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Novo Plural 10.

º ano

Soluções – Unidade 3
Pág. 104
ORALIDADE
II – COMPREENDER E INTERPRETAR DIFERENTES LINGUAGENS
1. Espaço campestre, amplo, com uma vasta zona de pasto e árvores ao fundo.
2. Contribui para o efeito surpresa, pois não se esperaria ouvir o som do telemóvel naquele contexto.
3. O barulho inicial é o que se espera ouvir, quando um rebanho passa. O som do telemóvel é tão inesperado naquele «passeio»
campestre que até os animais se calam. Faz-se um silêncio, misto de surpresa e expectativa, para logo recomeçar o barulho dos
animais, agora, como se estivessem entusiasmados.
4. Sugerem espanto e curiosidade.
5.1 É cómica a pronúncia do pastor e a entoação que dá à expressão «tou, sim!». Cómico ainda o entusiasmo do pastor, a sua
expressão de alegria e a interrupção da chamada para informar os seus animais de que a chamada era para ele (a menos que
houvesse algum engano, a chamada só podia ser mesmo para ele).
5.2 A pronúncia do pastor e a forma como diz o «tou» estão de acordo com a sua condição de pessoa simples, de um meio rural.
6. Tem um caráter predominantemente informativo. As informações complementam o anúncio porque reforçam a ideia sugerida
pelo episódio – o telemóvel chega a todo o lado e qualquer pessoa o pode ter.

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ORALIDADE
2. Aspetos a ter em conta:
– Tema – sorriso de uma criança doente
– Informação – a importância do sorriso, no tratamento
– Recursos verbais – o diálogo criança-médico (metáfora da procura do sorriso no saco)
– Recursos não verbais – os sorrisos que se vão ampliando no rosto das crianças, o ambiente lúdico, a alegria das crianças e de quem
as acompanha (tudo isto faz esquecer a dor ligada à doença) – Diferentes linguagens: conjugação imagem, som, informação oral.
– O sorriso que nasce no rosto da criança é muito sugestivo e desperta a nossa ternura. O anúncio é eficaz porque desperta o desejo
de ajudar, de contribuir para aliviar a dor destas crianças.

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ORALIDADE
I – REGISTAR TÓPICOS
1. Notas a registar:
– Estrutura – o filme é constituído por pequenos episódios que se sucedem
– Temas – um assalto, uma avaria no carro
– Intenção – criticar a tendência, tão portuguesa («Ó gentes da minha terra...»), de esperar que caia do alto um salvador que resolva
os nossos problemas, sejam eles pouco relevantes e pessoais (avaria no carro) ou graves e de repercussões nacionais (assaltos)

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ORALIDADE
1. C
2. D
3. A
4. C

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ORALIDADE
1. B
2. C
3. D

Pág. 109
LEITURA / ORALIDADE / ESCRITA
1.1 Personagens: Raul Meireles (inconfundível pelos seus penteados excêntricos e pelas tatuagens) é (ou já foi) um dos pilares da
seleção nacional; Cristiano Ronaldo, o capitão, por mais do que uma vez premiado como melhor jogador do mundo; Paulo Bento,
selecionador, que carrega com a responsabilidade das escolhas que faz, quer a nível de jogadores, quer de táticas. Estes elementos
fazem parte da seleção nacional de futebol. A relva e o fundo do cartoon formam, pelas cores, a bandeira nacional e estes três
representantes de Portugal no Mundial de Futebol de 2014 carregam umas bolas imensas, como um fardo demasiado pesado. Pelo
que se «lê» neste cartoon, nem o selecionador nem os jogadores conseguiram suportar o peso da bola do Mundial.

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GRAMÁTICA
1.
a. Comp. dir. «crítica, cómico, sátira moralizadora»
b. Comp. dir. «peças de teatro intemporais»
c. Comp. dir. «a minha apreciação crítica»; comp. indir. «à professora»
d. Comp. oblíquo «ao teatro»
e. Comp. agente da passiva «pelos alunos»
f. Comp. ind. «te»; comp. dir. «uns convites»
g. Comp. dir. «a sociedade de quinhentos»
h. Comp. dir. «a luta entre o Bem e o Mal»
i. Comp. indir. «me»; comp. dir. «um exemplo de arcaísmo»
j. Comp. oblíquo «destes exercícios de treino»
k. Comp. indir. «à turma»; comp. dir. «uma dramatização»
l. Comp. agente da passiva «por nós»
2. a. descansada; b. útil; c. feliz; d. radiante; e. ansiosa; f. contentes.
3.1 c.
3.2 Acrescentam um dado novo ao adjetivo. Por exemplo: em «estou feliz», mas não sabemos por que motivo o sujeito («eu»,
subentendido) está feliz. Com o complemento do adjetivo sabemos que é com o êxito do «tu». Veja-se outro exemplo: «Ficámos
contentes com a escolha destes autos.» «Ficámos contentes» pressupõe que «ficámos contentes» com alguma coisa. É o
complemento do adjetivo («com a escolha destes autos») que completa o sentido da frase.

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LEITURA DO TEXTO
1. Gil Vicente autor, ator, encenador. Criador de quase meia centena de peças. Conjunto da maioria das suas obras reunida e editada
em 1582. Divisão da obra em 20 autos religiosos, 9 farsas e 17 comédias pouco rigorosa, dada a heterogeneidade de várias peças.
2. Introdução – primeiro parágrafo.
2.1 A dualidade que caracteriza o teatro de Gil Vicente advém, essencialmente, de ele ser o último dramaturgo medieval e o
primeiro dramaturgo moderno.
3. A dualidade que se observa na obra de Gil Vicente a nível temático, estrutural, linguístico, rítmico, ideológico e religioso.
3.1 O advérbio «aliás».
4. Evidenciar o que se pretende demonstrar, nomeadamente os vários domínios em que se verifica essa dualidade.
4.1 Sim. Vamos retomando o fio condutor – verificando, um a um, os planos da dualidade.
5. O parágrafo é longo e refere vários aspetos da dualidade da obra vicentina. O ponto e vírgula separa cada um desses aspetos. A
pontuação facilita, assim, a leitura do excerto.
6.1 A dualidade religiosa.
6.2 A referência a este aspeto aparece depois de um longo parágrafo, isolado dos outros planos de dualidade. É ainda evidenciado
pela expressão articuladora do discurso: «Mas, onde, por ventura...» Só neste caso – dualidade religiosa – há um destaque a negrito
(das autoras do Manual).
7. A variedade das personagens vicentinas.
8. Que a obra de Gil Vicente tem uma galeria vasta e variada de personagens. A nível de personagens reais, que, aliás, contracenam
com as irreais, há um quadro completo da sociedade quinhentista.
9. Os três primeiros. Porque acentuam a noção de que as personagens são numerosas e variadas.
10. O de fazer corresponder o que se quer demonstrar à fundamentação – não se fica com dúvidas quanto à quantidade e
diversidade das personagens vicentinas.
12. Sugestões de resposta:
A dualidade do teatro vicentino; Diversidade das personagens vicentinas

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GRAMÁTICA NO TEXTO
1. Sujeito expresso: Os temas do auto; o auto; Gil Vicente
Complemento direto: sentido moralizador; o Monólogo do Vaqueiro ou Auto da Visitação
Predicativo do sujeito: religiosos ou profanos, sérios ou cómicos
Complemento oblíquo: a Portugal
2. Sujeito nulo subentendido (subentende-se «o auto»).
3. Intercalar na frase uma explicação sobre a redondilha maior.

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LEITURA DO TEXTO
1. C
2. C
3. A
4. C

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LEITURA / ORALIDADE
Sugestão de tópicos: Época em que reinava a confusão e o caos. A sátira funciona como um remédio possível contra a desordem. A
sátira vicentina atinge todas as classes sociais. Não se dirige às instituições, mas aos homens. Posteriormente a Reforma e
Contrarreforma irão lançar o debate sobre as próprias instituições. A Inquisição viu em algumas críticas de Gil Vicente ao clero uma
heterodoxia. Gil Vicente não foi um crítico dos dogmas cristãos, mas dos abusos dos homens que contribuíam para a falta de
harmonia social.

GRAMÁTICA NO TEXTO
1.1 «A bela harmonia, assegurada pelo Monarca e pela Fé».
1.2 Modificador apositivo do nome.
1.3 O predicado é constituído pela forma verbal «é quebrada» (verbo quebrar na passiva) e pelo modificador do grupo verbal
«incessantemente».
2.1 Os reis e os príncipes admitiam a sátira.
2.2 Os reis e os príncipes.
3.1 «Este “desconcerto do mundo” não pode ser ignorado.»
3.2 «como dirá mais tarde Camões» – oração subordinada adverbial comparativa.
4.1 Assim, Mas, A partir daí, Por isso.
4.2 Portanto, Porém, Desde então.
4.3 «A Reforma e Contrarreforma vão situar o debate no plano das instituições.»

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LEITURA DO TEXTO
1. Inês está irritada, amargurada, zangada; ou, numa só palavra, furiosa.
1.1 Está furiosa com a vida que é obrigada a levar – costurar, estar sempre em casa, não se divertir, nunca passear. Sente-se
prisioneira.
2.1 O sonho de Inês é casar e conseguir, assim, a liberdade que não tem.
2.2 A mãe procura refrear o entusiasmo da filha, procura convencê-la a aguardar o casamento com serenidade, sem deixar de
cumprir as suas obrigações domésticas.
3. Um misto de ambos. A mãe compreende o desejo da filha de se casar, mas sabe que ela está a exagerar na revolta contra a sua
vida de solteira.
3.1 Não. A relação mãe/filha, com a conflitualidade da vida quotidiana, já aparece nas cantigas de amigo.
4. O cenário seria muito sóbrio. O interior de uma casa (apenas uma divisão visível), uma porta e uma janela. Quanto aos adereços,
uma cadeira, pelo menos; os apetrechos de costura que Inês utilizava e o travesseiro a que a mãe se refere.

GRAMÁTICA NO TEXTO
1. O uso de provérbios é frequente na oralidade, particularmente em meios rurais e/ou populares. A mãe de Inês tem a sabedoria
transmitida pelo povo e pela experiência de vida.
2. Oração subordinada adverbial condicional.

