadas.
Assim, para cada modalidade esportiva, devemos focar o
maior ou menor desenvolvimento dessas capacidades, mediante
as características que compõem cada atividade ou esporte e, é
claro, o grau de assimilação de cada um aos estímulos gerados
em cada momento do treinamento. Este estará diretamente li-
gado às experiências anteriores com os exercícios expostos, com
a regularidade da prática das atividades, o nível de treinamento
do nosso aluno/atleta, os fatores relacionados à nutrição, o des-
canso e até mesmo o sono, entre outros.
Entre tantas colocações, notamos que fica quase imprati-
cável pensar em quaisquer que sejam os segmentos dentro da
Educação Física e dos esportes sem antes elaborar, planificar,
estabelecer metas e delinear objetivos. Desta forma, para que
possamos iniciar as explanações sobre a periodização, começa-

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136
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

remos explicando a Preparação Física Geral (PFG) e a Prepara-


ção Física Especial (PFE) como uma gênese de nossos estudos.

Preparação Física Geral


Na Preparação Física Geral, como a própria definição diz,
as atividades físicas, esportivas ou os exercícios que compõem
esta preparação objetivam desenvolver de maneira diversificada
as diferentes capacidades físicas em um âmbito total, ou seja,
um trabalho com programas de treinamento que empregam ca-
racterísticas distintas de velocidade, flexibilidade, força, resistên-
cia e coordenação.
Para Oliveira (2009, p. 19):
Sua composição ampla, diversificada e organizada racionalmente
implica a utilização de:
• meios multifacetados que influenciem, de maneira
suficientemente ampla e eficaz, no desenvolvimento de
todas as principais capacidades e grupos musculares do
desportista, enriquecendo o repertório dos conhecimentos
práticos e a destreza geral;
• conhecimento antecipado das particularidades da
especialização desportiva, uma vez que, no processo de
ajuste funcional, podem surgir interações positivas, neutras
e negativas.

Após essas elucidações, podemos sugerir que, durante o


planejamento dos exercícios que irão fazer parte da Preparação
Física Geral, não se deve visar somente a gestos ou movimentos
específicos da atividade, mas também a programação global de
diferentes qualidades físicas que serão ministradas com o intuito
de propiciar o aperfeiçoamento posterior em uma modalidade
desportiva ou esporte específico.

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137
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Segundo Oliveira (2009), outro fator destacado pelo autor


é que, ao se realizar uma preparação integral (não específica),
pode-se assegurar o desenvolvimento harmonioso do programa
de treinamento, inclusive com a possibilidade de que esses exer-
cícios contribuam com a capacidade de recuperação após perío-
dos de cargas intensas.
Ainda conforme Oliveira (2009, p. 19),
Nesse caso, destacam-se as diferentes concepções de utilização
dos exercícios de PFG (preparação física geral), pois, enquan-
to no sistema tradicional de periodização, segundo Matveev
(1997), tais exercícios são prioritariamente considerados como
um pré-requisito fundamental para a prática posterior dos
exercícios preparatórios especiais, no sistema das cargas con-
centradas de força, proposto por Verkhoshansky (1990), orien-
tado para desportistas de alto nível, os exercícios são incluídos
nas rotinas de treinamento no período competitivo, com o ob-
jetivo de criar efeitos contrastantes em relação às cargas alta-
mente especializadas (seletivas), utilizadas nas diferentes eta-
pas de preparação características do conteúdo do treinamento
do atleta de alto desempenho.

Evidentemente, notamos que a Preparação Física Geral


fornece efeitos positivos sobre a recuperação, sendo um fator
potencial na restauração orgânica, fato este que nos leva à se-
guinte reflexão: “Em que momento deve-se utilizar a PFG dentro
de nossa Periodização?”.
Fica claro que, em modalidades de competição, no esporte
de alto nível, a Preparação Física Geral é muito bem-vinda aos
microciclos preestabelecidos no início das temporadas. Assim,
a inserção de exercícios gerais durante o início das preparações
(microciclo) pode ser benéfica ao planejamento total.

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138
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

A escolha dos exercícios que irão compor a Preparação Fí-


sica Geral demandam envolvimento, assim como comprometi-
mento e conhecimento do profissional, para uma análise com-
pleta das necessidades do aluno, em que as estratégias gerais
traçadas, a escolha dos testes e/ou das avaliações vêm ao encon-
tro do feeling descrito por Dantas na primeira unidade, em que
ficarão a cargo do educador físico as variáveis do treinamento e
as manipulações do programa que, neste momento, apesar de
parecerem generalizadas, influenciarão durante a especificação
do programa.
A atenção a detalhes simples pode ser um diferencial em
um momento subsequente. Esses detalhes podem se referir a
quais grupamentos musculares devemos dar maior ênfase nesta
fase geral, quais tipos de ação muscular serão utilizados neste
momento do treinamento (serão especificadas posteriormen-
te), quais serão as fontes básicas de energia a serem priorizadas
em meio à globalização, além de antever estratégias preventi-
vas, como conhecer os principais locais de lesão e os possíveis
procedimentos biomecânicos para preservá-los, analisando a
articulação em torno da qual o movimento ocorre, a amplitu-
de do movimento articular, o padrão de resistência ao longo da
amplitude de movimento, o padrão de velocidade do membro
e, assim, evitar sobrecargas intensas nos locais mais comuns de
possíveis lesões. Conhecendo-se ou atleta/aluno, pode-se veri-
ficar com mais facilidade segmentos com lesões prévias, lesões
não reabilitadas totalmente e lesões crônicas.
A Preparação Física Geral ainda pode ser evidenciada
durante os mesociclos de treinamento. Após alguns meses de
treinamento, a utilização de exercícios gerais pode ser útil para

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139
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

acelerar a recuperação dos grupos musculares mais exigidos por


trabalhos em grupamentos de maneira específica, o que pode
ser causado pela repetição contínua e constante de gestos es-
portivos para aperfeiçoamento neuromotor, que culminam em
esgotamento e desgaste pontual segmentar.
Nota-se um grande equívoco de muitos treinadores das
modalidades de competição que demandam resultados a médio
e curto prazo. Uma supressão na utilização de exercícios gerais,
por se tratar de modalidades que exigem especificidade, para
conquista de performances que leva a uma tendência de substi-
tuição dos programas metodologicamente elaborados com fases
que objetivam a capacidade desportiva geral são substituídos ou
acelerados para desenvolver a capacidade desportiva específica
a cada modalidade esportiva, esporte ou exercício-alvo, supon-
do-se que haverá uma adaptação positiva e respostas orgânicas
mais eficazes. Porém, deve se supor que, em se tratando do alto,
ou forçando a expressão “altíssimo” nível:
[…] é evidente que os princípios da especialização morfológica
e funcional, defendidos na preparação do desportista de alto
nível, têm como pressuposto a hipótese de que suas experiên-
cias motoras gerais foram amplamente desenvolvidas em eta-
pas anteriores da preparação de muitos anos (OLIVEIRA, 2009,
p. 20).

Podemos observar na Figura 1 a realização do exercício de


agachamento, executado por um atleta de lançamento do mar-
telo que é considerado um excelente exercício de preparação fí-
sica geral para lançadores de nível avançado.

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140
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Fonte: Oliveira (2009, p. 20).


Figura 1 Atleta (campeão brasileiro de lançamento do martelo) realizando o exercício
de agachamento com 240 kg, que é considerado um excelente exercício de preparação
física geral para lançadores de nível avançado.

Preparação Física Especial


Os exercícios de Preparação Física Especial objetivam o
trabalho de uma série de exercícios com características especí-
ficas da modalidade-alvo, almejada para competição pelo nos-
so aluno/atleta que se relaciona diretamente com as exigências

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141
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

da especialização da modalidade que incluirão movimentos ou


ações motoras parecidas com aquelas particularidades específi-
cas da modalidade desportiva, considerados os aspectos físicos,
técnicos e táticos.
Destaca-se a especificidade do treinamento dos principais
grupamentos musculares com ações agônicas e antagônicas du-
rante a execução da competição. Entende-se desta forma que os
exercícios de treinamento escolhidos devem cumprir as exigên-
cias da atividade competitiva e ser coerentes com o regime de
trabalho do sistema neuromuscular e o metabolismo energético
solicitado.
Para Oliveira (2009, p. 21),
[...] na etapa pré-competitiva, enquanto os atletas de levanta-
mento de peso olímpico e levantamento básico se utilizam de
estímulos específicos para o treinamento do sistema neuro-
muscular, objetivando a força máxima nos regimes concêntrico,
excêntrico, isométrico e combinado, os lançadores de dardo
utilizam-se de exercícios executados predominantemente nos
regimes excêntrico e concêntrico, com cargas leves (10 – 15%),
executados com velocidade [...]
Tal método implica a execução prévia de exercícios com cargas
em condições mais difíceis do que o exercício competitivo (in-
tensidade entre 90 – 92% da força voluntária máxima), segui-
do da execução do exercício competitivo na condição facilitada
(lançamento do dardo de 0,400kg ou de pequenos pesos de
0,250 – 0,500kg), visando a um efeito contrastante neuromus-
cular com transferência positiva dos exercícios preparatórios
especiais para os exercícios de competição e para os exercícios
de competição propriamente ditos.

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142
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

A Preparação Física Especial (PFE) ainda pode ser dividi-


da, segundo o autor supracitado, pela composição dos exercícios
preparatórios especiais, em dois grupos: Exercícios Especiais I e
Exercícios Especiais II.
Os Exercícios Especiais I assemelham-se à sequência dos
movimentos de competição, com alterações dos níveis de carga,
porém, mantendo os elementos complexos de competição. Po-
demos citar o exemplo do treinamento de lançamento de imple-
mentos de diferentes pesos (0,5 kg a 2,5 kg), dentro da técnica
gestual específica.
Já nos Exercícios Especiais II, os movimentos são fragmen-
tados dentro de uma sequência de movimento, ativando-se so-
mente um grupo muscular parcial de forma semelhante ao mo-
vimento que se realiza durante a competição. Como exemplo,
utilizaremos a modalidade esportiva voleibol, decompondo ou
parcializando o movimento de ataque, sendo treinadas apenas
as ações do braço, com o atleta posicionado de frente para a
rede, sobre um plinto 1, executando ações de ataque na entrada,
no meio e na saída de rede.
Oliveira (2009, p. 22) descreve que:
[...] essa preparação, dependendo do desporto e do exercício
de preparação, além de permitir o aumento das possibilidades
funcionais dos diferentes órgãos e sistemas do organismo, me-
lhora a coordenação neuromuscular, aperfeiçoa a capacidade
de o desportista suportar grandes cargas e contribui com a me-
lhora da capacidade de recuperação após estas.

No caso da prova de lançamento do dardo, (ou conforme a


Figura 2), há a fixação do espaguete no barco com o objetivo de
aumentar a resistência ao deslocamento deste com maior mobi-
lização da força muscular dos remadores dentro da água.

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143
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Fonte: Oliveira (2009, p. 21).


Figura 2 Preparação.

A escolha da proporcionalidade entre os exercícios de pre-


paração geral e de preparação especial deve seguir coerente-
mente o perfil de cada modalidade, sendo compatível cada uma
das etapas do treinamento do aluno/atleta.
Os exercícios de preparação geral seguem a tendência de
diminuírem à medida que o treinamento vai avançando. Desta
forma, de maneira inversamente proporcional, os exercícios de
preparação especial vão ganhando importância e cada vez mais
delineando o perfil do treino.
Podemos notar pelo gráfico da Figura 3, a seguir, que no
início das temporadas ou do treinamento na fase de preparação,
a preparação física geral é de até 90%, enquanto a preparação
especial ocupa em média 10-15% do treinamento. Quase de ma-

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144
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

neira inversa, no final do treinamento, na fase de manutenção


dos resultados, esta proporcionalidade inverte-se e a preparação
física especial pode atingir 90%, enquanto a preparação física ge-
ral atinge entre 10-15%.

Fonte: adaptado de Zakharov (1983 apud OLIVEIRA, 2009, p. 23).


Figura 3 Relação entre os exercícios de preparação geral e especial nas diferentes
etapas de preparação de muitos anos.

Durante a preparação física, diversas intervenções deve-


rão acontecer. Podemos definir essas interferências como ajus-
tes, que devem ser muito bem controlados para que não gerem
adaptações negativas ou neutras, como podemos observar na
Figura 4, onde visualizamos sucessivamente de cima para bai-
xo a resposta adaptativa esperada aos ajustes, posteriormente
as adaptações positivas em uma linha progressiva, adaptações
neutras em uma linha horizontal e adaptações negativas em uma
linha decrescente, onde possivelmente os ajustes geraram nega-
tivas adaptações.

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UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Figura 4 Diversas intervenções para a preparação física.

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146
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

No processo de ajustes, espera-se que sempre após a


aplicação do treinamento possam surgir adaptações positivas,
como podemos notar pela Figura 5 o efeito positivo em resposta
ao treinamento ou que pelo menos os efeitos negativos sejam
minimizados e, na pior das hipóteses, adaptações que, mesmo
sem gerar ganhos, também não gerem prejuízos (adaptações
neutras).
Conforme o treinamento vai evoluindo, surge a necessida-
de de especializar a composição dos meios de preparação geral,
para que em etapas posteriores, possamos maximizar a trans-
ferência positiva ou minimizar a transferência negativa. Desta
forma, os exercícios gerais devem adquirir particularidades con-
dicionadas à especialização desportiva.
Para Oliveira (2009, p. 23),
A seleção dos exercícios de treinamento é uma questão meto-
dológica determinante do sucesso desportivo em longo prazo,
pois:
• os exercícios de preparação geral vão perdendo seu potencial
de estímulo com a evolução do desempenho do desportista;
• a utilização dos exercícios de preparação especial com os
jovens desportistas pode, em curto prazo, produzir grandes
ganhos de desempenho pela exploração acelerada da RAA
(reserva atual de adaptação), embora possa conduzir a
estagnação dos resultados em médio e longo prazo, podendo
ocasionar grandes frustrações e, até mesmo, o abandono da
prática desportiva.

