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os sentimentos que prevalecem, tanto do cliente quanto do ser melhor compreendidos através de uma análise multidisci-
profissional, são de impotência e desesperança. plinar e que o tratamento adequado envolverá uma aborda-
É importante salientar que uma informação adequada gem múltipla, com a partidpação de profissionais de diversas
sobre as características do transtorno, bem como sobre suas especialidades, específica para cada caso.
implicações tanto para a vida do portador como da família, é Procuramos escrever este livro em uma linguagem o mais-::::-=.:..
fundamental para que ele seja adequadamente diagnostica- clara possível. Os conceitos abordados são definidos e explica~--:--
do e tratado. E é a família do portador quem primeiramente dos ao longo do texto, e as referências são fornecidas ao final-:-
suspeita do diagnóstico. Escolhemos este formato para o livro, com perguntas e respos-
Com freqüência, os portadores não percebem com cla- tas, para facilitar a leitura dos portadores, uma vez que, geral-
reza suas dificuldades, atribuindo-as a outros fatores, normal- mente, eles apresentam dificuldade em concentrar-se por mui-
mente externos. Portanto, é de capital importância a orienta- to tempo em um foco. Assim, fica mais dinâmica a sua interação
ção à família sobre como lidar com o portador, sobre como com o tema, podendo a leitura ser feita em qualquer ordem,
abordar o problema com ele e a quem recorrer. de acordo com o interesse de cada um.
A ausência de orientações específicas na literatura para Abordamos o TOA/H dentro da visão biopsicossocial. Isso
os familiares dos portadores se faz sentir. Muitas vezes, ações quer dizer que o TOA/H é uma síndrome complexa que envol-
são tomadas de modo intempestivo, com conseqüências ines- ve diversos aspectos do indivíduo: o biológico, o psíquico e o
peradas que poderiam ser evitadas. social.
Neste livro, apresentamos a nossa forma de ver o TOA/H A abordagem biopsicossocial nasceu na área das ciências
e reiteramos que ela se dá através de uma abordagem da saúde como uma resposta às visões fragmentárias que
biopsicossocial, em consonância com a abordagem sistêmica tendem a focar um certo nível de investigação e intervenção
às famílias. Isso implica que a visão do problema e dos méto- em detrimento de outros. Todos os níveis (biológico, psíquico
dos de tratamento abrange os vários aspectos: do nível bioló- e social) são importantes e possuem dois aspectos relevantes
gico até o nível das relações sociais, passando pelo aspecto para a nossa compreensão do TOA/H.
psicológico. Acreditamos, baseados em evidências das pes- Primeiramente, possuem um certo grau de autonomia,
quisas recentes, que o TOAlH e suas co-morbidades podem atuando em um padrão de auto-referência de funcionamen-
to nas fronteiras do próprio nível, o que quer dizer que são Este fato tem sido amplamente reconhecido na área
independentes, até certo ponto, do que ocorre no outro ní- das ciências da saúde, influenciando os padrões de estudo e
vel. Em segundo lugar, demonstram um grau de entrelaça- o tratamento mais modernos-Assim, é importante a investi-
mento que afeta os diversos níveis reciprocamente em mui- gação dos fatores e das relações envolvidas e o delineamento
tos aspectos, criando uma rede complexa de interação. de intervenções adequadas à complexidade de cada caso. É
O modelo básico que orienta esta abordagem é a Teoria com essa visão que abordamos o TDA/H.
Geral dos Sistemas, a qual permite abordar os múltiplos níveis,
respeitando a complexidade de cada um e apontando sua inter-
relação. Assim, o nível biológico permite a emergência dos as-
pectos psicológicos, mas é também, até determinado ponto,
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TOA/H)
influenciado por ele. O mesmo ocorre com o 'nível social.
é o nome dado a uma síndrome neurobiológica. Essasíndrome
A abordagem biopsicossocial nos diz que uma interven-
foi descrita pela primeira vez em 1845 pelo psiquiatra alemão
ção em qualquer nível afetará, de modo múltiplo, os outros
Heinrich Hoffrnann no livro Zappelphilipp. Desde que foi des-
níveis. Por exemplo, uma intervenção em um problema bioló-
crita de forma mais completa por Still, em 1902, recebeu
gico, como a miopia, através de uma cirurgia corretiva, pode
diversos nomes ao longo do tempo. Já foi chamada de inibi-
afetar, dependendo do indivíduo, a maneira como ele se sen-
ção de volição, lesão cerebral mínima, disfunção cerebral
te e se "vê", melhorando sua auto-estima, mudando aspec-
mínima, reação hipercinética da infância e distúrbio do défi-
tos de suas relações sociais. Porém, não existem evidências
cit da atenção, à medida que mudavam as hipóteses sobre
cientificamente confiáveis de que mudanças psicológicas al-
sua causa.
terem ou corrijam a miopia.
Atualmente, o nome ,fI dado em referência aos sinto-
Por outro lado, mudanças no ambiente social, como uma
mas do quadro, e não à sua possível origem. Esse nome foi
maior qualidade nas relações no trabalho, podem alterar o nível
adotado, tanto pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Trans-
de estresse psicológico do indivíduo, levando a uma melhora de
tornos Mentais (DSM-IV-TR), que é elaborado pela Associa-
