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TECNOLOGIA DA BAHIA
3º ANO “A”
VITÓRIA DA CONQUISTA
2023
RESENHA CRÍTICA
1 RESUMO DA OBRA
2 CONSIDERAÇÕES DO RESENHISTA
O romance em questão, dialoga com uma tese importante da Sociologia,
de que o ser humano é um produto do meio (determinismo), isto é, das
circunstâncias que se encontra, ao apresentar o crime como uma rota de
escape para a miséria vivenciada por aquela família. Nesse sentido,
fazendo um paralelo ao ilustre Jean-Jacques Rosseau, o bondoso Tomás é
corrompido pelo contexto social frágil e cruel e na qual está submetido na
periferia de São Paulo, configurando-se no bandido Canivete também pela
forte pressão paterna. Inclusive, seu pai é um fiel produto das
circunstâncias: um Sebastião pobre, desempregado e desassistido
transforma-se no terrível Bastião Pilantra, cujo apelido faz jus a única
profissão que conseguiu (criminoso) Inclusive, a narrativa aborda muito
bem transtorno dissociativo de personalidade, uma doença mental bastante
comum, presente no conflito intrapessoal entre o frágil e bondoso Tomás
versus o sagaz e vingativo Canivete. Essa alternância de personalidade é
ainda mais evidente nos pontos chaves da trama. De fato, esse transtorno,
que surgiu quando o menino tinha apenas 7 anos, é uma decorrência da
problemática formação psicossocial e educacional do garoto, em meio a
constantes tragédias familiares e maturação forçada. Ademais, é possível
traçar um paralelo dessa doença com outros distúrbios mentais
relacionados às crianças e jovens brasileiros que vivenciam experiências
trágicas e/ou se encontram em ambientes hostis (situação comum das
favelas). O comportamento vingativo do seu alter-ego, a incapacidade de
demonstrar afeto para com sua esposa, são bons exemplos dessa
fragilidade emocional/mental Outro aspecto a ser considerado, figura-se
na linguagem coloquial (principalmente os palavrões) dos personagens,
muito bem transcrita por sinal, que condiz com o linguajar os habitantes
periféricos dos grandes centros urbanos. Isso significa que a narrativa em,
ainda que seja ficticia, se aproxima muito das situações corriqueiras desses
ambientes na realidade, inclusive do contexto dos jovens de rua. É cabível
afirmar, portanto, que o romance de João Rodrigues Pinto remete à
literatura realista do fim do século XIX, na qual os grandes autores
realistas, como o brasileiro Machado de Assis, traziam ao leitor uma
verossimilhança incrível o cotidiano brasileiro da época.
Por fim, o autor faz um forte apelo emocional ao descrever os últimos
momentos de Canivete na prisão, sobretudo, em função do diálogo
marcante entre ele e o padre Thiago. Dessa forma, com a revelação de que
o bondoso menino rico que encontrara na infância, em uma véspera de
natal, era o padre e que esse encontro motivou o jovem a seguir na
vocação religiosa, o bondoso Tomás finalmente recobra sua consciência
Tudo isso, em conjunto com a incessante pregação motivadora, resumido
em duas frases marcantes de Thiago, a que é possível afirmar que toca o
espírito de Tomás (pelo menos isso é subentendido para qualquer leitor) -
"Senhor, ponha em mim um coração novo" e "nem tudo está perdido".
Assim, a intenção final do autor, por assim dizer, com o romance Canivete
é mostrar que ninguém é produto das circunstâncias, haja visto que um
sofrido como Tomás conseguiu ser uma nova pessoa, e que a
ressocialização social, na figura da pastoral carcerária, é um importante
elemento para a mudança do triste cenário carcerário no Brasil, que abriga
milhares de Tomás