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UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Fonte: adaptado de Oliveira (2009, p. 24).


Figura 5 Efeito positivo em resposta ao treinamento.

É muito importante salientar que, conforme o treinamento


vai se especializando, ou seja, à medida que se direciona para
o alto nível, o trabalho multidisciplinar torna-se imprescindível,
pois o trabalho em equipe tem por objetivo, além das melho-
rias nos resultados (performance), uma diminuição na incidên-
cia de erros durante a periodização e, consequentemente, me-
nor risco de lesões ou inconsistências durante cada período do
planejamento.

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148
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Quando temos a oportunidade de contar com uma gama


de profissionais de diferentes áreas, podemos direcionar a se-
leção das estratégias de treinamento de forma mais criteriosa,
adicionando-se gradativamente aos exercícios de preparação
geral os exercícios dirigidos, especiais e competitivos, de forma
coerente com as diferentes etapas: preparação preliminar, espe-
cialização inicial, especialização profunda e maestria desportiva
(alto nível).
Matveev (1996) destaca no sistema tradicional de prepa-
ração, que é comum ao início do ciclo anual de treinamento, um
período de preparação subdividido em preparação geral e espe-
cial, em que os exercícios de preparação geral, de acordo com a
concepção clássica de organização do processo de treinamento,
se localizam no período de preparação geral (PPG) conforme de-
monstra a Figura 6. Eles são considerados fundamentais, pois o
seu objetivo é ampliar e aperfeiçoar as premissas em cuja base
se desenvolve a forma máxima, no caso do desportista de com-
petição, e ótima, no caso dos demais desportistas.
Oliveira (2009, p. 25) destaca ainda que:
[...] os exercícios de preparação geral devem visar à elevação do
nível geral das possibilidades funcionais do organismo e abran-
ger uma estimulação multifacetada das diferentes capacidades
condicionais (potencial energético) e neuromusculares ou coor-
denativas (habilidade de aproveitar o potencial energético).
Muitos treinadores de modalidades coletivas (jogos) utilizam-
se de atividades cíclicas (como correr, pedalar em bicicleta
ergométrica ou, ainda, remar) com o objetivo de desenvolver a
resistência muscular geral e local aeróbica dinâmica no início do
ciclo anual de preparação.
Evidentemente, no caso dos desportistas de alto nível, embo-
ra os exercícios gerais possam contribuir com o estado geral
de saúde, decorrente da melhora do metabolismo aeróbio ou

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149
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

anaeróbio dos grandes grupos musculares, aumento da ab-


sorção máxima de O2, elevação do volume de ejeção sistólica,
volume minuto, volume e número de capilares nos músculos,
ou, ainda, da força muscular geral, a contribuição efetiva de tais
ajustes para o desempenho competitivo só poderá ser efetiva-
mente comprovada se os desportistas forem avaliados na situa-
ção concreta de competição.
No presente estágio de evolução da pesquisa aplicada, não cabe
mais espaço para imaginar o que as "evoluções gerais do estado
de saúde", medidas por testes laboratoriais gerais, possam ter
significado no campo do desporto de rendimento.

Fonte: adaptado de Oliveira (2000 apud OLIVEIRA, 2009, p. 25).


Figura 6 Forma tradicional ou distribuída de estruturação das cargas de treinamento
com uma dinâmica de alteração esperada de aumento constante do nível de
preparação condicional geral ou especial.

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150
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

A população em geral, não atleta, e os atletas em formação


ou em períodos recuperativos ou entre temporadas podem se
beneficiar da Preparação Física Geral, principalmente se focar-
mos em alguns grupos como obesos, idosos e sedentários. Por
outro lado, atletas elitizados, que já possuem larga experiência
em competições, têm a consciência de que os ajustes morfoló-
gicos e fisiológicos determinantes para o alto desempenho com-
petitivo, nas diferentes modalidades, só irão aparecer na etapa
da preparação especial.
Matveev (1996) expõe que, de acordo com a concepção
clássica de organização do processo de treinamento desportivo,
os exercícios de preparação especial são utilizados prioritaria-
mente durante o período de preparação especial.
O Período de Preparação (PPE) está localizado mais pró-
ximo ao período competitivo conforme demonstra a Figura 7.
Nesta fase, é importante que o programa de treinamento possua
exercícios que foquem a competição propriamente dita. Um erro
neste momento pode prejudicar todo o treinamento, conforme
explica Oliveira (2009, p. 28-29):
Dar ênfase aos exercícios de preparação geral nesse período final
do ciclo anual pode significar:
a) acréscimo do condicionamento geral;
b) menor domínio técnico de uma dada especialidade;
c) menor exigência metabólica específica;
d) menor reprodução das solicitações mecânicas específicas;
e) atraso no processo de desenvolvimento desportivo pela falta
de especificidade do estímulo de treinamento.
No caso do desportista de alto desempenho, a ênfase dos
exercícios deve recair sobre os exercícios de maior potencial de
estímulo, ou seja, os exercícios preparatórios especiais que têm
relação direta com o exercício de competição.

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151
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Fonte: Oliveira (2009, p. 29).


Figura 7 Desportistas praticantes de atletismo e futebol executando exercícios de
preparação física especial (corrida com tração) e atletas de alto nível durante a
competição propriamente dita.

Oliveira (2009) descreve ainda os exercícios de compe-


tição e exercícios de competição propriamente ditos, em que
encaixam aos exercícios de competição aqueles que auxiliam do
desenvolvimento da performance em competição, incluindo as
mesmas ações integrais, incluindo as ações complexas conjun-
tas, específicas de competição e os exercícios de competição pro-
priamente ditos são os envolvem a competição, ou seja utilizam
a competição como treinamento como observamos na Figura 8.

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152
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Fonte: Oliveira (2009 p.29).


Figura 8 Exemplos do exercício de competição propriamente dito, realizado por Joaquim
Cruz, campeão olímpico de 800 m, com o tempo de 1’43”31.

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153
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Para Oliveira (2009, p. 29),


Um atleta de atletismo, praticante de 110m com barreiras (des-
porto individual), por exemplo, ao realizar um teste de controle
na distância de 55m (com cinco barreiras), durante uma deter-
minada sessão de treinamento, estará realizando um exercício
de competição.
No caso de um desporto coletivo (basquetebol), ao se treinar
um determinado sistema defensivo durante uma sessão do trei-
namento semanal (titulares contra os reservas), o conjunto das
ações e a base da estrutura dos movimentos coincidem com os
exercícios de competição.
Em contrapartida, tais exercícios diferenciam-se por certas par-
ticularidades, sobretudo pelas limitações do treinamento com
relação ao limiar psicológico envolvido (estresse, motivação,
atenção, presença de público, adversário, imprensa, patrocina-
dores, cobrança de resultado etc.). Somente as situações com-
petitivas complexas concretas possibilitam limiares mais altos
de mobilização física e psíquica, importantes na preparação de
alto nível.

Os exercícios de competição propriamente ditos podem


ser entendidos como aqueles que são realizados e desenvolvidos
nas condições reais de competição desportiva, em plena confor-
midade com as regras e os regulamentos.
Estes exercícios possuem uma série de fatores influencia-
dores do rendimento, em que podemos destacar:
1) presença de público;
2) nível físico;
3) níveis técnico e tático do adversário;
4) expectativas geradas pela imprensa;
5) fase do campeonato;
6) cobrança de resultado por parte do patrocinador etc.

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UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Ainda de acordo com Oliveira (2009, p. 30-31),


O exercício de competição propriamente dito pode ser consi-
derado como o mais eficiente meio de aperfeiçoamento da ca-
pacidade física, técnica, tática e psíquica do atleta de alto nível.
No entanto, o profissional do desporto deve estar ciente de que
as maiores exigências impostas por esse tipo de exercício po-
dem gerar excessivo estresse e ansiedade, acarretando queda
acentuada de rendimento com desempenhos muito abaixo do
esperado; daí, então, a necessidade de que sua administração
seja gradativa, sobretudo no caso das crianças e jovens.
Em contrapartida, somente a exposição às situações competi-
tivas concretas possibilita uma análise real do rendimento do
desportista, pois oportuniza verificar sua capacidade de optar
por soluções técnicas ou táticas coerentes ou, ainda, a capaci-
dade de autocorreção no imediato momento em que os erros
se manifestam.
Atualmente, muitos são os instrumentos disponíveis para o
controle das respostas orgânicas, tanto nas condições de trei-
namento quanto na situação competitiva concreta.

Mesmo com os avanços da tecnologia, o autor supracita-


do, que foi nossa referência nas elucidações sobre periodização,
explica que monitorar o desempenho nas condições reais conti-
nua sendo um grande desafio para os cientistas, mesmo com os
recursos hoje disponíveis, como monitores de consumo máximo
de oxigênio a distância, monitores de frequência cardíaca, GPS e
câmeras de alta resolução.
Desta forma, análises estatísticas das competições pro-
priamente ditas podem trazer conclusões importantes para a
elaboração do planejamento e a periodização do treinamento,
dando-nos subsídios para estabelecer as metas e estratégias de
correção/aperfeiçoamento dos diferentes aspectos do desportis-
ta inerentes ao desporto: físicos, técnicos, táticos ou psicológicos.

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155
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

2.2. PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Força
A primeira fase adaptação anatômica tem como objetivo
adaptar progressivamente os músculos, os ligamentos, as arti-
culações e o sistema ósseo para incrementar o aumento de car-
gas mais pesadas durante as fases posteriores de treinamento. O
método mais simples a se considerar para a adaptação anatômi-
ca é o treinamento em circuito, especialmente porque oferece
uma estrutura organizada e alterna os grupos musculares.
O treinamento em circuito pode ser usado desde a pri-
meira semana de adaptação anatômica. Para atletas iniciantes,
deve-se começar com exercícios que usam o próprio peso cor-
poral, como flexões de braço, abdominais, agachamentos, saltos
e flexões em barras. Posteriormente, é importante avançar para
exercícios com implementos leves e pesos. Depois, começa-se
com halteres e outras máquinas para o treinamento de força. Os
exercícios de fase de adaptação anatômica devem ser seleciona-
dos para envolverem a maioria dos grupos musculares.
Exemplo de treinamento em circuito segundo Bompa
(2001, p. 135-136):
Próprio peso corporal
1) Meio agachamento.
2) Flexões dos braços.
3) Abdominais com flexão do joelho.
4) Saltos baixos, com as duas pernas, sem sair do lugar.
5) Extensões da coluna.
6) Flexões na barra.

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156
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

7) Abdominais com flexão nos joelhos.


Usando barras e bancos de Ginástica
1) Subir degraus.
2) Flexões dos braços com inclinação (palmas das mãos nos
bancos).
3) Abdominais inclinados com joelhos flexionados.
4) Barra.
5) Saltos em zig-zag sobre os bancos.
6) Levantamento do tronco (quadril no banco, pés sob o degrau
de baixo).
7) Subir e descer rapidamente no banco.
Usando cones e medicine ball
1) Meio agachamento.
2) Lançamentos de medicine ball na altura do peito.
3) Desenvolvimento dos ombros.
4) Abdominais com os joelhos flexionados (a medicine ball
mantida no nível do tórax).
5) Lançamentos da medicine ball para frente (entre as pernas).
6) Arremessos.
7) Extensão da coluna com a bola atrás do pescoço.
8) Remada alta.
9) Flexão plantar.
10) Rotações do tronco.
11) Lançamentos da medicine ball para trás, sobre a cabeça.
12) Saltos com agachamento e lançamentos da medicine ball.
Usando halteres e aparelhos na musculação
1) Leg press.

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157
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

2) Supino.
3) Abdominais na prancha.
4) Extensão do quadril com cargas leves (vulgo "bom dia").
5) Remada alta.
6) Flexão das pernas.
7) Puxada pela frente.
8) Desenvolvimento de ombro.
9) Flexão plantar.

