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Miséria António Laina

CORRENTES TEÓRICAS DA ANTROPOLOGIA

PARENTESCO, FAMÍLIA E CASAMENTO

(Licenciatura em Ensino de Química)

Universidade Rovuma

Extensão de Niassa

2021
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Miséria António Laina

CORRENTES TEÓRICAS DA ANTROPOLOGIA

PARENTESCO, FAMÍLIA E CASAMENTO

Trabalho realizado no âmbito da cadeira de


Antropologia Cultural de Moçambique, para fins
avaliativos, a ser entregue no Departamento de
Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática,
sob orientação pela: Msc. Manuela Manuel.

Universidade Rovuma

Extensão de Niassa

2021
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Índice
1.Introdução................................................................................................................................4

1.1.Objectivos.............................................................................................................................5

2.Metodologia.............................................................................................................................5

3.Quadro Resumo das Correntes do Pensamento Antropológico...............................................5

4.Parentesco, Família e Casamento em Moçambique................................................................8

4.1.O Parentesco.........................................................................................................................8

4.1.1.Tipos de Parentesco...........................................................................................................8

4.1.2.Tipos de Laços de Parentesco............................................................................................8

4.2.A Nomenclatura de Parente ou Terminológa de Parentesco:...............................................9

4.2.1.A nomenclatura de parentesco pode ser descritiva e classificatória:..............................10

4.3.As Relações de Parentesco..................................................................................................10

4.4.Simbologia do Parente........................................................................................................10

5.FAMÍLIA...............................................................................................................................12

5.1.Historial do Surgimento da Família....................................................................................13

5.2.Critérios de Classificação da Família.................................................................................13

5.3.Tipologia Familiar ou Composições Familiares.................................................................15

5.4.Funções da Família.............................................................................................................16

5.5.Importância do Parentesco..................................................................................................16

6.CASMENTO..........................................................................................................................16

6.1.O Casamento em Moçambique...........................................................................................16

6.1.2.As Regras do Casamento.................................................................................................17

6.1.3.Tipos de Casamento.........................................................................................................17

6.2.LOBOLO............................................................................................................................18

6.3.Fincões do Lobolo...............................................................................................................19

7.Conclusão...............................................................................................................................21
7.Referências Bibliográficas.....................................................................................................22
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1.Introdução

O trabalho em destaque desenvolveu-se em prol da cadeira de Antropologia Cultural de


Moçambique, e debruça-se em relacção aos aspectos ligados as Correntes ou Pensamento
Antropológico que deram o princípio desta área de estudo como ciência, visto que a
Antropologia desenvolveu-se graças a existência de diversas correntes antropológicas que se
debruçaram sobre diversos temas referentes à ciência antropológica como: o evolucionismo, o
difusionismo, o funcionalismo, o Culturalismo assim como o estruturalismo. Além disso,
aborda também em acerca do Parentesco, família e o Casamento e Moçambique, estes são os
conteúdos que serão desenvolvidos ao longo do trabalho.

1.1.Objectivos
Geral
 Conhecer as Correntes Teóricas da Antropologia e O Parentesco, Família e Casamento
em Moçambique.
Específicos
 Caracterizar as Correntes Antropológicas;
 Conhecer os Principais Defensores das Correntes;
 Compreender o Parentesco, a Família e Casamento em Moçambique.

2.Metodologia
O presente trabalho caracterizou-se por ser bibliográfico, desenvolvido a partir de materiais
elaborados e publicados por inúmeros autores escolhidos para ajudar na elaboração deste
trabalho para partir da questão que objectivou-se a suscitar reflexões sobre o tema em estudo.
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3.Quadro Resumo das Correntes do Pensamento Antropológico