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LEITURA DO TEXTO
1.1 Segundo Lianor, tinha acabado de ser vítima de um clérigo que a agarrou com intenção de a seduzir e de abusar dela. Disse-lhe
que queria saber se ela era «fêmea se macho», esfarrapou-lhe o cabeção da camisa, mas também lhe dirigiu galanteios, que a
fizeram rir. A aproximação de alguém afugentou o clérigo.
1.2 Lianor manifesta grande agitação e nervosismo antes de contar o incidente de que tinha sido vítima. As intervenções da mãe de
Inês a propósito das reações de Lianor fazem-na arranjar várias desculpas para não ter atuado com mais energia aos avanços do
clérigo e para o facto de não se notar qualquer sinal de violência. Lianor gosta de se fazer de inocente, de vítima, e sobretudo
aprecia o espalhafato.
1.3 A crítica alarga-se ao clérigo, ou aos clérigos, porque a mãe de Inês já passara por situação idêntica. Critica-se-lhe o
desregramento, o desrespeito por valores que se comprometeram a defender enquanto representantes da Igreja.
1.4 Lianor Vaz traz uma proposta de casamento para Inês e uma carta do pretendente.
2. Para Inês o casamento implica a escolha de um noivo que corresponda ao seu ideal: um homem educado, cortês e não um
vilãozinho parvo. Para as mulheres mais velhas, casamento é segurança, proteção e conforto, se possível. Inês é jovem e sonhadora,
elas têm um sentido prático que a vida lhes ensinou.
3. Sugestões de resposta: Lianor, com voz assustada; Lianor, em tom cada vez mais alto, com gestos que denunciam desorientação.
4. A partir do verso «Inês Pereira é concertada/ pera casar com alguém?» Esquece o seu susto e passa a tratar do assunto que a
trouxe ali.

GRAMÁTICA NO TEXTO
1. Lianor é, tal como a mãe de Inês, uma mulher do povo e a sua linguagem tem um registo popular: «Sempre eu ouvi dizer: / ou seja
sapo ou sapinho, / ou marido ou maridinho, tenha o que houver mister, / este é o certo caminho.»
2.1 Filha, nesta carta d’amores, que aqui vem para vós, vereis, minha flor, a discrição que ele tem.
2.2 Sujeito. Complemento direto.

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Pág. 127
LEITURA DO TEXTO
1. Pero Marques é um homem rústico, um lavrador que nada conhece de etiquetas sociais. Não sabe para que serve uma cadeira e
senta-se ao contrário. Não sabe o que oferecer, nem como oferecer uma prenda a uma jovem com quem quer casar, por isso traz-
lhe peras no capelo (trazia, se não se tivesse esquecido delas). A sua situação económica é boa, pois, por morte do pai, herdou
muitas cabeças de gado.
O pedido de casamento nada tem de sedutor: se Inês não arranjar melhor partido, ele ali está, enamorado, esperando que ela o
aceite. De prenda trazia-lhe peras, mas esqueceu-se delas. Quando se vê sozinho com ela, faz questão de se ir embora pois não quer
dar que falar às más-línguas.
A fala de Pero corresponde à sua condição de homem do campo e sem instrução: «Não que elas vinham chentadas / cá em fundo no
mais quente»; «anda homem a gastar calçado, / e quando cuida que é aviado, / escarnefucham de vós!»
2. Não. Não tem boas maneiras, não sabe falar com correção, não é cortês. É um homem do povo, simples e ingénuo.
3. Não. Já depois de Inês lhe dizer que não volte, Pero acata o aviso e diz que Lianor Vaz virá saber a resposta à sua proposta de
casamento. Depois promete não a incomodar mais, mas esperar solteiro até que ela o queira para marido. E ainda admite antes de
partir, «siquais sereis vós minha, / entonces veremos nós.»
4. Ser cortesão (próximo da corte e com gostos e comportamentos próximos dos da nobreza). Saber estar, saber falar, ser
galanteador.
5. Pero – num tom de voz inseguro e olhando com espanto para a cadeira
Inês – escandalizada e com ar de desprezo
Pero – tom que revela dúvida e olhar desconfiado
6. O capuz que Pero Marques trazia e respetivo conteúdo.

GRAMÁTICA NO TEXTO
1. Juízo.
1.1.1 Não. É o termo que designa os últimos dentes a nascer, já na idade adulta.
1.1.2 Os dentes do siso nascem quando uma pessoa já deve ter juízo.
2. São todas coordenadas (copulativas e uma disjuntiva).
3.1 Predicativo do sujeito; complemento indireto.
3.2 Mas não te agrada ele a ti?

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LEITURA DO TEXTO
1. Não, pois é ela própria que anuncia à mãe que «os judeus casamenteiros» «hão de vir agora aqui».
2. Inês tinha-lhes pedido que, nas suas andanças, procurassem encontrar-lhe o marido dos seus sonhos. Os judeus vêm trazer-lhe
notícias sobre as suas buscas.
3. Sim. Os judeus eram pessoas de pouca instrução, desprezados pela sociedade que os considerava marginais. É natural, por isso,
que não conheçam fórmulas de cortesia e utilizem no seu discurso expressões grosseiras, com toda a naturalidade: «Foi a cousa de
maneira, / tal friura e tal canseira, / que trago as tripas maçadas, / assi me fadem boas fadas / que me saltou caganeira.»
4. Exagerados, trapalhões, fanfarrões, interesseiros. É evidente que eles estão a exagerar no relato dos esforços que fizeram para
satisfazer o pedido de Inês. Antes de anunciarem o êxito das suas buscas, interromperam-se constantemente, repetiram-se,
perderam com frequência o fio condutor do discurso. Uma completa trapalhada que levou Inês a perder a paciência.
5. Provavelmente à janela de casa de Inês. Também é possível que Inês os fizesse entrar em casa, para não serem vistos a conversar.
5.1 Sugestões: Vem os judeus Latam e Vidal e param em frente à janela de Inês; Vem os judeus Latam e Vidal e param em frente à
casa de Inês que lhes abre a porta e faz sinal para que entrem rapidamente.
6. Vid. – (espantado e zangado) Nam queres que diga? / Não fui eu também contigo
Lat. – (sem saber como recomeçar) Dize, que dizias? / que foste que fomos que ias /buscá-lo esgaravatá-lo

GRAMÁTICA NO TEXTO
1. a.
2. a. Complemento indireto.
b. Modificador do nome apositivo.
c. Sujeito.
d. Predicativo do sujeito.

Pág. 133
LEITURA DO TEXTO
1. A moça casadoira, perante o possível noivo, devia pôr os olhos no chão, falar pouco e rir menos ainda. Mostrava assim ser
educada, séria e submissa.
2. Finge ser próximo do Rei e a mentira é tão grande que, para que o Moço não seja apanhado de surpresa, avisa-o para disfarçar ou
ir rir para onde não o vejam. Finge-se rico e não tem dinheiro nem para umas solas de sapatos.
2.1 Manifesta-se no longo discurso galanteador que lhe dirige: «vós sois, minha alma, aquela / que eu busco e que desejo».
Note-se que, pouco antes, a propósito do que os judeus lhe tinham dito sobre Inês, comentara: «Moça de vila será ela / com
sinalzinho postiço, / e sarnosa no toutiço, / como burra de Castela.» Perante Inês, fala-lhe como se estivesse a declamar uma cantiga
de amor.
2.2 Totalmente. Fala bem, sabe tocar viola e como ele próprio diz: «Eu não tenho mais de meu, / somente ser comprador / do
marichal, meu senhor, / e sou escudeiro seu.»

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3. O que levou o escudeiro a casar foi a perspetiva de ter uma casa onde morar e alguns bens que lhe permitissem pelo menos
comer.
4. Fora Inês que lhes pedira que lhe arranjassem um escudeiro para marido e eles, agora que o conseguiram, exigem o dinheiro que
ela decerto lhes prometera
5.1 Num primeiro momento, a Mãe procura dissuadir Inês de casar com alguém arranjado por uns judeus pouco fiáveis. Tenta apelar
ao bom senso da filha, mostrando-lhe, por exemplo, que o escudeiro não é do seu nível social (um «teu igual»).
5.2 Perante a determinação da filha de casar com quem deseja, a Mãe cede. Não está nem convencida nem feliz, mas conformada e
ciente de que fez o que pôde para evitar uma união que dificilmente trará felicidade.
6. «Vem o Escudeiro, entra em casa e dirigindo-se a Inês diz:
O diabo me tomou: / sair-me de Jam Montês / por servir um tavanês, / mor doudo que Deus criou!
Oh como ficará tola, / senão fosse casar ante / c’o mais çafeo bargante / que come pão e cebola.»
Os dois exemplos são apartes proferidos pelo Moço, que vai assim repondo a verdade sobre o a gabarolice do Escudeiro.

Pág. 134
GRAMÁTICA NO TEXTO
1. alegria, bailareis, cantam, prazer.
2.1 Neste contexto, o verbo haver tem o significado de ter.
2.2 A pessoa utilizada é a 2.ª do plural (vós).
2.3 Esta construção caiu em desuso. Hoje, na linguagem corrente, não se utiliza o verbo haver como sinónimo de ter e a 2.ª pessoa
do plural é habitualmente substituída pela 3.ª pessoa, embora com sentido de 2.ª pessoa. Exemplo: Vós haveis aí as anotações
(forma arcaica) / Vocês têm aí as anotações (forma atual).
3.1 e 3.2 este casamento (um disparate); o escudeiro (o marido perfeito); a mulher (propriedade sua); o escudeiro (por parvo).
4. a. apaixonada – predicativo do sujeito;
b. pelas aparências – predicativo do complemento direto;
c. uma ingénua – predicativo do sujeito;
d. liberdade, diversão, ascensão social – predicativo do sujeito; e. como o marido seguro – predicativo do complemento direto.

Pág. 137
LEITURA DO TEXTO
1. Regras impostas pelo escudeiro: a mulher não poderá cantar, falar com quem quer que seja, sair de casa ou estar à janela. Em
relação ao marido, Inês deverá cumprir tudo quanto ele lhe disser, concordar com tudo, estar calada e não responder às suas
ordens. É assim que ele quer guardar o seu «tesouro», mantendo-a em cativeiro.
2.1 Inês está arrependida de se ter deixado enganar pelos seus sonhos infundados. Esse arrependimento gera um sentimento de
desencanto e fúria contra o Escudeiro e contra si própria, que não soube escolher marido.
3. O Escudeiro vai partir para a guerra contra os Mouros, no Norte de África, para se tornar cavaleiro.
4. O Moço não fica satisfeito porque ele o deixa numa situação complicada, sem dinheiro sequer para comer.
5. Anuncia a morte do Escudeiro e as circunstâncias em que ocorreu. Não morreu, gloriosamente, a lutar. Foi morto por um pastor
desarmado, quando fugia da frente de batalha.
6. O Moço lamenta a morte do seu amo. Os anos que passaram juntos levaram-no a sentir alguma afeição por ele. Inês está feliz por
se ver livre do cativeiro que o marido lhe impusera. Não há qualquer sentimento de pena, pelo contrário. Manifesta alívio, até
entusiasmo, por ter assim uma nova oportunidade de escolher marido.
7. Os escudeiros eram fanfarrões, gabarolas. Faziam-se passar, entre outras coisas, por valentes cavaleiros. A morte, sem glória nem
dignidade do Escudeiro, revela a fanfarronice que os caracterizava.
8. Inês valoriza, agora, um marido pacífico, que faça o que ela mandar e seja tão «manso» que a deixe gozar a vida.
9. O discurso de Inês, na ausência do Moço, é um longo monólogo.

