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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CCBS – CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

Construção de caso clínico

Bojack Horseman

Prof. Aline Souza Martins

São Paulo
2020
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Pedro Victor Nunes Função TIA: 31717527


Liborio Albim TIA: 31745490
Rafael Tostes TIA: 31746934
Fernando Cossini TIA: 31723632
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I) Histórico de vida do paciente e família


Bojack Horseman é um ator de aproximadamente 40 anos que ficou muito
famoso ao participar da série de TV Horsin’ Around, uma sitcom americana do anos 90.
Bojack ganhou muito dinheiro e fama com isso, sendo sempre reconhecido em todos o
lugares que ia. Ao longo da carreira foi vendo sua fama diminuir, fazendo alguns
papéis, mas sempre envolvido em muitas polêmicas, festas e problemas com
psicotrópicos.
Bojack teve uma infância muito complicada. Sua mãe engravidou muito cedo e
foi obrigada pela sua família a casar com o pai. Quando nasceu a mãe não teve
disposição de ser afetuosa ou cuidadosa com o infanto, ambos os pais bebiam muito e
o negligenciaram, além de tratá-lo com muitas punições e repreensões. Seus pais,
Beatrice e Buttersnach, brigavam muito. Beatrice era herdeira de uma fábrica de açúcar
e Buttersnach era um escritor “fracassado”.
A avó materna de Bojack sofreu uma lobotomia, a mando do avô. Isso afetou
muito o crescimento de Beatrice, que, desde pequena, nunca foi capaz de demonstrar
afeto.
Bojack, quando iniciou sua carreira como ator, foi muito desacreditado pela mãe,
e o pai já havia falecido. Beatrice nunca acreditou ou incentivou o potencial de seu
filho.
Além disso, fora do círculo familiar, Bojack não possui muitos amigos, sendo
Todd, um jovem preguiçoso que mora de favor em sua casa, seu melhor amigo.
Também está em contato a todo tempo com sua ex namorada, ​Carolyn, por ela
trabalhar com ele, sendo sua agente. Além deles, há a Diane, que ele conheceu
recentemente, por ter ser contratada para escrever uma biografia sobre Bojack.
Bojack é alcoólatra e dependente químico, utiliza drogas farmacêuticas e ilícitas,
e em vários momentos de sua vida apresentou comportamentos narcisistas, além de
não se importar com os outros a sua volta. Utiliza e manipula as pessoas para alcançar
os seus objetivos, apresenta uma descrença com a vida, não acreditando que há um
sentido em viver, já demonstrou comportamentos suicidas, além de também apresentar
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comportamentos obsessivos e alternam entre pensamentos de uma supervalorização e


super deterioração do eu.

II) Semiologia
Bojack durante sua vida, demonstrou em vários momentos um grande medo da
perda do outro e de ser abandonado. Um momento que demonstra essa aflição dele foi
quando seu melhor amigo começou a desenvolver uma ópera com o tema de rock.
Quando Bojack percebeu que a ópera de Todd iria fazer sucesso e consequentemente
ele iria sair de sua casa, ele começou a agir de forma diferente para sabotar os planos
de seu amigo. Para isso, ele fez Todd se viciar em um jogo de video-game, para que
ele não pudesse focar na ópera e consequentemente não sair de sua casa. Ou seja,
quando Bojack entra minimamente em contato com a ideia do abandono, ele passa a
focar seus esforços para que os planos da outra pessoa sejam fracassados, e assim
realize suas próprias necessidades individuais de não ser abandonado.
Outro aspecto destrutivo da vida de Bojack é em relação aos comportamentos
auto lesivos, como, por exemplo, o uso abusivo de álcool e outras drogas, gastar
dinheiro, ter relações sexuais de forma imprudente, dirigir bêbado e o afastamento
social. Durante sua vida, Bojack organizou muitas festas, normalmente por dias e
noites sem parar, sendo essas festas regadas a álcool, drogas de todos os tipos e
sempre muito luxuosas e caras.
As drogas para Bojack estão presentes em muitos momentos em que ele se
sente fraco, além de funcionar como meio de se expressar, como quando ele
reencontrou uma co-atriz sua do tempo da série dos anos 90, Sarah Lynn. Bojack foi
um dos responsáveis por fazer com que ela começasse a usar e abusar de drogas, já
que ela o tinha como uma figura paterna. Por conta de uma briga que os dois tiveram,
em que Sarah achava que Bojack tinha ido atrás dela de novo por conta de interesses
profissionais, os dois começaram a abusar de drogas e álcool com o intuito de fazer as
pazes. Isso mostra a adicção dos dois, que, para se comunicar e conseguir resolver
seus problemas, precisam estar sob o efeito de drogas.
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Outro aspecto que aparece diversas vezes nos pensamentos e diálogos de