Corrente As Características Os Defensores A Essência das Correntes


Sistematização do Maine (1861). Esta corrente antropológica
conhecimento acumulado Herbert Spencer 1864. afirma que a espécie humana
sobre os “povos E. Tylor (1871). evolui lentamente e que se
Evolucionismo primitivos”. Predomínio L. Morgan (1877). podem classificar todas as
do trabalho de gabinete. James Frazer (1890) sociedades existentes em
função do estádio de
desenvolvimento alcançado.
Caracterizou-se por duas Schmidt, (1868-1954), Procura compreender a
escolas que são: O F. Graebner, (1877- natureza das culturas de cada
difusionismo inglês ou a 1934), L. Frobenius, povo, da origem a sua
escola inglesa, o (1873-1938) e G. extensão, de um grupo humano
Difusionismo difusionismo alemão ou Elliot-Smith (1871- para outro. E explica o
escola alemã, o 1937). desenvolvimento cultural pelo
difusionismo americano ou processo de difusão de
escola americana. aspectos culturais, formas
culturais, de uma cultura para
outra.
Uso do método Sigmund Freud (1856- Culturalismo é a corrente que
comparativo e a busca de 1939), Franz Boas, defende a importância central
leis no desenvolvimento Ralph Linton (1893- da cultura como uma força
Culturalismo das culturas e Relacções 1953), organizadora nos assuntos
entre cultura Margaret Mead. humanos.
personalidades.
Caracterizou-se pelo Bronislaw Malinowski Esta corrente explica aspectos
Modelo de etnografia 1922. da sociedade em termos de
clássica ao dar Enfase no Radcliffe Brown funções. Essa corrente defende
Funcionalismo trabalho de campo 1952; e Daryll Forde, que cada instituição exerce
(Observação participante), 1950. uma função específica na
Sistematização do Evans-Pritchard, sociedade e o seu mau
conhecimento acumulado 1937; Raymond Firth funcionamento significa um
sobre uma cultura. 1951. desregramento da própria
sociedade.
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Caracterizou-se pela busca Levi-Strauss, Busca superar algumas


das regras estruturantes Needham, Douglas, deficiências observadas em
das culturas presentes na Turner e Dumont. outras teorias e tem a pretensão
Estruturalismo mente humana, como de alcançar uma explicação da
Teoria do Parentesco, lógica das organizações sociais
Logica do mito, em sua dimensão sincrônica,
classificação primitiva, sem deixar de lado a dimensão
distinção da natureza diacrônica.
cultural.
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4.Parentesco, Família e Casamento em Moçambique

4.1.O PARENTESCO
Para BERNARDI (1974, p:257). “O parentesco é o vínculo por consanguinidade, adopção,
aliança (através do casamento), por afinidade ou qualquer relação estável de afectividade.
Trata-se, portanto, de vínculos podendo ser ou não biológicos e que se organizam de acordo
com linhas que permitem medir ou qualificar diversos graus de parentesco”.

Conforme SANTOS (2002) “Parentesco no sentido restrito refere-se aos laços de sangue, mas
num sentido mais amplo, também aplica-se aos laços de afinidade ou de casamento
(parentesco por afinidade ou por casamento)”.

4.1.1.Tipos de Parentesco
Segundo SANTOS (2002), As pessoas podem estar emparentadas de três formas Básicas:

 Por consanguinidade, por afinidade e adopção.


a) Parentesco por Consanguinidade

O parentesco por consanguinidade estabelece-se através de um vínculo de sangue, quando


existe pelo menos um ascendente em comum. A proximidade deste parentesco mede-se de
acordo com o número de gerações que separam ambos os pais.

b) Parentesco por Afinidade

A afinidade é o vínculo que liga cada um dos cônjuges aos parentes do outro. A afinidade
determina-se pelos mesmos graus e linhas que definem o parentesco e não cessa pela
dissolução do casamento.

c) Parentesco por Adopção

Adopção é o vínculo que, à semelhança da filiação natural, mas independentemente dos laços
do sangue, se estabelece legalmente entre duas pessoas. Esta é de ordem social que se baseia
nas normas sociais conhecidas ou por lei. O parentesco por afinidade esta relacionado com o
matrimónio, mas por laços de afinidade entre duas pessoas no processo de socialização entre
os indivíduos.

