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DESCOBERTA DOS MANUSCRITOS DO MAR MORTO

Alguns beduínos passavam por uma caverna na região a oeste do Mar Morto e encontraram
casualmente jarros contendo rolos e papiros. Como era costume no período que se
contrabandeassem relíquias e artefatos arqueológicos, os homens tentaram vender o achado,
porém, não tiveram sucesso.

Os manuscritos chegaram às mãos de um acadêmico da Universidade Hebraica, Eleazar


Sukenik e a um bispo do mosteiro de São Marcos. Outra parte dos manuscritos, encontrada
nas últimas dez cavernas, estavam no Museu Arqueológico da Palestina, em posse do
governo da Jordânia, que então controlava o território de Qumram. O governo jordaniano
autorizou apenas oito pesquisadores a trabalharem nos manuscritos. Em 1967, com a Guerra
dos Seis Dias, Israel apropriou-se do acervo do museu, porém, mesmo com a entrada de
pesquisadores judeus, o avanço nas pesquisas não foi significativo. Apenas em 1991, com a
quebra de sigilo por parte da Biblioteca Hutington em relação aos microfilmes que Israel
havia enviado para algumas instituições pelo mundo, um número maior de pesquisadores
passou a ter acesso aos documentos, permitindo, enfim, que as pesquisas avançassem
significativamente.

Os desdobramentos em relação aos resultados prosseguem e, recentemente, a Universidade


da Califórnia apresentou o "The Visualization Qumram Project" (Projeto de Visualização de
Qumram), recriando em três dimensões a região onde os manuscritos foram achados. O
Museu de Israel já publicou na Internet parte do material sob seus cuidados e o Instituto de
Antiguidades de Israel do Museu Rockefeller trabalha para fazer o mesmo com sua parte.

Em 2015, após 45 anos, os pesquisadores da Universidade de Kentucky decifraram


versículos do Livro de Levítico a partir de um rolo de pergaminho encontrado carbonizado
na Arca Sagrada da sinagoga de Ein Gedi.

No ano seguinte, 2016, arqueólogos ,da Universidade Hebraica de Jerusalém, descobriram


evidências de uma décima segunda caverna. No local, foram desenterrados estilhaços de
jarros que contiveram outros documentos. Infelizmente, os documentos haviam sido
saqueados, acredita-se que por volta de 1950.

Fora os pergaminhos com história atestada de descoberta no Deserto da Judeia, uma


profusão de manuscritos circula no mercado paralelo cuja autenticidade é duvidosa. Por
exemplo, o Museu da Bíblia em Washington afirmou em março de 2020 que todos os 16
fragmentos dos manuscritos do Mar Morto que possui são falsificados. Relatório diz que
maioria dos fragmentos são feitos de couro e não pergaminho.

Em 2021 foi anunciada a descoberta de dois fragmentos encontrados na "Caverna do


Horror" no deserto na região do Mar Morto. Os textos, escritos em grego, são dos livros de
Zacarias e Naum, com o nome de Deus redigido na escrita paleo-hebraica. 

Autoria
A autoria dos documentos é até hoje desconhecida. Com base em referências cruzadas com
outros documentos históricos, ela é atribuída aos essênios, uma seita judaica que viveu na
região da descoberta e guarda semelhanças com as práticas identificadas nos textos
encontradas. O termo "essênio", no entanto, não é encontrado nenhuma vez em nenhum dos
manuscritos.

O que se sabe é que a comunidade de Qumram era formada provavelmente por homens, que
viviam voluntariamente no deserto, em uma rotina de rigorosos hábitos, opunham-se à
religiosidade sacerdotal e esperavam a vinda de um messias.

Importância para o cânone bíblico

Nesta caverna, em Qumran, na Cisjordânia, foram encontrados os manuscritos do Mar


Morto.

Antes da descoberta dos Rolos do Mar Morto, os manuscritos mais antigos das Escrituras


Hebraicas datavam da época do nono e do décimo século da era cristã. Havia muitas dúvidas
sobre a confiabilidade dessas cópias. A análise dos textos encontrados mostra que os textos
hebraicos eram bastante fluidos antes de sua canonização. Há textos que são quase idênticos
ao texto massorético embora haja fragmentos do livro do Êxodo e de Samuel com diferenças
significativas das cópias modernas.

Para o Professor Julio Trebolle Barrera, membro da equipe internacional de editores dos
Rolos do Mar Morto, "O Rolo de Isaías [de Qumran] fornece prova irrefutável de que a
transmissão do texto bíblico, durante um período de mais de mil anos pelas mãos de
copistas judeus, foi extremamente fiel e cuidadosa."