GRAMÁTICA NO TEXTO
1. contra
2. Sugestões de resposta: Inês mostra-se, sinceramente, arrependida da escolha que fez; Inês reconhece o seu erro; É uma carta de
homem avisado; A carta foi entregue por alguém.
3. «Juro ao corpo de Deos…» – oração subordinante.
«… que esta seja a derradeira.» – oração subordinada substantiva completiva.
«Se vos eu vejo cantar, …» – oração subordinada adverbial condicional.
«… eu vos farei assoviar» – oração subordinante.

Pág. 139
LEITURA DO TEXTO
1. Porque Lianor Vaz lhe tinha proposto um casamento que ela recusara pois o noivo não correspondia ao ideal com que sonhava.
Lianor, tal como a mãe, dera-lhe conselhos que ela não quis ouvir, garantindo que só casaria com quem quisesse. Agora, não quer
que Lianor saiba o fracasso que foi o seu casamento.
1.1 Quando Lianor lhe fala de novo em Pero Marques, mas fingindo que este não corresponde ao que Inês deseja. Inês, tal como
Lianor esperava, diz-lhe que mudou de opinião com a experiência da vida.
2. O Escudeiro sabe falar como um cortesão. Sabe as palavras adequadas para momentos diversos, nomeadamente o casamento.
Pero Marques é um rústico com espírito prático. Não sabe falar como um nobre, mas é direto e leal: «Soma, vós casais comigo. / E
eu convosco, pardelhas / não cumpre aqui mais falar, / e quando vos eu negar / que me cortem as orelhas.»
3. Sugestões de resposta:

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Inês – (escandalizada) Jesu, Jesu! tanasinha / Isso m’haveis de dizer


Inês – (em tom sereno e conformado) Não, já esse tempo passou: / sobre quantos mestres são / experiência dá lição.

GRAMÁTICA NO TEXTO
1.1 Inês.
1.2 Complemento direto e sujeito.
2.1 Evoluiu para repugnância.
2.2 O sentido de luto.
2.3 Nojo não é um arcaísmo. Mantém-se com o mesmo significado na linguagem administrativa, e com significado diferente no uso
corrente da língua.
3. tanasinha, empacho, geitar.
4. Pero Marques tem fazenda de mil cruzados (oração subordinante); que herdou (oração subordinada causal adverbial); mas vós
quereis avisados (oração coordenada adversativa).
5.1 Seis orações.
5.2 No primeiro verso articulam-se através do advérbio «onde» e nos outros através da conjunção temporal «quando».

Pág. 141
LEITURA DO TEXTO
1. Inês reencontra um antigo pretendente que, segundo diz, por amor dela se fizera ermitão. Inês promete-lhe ir ter com ele à
ermida e cumpre a promessa. É o marido que a leva e para que ela não se molhe a atravessar um rio leva-a às cavalitas, e, a pedido
de Inês, ainda carrega com duas lousas.
2. «Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube.» O cavalo, representado simbolicamente pelo escudeiro, «derrubou»
Inês. Fez dela uma «coisa» que lhe pertencia. Agora, o simples, o ingénuo, o «asno», representado por Pero Marques, não só lhe dá
a vida que deseja como, nesta cena final, a leva, literalmente, às costas.
3. Sugestões de resposta: «Pero – Seja logo, sem deter.»
Metem-se a caminho da ermida; Canta Inês
Pereira, enquanto atravessa o rio às costas do marido

Págs. 142 e 143


1. A divisão em atos acontece, normalmente, quando há uma mudança significativa de situação ou de ciclo de vida, por exemplo. A
mudança de cenário acompanha, com frequência, a mudança de ato.
A Farsa de Inês Pereira não apresenta esta divisão formal, mas facilmente se verifica que se poderia dividir a obra em três atos. No
primeiro, Inês, ainda solteira, vive com a mãe e as suas conversas centram-se no seu desejado casamento. Os casamenteiros
habituais na época aparecem (alcoviteira e judeus casamenteiros), os candidatos a marido também (Pero Marques, lavrador
abastado, Brás da Mata, escudeiro pelintra). O ato terminaria com o casamento de Inês com o Escudeiro, pois é um ciclo da vida da
protagonista que acaba. O cenário não muda, pois a mãe oferece a casa para a filha viver e nem volta a aparecer em cena.
O segundo ato corresponderia ao ciclo de vida de Inês casada com o Escudeiro. Começa o calvário de Inês, pois o marido não
correspondia em nada à cortesia que ela tanto valorizava e faz dela uma prisioneira dos seus caprichos. Felizmente para Inês, o
marido vai para a guerra do norte de África e morre por lá. Inês decide então casar com Pero Marques e, com este segundo
casamento, terminaria o segundo ato. Também não há qualquer indicação de terem mudado de espaço.
O terceiro ato corresponderia à vida de Inês, agora casada com Pero Marques. Invertem-se as situações – o marido deixa-a fazer o
que quer, faz tudo quanto ela quer e nem percebe a infidelidade da mulher. Inês está, finalmente, feliz. Neste último ato o cenário
sofreria modificações, pois parte da ação desenrola-se no exterior.
2.1 A unidade de ação advém da intriga e, consequentemente, da protagonista. A intriga baseia-se no percurso de vida de Inês
Pereira e nos seus critérios de marido ideal. Concretiza o seu sonho de casar com um Escudeiro, mas a vida que este lhe proporciona
é bem diferente dos sonhos da jovem. Morto o primeiro marido, Inês, mais experiente, muda de ideal de marido, mas não de
conceito de vida – viver feliz, independentemente dos valores morais da época (e/ou intemporais).
2.2 Gil Vicente pega no tema do casamento para desenvolver o mote proposto. Mãe e filha têm perspetivas diferentes do marido
ideal. A filha quer um homem discreto, educado, bem-falante. A mãe, por seu lado, é da opinião que «mata o cavalo de sela / e bô é
o asno que me leva» (pág. 124, ll. 171-172). Por mais do que uma vez a mãe aconselha Inês a casar com alguém da sua condição. Os
pontos de vista da mãe não convencem a rapariga, que, ao contrário do que acontecera com a mãe, quer casar a seu prazer (pág. 0,
l. 00). E casa. Casa com um escudeiro que a maltrata, que faz dela sua prisioneira e que a leva a aprender, por experiência própria,
que se enganara sobre o marido ideal. É dela o desabafo «quero tomar por esposo / quem se tenha por ditoso / de cada vez que me
veja. / Por usar de siso mero, / asno que me leve quero, / e nam cavalo folão» (pág. 138, ll. 32-37).
Concluímos, pois, que os conselhos de nada serviram, mas que a vida ensinou a protagonista que um marido de classe social
superior, cortês, bem-falante, pode ser um «cavalo» perigoso, pouco fiável. Já um simplório, que não sabe falar corretamente, que
não sabe sentar-se numa cadeira, pode não ser deslumbrante, como o cavalo, mas é leal, inofensivo e facilmente controlável. O final
da peça não deixa lugar a dúvidas – Pero Marques faz mesmo de asno. Carrega com a mulher às costas, transportando-a para o
encontro com um amante.
3.1 O Escudeiro é um farsante. Finge-se próximo da nobreza, no trato, na cortesia e não passa de um pelintra, mentiroso e tirano.
Finge-se um valente guerreiro e morre às mãos de um pastor mouro, desarmado, quando fugia do campo de batalha.
3.2 Pero Marques é um simplório. Um lavrador abastado, mas sem nenhuma instrução. É um homem sem maldade, bem-
intencionado e terrivelmente ingénuo.
3.3 O Escudeiro farsante e gabarola é associado, na peça, a um cavalo. Boa aparência, mas perigoso porque pode não se deixar
conduzir, sobretudo por alguém que não o sabe fazer.
Pero Marques é um ignorante, mas, ao contrário do Escudeiro, é uma pessoa simples, que não engana ninguém e se deixa
facilmente enganar. É inevitável associá-lo a um asno. Os dois homens são literalmente o oposto um do outro.

