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Orientações

O aumento do consumo in-


ternacional de café estimu-
lou a expansão das lavouras
cafeeiras nas regiões Sudes- A EXPANSÃO CAFEEIRA NO SEGUNDO REINADO
te e Sul do país. Com isso, o O café foi introduzido no Brasil no início do século XVIII, vindo da Guiana Francesa.
café passou a ser o produto
mais importante da econo- Foi levado para a capitania do Rio de Janeiro, onde passou a ser cultivado para con-
mia brasileira. Sugerimos ao sumo doméstico. Apenas no final do século XVIII, com a ampliação do consumo nos
professor enfatizar as mu- países do Ocidente, a produção para o mercado começou a se expandir.
danças impulsionadas pela
No começo do Segundo Reinado, em 1840, o café já era o principal produto da
produção cafeeira, como a
modernização das regiões economia brasileira, representando cerca de 40% das exportações do país e mais da
produtoras, a construção metade da produção mundial. A rápida expansão do cultivo deveu-se a quatro fatores
de ferrovias, a melhoria dos principais: abundância de terras, disponibilidade de mão de obra, condições climáticas
portos, a instalação de casas
financiadoras e exportado-
favoráveis e aumento do consumo do produto no exterior.
ras e a ampliação da infraes- A primeira fase de produção teve como centro o Vale do Paraíba, onde os cafezais
trutura urbana. se espalharam por municípios fluminenses (como Barra Mansa, Vassouras e Barra
A economia cafeeira do Vale do Piraí) e paulistas (como Taubaté, Areias e Bananal). Essa região reunia condições
do Paraíba viveu seu período naturais excelentes para o cultivo: terras virgens e férteis, chuvas regulares e relevo
de esplendor entre 1850 e
1870, riqueza que se via na acidentado, que protegia a planta dos ventos fortes que vinham do oceano.
imponência das casas-gran- O cultivo no Vale do Paraíba seguiu o modelo adotado na agricultura de exportação
des e na vida luxuosa da elite do nordeste, baseado na grande propriedade e na mão de obra escrava. Sem investir

Reproduçãoproibida.Art.184doCódigoPenaleLei9.610de19defevereirode1998.
cafeeira na corte imperial.
em inovações técnicas, os fazendeiros aumentavam a produção por meio da expansão
Texto complementar dos cafezais para novas terras e da ampliação do contingente de escravos.
O texto a seguir traz infor- A proximidade do litoral facilitava o escoamento do produto para a Europa e para os
mações sobre o café: Estados Unidos. Antes da construção das primeiras ferrovias, o café era transportado
O cafeeiro [...] crescia es- por tropas de burros e mulas ou em carros de bois até portos intermediários e daí para
pontâneo e sem necessidade
de plantio entre os etíopes os portos exportadores, principalmente o do Rio de Janeiro e o de Paraty.
e abissínios de priscas eras.
Seu fruto, tal qual se verifica

COLEÇÃOGILBERTOFERREZ/INSTITUTOMOREIRASALLES,RIODEJANEIR
com o guaraná, entre nativos
do Brasil, era aproveitado
para beberagens por aqueles
povos africanos, desde tem-
pos remotos. De lá, seu uso
passou aos persas, destes aos
árabes, que o disseminaram,
a partir do século XV, como
o maravilhoso estimulante,
para vencer sono e fadigas,
elegendo-o sua bebida na-
cional. Suas sementes espa-
lharam-se por todo o mundo
islamita, levadas por Meca, FERREZ, Marc.
por peregrinos em carava- Escravos

O
nas religiosas ou comerciais. colhendo café
O café, como capitoso licor, em fazenda
ganhou depois o Egito, con- do Vale do
quistou também a predileção Paraíba. c. 1885.
dos turcos. Chegado a Cons- Fotografia.
tantinopla estava quase que Instituto Moreira
introduzido na Europa. Salles, Rio de
SOBRINHO, Alves Motta. Janeiro.
A civilização do café (1820-
-1920). São Paulo: Brasiliense, 212 Unidade VII – Brasil: da Regência ao Segundo Reinado
1978. p. 7.

Observação lo, Espírito Santo e Minas Gerais. Depois, com o esgotamento do solo,
O cafeeiro é uma planta que não se adapta a regiões muito quentes a lavoura de café começou a se deslocar para o Oeste paulista, o que
ou muito frias. As condições ideais para o cultivo devem apresentar permitiu que a província se tornasse nesse período a mais rica e dinâ-
temperaturas amenas, chuvas regulares e bem distribuídas e solo fér- mica do país. As técnicas utilizadas no cultivo ainda eram muito rudi-
til. Tais condições foram encontradas na região Centro-Sul do Brasil, mentares. As primeiras máquinas só foram introduzidas nas fazendas
na área compreendida hoje pelos estados do Rio de Janeiro, São Pau- no final do século XIX.

