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RECEBIDO: 23.04.

2005
APROVADO: 25.04.2005

RELATO DE CASO

FOBIA SOCIAL:
CLÍNICA
E TRATAMENTO
SOCIAL PHOBIA: CLINICAL FEATURES AND TREATMENT

INTRODUÇÃO

O
Daniele Guedes Silveira e termo fobia deriva da palavra grega phobos, que significa terror e medo
Alexandre Martins Valença extremo. O deus Phobos tinha como característica principal causar medo
em seus inimigos e, assim, ajudar seu pai, Ares, o deus da guerra. Hi-
RESUMO: É apresentada uma revisão bibliográfica pócrates, segundo a descrição de Burton em seu Anatomy of melancholy, foi o
sobre fobia social, ilustrada com o relato de um primeiro a referir-se à ansiedade social, porém o termo fobia só foi utilizado nos
caso clínico. É fundamental o tratamento adequado
desse transtorno de ansiedade, a fim de melhorar
textos médicos do século XIX, recebendo então o conceito de medo extremo,
a qualidade de vida dos pacientes portadores de que se manifesta fora de qualquer proporção ao estímulo desencadeador e que
fobia social.
não pode ser explicado, resultando sempre na esquiva ao objeto temido.1
ABSTRACT: We present a review about social A fobia social é a intensa ansiedade gerada quando o paciente é submetido
phobia, illustrated with a clinical case. It is
essential an adequate treatment of this anxiety
à avaliação de outras pessoas. Essa ansiedade, ainda que generalizada, não se
disorder, in order to improve the quality of life of estende a todas as funções que uma pessoa possa desempenhar, porém há um
patients with social phobia. período de medo intenso ou incômodo, acompanhado por uma gama de sinto-
PALAVRAS-CHAVES: Fobia social; Diagnóstico; mas físicos e/ou psicológicos. Subseqüentemente, a ansiedade antecipatória e o
Tratamento; Transtornos de ansiedade. comportamento de evitação se desenvolvem com freqüência.2
KEYWORDS: Social phobia; Diagnosis; Treatment; As complicações socioeconômicas e familiares decorrentes induzem a gas-
Anxiety disorders. tos excessivos, por parte dos pacientes, com médicos e exames complementares,
muitas vezes dispensáveis. Afastamento do trabalho, absenteísmo, impossibi-
Daniele Guedes Silveira – Médica psiquiatra, lidade de aceitar promoções (por medo de assumir maiores responsabilidades)
Especialista em Psiquiatria pelo IPUB/UFRJ.
Alexandre Martins Valença – Doutor em e até pedidos de demissão são situações corriqueiras na vida desses pacientes,
Psiquiatria pelo IPUB/UFRJ, Professor sobretudo se o paciente não é diagnosticado precocemente. Somando-se a esses
adjunto de Psiquiatria e Saúde Mental da fatos há uma deterioração econômica progressiva. Socialmente, a sucessiva re-
Universidade Severino Sombra, Faculdade
de Medicina de Vassouras, RJ, Coordenador cusa a convites recebidos gera afastamento e perda dos contatos sociais.1
do Ambulatório do IPUB/UFRJ, A fobia social pode ser tratada por meio de medidas psicoterápicas e farma-
Coordenador do Curso de Especialização cológicas, sendo o ideal a combinação de ambas. Em particular, cita-se a terapia
em Psiquiatria do IPUB/UFRJ, médico
assistente e pesquisador do Laboratório de cognitiva comportamental, com efetividade bem documentada no tratamento
Pânico & Respiração do IPUB/UFRJ. da fobia social.