quadros como diabetes ou hipertensão arterial. Toda interven-
ção Americana de Psiquiatria, como pela Classificação Inter-
ção atinge de forma diferente, dependendo dos aspectos de
nacional de Doenças, em sua 10a Edição (CID-lO).
autonomia e entrelaçamento, múltiplos níveis e sistemas.
o TDA/H é uma das síndromes neuropsiquiátricas mais pectos, como a labilidade, que éa capacidade de a atenção
comuns. Ela se caracteriza pela presença de vários sintomas fluir de um foco para o outro de acordo com a relevância dos
relacionados entre si, os quais podem apresentar-se ou não estímulos focados para o indivíduo e de suas ações. Já a tena-
simultaneamente. cidade é a capacidade do indivíduo em manter o foco de sua
Podemos subdividir, de acordo com o DSMcIV, o TOA/H atenção em um estímulo.
em três tipos: Diversos fatore-s afetam a atenção e a coordenação do
comportamento. como motivação; conflitos, ambiente social,
Transtorno de déficit de atenção com predomínio do estado de consciência e estado psicofisiológico do indivíduo.
sintoma de desatenção. A atenção é, portanto, resultado de um processo bastante
Transtorno de déficit de atenção com predomínio do complexo, o qual envolve a percepção temporal e o planeja-
sintoma de hiperatividade. mento, entre outros fatores. O TDA/H pode afetar, de forma
_. Transtorno do déficit de atenção combinado, no qual diferente em cada indivíduo, os diversos aspectos envolvidos
ambos os sintomas manifestam-se. no funcionamento da atenção e nas tarefas em que ela é
necessária, como no planejamento, na organização e no con-
trole dos estímulos.
O TDA/H afeta não só o portador, como também sua
rede de relações: família, cônjuge, filhos e ambiente de tra-
Os principais sintomas do TOA/H são dificuldade de man-
balho. Além disso, o TOA/H pode vir acompanhado de outros
ter a atenção, a inquietação, que se traduz por uma grande
problemas psicológicos, o que torna sua manifestação mais
agitação motora e mental, e a impulsividade.
complexa.
A atenção é uma atividade mental complexa que pode
Em geral, o TOAlH começa a se manifestar já nos primei-
ser definida como a capacidade do indivíduo em manter uma
ros cinco anos de vida, embora o diagnóstico só possa ser fei-
focalização em uma parte do estímulo do ambiente em detri-
to, com precisão, a partir dos 7 anos, devido ao processo de
mento das outras fontes de estimulação, organizando suas
amadurecimento do sistema nervoso central, o qual pode mas-
ações em função do foco da ação e considerando os aspec-
carar o quadro. Suas principais características mais facilmente
tos relevantes para seus atos. A atenção possui diversos as-
observáveis são a falta de persistência em atividades que re-
queiram envolvimento cognitivo e uma tendência a mudar de
uma atividade para outra sem completar nenhuma, associada, Os diversos estudos têm apontado que o TOA/H é origina-
em alguns casos, a agitação excessiva, desorganização e au- do de alterações no funcionamento cerebral, especificamente
sência de controle sobre os impulsos. Com freqüência, as crian- na parte anterior do cérebro, chamada lobo pré-frontal, e dos
ças com TOA/H comportam-se de forma distraída, imprudente demais circuitos neurais que envolvem o processo da atenção.
e impulsiva, levando a um maior número de acidentes domés- Essa importante parte da anatomia cerebral parece ser respon-
ticos, como quedas, cortes, fraturas e queimaduras. Além dis- sável por um padrão de filtragem das informações, coordenan-
so, devido ao estresse, podem apresentar um maior número do a atenção do indivíduo. Embora não se saiba com precisão as
de doenças oportunistas e de disfunções. causas do TOA/H, diversos estudos têm apontado causas de ori-
Em conseqüência da impulsividade, a criança portadora gem genética e de origem biológica como principais fatores. Tais
de TOA/H tende a ser impopular com outras crianças, já que estudos indicam que múltiplos genes, combinados ou não com
rompe com as regras que não foram bem-assimiladas, ou já fatores ambientais, podem levar ao aparecimento do TOA/H. Isso
que não consegue mantê-Ias. não quer dizer que o ambiente não tenha peso, mas que o
Caso o ambiente social não seja adequado, complica- fator genético é preponderante. De fato, observamos diferen-
ções secundárias podem ocorrer, como baixa auto-estima, in- tes direções na evolução do TOA/H em função do ambiente
segurança, desajuste social, comportamento anti-social e abu- familiar e social. Quanto mais organizada e adequada for a
so de drogas, levando, em casos extremos, à criminalidade. estrutura familiar, melhor será a evolução possível do quadro.
Esses sintomas de modo isolado podem estar presentes por Diversas pesquisas indicam que ambientes sociais caóticos e
inúmeras razões, e apenas um profissional treinado pode diag- adversos estão fortemente relacionados com o agravamento
nosticar corretamente se isso está relacionado ao TOA/H ou a do quadro e com o aparecimento simultâneo de outros trans-
outros quadros. tornos.
o TDA/H é uma das síndromes psiquiátricas mais co- Apenas um profissional treinado pode diagnosticar cor-
muns, sendo encontrada em estudos epidemiológicos uma retamente o TDA/H7-pois, além de conhecer os sintomas e as-- .s..:': -