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3.4 Diz-lhe a experiência que o marido ideal deve ter posses suficientes para dar uma boa vida à sua mulher, deve ser bondoso e
protetor.
3.5 O clérigo e o ermitão são dois representantes do clero e Gil Vicente não perde uma oportunidade para criticar esta classe social.
Neste caso, a crítica incide sobre o assédio às mulheres e o péssimo exemplo que dão à sociedade laica. Um ataca mulheres
indefesas em sítios isolados, outro seduz uma mulher casada, incitando-a à infidelidade.
3.6 Inês é uma jovem determinada, que desafia as normas que procuram impor-lhe. Para ela, casamento é sinónimo de liberdade.
Uma vez casada deixará de bordar e terá oportunidade de sair de casa e de se divertir. Inês quer, acima de tudo, ser feliz, o que
passa, a seu ver, por usufruir dos prazeres da vida. Mas os seus sonhos não se limitam ao casamento, incluem também o noivo, que
deverá ser cortês, bem-falante, galanteador, enfim, reunir as características associadas aos elementos da nobreza, mesmo da baixa
nobreza. Com a arrogância própria da juventude, não aceita qualquer conselho da mãe que contrarie os seus sonhos. A sua
irreverência não aceita a condição da mulher do seu tempo. Não quer ser submissa, discreta, a viver fechada em casa sob a proteção
do marido. A sua determinação leva-a a conseguir o que quer. Casa com um escudeiro, mas nada do que esperava se concretiza. O
seu marido «ideal» não passa de um farsante – um nobre pelintra, um falso galanteador – e, pior do que tudo, revela-se um tirano.
Inês, mantendo a sua arrogância, não demonstra a ninguém o seu arrependimento, mas aceita, agora, como marido quem antes
desdenhara – um lavrador ignorante, embora rico, simplório, ingénuo e pronto a fazer-lhe todas as vontades. Se os seus sonhos de
ascensão social se desvaneceram, o seu sonho de ser livre, de se divertir, de viver a «seu prazer», esse concretizou-se. Inês subverte
os valores da época, subverte mesmo valores intemporais (de fidelidade, por exemplo), mas atinge o que quer – ser feliz.
4.1 «encerrada nesta casa» (pág. 120, l. 11);
«que nam sai senam à porta?» (pág. 120, l. 31);
«que possa estar à janela» (pág. 120, l. 34);
«ò redor da minha vinha» (pág. 122, l. 15) (espaço apenas aludido – a ação nunca se passa lá);
«que achei no meu olival» (pág. 122, l. 68) (espaço apenas aludido);
«ora estou na nossa aldea» (pág. 123, l. 135);
«chega a casa de Inês Pereira» (pág. 125, l. 11);
«vossa mãe é lá no muro?» (pág. 126, l. 78);
«estrogirá esta sala» (pág. 128, l. 79);
«moça de vila será ela» (pág. 130, l. 11);
«cantam todos de terreiro» (pág. 133, l. 254);
«esta casa em que ficais» (pág. 133, l. 272);
«somente ir à igreja» (pág. 135, l. 23) (local aludido);
«Já vos preguei as janelas» (pág. 135, l. 25);
«Vai-te tu per essas vinhas» (pág. 135, l. 59);
«em Tomar lhe seja dada» (pág. 136, l. 124);
«Vosso irmão está em Arzila» (pág. 136, l. 126) (local aludido);
«Já ele partiu de Tavila?» (pág. 136, l. 129);
«I-vos embora molher / nam tenho lá que fazer» (pág. 140, ll. 49-50);
«houvésseis por prazer / de irmos lá [à ermida] em romaria» (pág. 141, ll. 94-95) (espaço aludido; fazem apenas o percurso para lá);
«este caminho é comprido» (pág. 141, l. 97);
«Passemos primeiro o rio» (pág. 141, l. 100).
4.2 «ò redor da minha vinha» (pág. 122, l. 15) – embora a ação nunca se desenrole neste espaço, Lianor Vaz refere-o, ao contar a sua
aventura quando vinha a caminho de casa de Inês.
«que achei no meu olival» (pág. 122, l. 68) – situação igual à anterior. Deduz-se que, entre a casa de Lianor Vaz e a de Inês, há
campos cultivados.
«ei-lo se vem penteando. / Será com algum ancinho?» (pág. 124, ll. 192-193) – Inês ironiza com o facto de Pero Marques ser um
lavrador, que, provavelmente, para se pentear, usa um ancinho em vez de um pente.
«Mãe – De morgado é vosso estado? / Isso veria dos céus! / Pero – Mais gado tenho eu já quanto / e o maior de todo o gado» (pág.
125, ll. 30-33) – a mãe fica encantada com a situação económica de Pero Marques, herdeiro de bens rurais assinaláveis.
«– Co dinheiro que leixais / não comerei galinhas» (pág. 135, ll. 57-58).
«Escudeiro – Vai-te tu per essas vinhas / que diabo queres mais?». (pág. 135, ll. 59-60)
«Vai-te per essas figueiras» (pág. 135, l. 68).
«E depois virão as favas» (pág. 135, l. 72).
«Conheces túbaras de terra?» (pág. 135, l. 73).
Quando o Escudeiro vai para a guerra, o Moço queixa-se da falta de dinheiro e alimentos. O Escudeiro aconselha-o a servir-se do que
está plantado nos campos em redor. Todos estes elementos nos remetem para um espaço rural.
4.3 Uma vez que a protagonista está quase sempre em casa e que a ação se desenrola, consequentemente, neste espaço, as janelas
e sobretudo a porta são importantes porque constituem a abertura para o exterior. É através de uma ou de outra que a mãe vê a
aproximação de Lianor Vaz e anuncia a sua chegada, tal como Inês anuncia a aproximação de Pero Marques, que vê a aproximar-se.
À porta ficam possivelmente os Judeus casamenteiros, até à chegada do Escudeiro. Uma a uma, todas as personagens vão entrando
e saindo pela porta de casa de Inês. A janela poderá ter o mesmo papel de permitir visualizar quem se aproxima, mas a principal
referência às janelas tem a ver com o facto de uma jovem mulher não dever estar à janela. Inês refere-o logo no início da peça «sam
eu coruja ou corujo, / ou sam algum caramujo, / que nam sai senam à porta. / E quando me dão algum dia / licença, como a
bugia, /que possa estar à janela / é já mais que a Madanela / quando achou a aleluia». O Escudeiro, por sua vez, não só proíbe a
mulher de estar à janela, como, à cautela, as mandou «pregar».
4.4 O exterior deveria estar representado num cenário de fundo que desse a noção de local com campos cultivados e algumas casas
dispersas. O interior deveria apresentar umas divisórias que dessem a noção de uma sala. Uma das divisórias deveria ter uma
porta e uma janela. No interior a sala teria mesa e cadeiras. Recorde-se que Pero Marques nem sabe para que serve a cadeira, nem
como se há de sentar nela. Além dos elementos referidos, como adereços destacaria a peça que Inês lavrava (em solteira e quando
casada com o Escudeiro), a viola com que o Escudeiro encanta Inês, os apetrechos que Pero Marques trazia consigo.

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NOTA: Este texto apresenta apenas sugestões.


5. Integrando nas falas das personagens referências temporais. O Moço, por exemplo, informa Inês que o Escudeiro já partira de
Tavila «há três meses». Não sabemos o tempo que decorre entre a proposta de casamento de Pero Marques e a vinda dos judeus.
Porém, tanto Inês como eles poderiam referir o tempo que decorreu, aparentemente longo, pelo menos para ela, que ansiava por
notícias. E se, depois da chegada do Escudeiro, é natural que tudo se tenha desenrolado rapidamente – Inês tinha pressa de casar
com um Escudeiro e ele tinha pressa de ter uma casa onde ficar – já o tempo em que Inês viveu com o primeiro marido é com
certeza mais longo do que a peça simula. Em diálogo com o marido ou, em monólogo, quando este parte, Inês poderia dar alguma
referência sobre o tempo decorrido. O mesmo processo se poderia usar para sabermos quanto tempo durou a viuvez da
protagonista e o tempo que decorreu até Inês e Pero irem à ermida Bastava um deles referir os meses de felicidade que já tinham
vivido em conjunto...
6.1 Numa obra constituída por falas de personagens, representativas de uma realidade sócio-temporal, o facto de essas personagens
usarem registos de língua diferentes é enriquecedor e ajuda à sua caracterização. Não seria de esperar que um Escudeiro, ainda que
de uma nobreza falida, falasse como um rude lavrador sem instrução. A maneira como cada um deles profere as palavras rituais do
casamento é plenamente elucidativa dos conhecimentos de normas sociais, linguísticas e de cortesia de cada um deles:
«Escudeiro – Dai-me cá essa mão, senhora.
Inês – Senhor, de mui boa mente.
Escudeiro – Per palavras de presente
vos recebo desd’agora.
Nome de Deus, assi seja,
eu Brás da Mata, escudeiro,
recebo a vós Inês Pereira
por esposa verdadeira
como manda a Santa Igreja.»
(pág. 132, ll. 209-217)
«Lianor – Ora dai-me essas mãos, cá,
sabeis as palavras, si?
Pero – Ensinaram-mas a mi,
porém esquecem-me já.
Lianor - Ora dizei como eu digo. (...)
Pero – Soma, vós casais comigo.
e eu convosco pardelhas
Nam compre aqui mais falar
e quando vos eu negar
que me cortem as orelhas.»

(pág. 138, ll. 50-54; 58-62)


A mãe, mulher simples, mas sensata e experiente, traduz muitas vezes as suas opiniões através de provérbios que, provavelmente,
seriam muito conhecidos na época e representavam a sabedoria popular e tradicional. «Nam te apresses tu, Inês, / maior é o ano
qu’o mês. / Quando te nam precatares, / virão maridos a pares / e filhos de três em três.» (pág. 121, ll. 60-64); «Pardeos, amiga, essa
é ela: / mata o cavalo de sela / e bô é o asno que me leva.» (pág. 124, ll. 170-174). A linguagem dos judeus também devia ser bem
conhecida na época; o registo que utilizam é popular, mas, simultaneamente, trapalhão como «os negócios» que fazem. «Vidal –
Nome del Deo aqui somos. / Latão – Nam sabeis quam longe fomos! / Vidal – Corremos a ira má. / Este e eu. / Latão – Eu, e este /
pola lama e polo pó» (pág. 128, ll. 4-9).
Em conclusão, todas as personagens principais têm marcas de linguagem que as diferenciam e tornam o enredo mais próximo do
real quotidiano.
NOTA: Há naturalmente muitos outros exemplos possíveis. Registámos os que nos pareceram mais significativos.
6.2.1 Um dos exemplos de monólogo mais significativo é o de Inês no início da peça. Este monólogo é revelador do que ela pensa
sobre a vida que leva, do que ela sente em relação à condição da mulher na época. Em contraponto, o monólogo da protagonista
quando o marido parte para a guerra e a deixa «presa» em casa. Aí domina o arrependimento e a revolta contra si própria por ter
vivido iludida e ter feito uma escolha totalmente errada. De realçar também os apartes do Moço que nos dão a verdadeira
dimensão da charlatanice do Escudeiro «Oh como ficará tola / senam fosse casar ante / c’o mais sáfio bargante / que coma pão e
cebola.» (pág. 131, ll. 110-113).
7. Sugestão de tópicos a desenvolver:
• O casamento como meio de ascensão social e liberdade.
• Dois pretendentes – um rural e simplório; um escudeiro, bem-falante.
• Casamento com o Escudeiro, que a escraviza.
• Ridicularização do escudeiro através do que finge ser e do que efetivamente é. Até a sua morte é desprestigiante.
• Casamento com o lavrador simplório de quem Inês faz o que quer e a quem não é fiel. O marido, ingénuo, nem
percebe como é manipulado e enganado.
• Inês alcança a felicidade, apesar da falta de escrúpulos.
NOTAS: Antes de elaborarem a exposição os alunos deverão consultar a página 17 do Manual ou a página 38 do
Caderno de Atividades.

Pág. 144
GRAMÁTICA
1.1 a. A utilização é indispensável para a leitura de alguns textos.
b. Este livro foi feito com material.
c. A elaboração é demorada.

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d. O projeto é interessante.
e. A procura é sempre útil.
1.2 a. utilização; b. material; c. elaboração; d. projeto; e. procura.
1.3 a. Não sabemos o que é indispensável para a leitura de textos;
b. não sabemos com que material foi feito o livro;
c. não sabemos que elaboração é demorada;
d. não sabemos que projeto é interessante;
e. não sabemos que procura é útil.
1.4 a. grupo preposicional;
b. adjetivo;
c. grupo preposicional;
d. um grupo preposicional seguido de uma oração;
e. grupo preposicional.
2. a. A organização de uma bibliografia obedece a normas rígidas.
b. A professora elogiou a apresentação da Rita.
c. As referências bibliográficas são indispensáveis para um trabalho aprofundado.
d. Estes exercícios servem para a compreensão do complemento de nome.
e. A pintura da escola está pronta.
3. a. modificador do nome apositivo;
b. complemento do nome;
c. modificador do nome restritivo;
d. modificador do nome apositivo;
e. complemento do nome.
4. Ao suprimir o complemento do nome, o sentido da frase fica incompleto. O modificador do nome acrescenta-lhe informação mas,
se for suprimido, a frase continua gramaticalmente correta.