212 – 4o BIMESTRE
Texto complementar
A seguir, reproduzimos um
trecho de um texto do eco-
nomista Sérgio Silva sobre
A caminho do Oeste Paulista as condições históricas que
Por volta de 1860, a cultura cafeeira do Vale do Paraíba propiciaram a expansão ca-
feeira no Brasil:
dava sinais de decadência. Algumas causas explicam esse
Na segunda metade do sé-
fenômeno: o desmatamento, as práticas de queimada, o
culo XIX, o comércio mun-
sistema extensivo de produção e a ausência de técnicas Sistema extensivo dial cresceu num ritmo sem
para evitar a erosão causaram o enfraquecimento das plan- Sistema caracterizado precedentes. O crescimento
pela exploração de grande do comércio internacional
tas e a queda da produção.
extensão de terra. teve uma grande influência
Com o declínio da lavoura cafeeira no Vale do Paraíba, a sobre a economia dos países
economia do café entrou em uma nova fase, rumo ao Oeste onde o desenvolvimento do
capitalismo ainda era muito
Paulista.
fraco. Ele criou condições
A região apresentava condições favoráveis ao cultivo, favoráveis a esse desenvol-
como o solo de terra roxa, muito fértil, geografia pouco aci- vimento.
dentada e grandes extensões de terras inexploradas. No que se refere ao Bra-
sil, e em particular à econo-
Esses fatores, somados à adoção de novas técnicas mia cafeeira brasileira, essas
agrícolas, possibilitaram que os cafezais do Oeste Paulista condições foram especial-
fossem mais produtivos e duradouros que os do Vale do mente favoráveis. As cota-
ções internacionais do café,
Paraíba. estagnadas ou em baixa des-
de a independência de 1822,
apresentavam-se em alta a

CASADOPINHAL,SÃOCARLOS
partir dos anos 1850. O apa-
recimento dos navios a vapor
no Atlântico Sul deu um novo
impulso ao comércio de lon-
gas distâncias e em particu-
lar veio favorecer as relações
comerciais entre o Brasil, de
um lado, e a Europa e os Es-
tados Unidos, de outro.
SILVA, Sérgio. Expansão
cafeeira e origens da
indústria no Brasil.
São Paulo: Alfa-Omega,
1976. p. 29. (Biblioteca Alfa-
-Omega de Ciências Sociais,
Série 1a, v. 1).

CALIXTO, Benedito. Fazenda do Pinhal. 1900. Óleo sobre tela, 90 cm # 230 cm. Casa do Pinhal,
São Carlos, São Paulo.

Capítulo 16 – O Segundo Reinado 213

Sugestão para o estudante:


LUCA, Tania Regina de. Café e modernização. São Paulo: Atual, 2001. (Coleção A vida no tempo).
O livro traz uma narrativa acompanhada de fotografias e documentos para que o estudante conheça alguns detalhes relacionados ao co-
tidiano dos trabalhadores e cafeicultores do Oeste paulista, assim como as mudanças que a produção de café impulsionou na sociedade
brasileira entre 1870 e 1900.

4o BIMESTRE – 213
Orientações
Merecem destaque a per-
manência do açúcar como
produto importante na
economia do império e o
Outras atividades econômicas durante o Segundo Reinado
incremento da produção de Além do café, outros produtos foram importantes para a economia nacional e
algodão e da exploração da
tiveram destaque no volume de exportações brasileiras no Segundo Reinado.
borracha, artigos que eram
exportados para os países Apesar de perder a predominância, o açúcar continuou sendo um produto impor-
industrializados. Em relação tante para as exportações.
ao látex, vale ressaltar que O algodão, cultivado principalmente nas províncias do Maranhão e de Pernam-
no século XIX a demanda
por essa matéria-prima au- buco, chegou a ocupar o segundo lugar na pauta de exportações do Brasil durante
mentou muito, principal- a Guerra de Secessão (1861-1865) nos Estados Unidos. Nesse período, em razão da
mente em decorrência do queda na produção estadunidense, o algodão brasileiro passou a suprir grande parte
avanço da indústria auto-
da demanda pela matéria-prima nas indústrias de tecidos da Inglaterra.
mobilística e do consumo de
produtos feitos com borra- A partir da década de 1870, na Amazônia, a extração do látex das seringueiras
cha. A crescente importân- impulsionou o crescimento econômico da região. O látex é uma seiva que, ao passar
cia da borracha no período por determinados processos (como a coagulação), dá origem à chamada borracha
ficou evidente nos números:
natural. A demanda por látex no mercado mundial aumentou com o desenvolvi-
em 1850, o produto repre-
sentava 2% das exportações mento da indústria automobilística, que utilizava o produto na fabricação de pneus.
brasileiras; no final do sécu- A exploração dessa riqueza na Amazônia brasileira atraiu milhares de nordestinos
lo XIX, esse percentual tinha (principalmente do Ceará), que fugiam da miséria e da prolongada estiagem que

Reproduçãoproibida.Art.184doCódigoPenaleLei9.610de19defevereirode1998.
subido para quase 25%.
atingiu o sertão do Nordeste na década de 1870.
MUSEUDEETNOLOGIA,GENEBRA

Corte de uma bola de látex na região amazônica, 1901-1907. Em 1850, a borracha representava
2% das exportações brasileiras; no final do século XIX, esse percentual tinha subido para quase 25%.

214 Unidade VII – Brasil: da Regência ao Segundo Reinado

Sugestões complementares referentes ao Capítulo: das Letras, 2010.


CARVALHO, José Murilo de (Org.). A construção nacional: 1830-1889. Rio de Janeiro: LIMA, Luiz Octavio de. A Guerra do Paraguai. São Paulo: Planeta do Brasil, 2016.
Objetiva, 2012. SALLES, Ricardo; GREIMBERG, Keila (Org.). O Brasil imperial. Rio de Janeiro: Civilização
________. D. Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Brasileira, 2010.
HOLLANDA, Sérgio Buarque de. Capítulos de história do império. São Paulo: Companhia VERSEN, Max von. História da Guerra do Paraguai. São Paulo: Itatiaia, 1976.

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