A segunda fase, hipertrofia, pode ser mais bem elucidada


pelo fisiculturismo, cujo principal objetivo é provocar alterações
nos músculos através da força. A massa muscular é desenvolvida
como resultado dos elementos de contração das fibras muscu-
lares, produzindo um aumento na hipertrofia, que se dá com a
utilização de cargas submáximas típicas dessa modalidade, em
que os atletas contraem os músculos até a exaustão e o recruta-
mento das fibras musculares varia. Quando algumas começam a
cansar, outras começam a funcionar.
O elemento fundamental no treinamento da hipertrofia é
o efeito cumulativo da exaustão no número total de séries, não
apenas aquela ocorrida em cada série, estimulando as reações
químicas, bioenergéticas e o metabolismo da proteína no cor-
po, de modo que uma hipertrofia muscular máxima possa ser
obtida. Os exercícios devem ser realizados a uma velocidade de
baixa a moderada, com índices de carga que gerem adaptações
no diâmetro da fibra muscular.
Podemos encontrar diversas divisões e variações nos méto-
dos de desenvolvimento da preparação de fisiculturistas. É claro
que estes são somente alguns apontamentos; no entanto, diante
da quantidade de equipamentos e métodos de treinamento, es-

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158
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

tamos apenas exemplificando uma parte substancialmente pe-


quena da hipertrofia no treinamento.
Um fator a se considerar é a rotina de divisão, ou seja, como
o treinamento deve ser dividido. Esta divisão está intimamente
ligada a cada fase do treinamento e pode ser bastante explorada
e aproveitada quando se conhece os Princípios Científicos do
Treinamento expostos na primeira unidade.
Quanto às repetições, encontramos:
1) Repetições com auxílio: realização de uma série até
a exaustão temporária do sistema neuromuscular e,
posteriormente, com a ajuda do treinador que pres-
ta apoio suficiente para permitir mais duas ou três
repetições.
2) Repetições com resistência: ocorre quando o atleta
executa repetições até a exaustão, com ajuda de duas
ou três repetições concentricamente. Enquanto isso,
oferece alguma resistência durante a fase excêntrica
da contração para cada repetição adicional. Assim, a
fase excêntrica é realizada durante o dobro do tempo
dispendido na fase concêntrica, sobrecarregando os
músculos envolvidos além do nível normal.
3) Superséries: ocorre quando o atleta realiza uma série
para os músculos agonistas de determinada articula-
ção sem um período de descanso, seguido por uma
série para os músculos antagonistas. Existem outras
variações como o atleta executar uma série até a
exaustão e, após 20 a 30 segundos, realizar outra série
para o mesmo grupo muscular.
4) Repetições "roubadas": ocorre quando o atleta realiza
o exercício até a exaustão e, quando é incapaz de rea-

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159
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

lizar outra repetição com toda a gama de movimentos,


tenta complementar a ação executando uma projeção
em outro segmento do corpo, na direção do segmen-
to que está sendo trabalhado; dessa forma, o atleta
é capaz de exercer uma tensão adicional no músculo
exausto.
5) Pré-exaustão: é realizada de forma que, antes de os
grupos de músculos grandes serem contraídos, os
músculos pequenos precisam ser pré-exauridos para
que, durante o trabalho real, toda a carga seja assumi-
da apenas pelos primeiros. Assim, antes de realizar um
exercício envolvendo duas a três articulações, os mús-
culos de determinada articulação precisam ser levados
a um estado de fadiga prévia para depois serem ainda
mais exauridos no movimento completo de todas as
outras articulações.
A terceira fase, da força máxima (FM), exerce um impor-
tante papel na criação da força específica no esporte, no qual
cargas máximas e potência explosiva devem dominar, e o diâ-
metro da miosina e o aumento no conteúdo de proteína na for-
ma de pontes cruzadas dependem do conteúdo do treinamento.
Este é o único tipo de treinamento de força que ativa as podero-
sas unidades motoras de Contração Rápida (CR). A força máxima
aumenta em razão da ativação de um grande número de uni-
dades motoras de CR; assim, um atleta não precisa desenvolver
grandes músculos e um grande peso corporal para se tornar mais
forte, basta que o treinamento proporcione uma ativação de uni-
dades motoras que ativarão, por sua vez, a fibra muscular.
Durante o treinamento de força máxima e potência, os
atletas devem aprender a sincronizar melhor os músculos envol-

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UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

vidos e a usar cargas que resultem em maior recrutamento das


fibras musculares de contração rápida (CR). As cargas maiores
que 85 a 95% priorizarão o desenvolvimento da força máxima.
Dos três tipos de contrações, as excêntricas criam maior
tensão, seguidas pelas isométricas e concêntricas.
Os exercícios usados no desenvolvimento da força máxima
não são realizados até a exaustão e inclui fatores como concen-
tração e motivação. O treinamento da força máxima melhora as
ligações com o Sistema Nervoso Central (SNC).
A alta ativação do SNC resulta em inibição adequada dos
músculos antagonistas. Isso significa que, quando a força máxi-
ma é aplicada, esses músculos são coordenados de tal modo que
não se contraem em oposição ao movimento.
Um dos principais objetivos do treinamento da força máxi-
ma é aprender a eliminar a inibição do SNC, que, acompanhada
por um aumento na força, resultaria no maior aumento do po-
tencial de força.

Método de Força Máxima (Isotônico)


Na periodização da força, a melhora na força máxima
pelo método de carga máxima é, provavelmente, o fator mais
determinante no desenvolvimento da força específica ao esporte.
O método da carga máxima aumenta o diâmetro de miosina
das fibras de CR, recrutando mais fibras de CR. Ele pode resultar
em ganhos de força máxima até três vezes maiores que o ganho
proporcional na hipertrofia muscular.
Cargas de 80 a 90% de 1 RM parecem ser mais efetivas. Um
intervalo de descanso longo deve ser destinado à plena restaura-

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161
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

ção do ATP/CP. Cargas maiores de 85 a 100% de 1RM permitem


apenas de duas a quatro repetições; são de curta duração e per-
mitem a restauração completa do ATP.
A deficiência de ATP e a depleção de proteína estrutural
são muito baixas para ativar o metabolismo de proteína que esti-
mula a hipertrofia. Consequentemente, as cargas máximas com
longos intervalos de descanso resultam em um aumento da força
máxima, não em hipertrofia.
O método aumenta também o nível de testosterona, o que
ajuda a explicar a melhora da FM.

Planejamento do programa
O método de carga máxima pode ser usado apenas depois
de no mínimo 2 a 3 anos de treinamento de força geral (adap-
tação anatômica), com o uso de cargas mais leves, em razão da
tensão do treinamento e do uso de cargas máximas.
Veja o passo a passo do método:
• Aplique o princípio de aumento progressivo da carga no
treinamento.
• Comece um plano anual para o treinamento de força,
baseado no conceito de periodização.
• Se um atleta não conseguir superar o platô, alterne os
estímulos.
• Aumente a proporção entre os tipos concêntrico e ex-
cêntrico de contração. O treinamento excêntrico adicio-
nal produz uma melhora na força máxima.

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162
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Carga
• 100 a 95%: de 15 a 25 repetições.
• 95 a 90%: de 20 a 40 repetições.
• 90 a 80%: de 35 a 85 repetições.
• 80 a 75%: de 70 a 110 repetições.
• Um ID de 3 a 6 minutos é necessário.

Velocidade de contração
Os movimentos são realizados rapidamente, de um modo
explosivo.

Variação da extensão parcial


Quando o método tradicional de contração de toda a faixa
de movimentos não mais aumenta a força máxima, o método
de extensão parcial pode permitir que os atletas adquiram uma
melhoria adicional na força máxima.

Método Isométrico
Produz alta tensão no músculo, tornando esse método
mais útil durante a fase de força máxima. Também pode ser usa-
do na fase de manutenção. O treinamento pode aumentar a for-
ça máxima de 10 a 15 vezes mais que outros métodos, porém
possui claras limitações no desenvolvimento da potência e da
resistência muscular.
A força isométrica é aplicada contra uma resistência, a ten-
são do músculo acumula-se gradativamente, chegando ao máxi-
mo em cerca de 2 a 3 segundos e, ao final, diminui em um tempo
muito menor (de 1 a 2 segundos).

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163
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Cada grupo muscular deve ser treinado em diferentes


ângulos.
A obtenção de ganhos máximos com o treinamento isomé-
trico exige exercícios tão similares quanto possível à habilidade
técnica.

Método Isocinético
Isocinética significa “movimento igual", ou seja, mantém
a mesma velocidade em toda a faixa de movimentos. Um equi-
pamento especialmente criado permite que os músculos encon-
trem a mesma resistência para contrações tanto concêntricas
quanto excêntricas.
Os atletas podem adquirir ganhos em hipertrofia, depen-
dendo da carga e do número de repetições. Em velocidades
maiores, que criam maior resistência, estes podem experimen-
tar ganhos em força máxima.
Um programa de treinamento criado para contração isoci-
nética deve seguir a mesma metodologia que o método de carga
máxima.

Método excêntrico
Durante a fase excêntrica, a força é produzida enquanto o
músculo se estende. O treinamento excêntrico cria maior tensão
nos músculos que as contrações isométricas ou isotônicas. Uma
vez que uma maior tensão muscular significa, em geral, maior
desempenho da força, o treinamento excêntrico poderia ser con-
siderado como um método superior de treinamento.

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164
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

A carga no treinamento excêntrico é muito mais alta que na


concentração concêntrica máxima; a velocidade do desempenho
é mais lenta, estimulando a síntese de proteína em um ritmo
maior, resultando em hipertrofia muscular.

Planejamento do programa
Apenas atletas com histórico de 3 a 5 anos de treinamento
de força devem usar o método, pois emprega cargas muito pe-
sadas (de 110 a 160%). Pode ser usado apenas em uma sessão
ou em uma fase curta de treinamento, ou combinado a outros
métodos.
A velocidade de execução é lenta, pois a carga é
supermáxima.

Método de treinamento combinado


Método que combina força máxima com exercícios para
explosão.
A incorporação do treinamento de potência durante a fase
de força máxima melhora a velocidade e a capacidade de explo-
são na preparação dos atletas para a fase competitiva.
Por fim, na Fase de Conversão-Conversão para Potência, a
potência é a capacidade do sistema neuromuscular de produzir
a maior força possível no menor período de tempo. A potência
(P) é simplesmente o produto da força muscular (F) multiplicada
pela velocidade (V) do movimento:

P= F× V

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165
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Método isotônico
A tentativa de movimentar um peso tão rapidamente e
com tanta força quanto possível, por toda a faixa de movimento,
é um dos métodos clássicos do treinamento de potência.
Pesos livres ou outros equipamentos que possam ser movi-
dos rapidamente são bons métodos para desenvolver a potência.

Planejamento do programa
Durante a fase de força máxima, o atleta acostuma-se com
cargas máximas ou supermáximas. Portanto, usar cargas entre
30 a 80% de 1 RM para o desenvolvimento da potência não é um
desafio. O desafio é usar esse tipo de carga e criar, ao mesmo
tempo, uma aceleração alta.
Um número baixo de repetições (de 4 a 10) é sugerido, já
que o elemento fundamental para o treinamento de potência é o
vigor das repetições, não o modo como são realizadas.
Deve-se ser seletivo na escolha dos exercícios para o treina-
mento de potência. Eles devem ser muito específicos ao esporte,
a fim de imitar suas habilidades motoras. Selecione o menor nú-
mero de exercícios (de 2 a 4), de modo que possa ser realizado o
maior número de séries possível (3 a 6), para o benefício máximo
dos músculos motores primários, com velocidade de execução
tão alta quanto possível.

Método balístico
É quando a força interna do atleta excede claramente a re-
sistência externa, como, por exemplo, com a medicine ball, em
que ocorre um movimento dinâmico (balístico).

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166
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Durante a ação balística, a energia do atleta é exerci-


da dinamicamente contra a resistência, do começo ao fim do
movimento.
A aplicação rápida e balística da força é possível como um
resultado do recrutamento rápido das fibras musculares de CR e
da coordenação intermuscular efetiva dos músculos agonistas e
antagonistas.
Depois de anos de prática, um atleta pode contrair os mús-
culos agonistas vigorosamente, enquanto os músculos antago-
nistas alcançam um alto nível de relaxamento.

Planejamento do programa
Os exercícios balísticos podem ser planejados para o final
de uma sessão de treinamento ou após o aquecimento, depen-
dendo dos objetivos almejados. O treinamento é melhorado
quando o organismo está descansado.
Cada repetição deve começar dinamicamente, com a ten-
tativa de aumentar a velocidade de modo constante. Isso per-
mite um maior envolvimento de unidades motoras de CR, não
sendo necessário um grande número de repetições, mas o fator
determinante é a velocidade.
As repetições devem ser interrompidas quando a velocida-
de declina.

Método de Resistência à Força


Este método representa uma combinação tripla dos méto-
dos isôtonico, isométrico e balístico. As partes mais importantes
deste método são a contração isométrica máxima e a ação balís-

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167
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

tica, que ocorrem a seguir. O movimento do tipo balístico, com


sua rápida contração muscular, resulta no desenvolvimento de
potência.

Planejamento do programa
A carga para o método de resistência à força está ligada
ao exercício executado. Para a fase isométrica, a contração deve
durar de 3 a 4 segundos ou o tempo necessário para se chegar a
uma tensão máxima.
Para exercícios nos quais a resistência é oferecida por um
haltere, a carga deve ser de 80 a 90% para a fase de estímulo e de
30 a 50% para as repetições explosivas. Selecione os exercícios
com cuidado, para combinar a direção de contração do músculo
motor primário. Para obter a máxima vantagem com a potência,
mantenha baixo o número de exercícios (de dois a quatro), de
modo que um grande número de conjuntos (de três a cinco) pos-
sa ser executado.
Este treinamento pode ser realizado separadamente ou
combinado a outros métodos de treinamento de potência.

Método Pliométrico
Um dos métodos de maior sucesso para ganho de potência
talvez seja o treinamento que emprega exercícios pliométricos,
conhecido também como ciclo de alongamento-encurtamento.
Esse ciclo refere-se a exercícios em que o músculo é carregado
em uma contração excêntrica (alongamento), seguida imediata-
mente por uma contração concêntrica (encurtamento).

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UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

A ação pliométrica baseia-se no reflexo de alongamento


encontrado no ventre do músculo. A principal finalidade do re-
flexo de alongamento é monitorar o grau de alongamento mus-
cular e evitar um superestramento.
Quando um atleta salta, uma grande força é necessária
para impelir seu corpo para cima. O corpo precisa ser capaz de
se flexionar e se estender rapidamente para deixar o solo. Um
exercício pliométrico usa essa rápida ação corporal a fim de ad-
quirir a potência necessária para o movimento.

Planejamento do programa
Para a criação efetiva de um programa pliométrico, deve
haver a consciência de que os exercícios variam em relação à in-
tensidade, sendo classificados em diferentes grupos para uma
melhor progressão.
O nível de intensidade é diretamente proporcional à altura
ou extensão de um exercício. O programa é dividido em dois gru-
pos principais: exercícios de baixo impacto e de alto impacto. Pe-
ríodos de 2 a 4 anos são gastos na incorporação de exercícios de
baixo impacto para adaptação de ligamentos, tendões e ossos.