Pág. 146
LEITURA DO TEXTO
1. Essencial da informação:
– a mulher, solteira ou casada, devia respeitar e honrar o pai ou o marido, respetivamente;
– o pai ou o marido tinham a obrigação de a proteger;
– a mulher era economicamente dependente do homem (pai ou marido);
– o pai negociava o contrato de casamento da filha, cujo contributo para o novo lar era muito importante.
2. A explicação sobre a importância dos contratos de casamento – do que fosse negociado dependia o bem-estar futuro da mulher
ou a elevação social da família. O esclarecimento de que o modelo enunciado só se aplicava a uma parte da população. Muitas
mulheres tinham de trabalhar, para sustento próprio ou ajuda familiar. Havia uma relação inevitável entre a total dependência
económica da mulher e os recursos da família.
3. Poderia parecer que a mulher que ganhasse o seu próprio sustento era menos dependente do homem, mas, na realidade, a
mulher tinha de ter sempre uma figura masculina protetora: pai, marido, patrão.
4. A condição social da mulher.
5. Com objetividade. Documenta-se um tema, ao longo do texto, sem que haja opiniões do autor.

Pág. 147
LEITURA DO TEXTO
1. O casamento é visto na perspetiva de uma «associação de interesses», transversal a toda a sociedade.
«Pelo casamento passava a política de estabelecimento ou reforço de alianças entre linhagens nobres, com vista a assegurar a
reprodução biológica, mas também a reprodução social, ou seja, a continuidade da sua condição social privilegiada.»
«Esta perspetiva verificava-se mesmo entre os grupos sociais não privilegiados, tanto em meio rural como em meio urbano; o
trabalho da terra ou dos ofícios artesanais organizava-se, muitas vezes, a partir de unidades de exploração familiares, não raramente
coincidentes com o próprio local de habitação da família composta pelos cônjuges e pela respetiva prole.»

Pág. 148
GRAMÁTICA
1.1 Para o estabelecimento e para a definição, o casamento desempenhava um papel central.
1.2 estabelecimento, definição.
2. Não se perceberia qual era a relevância conferida. A frase poderia, contudo, manter a coerência (embora o sentido se
modificasse) se se suprimisse também o artigo «uma» – [A Igreja] conferiu ao casamento relevância no âmbito das relações
individuais, familiares e sociais da Cristandade.
3. Sugestões de resposta:
a. A seleção dos textos é criteriosa.
b. A obra satiriza o comportamento de várias personagens.

ESCRITA
Sugestão de tópicos para planificação:
– Inês sabe, como todas as moças do seu tempo, que o seu futuro passa pelo casamento.

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– Atreve-se a sonhar com um casamento que vai contra a vontade familiar e que vai mesmo contra os requisitos sociais
preestabelecidos.
– O casamento era uma proteção para a mulher e, se possível, uma segurança económica.
– Inês subverte estes valores impondo o seu desejo: quer casar à sua vontade. Sonha com um escudeiro, estrato social superior ao
seu, e despreza completamente a segurança económica.
– A vida real altera-lhe os sonhos, mas não o espírito de subversão da condição da mulher do seu tempo.

Pág. 150
LEITURA / ESCRITA
Sugestão de tópicos para planificação:
– Anteprojeto de nova lei sobre imigração estará em discussão pública durante trinta dias.
– A nova lei prevê a criminalização do casamento por conveniência. Um imigrante que case com uma portuguesa (e vice-versa) para
legalizar a sua situação no país poderá ser condenado a até quatro anos de prisão.
– Com esta medida pretende-se contribuir para o combate à imigração ilegal.
– A medida é importante, mas difícil de concretizar dada a sua subjetividade e consequente dificuldade de obter provas de que o
casamento não é fruto de uma relação de amor e tem fins ilícitos. A maior parte dos matrimónios envolve brasileiros(as).
– Apesar de não preencher todas as expectativas, a maioria dos dirigentes associativos concorda, na generalidade, com o diploma
em discussão.

GRAMÁTICA
1. predicativo do complemento direto – «ilegal»;
predicativo do sujeito – «departamento estatal»;
complemento direto – «imigrantes ilegais».

Pág. 151
2. a. do casamento por conveniência;
b. sobre os casamentos por conveniência;
c. dos dirigentes associativos.
3.1 A nova lei – sujeito; considera a tentativa de casamento para legalização crime – predicado.
3.2 Predicativo do complemento direto.
4. a. a maior comunidade estrangeira em Portugal (apositivo);
b. alegres e simpáticos; jovem (restritivo);
c. ucranianos ou romenos (restritivo);
d. povos de língua oficial portuguesa (apositivo).
5.1 que (antecedente: estrangeiro); a nova medida; que (antecedente: uma das poucas medidas da nova lei).
5.2 Subordinada relativa restritiva; subordinada completiva; subordinada relativa restritiva.
6. Complemento agente da passiva.

Pág. 152
ORALIDADE
1. B
2. C
3. A
4. B
5. A. V; B. V; C. V; D. V; E. F; F. V; G. F

Pág. 155
LEITURA DO TEXTO
1.1 Pelo facto de a astrologia estar na moda e todos acharem que sabem muito do assunto ou quererem explicar tudo através dos
astros.
1.2 «Porém quero-vos pregar / sem mentiras nem cautelas / o que per curso d’estrelas / se poderá adivinhar / pois no céu naci com
elas. / E se Francisco de Melo / que sabe ciência avondo / diz que o céu é redondo / e o sol sobre amarelo / diz verdade, não lho
escondo.»
«Que se o céu fora quadrado / nam fora redondo senhor / e se o sol fora azulado / d’azul fora a sua cor / e nam fora assi dourado.»
«E assi os corpos celestes / vos trazem tam compassados / que todos quantos nascestes / se nacestes e crecestes / primeiro fostes
gerados.»
2.1 A aceção de discurso moralizador.
2.2 Porque embora tenha objetivos moralizadores, este «sermão» crítica de forma divertida, caricaturando, ridicularizando, usando
ironia.
3.1 Prólogo – monólogo inicial de uma peça de teatro que, geralmente, introduz o tema.
3.2 Constitui um prólogo porque uma das personagens, Mercúrio, a terminar a sua intervenção, explica por que motivo determina
que se faça esta «feira» que vai permitir o desenvolvimento do auto.
4. Um dos motivos poderá ser o facto de Mercúrio ser um astro, sendo assim a personagem indicada para falar de astrologia. Outro
terá a ver com a representação mitológica de Mercúrio – mensageiro dos deuses e deus dos comerciantes. É nesta última condição
que promove uma feira, ainda que com um comércio invulgar.

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Pág. 159
LEITURA DO TEXTO
1. A exposição é feita primeiro pelo Tempo e seguidamente por Serafim, ambos representantes do Bem. O conflito gera-se quando o
Diabo aparece com as suas mercadorias e os outros querem expulsá-lo. O Diabo acaba por ficar, tendo a discussão sido interrompida
pela chegada de Roma.
2.1 Vende virtudes, conselhos, justiça, verdade, paz, temor de Deus, as chaves do Céu. Vende tudo isto, não a troco de dinheiro, mas
de virtudes, de boas ações cometidas pelos compradores. Vende este tipo de mercadorias, porque são aquelas que mais falta fazem
no mundo deste tempo.
2.2 Justifica este pedido de ajuda dizendo estar convencido de que não haverá bons compradores nesta feira. Só um anjo, vindo do
Céu, o poderá auxiliar nesta difícil tarefa a que se propõe – vender virtudes.
3.1 Chama os homens ligados ao clero, dos pastores de almas aos papas. E ainda os príncipes, chefes dos países cristãos em conflito.
3.2 Critica-lhes o luxo, o gosto pela riqueza, pelo poder, pelo mundano, esquecendo a sobriedade e a austeridade dos antigos
representantes de Deus.
4.1 Vem animado e confiante. Sabe que os artigos que traz se vendem muito bem. Não lhe irão faltar compradores.
4.2 O irrefutável argumento que usa é que tem todo o direito de feirar as suas mercadorias porque nunca forçou ninguém a comprá-
las. Sabe aquilo de que as pessoas gostam e traz o que procuram. Todos compram de livre vontade. Ele é apenas o vendedor.
4.3 Segundo o Diabo, as boas pessoas são pobres. Mas os homens não querem ser pobres, querem enriquecer e, para o conseguir,
praticam o mal que for necessário.
4.4 Critica-lhes o desfasamento entre o que deviam ser, enquanto representantes de Deus, e o que são – padres mundanos, bispos
hipócritas, freiras sem vocação.

GRAMÁTICA NO TEXTO
1. Quem quiser (sujeito da oração subordinante; oração substantiva relativa sem antecedente) / venha trocar (subordinante), /
qu’eu nam hei de vender (subordinada causal).
2.1 Se qualquer clérigo, leigo ou frade me vem comprar, de sua vontade, falsas manhas de viver, senhor, que lhe hei de fazer?
2.2 Complemento direto, modificador do grupo verbal, vocativo.

Pág. 160
LEITURA DO TEXTO
A REFORMA PROTESTANTE
1. Ideias nucleares:
– Luxo, opulência, corrupção, imoralidade, do alto ao baixo clero, minavam a Igreja Católica que, até ao século XVI, dominava a
sociedade europeia.

Pág. 161
– A partir do Renascimento, novos valores e novos conhecimentos fizeram surgir críticas à vida eclesiástica (por exemplo as de
Erasmo de Roterdão) e apelos de reforma.
– O Papa Leão X, através de pregadores, negoceia o perdão de pecados (indulgências) a troco de dinheiro para obras na basílica de S.
Pedro.
– Lutero insurgiu-se, publicamente, contra aspetos da doutrina cristã, nomeadamente as indulgências, e foi excomungado.
2. A crise de valores no seio da Igreja Católica.
3. Pretende-se demonstrar que os movimentos críticos e reformistas, como o de Erasmo ou de Lutero, entre outros humanistas,
foram suscitados pela profunda crise de valores que afetava a Igreja Católica.
4. Torna mais fácil compreender: 1.º a relação entre a crise ideológica da Igreja e as críticas reformistas de humanistas como
Erasmo; 2.º os motivos que levaram Martinho Lutero a tomar uma posição pública contra aspetos da doutrina cristã. Em suma, a
estrutura utilizada para transmitir a informação facilita o conhecimento das origens da Reforma protestante.
LUTAS POLÍTICAS E RELIGIOSAS
1. Hipóteses de subtítulos:
– «Indulgências» e «Saque de Roma»
– dois marcos das lutas político-religiosas. (três primeiros parágrafos)
– Posição da corte portuguesa neste conflito político-religioso. (quarto parágrafo)
– Auto da Feira, crítica protegida mas corajosa.
2. No primeiro parágrafo, que funciona como uma introdução, apresentam-se, sumariamente, as causas das lutas político-religiosas.
O segundo e terceiro parágrafos dão informações mais precisas sobre essas lutas: o segundo aborda o aspeto religioso e o papel de
Martinho Lutero; o terceiro a luta pelo poder político que envolveu, basicamente, o poder papal, o imperador alemão e o rei de
França. No quarto parágrafo expõe-se a relação do Auto da Feira e da corte portuguesa com este conflito político e religioso. No
último parágrafo alarga-se o âmbito da crítica vicentina e da sua ideologia religiosa, patentes no Auto da Feira, para toda a obra do
dramaturgo. Cada parágrafo é assim, claramente, uma sequência lógica do anterior.