predominância de, aproximadamente, 3 a 7% na população variantes do quadro clínico, ele deve também conhecer as ou-
infantil. Assim, em uma sala de- aula com 30 alunos, encon- tras síndromes ou as características de ciclos de vida que
traremos, em média, um ou dois portadores. O número de poderiam ser confundidas com TDA/H. Porém, o quadro geral-
portadores de TDA/H está distribuído de igual maneira nas mente chama a atenção pela discrepância do comportamento
diversas classes sociais e econômicas. Em média, 60% dos do portador em relação a outros indivíduos da mesma idade.
portadores ainda terão alguns sintomas na vida adulta. É importante lembrar que o TDA/H apresenta três ca-
O TDA/H está distribuído na população de forma muito racterísticas notáveis: dificuldade de manter a atenção,
semelhante, mesmo em países de diferentes culturas, como hiperatividade e impulsividade.
Estados Unidos, Japão e índia. No entanto, as pesquisas apon- No TDA/H, estas características encontram-se acentua-
tam um percentual maior de portadores de TDA/H na Alema- das para além do usual e para a idade do portador, causan-
nha. Estudos indicam que há uma incidência sete vezes maior do-lhe prejuízos pessoais e sociais.
em famílias com um membro portador do que em famílias Tipicamente, o portador é descrito como distraído, a mil
que não apresentam portadores. É comum, nos estudos, en- por hora (ou ambos), dependendo do tipo de sintoma que
contrarmos uma presença de três portadores do sexo mascu- nele prevalece.
lino para cada portadora do sexo feminino. Nas portadoras, Quando criança. o portador pode apresentar dificulda-
há um predomínio do TDA/H com sintomas de desatenção. des em seguir instruções, acompanhar a aula e comportar-se
de maneira coordenada com a situação. Pode, caso seja em rodas sociais e classificadas como mal-educadas, "enca-
hiperativo, movimentar-se o tempo todo, ter uma grande di- petadas" ou sem limites.
ficuldade em ficar parado, mesmo brincando. Alguns porta- Na adolescência, o portador freqüentemente já carrega
dores podem apresentar ambas as características. É comum a consigo muitos dos rótulos relacionados aos sintomas do TDA/
presença de dificuldades escolares ou de aprendizagem sem H. Traz também uma história escolar, muitas vezes, frustrante
que o portador apresente déficit de inteligência. e deficiente em muitas áreas. Por experimentar, na maior parte
Quando adultos, os portadores podem ainda ter os sinto- dos casos, uma baixa auto-estima, tem dificuldades em man-
mas ou na mesma intensidade ou em intensidade menor ou ter um relacionamento social estável e íntimo. Trocas de gru-
não manifestá-los mais, uma vez que 40% dos portadores, pos de amigos são freqüentes, e, nos casos de hiperativos, tam-
com o tempo, tendem a apresentar melhoras significativas. bém ocorre envolvimento com esportes radicais, com ativida-
O portador de TOA/H possui, além dos sintomas já des- des dinâmicas e de risco. Mudanças no dia-a-dia, na sua rotina
critos, algumas das seguintes características: ou nos planos de vida tornam-se habituais. Um dos aspectos
Na infância, relacionados com o TOA/H, encontramos mais problemáticos dos portadores de TOA/H é sua
agitação psicomotora, dificuldade em seguir instruções e re- suscetibilidade em envolver-se com drogas e álcool.
gras, e os "combinados". Acidentes pessoais são mais fre- Na fase adulta, cerca de 40% dos portadores chegam a
qüentes, bem como doenças oportunistas e envolvimento com ela sem os sintomas de déficit de atenção, hiperatividade e
travessuras e brincadeiras de risco. São comuns a presença impulsividade, mas com traços do seu desenvolvimento marca-
de atraso psicomotor e a dificuldade em manter a atenção dos pelo TOA/H. Cerca de 60% dos portadores tornam-se adul-
em tarefas pouco motivadoras. A hora do "para casa" costu- tos com sintomas marcantes do TOAIH, com reflexos em sua
ma ser um terror, principalmente para os pais, os quais se vida profissional, afetiva e sexual, Além das dificuldades escola-
sentem perdidos e desafiados pelas interrupções, pelas res que afetam a sua formação, os portadores enfrentam,
desatenções e pela falta de engajamento da criança. É usual comumente, conseqüências dos sintomas básicos do quadro que
a dificuldade em manter tarefas rotineiras, como a higiene se traduzem em mudanças freqüentes de carreira ou de empre-
pessoal. Devido ao comportamento às vezes impulsivo ou go, dificuldades em lidar com tarefas e rotinas profissionais diá-
desatento, as crianças portadoras de TOA/H são preteridas rias que envolvam atenção constante, planejamento e
agendamentos de horários. Podemos observar uma taxa mais da vida escolar, é que os sintomas revelamcse de forma mais
elevada de mudanças geográficas entre os portadores, quando perceptível, geralmente destacando o portador do padrão de
comparados com os não-portadores. Embora, em geral, sejam desenvolvimento esperado para a sua idade. O TDA/H afeta
indivíduos criativos e inteligentes, apresentam dificuldades de o portador em diversos aspectos de sua existência e tem um
concretizar este potencial. Sua vida-afetiva é marcada pela insta- curso longo, podendo apresentar, em alguns casos, uma me-
bilidade. Suas ligações afetivas interrompem-se freqüentemente lhora ao atingir a vida adulta, principalmente no que se refere
devido à sensação de insegurança e desatenção despertada no aos sintomas de hiperatividade.
parceiro. Apresentam também taxas de divórcio acima da média O diagnóstico de TOA/H é clínico: deve ser feito por um
da população. Sua vida sexual tende a dois extremos: um mar- profissional (psiquiatra, neurologista ou psicólogo) adequa-
cado pela hipossexualidade e o outro, por uma hipersexualização. damente treinado, o qual conheça os sintomas, o curso de
No primeiro caso, o sexo é vivido com dificuldade acentuada de evolução da síndrome, os padrões normais do desenvolvi-
engajamento e manutenção do ato sexual. No segundo, o sexo mento humano e a diferença entre este e outros transtor-