O rolo mencionado por Barrera trata-se de uma peça com 7 metros de comprimento, em
aramaico, contendo o inteiro livro de Isaías. Diferentemente deste rolo, a maioria deles é
constituída apenas por fragmentos, com menos de um décimo de qualquer dos livros. Os
livros bíblicos mais populares em Qumran eram os Salmos (36 exemplares), Deuteronômio
(29 exemplares) e Isaías (21 exemplares). Estes são também os livros mais frequentemente
citados nas Escrituras Gregas Cristãs.
Anteriormente, os eruditos achavam que as diferenças entre o texto Massorético e
Septuaginta talvez resultassem de erros ou mesmo de invenções deliberadas do tradutor.
Agora, se confirmada à canonicidade de tais fragmentos, os rolos levantam possibilidade
para que muitas das diferenças tenham existido devido a variações no texto hebraico. Isto
talvez explique alguns dos casos em que os textos em que hoje os cristãos se baseiam
citavam textos das Escrituras Hebraicas usando fraseologia diferente do texto massorético.
— Êxodo 1:5. Assim sendo, tais pergaminhos fornecem de forma laica uma excelente base
para o estudo da transmissão do texto bíblico hebraico. Os Rolos do Mar Morto
confirmaram o valor tanto dos textos Massoréticos, como do Pentateuco Samaritano e de
outras traduções bíblicas para a comparação textual.

Embora os rolos demonstrem que a Bíblia não sofreu mudanças fundamentais, eles também
revelam que houve versões diferentes dos textos bíblicos hebraicos usadas pelos judeus no
período do Segundo Templo, cada uma com as suas próprias variações. Em conta das
variações, os manuscritos são agrupados em várias famílias: proto-massorético, família
septuaginta, proto-samaritano e tradições independentes. Por exemplo, o livro de Isaías os
fragmentos preservados nestes manuscritos possuem algumas variações que os diferenciam
do texto massorético na grafia e na fraseologia, sendo computados mais mais de 2600
variantes textuais em comparação com o Texto Massorético. Algumas variantes são
significativas e incluem diferenças em um ou mais versos ou em várias palavras. A maioria
das variantes são menores e incluem diferenças de uma única palavra, grafias alternativas,
plural versus uso único e mudanças na ordem das palavras.

Os Fragmentos do Mar Morto ajudam até certo ponto a compreender o contexto da vida
judaica durante à ocupação Romana em Israel. Tais textos fornecem informações
comparativas para o estudo do hebraico antigo e do texto da Bíblia.

Controvérsias

A associação de Jesus Cristo com a seita dos essênios ou sua influência sobre estes é


controversa. Os essênios, que viviam em comunidades isoladas, tinham conceitos muito
diferentes dos das outras seitas judaicas (Saduceus, Fariseus) sobre a Lei de Moisés.
Preocupavam-se em especial com a purificação pessoal, eram geralmente celibatários e
vestígios encontrados nas cavernas de Qumran indicam que se vestiam apenas com túnicas
brancas e acessórios simples. Havia uma interpretação muito rígida da guarda do sábado,
pois segundo suas regras, até fazer suas necessidades fisiológicas era considerado violação
ao sábado. A seita dos essênios mantinha uma estrita postura com o sábado devido a lei de
Moisés estar vigente durante aquele período.

Israel Knohl

O acadêmico judeu Dr. Israel Knohl, presidente do Departamento Bíblico da Universidade


Hebraica de Jerusalém e professor convidado nas universidades de Berkeley e de Stanford,
apresenta no seu livro: "The Messiah Before Jesus" (O Messias antes de Jesus), com base
nestes pergaminhos, a tese de que por volta do ano do nascimento de Jesus Cristo falecera
um suposto Messias, chamado Menahem, o essénio, em circunstâncias semelhantes àquelas
em que o próprio Jesus mais tarde viria a morrer, e supõe o autor que Jesus poderia ter tido
conhecimento desta história. Outra interpretação possível é que Jesus seria um personagem
baseado nesta obra anterior.

Menahem (ou Menachem), líder de uma seita judaica de Qumran, tentou liderar uma revolta
contra os Romanos, mas acabou morto por estes, que proibiram que o seu corpo fosse
enterrado. Este grupo de discípulos, ao contrário dos cristãos, logo se dissipou. Este
Menahem teria, segundo Knohl, falecido por volta de 4 a.C.

Michael Wise

Outro académico, o cristão Michael Wise, professor nos Estados Unidos, afirma que o
messias dos pergaminhos se chamava Judah e morreu de forma violenta por volta de 72 a.C.
Wise publicou o livro "The First Messiah" em 1999.

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