Pág. 164
LEITURA DO TEXTO
1.1 É muito provável que haja a mesma intenção crítica. Ambas as situações chamam a atenção para a vida divertida e mundana dos
representantes de Deus, por oposição à sobriedade e austeridade em que deviam viver para cumprir com os votos feitos ao assumir
a vida religiosa.
1.2 Roma representa o topo da hierarquia religiosa – o Papa.

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Novo Plural 10.º ano

1.3 Deseja comprar paz, verdade e fé. Precisa da paz porque os cristãos que lidera estão em guerra entre si e consigo, o que
desbarata o mundo cristão.
2.1 Versos 2 a 6; versos 8 a 22.
3.1 Propõe-lhe toda a espécie de mentiras e uma variedade infinda de enganos.
3.2 É a própria personagem Roma que diz que já lhe comprou, anteriormente, tudo isso e em tal quantidade que ainda tem para
vender. Comprou-lhe maldades a troco das virtudes que tinha.
3.3 Tem o valor de ser a própria personagem a admitir aquilo de que a acusam – de falsidade, de desejo de fama e poder, de falta de
virtudes.
4.1 Deverá comprar a paz a troco de uma vida de santidade.
4.2 Através de indulgências. Vida santa não tem para poder trocar, mas tem poder, nomeadamente o poder de vender perdões a
troco das indulgências.
4.3 Esta é das críticas mais duras. Graças às indulgências vendidas pela Igreja, quem tinha dinheiro para isso supostamente
comprava a remissão dos pecados e a entrada no paraíso. Foi esta doutrina de perdões que iniciou, no século XVI, as contestações à
religião e esteve na origem da cisão da cristandade.
5.1 Além de conselhos, contém um espelho que foi da Virgem e, pondo os olhos nele, Roma deverá mudar a forma de se «toucar».
Deverá seguir o exemplo da Virgem. Se não se emendar, se prosseguir a vida que tem levado, estará definitivamente perdida.
5.2 O Diabo não acredita que Roma se vá emendar. Acha que continuará a querer enriquecer e a pensar que conselhos que os deem
ao Diabo.
6. Receio que se não encontrar solução nesta feira, os Mouros destruirão a cristandade.
7. Os dois conceitos opõem-se – trata-se de uma antítese. Os termos sublinhados estão utilizados metaforicamente. Roma absolve
os pecados dos outros a troco de dinheiro e não tem como absolver os seus.
8. Versos 40 a 42; versos 85 a 87.

Pág. 171
LEITURA DO TEXTO
1.1 Amâncio Vaz acha que a mulher é um perigo pois irrita-se por tudo e por nada e então dá-lhe tareias que o fazem pedir ajuda aos
vizinhos. Denis Lourenço também não está contente com a mulher que tem, mas por razões bem diferentes. É mole, desajeitada,
distraída e tão pacífica que para não enxotar um gato deixou que ele roubasse o jantar. Segundo ele, se alguém o atacasse, ela
sentar-se-ia a ver o espetáculo.
1.2 Branca Anes, a brava, mulher de Amâncio, queixa-se de que o marido lhe rouba, assim que estão maduros, todos os frutos da
sua plantação. Só come e dorme. Não faz nada e anda sempre cheio de fome.
2. A pergunta do Diabo sobre se querem anéis para as mãos ou para os pés escandaliza Marta que invoca o nome de Jesus, o que faz
com que o feirante desapareça. As duas mulheres assustam-se pois apercebem-se de que se tratava do Diabo e Branca lamenta que
ele não tenha levado o marido consigo.
3.1 Consciência para «vestir» a alma e prepará-la para o paraíso.
3.2 Tecidos, mel, patos, sapatos... Querem saber o que há que lhes interesse comprar.
3.3 A oferta é de bens imateriais, de virtudes. A procura é de bens materiais, práticos, de utilidade imediata.
4.1 Entram a cantar e a cantar se despedem, pondo fim à feira. A simplicidade destes jovens manifesta-se exemplarmente no diálogo
entre Gil e o Serafim. O rapaz faz perguntas sobre Deus, a Virgem, o espaço que habitam de uma ingenuidade comovente. Transpõe
para o Além o seu mundo, a sua vivência quotidiana.
4.2 O primeiro é que elas precisam de comer, precisam de casar e as virtudes não compram essa segurança. O segundo é que são
devotas da Vigem e aos bons ela dá as graças que eles ali vendem.
5. a. É tão bêbado que bebe o que lhe aparecer pela frente.
b. Não recebeu bons princípios, não é boa pessoa.
c. Fica a ver a humanidade, os seres terrenos.

Pág. 172, 173 e 174


QUADRO PERSONAGENS ASSUNTO

1.º Mercúrio Mercúrio, planeta do sistema solar e deus do comércio, inicia a peça com um longo
(Sermão burlesco) monólogo em que ridiculariza a astrologia (tão em voga na altura) e os seus adeptos.
A concluir esta intervenção inicial, determina que se faça ali uma feira, cujo mercador
mor será o Tempo.

2.º Mercúrio O Tempo monta a sua banca e enuncia as virtudes que tem para trocar. A seu pedido,
(Moralidade) Tempo Deus envia ao Tempo um ajudante – o anjo Serafim. É este que apregoa as mercadorias
Serafim e incita os compradores, nomeadamente, do alto clero, a por de lado o luxo e a viver
Diabo modestamente como os primeiros cristãos. Aparece um segundo vendedor, o Diabo,
Roma que arma também a sua banca e enuncia os seus produtos. Está, assim montada a feira
do Bem e do Mal. A única compradora, Roma, quer comprar «Paz, Verdade e Fé» (que,
naturalmente, devia ter). O Serafim, embora tenha estas virtudes, não lhas pode dar,
porque Roma não tem o que lhe é exigido em troca: uma vida santa.
3.º Amâncio/Denis Entram primeiro dois maridos que se queixam das mulheres e pensam mesmo em
(Farsa) Branca/Marta feirá-las. Seguem-se as respetivas mulheres, que se queixam dos maridos e gostariam
9 Moças de se desfazer deles. Serafim tenta vender-lhes consciência, mas elas estão apenas
3 Moços interessadas em bens materiais, como chapéus, tecidos, mel…
Vicente Vem, por último, um grupo de camponeses e logo a seguir dois compradores, que

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Mateus querem sobretudo, seduzir as moças. Acabam por se retirar, aborrecidos. As Moças
Diabo não querem comprar virtudes como lhes propõe o Serafim pois dizem que a Virgem as
Serafim dá de graça aos bons. Os Moços e Moças, camponeses simples, alegres e humildes,
antes de partirem, cantam e dançam e com esta «folia» se encerra a feira.

I
2.1 Porque neste quadro, a crítica feita a Roma, representante do Papado, órgão máximo da Igreja Católica, é dura, arrojada e visa a
condenação dos vícios que estão a destruir a Cristandade. Roma vem à feira comprar «paz, verdade e fé». Nada disto lhe devia
faltar, mas nesta época falta-lhe tudo. Roma admite que tem o poder na Terra, mas que lhe falta a paz dos céus. A guerra pelo
«poder na Terra» envolve vários países cristãos e Roma ostenta e aumenta o seu poder vendendo indulgências, perdões,
absolvições. A ostentação de riqueza do papado é absolutamente contrária aos votos de pobreza que caracterizaram o primitivo
catolicismo. A salvação, o amor de Deus, não se compra, não se vende, conquista-se com o Bem praticado. Ora Roma esqueceu-se
desse princípio elementar («Quem tem guerra com Deos / nam pode ter paz c’o o mundo»). O Serafim faz-lhe ver os seus erros,
mas Roma espera conseguir neutralizá-los com indulgências. Aquilo que deseja da feira só o poderia ter a troco de «santa vida» e
isso prova-se ao longo do quadro que não tem. Para que a condenação não seja definitiva, Mercúrio dá-lhe um cofre de conselhos.
Se Roma os seguir e mudar de vida então talvez ainda venha-a ter a «paz, verdade e fé» que procura.
2.2 Sim, porque esta 3.ª parte é constituída por quadros que retratam episódios da vida real e quotidiana. Evidencia-se a forma
lúdica como se aponta os defeitos de grupos sociais, procurando moralizar pela caricatura, pela ridicularização, pelo humor.
3. Porque não há uma ação una, com exposição, conflito e desenlace que abarque a peça, mas vários quadros independentes.
Poderia facilmente retirar-se ou acrescentar-se um quadro, que a estrutura da obra não se modificaria.
3.1 Os elementos responsáveis por essa articulação entre os quadros são os feirantes – Tempo e Serafim, por um lado, e o Diabo,
por outro.
4. Mercúrio, deus do comércio, promove uma feira em dia de Natal e nomeia o Tempo mercador-mor. Este, ajudado pelo anjo
Serafim, monta a banca das virtudes. Nada está à venda, tudo se troca por virtudes de valor equivalente. Um outro feirante se
apressa a montar a sua banca – o Diabo.
Primeiro Roma, depois, dois homens e respetivas mulheres, separados em dois grupos e, por fim, um grupo de jovens e dois
compradores vão aparecendo sucessivamente na feira, à procura de mercadorias bem diversas ou apenas com o intuito de se
divertir.
5. A feira com as suas bancas, os vendedores, os compradores, as mercadorias, corresponde a uma realidade bem conhecida de
todos. Mas esta feira é uma representação do real e não uma feira comum. Os vendedores, por exemplo, são personagens
alegóricas, representantes do Bem (Tempo e Serafim) e do Mal (Diabo). A personagem do 1.º quadro – Roma – é, também ela, uma
representação do Papado, da mais alta hierarquia eclesiástica. As mercadorias desta feira não são mercadorias materiais. São
virtudes ou vícios, são a representação do conflito entre o Bem e o Mal.
5.1 Palavras do campo lexical de feira: mercadorias, compras dos sapatos, mercador mor, comprador, tenda, trocar, vender. Panos,
vestidos, samarras, mercador, tendinha, vender, comprar marmelada, grãos torrados, mercancias, gamela, anéis de latão,
merchantes, sombreiros de palma, burel do pardo, de lã meirinha, pucarinha pequenina pera mel, patos, cevada, quatro pares de
sapatos, cantar, nem gaita, nem tamboril, folgares, mil cestos nas cabeças ovos e galinhas, queijadas, ovos, galinha, cabrito,
pássaros, favas de Viana, laparinhos, porca, coelhos, cabrito, cesto.
5.2 Pelo facto de todo o enredo se centrar em torno de uma feira, ainda que alegórica. Nalguns quadros, como vimos, as
personagens reais contracenam com personagens alegóricas.