2.3. APLICAÇÃO DO TREINAMENTO DE POTÊNCIA ÀS ESPECI-


FICIDADES DOS ESPORTES

Força de aterrissagem/reativa
O atleta precisa ter o poder de controlar a aterrissagem e a
potência reativa para realizar rapidamente qualquer outro movi-
mento. A força necessária para controlar e absorver o choque da

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169
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

aterrissagem está relacionada com a altura do salto, que envolve


uma contração excêntrica. O treinamento usado é o de força ex-
cêntrica e dos exercícios pliométricos.
Exercícios para a força de aterrissagem:
• O exercício deve imitar as habilidades motoras da ater-
rissagem específicas ao esporte.
Exercícios para a força reativa:
• O atleta deve continuar com outro salto ou movimento
pliométrico ou correr tão rapidamente quanto possível
depois de aterrissar.

Força de lançamento
A força de lançamento é gerada sobretudo pelas fibras
musculares de CR. Quanto maior o diâmetro da fibra individual,
mais rapidamente ela se contrai. Similarmente, quanto maior
o número de fibras envolvidas em uma contração simultânea,
maior a força para o lançamento de um implemento.
Quanto maior a diferença entre a força máxima do atleta e
a resistência do implemento, mais alta é a aceleração.
O treinamento específico de potência deve concentrar-se
na aplicação máxima da força e no uso dos métodos isotônicos
e balísticos.

Força de decolagem
Muitos saltadores usam o treinamento tradicional com pe-
sos para treinarem a fase de decolagem que proporciona com
o tempo uma base adequada para o treinamento de força. A
decolagem com uma perna só usa múltiplos movimentos das
articulações.

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170
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Os exercícios pliométricos podem ser usados para simular


uma decolagem efetiva e melhorar a capacidade geral de saltos
do atleta. Os exercícios de bloqueio também envolvem movi-
mentos em múltiplas articulações e oferecem a oportunidade
para desenvolver a elasticidade muscular necessária.

Força de partida
A força da partida é uma habilidade essencial em esportes
em que a velocidade inicial da ação dita o resultado final.
O componente elástico e reativo do músculo tem uma
importância vital para uma ação rápida e largadas poderosas.
Quanto mais específico o treinamento de força durante a fase
de conversão, melhor é o reflexo de alongamento do músculo e
maior é a força das fibras de CR.
Utiliza-se treinamento com exercícios isotônicos, balísti-
cos, combinados e pliométricos.

Força de aceleração
A capacidade do atleta em acelerar até desenvolver a alta
velocidade é crucial para a conquista de uma melhora no desem-
penho. A força é um atributo indispensável para qualquer espor-
te que exija aceleração; o desenvolvimento da força máxima é
essencial.
Uma exigência fisiológica para a capacidade de força é um
diâmetro grande dos filamentos musculares que se contraem,
principalmente as pontes cruzadas de miosina podem aumentar
seu tamanho apenas com o uso de métodos de treinamento de
força máxima. Posteriormente, os ganhos precisam ser conver-
tidos em potência com os métodos isotônico, balístico, de resis-

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171
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

tência à força e pliométrico, para que os atletas apliquem com


sucesso a série de impulsos musculares que ativarão um grande
número de fibras de CR. Com isso, a força de aceleração alcança
os altos níveis desejados.

Força de desaceleração
Em muitos esportes, a desaceleração é tão importante
quanto a aceleração.
A desaceleração é realizada pela contração excêntrica dos
músculos das pernas. A capacidade para amortecer o impacto
exige força e graus de flexão das pernas similares àqueles neces-
sários para a absorção do choque na aterrissagem.
Para o treinamento, são vários métodos empregados: con-
tração excêntrica e exercícios pliométricos. Para a contração ex-
cêntrica, o método de força máxima deve ser aplicado com uma
progressão de cargas médias a supermáximas. Para os exercí-
cios pliométricos, depois de alguns anos de progressão normal
de exercícios de baixo para alto impacto, saltos com queda em
profundidade e reativos devem ser usados. Os atletas desenvol-
verão a força de desaceleração seguindo a metodologia descrita
para esses métodos.
A força muscular é uma capacidade muito importante não
apenas para o desenvolvimento esportivo, mas também para a
saúde.
Outros benefícios do treinamento de força: melhoria de
aptidões físicas, melhoria do sistema osteoarticular, diminuição
do tecido adiposo, aumento de massa magra, melhoria das fun-
ções cardíacas, diminuição da pressão arterial, diminuição do

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


172
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

colesterol e triglicerídeos, prevenção de doenças, melhoria da


postura, diminuição de dores musculares localizadas, aumento
da autoestima e do bom humor.
A importância de um programa de treinamento de força
para conservação da capacidade de trabalho torna-se cada vez
maior, conforme o aumento da idade, já que há tendência pro-
gressiva ao declínio. Na terceira década de vida, ocorre uma di-
minuição lenta ou imperceptível da força muscular até cerca de
50 anos de idade, quando começa a declinar aproximadamente
de 12 a 15% por década, com perdas mais rápidas acima dos 65
anos de idade.
Os exercícios resistidos (por exemplo a musculação) são
apontados como método mais eficaz no ganho de força muscular
e hipertrofia muscular. Esse tipo de exercício é capaz de modi-
ficar elementos do sistema neuromuscular por meio do treina-
mento específico da força, potência e resistência muscular.

Com as leituras propostas no Tópico 3. 1., você vai en-


tender melhor como se dão os processos de obtenção, modi-
ficação e utilização da energia para a realização do exercício.
Antes de prosseguir para o próximo assunto, realize as leituras
indicadas, procurando assimilar o conteúdo estudado.

Vídeo complementar ________________________________

Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar 3.


• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique na aba Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, busque pelo nome da disciplina
para abrir a lista de vídeos.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


173
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

• Caso você adquira o material, por meio da loja virtual, receberá também um
CD contendo os vídeos complementares, os quais fazem parte integrante
do material.
__________________________________________________

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. PERIODIZAÇÃO

Conforme estudamos no decorrer desta unidade nos cen-


tros de treinamentos, em grande parte das academias, nos mais
diversos ambientes onde a prática da atividade física é latente,
quase impreterivelmente nas pistas de atletismo é muito comum
a determinação de 1RM ou uma repetição máxima para a elabo-
ração dos métodos de treinamento. Por isso, indicamos a seguin-
te leitura complementar:
• USP. Universidade de São Paulo. Força muscular: medi-
das da força e resistência muscular. Disponível em: <htt-
ps://www5.usp.br/?s=For%C3%A7a+muscular%3A+m
edidas+da+for%C3%A7a+e+resist%C3%AAncia+muscul
ar>. Acesso em: 12 mar. 2019.
Quando falamos em periodização da força, com certeza
não deixaremos de nos embasar em Tudor Bompa, autor de uma
das obras de linguagem mais simples e elucidatória sobre o as-
sunto, com ilustrações de fácil entendimento.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


174
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Desta forma, indicamos a leitura do artigo Estudo de Tudor


Bompa, revisão da obra deste ícone da literatura sobre a perio-
dização da força. Um fato que enriquece ainda mais a leitura é
a participação de Estélio Dantas (um dos nossos principais refe-
renciais na primeira unidade) como um dos autores deste artigo.
• SEQUEIROS, J. L. S. et al. Estudo sobre a fundamentação
do modelo de periodização de Tudor Bompa do
treinamento desportivo sob a ótica da metanálise.
Fitness & Performance Journal, Rio de Janeiro, v. 4, n.
6, p. 341-347, nov./dez. 2005. Disponível em: <http://
dialnet.unirioja.es/servlet/oaiart?codigo=2953074>.
Acesso em: 5 maio 2016.

Vídeos
• YOUTUBE. Periodização do treinamento físico – Prof.
Henrique Stelzer Nogueira. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=24T4zMC9F30>. Acesso
em: 15 jul. 2015.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A seguir, responda às questões propostas, a fim de conferir
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Quanto à força máxima, podemos afirmar que:
I - a força máxima é a máxima capacidade de produção de força durante
uma contração muscular voluntária máxima.
II - a força máxima se refere à maior força que pode ser executada pelo
sistema neuromuscular. A força máxima se reflete em algumas mo-
dalidades esportivas, como é o caso do halterofilismo, lançamento e
arremesso no atletismo, além de encontrarmos benefícios no desen-
volvimento da força máxima em esportes como natação de velocida-
de, remo e patinação de velocidade, por exemplo.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


175
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

III - a força máxima é refletida pela carga mais pesada que um atleta pode
erguer, em uma tentativa expressa como 100% do máximo ou uma
repetição máxima.
Após ler estas definições, podemos afirmar que:
a) somente a afirmação I é correta.
b) as afirmações I e II são corretas.
c) as afirmações I e III são corretas.
d) as afirmações II e III são corretas.
e) as afirmações I, II e III são corretas.

2) A capacidade do sistema neuromuscular em mobilizar um potencial fun-


cional para atingir altos índices de força em pouco tempo é definida como:
a) Força de Resistência.
b) Força de Velocidade.
c) Força Estática.
d) Força Dinâmica.
e) Força Pura.

3) A capacidade de se manter um estado de força, conservando seus indica-


dores por um período prolongado, ou seja, o nível de força de resistência,
manifesta-se pela capacidade de superar a fadiga realizando um elevado
número de repetições no movimento com eficácia na realização destes, e
esta característica de força traz benefícios em esportes cíclicos, na ginásti-
ca, em alguns tipos de lutas em que a duração do esforço se mantém por
tempo prolongado é definida como:
a) Força de Resistência.
b) Força de Velocidade.
c) Força Estática.
d) Força Dinâmica.
e) Força Pura.

4) Leia as afirmações a seguir sobre a Preparação Física Geral (PFG):


I - As atividades físicas, esportivas ou os exercícios que compõem esta
preparação objetivam desenvolver de maneira diversificada as dife-
rentes capacidades físicas em um âmbito total.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


176
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

II - As exigências da especialização da modalidade incluirá movimentos


ou ações motoras que se assemelham àquelas específicas da modali-
dade desportiva, considerados os aspectos físicos, técnicos e táticos.
III - Objetiva o trabalho de uma série de exercícios com características es-
pecíficas da modalidade-alvo almejada para competição.
IV - Possui como característica um trabalho com programas de treinamen-
to que empregam características distintas de velocidade, flexibilidade,
força, resistência e coordenação.
Analisadas as afirmações, podemos dizer que:
a) somente a afirmação I corresponde à PFG.
b) as afirmações I e III correspondem à PFG.
c) as afirmações II e III correspondem à PFG.
d) as afirmações I e IV correspondem à PFG.
e) as afirmações I e III e IV correspondem à PFG.

5) Leia as afirmações a seguir sobre a Preparação Física Especial (PFE):


I - As atividades físicas, esportivas ou os exercícios que compõem esta
preparação objetivam desenvolver de maneira diversificada as dife-
rentes capacidades físicas em um âmbito total.
II - As exigências da especialização da modalidade que incluirá movimen-
tos ou ações motoras similares àquelas particularidades específicas
da modalidade desportiva, considerados os aspectos físicos, técnicos
e táticos.
III - Objetivam o trabalho de uma série de exercícios com características
específicas da modalidade-alvo, almejada para competição.
IV - Possui como característica um trabalho com programas de treinamen-
to que empregam características distintas de velocidade, flexibilidade,
força, resistência e coordenação.
Analisadas as afirmações, podemos concluir que:
V - somente a afirmação I corresponde à PFG.
VI - as afirmações I e III correspondem à PFG.
VII - as afirmações II e III correspondem à PFG.
VIII - as afirmações I e IV correspondem à PFG.
IX - as afirmações I e III e IV correspondem à PFG.

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177
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) e.

2) b.

3) a.

4) d.

5) c.

5. E-REFERÊNCIAS

Sites pesquisados
SEQUEIROS, J. L. S. et al. Estudo sobre a fundamentação do modelo de periodização
de Tudor Bompa do treinamento desportivo sob a ótica da metanálise. Fitness &
Performance Journal, Rio de Janeiro, v. 4, n. 6, p. 341-347, nov./dez. 2005. Disponível
em: <http://dialnet.unirioja.es/servlet/oaiart?codigo=2953074>. Acesso em: 5 maio
2016.
USP. Universidade de São Paulo. Força muscular: medidas da força e resistência
muscular. Disponível em: <https://www5.usp.br/?s=For%C3%A7a+muscular%3A+m
edidas+da+for%C3%A7a+e+resist%C3%AAncia+muscular>. Acesso em: 12 mar. 2019.
YOUTUBE. Periodização do treinamento físico – Prof. Henrique Stelzer Nogueira.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=24T4zMC9F30>. Acesso em: 15
jul. 2015.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASTRAND, P. O.; RODAHL, K. Tratado de Fisiologia do Exercício. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1987.
BARBANTI, V. J. Aptidão física: um convite à saúde. Barueri: Manole, 1990.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


178
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA FORÇA

______. Teoria e prática do treinamento esportivo. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher,
1997.
______. Treinamento físico: bases científicas. 3. ed. São Paulo: CLR Balieiro, 1996.
BITTENCOURT, N. Musculação: uma abordagem metodológica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Sprint, 1986.
BOMPA, T. O. A periodização no treinamento desportivo. Barueri: Manole, 2001.
DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. 5. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.
______. Flexibilidade: alongamento e flexionamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Shape,
1991.
FOX, E. L. et al. Bases fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1991.
MATVEEV, L. P. Preparação desportiva. Londrina: CID, 1996.
MEINEL, K. Motricidade: teoria da motricidade esportiva sob o aspecto pedagógico.
Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1984. (Educação Física Série Fundamentação).
OLIVEIRA, P. R. Planejamento e metodologia do treinamento desportivo. Batatais:
Claretiano, 2009.
PLATONOV, V. N. Teoria geral do treinamento desportivo olímpico. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
______. Teoria geral do treinamento desportivo olímpico. Porto Alegre: Artmed, 2008.
POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao
condicionamento e ao desempenho. Barueri: Manole, 2000.
TRITSCHLER, K. A. Medida e avaliação em Educação Física e Esportes de Barrow &
McGee. Barueri: Manole, 2003.
TUBINO, M. J. G. Metodologia científica do treinamento desportivo. 13. ed. Rio de
Janeiro: Shape, 2003.
VERKHOSHANSKI, I. V. Força: treinamento de potência muscular. Londrina: CID, 1996.
WEINECK, J. Treinamento ideal. Barueri: Manole, 2003.
ZAKHAROV, A.; GOMES, A. C. Ciência do treinamento desportivo. Rio de Janeiro: Grupo
Palestra, 1992.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


179
© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL
UNIDADE 4
PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E
PSICOLÓGICA

Objetivos
• Compreender as preparações técnica, tática e psicológica.
• Analisar as preparações técnica, tática e psicológica aplicadas à Prepara-
ção Física.
• Identificar a importância de cada tipo de treinamento em Preparação Fí-
sica Geral.