Bojack é em relação às tendências suicidas da personagem. Com o intuito de
estabelecer controle e por se sentir desesperado com a possível perda do outro, Bojack
ameaça a própria vida. Essas tendências de Horseman podem ser vistas em relações
amorosas que ele desenvolveu ao longo de sua vida.

III) Diagnóstico
Pelos relatos de Bojack, é possível perceber diversos comportamentos e
pensamentos comuns ao transtorno de personalidade limítrofe (borderline). Ele
diversas vezes apresenta instabilidade emocional, sentimento de inutilidade,
impulsividade, baixa autoestima, tendências autodestrutivas e suas relações sociais
são muito prejudicadas.
Uma das questões mais fortes para um indivíduo com borderline é o medo da
perda do outro. O indivíduo faz muitos esforços para evitar o abandono, seja ele real ou
imaginário. Por conta desse comportamento, normalmente ocorre uma extrema
dependência do indivíduo com o externo, ou seja, com as pessoas que ele gosta e tem
confiança. Um aspecto que se torna paradoxal para indivíduos que possuem medo do
abandono, é de realizar ações que afastam as pessoas de si, desenvolvendo
comportamentos que, muitas vezes, assustam os que estão ao redor, pela grande
intensidade colocada neles.
As ações de Bojack frequentemente revelam o mecanismo do deslocamento. É
comum para ele, em situações de pressão, direcionar raiva aos outros como forma de
não encarar seus próprios sentimentos. Em vários momentos difíceis de lidar, Bojack
acaba descontando em seu companheiro Todd de forma agressiva, como o mandando
calar a boca sem motivo aparente.
A repressão e a fuga também podem ser observadas através do consumo
excessivo de álcool e drogas, que servem como válvula de escape para Bojack. As
memórias desagradáveis que foram reprimidas geralmente acabam vindo a tona
quando ele enfrenta uma nova situação complicada. Quando essas memórias voltam, é
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comum para ele lidar com isso através do uso de substâncias, viagens inesperadas e
mudança de relações.
Outro mecanismo muito presente na vida de Bojack é a identificação projetiva.
Em muitos momentos ele nega aspectos de si mesmo e os transfere para as pessoas
em seu entorno, inclusive durante as sessões de terapia.
Por fim, nota-se que muitas atitudes tomadas por ele são baseadas na negação
dos seus desejos e fantasias. Bojack tem dificuldade de aceitar vários aspectos sobre
si mesmo e acaba utilizando os mecanismos de defesa citados para lidar com isso, o
que acaba gerando uma forte angústia e arrependimento.