é vivido de forma a trazer um alívio para seus sintomas, como nos. A avaliação diagnóstica deve sempre envolver os pais,

um estímulo estabilizador. os membros da família que convivem com a criança e a esco-

O TDA/H pode estar acompanhado de outras síndromes la. No caso de portadores adultos, a família e o cônjuge de-

(co-rnorbidades) e dificuldades, as quais tornam o quadro vem participar do processo diagnóstico, contribuindo com

muito diversificado. informações.

É importante frisar que, se o portador é diagnosticado e Como critério de diagnóstico, podemos nos orientar pelo

tratado adequadamente, tanto os seus sintomas quanto o seu Manual Diagnóstico e Estatísticq de Transtornos Mentais

desenvolvimento tendem a uma melhora bastante significativa. (DSM-IV-TR), elaborado pela Assóciação Americana de Psi-
quiatria, bem como pela Classificação Internacional de Doen-
ças, atualmente em sua 102 edição (CID-1 O). Os critérios do
DSM-IV são mais freqüentemente usados em pesquisa e fo-
ram por nós adotados. Cabe ressaltar que esses critérios fo-
O TDA/H, na maior parte das vezes, se manifesta muito ram elaborados fundamentando-se em pesquisas sobre o
cedo na vida do portador, mas apenas mais tarde, com início TDA/H e na prática clínica.
o diagnóstico do TDA/H, segundo os critérios do DSM- dade de compreender as instruções nem a um com-
IV, baseia-se na análise de cinco aspectos que devem estar portamento de oposição à autoridade.
simultaneamente presentes. ~, Ter dificuldade para organizar tarefas e atividades.
Em primeiro lugar, é necessário que sintomas de ';" Evitar tarefas que exijam esforço mental constante
desatenção, hiperatividade ou impulsividade estejam presentes, ou antipatizar com elas, como tarefas escolares, es-
com prejuízo significativo para o portador. Essaavaliação é reali- tudos, deveres de casa ou do trabalho. E só com relu-
zada analisando-se a presença, na vida do paciente, de um míni- tância envolvem-se com elas.
mo de seis sintomas, que são os mais comumente associados ao :) Perder brinquedos, lista de deveres escolares, lápis,
TDA/H. Deve-se considerar que eles devern ser incompatíveis livros ou outros materiais, os quais são necessários
com o que se espera para a idade do portador, com a fase de para tarefas ou atividades.
desenvolvimento e com a situação clínica em geral. ~l Distrair-se facilmente das tarefas que está engajado
Os sintomas para desatenção devem ser freqüentes na devido aos estímulos alheios. '
vida do portador, estando presentes nos últimos seis meses. \) Apresentar dificuldades para se lembrar de coisas ne-
Podem ser: cessárias em atividades diárias.

;) Deixar de prestar atenção a detalhes ou cometer erros Já para o diagnóstico de hiperatividade e impulsividade,
por descuido em atividades escolares, profissionais ou podemos encontrar pelo menos seis dos seguintes sintomas
outras. que, freqüentemente, se repetem na vida do portador, pre-
"" Ter dificuldade, nas tarefas ou em atividades lúdicas, sentes nos últimos seis meses: ' .
em manter a atenção no que faz.
~i Distrair-se e não escutar quando lhe dirigem a pala- !i Agitar mãos ou pés 'ou remexer-se na cadeira cons-
vra. tantemente sem razão aparente.
i); Ter dificuldade em seguir instruções e concluir deve- ~) Abandonar sua cadeira diversas vezes em situações
res escolares, tarefas domésticas ou deveres profissio- nas quais se espera que permaneça sentado, como
nais, sendo que a dificuldade não se deve à incapaci- na sala de aula, na igreja, no momento das refeições
ou em outra atividade.
,.
,