Conteúdos
• Preparação Tática.
• Preparação Técnica.
• Preparação Psicológica.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Para ampliar seu horizonte de conhecimento, procure entender os concei-


tos sobre a qualidade de vida e a promoção da saúde no envelhecimento,
consultando artigos, livros e revistas confiáveis. Tome muito cuidado com
sites comerciais, que possuem o objetivo de promover produtos e marcas.

2) Este caderno é somente um direcionamento para seus estudos. Para apro-


fundar o que é aqui colocado, ao final desta unidade, preparamos o Con-
teúdo Digital Integrador, um material em que você pode explorar mais
detalhadamente cada conteúdo que, durante a elaboração do Conteúdo
Básico de Referência, foi elencado de maneira geral.

181
© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

1. INTRODUÇÃO
Destacaremos nesta última unidade a preparação técnico-
-tática e psicológica.
Procure, sempre que possível, se aprofundar nos diversos
assuntos aqui colocados e busque sempre novas fontes de pes-
quisa e informações. Lembre-se de que tão importante quanto
os conceitos teóricos é você ter capacidade de colocar em práti-
ca todo seu aprendizado.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.

2.1. PREPARAÇÃO TÉCNICA, PREPARAÇÃO TÁTICA E PREPARA-


ÇÃO PSICOLÓGICA

Em homenagem ao um dos maiores ídolos do esporte bra-


sileiro, não poderíamos deixar de mencionar o inigualável Ayrton
Senna (Figura 1), que conseguiu de maneira muito clara, mostrar
suas qualidades não somente como atleta, mas, como pessoa de
maneira muito marcante, sendo um ícone para a geração que o
acompanhou e um referencial para aqueles que não o conhece-
ram competindo, mas, que com certeza, o terão como exemplo
de dedicação técnica, tática e de controle psicológico.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


183
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Figura 1 Ayrton Senna, em sua última corrida em Ímola, Itália, em 1994. Ele foi um
dos grandes ícones da Fórmula 1, que se destacou por sua técnica, tática e controle
psicológico principalmente nas corridas em dias de chuva.

Preparação técnica
Podemos entender como preparação técnica o conjunto
de procedimentos que vão garantir soluções mais eficazes para
as tarefas motoras, fazendo com que as atividades que devem
ser desenvolvidas sejam feitas com maior eficiência, de manei-
ra objetiva e econômica, ou seja, a preparação técnica tem seu
enfoque em proporcionar o melhor desempenho com o menor
desgaste possível, de acordo com a especificidade de cada mo-
dalidade esportiva, atividade física ou modalidade, dentro das
características de cada competição (WEINECK, 2003; PLATONOV,
2008).
Dentro da preparação técnica, podemos formular uma sé-
rie de movimentos, gestos esportivos com detalhes específicos

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


184
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

que irão culminar na performance, em que as estratégias traça-


das pelos profissionais envolvidos com a preparação física virão
ao encontro da capacidade de assimilação do aluno/atleta. Não
é incomum escutarmos ou notarmos um dom nato em alguns
atletas, em que a técnica bem apurada os direciona à realização
de movimentos, jogadas, lançamentos e saltos impressionantes.
Quando os observamos mais detalhadamente, podemos consta-
tar o emprego da técnica.
Platonov (2008, p. 354) descreve:
Preparação técnica é o grau de assimilação pelo desportista,
pelo sistema de movimentos (técnica da modalidade esportiva)
de determinada modalidade, orientada para obtenção de me-
lhores resultados. A preparação técnica não pode ser analisada
isoladamente, mas, sim, o componente integral de um todo em
que as soluções técnicas são estritamente relacionadas às capa-
cidades físicas, psíquica e tática do atleta, assim como as con-
dições concretas do meio externo, em que a ação desportiva é
realizada. Naturalmente, quanto maior for o número de pro-
cedimentos e ações dominadas pelo desportista, melhor será
sua preparação para a solução das tarefas táticas complexas su-
geridas na disputa competitiva e mais eficaz será sua resposta
aos ataques do adversário e sua capacidade de provocá-lo com
tomada de decisões situacionais inadequadas.

Dantas (2003) descreve a importância da relação entre o


atleta/aluno e seu técnico/professor/treinador, em que o pri-
meiro deve estar envolvido com o treinamento de forma inte-
gral, com característica comportamental e qualidades pessoais
que sinalizem tal envolvimento, comprometimento e determina-
ção com a modalidade esportiva, atividade física, exercício ou
esporte.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


185
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

O autor supracitado delega ao treinador a responsabili-


dade da elaboração tática e da liderança sobre os seus alunos/
atletas e a interação de maneira integral, estimulando a prática
esportiva e aumentando a confiança entre as partes (professor-
-aluno, treinador-atleta).
O treinador ainda demonstra, na Figura 2, atitudes que
podem consolidar essa relação e firmar uma excelência no trei-
namento tático, representadas pela pontualidade nos horários
de chegada, no início dos treinamentos e na manutenção de um
vestuário compatível com a modalidade esportiva.
Podemos notar isso de maneira bem acentuada em moda-
lidades em que a utilização de uma roupa apropriada (como na
natação) ou um tênis adequado (como no atletismo) são impor-
tantes para que a prática esportiva seja realizada. Observamos
aqueles alunos que estão motivados e os que não estão pelo es-
tado de conservação desses “equipamentos”.
O asseio com a aparelhagem de treino e do local de treina-
mento pelo treinador/professor e mesmo com o próprio corpo,
na hidratação, na proteção contra os raios solares com bloquea-
dores, o estado geral com que o aluno/atleta tem em relação ao
seu material esportivo também são sinalizadores positivos na re-
lação do aluno com o treino, do treinador com o aluno, do aluno
com o treinador e do treinador com o local de treinamento.
Outros fatores importantes, segundo o autor, são a manu-
tenção do respeito mútuo com uma linguagem precisa, calma e
respeitosa entre ambos, em que desperte no aluno a vontade
cada vez maior de dedicar-se aos treinamentos técnicos com o
professor/treinador, de modo que este consiga obter o domínio
sobre o aluno/atleta. A energia e o entusiasmo de ambos (trei-
nador e aluno) são também reflexo de que a preparação técni-

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


186
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

ca está se radicando e que o aluno se sente motivado durante


os treinamentos e, ao término deste, a prosseguir para a sessão
subsequente.
Cabe tanto ao aluno/atleta como ao professor/treinador a
ponderação em reconhecer eventuais limites físicos, psicológi-
cos e técnicos, mas também agir com persuasão de atingir metas
e objetivos, transpondo de maneira saudável limites até então
não alcançados ou ainda não experimentados.

Figura 2 Esquema embasado nas explanações de Dantas (2003) sobre os pontos


importantes na relação professo/treinador e aluno-atleta no desenvolvimento da
preparação técnica.

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187
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Weineck (2003) afirma que a técnica não possui o mesmo


significado em todas as modalidades esportivas e, dependendo
da modalidade, ela pode ter diferentes significados que são par-
ticulares em cada modalidade esportiva. Desta forma, naquelas
práticas em que são necessárias a precisão da técnica como a
patinação artística (Figura 3), a patinação de velocidade (Figura
4) ou a ginástica olímpica (Figura 5), por exemplo, o desenvolvi-
mento da técnica é de extrema importância, pois nessas modali-
dades esse é um fator decisivo para o desempenho.
Em modalidades de lutas (Figura 6) ou em modalidades es-
portivas, em que o desenvolvimento da força é muito importan-
te, a técnica, quando bem trabalhada, tem grande influência em
situações decisivas.
Notamos que, nesses casos, muitas vezes a técnica se so-
brepõe à força, sendo consagrado o atleta com maior técnica,
mesmo em modalidades esportivas que apresentam uma predo-
minância da resistência, como é o caso das modalidades espor-
tivas coletivas como futebol (Figura 7), voleibol, handebol, entre
outros, com uma duração mais extensa. Nos esportes de longa
duração, como o ciclismo (Figura 8), corridas em longas distân-
cias, natação em mar aberto, por exemplo, a técnica terá um pa-
pel que pode ser decisivo na economia de energia.

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188
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Figura 3 Patinação artística.

Figura 4 Patinação de velocidade.

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189
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Figura 5 Ginástica olímpica.

Figura 6 Exemplo do emprego da técnica na luta olímpica.

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190
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Figura 7 Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, um dos grandes exemplos de técnica no


futebol.

Figura 8 Exemplo da utilização da técnica no ciclismo, representado pela figura do aluno


do Claretiano João Paulo Firmino, atleta de elite no ciclismo.

Platonov (2008) relata que o surgimento de novos equipa-


mentos e aparelhos, em especial no esqui e no esqui alpino, no
salto com esqui na ginástica artística e em muitas outras modali-

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191
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

dades afetou diretamente a técnica desportiva das modalidades


e permitiu aos desportistas aumentarem sua técnica.
Segundo Melo; Bucioli (2016), esses equipamentos são os
recursos ergogênicos (ergo = trabalho/gen = produção) mecâni-
cos que melhoram a performance esportiva, podendo tornar a
técnica mais eficiente, culminando em uma melhor performance
esportiva e um desempenho com maior eficácia e menor gasto
energético.
Outro fator relevante para o desenvolvimento da técnica
foi o surgimento dos diversos campos de pesquisa, assim como a
evolução tecnológica que propiciou novas descobertas nos cam-
pos científicos, nas mais diversas e distintas modalidades espor-
tivas, atividades físicas e esportes. Pudemos encontrar publica-
ções com atletas e não atletas, com as diferentes faixas etárias,
o que permitiu que novos treinamentos fossem desenvolvidos,
dosados e novos métodos fossem testados e associados a outras
ciências como a Nutrição, a Medicina Esportiva, a Fisioterapia,
entre outras.
Ainda dentro desta vertente de avanços científicos e tec-
nológicos, podemos citar a diversidade de informações disponí-
veis no meio virtual, a democratização e a amplitude da multi-
disciplinaridade e o brilhantismo da robótica e da precisão das
análises, tanto em tempo como em fidelização de resultados, o
que propiciou para treinadores (professores) e atletas (alunos)
um universo quase inesgotável de possibilidades que a cada dia
surge com uma nova informação.
Platonov (2008) cita a fundamentação teórica dada ao es-
tudo que foi apresentada como o fundamento biomecânico da
técnica da posição mais racional do corpo para transpor a barra
transversal (sarrafo). Foram necessários quase 30 anos para que

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192
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

a fundamentação teórica fosse transposta brilhantemente na


prática, originando o salto chamado fosbury-flop (Figuras 9 e 10).

Figura 9 Exemplo da técnica fosbury-flop inspirada em Platonov (2008).

Figura 10 Descrição da sequência pedagógica da técnica fosbury-flop.

Somente em 1968, na 22ª Olimpíada, no México, R. Fos-


bury (que deu o nome à técnica) conquistou a medalha de ouro
apresentando este novo salto, constituído de duas novidades.
A primeira, uma corrida lateral e, a segunda, uma passagem
de costas sobre a barra transversal (sarrafo), no momento de
ultrapassá-lo.
É muito importante salientar que os saltos realizados ante-
riormente, salto em tesoura (Figura 11) e rolo ventral (Figura 12),
foram preponderantes para o desenvolvimento do fosbury-flop
(Figura 13), pois estas primeiras técnicas também foram muito

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193
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

eficazes, e somente o trabalho conjunto de atletas talentosos


e treinadores obstinados fez com que esta evolução técnica se
consolidasse.
Notamos na Figura 14, o jovem Dick Fosbury, em 1968, até
então desacreditado aos 16 anos na conquista da medalha de
ouro, após executar uma nova técnica de salto batizada como
fosbury-flop.

Figura 11 Salto em tesoura, que consiste em uma técnica de aprendizagem mais fácil,
porém, menos eficiente.

Figura 12 Rolo ventral: técnica com um grau mais apurado de dificuldade, porém, mais
eficiente que o salto em tesoura.

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194
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Figura 13 Salto fosbury-flop, mais utilizado atualmente, foi realizado pela primeira
vez na 22ª Olimpíada do México, em 1968, por Dick Fosbury. Esse salto rendeu-lhe a
medalha de ouro.

Figura 14 Dick Fosbury, em 1968, na conquista da medalha de ouro, após executar uma
nova técnica de salto batizada como fosbury-flop.