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No que tange ao relacionamento levam o indivíduo a se esquivar dessas Diagnóstico diferencial com outros
familiar, o paciente recebe inicial- situações, acarretando complicações transtornos mentais
mente os cuidados dos parentes mais como o isolamento social. • Transtorno de ansiedade generalizada
intimamente envolvidos. Após várias Há dois subtipos de fobia social: ge- (TAG)
“peregrinações” a consultas médicas, neralizada (presente na maior parte das Caracteriza-se por uma preocupa-
cujos exames, persistentemente, não situações sociais), que totaliza 80-90% ção excessiva acerca de diferentes
demonstram existência clara de um dos casos, sendo o tipo mais incapaci- eventos ou atividades, inquietação,
transtorno, os familiares adotam ati- tante e com início mais precoce, poden- fatigabilidade, dificuldade de con-
tude de estímulo para que o paciente do levar a um comprometimento no centração e alteração do padrão de
mude de comportamento. No decorrer bem-estar geral, com um índice alto de sono. Acarreta sofrimento e prejuízo
do tempo, o mesmo passa a ser alvo de comorbidades – depressão e abuso de importantes nas esferas social, fami-
críticas desferidas não só pela família álcool, origem familiar e curso crônico liar e profissional.6
como também por amigos, as quais, –, e não generalizada (restrita a uma ou • Depressão
infelizmente, só contribuem para o duas situações), que, em geral, é ligada O quadro clínico da depressão é com-
agravamento da situação. ao desempenho – escrever ou comer posto por alterações que afetam o hu-
O objetivo deste artigo é realizar na frente de outras pessoas –,mas no mor, a psicomotricidade, as funções
uma revisão de aspectos clínicos e te- restante das situações sociais o indi- cognitivas e as funções vegetativas.
rapêuticos da fobia social, complemen- víduo não apresenta qualquer tipo de São sintomas essenciais: alteração do
tando com um relato de caso. inibição exagerada. humor para depressivo ou redução do
A seguir mostra-se quadro com- interesse pelas coisas, queda de energia
parativo dos critérios de diagnóstico e/ou desânimo, anedonia, lentificação
EPIDEMIOLOGIA segundo os manuais de classificação do processo psíquico.6

E
m amostras epidemiológicas a de doenças (Quadro 1).
fobia social é mais freqüente no
sexo feminino do que no mascu- QUADRO 1 - CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DA FOBIA SOCIAL SEGUNDO O CID-105 E O DSM-IV2
lino, aparecendo na proporção de 3:2.
Já em amostras clínicas a fobia social CID – 10 DSM-IV
é mais freqüente no sexo masculino.3
Também é mais comum em pessoas Medo e esquiva de ser foco de Medo de escrutínio em uma ou mais
atenção ou medo de ser humilhado situações de desempenho.
de baixo nível socioeconômico. Fre- ou embaraçado em situações sociais
qüentemente tem um início precoce, e evitação de tais situações.
sendo 50% com início na adolescência
e 50% com início em torno dos 20 anos Situações restritas a circunstâncias Situações evitadas ou toleradas com
sociais temidas. ansiedade e sofrimento.
de idade.4 A prevalência é de aproxi-
madamente 8% em um ano e de 13% Sintomas ou esquivas reconhecidos Exposição a situações sociais que
ao longo da vida.4 como irracionais e que causam sempre provocam ansiedade.
sofrimento. Medo reconhecido como excessivo ou
irracional.
QUADRO CLÍNICO Esquiva ou sofrimento interfere no
Os sintomas da fobia social são despro- funcionamento ou há sofrimento
porcionais à situação temida (medo de acerca de ter a fobia.
falar em público, comer em público, Sintomas somáticos de ansiedade não Sintomas não decorrentes de condição
assinar documentos na frente de ou- devidos a transtorno mental orgânico, médica geral nem melhor explicado
tras pessoas, utilizar mictórios públi- esquizofrenia, transtornos de humor por outro transtorno mental.
cos, dirigir-se a pessoas de autoridade ou transtorno obsessivo-compulsivo.
etc.) e acompanhados por sintomas so-
máticos agudos, tais como palpitações,
tremores, sudorese, tensão muscular,
boca seca, náusea, diarréia ou dor de
cabeça. Os pacientes apresentam
também rubor, tremor e urgência
urinária, e interferência significati-
va no funcionamento social ou ocu-
pacional normal.1 Outra característica
clínica importante é a ansiedade ante-
cipatória, em que os pacientes ficam
muito ansiosos com a perspectiva da
exposição à situação temida. Mais co-
mumente, os sintomas de ansiedade