o Agitar-se, correndo ou escalando de forma inapro- Em quinto lugar, estes sintomas devem ser constantes,
priada para a situação. Para os adolescentes e adul- não ocorrendo apenas em cOncomitância com outros proble-
tos, podem ocorrer apenas sensações subjetivas de mas psiquiátricos ou em deéorrência de problemas orgânicos.
inquietação. Para o diagnóstico do TOA/H, segundo os critérios do
l, Demonstrar dificuldade para brincar ou envolver-se DSM-I\I, é necessário que todos os cinco pontos sejam satis-
silenciosamente em atividades de lazer. feitos simultaneamente. Para determinar qual o tipo (com pre-
ffl Estar sempre agitado, "a mil por hora", ou, às vezes, domínio de desatenção, de hiperatividade ou combinado), é
agir como se estivesse" a todo vapor". necessária a presença de sintomas que o caracterizem. O pre-
[ó1 Falar demais, além do adequado. domínio deles é que caracterizará o quadro diagnóstico.
i:' Dar respostas precipitadas, antes mesmo de as per- Assim, se houver a presença tanto de desatenção como
guntas terem sido completadas. de hiperatividade, o diagnóstico será Transtorno de Déficit de
k~ Ter dificuldade para aguardar sua vez. Atenção/Hiperatividade Tipo Combinado.
[~ Interromper conversas ou brincadeiras de outros ou Caso apenas sintomas de desatenção estiverem presen-
intrometer-se nelas sem ser convidado. tes, o diagnóstico será de Transtorno de Déficit de Atenção/
Hiperatividade Tipo Predominantemente Desatento.
Em segundo lugar, é preciso que alguns destes sintomas Quando o sintoma de hiperatividade predomina sem sin-
estivessem presentes antes dos 7 anos do portador. tomas de desatenção, o diagnóstico será de Transtorno de
Em terceiro lugar, estes sintomas devem ocorrer, com Déficit de Atenção/Hiperatividade Tipo Predominantemente
prejuízos significativos para ° portador, em pelo menos dois Hiperativo-Impulsivo.
ambientes distintos, como casa e trabalho, casa e escola ou Certos casos podem não satisfazer todos os critérios,
casa e outro ambiente social. como aqueles em que adultos e adolescentes não apresen-
Em quarto lugar, é necessário haver claras evidências de tam mais alguns sintomas e, assim, são considerados em re-
prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, missão parcial. Outros não apresentam todos os sintomas,
acadêmico ou profissional. Ou seja, os sintomas devem ser mas apenas a presença de alguns deles que trazem prejuízos
suficientes para perturbar o portador.
clínicos significativos, tratando-se de Transtorno de Déficit de A declaração foi encabeçada por Russell A. Barkley, pro-
Atenção/Hiperatividade sem outra especificação. fessor de Psiquiatria e Neurologia da Universidade de
Massachussetts Medicai School, Estados Unidos, e contou com
a assinatura de cerca de mais de 80 renomados pesquisadores.
Seu principal objetivo foi desfazer uma série de mal-
entendidos sem fundamento científico que os meios de co-
municação têm veiculado sobre o TOA/H.
Como em qualquer problema médico-psicológico, sabe-se
Estes são os principais pontos da declaração:
muito sobre alguns aspectos do TDA/H e pouco sobre outros.
Existem pontos que se encontram firmemente embasados no b Não existe dúvida de que o TOA/H é um transtorno
conhecimento científico e que têm guiado o tratamento com genuíno.
melhor qualidade e sucesso. Portanto, certas crenças sem fun- li> Existe suficiente evidência científica de que esse trans-
damento sobre o TDA/H são, às vezes, veiculadas de forma sen- torno compromete mecanismos físicos e psicológicos
sacionalista e equivocada, causando alvoroço. Algumas delas são que são comuns a todas as pessoas.
as seguintes. ti As deficiências ocasionadas pelo TOA/H podem acar-
retar sérios prejuízos à vida da pessoa.
8' Existe comprovação de que o TOAlH pode ser res-
ponsável por maior mortalidade, maior morbidade,
Este mito, talvez o mais pernicioso em relação ao TOA/H, por prejuízos na vida social, no funcionamento fami-
surgiu devido à pouca compreensão do problema do TOA/H, liar, nos estudos e na aquisição de uma vida indepen-
atribuindo-o a uma invenção da mídia e da indústria farmacêu- dente.
tica. Mas o TOA/H é real e traz uma parcela considerável de ~, As pessoas com TOAlH estão mais suscetíveis a aci-
sofrimento tanto para os portadores como para seus familiares. dentes.
Em 2002, renomados especialistas assinaram uma de- i) A contribuição maior para a ocorrência deste trans-
claração conjunta, preocupados com a má informação que torno deve-se a fatores genéticos e neurológicos, sen-