Platonov (2008) relata que atualmente notamos haver


pouco espaço para o desenvolvimento de novas técnicas que
gerarão grandes melhorias nos desportos. Porém, no alto nível,
mesmo as menores adequações podem trazer resultados nos
milésimos de segundo que separam o lugar mais alto do pódio.
Na estrutura da preparação técnica, é muito importante destacar
os movimentos e as ações básicas, e as ações e os movimentos
complementares.

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


195
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Os movimentos básicos e as ações básicas podem ser en-


tendidos como a base de todos os recursos técnicos de uma
modalidade. Podemos afirmar que esses movimentos ou ações
fundamentais são de suma importância para a assimilação dos
movimentos ou ações complementares que constituirão, segun-
do o autor supracitado (Ibidem, 2008), o segundo passo, em que
serão englobados os elementos que comporão os movimentos
isolados realizados pelo desportista/aluno ou atleta particular
(individual) sendo integrados e relacionados a cada individuali-
dade biológica.
Essas ações personalizadas que irão constituir as peculia-
ridades de cada aluno/atleta/desportista podem ser entendidas
denominadas como "estilo" de cada praticante de atividade físi-
ca/ desportista.
Nas primeiras etapas da preparação técnica para as com-
petições, notamos uma qualificação técnica relativamente baixa.
Vemos isso muito claramente em modalidades esportivas no iní-
cio de suas temporadas. O treinamento e o nível de técnica vão
se apurando e o aperfeiçoamento dos movimentos e das ações
básicas vão tomando forma e se refletindo no refinamento e na
edificação do movimento específico das modalidades esportivas
que, ao serem integrados aos movimentos complementares, de-
terminarão a individualidade, a potencialidade e a característica
de cada esportista/aluno/atleta com fatores que influenciam di-
retamente nas conquistas.
Weineck (2003, p. 385) elucida os fatores que influenciam
no aprendizado da técnica da seguinte forma (Figura 15):

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


196
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Fonte: Adaptado de Weineck (2003, p. 385).


Figura 15 Fatores que influenciam o aprendizado técnico.

Weineck (2003) descreve as fases do aprendizado da téc-


nica, separando-as em: fase de informação e aquisição, fase de
coordenação grosseira, fase de coordenação fina e fase de fixa-
ção – complementação e disposição dos movimentos.
A fase de informação e aquisição pode ser conceituada
como o primeiro contato com o movimento a ser aprendido e
o desenvolvimento dos movimentos e requisitos básicos de sua

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


197
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

execução. É marcada pela reprodução contínua, repetição e có-


pia do movimento. A aquisição de um movimento pode ser alta-
mente favorecida pelo repertório de movimentos, pelo nível de
coordenação motora inicial e pela capacidade de observação e
de compreensão de um movimento.
Já na fase de coordenação grosseira existirão as primeiras
experiências com a execução prática do movimento por informa-
ções verbais simples. Durante essa fase, os movimentos grossei-
ros executados vão sendo aprimorados.
Nota-se que os principais erros na fase de coordenação
grosseira são o uso excessivo da força, problemas com o ritmo
de execução, em que o movimento é feito "aos trancos", movi-
mentação insuficientemente abrangente com velocidade de exe-
cução imprópria, sendo lento demais ou excessivamente veloz e
falta de precisão.
Podemos dizer que a fase de coordenação fina é a fase de
correção dos movimentos aprendidos anteriormente, em que
todos os erros apontados na fase anterior serão minimizados e
a precisão de coordenação torna-se enfatizada. Podemos notar
nesta fase, de maneira antagônica à anterior, uma mobilização
adequada da força, com ritmo e abrangência de movimentos
com fluência de velocidade e execução adequados ao exigido
na modalidade esportiva. Outro fator relevante observado nesta
fase é a maior compreensão das informações verbais que tam-
bém levarão à maior precisão dos movimentos.
Por fim, na fase de fixação, complementação e disposição
dos movimentos é que são vistas as progressões técnicas e os
limites de cada aluno atleta, pois são elencadas todas as qualida-
des absorvidas com o treinamento em consonância com a capa-
cidade de aprendizagem. A coordenação motora fina é emprega-

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


198
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

da em situações não habituais, dando ao aluno/atleta/esportista


a capacidade de automatizar os movimentos mais rudimentares
da execução ou dos movimentos mais parcializados. Daí ele pode
focar sua atenção em partes mais específicas e consequente-
mente mais difíceis em uma sequência.
Esta fase é caracterizada pela precisão, pela harmonia e
pela constância dos movimentos. Poderemos notar no Quadro 1
um resumo dos fatores das fases de aprendizado quanto ao mé-
todo de treinamento e os aspectos neurofisiológicos (MARTIN,
1977 apud WEINECK, 2003).

Quadro 1 Resumo dos fatores das fases de aprendizado quanto


ao método de treinamento e os aspectos neurofisiológicos.

CRITÉRIOS EVOLUÇÃO
FASES DO APRENDIZADO
METODOLÓGICOS NEUROFISIOLÓGICA
NO DESENVOLVIMENTO
NO PROCESSO DE NO PROCESSO DE
DA TÉCNICA ESPORTIVA
TREINAMENTO TÉCNICO APRENDIZADO MOTOR
As primeiras percepções
Primeiro esboço
óticas, acústicas,
1) Fase de ajuste do da sequência de
verbais constituem o
treinamento de acordo movimentos, obtenção
primeiro estímulo para
com o objetivo do dos requisitos através de
o desenvolvimento
exercício. exercícios e de aptidões
de uma sequência de
básicas.
movimentos.
Fase de "irradiação" do
A sequência de
processo de estimulação
movimentos é ensinada
= irradiação dos estímulos
2) Fase da coordenação em sua totalidade,
que passam a predominar
grosseira: a sequência porém sob condições
sobre os processos de
de movimentos pode facilitadas, sem treinar os
inibição. A consequência
pela primeira vez ser detalhes do movimento
desta irradiação é
visualizada como um isoladamente.
uma inervação pouco
todo. O objeto desta fase é
econômica e exagerada
treinar uma sequência de
da musculatura envolvida
movimentos.
no movimento.

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199
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

CRITÉRIOS EVOLUÇÃO
FASES DO APRENDIZADO
METODOLÓGICOS NEUROFISIOLÓGICA
NO DESENVOLVIMENTO
NO PROCESSO DE NO PROCESSO DE
DA TÉCNICA ESPORTIVA
TREINAMENTO TÉCNICO APRENDIZADO MOTOR
A estrutura total treinada
na fase de coordenação
grosseira é mantida.
Nesta fase, cada Na "fase de
etapa do treinamento concentração", os
técnico é executada processos de inibição
3) Fase de coordenação separadamente. e excitação focalizam
fina: cada fase do Um esquema da sobre os centros e órgãos
movimento apresenta movimentação é o a serem inervados. O
uma estrutura dinâmica objetivo de treinamento sistema formado por
e cinemática própria. técnico. As condições inibição e estimulação é
A concatenação de de aprendizado são lábil.
movimentos desta padronizadas. A forma Na maioria das
sequência é consciente. do treinamento de vezes, o processo de
coordenação fina movimentação se
depende do objetivo completa pelo controle
e do processo de sensorial e ótico.
treinamento, bem como
da conscientização do
atleta.
Processos de
estimulação e inibição
Uma sequência estável são automatizados de
de movimentos somente modo que a sequência
é obtida com variações de movimentos possa
de situações e sob as ser executada de
4) Fase de fixação condições vigentes em modo inconsciente.
e estabilização: os uma competição. O Nesta etapa, as vias de
movimentos são fixados objetivo a ser alcançado condução nervosa são
sob a forma de reações é uma grande capacidade concluídas no córtex
em função da ação dos de reação e adaptação. cerebral. Deste modo,
meios interno e externo. Também é importante a coordenação dos
desenvolver grande movimentos torna-se
sensibilidade ao estável, e a atenção
movimento e percepção do esportista pode
sobre ele. se concentrar nas
partes mais difíceis do
movimento.
Fonte: Adaptado de Martin (1977 apud Weineck, 2003, p. 544).

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200
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Preparação tática
Podemos entender por tática os procedimentos utilizados
para que sejam concretizadas as ações motoras responsáveis
pela eficácia em uma atividade, por meio de objetivos prede-
finidos, verificamos isso na Figura 16 onde os “procedimentos
utilizados” da equipe de futebol, disposta taticamente em linha
sejam” concretizadas as ações motoras responsáveis pela eficá-
cia” da defesa em colocar o ataque em situação de impedimento
Platonov (2008, p. 370) completa este raciocínio, dizendo
que
[…] o nível de preparação tática depende do controle exercido
pelo atleta sobre os meios táticos (procedimentos técnicos e
meios usados para sua realização), tipos de tática (de ataque,
de defesa, de contra-ataque) e formas da tática (individual, em
grupo, em equipe).

Figura 16 Preparação tática.

A tática pode ser distinguida de duas formas: tática geral


ou específica. A tática geral refere-se às regras gerais, comuns a
diversas modalidades, enquanto a tática específica é peculiar de
uma modalidade esportiva e deve ser particularmente treinada.
(WEINECK, 2003).

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201
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

As perícias táticas são formas da manifestação da consciên-


cia do atleta/aluno/esportista que se refletem na ação de acordo
com o conhecimento tático, podendo ser a perícia de entender
a ação de um adversário, de antever ou de modificar a própria
tática, por exemplo.
Os conhecimentos táticos são um conjunto de formas táti-
cas, meios ou tipos táticos particulares a serem utilizados duran-
te a prática esportiva.
As habilidades táticas são as ações aprendidas taticamen-
te, fruto da combinação das ações individuais e coletivas que se-
rão utilizadas durante uma competição.
O raciocínio tático é a capacidade mental em uma situação
desfavorável durante a prática esportiva, de orientar-se para a
solução de tarefas táticas concretas.
Todos estes componentes podem estar intrínsecos em um
atleta ou serem adquiridos com o treinamento. A preparação tá-
tica pode ser alcançada por meio de disputas ou da participação
em uma série de competições, em que o atleta/aluno/esportista
se utiliza destas para seu preparo tático, elegendo algumas com-
petições principais e preparando-se dentro de uma temporada
para obter os melhores resultados naquelas que são mais impor-
tantes para ele.
Dentro dessa perspectiva, Weineck (2003) fornece uma vi-
são geral dos componentes da tática:

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202
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Tática Esportiva
Baseada sobre
Capacidade Técnica Capacidade
Cognitiva Adquirida Psicofísica
Direcionada para
Comportamento ideal em competições mobilizando todo o
potencial individual
Fonte: Weineck (2003, p. 579).
Figura 17 Adaptado de Weineck (2003, p. 579). Visão geral dos componentes da tática.

Desta forma, segundo o autor supracitado, o comporta-


mento ideal em uma competição está pautado no domínio total
da tática adequada àquela situação. Porém, a tática somente é
possível se houver concomitantemente um perfeito desenvolvi-
mento técnico, contanto que muitos autores, ao descreverem a
preparação tática, não a segmentam da preparação técnica, jus-
tamente por entender que, para um perfeito desenvolvimento
tático, não somente a técnica, mas as capacidades intelectuais
e psíquicas devem estar integradas e relacionadas conforme a
figura 18
Segundo Sonnenschein (1987 apud Weineck, 2003, p. 580),
Não há sentido em falar de "dar cobertura" em um jogo se o
adversário for muito superior em velocidade e resistência. Um
jogo em time deve ser cooperativo, mas cada componente do
time deve poder lidar individualmente com situações vigentes
em competições, caso contrário, a derrota é certa, sobretudo
se houver falta de empenho por parte dos jogadores [...]. É
comum esquecermos que o desempenho esportivo também
relaciona-se a processos cognitivos, emocionais e à vontade,
devem ser otimizados para o aumento do desempenho das ap-
tidões físicas.

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203
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Fonte: Weineck (2003, p. 580).


Figura 18 As diversas capacidades da coordenação.

Platonov (2008) afirma que a base da preparação tática do


desportista ou equipe é formada pelos seguintes componentes:
1) Domínio dos meios, formas e tipos de tática atuais
para determinada modalidade esportiva.
2) Correspondência entre o nível de desenvolvimento da
tática na modalidade e a estrutura ótima na atividade
competitiva dessa modalidade.
3) Correspondência entre o plano tático e as particulari-
dades da respectiva modalidade (local da competição,
caráter da arbitragem, comportamento dos torcedores
etc.).

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204
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

4) Articulação entre a tática e o nível de aperfeiçoamento


de outros aspectos da preparação técnica, psicológica
e física.
A especificidade de cada prática esportiva é um fator de-
terminante na escolha dos procedimentos táticos e da estrutura
de treinamento de cada atleta. Platonov (1986 apud Platonov,
2008) exemplifica que, em modalidades cíclicas, um componen-
te básico para a preparação tática seria o trabalho de velocidade
e força com complexa coordenação. Independentemente dos ad-
versários ou das provas que serão disputadas, estes componen-
tes devem estar taticamente explicitados durante o treinamento.
Portanto, um grande número de fatores delineará a sele-
ção de um esquema tático racional para uma atividade de com-
petição. Esses fatores estarão estritamente correlacionados com
o perfil da modalidade. Dessa forma, a especificidade dos fato-
res deve estar de acordo com a "prova" a ser disputada e com
as capacidades técnicas, físicas e psíquicas do esportista/aluno/
atleta. Nas modalidades cíclicas, podem ser utilizadas variantes
diversas que estarão ligadas diretamente ao aspecto da compe-
tição para superar o percurso competitivo:
1) Velocidade regular.
2) Velocidade alta na primeira parte do percurso, com
subsequente desaceleração.
3) Velocidade alta no início e no final do percurso, com
desaceleração na parte média.
4) Intensificação da velocidade durante todo o percurso.
5) Variação da velocidade alternando altas, médias e bai-
xas velocidades ao longo do percurso.