4.1.2.Tipos de Laços de Parentesco


Os laços de parentesco é a relacção que decorre da posição ocupada pelo sujeito no sistema de
parentesco. Pode-se falar de três tipos de laços de parentesco:
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a) Laço de sangue (Descendência);

b) Laço de afinidade (Matrimónio ou Casamento);

c) Laço fictício (Adopção).

a) Laço de sangue (Descendência)

A Descendência é relacção do sujeito com os seus parentes de sangue. Embora o critério de


descendência seja biológico, em Moçambique a descendência obedece os critérios culturais
(de descendência unilateral). Por exemplo, um indivíduo é sempre filho de uma mãe e um pai,
mas na zona norte de Moçambique leva-se em consideração a descendência matrilinear,
enquanto no sul considera-se a descendência patrilinear. Nas sociedades europeias a
descendência é dos dois progenitores (descendência bilateral).

 A descendência matrilinear é também conhecida como descendência uterina, a


patrilinear tem também a designação de descendência agnática, enquanto a
descendência bilateral (de ambos os progenitores) é denominada cognática.
 Descendência Unilateral Dupla: acontece em sociedades que não consideram como
preponderante a linhagem matrilinear nem a patrilinear.
b) Laço de Afinidade (Matrimonio ou Casamento)

Esta é de ordem social que se baseia nas normas sociais conhecidas ou por lei. O parentesco
por afinidade esta relacionado com o matrimónio, mas por laços de afinidade entre duas
pessoas no processo de socialização entre os indivíduos. O processo de afinidade é durável
por muito tempo até chegar a definição de parente; contudo, cada indivíduo vai determinar
quem é parente de acordo com o grau de afinidade existente.

c) Laço Fictício (Adoção)

O laço por fictício ou adoção é um acto de amor incondicional, ou seja, um acto de aceitação
do outro, independente de ter em sua origem o sangue e a natureza geracional dos pais que
optaram por criar essa criança.

4.2.A Nomenclatura de Parente ou Terminológa de Parentesco:


Conforme VILANCULOS, (sd. p: 107), “A nomenclatura de parente é o sistema de
denominações das posições relativas aos laços de sangue e de afinidade. Exemplos de
nomenclaturas de parentesco: pai, mãe, irmão, primo, esposa, cunhado, sogra, enteado,
filho, neto, sobrinha”.
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4.2.1.A nomenclatura de parentesco pode ser descritiva e classificatória:


a) Nomenclatura Descritiva

A nomenclatura de parentesco descritiva é aquela em que se usa um termo diferente para


designar a cada um dos parentes. Exemplo: papá (pai biológico), mamã (mãe biológica),
mana (irmã biológica mais velha).

b) Nomenclatura Classificatória

A nomenclatura de parentesco classificatória é aquela em que se emprega indistintamente o


mesmo termo para designar a um grupo de pessoas com quem se tem um laço de parentesco.
Por exemplo, quando se aplica o termo “mamã” para designar à mãe biológica, à irmã da mãe,
ou à madrasta, e quando se trata como irmão, ao próprio irmão biológico, ao primo ou ao filho
de uma madrasta.

4.3.As Relações de Parentesco


Os indivíduos que têm ancestrais em comum são denominados parentes consanguíneos, ou,
simplesmente, consanguíneos, designando-se como parentes afins de uma pessoa os
indivíduos que, apesar de não possuírem ancestrais em comum, estabeleceram, após um
casamento, uma relação, dita de parentesco, com essa pessoa e os consanguíneos dela. Por
exemplo, os tios de um indivíduo que são irmãos de seu pai ou de sua mãe são parentes
consanguíneos desse indivíduo, já que têm ancestrais em comum com ele. Os cônjuges de tais
tios, entretanto, são, geralmente, seus parentes afins. Dizemos geralmente porque não se pode
excluir a possibilidade de ocorrência de casamentos entre pessoas com ancestrais em comum,
como é o caso de casamento de primos ou de outros consanguíneos.

