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Disciplina: Direito Comercial e Empresarial Ano: 2º/3o Semestre

Avaliação: Primeiro Teste de frequência Duração: 120 Minutos


Cursos: CA, CF e CPA Período: Laboral

1. Comente as seguintes afirmações. (4.50 Valores)

a) Os sócios industriais participam na realização do capital social com o seu trabalho


especializado e experiência técnica. (1.50 Valores)

- Esta afirmação não é verdadeira, pois, nos termos do artigo 112 do Código Comercial, a
realização de capital social é feita em dinheiro, espécie ou em ambos, não sendo possível em
trabalho e experiência técnica. Quer dizer, os sócios industriais apenas participam na constituição
da sociedade comercial e não participam na realização do capital inicial, que é da realização dos
sócios capitalistas, nos termos do artigo 278 do Código Comercial.

b) O objecto social coincide, necessariamente, com o objecto do contrato social. (1.50


Valores)

- Esta afirmação também é falsa, uma vez que uma coisa é objecto de uma sociedade comercial, outra
coisa é o conteúdo de um contrato de sociedade, duas realidades claramente distintas. O objecto de
uma sociedade comercial é o propósito ou a actividade económica que, não sendo de mera fruição, a
sociedade se destina a realizar, quer de produção ou circulação de bens ou serviços de utilidade económica.
Por sua vez, o objecto do contrato social é o conjunto de efeitos jurídicos que o contrato visa produzir, o
conteúdo do contrato definido com base na lei e na vontades dos sócios.

c) A personalidade jurídica é o único aspecto que nos permite distinguir as sociedades


comerciais dos estabelecimentos comerciais. (1.50 Valores)

- Igualmente, esta afirmação também não é verdadeira, uma vez que para além da personalidade jurídica
há mais elementos distintivos das sociedades comerciais e os estabelecimentos comerciais. Nesse

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sentido, enquanto sociedade comercial dispõe de personalidade jurídica, a susceptibilidade de ser sujeito
de direitos e deveres, o estabelecimento comercial é o instrumento de que se utiliza a sociedade
comercial, enquanto empresário comercial, para realizar as suas actividades. E, como tal, o
estabelecimento comercial só pode pertencer a uma única sociedade comercial, ao contrário desta que
pode ter mais do que um estabelecimento comercial. Para além disso, o estabelecimento comercial tem a
particularidade de ser transmissível, quer entre vivos como mortis causa, enquanto a uma sociedade
comercial, enquanto pessoa jurídica, é insusceptível de alienação a qualquer título. A sociedade
comercial tem capacidade jurídica enquanto o estabelecimento apenas precisa de ter o elemento
patrimonial, pessoal, a clientela, o aviamento para o seu funcionamento.

II

2. RESOLUÇÃO DAS PERGUNTAS DA HIPÓTESE

a) Imagina que, no pacto social, as partes pretendem, entre outras, inserir a seguinte
cláusula: "A sociedade terá por objecto a prestação de serviços de arquitectura,
podendo, no entanto, dedicar-se a qualquer outra actividade que os sócios pretendam
ter aceitação no mercado". Podem faze-lo? (3.00 Valores)

- Independentemente do tipo de sociedade comercial a constituir, estamos perante uma cláusula inválida,
pois à luz do artigo 980 do Código Civil, a actividade a exercer deve ser certa e determinada, isto é, a
lei obriga a que a sociedade se proponha a praticar actos objectivos com objecto definido de forma
concreta e específica, afastando assim indicações vagas, que originem actividades indefinidas. Com
efeito, nos termos do artigo 93, nº 1, do Código Comercial, o objecto da sociedade deve ser indicado de
modo que dê a conhecer as actividades que a sociedade se propõe exercer e que constituem aquele no
contrato de sociedade. Aliás, à luz do artigo 92, nº 2, do mesmo diploma legal, é proibida, na menção do
objecto da sociedade, a utilização de expressões que possam fazer crer a terceiros que ela se dedica a
actividades que por ela não podem ser exercidas (…). É por isso que se impõe que os elementos
característicos das firmas das sociedades comerciais não podem sugerir actividades diferentes do que
constitui o objecto social (no 1 do artigo 19 do C. Com.). Neste caso concreto, o objecto da sociedade
comercial a constituir só poderá ser aprestação de serviços de arquitectura, conforme os pretensos sócios se
propõem.