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205
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

6) Velocidade constante na parte inicial do percurso, com


aceleração nas partes média e final.
7) Velocidade constante nas partes inicial e média do per-
curso e aceleração na parte final.
Dependendo da característica da "prova" que se disputa,
determina-se a escolha de uma dessas variantes exemplificadas
ou outras são criadas, na imensa gama de possibilidades. Dentro
do percurso da duração e da intensidade, especifica-se e adota-
-se estratégia tática que se enquadra ao melhor desempenho.
Consolidando estas escolhas, é imprescindível ressaltar
que a tomada de decisão nas modalidades apresenta as seguin-
tes particularidades, conforme Platonov (2008, p. 372):
• A atividade realizada em condições de tempo extremamente
limitadas – qualquer que seja a decisão correta, possui validade
tática apenas na situação operativa, em resposta às condições
competitivas daquele momento.
• Caráter indeterminado e sequencial das decisões – em conse-
quência de cada decisão, a situação sofre alterações e passa a
exigir nova tomada de decisão, muitas vezes até oposta à deci-
são anterior.
• A percepção de um grande número de elementos e situações tá-
ticas que se estruturam em um sistema dinâmico, em resposta
aos prognósticos mais corretos sobre o desenvolvimento tático.
• A tomada de decisão está ainda relacionada à chamada visão
panorâmica, que corresponde a todo campo visual do aluno/
atleta/desportista que se relacionará aos elementos táticos.
• A escolha das decisões táticas entre variantes bastante seme-
lhantes e a capacidade de realizar alterações bruscas, seguindo
variantes intermediárias e secundárias.
• A manutenção da memória operativa e da ordenação racional
dos elementos táticos de acordo com o planejamento e as alte-
rações no decorrer da ação motora.

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206
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Em um planejamento tático, é preciso levar-se em consi-


deração as capacidades técnico-táticas de cada integrante de
uma equipe, mas também a capacidade de assimilação global
das estratégias (em caso das modalidades de equipe). Desta
forma, ao observarmos os pontos ou atletas/alunos/esportistas
com pontos táticos mais fortes, podemos programar para cada
confronto uma estratégia diferente, coletiva ou individualmente,
por exemplo, conhecendo-se as potencialidades ou os potenciais
individuais de cada equipe ou atleta.
Isso torna possível, a cada partida ou confronto, analisar e,
dentro das possibilidades, manipular taticamente posicionamen-
tos, ações técnico-táticas e até, no caso das disputas individuais,
criar estratégias táticas de ataque e defesa mediante a ação do
opositor, como em uma luta ou em um jogo em que o adversário
apresenta uma tática que deve ser neutralizada ou vencida, deli-
neando o sucesso tático sobre o oponente.
Para Platonov (2008, p. 373),
Nos jogos desportivos, um problema tático importante é o pro-
cessamento dos esquemas técnico-táticos de um jogo e sua
respectiva introdução na preparação, de modo a aproveitar os
pontos fortes de cada jogador e atenuar pontos fracos. Neste
caso, o treinamento em competições consegue respeitar as ne-
cessidades individuais e coletivas e garantir a produtividade da
equipe que refletirá tanto a força do grupo como de cada joga-
dor, individualmente.

Veja a reportagem da Fox Sports, a seguir, que descreve o


sistema tático das seleções do Brasil e da Alemanha, na fatídica
partida da final da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, em que a
Alemanha ganhou de 7 a 1.

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207
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Em clima de superação, Brasil encara Alemanha por vaga


na final da Copa–––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Com desfalques de Neymar e Thiago Silva, Seleção Brasileira busca
classificação à decisão do Mundial nesta terça-feira (8 de junho)

Brasil e Alemanha se enfrentam, nesta terça-feira, no Mineirão,


pela semifinal da Copa do Mundo (FOX).

A Seleção Brasileira encara, nesta terça-feira (8 de junho), no Mineirão, o seu


maior desafio nesta Copa do Mundo até aqui. Além de não contar com Neymar,
artilheiro e principal nome da equipe, e o capitão Thiago Silva, o Brasil vai ter
pela frente a tricampeã mundial Alemanha – uma das seleções mais badaladas
do torneio –, em busca de uma vaga na final da competição. Os canais FOXS-
ports e o FOXPlay.com transmitem o confronto ao vivo a partir das 17h.

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208
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

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209
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

A formação da Seleção Brasileira para o confronto foi definida em torno de


uma única questão: “quem vai ser o substituto de Neymar?”. Com o camisa
10 fora da Copa – por conta de uma fratura da vértebra –, Felipão deve alterar
o esquema tático. Antes com três atacantes, o time agora vai contar com três
volantes. Luiz Gustavo, que retorna após cumprir suspensão, forma o meio de
campo ao lado da dupla Fernandinho e Paulinho. A opção pelo trio de marca-
ção também implica em mudança na lateral direita. Apostando em ofensivas
pelas alas, o técnico deve promover a volta de Daniel Alves, que havia sido
substituído por Maicon contra a Colômbia, ao time titular. Por fim, Dante vai
assumir o lugar de Thiago Silva, fora da partida pelo segundo cartão amarelo.
Assim como o Brasil, a Alemanha deve apostar em uma escalação diferente
da última partida e, curiosamente, a mudança também será no ataque. Klose,
que iniciou a partida contra a França, não teve um bom desempenho e retorna
ao banco. Com isso, Gotze, titular no início da Copa, volta ao time principal. A

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210
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

alteração, no entanto, não traz mudanças na forma da equipe jogar, mantendo


o 4-3-3 dos jogos anteriores.

Sem Neymar, uma das grandes apostas da Seleção Brasileira é o meia Oscar.
Com a opção por três volantes, o camisa 11 deve ter mais liberdade para a
criação das jogadas e, em alguns momentos, atuar como um terceiro atacante
ao lado de Hulk e Fred – o meio-campista conta com duas assistências e um
gol no Mundial. Além disso, os lados do campo também devem ser alternativa
para o setor ofensivo. A opção por um meio de campo “congestionado” por
volantes, e a volta de Daniel Alves – com mais poder ofensivo que Maicon –,
abre espaço para que os laterais atuem como alas e cheguem mais ao ataque.
A seleção alemã, por sua vez, conta com a qualidade para trabalhar as jogadas
como principal trunfo. Os alemães têm o melhor aproveitamento de passes no
torneio, com 82% de acertos, em um total de 2938 – mais que o dobro da mé-
dia da competição, que é de 1458. Nesse fundamento, a peça mais eficiente
da Alemanha é Toni Kroos. O meio-campista é o segundo jogador com mais
assistências nesta Copa (três em 10 gols de sua seleção), atrás somente de
Cuadrado, da Colômbia, que somou quatro ao longo do torneio.

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211
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Cotado como possível substituto de Neymar, Willian deve ser umas das
principais alternativas entre os suplentes de Felipão. Embora pouco testado
nesta Copa, há grande expectativa sobre o rendimento do meio-campista do
Chelsea desde o início da competição. Caso o treinador opte por sua entrada,
o time pode abrir mão da formação com três volantes e voltar ao esquema das
partidas anteriores, com trio ofensivo.
Maior artilheiro das Copas – ao lado de Ronaldo, com 15 gols –, Klose teve
chance entre os titulares no último jogo, mas o mau rendimento o colocou de
volta entre os reservas. Apesar disso, o atacante deve ser nome certo em
campo durante a partida, caso a Alemanha precise do gol. Além do poder de
finalização, existe o incentivo extra de que um tento nesta terça-feira coloca
Klose definitivamente acima de Ronaldo na artilharia da história dos Mundiais,
justamente contra o Brasil.

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212
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

O mexicano Marco Rodriguez Moreno, auxiliado pelos compatriotas Marvin


Torrentera e Marcos Quintero, será o árbitro da partida. O juiz fará a sua ter-
ceira participação nesta Copa do Mundo. Antes disso, Moreno já havia apitado
duas partidas na fase de grupos: Bélgica e Argélia, e Itália e Uruguai – esta úl-
tima, marcada negativamente por não ter visto a mordida de Suárez em Chiel-
lini. Ao todo, o mexicano aplicou seis cartões amarelos e uma expulsão no
torneio (FOX SPORTS, 2014).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Preparação psicológica
Atualmente, a preparação psicológica dos esportistas
tornou-se um ponto precípuo da preparação física. Diversos
autores, entre eles aqueles que estão embasando nossos
estudos, como Weineck (2003) e Platonov (2008), evidenciam
a grande importância desta preparação, principalmente no alto
nível, em que a sobrecarga das competições, o estresse físico dos
treinamentos, as repentinas e longínquas viagens, se não forem
controlados psicologicamente, poderão abreviar o desempenho
e até a carreira dos atletas.
Para Platonov (2008, p. 382),

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213
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

O sucesso no desporto depende de forma significativa das par-


ticularidades psicológicas individuais, e consequentemente
uma modalidade desportiva apresenta aos atletas exigências
que ajudam a formar a qualidade individual necessária para o
êxito nas competições.

Conforme Weineck (2003, p. 587),


No esporte de alto nível, o esportista é muitas vezes sobrecarre-
gado pela grande sobrecarga psicofísica; neste caso, o processo
de treinamento deve ser otimizado por medidas que favoreçam
a recuperação após a sobrecarga esportiva. Neste contexto,
a contemplação do treinamento tradicional com métodos de
apoio psicológico tem se demonstrado muito eficiente.

Segundo o autor supracitado, os métodos de treinamento


psicológico podem ser classificados, de acordo com seus objeti-
vos, em três grupos:
1) Métodos psicológicos para a melhoria da recuperação
e o aumento do desempenho físico.
2) Métodos psicológicos para a melhoria do processo de
aprendizagem da técnica.
3) Métodos psicológicos para recuperação de distúrbios
físicos que influenciem no desempenho do esportista.
Existem pesquisas, segundo Platonov (2008), que afirmam
sobre as particularidades da personalidade de desportistas,
principalmente no esporte de rendimento (alto nível). Estes se
destacam quando comparados a atletas menos qualificados ou
pessoas que não praticam atividades físicas, ou não fazem ne-
nhum exercício e tampouco estão envolvidos com os altos trei-
namentos que os esportistas qualificados com maior destaque
realizam.
1) Sentimento de superioridade e confiança de maneira
geral.

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214
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

2) Autossuficiência e determinação para defender seus di-


reitos em quaisquer situações e a qualquer momento.
3) Obstinação.
4) Persistência.
5) Equilíbrio emocional.
6) Grande clareza de objetivos.
7) Extroversão.
8) Agressividade competitiva.
Os atletas de alto nível apresentam atividade cognitiva
mais eficaz do que aqueles que não se enquadram na elite das
modalidades esportivas. Assim, apresentam um nível de atenção
mais aguçado, com maior capacidade de perceber e avaliar situa-
ções e grande perspicácia em prever inquietações e dificuldades,
antevendo situações; por outro lado, devido à acentuada capaci-
dade de perceber as ações dos adversários, e ao sentimento de
superioridade anteriormente citado, a latente posição, o senti-
mento de autossuficiência e a obstinação marcante podem levar
estes atletas a comportamentos antissociais (VEALEY, 1992 apud
PLATONOV, 2008).
Assim como nas outras formas de treinamento, as caracte-
rísticas individuais estão relacionadas a particularidades da mo-
dalidade esportiva. Podemos notar nos jogos que as característi-
cas pessoais de maior significância na determinação da eficácia
da segurança da atividade competitiva, segundo Klesov (1993
apud PLATONOV, 2008), são:
• Na esfera da motivação e da volição: motivação compe-
titiva, autocontrole volitivo e firmeza.
• Na esfera emocional: equilíbrio, estabilidade e
segurança.

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215
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

• Na esfera comunicativa: posição pessoal elevada nos


ambientes esportivos, profissionais e nas relações
informais.
Observa-se a importância da preparação psicológica nas di-
versas vertentes da preparação física, na preparação dos atletas
(a) durante a concentração de atletas (b), no controle emocional
das partidas (b) ou mesmo na assimilação de uma derrota (c).

Figura 19 Diego Hipólito, ginasta brasileiro, concentrando-se antes de uma


apresentação.

Figura 20 Gabriel Medina, em sua concentração antes de entrar no mar e consagrar-se


campeão.

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216
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Figura 21 Expulsão do atleta brasileiro Neymar no final do jogo entre Brasil e Colômbia
pela Copa América (17/06/15).

Figura 22 Atleta brasileiros após a derrota por 7 × 1 para a Alemanha, na Copa do


Mundo do Brasil, em 2014.