4.4.Simbologia do Parente
A simbologia adoptada inclui um triângulo para o homem e um círculo para a mulher. Estes
símbolos não possuem nenhum preenchimento. Entretanto, o gráfico sempre analisa os laços
de parentesco a partir de um EGO (masculino ou feminino), e este símbolo, para melhor
visualização, é diferenciado com o seguinte preenchimento:
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Os dois principais tipos de relacção são representados da seguinte forma:

O Gráfico também apresenta um esquema de abreviaturas, e para a confecção deste trabalho


utilizamos uma representação correspondente própria que visa facilitar a compreensão dos
gráficos apresentados:

Parentes Abreviação

Pai P

Mãe M

Marido MAR

Esposa ESA

Irmão IRO

Irmã IRA

Filho FIO

Filha FIA

Criança CRI

Esposo ESO

Pais PAS

Irmãos IRS

Afim AFI
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A seguir, apresentamos a mesma família representada em gráficos que tomam por base egos
diferentes:

A partir do EGO (um dos filhos), visualizamos a nomenclatura adotada para cada outro
integrante da família.

Para o entendimento das sociedades simples, o sistema de parentesco é um tópico bastante


estudado, pois oferece “aspectos mais regulares e recorrentes, permitindo a construção, o teste
de generalizações e o entendimento da estrutura social das sociedades simples, (SANTOS,
2002, p: 166).

5.FAMÍLIA
VILANCULOS, (sd. p: 108), “A família, embora possa variar muito de sociedade para
sociedade, o seu núcleo duro é constituído por indivíduos ligados por laços de
consanguinidade e afinidade. É na família que se cria o enquadramento para o treino das
crianças”.

 No sentido mais restrito, família é o conjunto de pessoas que vivem sob o mesmo tecto.
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 No sentido lato, a família é o conjunto das sucessivas gerações descendentes de


antepassados comuns.

A linguagem do senso comum, família é a célula básica da sociedade. Por família, entende-se
também como o conjunto de parentes por consanguinidade ou por aliança ou afinidade.

5.1.Historial do Surgimento da Família


A origem da família está diretamente ligada à história da civilização, uma vez que surgiu
como um fenômeno natural, fruto da necessidade do ser humano em estabelecer relacções
afectivas de forma estável. Pois bem, deixando de lado a família da antiguidade, em sua forma
primitiva, é possível afirmar que a família Moçambicana tem como base a sistematização
formulada pelo direito colonial, romano e pelo direito canônico.

A família romana era formada por um conjunto de pessoas e coisas que estavam submetidas a
um chefe: o pater famílias. Esta sociedade primitiva era conhecida como a família patriarcal
que reunia todos os seus membros em função do culto religioso, para fins políticos e
econômicos.

O direito romano teve o mérito de estruturar, por meio de princípios normativos, a família.
Isto porque até então a família era formada por meio dos costumes, sem regramentos
jurídicos. Assim, a base da família passou a ser o casamento, uma vez que somente haveria
família caso houvesse casamento. Pois bem, com a ascensão do Cristianismo, a Igreja
Católica assumiu a função de estabelecer a disciplina do casamento, considerando-o um
sacramento. Assim, passou a ser incumbência do Direito Canônico regrar o casamento, fonte
única do surgimento da família.

5.2.Critérios de Classificação da Família


Existe um tipo de classificação da família que se vale dos seguintes critérios: regras de
residência, número de cônjuges, relação de poder e parentesco.

a) Quanto às regras de residência, a família pode ser:


 Patrilocal é aquela que estabelece uma residência conjunta entre um casal e os pais do
homem. Geralmente nas sociedades meridionais de Moçambique há uma tendência de as
famílias estabelecerem residências patrilocais devido à estrutura e natureza do poder que
se centra nas mãos dos homens.
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 Matrilocal: aquela que estabelece residência conjunta entre o casal e os pais da mulher.
Com frequência acontece nas sociedades setentrionais de Moçambique onde há uma
tendência de as famílias estabelecerem residências matrilocais.
 Neolocal: é a família cujo casal tem uma residência independente da dos pais de ambos os
cônjuges. Este tipo de residência é mais frequente em sociedades urbanizadas onde o
estilo de vida exige uma autonomia das famílias.
b) Quanto ao número de cônjuges, a família pode ser:
 Monogâmica é quando a união é de um só homem com uma só mulher.
 Poligâmica é a união de um só marido com várias esposas ou de uma mulher com
vários maridos.
 Poligínica é a família em que o homem é quem pratica a poligamia, isto é, a união de
um marido com várias esposas.
 Poliândrica é a família em que a mulher é quem pratica a poligamia, ou seja, a união
de uma mulher com vários esposos.
c) Quanto à relação de poder, a família pode classificar-se em:
 Patriarcal ou Patrilinear é a família cujo poder é exercido pelo marido. As famílias
patriarcais abundam no sul de Moçambique, sendo que o patriarcado como uma relação de
poder incide também no casamento, na sucessão, na herança e na estrutura social das
famílias.

