Você está na página 1de 4

IFBA – INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DA BAHIA

3º ANO “A”

NATÁLIA DE BRITO ABADE

Resenha do livro canivete

Trabalho apresentado como requisito parcial para


obtenção de aprovação na disciplina de português, no
curso de Eletrônica, do instituto federal da Bahia –
Campus - Vitória da Conquista
Professora: João Rodrigues

VITÓRIA DA CONQUISTA
2023
RESENHA CRÍTICA

PINTO, João RodriguesCanivete / João Rodrigues Pinto - 3. ed. - Teixeira


de Freitas, BA: Ramagrafi, 2017260p.

1 RESUMO DA OBRA

O livro "Canivete", trata-se de um romance em primeira pessoa, que narra


a triste história de vida do personagem homônimo, um menor abandonado
da periferia de São Paulo. Canivete, ou Tomás, seu nome verdadeiro, é
também baseado no protagonista da peça "Feira dos Oprimidos", que
reflete sobre a situação de crianças que vivem nas ruas, que também
inspirou boa parte do contexto do romance. Sob esse viés, no prólogo, é
apresentado o personagem principal em sua fase adulta cumprindo pena na
prisão, adoentado e preso num vaivém entre a vida e morteIronicamente, a
data de sua liberação da cadeia está se aproximando e assim, muitos de
seus companheiros de cela permanecem com a dúvida do porquê Canivete
nunca ter recebido nenhuma visita. Esse questionamento, desperta nele
inúmeras lembranças de sua vivência trágica ao longo dos anos. Dessa
forma, a narrativa se estrutura como um grande flashback para entender o
motivo dessa situação de cárcere.
Nessa perspectiva, os capítulos iniciais descrevem como era o frágil
contexto familiar do ainda então jovem Tomás: um pai bandido (que o
coloca na vida do crime)viciado e extremamente agressivo; uma mãe
amorosa, que sofre violência doméstica e duas irmãs que sofrem
abusosAssim, o garoto é obrigado a entrar na vida de criminoso em função
da miséria da familia - mais ainda depois da morte do pai - e aos poucos,
vai se transformando na figura do menor infrator, em detrimento da sua
bondade originalO ápice dessa mudança se dá quando Canivete fica
totalmente abandonado, após sua mãe e irmãs serem mortas por uma
dívida do falecido pai, o obrigando a morar na rua, vivendo do roubo, com
seus dois amigos menores, Dudu e Tecão, posteriormente presos.Canivete
passa a ser reconhecido no mundo marginal e se casa muito novo com
uma jovem prostituta Bete, uma relação sem a presença de amor, abalada
pelos momentos quentes de Canivete com Jane, uma mulher rica e
abandonada que ele tentou roubar. Ironicamente, em um trabalho no
interior, o rapaz ganha a chance de se vingar de dois dos assaltantes que
chacinaram sua família, e do terceiro, cruel Pirata, após encontra-lo no seu
bar costumeiro. O clímax do romance se dá na fuga de Canivete, que tinha
matado o temido Pirata, para a casa de Jane (por quem estava apaixonado)
mas Bete, o encontra e revoltada, atira na mulher e quase se suicida,
impedida pelo rapaz ao descobrir que ela estava grávida.
O desfecho da história se dá com o apoio do Padre Thiago ao detento
Canivete, que inclusive resgata o velho e bondoso Tomás, a partir dos
constantes diálogos entre os dois. Dessa forma, a pastoral carcerária
transforma as perspectivas do já então homem Tomás, que descobre que
nem tudo está perdido, e encontra um bom amigo na amizade do padre -
que revela a ele que Bete e seu filho estavam esperando ansiosamente pela
saída do rapaz da prisão.

2 CONSIDERAÇÕES DO RESENHISTA
O romance em questão, dialoga com uma tese importante da Sociologia,
de que o ser humano é um produto do meio (determinismo), isto é, das
circunstâncias que se encontra, ao apresentar o crime como uma rota de
escape para a miséria vivenciada por aquela família. Nesse sentido,
fazendo um paralelo ao ilustre Jean-Jacques Rosseau, o bondoso Tomás é
corrompido pelo contexto social frágil e cruel e na qual está submetido na
periferia de São Paulo, configurando-se no bandido Canivete também pela
forte pressão paterna. Inclusive, seu pai é um fiel produto das
circunstâncias: um Sebastião pobre, desempregado e desassistido
transforma-se no terrível Bastião Pilantra, cujo apelido faz jus a única
profissão que conseguiu (criminoso) Inclusive, a narrativa aborda muito
bem transtorno dissociativo de personalidade, uma doença mental bastante
comum, presente no conflito intrapessoal entre o frágil e bondoso Tomás
versus o sagaz e vingativo Canivete. Essa alternância de personalidade é
ainda mais evidente nos pontos chaves da trama. De fato, esse transtorno,
que surgiu quando o menino tinha apenas 7 anos, é uma decorrência da
problemática formação psicossocial e educacional do garoto, em meio a
constantes tragédias familiares e maturação forçada. Ademais, é possível
traçar um paralelo dessa doença com outros distúrbios mentais
relacionados às crianças e jovens brasileiros que vivenciam experiências
trágicas e/ou se encontram em ambientes hostis (situação comum das
favelas). O comportamento vingativo do seu alter-ego, a incapacidade de
demonstrar afeto para com sua esposa, são bons exemplos dessa
fragilidade emocional/mental Outro aspecto a ser considerado, figura-se
na linguagem coloquial (principalmente os palavrões) dos personagens,
muito bem transcrita por sinal, que condiz com o linguajar os habitantes
periféricos dos grandes centros urbanos. Isso significa que a narrativa em,
ainda que seja ficticia, se aproxima muito das situações corriqueiras desses
ambientes na realidade, inclusive do contexto dos jovens de rua. É cabível
afirmar, portanto, que o romance de João Rodrigues Pinto remete à
literatura realista do fim do século XIX, na qual os grandes autores
realistas, como o brasileiro Machado de Assis, traziam ao leitor uma
verossimilhança incrível o cotidiano brasileiro da época.
Por fim, o autor faz um forte apelo emocional ao descrever os últimos
momentos de Canivete na prisão, sobretudo, em função do diálogo
marcante entre ele e o padre Thiago. Dessa forma, com a revelação de que
o bondoso menino rico que encontrara na infância, em uma véspera de
natal, era o padre e que esse encontro motivou o jovem a seguir na
vocação religiosa, o bondoso Tomás finalmente recobra sua consciência
Tudo isso, em conjunto com a incessante pregação motivadora, resumido
em duas frases marcantes de Thiago, a que é possível afirmar que toca o
espírito de Tomás (pelo menos isso é subentendido para qualquer leitor) -
"Senhor, ponha em mim um coração novo" e "nem tudo está perdido".
Assim, a intenção final do autor, por assim dizer, com o romance Canivete
é mostrar que ninguém é produto das circunstâncias, haja visto que um
sofrido como Tomás conseguiu ser uma nova pessoa, e que a
ressocialização social, na figura da pastoral carcerária, é um importante
elemento para a mudança do triste cenário carcerário no Brasil, que abriga
milhares de Tomás

Você também pode gostar