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217
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

A preparação psicológica na formação de atletas–––––––––

Os anos 90 decretaram uma nova postura nas equipes de diversas modalida-


des esportivas através do surgimento dos clubes-empresa. Em decorrência
desse tipo de patrocínio, tornou-se possível viabilizar uma nova filosofia organi-
zacional, onde um dos itens mais importantes deveria ser o reconhecimento da
necessidade de um psicólogo atuante e presente para garantir um rendimento
positivo e estável das equipes. A preparação psicológica dos atletas é uma das
temáticas mais discutidas no mundo dos esportes, sendo objeto de estudos no
campo do conhecimento das ciências humanas e sociais. O nível de preparação
psicológica se manifesta mediante a eficiência dos métodos de procedimentos
e na eficácia das múltiplas técnicas empregadas em relação aos atletas. A mí-
dia ressalta frases comuns ouvidas por comentaristas esportivos e treinadores
de diversas modalidades: "Temos que mexer com o psicológico dos jogadores",
"É hora de trabalhar a parte psicológica dos atletas", "Nesse momento a parte
psicológica conta muito", "O emocional fez a diferença nesse jogo", "Os atletas
sentiram a pressão emocional" e, outras tantas pérolas ditas por treinadores
de nome no cenário esportivo nacional. É preciso constatar que, na atualidade,
não existe a formação de psicólogo do esporte – o que existe são bacharéis
e licenciados em psicologia para atuarem nos seguimentos da psicanálise, da
psicologia escolar e da organizacional, além daqueles que foram formatados
para atuarem como psicólogos. Decorre daí que quando se fala em psicologia
ou psicossociologia do esporte, é usual encontrarmos diferentes discussões a
respeito dos profissionais que atuam no contexto dos esportes de rendimento.
O papel do conhecimento antropológico, sociológico, psicológico, psicosso-
ciológico nas atividades dos profissionais (treinadores, sociólogos, psicólogos,
preparadores físicos, entre outros) é um referencial fundamental para suas
percepções sobre a sociedade do esporte e, consequentemente, um dos es-
quemas conceituais, referenciais e operacionais orientadores de suas ações

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218
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

e intervenções psicossociológicas. A emergência do trabalho de um psicólogo


processa-se no cenário de uma crise de aceitação, como um reflexo da credi-
bilidade que os psicólogos têm dentro do ambiente esportivo. Julga-se que a
intervenção dos psicólogos não é prioritária no entrecruzamento dos múltiplos
elementos sociais, filosóficos, ideológicos, econômicos, políticos e culturais de
uma totalidade interativa envolvendo a instituição/clube, grupos e pessoas. Isto
significa que o papel do psicólogo em organizar um projeto de preparação
psicológica de atletas – tarefa cujas maiores dificuldades não só residem na
estruturação de um trabalho eficiente como método de procedimentos, mas
também na eficácia das metas e objetivos propostos como técnicas de inter-
venção psicológica na preparação dos atletas. Lembremos que nem sempre
os dirigentes estão interessados no trabalho psicológico em relação aos atle-
tas. É comum ouvir grandes atletas e treinadores dizerem: "temos que nos
preparar psicologicamente para esta partida" ou "fisicamente o time está bem,
mas psicologicamente vem passando por dificuldades" ou, ainda, "temos que
elevar o moral para virarmos o jogo". Com efeito, quando se diz que o atleta
está precisando de melhor preparo físico para uma competição, sabe-se que
o preparador físico será escalado para um trabalho mais rigoroso com esse
atleta, seja definindo nova rotina de treinamento, optando por um macrociclo
ou determinando-lhe que faça exercícios para desenvolver habilidades moto-
ras necessárias ao seu desempenho: força explosiva, flexibilidade, resistên-
cia muscular localizada, agilidade etc. Se o atleta está mal – psicológica ou
emocionalmente – quem é o profissional tecnicamente preparado para atuar
na solução deste problema? O técnico, o diretor do clube, o médico ortope-
dista, profissionais de outras áreas que não a Psicologia do Esporte? Os que
conhecem de perto o cotidiano do treinamento do atleta, de equipes ou clu-
bes de futebol, dirão que profissionais sem a devida formação estão atuando
como "psicólogos" no esporte. Este problema coloca em discussão inúmeros
problemas – um deles, o papel do psicólogo no mundo dos esportes e, mais
especificamente, na preparação das equipes e dos atletas individualmente.
Isto justificaria uma análise sobre tudo aquilo que ocorre no campo do esporte.
O clube está preparado para administrar os mecanismos implantados como
valores, normas e regulamentos para enquadrar as condutas humanas. E a
questão que se faz formular é a seguinte: a preparação psicológica tem um
papel fundamental na vida das equipes e dos atletas individualmente? Julga-se
que nesse cenário, o orgânico, o psíquico, o emocional, o individual e o social
são elementos inseparáveis aos dirigentes, técnicos e atletas e ao ambiente
institucional em que participam, interagem e desenvolvem suas atividades pro-
fissionais (COZAC. J. R. L. Com a cabeça na ponta da chuteira: ensaios sobre
a psicologia do esporte. São Paulo: Annablume, 2013, p. 21 e 22. Disponível
em: <https://books.google.com.br/books?id=qWL6rTrR3IsC&printsec=frontcov
er&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 17 jun. 2016).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

© PREPARAÇÃO FÍSICA GERAL


219
UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Com as leituras propostas no Tópico 3. 1., você pode-


rá entender a importância das preparações téctnica, tática
e psicológica . Antes de prosseguir para o próximo assunto,
realize as leituras indicadas, procurando assimilar o conteúdo
estudado.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar 4.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique na aba Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, busque pelo nome da disciplina
para abrir a lista de vídeos.
• Caso você adquira o material, por meio da loja virtual, receberá também um
CD contendo os vídeos complementares, os quais fazem parte integrante
do material.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Ao final desta unidade, em que aprendemos sobre as pre-


parações técnico-tática e psicológica, poderemos complementar
nossos estudos consultando a Biblioteca Pearson, onde encon-
traremos a obra de Samulski (2002), que relata a preparação
psicológica e os fatores relacionados ao estresse antes das com-
petições, destacados também no artigo de Fabiani (2015). Con-

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UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

solidando o fechamento deste material, sugerimos que assistam


ao vídeo A Preparação Tática no Futebol Moderno – palestra, in-
dicado a seguir.
• SAMULSKI, D. Psicologia do Esporte. 2. ed. Barueri:
Manole, 2002. (Biblioteca Digital Pearson).
• FABIANI, M. T. Psicologia do Esporte: a ansiedade e o
estresse pré-competitivo. 2009. Disponível em: <http://
www.psicologia.pt/artigos/textos/A0483.pdf>. Acesso
em: 12 mar. 2019.
• PHORTE TV. A preparação tática no futebol moderno –
palestra. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=C77sqGkcCCQ>. Acesso em: 8 abr. 2016.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteú-
dos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) O conjunto de procedimentos que vai garantir soluções mais eficazes para
as tarefas motoras, fazendo com que as atividades que devem ser desen-
volvidas sejam feitas com maior eficiência, de maneira objetiva e econô-
mica, é uma definição relativa a:
a) preparação técnica.
b) preparação tática.
c) preparação psicológica.
d) preparação física.
e) preparação intelectual.

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UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

2) Analise as afirmações a seguir.


I - Preparação técnica é o grau de assimilação pelo desportista, pelo sis-
tema de movimentos (técnica da modalidade esportiva) de determi-
nada modalidade, orientada para obtenção de melhores resultados.
II - A preparação técnica pode ser analisada isoladamente, como um
componente integral de um todo em que as soluções técnicas são
estritamente relacionadas às capacidades físicas, psíquica e tática do
atleta, assim como as condições concretas do meio externo, em que a
ação desportiva é realizada.
III - Naturalmente, quanto maior for o número de procedimentos e ações
dominadas pelo desportista, melhor será sua preparação para a so-
lução das tarefas táticas complexas, sugeridas na disputa competiti-
va, e mais eficaz será sua resposta aos ataques do adversário e sua
capacidade de provocá-lo com tomadas de decisões situacionais
inadequadas.
Assinale a alternativa correta:
a) As alternativas I e II são corretas.
b) As alternativas II e III são corretas.
c) As alternativas I e II são incorretas.
d) As alternativas II e III são incorretas.

3) Assinale a alternativa incorreta quanto à preparação técnica.


a) O surgimento de novos equipamentos e aparelhos, em especial no es-
qui e no esqui alpino, no salto com esqui na ginástica artística e em
muitas outras modalidades, afetou diretamente a técnica desportiva
das modalidades e permitiu que os desportistas aumentassem sua
técnica.
b) Os recursos ergogênicos (ergo = trabalho/gen = produção) mecânicos
melhoram a performance esportiva e podem tornar a técnica mais efi-
ciente, culminando em uma melhor performance esportiva e em um
desempenho com maior eficácia e menor gasto energético.
c) O desenvolvimento da técnica se dá por novas descobertas nos campos
científicos, nas mais diversas e distintas modalidades esportivas, ativi-
dades físicas e esportes, em que podemos encontrar publicações com
atletas e não atletas, com as diferentes faixas etárias, o que permitiu que
fossem feitos novos treinamentos e desenvolvidos, dosados e testados
novos métodos associados a outras ciências, como a Nutrição, a Medici-
na Esportiva, a Fisioterapia, entre outras.

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UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

d) Os avanços científicos e tecnológicos pouco auxiliam no desenvolvi-


mento da técnica.
e) O desenvolvimento da robótica e a precisão das análises, tanto em
tempo como em fidelização de resultados, propicia para treinadores
(professores) e atletas (alunos) um universo quase inesgotável de pos-
sibilidades que a cada dia surge com uma nova informação.

4) Os procedimentos utilizados para que se concretizem as ações motoras


que são responsáveis pela eficácia em uma atividade, por meio de objeti-
vos predefinidos é uma definição relativa a:
a) preparação técnica.
b) preparação tática.
c) preparação psicológica.
d) preparação física.
e) preparação intelectual.

5) Assinale a alternativa correta quanto à afirmação de Platonov (2008), so-


bre a preparação tática do desportista ou da equipe que é formada pelos
seguintes componentes:
a) Domínio dos meios, formas e tipos de tática atuais para a determinada
modalidade esportiva.
b) Correspondência entre o nível de desenvolvimento da tática na moda-
lidade e a estrutura ótima na atividade competitiva desta modalidade.
c) Correspondência entre o plano tático e as particularidades da respec-
tiva modalidade (local da competição, caráter da arbitragem, compor-
tamento dos torcedores etc.).
d) Articulação entre a tática e o nível de aperfeiçoamento de outros as-
pectos da preparação-técnica, psicológica e física.
e) Todas as alternativas estão corretas.

6) A tomada de decisão nas modalidades possui as seguintes particularida-


des, segundo Platonov (2008, p. 372), exceto:
a) A atividade realizada em condições de tempo extremamente limitadas
– qualquer que seja a decisão correta, possui validade tática apenas
na situação operativa, em resposta às condições competitivas daquele
momento.

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UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

b) A percepção de um grande número de elementos e situações táticas


que se estruturam em um sistema dinâmico em resposta aos prognós-
ticos mais corretos sobre o desenvolvimento tático.
c) A tomada de decisão não está ainda relacionada à chamada visão pa-
norâmica que corresponde a todo campo visual do aluno/atleta/des-
portista que se relacionará aos elementos táticos.
d) A escolha das decisões táticas entre variantes bastante semelhantes e
a capacidade de realizar alterações bruscas, seguindo variantes inter-
mediárias e secundárias.
e) A manutenção da memória operativa e da ordenação racional dos ele-
mentos táticos de acordo com o planejamento e as alterações no de-
correr da ação motora.

7) Assinale a alternativa incorreta:


a) Atletas de alto nível possuem uma atividade cognitiva menos eficaz do
que aqueles que não se enquadram à elite das modalidades esportivas.
b) Em atletas de alto nível, nota-se um nível de atenção mais aguçado.
c) Em atletas de alto nível, nota-se maior capacidade de perceber e ava-
liar situações.
d) Em atletas de alto nível, há grande perspicácia em prever inquietações
e dificuldades, antevendo situações.
e) Em atletas de alto nível, devido à acentuada capacidade de perceber
as ações dos adversários, por causa do sentimento de superioridade,
pode levar esses atletas a comportamentos antissociais.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) a.

2) e.

3) d.

4) b.

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UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

5) e.

6) c.

7) a.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, você pôde aprender sobre as preparações
técnico-táticas e psicológicas, obtendo uma visão global da pre-
paração física do conjunto de procedimentos que vão garantir
soluções mais eficazes para as tarefas motoras, as estratégias
traçadas para o sucesso nos treinamentos e competições e, por
fim, as características e importância do treinamento psicológico.
Esperamos que você tenha gostado e que este conteúdo
lhe proporcione subsídios para a obtenção do sucesso em sua
vida, como profissional e como pessoa. Agora, cabe a você colo-
car em prática seus conhecimentos.
Durante nosso aprendizado, deparamo-nos com conhe-
cimentos inter-relacionados. Cada componente da Prepara-
ção Física Geral é uma peça que irá compor um momento do
treinamento.
Gostaríamos de enfatizar que o diferencial de um bom pro-
fissional ocorre ao entender que hábitos de leitura, de pesquisa
e a busca constante de aprimoramento não se limitam somente
ao conteúdo desta obra.
É oportuno observar que a obra não teve a pretensão de
esgotar o assunto, mas, sim, de traçar os principais pontos que
envolvem o tema, com o intuito de despertar o seu interesse
pela continuidade das investigações nessa área.

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UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

Desejo a você sucesso na continuidade dos estudos, uma


vez que os ensinamentos aqui adquiridos constituem apenas o
primeiro passo de uma carreira bem-sucedida.

6. E-REFERÊNCIAS

Sites pesquisados
FABIANI, M. T. Psicologia do Esporte: a ansiedade e o estresse pré-competitivo. 2009.
Disponível em: <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0483.pdf>. Acesso em: 12
mar. 2019.
SAMULSKI. D. Psicologia do Esporte. 2. ed. Barueri: Manole, 2002. (Biblioteca Digital
Pearson).

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Guanabara Koogan, 1987.
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______. Teoria e prática do treinamento esportivo. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher,
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BITTENCOURT, N. Musculação: uma abordagem metodológica. 2. ed. Rio de Janeiro:
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2016.
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______. Flexibilidade: alongamento e flexionamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Shape,
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UNIDADE 4 – PREPARAÇÃO TÉCNICO-TÁTICA E PSICOLÓGICA

FOX, E. L. et al. Bases fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1991.
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