“A filiação patrilinear (também chamada agnática) é de longe a forma mais


comum de filiação unilinear. Num sistema de filiação e organização
patrilinear, os membros de um grupo de parentesco unem-se pela ligação a um
antepassado comum masculino através de uma linha de ascendência-
descendência que cruza as diferentes gerações somente através de parentes
masculinos”, (BATALHA, p: 34, 2004).

 Matriarcal ou Matrilinear é a família cujo poder é exercido pela mulher. As famílias


matriarcais abundam no norte de Moçambique, sendo que a mulher exerce o poder
indirectamente através do seu irmão do sexo masculino. É este a quem cabe zelar pela
orientação da vida dos filhos da irmã, cuidar pela iniciação desses filhos e legar-lhes a sua
herança em caso de morte.

O papel do pai biológico é quase que passivo, pelo que quando o filho comporta-se mal ou
comete uma infracção, o pai remete a solução dessa situação ao tio materno do filho, isto é, ao
irmão da mãe do filho.
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d) Quanto ao Parentesco, a família pode adquirir as seguintes classificações:


 Nuclear: é a família constituída pelo marido, esposa e os filhos resultantes dessa
união, todos morando juntos numa residência neolocal. A família nuclear pode ser de
orientação, aquela da qual cada um de nós proveio e a família nuclear de procriação,
que é a que cada um de nós funda ou estabelece.
 Alargada ou Extensa: este tipo de família constitui-se por um casal, os filhos e os
familiares colaterais (sobrinhos, netos, primos, irmãos), todos vivendo numa mesma
residência patrilocal, matrilocal ou neolocal.
 Reconstituída: composta por um homem divorciado ou viúvo com os filhos e uma
mulher (a madrasta), ou por uma mulher divorciada ou viúva com os filhos e um
homem (o padrasto), ou ainda, por um homem e uma mulher, ambos divorciados ou
viúvos vivendo juntos com os respectivos filhos.
 Monoparental: aquela composta só pelo pai solteiro ou viúvo e os filhos, ou só pela
mãe solteira ou viúva e os filhos.

5.3.Tipologia Familiar ou Composições Familiares


Segundo KASLOW apud MINUCHIN (1990) a classificação mais utilizada pelos estudos de
psicologia e sociologia é a Classificação de Kaslow de composição familiar, que consiste no
arranjo dos membros que compõem esta família. Segundo o autor, a família pode ser
classificada em:

 Família nuclear, incluindo duas gerações com filhos biológicos;

Família nuclear é aquela composta de um homem e uma mulher que coabitam e mantêm um
relacionamento sexual socialmente aprovado, tendo pelo menos um filho.

 Famílias extensas, incluindo três ou quatro gerações;

As famílias extensas são compostas pelo núcleo familiar e agregados que coabitam a mesma
unidade doméstica. De certo modo, a família extensa foi substituída pela família nuclear,
especialmente, nos grandes centros urbanos. Além disso, difundiram-se novos arranjos
familiares desvinculados da união lega.

 Famílias adotivas, que podem ser bi-raciais ou multiraciais;


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A possibilidade da adoção disposta no Código Civil Brasileiro, faz com que a composição da
família adotiva se tornasse realidade. Esta é composta por um homem e mulher cujo filho não
apresenta laços de consanguinidade.

 Casais;

A família dita “casal” é aquela em que o homem e mulher se enlaçam via matrimônio, mas
não concebem nem adotam filhos.