IV) Causalidade
De acordo com o DSM-V, o transtorno de personalidade borderline surge a partir
de possíveis tendências genéticas de ter respostas patológicas ao estresse do meio
ambiente. Além disso, estresses sofridos durante a infância podem contribuir com o
desenvolvimento desse transtorno, e histórico de abuso físico e sexual, negligência,
separação dos cuidadores/perda de um dos pais é comum entre pacientes de
borderline.
Tais informações ajudam no diagnóstico do paciente deste relatório. A vida de
Bojack durante sua infância foi marcada por abusos vindos de seus pais, sobretudo
psicológicos, mas também físicos.
Seu pai, Butterscotch, era um alcoólatra e regularmente abusava tanto
verbalmente como fisicamente de Bojack. Era muito conservador e culpava grupos
como comunistas e judeus pelos problemas do mundo. Também cometia frequentes
casos de adultério com outras mulheres.
A mãe de Bojack, Beatrice, também era alcoólatra e uma fumante excessiva, e
culpava Bojack por tudo de ruim que acontecia a ela, inclusive o próprio nascimento de
seu filho, e dizia-lhe que era linda antes de engravidar. Para ela, seu filho representava
todas os problemas de sua vida. Frequentemente brigava com seu marido
Butterscotch, entrando em discussões raivosas com ele.
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Assim, podemos verificar no histórico da vida de Bojack uma infância bastante


estressante, crescendo em uma família disfuncional, sofrendo frequentes abusos
psicológicos e físicos. Tais condições podem assim ter contribuído fortemente para o
desenvolvimento do transtorno de personalidade borderline.

V) Tratamento
À partir do maior contato e entendimento de Bojack, entendemos que o melhor
tratamento para o caso de borderline do paciente seria, primeiramente por meio da
internação dele. Por se tratar de um momento muito conturbado de sua vida e não
apenas estar lidando com o transtorno mas também com vícios em álcool e drogas, o
momento atual seria dele tratar essas questões. A reabilitação em relação aos vícios,
tornaria mais fácil de realizar o processo de terapia e facilitaria assim Bojack de tratar
questões de fato relacionadas com o transtorno de borderline.
Junto com o tratamento em uma clínica de reabilitação, seria necessário fazer
um acompanhamento terapêutico com Bojack, precisando montar um ambiente
acolhedor e seguro para o paciente, demonstrando que neste local ele poderia se
expressar da maneira que gostaria sem julgamentos e sem precisar temer a perda do
terapeuta.
Um dos objetivos principais do tratamento, seria o de mostrar ao Bojack o motivo
pelo qual ele se sente daquele jeito, o que causou todo este sofrimento nele, e o que
fez com que ele causasse sofrimento nas pessoas que estavam próximas a ele. Além
disso tentar entender qual vazio Bojack está tentando preencher quando utiliza álcool e
drogas, pois ele também está preso no vício, se tornando refém deste mecanismo de
fuga, que são as drogas.
Outro ponto importante de se abordar durante a psicoterapia será de enfatizar o
momento presente para o paciente, fazendo-o examinar as imagens distorcidas,
exageradas e por muitas vezes irrealistas criadas por ele. Para isso, é importante
perceber os conteúdos transferenciais de Bojack, fazendo apontamentos, levando
assim o indivíduo a elaborar e examinar os próprios pensamentos e comportamentos.
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Esse aspecto também pode auxiliar no contato com o outro, pois trabalhando a relação
transferencial com o terapeuta ele possivelmente se relacionam de maneira mais
saudável com as outras pessoas também.
O paciente borderline é um paciente que demanda muitos cuidados, seria
necessário sempre estarmos atentos às atitudes e falas para não cometer algum erro
de interpretação, além de estar sempre presente, já que o afastamento pode significar
uma grande regressão no tratamento.

Referências:

MATIOLI, Matheus Rozário; ROVANI, Érica Aparecida e NOCE, Mariana Araújo.


O transtorno de personalidade borderline a partir da visão de psicólogas com
formação em Psicanálise. Saúde Transform. Soc. [online]. 2014, vol.5, n.1
[citado 2020-03-29], pp. 50-57 .
B
​ OJACK Horseman. São Paulo: Netflix, 2020. Color. Legendado. 
Freud, S. Sobre o início do tratamento (Novas recomendações sobre a técnica da
psicanálise I) (J. O. A. Abreu, Trad.). Em: J. Salomão (Org.) 

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