vem cercando o conhecimento sobre o TOA/H. do que o ambiente familiar contribui pouco para isso.
.. o TDAlH não é um problema benigno. Pode trazer o TDAlH pode se manifestar com diferentes intensidades
problemas muito sérios. de sintomas e co-rnorbidades. Nesses casos, a literatura cientí-
\ Quem tem o transtorno apresenta uma chance maior fica indica que, para as dimensões básicas do transtorno (a
de abandonar os estudos. hiperatividade, o déficit de atenção e a impulsividade), o me-
i:' A pessoa com TDAlH está mais sujeita a ter um rendi- lhor resultado é alcançado com o uso de psicofármacos. No
mento baixo no trabalho. entanto, o uso de medicamentos controlados deve ser acom-
~; Gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis, panhado com muito cuidado por médicos adequadamente trei-
multas de trânsito, conflitos matrimoniais e depressâo nados para isso, pois cada paciente é único, assim como as
são mais comuns nos portadores de TDAlH do que em suas circunstâncias. A adequação do tipo de medicamento, a
outras pessoas. dosagem, a tolerância ao medicamento e os efeitos colaterais
[:) Uma pequena parcela das pessoas no mundo corri devem ser sempre avaliados.
esse transtorno está em tratamento. Todo medicamento interfere no funcionamento do or-
ganismo; afinal, é para isso que eles servem. Assim, ao mes-
Portanto, para que seja tratado, o TDAlH deve ser con- mo tempo em que atua sobre o problema, pode também
siderado uma condição real que demanda uma abordagem produzir reações adversas que podem variar dependendo do
realista e objetiva. indivíduo, da dosagem e do tipo de medicamento. O acom-
panhamento médico é, portanto, fundamental.
Os medicamentos em uso hoje para TDAlH foram testa-
dos em estudos com milhares de pacientes, e os riscos do uso
Sam Goldstein, renomado psicólogo norte-americano, dos medicamentos são conhecidos. É consenso na literatura
afirma que o risco de não tratar o transtorno é certamente científica que os benefícios de seu uso ultrapassam bastante
maior que o risco do tratamento. Como qualquer transtorno os riscos, sendo que eles podem ser adequadamente
neuropsiquiátrico, o TDA/H exige uma abordagem monitorados e, no caso de sua ocorrência, suprimidos. De
multidisciplinar, um diagnóstico claro e um acompanhamen- fato, em estudos controlados com metilfenidato, cerca de 96%
to adequado, não só dos desdobramentos do transtorno, dos pacientes não apresentaram nenhum efeito adverso, e,
como também das conseqüências dos tratamentos.
no caso dos 4% restantes, os efeitos foram transitórios e de- se encontra na literatura científica mundial nenhum estudo que
sapareceram com a mudança ou suspensão da medicação. corresponda aos critérios metodológico científicos que demons-
trem a eficácia de métodos alternativos para o tratamento do
TDNH. Ainda não foi demonstrada a eficácia de nenhum mé-
todo da medicina alternativa para o tratamento do TDNH.
Outra crença errônea é a de que o TDNH, em particular
a hiperatividade, é causado pelo consumo de açúcar. Na litera- (; r:,}}\iH é ;[;;~us·,YJü T!{)( ';:'i),(.3j1·r!.:"~~'
tura científica, não existem estudos controlados que confirmem
essa afirmação. É possível que tal crença deva-se ao diagnósti- Embora algumas crianças possam ser suscetíveis a aler-
co errôneo de TDNH em crianças ou adultos portadores de gias a corantes, conservantes e outros aditivos químicos utili-
distúrbios do processamento de açúcares, como no caso de zados pela indústria alimentícia, não se encontrou em ne-
diabetes ou hipoglicemia. Nesses casos, a adição de açúcar na nhum estudo controlado nenhuma relação entre o consumo
dieta pode provocar alterações no comportamento, no humor de produtos alimentícios e o TDNH. Os estudos freqüente-
e nas capacidades cognitivas, incluindo a atenção. Isso revela a mente citados como "prova" desse mito são mal-projetados
importância do diagnóstico diferencial de TDNH. É importante e não correspondem a critérios metodológicos científicos ade-
ressaltar que não existe nenhuma relação entre TONH e dis- quados. Isso não quer dizer que o consumo indiscriminado
túrbios do processamento de açúcares. No caso de uma co- de corantes químicos não faça nenhum mal. Ou seja, até o
morbidade entre TDNH e diabetes, ambos os quadros devem presente momento não existe nenhuma evidência válida de
ser tratados adequadamente. que exista alguma relação de causalidade entre o consumo
de aditivos químicos nos alimentos e o TDNH.

