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IFBA- INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DA BAHIA- CAMPUS DE VITÓRIA DA CONQUISTA

COEEL – Coordenação de Engenharia Elétrica

LÍNGUA PORTUGUESA – I Semestre

- ATIVIDADE DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA -

Tema: Resenha crítica do livro “Canivete”

Professor: João Rodrigues Pinto

Aluno: Arthur Moreira Aguiar

Turma: 2021.1

Período: 1º Semestre

Data de Entrega: 22/07/2021.

Vitória da Conquista – 2021


RESENHA CRÍTICA

PINTO, João Rodrigues. Canivete / João Rodrigues Pinto - 3. ed. - Teixeira de


Freitas, BA: Ramagrafi, 2017. 260p.

1 RESUMO DA OBRA

O livro “Canivete”, trata-se de um romance em primeira pessoa, que narra a


triste história de vida do personagem homônimo, um menor abandonado da periferia de
São Paulo. Canivete, ou Tomás, seu nome verdadeiro, é também baseado no
protagonista da peça “Feira dos Oprimidos”, que reflete sobre a situação de crianças que
vivem nas ruas, que também inspirou boa parte do contexto do romance.

Sob esse viés, no prólogo, é apresentado o personagem principal em sua fase


adulta cumprindo pena na prisão, adoentado e preso num vaivém entre a vida e morte.
Ironicamente, a data de sua liberação da cadeia está se aproximando e assim, muitos de
seus companheiros de cela permanecem com a dúvida do porquê Canivete nunca ter
recebido nenhuma visita. Esse questionamento, desperta nele inúmeras lembranças de
sua vivência trágica ao longo dos anos. Dessa forma, a narrativa se estrutura como um
grande flashback para entender o motivo dessa situação de cárcere.

Nessa perspectiva, os capítulos iniciais descrevem como era o frágil contexto


familiar do ainda então jovem Tomás: um pai bandido (que o coloca na vida do crime),
viciado e extremamente agressivo; uma mãe amorosa, que sofre violência doméstica e
duas irmãs que sofrem abusos. Assim, o garoto é obrigado a entrar na vida de criminoso
em função da miséria da família – mais ainda depois da morte do pai - e aos poucos, vai
se transformando na figura do menor infrator, em detrimento da sua bondade original. O
ápice dessa mudança se dá quando Canivete fica totalmente abandonado, após sua mãe
e irmãs serem mortas por uma dívida do falecido pai, o obrigando a morar na rua,
vivendo do roubo, com seus dois amigos menores, Dudu e Tecão, posteriormente
presos.

Canivete passa a ser reconhecido no mundo marginal e se casa muito novo com
uma jovem prostituta Bete, uma relação sem a presença de amor, abalada pelos
momentos quentes de Canivete com Jane, uma mulher rica e abandonada que ele tentou
roubar. Ironicamente, em um trabalho no interior, o rapaz ganha a chance de se vingar
de dois dos assaltantes que chacinaram sua família, e do terceiro, o cruel Pirata, após
encontra-lo no seu bar costumeiro. O clímax do romance se dá na fuga de Canivete, que
tinha matado o temido Pirata, para a casa de Jane (por quem estava apaixonado) mas
Bete, o encontra e revoltada, atira na mulher e quase se suicida, impedida pelo rapaz ao
descobrir que ela estava grávida.

O desfecho da história se dá com o apoio do Padre Thiago ao detento Canivete,


que inclusive resgata o velho e bondoso Tomás, a partir dos constantes diálogos entre os
dois. Dessa forma, a pastoral carcerária transforma as perspectivas do já então homem
Tomás, que descobre que nem tudo está perdido, e encontra um bom amigo na amizade
do padre – que revela a ele que Bete e seu filho estavam esperando ansiosamente pela
saída do rapaz da prisão.

2 CONSIDERAÇÕES DO RESENHISTA

O romance em questão, dialoga com uma tese importante da Sociologia, de que


o ser humano é um produto do meio (determinismo), isto é, das circunstâncias que se
encontra, ao apresentar o crime como uma rota de escape para a miséria vivenciada por
aquela família. Nesse sentido, fazendo um paralelo ao ilustre Jean-Jacques Rosseau, o
bondoso Tomás é corrompido pelo contexto social frágil e cruel e na qual está
submetido na periferia de São Paulo, configurando-se no bandido Canivete também pela
forte pressão paterna. Inclusive, seu pai é um fiel produto das circunstâncias: um
Sebastião pobre, desempregado e desassistido transforma-se no terrível Bastião Pilantra,
cujo apelido faz jus a única profissão que conseguiu (criminoso).

Inclusive, a narrativa aborda muito bem o transtorno dissociativo de


personalidade, uma doença mental bastante comum, presente no conflito intrapessoal
entre o frágil e bondoso Tomás versus o sagaz e vingativo Canivete. Essa alternância de
personalidade é ainda mais evidente nos pontos chaves da trama. De fato, esse
transtorno, que surgiu quando o menino tinha apenas 7 anos, é uma decorrência da
problemática formação psicossocial e educacional do garoto, em meio a constantes
tragédias familiares e maturação forçada.

Ademais, é possível traçar um paralelo dessa doença com outros distúrbios


mentais relacionados às crianças e jovens brasileiros que vivenciam experiências
trágicas e/ou se encontram em ambientes hostis (situação comum das favelas). O
comportamento vingativo do seu alter-ego, a incapacidade de demonstrar afeto para
com sua esposa, são bons exemplos dessa fragilidade emocional/mental.
Outro aspecto a ser considerado, figura-se na linguagem coloquial
(principalmente os palavrões) dos personagens, muito bem transcrita por sinal, que
condiz com o linguajar os habitantes periféricos dos grandes centros urbanos. Isso
significa que a narrativa em, ainda que seja fictícia, se aproxima muito das situações
corriqueiras desses ambientes na realidade, inclusive do contexto dos jovens de rua. É
cabível afirmar, portanto, que o romance de João Rodrigues Pinto remete à literatura
realista do fim do século XIX, na qual os grandes autores realistas, como o brasileiro
Machado de Assis, traziam ao leitor uma verossimilhança incrível o cotidiano brasileiro
da época.

Por fim, o autor faz um forte apelo emocional ao descrever os últimos momentos
de Canivete na prisão, sobretudo, em função do diálogo marcante entre ele e o padre
Thiago. Dessa forma, com a revelação de que o bondoso menino rico que encontrara na
infância, em uma véspera de natal, era o padre e que esse encontro motivou o jovem a
seguir na vocação religiosa, o bondoso Tomás finalmente recobra sua consciência.

Tudo isso, em conjunto com a incessante pregação motivadora, resumido em


duas frases marcantes de Thiago, a que é possível afirmar que toca o espírito de Tomás
(pelo menos isso é subentendido para qualquer leitor) – “Senhor, ponha em mim um
coração novo” e “nem tudo está perdido”. Assim, a intenção final do autor, por assim
dizer, com o romance Canivete é mostrar que ninguém é produto das circunstâncias,
haja visto que um sofrido como Tomás conseguiu ser uma nova pessoa, e que a
ressocialização social, na figura da pastoral carcerária, é um importante elemento para a
mudança do triste cenário carcerário no Brasil, que abriga milhares de Tomás.

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