5.4.Funções da Família
CIPIRE, (1996), “Para a espécie humana, tal como para outras espécies de primatas, é
imprescindível que o indivíduo possa crescer em segurança sob a protecção de um grupo até
atingir maturidade suficiente para sobreviver sozinho. Idealmente, esse grupo é aquilo que
definimos como família. Toda a divisão sexual do trabalho teve origem naquilo que deve ter
sido a família tipo do Paleolítico as mulheres a cuidarem dos filhos e os homens a
assegurarem a defesa do grupo contra as ameaças exteriores”.

5.5.Importância do Parentesco
Para BERNARDI (1974, p:258), “O parentesco constitui uma forma de organização da vida
humana, na qual se concentram relações de laços entre dois indivíduos partindo de uma
escolha recíproca, de troca de interesses comuns que podem ser sexuais ou de trabalho e
outros”.

O parentesco na vida social tem um papel importante pois confere ao indivíduo a identidade
social perante ao grupo, de forma que este seja reconhecido pelos outros como membro
pertencente ao grupo, isto é, dentro de uma sociedade pode definir a sua posição por meio de
termos de parentesco com qualquer pessoa com quem se encontre a tratar socialmente, quer
pertença á própria tribo quer pertença a outra, (RIVIÈRE (1995, p:69).

 O grupo de parentesco supõe um ou diversos critérios de pertença, assim como


normas comuns, e ligações sociais activas”.
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6.CASMENTO
Segundo BATALHA, (p: 34, 2004), “O casamento é um acontecimento cultural que está
muito para além da genética ou biologia humanas é a forma comummente aceite de constituir
família e ter filhos, entre a maioria social e politicamente dominante”.

Conforme BOAS, (2009), “O Casamento é a união voluntária e singular entre um homem e


uma mulher, com o propósito de constituir família, mediante comunhão plena de vida”.

6.1.O Casamento em Moçambique


Para BATALHA, (p: 34, 2004), “O casamento é um acontecimento cultural que está muito
para além da genética ou biologia humanas é a forma comummente aceite de constituir
família e ter filhos, entre a maioria social e politicamente dominante”.

Conforme BOAS, (2009), “O Casamento é a união voluntária e singular entre um homem e


uma mulher, com o propósito de constituir família, mediante comunhão plena de vida”.

6.1.2.As Regras do Casamento


De acordo com BATALHA, (p: 34, 2004), “É dado assente que todas as
sociedades de mundo condenam em absoluto o incesto, ou seja, o casamento
entre irmãos, entre pai e filha, entre mãe e filho. Esta proibição fundamental é
como que uma reacção primária do grupo contra as causas internas de
desorganização ou adulteração do papel que cada membro desempenha no
seio do agregado familiar restrito e contra a verdadeira «asfixia» resultante de
justaposições no exercício dessas funções”.

Em Moçambique, têm capacidade para contrair casamento todos aqueles em relacção aos quais não se
verifique algum dos impedimentos matrimoniais previstos na lei.

6.1.3.Tipos de Casamento
 Monogamia

Embora a monogamia seja a norma de casamento mais comum na maior parte das sociedades,
a poligamia é a forma mais praticada, especialmente na forma conhecida como poliginia.

 Poliginia

A poliginia é a família em que o homem é quem pratica a poligamia, isto é, a união de um


marido com várias esposas.

 Poliandria
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A poliandria, que liga matrimonialmente uma mulher a dois ou mais homens, é a forma mais
rara de poligamia. Alguns antropólogos entendem que é menos vulgar do que a poliginia
devido à menor esperança de vida e maior mortalidade infantil do sexo masculino. Em
algumas sociedades, ou entre alguns grupos sociais, o casamento é considerado uma coisa
demasiado séria para ser deixado aos caprichos de jovens com pouca experiência de vida
social. Nessas sociedades e grupos, o casamento, mais do que a união entre duas pessoas,
representa o estabelecimento de uma aliança entre famílias ou grupos de parentesco.