II
1. na sua nobre e sempre leal cidade de Lisboa (espaço), u~a tenda com muitas cousas, panos, vestidos, as samarras, u~a tendinha,
marmelada, prefumaduras, virotes, naipes, inguento, cofre de conselhos, espelho (adereços), ó longo desta ribeira, mete-te nessa
silveira / qu’eu daqui hei d’espreitar ( espaço), cestos nas cabeças cobertos (adereços).
2. Simularia um espaço campestre, com alguns silvados e duas bancas para os mercadores. O silvado serviria exatamente para os
maridos de Branca e Marta se esconderem, quando elas chegassem à feira, pois um deles tinha medo da reação da mulher, quando
o visse. Quer os adereços necessários, quer o espaço em que se deslocam as personagens são elementares e portanto de montagem
muito simples.

III
1.1 «E porque a estronomia / anda agora mui maneira, / mal sabida e lisonjeira, / E se Francisco de Melo, / que sabe ciência
avondo, / diz que o céu é redondo, / e o sol sobre amarelo / diz verdade, não lho escondo.»; «Sobre mi armavam guerra / ver quero
eu quem a mi leva. / Três amigos que eu havia, / sobre mi armam prefia. / Se os meus me desbaratam, / o meu socorro onde está? /
Se os cristãos mesmos me matam, / a vida quem ma dará / que todos me desacatam? / Porque, senhora, eu me fundo / que quem
tem guerra com Deos, / nam pode ter paz c’o mundo»; «A troco das estações / nam fareis algum partido / e a troco de perdões, /
que é tesouro concedido / pera quaisquer remissões?»; «Oh vendei-me a paz dos céus, / pois tenho o poder na terra.»; «Nam culpes
aos reis do mundo, / que tudo te vem de cima, / polo que fazes cá em fundo / que, ofendendo a causa prima, / se resulta o mal
segundo.»
1.2 Um tempo em que a astronomia estava muito em voga, o que leva o dramaturgo, através do astro Mercúrio, a ridicularizar os
seus inúmeros adeptos. Mas é também e, sobretudo, um tempo de guerra entre povos da Cristandade. Um tempo em que alguns
reis cristãos da Europa lutam pela hegemonia e contestam o poder da Igreja. Esta mostra a sua força e aumenta a sua fortuna
vendendo indulgências, perdões, jubileus a troco do perdão dos pecados. Vende o Céu a troco de dinheiro, «ofendendo a causa
prima».
2. O passado de Roma aparece evidenciado no diálogo da personagem com o Diabo. Este aconselha-a a comprar ruindade porque
quem for bondoso só terá canseiras e nunca terá poder. Aconselha-a ainda a abastecer-se de mentiras de todas as espécies e para
todas as ocasiões. E ainda se propõe vender-lhe «enganos», a preço de amigo. Roma recusa, mas reconhece que já lhe tinha em

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tempos comprado tudo isto e em tão grande quantidade que ainda tem para vender. Todas estas mercadorias que comprou
custaram-lhe o amor de Deus.
No presente Roma vem comprar «paz, verdade e fé». Mas não tem uma vida santa para dar como moeda de troca. Mostrando
pouca consciência dos verdadeiros princípios do Cristianismo, propõe-se comprar os bens que foi perdendo – paz, verdade e fé –
com estações, perdões, jubileus, o que com toda a justiça não é aceite, pois não corresponde a qualquer virtude, antes a uma
utilização abusiva do poder.
Para enfrentar o futuro, Roma leva um cofre de conselhos e um espelho que foi da virgem Maria, onde deverá ver refletido o luxo
que ostenta. Os conselhos são o que resta a Roma para a sua salvação, se estiver disposta a segui-los.
3. De entre as muitas pragas que Branca profere ao longo do quadro, esta destaca-se pela referência temporal: «que o veja eu ir à
vela / pera donde nunca vem.» (pág. 0, l. 0). Sem o especificar, remete para a época da expansão, num tempo em que muitos
partiam para sempre. «Pois quant’a essas que vendeis, / daqui afirmo outra vez, / que nunca as vendereis. / Porque neste sigro em
fundo / todos somos negligentes / foi ar que deu polas gentes, / foi ar que deu polo mundo, / de que as almas são doentes.». Esta
transcrição refere, de forma crítica, um tempo de crise de valores ideológicos e religiosos que, efetivamente, dominava o país e o
mundo cristão em geral. «Eu nam vejo aqui cantar, / nem gaita, nem tamboril, / e outros folgares mil, / que nas feiras soem
d’estar. / E mais feira de Natal / e mais de nossa senhora». Esta passagem, a finalizar o quadro dos casais, aponta para o tipo de feira
que era frequente nesta época – uma festa com canto e dança – e indica, mais uma vez que se trata de uma feira realizada no Natal
e em honra de «nossa senhora». Embora poucos, há aqui alguns elementos que nos dão indícios de um tempo real e reforçam a
ideia de uma crise religiosa real, quase contemporânea do período dos descobrimentos.

IV
Enquanto Roma, tratada pelo Serafim como «Senhora», utiliza na sua fala a norma linguística, o casal de lavradores e os camponeses
empregam, predominantemente, um registo popular, de acordo com a sua condição de pessoas pouco instruídas. Diz Amâncio a
propósito da mulher: «quando casei com ela / diziam-me: hétega é. / E eu cuidei pola abofé / que mais cedo morresse ela, /e ela
anda inda em pé. / E porque era hétega assi / foi o que m’a mim danou / avonda qu’ela engordou / e fez-me hétego a mim.».
Responde-lhe Denis: «Pois compadre quant’à minha, / é tão mole e desatada, / que nunca dá peneirada / que nam derrame a
farinha. / E não põe cousa a guardar, / que a tope quando a cata.». Quanto a Branca diz do marido: «quantas uvas penduro / jeita
nas gorgomeleiras / parece negro munturo. / Vai-se-me às ameixieiras / Nunca eu vi bofalinheiro / tam prestes tomar o mu.». E a
propósito do discurso do Anjo, diz Branca: «Isso é falar per pincéus». Justina, uma das jovens camponesas, diz para um comprador
atrevido: «Andar em burra e ter bem / ouvide ora o rasca piolhos / azeite no micho em que vem.»
NOTA: Apresentam-se apenas alguns excertos exemplificativos.

V
Tópicos a desenvolver:
• a crítica dos humanistas aos erros cometidos pela Igreja; referência a Erasmo (introdução);
• a crítica de Gil Vicente ao mais alto representante da hierarquia católica – a ostentação de riqueza, o poder, a corrupção, a
deturpação dos princípios originais do cristianismo (desenvolvimento);
• a esperança de uma reforma no seio da igreja (conclusão)
NOTAS: Antes de elaborarem a exposição os alunos deverão consultar a página 17 do Manual ou a página 38 do Caderno de
Atividades.

VI
1. Na enorme galeria de personagens vicentinas deve distinguir-se, no conjunto dos tipos satíricos, o grupo de tipos folclóricos como
pastores e outras personagens rústicas. Estes servem para fazer rir o público pela sua ignorância e simplicidade. Ao nível ideológico,
a simplicidade destas personagens proporciona juízos que põem em causa a ordem estabelecida. Só os simples, a par do Parvo, têm
direito ao reino dos céus.
• No diálogo entre uma das jovens camponesas e o Serafim, há uma resposta de Teodora que é uma verdadeira lição de vida cristã:
«SERAFIM – Pois por que viestes ora
cansar à feira de pé?
TEODORA – Porque nos dizem que é
feira de nossa senhora
e vedes aqui porquê.
E as graças que dizeis
que tendes aqui na praça
se vós outros as vendeis
a virgem as dá de graça
aos bôs como sabeis.»
2. Um dos aspetos em que Gil Vicente se mostra mais crítico em relação ao clero é, exatamente, a vida de ostentação de poder, de
luxo, de corrupção, de mentira. Essa postura do clero influencia toda a cristandade, exceto os simples.
A igreja esqueceu os verdadeiros princípios do cristianismo (pág. 157, l. 0), e deixou-se seduzir pela hipocrisia, pela mentira, pelos
prazeres mundanos. Veja-se a crítica do Diabo nesta passagem: «Se me vem comprar qualquer / clérigo, ou leigo, ou frade / falsas
manhas de viver, / muito por sua vontade / senhor, que lh’hei de fazer? / E se o que quer bispar / há mister hipocresia (...) / E se u~a
doce freira / vem à feira / por comprar um inguento, / com que voe do convento». O próprio papado, através da personificação de
Roma, reconhece que comprou tantos vícios ao Diabo, que ainda tem para venda. Como moeda de troca para «comprar» o perdão
divino, apenas tem remissões, jubileus, indulgências. Com estes «perdões» que vende aos cristãos que os possam comprar, vai
aumentado o seu poder e deturpando a verdade do cristianismo. Os pecados não se redimem pela compra de um papel. O reino dos
céus é para quem o merece, não para quem o compra. A camponesa Branca, numa curiosa observação feita ao Serafim, diz-lhe com
a maior franqueza: «Pois quant’a essas que vendeis, / daqui afirmo outra vez / que nunca as vendereis. / Porque neste sigro em
fundo / todos somos negligentes / foi ar que deu polas gentes, / foi ar que deu polo mundo, / de que as almas são doentes.». E não é

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o exemplo do clero a causa maior desta «doença»? A ele escapam os simples, que têm a inocência e a alegria de viver de crianças
grandes, não contaminadas pelo mal.

Pág. 176
ESCRITA
Sugestão de tópicos para planificação:
– violência está intimamente ligada à exclusão e às desigualdades sociais;
– injustiça do sistema económico social onde predomina a lei do mais forte;
– cultura do descartar, pôr de lado o que já não nos faz falta, os restos, que vão da comida que sobrou ao velho que já não é útil;
– apelo aos políticos para que haja uma reforma financeira que não esqueça a ética;
– conceito de que o dinheiro deve servir e não governar;
– seria bom que houvesse cada vez mais políticos a que doesse a vida dos pobres.

GRAMÁTICA NO TEXTO
1. Será possível erradicar a violência, se se eliminar a exclusão e a desigualdade social, na sociedade e entre vários povos.
2.1 de 142 páginas – modificador do nome restritivo; o primeiro do género do seu pontificado – modificador do nome apositivo.
2.2 dá orientações sobre a nova evangelização.
2.2.1 Verbo (dá), complemento direto (orientações), modificador do nome restrito (sobre a nova evangelização).
3. O papa dirige-se aos líderes políticos– oração subordinante;
para lhes pedir “uma reforma financeira – oração subordinada final não finita infinitiva;
que não ignore a ética” – oração subordinada adjetiva relativa restritiva.