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b) E se no mesmo contrato social, os futuros sócios pretenderem consagrar uma cláusula
que dispõe que "cada sócio terá direito a receber, anualmente e no mínimo,
100.000,00.Mt a título de participação nos lucros"? (3.00 Valores)

- Nos termos em que os sócios se propõem consagrar, a cláusula será considerada inválida. Primeiro,
por que, por uma questão lógica, é impossível haver distribuição antecipada de lucros sociais, isto é,
o pressuposto para quinhoar os lucros (alínea a) do no 1 do artigo 104 do Código Comercial) é a
existência de lucros da sociedade, que é, em regra, dependente do exercício efectivo da actividade
económica para a qual a sociedade se propõe a realizar. Afinal, os dividendos são sempre calculados
tendo em conta o lucro líquido do exercício (no 2 do artigo 108 do C. Com.), portanto, não existindo
esse lucro é inválida a fixação dos mínimos a distribuir por cada sócios, independentemente, de
respeitar ou não a proporcionalidade das participações de cada sócio. Segundo, salvo disposição em
contrário, os sócios participam nos lucros e nas perdas da sociedade, segundo a proporção dos valores
nominais das respectivas participações no capital social (no 1 do artigo 108 do C. Comercial). Com
efeito, é nula a cláusula que proíba a participação dos sócios nos lucros e perdas da sociedade, uma
vez que viola o princípio da proibição do pacto leonino, segundo os artigos 108, nº 3, e 994 do C.
Comercial e Código Civil, respectivamente.

c) Dos meios de constituição das sociedades por si estudados, diga, justificando, qual das
formas constitutivas que, legalmente, se mostra mais adequada para se proceder a
constituição da sociedade em formação? (2.00 Valores)

- A forma constitutiva que, legalmente, se mostra mais adequada para se proceder a constituição da
sociedade em formação é o documento escrito – contrato de sociedade – assinado por todos os sócios,
uma vez que nenhum dos sócios se propõe a realizar o património inicial com bens imóveis, nos
termos do no 1 do artigo 90 do C. Comercial.

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d) Imagine que, Carlos pretende desistir da ideia de constituir a sociedade com a filha, mas
não sabe se pode criar uma sociedade diferente dos tipos previstos no Código Comercial.
Pode faze-lo? (2.00 Valores)

- À luz do disposto no artigo 82 do C. Com., Carlos não pode constituir sociedade comercial diversa
dos tipos societários previstos no Código Comercial, independentemente, do objecto social da
sociedade a criar, senão um dos tipos previstos no no 1 do artigo 82 do C. Com., designadamente,
sociedades em nome colectivo, de capital e industria, em comandita, por quotas e anónimas. Com
efeito, desde que tenha por objecto o exercício de uma empresa comercial (no 2 do artigo 82 do C.
Com.), querendo avançar sozinho na constituição de uma sociedade comercial, Carlos é
excepcionalmente livre de o fazer, mas só tem uma única opção, dentre os tipos mencionados, a
sociedade por quotas unipessoal, constituída por um único sócio, atento ao que estabelece o no 1 do
artigo 91 do Código Comercial.

e) Imagine que a razão da pretensão de desistência em constituir a sociedade com a Lunga


está relacionada com a idade desta. Diga em que circunstâncias, Lunga pode ser sócia de
uma sociedade comercial? (2.50 Valores)

- Sendo menor, Lunga encontra-se numa situação de incapacidade negocial que a impede de exercer
pessoalmente os seus direitos e obrigações, pois só possui possui capacidade de gozo (artigo 67 do
Código Civil) e não de exercício de direitos (artigo 123 do Código Civil), sendo irrelevante a sua
vontade pessoal em ser sócia. Nesse sentido, Lunga poderá ser sócia de uma sociedade comercial,
desde que agindo através de um representante legal, que para o caso, deverá ser a mãe, uma vez que
anuiu, nos termos do artigo 124 do Código Civil, conjugado com o artigo 7 do Código Comercial.
Pois, sendo ela incapaz não poderá eficazmente assinar um contrato de sociedade, sob pena de
invalidade prevista no artigo 101 do Código Comercial.

a) Imagine que, celebrado o contrato de sociedade, mas antes do respectivo registo e


publicação, Carlos tenha começado a desenvolver as actividades para as quais é criada a
sociedade. Porém, a sociedade foi recusada o registo por existência de algum vício
insanável. Havendo compromissos assumidos em nome da sociedade em formação,
poderá esta ser responsabilizada? (3.00 Valores)

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- Na hipótese de antes de registo do contrato de sociedade, a sociedade em formação começar a realizar
as actividades para que é constituída, falhada a constituição da sociedade, havendo compromissos
assumidos em nome da sociedade em formação, esta poderá, sim, ser responsabilizada, mas não como
sociedade comercial, mas sim sociedade civil, e, pessoal e solidariamente, os sócios” (artigo 997, nº 1 do
Código Civil), pois tais compromissos são legalmente considerados válidos. Com efeito, dispõe o nº 2
do artigo 100 do Código Comercial que “se for acordada a constituição de uma sociedade comercial,
mas, antes da celebração da escritura pública ou registo da mesma (…), os sócios iniciarem a sua
actividade, são aplicáveis às relações estabelecidas entre eles e com terceiros as disposições sobre
sociedades civis”, isto é, o disposto nos artigo 997 e ss. do Código Civil.

Fim

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