Você está na página 1de 3

A transmissão do texto hebraico –

texto da aula
O Antigo Testamento da Bíblia foi escrito em língua hebraica e língua
aramaica. Quando tratamos da questão do cânone, abordamos o
fechamento do cânone, ou seja, a data aproximada em que esse
cânone ficou fechado, ou foi concluído. Dá pra arredondar e dizer que
por volta do ano 100 depois de Cristo, a Bíblia Hebraica estava
completa, ou não havia mais discussão sobre que livros poderiam ou
não poderiam fazer parte dela. 

Com a destruição do Templo de Jerusalém no ano 70, a única


vertente, o único partido religioso que sobreviveu foi o partido
farisaico. Os saduceus foram exterminados, e foram os fariseus então
que deram origem ao Judaísmo rabínico. E esses rabinos de linhagem
farisaica foram aqueles que preservaram o texto da Bíblia Hebraica.

A primeira coisa que eles fizeram, e a gente sabe hoje que isso existiu
porque foram descobertos manuscritos ou cópias mais antigas, foi
padronizar o texto. Os massoretas eliminaram textos concorrentes e
criaram aquilo que nós chamamos hoje de texto massorético. 

O texto massorético é um texto que está hoje na nossa Bíblia


Hebraica. Os massoretas eram eruditos judeus. Massoreta significa
transmissor; eles foram os transmissores do texto. Entre outras coisas,
eles vocalizaram o texto bíblico, que era, no início, apenas
consonantal, assim como, até hoje, o hebraico é escrito sem as
vogais, só consoantes.

Então eles vocalizaram o texto, criando um sistema de pontos e


tracinhos que colocaram abaixo, dentro ou acima das letras (das
consoantes). Pois foi esse texto, assim chamado massorético, porque
foi editado pelos massoretas, foi esse texto massorético que foi
transmitido às novas gerações e chegou até nós.

A novidade no campo da Bíblia Hebraica veio com o ano de 1947: a


descoberta dos assim chamados manuscritos de Qumran. Alguns os
chamam de Rolos do Mar Morto. 

Por mais que tenhamos manuscritos antigos (manuscritos como no


caso dos Rolos do Mar Morto), não temos à disposição hoje os assim
chamados autógrafos, ou seja, os documentos originais. Aquele texto
que o secretário de Jeremias colocou num papiro, esse documento
original nós não temos. Só temos cópias de cópias.

No caso do Antigo Testamento, temos cópias muito bem feitas, porque


os copistas judeus eram muito cuidadosos; eles tinham um rigoroso
controle de qualidade. Ao final de cada livro, há um registro de
quantas letras são, quantas letras formam aquele texto. Então, ao
copiar o texto, se você contava as letras, se faltava uma você sabia
que tinha esquecido uma letra, se tinha uma letra a mais você tinha
duplicado uma letra; e assim por diante.

Nós temos hoje à disposição poucas cópias antigas, poucos


manuscritos antigos da Bíblia Hebraica. Em comparação
especialmente com o Novo Testamento, onde temos um número bem
maior de manuscritos. 

Por que isso é assim no caso da Bíblia Hebraica? Porque há o


costume entre o povo judeu de que quando se faz uma nova edição,
uma nova cópia da Bíblia; o exemplar antigo é descartado. Ele é tirado
de circulação e num certo momento inclusive ele é queimado (ou
enterrado) numa cerimônia religiosa, para que não se faça o uso
indevido desse texto.

Então, com a descoberta dos rolos do Mar Morto, nós temos hoje à
disposição manuscritos bem mais antigos em comparação com esses
manuscritos do texto massorético que foi forjado ou moldado no tempo
dos massoretas, no começo da Idade Média, lá pelo ano 500 (de
novo, colocando uma data arredondada).

Temos então hoje documentos que são mais ou menos do tempo de


Jesus, ou até 100 anos antes do tempo de Jesus; os assim chamados
rolos de Qumran.

Só para dar um exemplo: um dos rolos de Isaías (foram, na verdade,


encontrados dois rolos de Isaías), o primeiro rolo, assim chamado, é
uma tira de pergaminho de 7 metros e 34 cm. Todo o livro de Isaías
cabe nesse rolo: são 17 tiras de couro, 17 pedaços de couro que
foram emendados um no outro para formar esse rolo, o rolo de Isaías.

Apenas para constar, e é interessante dizer isso: ali em Qumran,


naquelas cavernas, foram encontrados manuscritos bíblicos mais
longos de apenas de dois livros bíblicos: Isaías e Habacuque. No caso
de Habacuque, o texto está lá porque foi escrito um comentário sobre
o texto de Habacuque. Quanto ao mais, foram encontrados
fragmentos, pequenos pedaços de todos os livros bíblicos do Antigo
Testamento, menos do livro de Ester. Foi encontrado muito material
não bíblico, calcula-se que sejam 15 mil fragmentos de uns 500 livros
diferentes.

Não foi encontrado nada do Novo Testamento, porque aquela não era
uma comunidade cristã.
 
Mas, para a Bíblia Hebraica, essas descobertas ali foram muito
importantes. No caso do Antigo Testamento, é a maior descoberta, a
mais importante descoberta arqueológica do século 20.

Para fazer uma Bíblia Hebraica, hoje, os eruditos utilizam a mais


antiga cópia completa a Bíblia Hebraica. Que cópia é essa? É essa
cópia que eu tenho aqui, numa edição fac-símile; é o assim chamado
Códice de Leningrado. Ele é um códice, não é um rolo. Isso significa
que não era um exemplar para uso na sinagoga, era um exemplar
para estudo pessoal de rabinos. Essa cópia foi feita no ano de 1008
depois de Cristo, a data foi registrada pelo copista. Ele anotou com
vários calendários em que data ele fez o trabalho.

Essa é uma cópia muito bem-feita, o copista fez um trabalho


excelente, é uma edição fac-símile, como diz aqui; o Códice de
Leningrado. (Fac-símile significa que o Códice foi fotografado e, então,
reproduzido aqui; e percebe-se que em cada página, ou em cada fólio,
existem três colunas.) Escrito com uma letra primorosa, que até
parece mecânica e não uma escrita feita à mão. Esse é, então, o
Códice de Leningrado, volume bem significativo que acaba sendo o
texto base para as edições das Bíblias Hebraicas de nosso tempo.

Mas, sobre as Bíblias Hebraicas, ou sobre a Bíblia Hebraica nós


vamos falar na próxima aula.

Você também pode gostar