Pág. 177
LEITURA DO TEXTO
1. Este título apresenta o tema do texto.
2. Hormonas e nervos do sistema nervoso permitem que as emoções se manifestem ao nível do estado corporal. As expressões
faciais diferem conforme a emoção. A interpretação da relação expressão facial/emoção é importante para auxílio imediato (se for
caso disso) e prevenção ou antecipação de ações futuras.
2.1 Uma expressão de fúria durante uma discussão pode levar-nos a tomar as medidas necessárias para acalmar os ânimos e evitar
danos irreparáveis.
3. Não, variam conforme as pessoas. Contudo, o mesmo indivíduo mantém, ao longo da vida, reações idênticas.
4. Não perder o controlo das suas reações.
4.1 Deixar-se dominar pela emoção (ferver em pouca água – diz a tradição popular).
4.2 A de não ter uma atitude passiva perante as emoções. A reação à emoção favorece a antecipação, enquanto um défice de
emoções não desenvolve o raciocínio. O que nos é indiferente não nos leva a refletir. Também não fica registado na memória,
portanto não nos ajuda a prevenir situações futuras.
5. Há muitas áreas do conhecimento científico, nomeadamente a nível do cérebro, que ainda são um enigma e um foco de estudo
permanente. «Parecem» mostra a sensatez de não se dar como irrefutável o que ainda está em investigação.
6. O texto apresenta informações importantes e selecionadas, em função do desenvolvimento do tema. Caracteriza-se pela
objetividade e o rigor possível, em temas desta natureza.

Pág. 178
GRAMÁTICA NO TEXTO
1.
– oração subordinada: Sem que isso implique qualquer tipo de aprendizagem explícita; oração subordinante: as expressões faciais
diferem conforme a emoção.
– oração subordinante: Todas as emoções são acompanhadas de uma secreção hormonal de adrenalina e noradrenalina;
– oração subordinada: embora não existam reações viscerais invariavelmente associadas a um tipo de emoção.
– oração subordinante: É importante; orações subordinadas: detetar uma expressão de dor; para que a assistência médica seja
rápida.
– oração subordinante: Às vezes, é tão fácil;
– orações subordinadas: detetar pela expressão facial algumas emoções; que até as crianças pequenas conseguem.
Nota: Poderá acrescentar-se a este exercício, se o professor assim o entender, a classificação das subordinadas.
2. Essas expressões são interpretadas de maneira relativamente semelhante pelas diferentes culturas / e contribuem para a
sobrevivência. As duas orações são coordenadas, sendo a segunda coordenada copulativa.
3.1 O nosso corpo sente prazer e dor / e isso guia as nossas ações. Orações coordenadas, sendo a segunda copulativa.
3.2 1.ª oração – sujeito: o nosso corpo; predicado – sente prazer e dor
2.ª oração – sujeito: isso; predicado: guia as nossas ações
3.3 Ambas têm a função de complemento direto.
3.4 A oração coordenada anterior: O nosso corpo sente prazer e dor.
4. invariavelmente – modificador do grupo verbal;
ao longo da sua vida – modificador do grupo verbal;
pelas diferentes culturas – complemento agente da passiva.
5. Significa que nestas frases a palavra «expressão» tem significados diferentes. Este conjunto dos diferentes sentidos que a mesma
palavra pode ter, conforme o contexto, constitui o seu campo semântico.

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Pág. 179
ORALIDADE
Será particularmente interessante que os alunos comentem a eficácia publicitária deste projeto.
A utilização de personagens infantis poderá ser controversa e seria bom que a questão se levantasse.

Pág. 180
Ficha de autoavaliação
FICHA 3 – página 180

A FORÇA DO HUMOR

I – Educação Literária / Escrita / Gramática


Farsa de Inês Pereira
A
1. Lianor Vaz vem a casa de Inês trazer-lhe uma carta de Pêro Marques e interceder junto da rapariga para que o aceite como
marido.
2.1 Lianor Vaz e a mãe de Inês acham que um bom casamento pressupõe um marido que trate bem a sua companheira e tenha
possibilidade de lhe dar uma vida sem problemas económicos.
2.2 São pessoas do povo, com pouca instrução e muita sabedoria popular. Os provérbios são ditos que traduzem um conhecimento
feito da experiência de várias gerações.
3. O marido ideal de Inês jovem, solteira, casadoira, é um homem bem-falante, galanteador, cortês, que saiba tanger viola e tenha
«descrição», educação. Se tem ou não dinheiro, é completamente irrelevante. Este ideal corresponde à figura do escudeiro, ligado à
nobreza e, portanto, a um estrato social mais elevado.
4. Inês acha o seu pretendente um ignorante, «um vilãozinho», que não sabe escrever adequadamente, muito menos uma carta de
amor. Imagina-o um lavrador rude e tão ignorante que usa um ancinho por pente. Pretende assim mostrar, ironicamente, o
desprezo que sente por ele, um homem que lhe desperta o riso e não o desejo de casar.
5. «Eu o estou cá pintando: / sabeis, mãe, que eu adivinho / deve ser um vilãozinho / ei-lo se vem penteando: / será com algum
ancinho?»
5.1 A ironia revela que Inês despreza o seu pretendente, não o considerando digno dela.

B
1. Vocativo – filha
Complemento direto – um casamento (v. 5), se vos praz (v. 7)
Complemento indireto – vos
Predicativo do sujeito – na nossa aldeia
Modificador de nome apositivo – vosso amigo
2. Subordinantes
1.ª Primeiro eu hei-de saber
2.ª não o quero
3.ª digo
Subordinadas
1.ª se é parvo / se (é) sabido (v. 18)
2.ª se for parvo
3.ª que benza-vos Deus, / que vos fez de tão bom jeito (v. 35)
2.1 1.ª oração subordinada substantiva completiva;
2.ª oração subordinada adverbial condicional;
3.ª oração subordinada substantiva completiva / oração subordinada adjetiva relativa restritiva.

II – Leitura / Escrita
Auto da Feira
A
1. Assenta na existência de uma feira em que Mercúrio, o Tempo e o Serafim têm uma tenda na qual nada se vende, tudo se troca
por virtudes. Por este excerto presume-se que haja pelo menos outra tenda cujo mercador será o Diabo. Roma, representante da
Igreja, vem à feira «comprar» paz.
2. Neste excerto o conflito gera-se entre a compradora, Roma, e o vendedor, Serafim. Mercúrio, perante o apelo de Roma, põe fim
ao conflito e o Diabo ironiza com a solução encontrada.
2.1 O que origina esse conflito é que Roma quer comprar paz, mas não tem virtudes para trocar pelo que pede. Julga poder comprar
a paz dos céus com estações, perdões, jubileus. O Serafim desilude-a, ao recusar perentoriamente essa troca. Roma só pode
comprar a paz a troco de santa vida (que não tem).
3. Roma sabe que precisa de ajuda, que está a ser contestada e atacada por vários países cristãos, que vive em clima de guerra. Só as
forças divinas lhe poderão restituir a paz, mas não sabe como conseguir o seu auxílio. Já que as súplicas ao Serafim não produzem
grande efeito, apela à ajuda de Mercúrio.
4. Mercúrio pede ao Tempo que dê a Roma o cofre dos seus conselhos. Nele achará um espelho, que a ajudará a ver como está a
conduzir a vida de forma errada. Se não mudar de rumo, então estará perdida. Mercúrio diz-lhe ainda que não se queixe da feira que
não lhe deu o que ela queria, nem se queixe dos outros países. Se ela está em guerra, a culpa é sua, que não soube ter uma santa
vida, uma vida em paz com Deus. O Diabo, com ironia, comenta as palavras de Mercúrio, porque não acredita que Roma queira
conselhos.

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5. Não foi, com certeza. Não conseguiu «comprar» o que queria, com indulgências, apenas conseguindo que lhe dessem conselhos.
Mostraram-lhe que, se estava mal, a si o devia e teria de ser ela, portanto, a encontrar o caminho certo, a encontrar a paz, a
reencontrar-se com Deus.
6. A crítica à instituição eclesiástica, à cúpula dessa mesma instituição. Roma afirma ter «o poder» na terra e serve-se desse poder
para absolver pecados a troco de dinheiro. A quem tem dinheiro, não é necessário ter virtudes como a humildade, a honestidade,
bem como é desnecessário o arrependimento para alcançar o paraíso, ou estar na graça de Deus. Comprar o perdão dá menos
trabalho e, sobretudo, dá dinheiro à Igreja. Não é esta, para Gil Vicente, a verdade religiosa.
7. O espelho da Virgem deverá servir para Roma se aproximar da imagem da santa. Roma deverá ver nele o modelo a seguir, o
reflexo da simplicidade, da modéstia, da humildade que lhe faltam.

B
1. Sujeito – a quem Deus dá guerra (v. 29); que Deus não erra (v. 31)
Comp. direto – o cofre dos meos conselhos (v. 60)
Comp. indireto – lhe (v. 59); a essa Senhora (v. 59); a Deos (v. 30)
Complemento oblíquo – ao fundo (v. 56)
Vocativo – Tempo (v. 59); Senhora (v. 29)
Predicativo do sujeito – certo (v. 31)
Predicativo do complemento direto – adequada
2. se vós a paz quereis, senhora, sereis servida – oração subordinada adverbial condicional;
oração subordinante e logo a levareis a trôco de sancta vida – oração coordenada copulativa
mas não sei – oração coordenada adversativa
se a trazeis – oração subordinada substantiva completiva
Não culpes aos reis do mundo – oração subordinante
que tudo te vem de cima – oração subordinada adverbial causal

III – Leitura
1 – c; 2 – b; 3 – b.

IV – Escrita
A introdução poderá referir o humor como uma forma divertida de abordar assuntos sérios. O fator lúdico permite captar a atenção
dos recetores e transmitir assim a mensagem de forma mais eficaz. O desenvolvimento deverá basear-se na obra de Gil Vicente
trabalhada na aula, por ser um texto que têm presente. Deverão documentar as informações que julguem pertinentes para o
desenvolvimento do tema, por exemplo, os sonhos de Inês de ascensão social, o deslumbramento pela vida cortesã, a infidelidade
ao segundo marido, o comportamento dos representantes da igreja, e fundamentá-las com referências a passagens da obra.
Acentuar que estas críticas, apesar de criarem situações divertidas, não perdem eficácia crítica. (Note-se que o tema dado não
implica que não refiram também outras obras, textos ou autores).
A conclusão deverá retomar, de forma lógica, a ideia inicial, a de que é mais fácil conseguir uma crítica que seja realmente eficaz
usando o humor.

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