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• Transtorno de despersonalização encontraram que em 55% dos alcoolistas mipramina em amostras mistas de
Caracterizado como uma alteração fóbicos o alcoolismo era primário, sendo pacientes fóbicos, incluindo fóbicos
persistente e recorrente na percep- que 52% tinham usado álcool para enfren- sociais. No entanto, esses estudos
ção de si mesmo, atingindo um grau tar a situação temida. não discriminaram os resultados
em que o senso da própria realidade por grupo de diagnóstico, sendo que
é temporariamente perdido.6 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO estudos com amostras homogêneas
• Somatoforme a) Inibidores seletivos da recaptação de pacientes são necessários. Porém
Há predominância de queixas somá- de serotonina (ISRS) há relatos de ineficácia com uso de
ticas diversas.1 Há estudos que mostram que a fluoxeti- clomipramina17 e de imipramina.24
• Esquizofrenia na12 e o citalopram13 podem ser bastante Os tricíclicos agravam alguns sinto-
O diagnóstico freqüentemente se funda- eficazes no tratamento da fobia social. mas, como sudorese e o tremor fino
menta em estilos de vida notoriamente Ringold14 descreveu a eficácia da de extremidades.1
bizarros, com delírios e sintomas nega- paroxetina na fobia social em uma
tivos, rigidez afetiva, apatia. observação clínica. A eficácia da pa- d) Benzodiazepínicos
• Transtorno de personalidade esquizóide roxetina também foi demonstrada Há estudos que demonstram a eficá-
O paciente apresenta um padrão vi- em um estudo aberto de 11 semanas cia do alprazolam25 e do clonazepam.26
talício de retraimento social; seu des- que foi seguido por um estudo duplo- Porém há críticas devido ao potencial
conforto com o convívio humano e sua cego de 12 semanas, ambos controlados para abuso e dependência e à possível
introversão e afeto brando e constrito por placebo15. Quase ao mesmo tem- desinibição com uma conduta social
são dignos de nota. São chamados de po Mancini e Ameringen1 revelaram inadequada.
excêntricos, isolados ou solitários. que 80% dos pacientes com fobia social
• Transtornos de personalidade de responderam favoravelmente ao trata- e) Venlafaxina
evitação mento com paroxetina por 12 semanas, Um grupo de pesquisadores (Altamura
O indivíduo apresenta uma extrema em um estudo aberto.16 et al. 1999, apud Nardi, 20001) observou
sensibilidade à rejeição, que pode levá- Sem dúvida os ISRS constituem 12 pacientes durante 15 semanas com
lo a uma vida socialmente retraída. atualmente o tratamento de eleição doses flexíveis de venlafaxina, variando
Essa categoria, na verdade, apresenta da fobia social. As doses comumente entre 112,5 e 187,5 mg/dia. O resultado
critérios diagnósticos sobrepostos com utilizadas são as seguintes: fluoxetina foi favorável, com significativa diferen-
a fobia social. 20-80 mg/dia; sertralina1 50-200 mg/ ça estatística nas escalas utilizadas. Os
dia; paroxetina 20-80 mg/dia; e citalo- efeitos colaterais mais comuns foram
pram 20-80 mg/dia. náusea, cefaléia e ansiedade.
CURSO E COMORBIDADE