 Modalidades de Casamento em Moçambique


O casamento em Moçambique divide-se em seguintes modalidades, como: Casamento Civil e
Religioso ou Tradicional. Ao casamento monogâmico, religioso e tradicional é reconhecido
valor e eficácia igual à do casamento civil, quando tenham sido observados os requisitos que a
lei estabelece para o casamento civil.

a) Casamento Civil

Em Moçambique a capacidade matrimonial dos nubentes é comprovada por meio de processo


preliminar de publicações, organizado nas repartições do registo civil a requerimento dos
nubentes ou do dignatário religioso, nos termos da lei de registo. O consentimento dos pais,
legais representantes ou tutor, relativo ao nubente menor, pode ser prestado na presença de
duas testemunhas perante o dignatário religioso, o qual lavra auto de ocorrência, assinando-o
todos os intervenientes.

b) Casamento Religioso ou Tradicional

O Casamento religioso e o tradicional, consiste na união voluntária e singular entre um


homem e uma mulher, por meio dos líderes religiosos, ou comunitários duma certa região. E
só podem ser contraídos por quem tiver a capacidade matrimonial exigida na lei civil. O
casamento religioso e o tradicional produz efeitos previstos na presente Lei ou em legislação
especial, desde que esteja devidamente transcrito pelos serviços do registo civil nos termos da
lei.

 Casamentos Tradicionais

Os casamentos polígamos têm uma longa tradição em Moçambique e o facto da nova lei da
família não reconhecer legalmente a sua existência não muda a realidade para muitos homens
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e mulheres. Razões práticas, tais como o custo multiplicado de sustentar famílias grandes,
levaram a um declínio no número de novos casamentos polígamos.

 Religião Monoteísta

Em Moçambique coexistem muitas crenças diferentes: Catolicismo, Islão e Protestantismo


tradicional bem como igrejas Evangélicas e Zionistas que estão frequentemente misturadas
com crenças animistas tradicionais.

6.2.LOBOLO
O lobolo é uma prática cultural por meio da qual se unem duas pessoas (homem e mulher)
pelo casamento condicionado ao pagamento real ou simbólico de um dote. Este dote pode ser
uma enxada, uma cabeça ou várias de vaca, dinheiro em numerário ou outros bens de natureza
ou pecuniária.

 Lobolo no sul de Moçambique

O lobolo é uma prática cultural por meio da qual se unem duas pessoas (homem e mulher)
pelo casamento condicionado ao pagamento real ou simbólico de um dote. Este dote pode ser
uma enxada, uma cabeça ou várias de vaca, dinheiro em numerário ou outros bens de natureza
ou pecuniária.

Segundo VILANCULOS apud JUNOD (1996:257) “faz as seguintes considerações a respeito


dos efeitos do lobolo”.

 Toda a família do homem toma parte nas cerimónias do casamento, sobretudo no dia
em que o lobolo é levado pelo noivo. Os membros masculinos do grupo têm o direito
de opinar sobre os bois ou a soma entregue.
 Os irmãos estão sempre prontos a ajudar um dos seus, mais pobre, ao lobolo.
Trabalham assim para o grupo.
 A mulher adquirida desta maneira é esposa aparente deles, embora lhes não seja
permitido ter relações sexuais com ela. Recebe-la-ão em herança quando o marido
morrer (o kutchinga).
 Os filhos pertencem ao pai, vivem com ele, usam o seu apelido (o nome do clã) e
devem-lhe obediência: os filhos masculinos fortificam o grupo e os femininos são
vendidos em casamento para o benefício desse grupo.
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Rita-FERREIRA (1967, p.291-292), “firma que no sul do Save o casamento era uma questão
privada entre dois grupos, concluída sem intervenção das autoridades políticas ou religiosas.
O seu fim era a produção de novos indivíduos que, no futuro, assegurassem a sobrevivência
do grupo como um corpo organizado”.

 As negociações eram levadas a efeito entre as famílias interessadas e o consentimento dos


noivos era pressuposto.
 Considerava-se, por conseguinte, como uma troca de serviços entre duas famílias
pertencentes a clãs diferentes: uma delas cedia à outra a capacidade procriadora de um dos
seus membros e, para ser compensada pela perda, recebia determinados bens (lobolo) que
normalmente eram destinados à aquisição duma noiva para um dos irmãos da recém-
casada.