Como reiteramos, apenas por meio de um estudo cuida- Os estudos científicos mostram que o TDNH é um trans-
dosamente controlado é que se pode afirmar sobre a eficácia torno que tem causa eminentemente neurobiológica e que o
de um determinado tratamento. Até o presente momento, não ambiente social pode apenas influenciar na maneira como
ele se manifesta e desenvolve-se, mas não na sua causa. Al- Alguns estudos foram divulgados sugerindo que isto se-
guns estudos, no entanto, revelam que crianças submetidas ria verdade, levando muitos pais a gastarem qrandes somas
a estresse extremo por longo período e em idade precoce de dinheiro com um método de tratamento no qual deposi-
podem apresentar transtornos de atenção e 'hiperatividade taram todas as suas esperanças. Porém, estudos controlados
associados a outros sintomas característicos. Entretanto, ca- indicam que os resultados iniciais apareceram devido ao cha-
sos assim são extremos. Na grande maioria de casos, não existe mado efeito placebo. O efeito placebo ocorre devido à ex-
história de abuso severo relacionado cof!l o TDNH, embora pectativa que o paciente ou o médico tem de que um dado
muitas famílias relatem o estresse de lidar com o portador. A tratamento será efetivo, o que afeta a maneira como o paci-
criação e a educação dos filhos são importantes responsabili- ente se comporta por algum tempo, bem como as avaliações
dades que os pais assumem, mas nem sempre é fácil saber o realizadas por outras pessoas sobre o seu estado. Em uma
que e como fazer. Sentir-se perdido na educação de uma crian- análise mais ampla, estudos que controlaram o efeito placebo
ça com TDNH é normal e não significa que os pais sejam não encontraram nenhuma evidência de resultados positivos
responsáveis pelo surgimento do quadro; porém, são respon- com o uso de biofeedback.
sáveis pelo que se faz a partir do seu aparecimento.