S
egundo estudos epidemiológicos b) Inibidores da monoaminoxidase f) -bloqueadores
realizados na comunidade, nos (IMAOs) No tratamento farmacológico da
EUA e na França, respectivamen- Há estudos na literatura que mostram fobia social é preciso se levar em
te, de 41,4% a 45,2% dos indivíduos com a eficácia dos IMAOs no tratamento conta o subtipo do transtorno, isto
fobia social apresentam pelo menos um da fobia social.17 O efeito terapêutico é, circunscrito ou generalizado.27 Na
episódio depressivo diagnosticado.7,8 Ob- da tranilcipromina e da fenelzina no fobia social do tipo não generalizado,
serva-se também a elevada freqüência de tratamento de fobia social sem co- esses fármacos geram uma diminuição
fobia social em pacientes dependentes de morbidade tem sido evidenciado por do tremor e da freqüência cardíaca,
substâncias psicoativas, fato que reforça a estudos abertos e duplo-cegos.17,18,19 Por aliviando, sobretudo, a ansiedade de
hipótese da automedicação nesta comor- outro lado há estudos recentes que não desempenho (ex.: falar em público).
bidade, uma vez que ela tende a preceder confirmam a eficácia do uso de IMAOs Reduzem, porém, os sintomas perifé-
o uso de drogas. No Brasil, Maciel e Gentil reversíveis como a moclobemida.20 ricos de ansiedade, e não a experiência
Filho9 notaram que 70% dos fóbicos sociais Os IMAOs não podem ser conside- emocional do paciente. Na fobia social
por eles estudados referiram que o qua- rados tratamento de primeira escolha, não-generalizada podem ser utilizados
dro fóbico começara antes do alcoolismo, apesar da eficácia comprovada em en- -bloqueadores nas seguintes doses:
sendo que 60% bebiam deliberadamen- saios clínicos controlados com placebo, propanolol 20-80 mg/dia; e atenolol
te para suportar a fobia. De acordo com devido aos efeitos colaterais graves e 50-150 mg/dia.
Marques da Silva,10 a interpretação do seqüelas irreversíveis, interações medi- Estão, atualmente, sendo testados
uso de álcool por pacientes fóbico-so- camentosas e risco de pico hipertensivo. como tratamento da fobia social os se-
ciais tem convergido para a hipótese As doses preconizadas são as seguintes: guintes medicamentos: ácido valprói-
da auto-medicação. De acordo com essa tranilcipromina 30-80 mg/dia; e mo- co, gabapentina e nefazodone, levando
autora, a maior parte dos pacientes não clobemida 300-600 mg/dia. em consideração os efeitos colaterais
ingere substâncias etílicas nos finais de e a dose eficaz.1
semana, mas principalmente durante a c) Antidepressivos tricíclicos
semana, para enfrentar situações gerado- Dois estudos abertos21,22 e um duplo-
ras de ansiedade. Lotufo-Neto e Gentil11 cego23 reportaram eficácia da clo-