6.3.Fincões do Lobolo
De acordo com FERREIRA (1967, p: 291-292).) As funções do lobolo eram múltiplas:

 Em primeiro lugar representava uma compensação (no sentido lato) e não um “dote”
nem um “preço de compra”, como de forma errada alguns o têm considerado.
 Em segundo lugar legalizava a transferência da capacidade reprodutora da mulher
para o grupo familiar do marido, de que passava a fazer parte.
 Em terceiro lugar dava carácter legal e estabilidade à união matrimonial.
 Em quarto lugar tornava o marido e respectiva família responsáveis pela manutenção
e bem-estar da mulher lobolada (esposa).
 Em quinto lugar legitimava os filhos gerados, que se consideravam sempre como
pertencentes à família que havia pago o lobolo.
 Em sexto lugar constituía um meio de aquisição de outra unidade reprodutora para o
grupo enfraquecido.

O lobolo serve de mecanismo protector da mulher e dos seus filhos em caso de uma fatalidade
que a deixe sem recursos. A mulher lobolada e com filhos, em caso da morte do marido, passa
a ser um encargo da povoação onde vive, isto é, sente-se protegida e para ela a situação do
lobolo é um amparo nas contingências da vida.
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Ainda sobre o lobolo, é interessante ressaltar que essas trocas, mesmo sendo voluntárias, são
profundamente obrigatórias, e o seu não implemento ou então um mau cumprimento pode
acarretar diversos problemas e desavenças sociais. No caso do lobolo, o não pagamento
implica em um casamento incompleto, no qual, por exemplo, os antepassados podem
sentirem-se ofendidos e causar maus momentos para o casal e para a família que o cerca.

Essa obrigação é do pagamento estende-se em três campos: a de dar, a de receber e a de


retribuir, nesses três campos, existem os deveres e os direitos que devem ser voluntários, no
sentido em que precisam ocorrer espontaneamente e, ao mesmo tempo, obrigatórias, visto que
existe toda uma estrutura social na qual é necessário fazer ou retribuir. Essa obrigatoriedade
deixa de existir quando se pensa que existem nessas trocas vínculos espirituais entre as coisas
e não apenas materiais propriamente ditos. Dessa forma, os alimentos, as mulheres e o
trabalho, por exemplos, são matérias de transmissão e de prestação de contas.

7.Conclusão
Para terminar importa salientar que ao longo da abordagem dos conteúdos acima
desenvolvido compreendeu-se que a Antropologia desenvolveu-se graças a existência de
diversas correntes antropológicas que se debruçaram sobre diversos temas referentes à ciência
antropológica descritas a seguir: o evolucionismo, o difusionismo, o funcionalismo, o
Culturalismo assim como o estruturalismo. Portanto verifica-se também que desde há muito
que a questão do parentesco vem sendo discutida por vários cientistas, que segundo estes
chegaram a conclusão de que os sistemas primitivos de parentesco tem sido uma forma de
organização social destas sociedades, por isso carece de um estudo de extrema importância e
desempenha um valor social dentro das mesmas sociedades. O parentesco é universal no
sentido de que não existe uma sociedade desprovida de um sistema de parentesco, uma vez
que cada sociedade define quem é parente e o grau de parentesco que cada indivíduo
desempenha.
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7.Referências Bibliográficas
BATALHA, Luís, Antropologia uma Perspectiva Holística, Lisboa, Portugal, 2004.

BERNARDI, Bernardo. Introdução aos Estudos Etno-Antropologicos. Ed 70: Lisboa, 1974.

BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Trad. Celso Castro. 5. Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahor
editora, 2009.

FERREIRA, Rita, A, Os africanos de Lourenço Marques, Lourenço Marques, IICM,


Memórias do Instituto de Investigação científica de Moçambique, 1967.

REVIÈRE, Claude. Introdução a Antropologia. Edições 70 :Lisboa, 1995;

SANTOS, Armindo. Antropologia Geral: etnografia, Etnologia, Antropologia Social,


Universidade Aberta, 2002.

VILANCULOS, Gregório Zacarias, Manual de Antropologia Cultural de Moçambique,


Universidade Pedagógica, Inhambane, Moçambique, sd.

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