O risco deste mito é que sugere que, como o TDNH


Diversos métodos têm surgido como promessa de cura pode melhorar com o tempo, não é preciso fazer nada para
para o TDNH. Em anos recentes, alguns profissionais acredi- tratá-lo. No entanto, o TDNH é uma doença que tende a
taram que processos de controle da atividade cerebral pelo deixar seqüelas, mesmo naqueles indivíduos que têm uma
próprio indivíduo poderiam solucionar o problema. Esse con- melhora significativa na idade adulta, o que ocorre apenas
trole é realizado pela interferência do próprio indivíduo sobre em 40% dos casos.
sua produção de ondas cerebrais a partir de um monitora- Para os demais portadores, os sintomas do TDNH pro-
mento por meio de um eletroencefalograma. Nesse caso, cria- longam-se por toda a vida. O TDNH traz uma série de perdas
se um laço de realimentação (feedback). significativas relacionadas à aquisição de comportamentos
adequados, à formação profissional e ao desenvolvimento psi- auto-estima do portador, possibilitando um prognóstico mais
cológico, comprometendo aspectos sociais, cognitivos, afetivos favorável.
e sexuais.
Assim, deve-se tratar com cautela esta afirmação, pois,
embora seja verdade para uma parcela pequena de portado-
res, não o é para a maioria. Portanto, todo portador de TDAlH
deve buscar tratamento, independentemente de qual o pa- A adicção ou o vício de uma dada substância psicotrópi-
drão de desenvolvimento do seu caso. ca é uma das condições mais graves, pois compromete o seu
portador em importantes áreas de sua vida e de sua saúde.
Dois tipos de adicção podem ocorrer: a bioquímica, na qual a
droga altera o padrão neuroquímico e fisiológico de funcio-
As pesquisas indicam o contrário disso. Crianças, ado- namento do sistema nervoso central do indivíduo, provocan-
lescentes e adultos tratados com o metilfenidato, quando in- do, via de regra, uma sensação de euforia e bem-estar asso-
dicado, têm um prognóstico melhor do que sem o seu uso. ciada a outras alterações, como do humor, da cognição, do
Isso se deve ao fato de tal medicamento favorecer os proces- afeto, do comportamento, entre outras; e a psicológica, na
sos de atenção, melhorando o nível de autocontrole e qual o indivíduo apresenta uma necessidade psicológica e emo-
gerenciamento pessoal e permitindo um maior controle dos cionai de uso da substância.
impulsos. Muitos portadores relatam que o uso de drogas e A retirada da substância provoca, quando a adicção é
álcool são tentativas ou meios de controlar o seu estado psi- de fundo neurobiológico, a chamada síndrome de abstinên-
cológico, combatendo a dispersão e a depressão. cia, a qual se manifesta COrnD uma profunda ansiedade pelo
O tratamento psicofarmacológico adequado, quando desejo de consumo da droga, seguida de estados de agita-
em combinação com o tratamento psicoterapêutico, me- ção, angústia, depressão e, às vezes, choque fisiológico. O
lhora os relacionamentos afetivos e reforça positivamente a mesmo não ocorre nas adicções de fundo psíquico. t, por-
tanto, compreensível o receio de que o metilfenidato ou ou-
tras substâncias psicofarmacológicas possam desencadear
algum tipo de dependência.
O metilfenidato é uma droga diferente quimicamente da Estudos controlados mostram que, embora possa ocor-

cocaína e, quando ingerido por via oral, não causa dependên- rer uma pequena diminuição no ritmo de crescimento e perda
de peso, estes aspectos não são clinicamente significativos, pois
cia no sentido biológico. Do ponto de vista psicológico, como o
uso do metilfenidato produz uma sensação de despertar pro- tendem a se recompor ao longo do tempo até a idade adulta.
A diminuição no ritmo do crescimento não parece afetar a
nunciada no portador de TOA/H, acompanhada de uma maior
concentração e de maior controle, é comum que os portado- média de altura dos portadores que fizeram uso do metilfenidato,

res busquem o seu uso, não caracterizando dependência. ficando eles dentro da média esperada de crescimento.

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