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RELATO DE CASO
IDENTIFICAÇÃO: J., 50 anos, sexo masculi-
bulatorial em 1997, com um médico
clínico, em que fizera uso de imipra-
“A fobia social pode
no, cor branca, casado, terceiro grau
completo, ex-militar.
mina e carbamazepina, mas não soube
dizer a dose da medicação. Abandou
ser tratada por
QUEIXA PRINCIPAL: “Tenho vergonha de o tratamento por não acreditar na meio de medidas
falar em público”. melhora.
HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL: Paciente rela- No ano de 2000, retornou o trata- psicoterápicas e
ta que sempre teve dificuldade para
relacionar-se com outras pessoas
mento a pedido de seus familiares e,
desta vez, procurou o serviço de psi-
farmacológicas,
por ser muito tímido. Informou que
ao iniciar os estudos não conseguia
quiatria do IPUB, no qual é acompa-
nhado até os dias atuais.
sendo o ideal
ler em voz alta em público, suava e a combinação
gaguejava, suas mãos começavam a Paciente nasceu de
tremer, e que, por causa disso, seus
HISTÓRIA FISIOLÓGICA:
parto normal desejado, não havendo de ambas. Em
professores o protegiam, não sendo
chamado nessas situações.
intercorrências durante a gestação e
nos pós-parto. Nega atrasos nos marcos
particular, cita-se
Posteriormente, quando ingres-
sou numa força armada, apresentou
de desenvolvimento psicomotor. a terapia cognitiva
dificuldades com a rotina militar, em Paciente apresentou
HISTÓRIA PESSOAL: comportamental…”
que várias vezes tinha de comandar durante a infância e adolescência
um grupo de pessoas. Disse que tinha dificuldades na sua vida social de-
vontade de sumir do local e seu “co- vido à diminuição da auto-estima
ração batia mais rápido”, mas, como e da confiança. Na fase adulta teve
necessitava do emprego, arrumou prejuízo profissional gerado pela
uma transferência para um serviço antecipação ansiosa das situações de
burocrático. desempenho.
Com o nascimento de seu primeiro
filho, observou a piora dos sintomas, Reside em casa própria,
HISTÓRIA SOCIAL:
pois começou a ser exposto a novas si- que possui cinco cômodos, com boas
tuações, como conversar com o médico condições sanitárias.
a respeito da saúde da filha e participar
de festas ou reuniões no colégio. Sua Pai falecido devido a
HISTÓRIA FAMILIAR:
esposa aconselhou-o a procurar ajuda, complicações vasculares da diabetes e
mas ele recusou, até que começou a pre- mãe viva, saudável. Nega doenças psi-
judicar socialmente sua família porque quiátricas nos familiares próximos.
se recusava a fazer passeios, viajar nas renta minutos. Observou que se sente
férias, ir a restaurantes, com vergonha HÁBITOS:Nega uso de substâncias ilíci- mais confiante com o tratamento e que
de ser observado em público. tas, bebidas alcoólicas e tabaco. Nega a cada dia tenta modificar a maneira
O paciente procurou um psiquiatra alergia medicamentosa. que reagia a situações sociais. Nega
e na sua primeira entrevista relatou seu escutar vozes ou sentir-se perseguido
sentimento de inferioridade e tristeza EXAME PSICOPATOLÓGICO:Paciente veio a por outras pessoas.
devido às suas limitações. Apresenta- consulta desacompanhado, com apa-
va insônia inicial, aumento do apetite rência cuidada; apercebe-se clara- Súmula psicopatológica:
e diminuição da libido, o que gerava mente do ambiente, sabe dizer com • CONSCIÊNCIA: vígil, paciente orientado
brigas conjugais. Foi prescrita inicial- precisão data em que nos encontramos. auto e alopsiquicamente.
mente fluoxetina 20 mg/dia e clona- Consegue lembrar de fatos presentes • MEMÓRIA: preservada.
zepam 2,5 mg/dia, havendo melhora e remotos sem dificuldades. Consegue • HUMOR: eutímico.
do padrão do sono após 1 semana de memorizar uma série de palavras. Ob- • PRAGMATISMO: hipopragmático.
tratamento. Após 5 semanas de trata- servo que está inibido, comento o fato; • VONTADE: hipobúlico.
mento houve melhora dos sintomas ele responde estar com “vergonha” por • AFETO: preservado.
fóbicos, conseguindo fazer programas ter faltado na última consulta e diz • SENSOPERCEPÇÃO: sem alterações.
como ir a restaurantes com a família e ter esquecido do horário. Afirmou • LINGUAGEM: sem alterações.
conversar com pessoas desconhecidas. que veio sozinho e de ônibus, e que • PENSAMENTO: curso sem alterações,
Atualmente está em tratamento e re- agora não se sente mais tão observado idéias sobrevalorizadas relacionadas
conhece a importância do tratamento pelas pessoas, disse que leu algumas ao medo de passar por situações de
devido à melhora do padrão de vida. páginas de uma revista para “relaxar” exposição social.
Do ponto de vista cronológico, o porque normalmente esse percurso, da • JUÍZO CRÍTICO: preservado.
paciente iniciou seu tratamento am- sua casa ao consultório, demora qua- • PSICOMOTRICIDADE: sem alterações.

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DISCUSSÃO Nelson CB, Hughes M, Eshleman S, et al. dose-response trial. J Clin Psychopharmacol

O
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Catchment Area Study. Psychol Med 20. Noyes R Jr, Moroz G, Davidson JR, Tel./Fax: (21) 2295-3449 - ramal
1993;23(3):709-18. Liebowitz MR, Davidson A, Siegel J, et al. Ambulatório) Fax: (21) 2521-6147
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